1 A CIDADE DE DEMENTÓPOLIS era pequena e entediante. Era o típico lugar onde os moradores tomavam conta de seus lindos gramados verdes e onde os pássaros cantavam em todas as árvores – mas somente das nove às cinco, de acordo com as leis locais. Mas mesmo em Dementópolis havia uma casa que se destacava de todas as outras.
A casa número quatro da Rua das Sombras era onde morava a Viúva Foumabruxa. O lugar era tão assustador que as crianças desafiavam umas às outras para ver quem tinha coragem de ir lá pedir doces ou travessuras no Dia das Bruxas. Mas nenhuma delas era corajosa o suficiente. Todos acreditavam que era uma casa mal-assombrada. E é claro que também existiam as estranhas estórias sobre a Viúva... A maioria não passava de mentiras criadas por Rubem Besouliudo, o vizinho mais próximo. Ele sempre reclamava sobre o jeito estranho da mulher. Resmungava sobre o jardim malcuidado, cheio de ervas daninhas, que ele jura terem tentado comer seu cachorro. Também
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reclamava das festas que ela fazia sob a luz da lua cheia, onde seus convidados (pessoas de comportamento duvidoso) gritavam e falavam alto da meia-noite até o nascer do sol. E é claro que não deixou de reclamar sobre a misteriosa nuvem negra que sempre cobria a casa, independentemente do clima. – Aquela mulher é uma bruxa! – o senhor Besouliudo disse a todos que estivessem interessados em saber. – Ela é um perigo para todos nós! No dia em que esta história começa, o senhor Besouliudo estava liderando um grupo de vizinhos até a Rua das Sombras, indo direto à casa da Viúva. Alguns dos moradores carregavam paus, machados e tochas. As expressões em seus rostos demonstravam determinação, como se tivessem um propósito sombrio em mente e nada seria capaz de fazer com que mudassem de ideia...
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A notícia sobre a promoção havia se espalhado pela cidade inteira em questão de minutos. As pessoas pararam tudo que estavam fazendo e foram correndo até a casa da Viúva. Ninguém queria perder a chance de comprar barato. Assim que a multidão de loucos por compras surgiu na rua da Viúva, os portões se abriram como em um passe de mágica...
Venda de itens usados hoje, nenhuma boa oferta será recusada!
– Provavelmente eles têm sensores – Miranda disse ao seu amigo Stanley Nudelman. – Por que você sempre tem que imaginar coisas? Stanley e Miranda passavam por aquela rua todos os dias durante sua caminhada da escola para casa. 10
– Vamos dar uma olhada – Miranda sugeriu. – Eu aposto que a Viúva tem um monte de coisas legais à venda. – Não sei se é uma boa ideia – Stanley hesitou. – Você sabe o que as pessoas falam sobre ela...
– Não me diga que você realmente acredita naquelas histórias bobas? – zombou Miranda. – Ah vai, Stanley. Só porque alguém vive em uma casa caindo aos pedaços, veste preto o tempo todo, tem um sapo como bicho de estimação, mantém perto da porta uma vassoura trancada com uma corrente, fala com morcegos, e aparece e desaparece misteriosamente sempre que um gato preto está por perto, não significa que ela seja uma bruxa! 11
Mas Stanley não era o tipo de garoto que gostava de arriscar. – Eu não sei... – ele choramingou. – Ah, vamos! – Miranda disse. – O que poderia acontecer de tão ruim?
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