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O guia oficial
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O guia oficial
Paul Ruditis Prefácio: Frank Darabont Introdução: Robert Kirkman
São Paulo 2013
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Sumário PREFÁCIO de Frank Darabont
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In t rodução de Rober t K irkman
8
UM Construção do mundo em quadrinhos
13
DOIS Da página à tel a
43
Três Um sopro de vida aos mortos
71
quatro Povoando o mundo de The Walking De ad
93
Cinco Adaptando o estilo visual de The Walking De ad
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Seis Terra dos mortos
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Sete Postmortem 171 Oito Tragam seus mortos
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Prefácio Para mim, foi instantâneo – foi muito fácil querer investir no projeto desta série. Há anos tenho estado ansioso para contar uma história de mortos-vivos. Adoro os mitos de zumbi, o mundo criado por George Romero, e vinha procurando uma oportunidade de brincar nesse playground. E o momento parece ser agora: me surpreende o quanto um subgênero do horror, pouco conhecido, interessante apenas para geeks como eu, desabrochou em um conceito com grande aceitação. Muito ignorados pelo público geral por décadas, zumbis comedores de carne eram algo que nós, os fãs, tínhamos só para nós. No entanto, ao longo da última década os zumbis penetraram o círculo de interesses da cultura popular de um jeito que eu nunca poderia ter antecipado. Hoje em dia, vejo avós nas grandes livrarias comprando livros de zumbis para os netos. Encontrar o playground de zumbis certo onde eu pudesse brincar foi difícil, até o dia em que entrei em uma livraria local e notei a primeira edição comercial de The Walking Dead. Eu a vi e pensei: “Ah, legal. Uma história de zumbi. Isso é bem minha cara”. Então, é claro, comprei o livro e levei para casa. Naquela noite, quando comecei a ler a primeira história, me veio à cabeça: “Isso poderia virar um programa de televisão”. Na segunda história, eu pensava: “Vou ligar para o meu agente amanhã e pedir para ele verificar se os direitos estão disponíveis”. Os quadrinhos de Robert eram exatamente o que eu procurava. Na manhã seguinte, telefonei para meu agente de TV e disse: “O que pode ser melhor para a televisão do que um programa realmente bom ambientado no apocalipse zumbi?”. Ele adorou a ideia. Depois, foram cinco anos de rejeições (mais uma união de forças com a estimável Gale Anne Hurd como minha sócia na produção) antes de finalmente encontrarmos uma emissora que concordasse conosco. Finalmente... felizmente... a AMC percebeu que a ideia era boa e disse sim. Desde então, minha vida tem sido só zumbis. Uma história em quadrinhos é uma coisa, uma série de TV é outra. Robert escreve um material frio, duro. Como fã dos quadrinhos originais, quero que nosso programa visite os lugares sombrios aonde Robert já nos levou, mas tem que haver um equilíbrio. Não pode ser tudo frio, ou os espectadores perderão o interesse. O próprio Robert manifestou preocupação sobre quanto as situações em seu livro seriam adequadas para uma plateia maior, sob um registro diferente e ao longo de, digamos, cinco anos. Encontrar o tom adequado e mantê-lo vai exigir um equilíbrio
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desafiador e delicado. E essa vai ser uma constante para nós enquanto o programa durar: caminhar sobre essa tênue linha do tom e conversar com Robert a cada passo do caminho. Isso porque não vamos querer progredir muito em uma direção em detrimento de outra. Esse é um programa que, fundamentalmente, quer conquistar a plateia e alcançar o que eu acho que faz a melhor televisão: contar uma longa história sobre os personagens, pessoas cujas vidas você quer acompanhar por muito tempo. Isso tudo somado a incontáveis momentos menores também, acompanhando os grandes e evidentes fatos da trama. É realmente um grande prazer apresentar algo de que me orgulho, algo que me interessa e agrada. Enfim, algo que eu gostaria de ver. Se eu ficasse sabendo que alguém estava produzindo um programa sobre zumbis, The Walking Dead seria exatamente o programa que eu esperaria ver. Então, se sirvo de medida, se sou uma indicação, acho que começamos muito bem. E o melhor de tudo: os fãs parecem concordar com isso, o que me faz extremamente feliz e grato. Frank Darabont
FRANK DARABONT é escritor, diretor e produtor indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro por Um Sonho de Liberdade e À Espera de um Milagre. Desenvolveu a série The Walking Dead para o canal AMC e atua como produtor executivo, roteirista, diretor e showrunner. Mora em Los Angeles, Califórnia.
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INTRODUÇÃO Estou escrevendo isto em um hotel em Atlanta, e acabaram de começar as gravações da segunda temporada do programa de televisão The Walking Dead, para o canal a cabo AMC. Recentemente, entreguei o texto do n° 88 de The Walking Dead, uma série em quadrinhos da Image Comics/Skybound. A McFarlane Toys divulgou há pouco tempo imagens de duas novas linhas de brinquedos, uma baseada no programa e outra na série de quadrinhos. Acabei de saber que a coleção em formato de livro dos números 79-84, com o título de The Walking Dead Volume 14: No Way Out, vai integrar a Must List da Entertainment Weekly da semana que vem. Acabei de ver parte da arte para o videogame The Walking Dead, da Tell Tale Games. Terminei a primeira novela The Walking Dead, Rise of the Governor, com meu coautor, Jay Bonansinga. Hoje de manhã vi o protótipo de uma lancheira. Aprovei uma nova camiseta. Há xícaras de café e dois jogos de tabuleiro em produção. E recentemente recusei a proposta para um perfume Walking Dead... Tudo está ficando meio maluco. Fala sério. Perfume. Graças às boas pessoas da AMC e da Fox International, The Walking Dead é um fenômeno mundial. O eufemismo da década, eu acho, é dizer que The Walking Dead ficou maior que eu. Mas não é isso que um criador quer, afinal? Criar alguma coisa, seja uma história em quadrinhos, uma novela, um programa de televisão ou o que for, é, em muitos aspectos, semelhante a ter um filho... E o objetivo final de um pai não é dar tudo o que ele precisa para ganhar o mundo sozinho? O propósito de todo o processo é vê-los deixar o ninho, sabendo que estão preparados para lidar com o mundo exterior. Nesse sentido, você não cria alguma coisa só para você mesmo: quer que o maior número possível de pessoas aprecie sua criação. Então, por esse ângulo, é incrível que The Walking Dead tenha passado de uma coisa minha, algo em que trabalhei incansavelmente com meus colaboradores Charlie Adlard, Cliff Tathburn e Rus Wooton para levar às prateleiras das livrarias e lojas de quadrinhos do mundo todo, a essa sensação global, apreciada por vários milhões de pessoas que provavelmente eu nunca vou conhecer. The Walking Dead deixou de ser meu bebê. Há um batalhão de redatores, artistas, diretores, músicos, escultores, animadores, cenógrafos, figurinistas, editores, produtores e atores envolvidos nas várias produções baseadas em minha ideia original. Pode parecer meio enervante ou sobrepujante ver todas essas pessoas diferentes trabalhando em algo que criei em um cômodo de casa quando tinha 23
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anos, mas é espantoso pensar nas coisas crescendo e se transformando no que são. Conforta-me saber que, de toda forma, pude escolher a dedo as diversas pessoas envolvidas com The Walking Dead. Meu bebê está em boas mãos. Tudo isso me leva a Frank Darabont. Talvez você tenha ouvido falar em Frank. Ele é o roteirista e diretor de filmes clássicos como À Espera de um Milagre e Um Sonho de Liberdade. Frank é um desses cineastas que fazem intervalos sem pressa entre os filmes, escolhendo os projetos certos aos quais se dedicarem. Ele não tem um portfólio muito extenso, mas é possível ver que põe coração e alma em cada projeto que desenvolve. Quando Frank chegou, foi como um sopro de ar fresco. A verdade é que Frank Darabont não foi o primeiro figurão de Hollywood a me procurar com interesse nos direitos de The Walking Dead. Quando ele chegou, em 2005, eu recusava ofertas havia dois anos. Algumas foram feitas por nomes que você reconheceria, mas não vou mencioná-los porque, na maioria dos casos, a ideia sobre o que fazer com The Walking Dead era tenebrosa. Superzumbis, cachorro zumbi, canibais heroicos... Em muitos casos, a impressão era de que as pessoas estavam tentando provar o quanto não haviam conseguido “apreender” do material de origem. E então Frank apareceu. É engraçado, mas quando meu empresário me disse pela primeira vez que Frank queria falar comigo, pensei: “Isso é estranho, o cara de Um Sonho gosta de zumbis?”. Eu não sabia que Frank havia começado a carreira escrevendo filmes como A Bolha Assassina, A Mosca 2, e A Hora do Pesadelo 3 (que na verdade funcionam nessa ordem, como uma espécie de trilogia; você tem que tentar assistir a todos no mesmo dia). E, mais tarde, eu descobriria que Frank é, provavelmente, o maior fã de Bernie Wrightson em todo o planeta. Frank está enraizado no gênero. Ele ama terror e ficção científica como ninguém mais. Mas, mais importante: Frank havia lido The Walking Dead. E, ainda mais importante: ele havia entendido. Minha primeira conversa com Frank foi muito legal, devo dizer. Como escritor de quadrinhos em Kentucky, eu não conversava com muitos diretores de cinema importantes (com alguns, mas não muitos), e me lembro de ter ficado espantado com como Frank foi simpático e agradável desde o início. Foi como se fôssemos velhos amigos falando sobre filmes de zumbis. Não foi uma conversa longa, mas extraí dela o que queria. Frank me disse exatamente o que eu desejava ouvir: – Você é brilhante. c ontinua
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Brincadeira. O que eu realmente queria ouvir era: – Não é sobre zumbis. Para mim, essa é a chave para The Walking Dead, a coisa mais simples e óbvia sobre a obra, mas Frank foi realmente a primeira pessoa a morder a isca do lado certo e, mais importante, a abraçá-la. The Walking Dead não é uma brincadeira de ação zumbi com personagens intensamente sangrentos e superficiais, que servem apenas como bucha de canhão – por mais que eu, pessoalmente, adore esse tipo de coisa. The Walking Dead é uma novela. É um romance: um relato envolvente de sobrevivência, contraposto à mais horrível tragédia mundial que alguém poderia imaginar, quando os mortos retornam, devorando os vivos. The Walking Dead é algo triste e trágico, uma história que coloca seus personagens no moedor e espera para ver o que vai sair do outro lado. E Frank entendeu tudo isso. Ele viu The Walking Dead como eu via. Pela primeira vez me vi frente a frente – ou melhor, voz a voz – com alguém que parecia se importar com The Walking Dead tanto quanto eu. E pelos motivos certos. Eu soube desde o início que nos entenderíamos, o que foi bom, porque não nos conhecíamos há muito tempo quando chegou a hora de fazer acontecer esse programa de TV. Na verdade, gosto de ressaltar que Frank e eu nos debatemos com um programa em construção até Gale Anne Hurd embarcar na equipe e trazer a AMC, pondo tudo isso em movimento. E, quando dei por mim, pessoas como Chic Eglee e Jack LoGiudice também estavam na equipe para criar o programa. Greg Nicotero e o KNB Effect Group foram convidados para criar os melhores zumbis que já se viu. Então Frank, Gale e o pessoal na AMC reuniram nosso elenco lendário e a corrida começou. Dali em diante era uma menção no TV Guide aqui, um truque internacional de marketing envolvendo centenas de zumbis invadindo cidades no mundo todo ali, algumas capas de revista e a espantosa cobertura na internet, tudo isso construindo uma forte estreia e, me disseram, um sucesso indiscutível. Agora os livros voam das prateleiras, eu escrevo para a série enquanto continuo trabalhando nos quadrinhos, e minha vida mudou completamente. O que é fantástico, considerando que já era ótima no início. Então... Não sei realmente o que estou tentando dizer aqui, além de OBRIGADO. Obrigado por comprar este livro, por gostar da série, dos quadrinhos ou seja do que for. Obrigado por nos dar uma chance, fazendo dessa empreitada maluca um sucesso. Obrigado por se vestir como zumbi às vezes, ou fazer uma tatuagem maluca
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de The Walking Dead, ou dar a seu filho o nome de Rick Grimes, e todas essas coisas. É realmente incrível e lisonjeiro, e me faz tentar ainda mais continuar fazendo os quadrinhos e a série tão bons quanto podem ser, porque você merece. The Walking Dead agora pertence a vocês*. (E se você está realmente muito ansioso para ter um perfume Walking Dead... sinto muito.) Robert Kirkman
* Mas eu continuo ganhando os direitos autorais, certo?
ROBERT KIRKMAN é autor best-seller do The New York Times e criador de The Walking Dead e Invincible. Kirkman é sócio na Image Comics, onde fundou a marca Skybound, e também é roteirista e produtor executivo da série The Walking Dead, da AMC. Mora em Backwoods, Califórnia.
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Um
Construção do mundo em quadrinhos : A criação de The Walking Dead
The Walking Dead foi não convencional desde sua criação, revelando uma profundidade nem sempre encontrada nas páginas de quadrinhos. Ele tem sido considerado como uma exploração do colapso da sociedade em um mundo pós-apocalíptico; um estudo de personagem de um homem levado ao limite para proteger sua família; e até uma crítica à cultura de consumo, quando pessoas são forçadas a viver uma existência despojada, sem aparelhos de TV e iPads.
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O criador da série, Robert Kirkman, centrou The Walking Dead em um conceito funda-
esse livro... Trabalhamos juntos para desenhar os personagens e tudo.”
mental mais simples: é a história de zumbis que
Kirkman e Moore eram amigos desde a
nunca termina. “Sempre que você vê um filme de
infância, quando assistir a filmes de zumbi era o
zumbi, o fim do filme é o mesmo”, ele lamenta.
passatempo favorito dos dois. Mais tarde, quando
“Ou são os últimos sobreviventes caminhando
Moore estava na escola de arte, Kirkman entrou
para o pôr-do-sol, ou todos morrem.”
em contato com o amigo e sugeriu que eles traba-
Ele cita certa brusquidão normalmente
lhassem juntos na ideia de um livro em quadri-
associada a essas histórias, nas quais uma
nhos. Isso se tornou o primeiro empreendimento
batalha final frequentemente eclode do nada,
oficial conjunto dos dois: Battle Pope, uma
forçando os sobreviventes a encontrarem um
exploração satírica de um papa de vida austera
dos dois destinos pré-determinados. E embora tenha sido fã do gênero durante a maior parte de sua vida, esse desfecho o deixava querendo mais. “Nunca houve realmente uma história que continuasse depois que os personagens caminhassem para o pôr-do-sol”, ele explica. “Nunca houve uma narrativa continuada que permanecesse no mundo e seguisse os personagens para sua conclusão natural, tentando sobreviver durante anos e anos nesse cenário [pós] apocalíptico. Este seria definitivamente um livro que eu teria gostado de ler, e por isso decidi escrevê-lo: porque ele não existia”. O passo inicial para uma exploração prolongada dos zumbis foi um projeto de ficção científica chamado Dead Planet (Planeta Morto). A história começa em uma colônia de mineração em outro mundo onde existia um minério com propriedades que podiam reanimar carne humana. Esse minério eventualmente encontrou seu caminho para a Terra, precipitando um futurista apocalipse zumbi. Com essa ideia básica, Kirkman passou a trabalhar na realização da visão. “Seria um livro divertido”, ele lembra. “Tony Moore, que desenhou os primeiros seis episódios de The Walking Dead, desenharia
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ACIMA: Arte de capa, de Tony Moore e Val Staples, para Battle Pope n°1. Battle Pope, de Robert Kirkman e Tony Moore, foi lançado em 2000 como primeiro título da pequena e incipiente editora de Kirkman, a Funk-O-Tron. ANTERIOR: O n°1 de The Walking Dead, lançado em outubro de 2003 com arte de capa de Tony Moore.
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chamado para salvar o mundo dos demônios,
quadrinhos sobre o poder comercial da série;
pedindo ajuda de Jesus Cristo para a batalha.
zumbis ainda eram um conceito que tinha que
Battle Pope foi publicado pela editora inde-
ser provado. Mas havia alguma coisa no material
pendente criada por Kirkman, a Funk-O-Tron.
revisado que provocou um brilho de interesse
Foram quatorze números dessa publicação e,
nos olhos da Image Comics, a editora com que
embora ela não tenha incendiado a indústria
Kirkman mais trabalhava.
cômica, ajudou Kirkman a entrar no mercado.
A Image Comics havia sido fundada no iní-
Ao longo dos três anos seguintes, ele escre-
cio dos anos de 1990, criação de um grupo de
veu um punhado de quadrinhos, incluindo
artistas da Marvel Comics que estavam cansados
Tech Jacket, com o artista E. J. Su para a Image
de ceder os direitos do próprio trabalho a outras
Comics. O livro teve apenas seis números, mas
pessoas. Esses escritores e artistas vislumbraram
um personagem que Kirkman introduziu na
um novo paradigma para o ramo, no qual os
época se tornaria uma presença constante no
criadores dos quadrinhos preservariam a pro-
universo da Image Comics: Invincible, cujos
priedade e os direitos autorais de seu trabalho. A
quadrinhos de mesmo nome foram lançados,
Imagem cresceu, transformou-se em uma com-
com o artista Cory Walker, no início de 2003.
panhia com vários selos, cada um publicando
Ao mesmo tempo em que desenvolvia
assuntos variados, adequados a seus diversos
Invincible para a Image, Kirkman também tra-
criadores. Isso deu à companhia a chance de
balhava com Moore na preview de cinco páginas
incorporar novos escritores com ideias únicas,
de Dead Planet. Eles apresentaram o trabalho a
que iam além dos tradicionais quadrinhos de
alguns editores de quadrinhos, inclusive da Image,
super-heróis. The Walking Dead, como seria
mas isso foi antes da febre zumbi na cultura pop e,
chamada depois, foi uma dessas ideias.
assim, a ideia não foi aceita de imediato. Kirkman
O atual publisher da Image Comics, Eric
gostava realmente do conceito, mas descobriu que
Stephenson, era diretor de marketing da empresa
não havia nada que pudessem fazer com ele.
quando Kirkman apresentou sua série de qua-
“Agora fico feliz por isso ter acontecido”, diz
drinhos. Stephenson reconheceu a centelha cria-
Kirkman. “Eu ainda queria fazer alguma coisa
tiva no conceito, mas não foi uma compra fácil
com Tony Moore. Ainda queria fazer alguma
para ele. “Não havia muito interesse em mate-
coisa que envolvesse zumbis. Por isso pus minha
rial sobre zumbis naquela época. Quase não
cabeça para funcionar e tentei pensar em um
compramos o livro, porque, naquele momento,
jeito de fazer aquele livro, mas tornando-o um
quadrinhos sobre o assunto não faziam muito
pouco mais atraente para os editores, talvez.”
sucesso. Não era um negócio certo.”
Ele então matou o aspecto de ficção científica da
O filme sobre zumbis de Danny Boyle,
história e voltou ao conceito central: o filme de
Extermínio, havia estreado recentemente no
zumbis que nunca termina.
Reino Unido, e ainda estava meses distante da
Porém, essa edição ainda não foi a bala de
ampla divulgação nos Estados Unidos. Foi um
prata capaz de matar as dúvidas da indústria dos
ano antes da publicação do livro de paródia
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de Max Brooks, o Guia de sobrevivência aos
Stephenson. O comentário dele levou à agora
zumbis: proteção total contra os mortos-vivos.
familiar abertura na qual o ajudante de xerife
Zumbis estavam muito longe de ser algo certo
Rick Grimes acorda de um coma. No entanto,
para qualquer editor, mas havia interesse na série
ainda faltava alguma coisa.
e em ver o que Kirkman poderia fazer com um
“A reação inicial a The Walking Dead era
conto de zumbis que nunca terminava. Mas, se a
que ali não havia um gancho”, Kirkman explica.
Image ia assumir um compromisso com o pro-
“Era só uma história de zumbis comum, sem nada
jeto, algumas mudanças teriam que ser feitas. As
de realmente único.” Naquela altura, ele estava
cinco páginas da preview que Kirkman e Moore
determinado a criar uma saga zumbi direta, sem
haviam criado pareciam clichês demais para
rodeios. De fato, a ideia evoluiu para um conceito completamente despojado, explorando mais um drama humano do que zumbis. Mas Kirkman sabia que qualquer hesitação poderia matar a ideia, e por isso fez o que qualquer escritor faria diante do interesse hesitante de um editor. Ele mentiu. Kirkman examinou novamente a prova de seu original de Dead Planet e se animou com a ideia de oferecer um gancho para a nova série sem relacionar tudo ao aspecto de ficção científica. “Eu disse que toda a história dependia de uma revelação posterior sobre alienígenas terem causado os zumbis, e que isso era parte de um imenso ataque alienígena. Eles enfraqueceriam a infraestrutura do governo trazendo os mortos de volta à vida, e depois apareceriam e dominariam o planeta.” A Image comprou a ideia, sem saber que Kirkman não tinha nenhuma intenção de colocá-la em prática. Sua esperança era de que eles se encantassem de tal forma com a oferta original que não se importariam com a mentira. O terrível telefonema de Eric Stephenson aconteceu depois
ACIMA: Uma página revisada da prova dos quadrinhos, com arte de Moore, na qual Rick tem seu primeiro encontro com o morto andante do título. OPOSTO: Entrando diretamente na história, Rick acorda para uma nova ordem mundial na segunda página do n° 1, sozinho em um hospital e ainda sem ter conhecimento dos perigos fora de seu quarto.
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da chegada do primeiro número dos quadrinhos. Stephenson não conseguia ver nenhuma alusão ao envolvimento de alienígenas na linha da história e perguntou se era ele quem não via as dicas, ou se elas seriam incluídas nos próximos números. Era hora de Kirkman dizer a verdade, admitindo
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LANÇANDO Os QUADRINHOs
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ANTERIOR ACIMA: a proposta de Kirkman da série em quadrinhos The Walking Dead propõe uma trama ligeiramente diferente da obra final, ambientada na Pensilvânia e com a esposa de Rick chamada Carol, mas ainda guarda o tom e o conceito central da série.
ANTERIOR, ABAIXO: enredo manuscrito de Robert Kirkman para o nº 1 de The Walking Dead, com a quebra página a página dos quadrinhos.
A proposta de The Walking Dead
THE WALKING DEAD #1
História Rick Grimes é policial de uma pequena cidade do estado da Pensilvânia. Ele vive com a esposa, Carol, e o filho Carl em uma bela casa na área rural. Rick não tem uma vida muito agitada. Exceto pelo treinamento de tiro ao alvo, nunca disparou sua arma, e não é, de jeito nenhum, um herói. Quando surge a notícia de que mortos-vivos vagam pela área rural cometendo assassinatos em massa e comendo suas vítimas, Rick tem que encarar o desafio de proteger sua família da loucura à sua volta.
1) Flash Back Rick leva um tiro. 2) Acorda no hospital, remove tubos, se veste. 3) Procura hospital. 4) Cadáver Pinos. 5) “Jesus... Que diabo aconteceu aqui?” 6) 7) Epidemia? Abrigo, tranca de zumbi aberta.
O livro é sobre um homem que vai fazer de tudo para garantir que a família fique segura. Quando residências particulares são decretadas inseguras, Rick leva a família para a estrada em busca de comida, abrigo e alguma coisa que seja parecida, pelo menos, com estabilidade. Seguimos a família Grimes enquanto ela tenta encontrar um jeito de voltar à vida normal que um dia conheceu. O primeiro arco da história vai detalhar sua caminhada pelo estado e como se instalam em uma antiga escola abandonada. Esse colégio transforma-se rapidamente em uma fortaleza bem defendida, enquanto a vida na América se aproxima muito dos tempos medievais. Assim que uma base de operações é estabelecida, Rick passa a liderar um exército numa cruzada para expandir a zona de segurança, e eventualmente recuperar o planeta... ou pelo menos tentar. Formato The Walking Dead será em preto e branco, como os melhores filmes de horror, até as capas podem ser em preto e branco, de fato, reduzindo assim ao mínimo os custos de impressão. A arte será inteiramente em tons de cinza. Cada número terá um número padrão de 22 páginas. No fim de cada ano (se as vendas permitirem) uma edição reunindo os 12 números do ano anterior será lançada no mesmo mês do primeiro número do ano seguinte, garantindo um ponto de retomada perfeito a cada ano (volume 1 à venda no mesmo mês do n° 13 etc). Contato Robert Kirkman
8) Fugindo, tropeçando, cambaleando, cai na escada. 9) Desce para garagem. Painel WIOE no térreo. 10) Examina carros... começa a andar. 11) Vê criança na estrada, vai pegar bicicleta. 12) Criança começa a se mover. Vira horrorizado... foge na bicicleta 13) Chega em casa. Ninguém lá, olha em volta, vai à garagem. 14) Vai ao quintal, leva pancada na cabeça. 15) Homem negro e criança. “Oh, merda”. 16) Levam-no para a casa. 17) Rick acorda, longa conversa. 18) Mais conversa. “Então, você é um policial?”; “Qual foi sua primeira pista?” 19) Risadas. Rick mostra chaves. “Quer ir às compras?” 20) Chega delegacia. Olha mesas. 21) Na sala de armas pegando armas. 22) Saindo com carros. Dizendo adeus. 23) Partindo... Para carro, desce. 24) Painel superior criança zumbi de novo. Atira, grita, vai embora.
“Então, achei que você fosse um policial.” “Dizem que nossa geração teve tudo fácil.” Tinha que haver uma retribuição...
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que não considerava necessário seguir por esse
A Noite dos Mortos-Vivos”, Kirkman explica, “e
caminho – e, felizmente, Stephenson concordou.
também de economizar um pouco de dinheiro na
A evolução no quadrinho ainda não estava
impressão. Imaginei que, se as vendas caíssem, eu
completa. O título de trabalho da prova não era
queria contar o máximo possível da história antes
o mesmo com que a obra seria lançada. Quando
de encerrarem minha série, e poderíamos ir um
Kirkman desistiu do plano com Dead Planet,
pouco mais longe se a impressão fosse mais barata.”
ele precisava encontrar um título que se enqua-
Hoje, a produção de quadrinhos coloridos não é
drasse na nova história. Queria alguma coisa
proibitivamente mais cara que outros em preto e
que focasse sua principal influência: A Noite dos
branco, mas Kirkman ainda acredita que a arte
Mortos-Vivos, o filme de George Romero de 1968
escolhida permite a seus quadrinhos vendas muito
que reinventou o gênero de terror e apresentou a
mais altas. Ela também tem outros benefícios.
moderna ideia de zumbis. Como quis o destino, o distribuidor original daquele filme deixou de incluir uma nota de direitos autorais nas cópias, o que é requisito para um título ter direitos autorais nos Estados Unidos. Como resultado, A Noite dos Mortos-Vivos entrou no domínio público. E era esse o nome que Kirkman queria dar a seu novo épico sobre zumbis. Mais uma vez, executivos na Image Comics interferiram com sábios conselhos. Embora houvesse a importância do nome, certamente ele limitaria o que poderia ser feito além dos quadrinhos. Quem se interessasse pelos direitos da história para o cinema ou televisão teria que mudar o título pare evitar confusão com o original. Como a história não tinha nenhuma conexão com o filme, era melhor escolher um novo título. E assim nasceu The Walking Dead. Embora a história de Kirkman fosse única, havia alguns elos com o filme que ele considerava sua inspiração, elos que iam além de trechos de diálogo do filme que ele usara na prova revisada. A decisão de desenhar a arte interna em preto e branco, por exemplo, foi uma escolha artística, além de financeira. “Pensamos que seria um jeito de homenagear o trabalho de George Romero em
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ACIMA: Como se percebe no trabalho de Moore no n°2 da série, página 13, a morbidez inerente à batalha zumbi é um pouco atenuada pelo fato de os quadrinhos serem em preto e branco, mas a violência ainda é evidente. OPOSTA: The Walking Dead n° 2 foi publicado em novembro de 2003 com capa de Moore.
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