Curso de Mariologia

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2009 INTRODUÇÃO À MARIOLOGIA

Ministério de Formação Renovação Carismática Católica de Ariquemes 14/7/2009


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SUMÁRIO INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................... 3 CAPÍTULO 1: MARIA É NECESSÁRIA A NOSSA SALVAÇÃO ........................................................................ 4 CAPÍTULO 2: MARIA, RAINHA DO UNIVERSO ........................................................................................ 11 CAPÍTULO 3: A PERENE VIRGINDADE DE MARIA ............................................................................ 17 CAPÍTULO 4: MARIA MÃE DE DEUS ....................................................................................................... 22 CAPÍTULO 5: IMACULADA CONCEIÇÃO ................................................................................................. 28 CAPÍTULO 6: DOGMA DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA EM CORPO E ALMA AO CÉU ............ 30 CAPÍTULO 7: A VIRGEM MARIA MEDIANEIRA DE TODAS AS GRAÇAS................................................... 37 CONCLUSÃO .......................................................................................................................................... 41

S. Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria.


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INTRODUÇÃO

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apostila de Mariologia que segue é uma compilação de artigos oriundos de diversos sites católicos, livros e principalmente de documentos da Igreja. Não temos a intenção de esgotar o assunto, até porque seria muita pretensão em um material tão sucinto tratar de um tema tão importante. A apostila aborda os seguintes temas: Maria necessária para nossa salvação; Maria Rainha do Universo; os quatro dogmas marianos (virgindade perpétua; mãe de Deus; conceição imaculada e assunta ao céu). Além disso, no último capítulo traz algumas considerações sobre um tema bem atual da mariologia que é a possibilidade de declaração de mais um dogma mariano: Maria, medianeira de todas as graças. A Congregação para a educação católica sobre a importância da Virgem Maria na formação intelectual e espiritual diz: A história do dogma e da teologia testemunham a fé e a atenção incessante da Igreja em relação à Virgem Maria e à sua missão na história da salvação. Tal atenção manifesta-se já em alguns escritos do novo testamento e em não poucas páginas dos autores da idade subapostólica. Os primeiros símbolos da fé e, sucessivamente, as fórmulas dogmáticas dos Concílios de Constantinopla (a. 381), de Éfeso (a. 431) e de Calcedônia (a. 451) testemunham o progressivo aprofundamento do mistério de Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, e paralelamente a progressiva descoberta do papel de Maria no mistério da Encarnação; uma descoberta que conduziu à definição dogmática da maternidade divina e virginal de Maria. A história da teologia atesta que o conhecimento do mistério da Virgem contribui para um conhecimento mais profundo do mistério de Cristo, da Igreja e da vocação do homem.[45] Por outro lado, o vinculo estreito

da bem-aventurada Virgem com Cristo, com a Igreja e com a humanidade faz com que a verdade acerca de Cristo, da Igreja e do homem ilumine a verdade concernente a Maria de Nazaré. Também para a mariologia vale a palavra do Concílio: « A sagrada teologia apoia-se, como em seu fundamento perene, na Palavra de Deus escrita e na Tradição, e nela se consolida firmemente e sem cessar se rejuvenesce, investigando, à luz da fé, toda a verdade contida no mistério de Cristo ».[55] O estudo da sagrada Escritura deve ser portando como que a alma da mariologia.[56] Além disso é imprescindível para a investigação mariológica o estudo da Tradição pois que, como ensina o Vaticano II, « a sagrada Tradição e a sagrada Escritura constituem um único sagrado depósito da Palavra de Deus confiado à Igreja ».[57] O estudo da Tradição revela-se além disso particularmente fecundo pela quantidade e qualidade do patrimônio mariano dos Padres da Igreja e das diversas liturgias. A investigação da Escritura e da Tradição, realizada segundo as metodologias mais fecunda e os mais válidos instrumentos da crítica, deve ser guiada pelo Magistério, porque a ele é que foi confiada a guarda e interpretação autêntica do depósito da Palavra de Deus; [58] e deverá ser, na ocasião, confortada e integrada pelas aquisições mais seguras da antropologia e das ciências humanas.

Notas: [45] Cf. Lumen gentium, 65. [55] Dei Verbum, 24. [56] Cf. ib., 24; Optatam totias, 16. [57] Dei Verbum, 10. [58] Cf. ib., 10.

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CAPÍTULO 1: MARIA É NECESSÁRIA A NOSSA SALVAÇÃO 1. INTRODUÇÃO

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m que sentido é necessária a devoção a Maria? Quando se afirma, pois, que a devoção a Maria é necessária para

salvar-se: a) Deve-se distinguir, antes de tudo, entre necessário e necessário. Existe, com efeito, uma necessidade que é absoluta e uma necessidade que é hipotética, uma que é física e outra que é moral. De qual dessas necessidades se está falando no presente caso? Tenciona-se a falar, evidentemente, não propriamente a uma necessidade absoluta ou antecedente, como se Deus não tivesse outro meio de salvar as almas, mas de uma necessidade hipotética ou conseqüente, isto é, em conseqüência da vontade mesma de Deus, que quis livremente dispor assim. Trata-se, além disso, não de uma necessidade física, como se ninguém tivesse, sem isso, capacidade física de salvar-se; mas se trata, antes, de uma necessidade moral, entendida no sentido de que alguém, recusando-se a servir-se desse meio, viria a comprometer de modo muito sério a consecução de seu fim, ou seja, de sua eterna salvação. b) Trata-se, ademais, de afirmar essa necessidade hipotética e moral para os adultos e não propriamente para as crianças (ou adultos equiparados às crianças) incapazes de atos de devoção. Portanto, para estas a devoção a Maria não é necessária, como o são a graça santificante e o Batismo. Com relação aos adultos mesmos, trata-se, a seguir, dos que conhecem, como se supõe, suficientemente a Maria, o lugar extraordinário que Ela ocupa e a parte necessária que Ela desempenha, pela livre vontade de Deus, na obra de nossa salvação, como Medianeira, isto é, como Coredentora, Mãe espiritual da humanidade e Distribuidora de todas e de cada uma das graças divinas. Ficam excluídos, portanto, todos os adultos que, sem culpa sua, carecem desse conhecimento, como são os fiéis não ainda instruídos ou os fiéis não suficientemente instruídos. Nesses, com efeito, dada sua ignorância não culposa, pode-se facilmente supor uma devoção implícita, interpretativa, no sentido de que estariam prontos a venerar e

a invocar Maria, se tivessem dEla um conhecimento suficiente. c) Trata-se, enfim, de uma recusa positiva de culto e devoção a Maria ou de positiva indiferença para com o mesmo. Esse desdém, com efeito, faria logicamente supor que o culto e a devoção a Maria seriam praticamente considerados coisa ilegítima e inútil, o que é erro grave contra a fé, condenado pelo Concílio de Trento (Sess. XXV). Restringida a questão a estes limites, não é nada difícil demonstrar com sólidos argumentos que a devoção a Maria é necessária para salvar-se. (ROSCHINI, Gabriel. Istruzioni Mariane, capítulo IV, n. 3, pp. 305s) Fonte: http://malashiro.blogspot.com/2009/05/devoca o-virgem-maria-e-necessaria.html 2. A NECESSIDADE DA DEVOÇÃO Á MARIA -A devoção a Nossa Senhora é necessária para a salvação? - Sem a devoção a Nossa Senhora podemos nos salvar? Eis o que está escrito no referido livro de Montfort nos itens 40 a 42: § 1. A devoção a Santa Virgem é necessária a todos os homens para conseguirem a salvação 40. “O douto e piedoso Suárez, da Companhia de Jesus, o sábio e devoto Justo Lípsio, doutor da universidade de Lovaina, entre outros, provaram incontestavelmente, apoiados na opinião dos Santos Padres, entre os quais, Santo Agostinho, Santo Efrém, diácono de Edessa, São Cirilo de Jerusalém, São Germano de Constantinopla, São João Damasco, Santo Anselmo, São Bernardo, São Bernardino, Santo Tomás e São Boaventura, que a devoção a Santíssima Virgem é necessária à salvação e também um sinal infalível de condenação - opinião do próprio Ecolampádio e outros hereges, - não ter estima e amor a Santíssima Virgem. O contrário é indício certo de predestinação ser-lhe inteira e verdadeiramente devotado. 41.As figuras e palavras do Antigo e do Novo Testamento o provam; a opinião e os exemplos dos santos o confirmam; a razão e a

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experiência o ensinam e demonstram; o próprio demônio e seus asseclas, premidos pela força da verdade, viram-se muitas vezes constrangidos a confessá-lo, a seu pesar. De todas as passagens dos Santos Padres e doutores, que compilei para provar esta verdade, cito apenas uma, para não me alongar: “Ser vosso devoto, ó Virgem Santíssima, é uma arma de salvação que Deus dá, àqueles que quer salvar (São João Damasceno). 42. Eu poderia repetir aqui várias histórias que provam o que afirmo. Entre elas, destaco: Aquela que vem narrada nas crônicas de São Francisco, em que se conta que o santo viu, em êxtase, uma escada enorme, em cujo topo, apoiado no céu, avultava a Santíssima Virgem. E o santo compreendeu que aquela escada ele devia subir para chegar ao céu. Outra narrada nas crônicas de São Domingos: quando o santo pregava o rosário nas proximidades de Carcassona, quinze mil demônios, que possuíam a alma de um infeliz herege, foram obrigados, por ordem da Santíssima Virgem, a confessar muitas verdades grandes e consoladoras, referentes à devoção a Maria. E eles, para sua própria confusão, o fizeram com tanto ardor e clareza que não se pode ler essa autêntica narração e o panegírico, que o demônio, embora a contragosto, fez da devoção mariana, sem derramar lágrimas de alegria, ainda que pouco devoto se seja da Santíssima Virgem” [Veja abaixo este texto com as respostas dos demônios] (São Luís Maria Grignion de Montfort, “Tratado da Verdadeira devoção a Santíssima Virgem”, pág. 40-45. 31. ed. Vozes. Petrópolis, 2002). Respostas dos demônios, mesmo contra a vontade deles (*) Quando São Domingos estava pregando o Rosário perto de Carcassona, trouxeram à sua presença um albigense que estava possesso pelo demônio. Consta que mais de doze mil pessoas tinham vindo ouvi-lo pregar. Os demônios que possuíam esse infeliz foram obrigados a responder às perguntas de São Domingos, com muito constrangimento. Eles testemunharam que: 1 - Havia quinze mil deles no corpo desse pobre homem, porque ele atacou os quinze mistérios do Rosário; 2 - Continuaram a testemunhar que, quando São Domingos pregava o Rosário, impunha medo e horror nas profundezas do inferno e que ele era o homem que eles mais odiavam

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em todo o mundo; isso por causa das almas que ele arrancou dos demônios por intermédio da devoção do Santo Rosário; revelaram ainda várias outras coisas. São Domingos colocou o seu Rosário em volta do pescoço do albigense e pediu que os demônios lhe dissessem a quem, de todos os santos nos céus eles mais temiam, e quem deveria ser, portanto, mais amado e reverenciado pelos homens. Nesse momento eles soltaram um gemido inexprimível no qual a maioria das pessoas caiu por terra desmaiando de medo… e eles disseram: “Domingos, nós te imploramos, pela paixão de Jesus Cristo e pelos méritos de sua Mãe e de todos os santos, deixe-nos sair desse corpo sem que falemos mais, pois os anjos responderão sua pergunta a qualquer momento (…). São Domingos ajoelhou-se e rezou a Nossa Senhora para que ela forçasse os inimigos a proclamarem a verdade completa e nada mais que a verdade. Mal tinha terminado de rezar viu a Santíssima Virgem perto de si, rodeada por uma multidão de anjos. Ela bateu no homem possesso com um cajado de ouro que segurava e disse: “Responda ao meu servo Domingos imediatamente”. Então os demônios começaram a gritar: “Oh, vós, que sois nossa inimiga, nossa ruína e nossa destruição, porque desceste dos céus só para nos torturar tão cruelmente? Oh, Advogada dos pecadores, vós que os tirais das presas do inferno, vós que sois o caminho certeiro para os céus, devemos nós, para o nosso próprio pesar, dizer toda a verdade e confessar diante de todos quem é que é a causa de nossa vergonha e nossa ruína? Oh, pobres de nós, príncipes da escuridão: então, ouçam bem, vocês cristãos: a Mãe de Jesus Cristo é todo-poderosa e ela pode salvar seus servos de caírem no Inferno. Ela é o Sol que destrói a escuridão de nossa astúcia e sutileza. É ela que descobre nossos planos ocultos, quebra nossas armadilhas e faz com que nossas tentações fiquem inúteis e sem efeito. Nós temos que dizer, porém de maneira relutante, que nem sequer uma alma que realmente perseverou no seu serviço foi condenada conosco; um simples suspiro que ela oferece a Santíssima Trindade é mais precioso que todas as orações, desejos e aspirações de todos os santos. Nós a tememos mais que todos os santos dos céus juntos e não temos nenhum sucesso com seus fiéis servos. Muitos cristãos que a invocam quando estão na hora da morte e que seriam condenados, de acordo com os nossos

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padrões ordinários, são salvos por sua intercessão. Oh, se pelo menos essa Maria (assim era na sua fúria como eles a chamaram) não tivesse se oposto aos nossos desígnios e esforços, teríamos conquistado a Igreja e a teríamos destruído há muito tempo atrás; e teríamos feito com que todas as Ordens da Igreja caíssem no erro e na desordem. Agora, que somos forçados a falar, também lhe diremos isto: ninguém que persevera ao rezar o Rosário será condenado, porque ela obtém para seus servos a graça da verdadeira contrição por seus pecados e por meio dele, eles obtêm o perdão e a misericórdia de Deus”. FONTE: http://www.cancaonova.com/portal/canais/for macao/internas.php?id=&e=11131 3. A VIRGEM MARIA: A NOVA EVA Por Francisco de Almeida Araújo Para se conhecer bem quem é a mãe de Deus, precisamos ver quem foi Eva, a primeira mulher. Que a Virgem Maria é a segunda Eva, nos é revelado pelos apóstolos São João e São Paulo, basta comprovarmos as seguintes passagens: Gen 3, 15; Jo 2, 4; 19, 26; Gal 4,4 e Ap 12,1ss. Por ora ficamos com a assertiva de que Maria Santíssima é a segunda Eva. Eva, nossa primeira mãe, estava dotada de graça santificante antes do pecado original. Possuía os dons sobrenaturais, portanto. São Paulo decolara que o segundo Adão, Nosso Senhor Jesus Cristo, veio restaurar o que o primeiro Adão perdeu ? o estado de Santidade e justiça ? em razão do pecado original originante.[3] A Igreja sempre ensinou que o primeiro casal, no paraíso, possuía todos os dons sobrenaturais em razão de Gen 1, 26 (semelhança sobrenatural com Deus), em Gen 2, 7 (sopro de vida: princípio da vida sobrenatural) e em Ecl. 7, 29 (retidão ? justiça). Adão e Eva foram criados em estado de graça santificante. Além dos dons sobrenaturais possuía Eva os dons preternaturais chamados dons de integridade. Esse dom de integridade ou retidão significa imunidade à concupiscência. Concupiscência é a tendência espontânea, seja sensitiva ou espiritual, que precede a toda reflexão do entendimento e toda resolução da

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vontade e que persiste ainda contra a decisão desta última. O dom de integridade consiste no domínio perfeito do livre arbítrio sobre toda tendência sensitiva ou espiritual, mas deixa subsistir a possibilidade do pecado. São Paulo nos revela que a concupiscência procede do pecado e inicia o homem ao pecado. Se proceder do pecado, Eva, antes de cometer o pecado original originante, estava imune à concupiscência. A palavra de Deus, em gênesis 2, 25, revela a perfeita harmonia entre a razão e o desejo sensitivo. Só depois do pecado o sentimento de pudor aparece.[4] Estava, pois, Eva dotada dos dons sobrenaturais e preternaturais, podendo, portanto, evitar facilmente o pecado. Além do dom da integridade, Eva possuía ainda os seguintes dons preternaturais: da imortalidade corporal, da impassibilidade, isto é, da imunidade do sofrimento e do dom da ciência, isto é, o conhecimento infuso (dado por Deus) de muitas verdades naturais e sobrenaturais. Eva, por causa do pecado original, submeteu-se ao castigo da morte corporal. Deus havia esclarecido que a desobediência aos preceitos dados por Ele, incorreria na morte. Foi o que aconteceu com Eva.[5] Deus não é o autor da morte.[6] O dom da imortalidade significa a possibilidade de não morrer e não como impossibilidade de morrer. A imortalidade provinha pelo fruto da árvore da vida.[7] Só os vivos podem comer desse fruto da árvore da vida e quem dele come tem a vida eterna. Os mortos (pelo pecado mortal) devem receber vida e se consegue isso pelo sacramento da Confissão.[8] Os apóstolos tinham vida e vida em abundância ao receberem o ministério da reconciliação, mas o gesto de Cristo é dar-lhes o poder de transmitir vida aos homens. O livrete? Em Defesa da Fé?, em sua 10ª edição revista e ampliada, aborda o assunto. Quanto ao dom da impassibilidade, ou seja, da imunidade de sofrimento, entende-se como a possibilidade de Eva ficar livre do sofrimento. Esse dom está profundamente relacionado com o dom da imortalidade. A Sagrada Escritura revela que a dor e o sofrimento são conseqüências do pecado.[9] Antes de pecar, Eva vivia em um estado de felicidade não perturbada por moléstia alguma.[10]

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O mesmo versículo mostra Eva participando em grau secundário na obra da criação. Eva tinha tosos os conhecimentos sobrenaturais necessários ao fim sobrenatural à qual foi criada. Tudo que até agora falamos sobre Eva vale identicamente a Adão (e viceversa). Vemos em Gen 2, 20.23ss a sabedoria de que foi dotado. Após o pecado inicia-se o processo de involução da raça humana. Adão e Eva eram belíssimos e sábios em todos os aspectos. A natureza ? o Universo ? perfeito. O pecado trouxe a morte. O caminho foi: por causa do pecado ? da vida para a morte. Deus começa tudo de novo[11] e surge uma nova humanidade, um novo universo. O processo, em razão da graça, vai da morte para a vida, a se consumar na Parousia (segunda vinda de Cristo). Quis a bondade de Deus que esses dons de nossos primeiros pais fossem dons hereditários. Eva não recebeu só para si a graça santificante, mas também que a pudesse transmitir aos seus filhos. Como Eva pecou, ela não só perdeu para si a graça santificante (dons sobrenaturais de santidade e justiça), mas perdemos todos nós. Ela perdeu e não pôde mais transmiti-la. Transmitiu-nos o pecado.[12] Perdeu também os dons preternaturais de integridade, com exceção do dom de ciência. Eva possuía aqueles dons em razão direta da graça santificante. Eva recebeu esses dons não em razão de sua própria pessoa, mas como mãe dos homens. Tudo era um presente de Deus à natureza humana. Nós recebemos a graça de Deus, mas podemos perde-la pelo pecado de nossos pais (Adão e Eva). Pelo que afirmamos até agora, Eva foi criada perfeita, pois tudo que Deus faz é perfeito. E Ele achava boa a obra de Suas mãos. Um sinal que evidencia ter o homem, pelo pecado original originante (refere-se ao pecado original cometido por Adão e Eva que se propagou à toda humanidade e que dá origem a todos os demais pecados), perdido esses dons é encontrarmos santos dons especiais que chamamos impropriamente de paranormais. Antes do pecado original eram dons normais. Na plenitude dos tempos[13] a segunda Eva ? a Virgem Maria ? a mais sublime criatura de Deus, perfeita, belíssima, predestinada para ser a mãe do segundo Adão e nos méritos dele é concebida sem o pecado original originante e possui em grau elevadíssimo todos os dons

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sobrenaturais, preternaturais e naturais que um dia a primeira Eva possuis, menos a imunidade à dor e ao sofrimento para, como co-redentora, solidária aos homens, cooperar na obra da salvação. A Virgem Maria é o prisma de Deus, pois ela reflete toda a graça, sabedoria, bondade, amor e misericórdia de Deus. Tudo o que Deus planejou realizar no ser humano o fez em Maria Santíssima. Nós, a Igreja, células vivas do corpo místico de Cristo, pelos sacramentos, estamos sendo transformados de dentro para fora, como ensina São Paulo, em Igreja gloriosa, sem mácula, sem ruga, sem defeitos, santa e irrepreensível.[14] É a volta da posse, em Cristo, de todos os dons sobrenaturais, preternaturais e naturais. No céu só entrarão os perfeitos. Graças a Deus pelo purgatório, Escola de Perfeição. O que não alcançarmos aqui, se estivermos vivos (isto é, não mortos pelo pecado grave), ao morrermos para o pecado, nasceremos para a Graça que Eva perdeu, mas que a Virgem Maria nos alcançou com o seu sim. O sim de Maria Santíssima a Deus renovou o Fiat de Deus na obra da criação e Deus olhou a Virgem Bendita e achou-a ótima. Quem tem ouvidos para ouvir ouça... Necessário se faz lembrar que Adão e Eva eram inseparáveis. Eva era carne, sangue e ossos de Adão. O que Deus uniu não separe o homem. Eva era cooperadora de Adão.[15] Vamos agora mostrar que a Virgem Maria é a segunda Eva. A primeira mulher ouvindo ao demônio disse não a Deus, trazendo o pecado e a morte à humanidade. A virgem Maria ouvindo um anjo de Deus, Gabriel, disse sim a Deus, concebeu e deu à luz Cristo, vencendo o demônio, trazendo para nós a graça e a vida. Eva foi desobediente, não teve fé em Deus. a Virgem Maria foi obediente, cheia de fé. Eva é a mãe da nossa natureza pecaminosa e a Virgem Maria é a mãe da visa na Graça. Aquela gerou-nos em pecado[16]. Essa gerou-nos como mãe do segundo Adão, na Graça. Nossa Senhora resistiu-nos o que Eva perdeu. Portanto Eva é a mulher vencida e a Virgem Maria é a mulher vencedora. São Justino (+163) afirma: ?Porque Eva, quando ainda era virgem e incorrupta, havendo concebido a palavra que lhe deu a serpente, deu à luz a desobediência e a morte, mas a Virgem Maria concebeu fé e alegria

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quando o anjo Gabriel lhe deu a boa notícia de que o Espírito do Senhor viria sobre ela...?. Santo Irineu de Lião (+202), partindo do ensino de São Pulo sobre a recapitulação[17], diz: ?A Virgem Maria foi achada obediente, porque disse: ?Eis aqui a serva do Senhor?. Eva, pelo contrário, foi desobediente, porque não obedeceu apesar de que ainda era virgem. E assim como a que tinha por marido a Adão, mas não obstante era virgem ainda, foi desobediente e causa da morte para si mesma e para toda a raça humana, assim Maria, que tinha destinado um esposo, mas não obstante ser ainda virgem, se converteu por obediência, em causa de salvação para si mesma e para todo o gênero humano... Desta maneira foi também desatado o nó da desobediência de Eva pela obediência de Maria, porque o que a virgem Eva atou por sua incredulidade, o desatou a Virgem Maria por sua fé. E se a primeira Eva foi desobediente a Deus, a segunda, Maria, foi obediente, a fim de que a Virgem Maria fosse a intercessora da Virgem Eva. E assim como por uma virgem caiu o gênero humano no cativeiro da morte, assim foi também salvo por uma Virgem; porque a desobediência virginal foi compensada em contrapartida por uma obediência virginal?. Sem a Virgem Maria não se entende o plano de salvação. Quem não é fIlho de Maria permanece filho de Eva. Nossa Senhora está sempre no plano de Deus como mãe e colaboradora de Cristo. Quando Deus Pai decretou a Encarnação de Deus Filho, decretou também a maternidade divina de Maria. Deus poderia, pois para Ele nada é impossível, enviar seu Filho unigênito em forma humana, sem ser preciso nascer de mulher e passar pela fase da infância. Deus não quis agir assim. Ele escolheu nascer da Mulher[18] para que a raça humana participasse do seu plano de salvação. Se o demônio venceu a sua primeira criatura feminina, Eva, e em seqüência todos os homens, Ele quis que a segunda Eva, a Virgem Maria, vencesse o demônio e trouxesse a salvação aos homens. Cristo foi o único que pôde dizer: ?Sem pecado me concebeu minha mãe?. Quanto aos demais, como filhos de Eva, repetem o Salmo 50, 7. Deus Pai predestinou Cristo para vir ao mundo e ao mesmo tempo predestinou Maria para realizar seu plano de amor. O que Deus uniu não separe o homem. É o Filho de Maria o nosso salvador. Graças a Deus porque pertencemos à religião do Filho de Maria. Predestinado antes da

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criação do mundo e manifestado na plenitude dos tempos. FONTE: http://www.veritatis.com.br/article/2036 "Mors per Evam, vita per Mariam, a morte veio-nos por Eva, a vida por Maria" (S. Jerônimo, Epistola ad Eustochium, PL 22,408). 4. CONCILIO VATICANO 2 LG N. 55,56,61 e 62. 55. Os livros do Antigo e do Novo Testamento, e a tradição veneranda mostram, dum modo que se vai tornando cada vez mais claro, e colocam, por assim dizer, diante dos nossos olhos a função da Mãe do Salvador na economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação, que vai preparando, a passos lentos, a vinda de Cristo ao mundo. Estes primeiros documentos, tais como são lidos na Igreja e entendidos à luz da ulterior revelação completa, iluminam pouco a pouco, sempre com maior clareza, a figura de uma mulher, a da Mãe do Redentor. Ela aparece, a esta luz, profeticamente esboçada na promessa da vitória sobre a serpente, feita aos nossos primeiros pais já caídos no pecado (cf. Gn 3,15). Do mesmo modo, ela é a Virgem que há de conceber e dar à luz um Filho, cujo nome será Emanuel (cf. Is 7,14; Mq 5,2-3; Mt 1,22-23). Ela sobressai entre os humildes e os pobres do Senhor, que dele esperam confiadamente e vêm a receber a salvação. Enfim, com ela, filha excelsa de Sião, após a longa espera da promessa, atingem os tempos a sua plenitude e inaugurase nova economia, quando o Filho de Deus assume dela a natureza humana, para, mediante os mistérios da sua carne, libertar o homem do pecado. 56. Quis, porém, o Pai das misericórdias que a encarnação fosse precedida da aceitação por parte da Mãe predestinada, a fim de que, assim como uma mulher tinha contribuído para a morte, também uma mulher contribuísse para a vida. E isto aplica-se de forma eminente à Mãe de Jesus, a qual deu ao mundo aquele que é a Vida que tudo renova, e foi enriquecida por Deus com dons convenientes a tão alto múnus. Portanto, nada admira que tenha sido corrente, entre os santos padres, chamar a Mãe de Deus, toda santa e imune de qualquer mancha do pecado, como que plasmada pelo Espírito Santo e formada qual nova criatura. (5)

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Adornada, desde o primeiro instante da sua conceição, com esplendores duma santidade absolutamente singular, a Virgem de Nazaré ouvindo a saudação do anjo mandado por Deus, que lhe chama “cheia de graça” (cf. Lc 1,28), responde ao mensageiro celeste: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra” (Lc 1,38). Assim Maria, filha de Adão, consentindo na palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus, e abraçando com generosidade e sem pecado algum a vontade salvífica de Deus, consagrou-se totalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e obra de seu Filho, servindo ao mistério da redenção sob a sua dependência e com ele, pela graça de Deus onipotente. Com razão afirmam os santos padres que Maria não foi instrumento meramente passivo nas mãos de Deus, mas cooperou na salvação dos homens com fé livre e com inteira obediência. Como diz santo Irineu, “pela obediência, ela tornou-se causa de salvação para si mesma e para todo o gênero humano”. (6) E não poucos padres antigos, na sua pregação, comprazem-se em repetir: “O laço de desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva atou com sua incredulidade, a Virgem Maria desatou-o pela fé”. (7) Comparando-a com Eva, chamam a Maria “Mãe dos viventes” (8) e afirmam com freqüência: “A morte veio por Eva, e a vida por Maria”. (9) Maternidade espiritual 61. A Santíssima Virgem, predestinada desde toda a eternidade, no desígnio da encarnação do Verbo divino - para Mãe de Deus, foi na terra, por disposição da divina Providência, a Mãe do Redentor divino, mais que ninguém sua companheira generosa, e a humilde escrava do Senhor. Concebendo a Cristo, gerando-o, alimentando-o, apresentando-o no templo ao Pai, sofrendo com seu Filho que morria na cruz, ela cooperou de modo absolutamente singular pela obediência, pela fé, pela esperança e a caridade ardente - na obra do Salvador para restaurar a vida sobrenatural das almas. Por tudo isto, ela é nossa mãe na ordem da graça. Medianeira 62. A maternidade de Maria, na economia da graça, perdura sem cessar, desde o consentimento que ela prestou fielmente na anunciação e manteve sem vacilar ao pé da cruz, até a consumação final de todos os

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eleitos. De fato, depois de elevada ao céu, não abandonou esta missão salutar, mas, pela sua múltipla intercessão, continua a obter-nos os dons da salvação eterna. (15) Com seu amor de Mãe, cuida dos irmãos de seu Filho, que ainda peregrinam e se debatem entre perigos e angústias, até que sejam conduzidos à Pátria feliz. Por isso, a Santíssima Virgem é invocada, na Igreja, com os títulos de Advogada, Auxiliadora, Amparo e Medianeira. (16) Mas isto deve entender-se de modo que nada tire nem acrescente à dignidade e à eficácia de Cristo, Mediador único. (17) Culto a virgem maria Confesso com toda a igreja que Maria é uma pura criatura saída das mãos de Deus. Comparada portanto a majestade infinita ela é menos que um átomo, e antes, um nada, pois que só ele é “aquele que é” ex 3,14. fonte:tratado a verdadeira devoção a santíssima virgem.n 14. O santo nesse livro diz que perto de Maria somos muito pequenos. Por isso ela merece ser honrada por nós. 7. Pois bem, perante tanto esplendor de virtudes, o primeiro dever de quantos reconhecem na Mãe de Cristo o modelo da Igreja é o de, em união com Ela, render graças ao Altíssimo por ter realizado em Maria tão grandes obras em benefício da humanidade inteira. Mas não basta. É igualmente dever de todos os fiéis tributarem à fidelíssima Serva do Senhor um culto de louvor, de reconhecimento e de amor, uma vez que, segundo a sapiente e suave disposição divina, o seu livre consentimento e a sua generosa cooperação nos desígnios de Deus tiveram e continuam a ter uma grande influência na realização da salvação humana (cfr. L.G. 56). Por este motivo, cada cristão pode fazer sua a invocação de S. Anselmo: «Ó gloriosa Senhora, faz com que por ti mereçamos chegar até Jesus, teu Filho, que por teu intermédio se dignou descer até nós».fonte exortação apostólica: signum magnum papa paulo VI. Se fosse proibido cultuar à Santíssima Virgem, como querem os protestantes, o primeiro violador foi o próprio Deus, que mandou saudar à Virgem Maria, pelo arcanjo S. Gabriel: "Ave, cheia de graça!" (Luc 1,28). Existem três tipos de culto na igreja: Culto de Latria ? (grego: "latreuo") quer dizer adorar - É o culto reservado a Deus. A latria é o culto que se deve somente a Deus e consiste em reconhecer nele a Divindade, prestando uma homenagem absoluta e

S. Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria.


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suprema, como criador e redentor dos homens. Ou seja, reconhecer que ele é o Senhor de todas as coisas e criador de todos nós, etc. Culto de Hiperdulia ? (grego: hyper, acima de; douleuo, honra) ou acima do culto de honra, sem atingir o culto de adoração. O culto de hiperdulia é o culto especial devido a Maria Santíssima, como Mãe de Deus. Culto de Dulia - (grego: "douleuo") quer dizer honrar. O culto de dulia é especial aos santos, como sendo amigos de Deus.

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ANOTAÇÕES ____________________________________

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S. Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria.


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CAPÍTULO 2: MARIA, RAINHA DO UNIVERSO 1.

INTRODUÇÃO

P

ara analisar Maria como rainha do Universo iniciemos falando sobre o que é um rei e uma rainha. Segundo o Dicionário Michaellis (2009) rei do (latim é rege) 1 Soberano de um reino. 2 O marido da rainha. Além disso, quando se fala em Universo queremos dizer o que? Segundo o mesmo dicionário acima do latim universu, o Sistema Solar, o cosmo, a Terra e seus habitantes. universo em expansão. Existem alguns trechos bíblicos que falam de Jesus Cristo como o Rei do Universo, outras como o Rei dos Reis. Ap. 17-14 “Combaterão contra o Cordeiro, mas o Cordeiro os vencerá, porque é Senhor dos senhores e Rei dos reis; I Tm. 6,15 “a qual a seu tempo será realizada pelo bemaventurado e único Soberano, Rei dos reis e Senhor dos senhores”; Ap. 19,16 - Ele traz escrito no manto e na coxa: Rei dos reis e Senhor dos senhores!. Existe também um trecho muito importante que fala sobre Maria como a Mãe do Senhor. Em Lc 1-43 Isabel ao ver Maria chegar até sua casa diz: “Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?”. 2. A REALEZA DE MARIA NOS TEXTOS DA TRADIÇÃO Este texto que segue fala da importância da Sagrada Tradição já no início do Século III d.C. "Se os apóstolos nada tivessem deixado escrito, dever-se-ia igualmente seguir a ordem da Tradição por eles confiada aos dirigentes da Igreja. Esse método é seguido por muitos povos bárbaros que crêem em Cristo; sem papel e sem tinta, estes trazem inscrita em seus corações a salvação por obra do Espírito Santo; conservam fielmente a antiga Tradição" (Santo Ireneu, +220, Contra as Heresias, III,4,2). Os textos a seguir da Sagrada Tradição são extraídos da Encíclica Ad Caeli Reginam de Sua Santidade o Papa Pio XII de 11 de outubro do ano de 1954. 8. Com razão acreditou sempre o povo fiel, já nos séculos passados, que a mulher, de quem nasceu o Filho do Altíssimo - o qual "reinará eternamente na casa de Jacó"(5), (será) "Príncipe da Paz"(6) , "Rei dos Reis e Senhor dos senhores"(7)-, recebeu mais que todas as

outras criaturas singulares privilégios de graça. E considerando que há estreita relação entre uma mãe e o seu filho, sem dificuldade reconheceu na Mãe de Deus a dignidade real sobre todas as coisas. 9. Assim, baseando-se nas palavras do arcanjo Gabriel, que predisse o reino eterno do Filho de Maria,(8) e nas de Isabel, que se inclinou diante dela e a saudou como "Mãe do meu Senhor",(9) compreende-se que já os antigos escritores eclesiásticos chamassem a Maria "mãe do Rei" e "Mãe do Senhor", dando claramente a entender que da realeza do Filho derivara para a Mãe certa elevação e preeminência. 10. Santo Efrém, com grande inspiração poética, põe estas palavras na boca de Maria: "Erga-me o firmamento nos seus braços, porque eu estou mais honrada do que ele. O céu não foi tua mãe, e fizeste dele teu trono. Ora, quanto mais se deve honrar e venerar a mãe do Rei, do que o seu trono!"(10) Em outro passo, assim invoca a Maria santíssima: "...Virgem augusta e protetora, rainha e senhora, protege-me à tua sombra, guarda-me, para que Satanás, que semeia ruínas, não me ataque, nem triunfe de mim o iníquo adversário".(11) 11. A Maria chama s. Gregório Nazianzeno "Mãe do Rei de todo o universo", "Mãe virgem, [que] deu à luz o Rei do todo o mundo".(12) Prudêncio diz que a Mãe se maravilha "de ter gerado a Deus não só como homem mas também como sumo rei".(13) 12. E afirmam claramente a dignidade real de Maria aqueles que a chamam "senhora", "dominadora" e "rainha". 13. Já numa homilia atribuída a Orígenes, Maria é chamada por Isabel não só "Mãe do meu Senhor" mas também "Tu, minha Senhora".(14) 14. O mesmo conceito se pode deduzir dum texto de s. Jerônimo, que expõe o próprio parecer acerca das várias interpretações do nome de Maria: "Saiba-se que Maria, na língua siríaca, significa Senhora".(15) Igualmente e com mais decisão, se exprime depois s. Pedro Crisólogo: "O nome hebraico Maria traduz-se por "Domina" em latim: "portanto o anjo chama-lhe Senhora para livrar do temor de escrava a mãe do Dominador, a qual nasce e se chama Senhora pelo poder do Filho".(16)

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15. Santo Epifânio, bispo de Constantinopla, escreve ao papa Hormisdas pedindo a conservação da unidade da Igreja "mediante a graça da Trindade una e santa e por intercessão de nossa Senhora, a santa e gloriosa virgem Maria, Mãe de Deus".(17) 16. Um autor do mesmo tempo dirige-se a Maria santíssima, sentada à direita de Deus, invocando-a solenemente como "Senhora dos mortais, santíssima Mãe de Deus".(18) 17. Santo André Cretense atribui muitas vezes a dignidade real à virgem Maria; escreve, por exemplo: "Leva [Jesus Cristo] neste dia da morada terrestre [para o céu], como rainha do gênero humano, a sua Mãe sempre virgem, em cujo seio, permanecendo Deus, tomou a carne humana".(19) E noutro lugar: "Rainha de todo o gênero humano, porque, fiel à significação do seu nome, se encontra acima de tudo quanto não é Deus".(20) 18. Do mesmo modo se dirige s. Germano à humildade da Virgem: "Senta-te, ó Senhora; sendo tu Rainha e mais eminente que todos os reis, pertence-te estar sentada no lugar mais nobre"(21); e chama-lhe: "Senhora de todos aqueles que habitam a terra".(22) 19. São João Damasceno proclama-a "rainha, protetora e senhora"(23) e também: "senhora de todas as criaturas"(24); e um antigo escritor da Igreja ocidental chama-lhe: "ditosa rainha", "rainha eterna junto do Filho Rei", e diz que ela tem a "nívea cabeça ornada com um diadema de ouro".(25) 20. Finalmente, s. Ildefonso de Toledo resume-lhe quase todos os títulos de honra nesta saudação: "Ó minha senhora, minha dominadora: tu dominas em mim, ó mãe do meu Senhor... Senhora entre as escravas, rainha entre as irmãs".(26) 21. Recolhendo a lição desses e outros inumeráveis testemunhos antigos, chamaram os teólogos a santíssima Virgem, rainha de todas as coisas criadas, rainha do mundo e senhora do universo. 22. Por sua vez, os sumos pastores da Igreja julgavam obrigação sua aprovar e promover a devoção à celeste Mãe e Rainha com exortação e louvores. Pondo de parte os documentos dos papas recentes, recordamos que já no século VII o nosso predecessor s. Martinho I chamou a Maria "gloriosa Senhora nossa, sempre virgem";(27) s. Agatão, na carta sinodal enviada aos padres do sexto concílio ecumênico, chamou-a "Senhora nossa, verdadeiramente e com propriedade Mãe de

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Deus";(28) e no século VIII, Gregório II, em carta ao patriarca s. Germano, que foi lida entre as aclamações dos padres do sétimo concílio ecumênico, proclamava Maria "Senhora de todos e verdadeira Mãe de Deus" e "Senhora de todos os cristãos".(29) 23. Apraz-nos recordar também que o nosso predecessor de imortal memória Sixto IV, querendo favorecer a doutrina da imaculada conceição da santíssima Virgem, começa a carta apostólica Cum praeexcelsa (30) chamando precisamente a Maria "rainha sempre vigilante, a interceder junto ao Rei, que ela gerou". Do mesmo modo Bento XIV, na carta apostólica Gloriosae Dominae (31), chama a Maria "rainha do céu e da terra", afirmando que o sumo Rei lhe contou, em certo modo, o seu próprio império. 24. Por isso, s. Afonso de Ligório, tendo presente todos os testemunhos dos séculos precedentes, pôde escrever com a maior devoção: "Porque a virgem Maria foi elevada até ser Mãe do Rei dos reis, com justa razão a distingue a Igreja com o título de Rainha".(32) 3. OS REFORMADORES PROTESTANTES E MARIA Os sentimentos hostis que em relação a Virgem Maria por parte dos protestantes que presenciamos não refletem o sentimento original do movimento de reforma idealizado por Martin Lutero, João Calvino e outros. Não estamos querendo justificar o protestantismo, mas apenas dizer que os protestantes que sucederam os primeiros foram aos poucos criado teses que os distanciam cada vez mais da Santa Igreja Católica. A virgem Maria é claro não poderia deixar de ser alvo inúmeros ataques, mas nem sempre foi assim, senão vejamos: Os textos a seguir são extraídos do artigo Reformadores protestantes honravam Maria. Escrito por Universo Católico. 26-Jun2002. ''Quem são todas as mulheres, servos, senhores, príncipes, reis, monarcas da Terra comparados com a Virgem Maria que, nascida de descendência real (descendente do rei Davi) é, além disso, Mãe de Deus, a mulher mais sublime da Terra? Ela é, na cristandade inteira, o mais nobre tesouro depois de Cristo, a quem nunca poderemos exaltar bastante (nunca poderemos exaltar o suficiente), a mais nobre imperatriz e rainha, exaltada e bendita acima de toda a nobreza, com sabedoria e santidade.''

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(Martinho Lutero, ''Comentário do Magnificat'', cf. escritora evangélica M. Basilea Schlink, revista ''Jesus vive e é o Senhor''). ''Por justiça teria sido necessário encomendar-lhe [para Maria] um carro de ouro e conduzi-la com quatro mil cavalos, tocando a trombeta diante da carruagem, anunciando: 'Aqui viaja a mulher bendita entre todas as mulheres, a soberana de todo o gênero humano'. Mas tudo isso foi silenciado; a pobre jovenzinha segue a pé, por um caminho tão longo e, apesar disso, é de fato a Mãe de Deus. Por isso não nos deveríamos admirar, se todos os montes tivessem pulado e dançado de alegria.'' (idem, cf. escritora evangélica M. Basilea Schlink, revista ''Pergunte e Responderemos'' nº 429). ''Ser Mãe de Deus é uma prerrogativa tão alta, coisa tão imensa, que supera todo e qualquer intelecto. Daí lhe advém toda a honra e a alegria e isso faz com que ela seja uma única pessoa em todo o mundo, superior a quantas existiam e que não tem igual na excelência de ter com o Pai Celeste um filhinho comum. Nestas palavras, portanto, está contida toda a honra de Maria. Ninguém poderia pregar em seu louvor coisas mais magníficas, mesmo que possuísse tantas línguas quantas são na terra as flores e folhas nos campos, nos céus as estrelas e no mar os grãos de areia.'' (idem, cf. escritora evangélica M. Basilea Schlink, revista ''Jesus vive e é o Senhor'') ''Peçamos a Deus que nos faça compreender bem as palavras do Magnificat... Oxalá Cristo nos conceda esta graça por intercessão de sua Santa Mãe! Amém. (Martinho Lutero, ''Comentário do Magnificat''). ''O Filho de Deus fez-se homem, de modo a ser concebido do Espírito Santo sem o auxílio de varão e a nascer de Maria pura, santa e sempre virgem. (Martinho Lutero, ''Artigos da Doutrina Cristã'') ''Maria é digna de suprema honra na maior medida.'' (''Apologia da Confissão de Fé de Augsburg'', art. IX). ''Um só Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, nascido da Virgem Maria.'' (idem) ''Não podemos reconhecer as bênçãos que nos trouxe Jesus, sem reconhecer ao mesmo tempo quão imensamente Deus honrou e enriqueceu Maria, ao escolhê-la para Mãe de Deus.'' (João Calvino, Comm. Sur l’Harm. Evang.,20)

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''Firmemente creio, segundo as palavras do Evangelho, que Maria, como virgem pura, nos gerou o Filho de Deus e que, tanto no parto quanto após o parto, permaneceu virgem pura e íntegra.'' (Zwinglio, em ''Corpus Reformatorum'') ''Creio que [Jesus] foi feito homem, unindo a natureza humana à divina em uma só pessoa; sendo concebido pela obra singular do Espírito Santo, nascido da abençoada Virgem Maria que, tanto antes como depois de dá-lo à luz, continuou virgem pura e imaculada.'' (John Wesley, fundador da Igreja Metodista, em carta dirigida a um católico em 18.07.1749). (Fonte: Universo Católico, 26-Jun-2002) III OS ARGUMENTOS TEOLÓGICOS (Texto extraído da Encíclica Ad Coeli Reginan acima citada) A maternidade divina de Maria 33. Como acima apontamos, veneráveis irmãos, segundo a tradição e a sagrada liturgia, o principal argumento em que se funda a dignidade régia de Maria é sem dúvida a maternidade divina. Na verdade, do Filho que será dado à luz pela Virgem, afirma-se na Sagrada Escritura: "chamar-se-á Filho do Altíssimo e o Senhor Deus dar-lhe-á o trono de Davi, seu pai; reinará na casa de Jacó eternamente, e o seu reino não terá fim"(40); ao mesmo tempo que Maria é proclamada "a Mãe do Senhor".(41) Daqui se segue logicamente que Maria é rainha, por ter dado a vida a um Filho, que no próprio instante da sua concepção, mesmo como homem, era rei e senhor de todas as coisas, pela união hipostática da natureza humana com o Verbo. Por isso muito bem escreveu s. João Damasceno: "Tornou-se verdadeiramente senhora de toda a criação, no momento em que se tornou Mãe do Criador".(42) E assim o arcanjo Gabriel pode ser chamado o primeiro arauto da dignidade real de Maria. 34. Contudo, nossa Senhora deve proclamar-se Rainha, não só pela sua maternidade divina, mas ainda pela parte singular que Deus queria ter na obra da salvação. "Que pode haver - escrevia nosso predecessor de feliz memória, Pio XI - mais doce e suave do que pensar que Cristo é nosso Rei, não só por direito de natureza, mas ainda por direito adquirido, isto é, pela redenção? Repensem todos os homens, esquecidos do quanto custamos ao nosso Redentor e recordem todos: 'Não fostes remidos com ouro

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ou prata, bens corruptíveis..., mas pelo precioso sangue de Cristo, cordeiro imaculado e incontaminado'.(43) 'Não pertencemos portanto a nós mesmos, pois Cristo 'a alto preço',(44) 'nos comprou'.(45) Sua cooperação na redenção 35. Ora, ao realizar-se a obra da redenção, Maria santíssima foi intimamente associada a Cristo, e por isso justamente se canta na sagrada liturgia: "Santa Maria, rainha do céu e senhora do mundo, estava traspassada de dor, ao pé da cruz de nosso Senhor Jesus Cristo".(46) E um piedosíssimo discípulo de s. Anselmo podia escrever na Idade Média: "Como... Deus, criando todas as coisas pelo seu poder, é Pai e Senhor de tudo, assim Maria, reparando todas as coisas com os seus méritos, é mãe e senhora de tudo: Deus é senhor de todas as coisas, constituindo cada uma delas na sua própria natureza pela voz do seu poder, e Maria é Senhora de todas as coisas, reconstituindo-as na sua dignidade primitiva pela graça, que lhes mereceu".(47) De fato "como Cristo, pelo título particular da redenção, é nosso senhor e nosso rei, assim a bem-aventurada Virgem [é senhora nossa] pelo singular concurso, prestado à nossa redenção, subministrando a sua substância e oferecendo voluntariamente por nós o Filho Jesus, desejando, pedindo e procurando de modo singular a nossa salvação".(48) 36. Dessas premissas se pode argumentar: Se Maria, na obra da salvação espiritual, foi associada por vontade de Deus a Jesus Cristo, princípio de salvação, e o foi quase como Eva foi associada a Adão, princípio de morte, podendo-se afirmar que a nossa redenção se realizou segundo uma certa "recapitulação",(49) pela qual o gênero humano, sujeito à morte por causa duma virgem, salva-se também por meio duma virgem; se, além disso, pode-se dizer igualmente que esta gloriosíssima Senhora foi escolhida para Mãe de Cristo "para lhe ser associada na redenção do gênero humano",(50) e se realmente "foi ela que - isenta de qualquer culpa pessoal ou hereditária, e sempre estreitamente unida a seu Filho - o ofereceu no Gólgota ao eterno Pai, sacrificando juntamente, qual nova Eva, os direitos e o amor de mãe em benefício de toda a posteridade de Adão, manchada pela sua desventurada queda"(51) poder-se-á legitimamente concluir que, assim como Cristo, o novo Adão, deve-se chamar rei não só

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porque é Filho de Deus mas também porque é nosso redentor, assim, segundo certa analogia, pode-se afirmar também que a bem-aventurada virgem Maria é rainha, não só porque é Mãe de Deus mas ainda porque, como nova Eva, foi associada ao novo Adão. Sua sublime dignidade 37. E certo que no sentido pleno, próprio e absoluto, somente Jesus Cristo, Deus e homem, é rei; mas também Maria - de maneira limitada e analógica, como Mãe de CristoDeus e como associada à obra do divino Redentor, à sua luta contra os inimigos e ao triunfo deles obtido participa da dignidade real. De fato, dessa união com Cristo-Rei deriva para ela tão esplendente sublimidade, que supera a excelência de todas as coisas criadas: dessa mesma união com Cristo nasce aquele poder real, pelo qual ela pode dispensar os tesouros do reino do Redentor divino; finalmente, da mesma união com Cristo se origina a inexaurível eficácia da sua intercessão junto do Filho e do Pai. 38. Portanto, não há dúvida alguma que Maria santíssima se avantaja em dignidade a todas as coisas criadas e tem sobre todas o primado, a seguir ao seu Filho. "Tu finalmente, canta s. Sofrônio, superaste em muito todas as criaturas... Que poderá existir mais sublime que tal alegria, ó Virgem Mãe? Que pode existir mais elevado que tal graça, a qual por divina vontade só tu tiveste em sorte?"(52) "A esses louvores acrescenta s. Germano: "A tua honra e dignidade colocam-te acima de toda a criação: a tua sublimidade faz-te superior aos anjos".(53) João Damasceno chega a escrever o seguinte: "É infinita a diferença entre os servos de Deus e a sua Mãe".(54) 39. Para melhor compreendermos a sublime dignidade, que a Mãe de Deus atingiu acima de todas as criaturas, podemos considerar que a santíssima Virgem, desde o primeiro instante da sua conceição, foi enriquecida de tal abundância de graças, que supera a graça de todos os santos. Por isso, como escreveu na carta apostólica Ineffabilis Deus o nosso predecessor, de feliz memória, Pio IX, Deus "fez a maravilha de a enriquecer, acima de todos os anjos e santos, de tal abundância de todas as graças celestiais hauridas dos tesouros da divindade, que ela - imune de toda a mancha do pecado, e toda bela apresenta tal plenitude de inocência e santidade, que não se pode conceber maior abaixo de Deus, nem

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ninguém a pode compreender plenamente senão Deus".(55) Com Cristo, ela reina nas mentes e vontades dos homens 40. Nem a bem-aventurada virgem Maria teve apenas, ao seguir a Cristo, o supremo grau de excelência e perfeição, mas também participou ainda daquela eficácia pela qual justamente se afirma que o seu divino Filho e nosso Redentor reina na mente e na vontade dos homens. Se, de fato, o Verbo de Deus opera milagres e infunde a graça por meio da humanidade que assumiu - e se utiliza dos sacramentos e dos seus santos, como instrumentos, para salvar as almas; por que não há de servir-se do múnus e ação de sua Mãe santíssima para nos distribuir os frutos da redenção? "Com ânimo verdadeiramente materno para conosco - como diz o mesmo predecessor nosso, de feliz memória, Pio IX - e ocupando-se da nossa salvação, ela, que pelo Senhor foi constituída rainha do céu e da terra, toma cuidado de todo o gênero humano, e tendo sido exaltada sobre todos os coros dos anjos e as hierarquias dos santos do céu, e estando à direita do seu unigênito Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor - com as suas súplicas maternas impetra com eficácia, obtém quanto pede, nem pode deixar de ser ouvida".(56) A esse propósito, outro nosso predecessor, de feliz memória, Leão XIII, declarou que foi concedido à bem-aventurada virgem Maria um poder "quase ilimitado"(57) na distribuição das graças; s. Pio X acrescenta que Maria desempenha esta missão "como por direito materno".(58) 4.2

A FESTA DE MARIA RAINHA DO UNIVERSO

44. Dos testemunhos da antiguidade cristã, das orações da liturgia, da inata devoção do povo cristão, das obras artísticas, de toda a parte recolhemos expressões que nos mostram que a virgem Mãe de Deus se distingue pela sua dignidade real; mostramos também que as razões, deduzidas pela sagrada teologia do tesouro da fé divina, confirmam plenamente essa verdade. De tantos testemunhos referidos forma-se uma espécie de concerto harmonioso que exalta a incomparável dignidade real da Mãe de Deus e dos homens, a qual domina todas as coisas criadas e foi elevada aos reinos celestes, acima dos coros dos anjos".(61)

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45. Depois de atentas e ponderadas reflexões, tendo chegado à convicção de que seriam grandes as vantagens para a Igreja, se essa verdade solidamente demonstrada resplandecesse com maior evidência diante de todos como luz que brilha mais, quando posta no candelabro, - com a nossa autoridade apostólica decretamos e instituímos a festa de Maria rainha, para ser celebrada cada ano em todo o mundo no dia 31 de maio. Ordenamos igualmente que no mesmo dia se renove a consagração do gênero humano ao seu coração imaculado. Tudo isso nos incute grande esperança de que há de surgir nova era, iluminada pela paz cristã e pelo triunfo da religião. Exortação à devoção mariana 46. Procurem pois todos, e agora com mais confiança, aproximar-se do trono da misericórdia e da graça, para pedir à nossa Rainha e Mãe socorro na adversidade, luz nas trevas, conforto na dor e no pranto; e, o que é mais, esforcem-se por se libertar da escravidão do pecado, e prestem ao cetro régio de tão poderosa Mãe a homenagem duradoura da devoção dial. Freqüentem as multidões de fiéis os seus templos e celebrem-lhe as festas; ande nas mãos de todos a piedosa coroa do terço; e reúna a recitação dele - nas igrejas, nas casas, nos hospitais e nas prisões - ora pequenos grupos, ora grandes assembléias, para cantarem as glórias de Maria. Honra-se o mais possível o seu nome, mais doce do que o néctar e mais valioso que toda a pedra preciosa; ninguém ouse o que seria prova de alma vil - pronunciar ímpias blasfêmias contra este nome santíssimo, ornado de tanta majestade e venerável pelo carinho próprio de mãe; nem se atreva ninguém a dizer nada que seja irreverente. 47. Com vivo e diligente cuidado todos se esforcem por copiar nos sentimentos e nos atos, segundo a própria condição, as altas virtudes da Rainha do céu e nossa Mãe amantíssima. Donde resultará que os féis, venerando e imitando tão grande Rainha e Mãe, virão se sentir verdadeiros irmãos entre si, desprezarão a inveja e a cobiça das riquezas, e hão de promover a caridade social, respeitar os direitos dos fracos e fomentar a paz. Nem presuma alguém ser filho de Maria, digno de se acolher à sua poderosíssima proteção, se à exemplo dela não é justo, manso e casto, e não mostra verdadeira fraternidade,

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evitando ferir e prejudicar, e procurando socorrer e dar ânimo.

Deus onipotente e testemunho do nosso paternal afeto.

A Igreja do silêncio 48. Em algumas regiões da terra, não falta quem seja injustamente perseguido por causa do nome cristão e se veja privado dos direitos divinos e humanos da liberdade. Para afastar tais males, nada conseguiram até hoje justificados pedidos e reiterados protestos. A esses filhos inocentes e atormentados volva os seus olhos de misericórdia, cuja luz dissipa nuvens e serena tempestades, a poderosa Senhora dos acontecimentos e dos tempos, que sabe vencer a maldade com o seu pé virginal. Conceda-lhes poderem em breve gozar a devida liberdade e cumprir publicamente os deveres religiosos. E, servindo a causa do Evangelho - com o seu esforço concorde e egrégias virtudes, de que no meio de tantas dificuldades dão exemplo - concorram para o fortalecimento e progresso das sociedades terrestres.

Notas

Maria, Rainha e Medianeira da paz 49. A festa - instituída pela presente carta encíclica, a fim de que todos reconheçam mais claramente e melhor honrem o clemente e materno império da Mãe de Deus pensamos que poderá contribuir para que se conserve, consolide e torne perene a paz dos povos, ameaçada quase todos os dias por acontecimentos que enchem de ansiedade. Não é ela acaso o arco-íris que se eleva para Deus, como sinal de pacífica aliança?(62) "Contempla o arco-íris e bendize aquele que o fez; é muito belo no seu esplendor; abraça o céu na sua órbita radiosa, e foram as mãos do Altíssimo que o traçaram".(63) Todo aquele que honra a Senhora dos anjos e dos homens e ninguém se julgue isento deste tributo de reconhecimento e amor - invoque esta rainha, medianeira da paz; respeite e defenda a paz, que não é maldade impune nem liberdade desenfreada, mas concórdia bem ordenada sob o signo e comando da divina vontade: tendem a protegê-la e aumentá-la as maternas exortações e ordens de Maria. 50. Desejando ardentemente que a Rainha e Mãe do povo cristão acolha estes nossos votos, alegre com a sua paz as terras sacudidas pelo ódio, e a todos nós, depois deste exílio, mostre a Jesus, que será na eternidade a nossa paz e alegria; a vós, veneráveis irmãos, e aos vossos rebanhos, concedemos de todo o coração a bênção apostólica, como penhor do auxílio de

(6) Is 9,6; (7) Ap 19,16.; (8) Cf. Lc 1,32-33.; (9) Lc 1,43.; (10) S. Ephraem. Hymni de B. Maria, ed. Th. J. Lamy, t. II, Mechiniae,1886 ymn. XIX p. 624.; (11) Idem, Oratio and Ss.mam Dei Matrem; Opera omnia, Ed. Assemani, t. III (graece), Romae,1747, p. 546.; (12) S. Gregorio Naz., Poemata dogmatica, XVIII, v. 58: P G. XXXVII, 485.; (13) Prudêncio, Dittochoeum, XVII; PL 60,102A.; (14) Hom. ins. Lucam, hom. VII; ed. Rauer, Origenes Werke, t. IX, p. 48 (ex catem Macarii Chrysocephali). Cf. PG 13,1902 D.; (15) S. Jeronimo, Liber de nominibus hebraeis: PL 23, 886.; (16) S. Pedro Chrisólogo, Sermo 142, De Annuntiatlone B.M.V.: PL 52, 579 C; cf. também 582B; 584A: "Regina totius exstitit castitatis".; (17) Relatio Epiphanii Ep. Constantin.: PL 63, 498D.; (18) Encomium in Dormitionem Ss.mae Deiparae (inter opera s. Modesti): PG 86, 3306B.; (19) s. Andreas Cretensis, Homilia II in Dormitionem Ss.mae Deiparae: PG 97, 1079B.; (20) Id., Homilla III in Dormitionem Ss.mae Deiparae: I PG 98, 303A.; (21) S. Germano, In Praesentationem Ss.mae Deiparae, I: PG 98 303A.; (22) Id., In Praesentationem Ss.mae Deiparae, II: PG 98, 315C.; (23) S. João Damasceno, Homilia I in Dormitionem B.M.V: PG 96, 719A.; (24) Id., De fide orthodoxa, I, IV, c.14: PG 44,1158B.; (25) De laudibus Mariae (inter opera Venantii Fortunati): PL 88 282B e 283A. ; (26) Ildefonso Toledano, De virginitate perpetua B.M.V.: PL 96, 58AD.; (27) S. Martinho I, Epist. XIV PL 87,199-200A.; (28) S. Agatão: PL 87,1221A.; (29) Hardouin, Acta Conciliorum, IV, 234 e 238: PL LXXXIX89 508B.; (30) Xisto IV, Bulla Cum praeexcelsa, de 28 de Fevereiro de 1476.; (31) Bento XIV, Bulla Gloriosae Dominae, de 27 de setembro de 1748.; (32) S. Afonso, Le glorie di Maria, p. I, c. I, § 1.; (40) Lc 1, 32, 33.; (41) Ibid.1,43.; (42) S. João Damas., De fide orthodoxa, 1. IV, c.14, PG 94,1158s.B.; (43) 1Pd 1,18,19.; (44) 1Cor 6,20.; (45) Pio XI, Carta enc. Quas primas: AAS 17(1925), p.599.; (46) Festa aeptem dolorum B. Mariae Virg., Tractus.; (47) Eadmero, De excellentia Virginis Mariae, c. 11: PL 159, 308AB.; (48) E Suárez, De mysteriis vitae Christi, disp. XXII, sect. II (ed. Vivès. XIX, 327).; (49) S. Ireneu, Adv. haer., V,19,1: PG 9,1175B.; (50) Pio XI, Epist. Auspicatus profecto: AAS 25(1933), p. 80.; (51). Pio XII, Carta enc. Mystici Corporis: AAS 35(1943), p. 247.; (52) S. Sofrônio, In Annuntiationem Beatae Mariae Virg.: PG 87, 3238D e 3242A.; (53) S. Germano, Hom. II in Dormitionem Beatae Mariae Virginis: PG 98, 354B.; (54) S. João Damas. Hom. I. in Dormitionem Beatae Mariae Virginis: PG 96, 715A.; (55) Pio IX, Bula Ineffabilis Deus: Acta Pii IX, I, p. 597-598.; (56) Ibid., p. 618.; (57) Leão XIII, Carta enc. Adiutricem populi: AAS 28(1895-96), p.130. ; (58) Pio X, Carta enc. Ad diem illum: AAS 36(19031904), p. 455.; (59) S. Tomás, Summa Theol., I, q. 25, a. 6, ad 4.; (60) Pio XII, Carta enc. Humani generis: AAS, 42(1950), p. 569.; (61) Do Brev. Rom.: Festa da Assunção de Maria virgem; (62)Cf. Gn 9,13.; (63) Eccl. 43,12-13.

ANOTAÇÕES ________________________________________________ _______________________________________________

S. Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria.


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CAPÍTULO 3: A PERENE VIRGINDADE DE MARIA 1. INTRODUÇÃO

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egundo Pedroso o Santo Padre Paulo VI instituiu o dia 1º de janeiro de cada ano como a Solenidade de Maria, Santa Mãe de Deus, para que todos tivéssemos a oportunidade de meditar em nosso coração as grandezas de tão sublime mistério: Deus escolheu uma virgem, filha de Sião, colega nossa na humanidade, para que fosse a Mãe do próprio Deus humanado, e para que, através dela, viesse a salvação e a graça ao mundo inteiro. (2005). Sobre o dogma da virgindade perpétua de Maria o Catecismo da Igreja Católica diz que: 496 – Desde as primeiras formulações da fé (DS 10-64), a Igreja confessou que Jesus foi concebido exclusivamente pelo poder do Espírito Santo no seio da Virgem Maria, afirmando também o aspecto corporal deste evento: Jesus foi concebido “do Espírito Santo, sem sêmen” (Conc. de Latrão, DS 503). Os padres vêem na conceição virginal o sinal (Is 7,14) de que foi verdadeiramente o Filho de Deus que veio numa humanidade como a nossa: Sto. Inácio de Antioquia (†107): “Estais firmemente convencidos acerca de Nosso Senhor, que é verdadeiramente da raça de Davi segundo a carne (Rm 1,3), Filho de Deus segundo a vontade e o poder de Deus (Jo 1, 3), verdadeiramente nascido de uma virgem... ele foi verdadeiramente pregado, na sua carne, [à cruz] por nossa salvação sob Pôncio Pilatos... ele sofreu verdadeiramente, como também ressuscitou verdadeiramente (Carta aos erminenses I-II)”. §499 – O aprofundamento de sua fé na maternidade virginal levou a Igreja a confessar a virgindade real e perpétua de Maria (DS 427), mesmo no parto do Filho de Deus feito homem (DS 291;294; 442; 503;571; 1880). Com efeito, o nascimento de Cristo “não lhe diminuiu, mas sagrou a integridade virginal” de sua mãe (LG 57). A Liturgia da Igreja celebra Maria como a “Aeiparthenos” “sempre virgem” (LG 52). Para estudarmos a virgindade de Jesus precisamos em primeiro lugar falar da sua importância na economia da Salvação. Desde o Concílio de Efeso no ano 431 a Igreja já define como dogma de fé a natureza divina e humana de Jesus. Não que Maria deu a divindade a

Jesus, mas sim porque não se pode dividir Jesus. “Todo espírito que divide Jesus não é de Deus, mas é um anticristo” (1Jo 4,3). Jesus Cristo, o Filho de Maria, é Deus e homem verdadeiro. Embora seja Deus e homem, não são dois, mas um só Cristo. Desta forma, Maria a verdadeira Mãe de Jesus, ela pode e deve com toda a justiça ser chamada 'Mãe de Deus', porque não se pode separar a natureza humana da natureza divina na pessoa do Cristo. A maternidade divina de Maria será estudada oportunamente. A profecia de Isaías diz que: “Uma virgem conceberá e dará à luz um Filho e o seu nome será Emanuel” (Is 7,14). O que haverá de mais admirável do que uma virgem conceber sem o sêmen do varão? Como esclareceu o anjo a José: “o que nela foi concebido é obra do Espírito Santo” (Mt 1,20). O Senhor Jesus, por seu nascimento virginal, é comparado à “pedra que se desprendeu dum monte sem intervirem mãos humanas” (Dan 2,34), referida na profecia de Daniel, a qual “tornou-se um grande monte que encheu toda a terra” (Dan 2,35). O fato de Jesus ter sido concebido por uma Virgem ilustra bem o Mistério da Encarnação, que está no centro da nossa Fé cristã: 'o Verbo se fez carne, e habitou entre nós' (Jo 1,14). Efetivamente, Jesus Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem, sem confusão de naturezas, nem divisão da Pessoa. Ao fazer-se homem, nada perdeu da divindade e, sendo Deus, assumiu em sua integridade a natureza humana. Para mostrar que era um homem, quis nascer de uma mulher; mas para assinalar que era Deus, quis nascer de uma virgem. (Pedroso, 2005). Quando Maria gerou o filho de Deus ela era virgem. Isso foi profetizado por Isaías e ela mesma diz quando foi saudada pelo anjo Gabriel. Que Jesus é o novo Adão as cartas paulinas dizem muitas vezes. Ao contrário do primeiro Adão que foi desobediente e ainda induzido por Eva a pecar. O novo Adão foi não induzido, mas incentivado pela nova Eva, que assim como a primeira também era virgem. S. Ireneu, “obedecendo, se fez causa de salvação, tanto para si quanto para todo o gênero humano” (Adv. haer. 3, 22,4). “O nó da desobediência de Eva foi desfeito pela obediência de Maria; o que a virgem Eva ligou pela incredulidade, a virgem Maria

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desligou pela fé” (idem). Comparando Maria com Eva chamam-na de “mãe dos viventes”; e com frequência afirmam: “veio a morte por Eva e a vida por Maria” (LG 56). Maria é virgem em dois sentidos diferentes que se complementam. É virgem no sentido carnal porque concebeu o seu filho sem ter contando com qualquer varão e depois da concepção permaneceu virgem como se verá a seguir e também é virgem no sentido espiritual, pois era virgem do pecado. Neste sentido 2005 Pedroso diz que “Mais valiosa ainda que a virgindade carnal de Maria, foi sua virgindade espiritual: Maria era virgem do pecado. Redimida de modo mais sublime, em vista dos méritos de seu Divino Filho, foi ela por Deus preservada do pecado original e cumulada da graça do Espírito Santo desde o momento de sua concepção. ‘Ave, cheia de graça’ (Lc 1,28), assim lhe saudou o Arcanjo Gabriel. Maria soube ser fiel a esta graça durante toda a sua vida, identificando inteiramente sua própria vontade com a vontade de Deus. Por isto, é ela a ‘Serva’ por excelência: ‘Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra’ (Lc 1,38). Dessa virgindade espiritual de Maria é que decorre a sua virgindade carnal: preservada do pecado original por graça de Deus onipotente, estava isenta da pena do pecado ‘darás à luz entre dores’ (Gen 3,16). Maria deu à luz Jesus, o Filho de Deus, sem sofrer dor de espécie alguma, pois o nascimento de Cristo não lhe feriu, mas sagrou a sua integridade virginal. Porém, toda a dor que Maria não sofreu no parto, sofreu aos pés da Cruz, suportando no coração tudo o que seu Filho suportava na carne: ‘Ó vós todos que passais pelo caminho, atendei e vede se há dor semelhante à minha dor’ (Lam 1,12). Como profetizou Simeão: ‘uma espada trespassará a tua alma’ (Lc 2,35). Os nossos irmãos protestantes, supondo que agradam ao Filho desonrando sua Mãe, afirmam que Maria deixou de ser Virgem depois do parto do Senhor e, citando os irmãos de Jesus referidos no Novo Testamento, deduzem que ela teria tido relações sexuais com José. Isso é uma blasfêmia que não tem tamanho. O corpo da Virgem Maria era um verdadeiro sacrário, um templo que por nove meses foi habitado pelo próprio Deus que fez o céu e a terra. Seria um imenso sacrilégio que esse templo fosse possuído sexualmente por homem, por mais justo e santo que ele fosse. (Pedroso, 2005).

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2. JESUS É O PRIMOGÊNITO UNIGÊNITO FILHO DE MARIA

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OU

A seguir segue um texto de S. Jerônimo refutando as acusações de Helvídio, seu contemporâneo. Este semeou o joio contra Deus dizendo que a Virgem Maria teve muitos filhos: A palavra empregada é 'prometida' e não 'confiada', como vocês dizem; é óbvio que a única razão para estar prometida é porque deveria se casar um dia. E o Evangelista não iria dizer 'antes de coabitarem' se eles não viessem a coabitar no futuro, já que ninguém usaria a frase 'antes de jantar' se certa pessoa não fosse jantar. Também o anjo a chama 'tua esposa' e se refere a ela como unida a José. A seguir, somos chamados a ouvir a declaração da Escritura: 'E José despertou do seu sono e fez como o anjo do Senhor lhe havia ordenado, tomando-a para si como esposa; e não a conheceu até que deu à luz a seu filho'. "o Evangelista jamais usaria tais palavras se eles não viessem a se juntar futuramente, já que não se usa a frase 'antes de jantar' se certa pessoa não for jantar", sinceramente não sei se devo lamentar ou rir. Deveria acusá-lo de ignorância ou de imprudência? Como se isto, supondo que uma pessoa dissesse: "Antes de jantar no porto, naveguei para a África", significasse que tais palavras obrigatoriamente demonstrassem que essa pessoa alguma vez já jantou no porto. Se eu preferisse dizer: "o apóstolo Paulo, antes de ir para a Espanha, foi preso em Roma", ou (como também acho provável) "Helvídio, antes de se arrepender, morreu"; acaso teria Paulo obrigatoriamente estado na Espanha [após a prisão], ou Helvídio se arrependeria após a morte, ainda que a Escritura diga: "No Sheol quem vos dará graças?" Não podemos entender a preposição "antes" - ainda que muitas vezes signifique ordem no tempo - como também ordem de pensamento? Portanto, não há necessidade que nossos pensamentos se concretizem, se alguma causa suficiente vier a evitá-los (sua concretização). Logo, quando o Evangelista diz "antes que coabitassem", indica apenas o tempo imediatamente precedente ao casamento, e mostra que estava em estado bem adiantado, pois ela já estava prometida, a ponto de estar próximo o momento de se tornar esposa. Conforme diz [o Evangelista], antes de se beijarem e se abraçarem, antes da consumação

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do casamento, ela se encontrou grávida. E ela foi determinada para pertencer a ninguém mais a não ser José, que guardou com zêlo o ventre cada vez maior de sua prometida, com olhar inquieto mas que, a esta altura, quase que com o privilégio de um marido. Ainda que possa parecer - conforme o exemplo citado - que ele teve relações sexuais com Maria após o seu parto, o seu desejo poderia ter desaparecido pelo fato dela já ter concebido anteriormente. E, embora encontremos que foi dito a José em um sonho: "Não temas em receber Maria por tua esposa" e, de novo: "José despertou do seu sono e fez conforme o anjo lhe ordenara, tomando-a por sua esposa", não devemos nos preocupar com isto, pois ainda que seja chamada "esposa", ela somente deixou de ser prometida, pois sabemos que é usual na Escritura dar esse título para aqueles que são noivos. 6. Nossa resposta é brevemente esta: as palavras "conhecer" e "até que", na linguagem da Sagrada Escritura, possuem duplo significado. Do primeiro [quanto a "conhecer"], ele mesmo [Helvídio] nos ofereceu uma dissertação para mostrar que pode se referir a relação sexual, como também ninguém duvida que pode ser usada para significar percepção (entendimento, saber), como, por exemplo: "o menino Jesus permaneceu em Jerusalém e seus pais não tinham conhecimento disso". Já que provamos que ele seguiu o uso da Escritura neste caso, com relação à expressão "até que" será completamente refutado pela autoridade da mesma Escritura, pois várias vezes significa um certo tempo sem limitação, como quando Deus diz a certas pessoas pela boca do profeta: "Até à vossa velhice Eu sou o mesmo"; acaso Ele deixará de ser Deus após essas pessoas envelhecerem? E, no Evangelho, o Salvador diz aos Apóstolos: "Estarei convosco até a consumação do mundo"; será que quando chegar o fim dos tempos o Senhor abandonará Seus discípulos e estes, quando estiverem sentados sobre os doze tronos para julgar as doze tribos de Israel, estarão privados da companhia de seu Senhor? Também Paulo, ao escrever aos Coríntios, declara: "[Cada um, porém, na sua ordem:] Cristo, as primícias; depois os que são de Cristo, na sua vinda. Então virá o fim quando ele entregar o reino a Deus o Pai, quando houver destruído todo domínio e toda autoridade e todo poder. Pois é necessário que Ele reine até que haja posto todos os inimigos

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debaixo de seus pés". Certos de que a passagem relata a natureza humana de Nosso Senhor, não temos como negar que as palavras são Daquele que sofreu [morte] na cruz e que mais tarde se sentou à direita [de Deus]. O que Ele quer demonstrar ao dizer que "é necessário que Ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo de seus pés"? O Senhor reinará apenas até colocar todos os seus inimigos sob os seus pés e, depois disso, deixará de reinar? É óbvio que seu reino estará começando quando seus inimigos estiverem sob os seus pés. 12. Nossa posição é esta: todo filho único é primogênito mas nem todo primogênito é filho único. Por primogênito entendemos não apenas aquele que pode ser sucedido por outros, mas aquele que não teve predecessor. Assim diz o Senhor a Abraão: "Todo aquele que abrir o útero, de toda a carne, será oferecido ao Senhor; tanto de homens como de animais, será teu. Contudo, os primogênitos dos homens deverão ser resgatados; também os primogênitos dos animais impuros resgatarás". A palavra de Deus define "primogênito" como todo aquele que abriu o útero. Ora, se o título pertence apenas àqueles que têm irmãos mais jovens, então os sacerdotes não poderiam reivindicar o primogênito até que outros sucessores nascessem, pois, caso contrário, isto é, se não houvesse outros partos, seria necessário provar o estado de primogênito e não simplesmente o de filho único. "E aqueles que devem ser resgatados com um mês de idade, devem ser resgatados , de acordo com tua estimativa por cinco siclos [de moedas], além do siclo do santuário. Mas o primogênito de um boi ou de uma ovelha ou de uma cabra, não deverás resgatar; eles são sagrados". A palavra de Deus me compele a dedicar a Deus o que quer que abra o útero se for o primogênito de animais puros; se de animais impuros, devo resgatá-lo, dando o valor devido ao sacerdote. Poderia replicar: Por que me sujeitais ao curto espaço de um mês? Por que falais do primogênito, quando não posso dizer que há irmãos que irão nascer? Esperai até que nasça o segundo filho. Não explico nada ao sacerdote, como se apenas o nascimento do segundo desse ao primeiro que tive a condição de primogênito. Não deveria, ao pé da letra, chamar-me e convencer-me de louco, se em vez de declarar que primogênito é um título devido àquele que rompe o útero, pretendesse

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restringir essa condição àqueles que após terão irmãos? Então, tomando o caso de João: estamos de acordo que ele foi filho único; eu precisaria saber se ele não foi também filho primogênito, e se não foi absolutamente sujeito à lei. Não há dúvidas quanto a isso. À toda hora a Escritura assim fala do Salvador: "E quando chegou o dia de sua purificação, de acordo com a lei de Moisés, eles o levaram a Jerusalém para apresentá-lo ao Senhor [como está prescrito na lei do Senhor, todo macho que abre o útero deve ser consagrado ao Senhor] e para oferecer em sacrifício de acordo com o que é prescrito na lei do Senhor, um par de rolinhas ou duas pombas novas". Se esta lei se refere somente aos primogênitos, e esses deveriam ser os primogênitos com irmãos sucessores, ninguém seria obrigado pela lei se não pudesse afirmar que houve sucessores. Mas visto que, como aquele que não tem irmãos mais novos, é sujeito à lei do primogênito, deduzimos que é chamado primogênito aquele que abre o útero da mãe e que não foi precedido por ninguém, e não aquele cujo nascimento foi seguido por outro de irmão mais novo. Moisés escreve no Êxodo: "E acontecerá ao passar da meia-noite que o Senhor ferirá todos os primogênitos das terras do Egito, desde o primogênito do Faraó que reina em seu trono até os primogênitos dos cativos que estiverem nas prisões; e todos os primogênitos do acampamento". Diga-me: eram os que pereceram pelas mãos do Exterminador somente seus primogênitos, ou alguém mais, ou seja, os filhos únicos? Se somente aqueles que tinham irmãos eram chamados primogênitos, somente os filhos únicos escaparam da morte. E se, de fato, os filhos únicos foram trucidados, isso se opõe à sentença pronunciada, porque nascidos para morrer eram somente os primogênitos. Você deverá ou livrar os filhos únicos da pena, e nesse caso, se tornará ridículo; ou, se concorda que eles foram mortos, ganhamos a questão, embora não tenhamos de lhe agradecer isso, porque os filhos únicos eram também primogênitos. 3.

IRMÃOS DE JESUS CITADOS NOS EVANGELHOS

Para fazermos um estudo sobre a virgindade de Nossa Senhora é preciso em primeiro lugar analisarmos as acusações de que Jesus teria irmãos filhos de José e Maria.

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Nos Evangelhos vemos algumas pessoas sendo chamadas de irmãos e irmãs de Jesus. Vamos analisar a seguinte passagem bíblica do Evangelho de S. Mateus: 'O nascimento de Jesus Cristo foi assim: quando sua mãe Maria estava prometida a José, antes de coabitarem, encontrou-se grávida pelo Espírito Santo. E José, seu marido, sendo um homem justo e não desejando denunciá-la publicamente, pensou em repudiá-la em segredo. Mas enquanto pensava essas coisas, um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho e disse: 'José, filho de Davi, não temas em tomar para ti Maria como tua esposa, pois o que nela foi gerado provém do Espirito Santo'. (Cf 1:18-23). Quanto às pessoas mencionadas na Sagra Escritura como sendo irmãos do Senhor na verdade não o são. A seguir Pedroso dá as explicações sobre os supostos filhos de Maria o que são na verdade: “Eram filhos de Maria, mulher de Cléofas. Seus nomes podem ser identificados nos Evangelhos: ‘Não é este o carpinteiro, filho de Maria, irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão’ (Mc 6,3); ‘Não se chama a sua mãe Maria e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas’ (Mt 13,55). Porém, não se diz aqui que Tiago e José fossem filhos da Mãe de Jesus. O que sempre se entendeu é que Tiago, José e os demais fossem filhos de Maria de Cléofas e primos de Jesus”. São João conta que eram três Marias ao pé da Santa Cruz: ‘Estavam de pé junto à cruz de Jesus sua Mãe, a irmã de sua Mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena’ (Jo 19,25). Por sua vez, São Mateus diz que, entre as mulheres que se achavam ao pé da Cruz, ‘estava Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu’ (Mt 27,56). São Marcos diz que ‘estava Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago menor e de José, e Salomé’ (Mc 15,40). Salomé era a mãe dos filhos de Zebedeu: João e Tiago maior. A outra Maria, mãe de Tiago menor e de José, seria a mulher de Cléofas, que também se chamava Maria, mencionada por João em seu Evangelho. Dos irmãos de Jesus, dois se tornaram Apóstolos: Tiago e Judas Tadeu. Havia dois Apóstolos com o nome de Tiago: Tiago maior, o irmão de João, ambos filhos de Zebedeu, e Tiago menor, o irmão do Senhor, filho de Alfeu. Que Tiago, irmão do Senhor, seja o Apóstolo Tiago, filho de Alfeu, se deduz da Epístola aos Gálatas, em que Paulo escreve que ‘dos outros Apóstolos não vi nenhum,

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senão Tiago, irmão do Senhor’ (Gál 1,19). Alfeu e Cléofas designam a mesma pessoa, pois ambas são formas gregas do nome aramaico Claphai. Que o Apóstolo Judas Tadeu seja irmão de Tiago se conclui de Atos 1,13, em que, na relação dos Apóstolos, se faz menção a ‘Judas, irmão de Tiago’. Tiago e Judas, irmãos do Senhor, são autores de duas das Epístolas do Novo Testamento. É preciso entender que as Sagradas Escrituras chamam de irmãos não somente os filhos de um mesmo pai, ou de uma mesma mãe, mas quaisquer parentes próximos. Os povos antigos tinham uma noção de família patriarcal, bastante diversa, em certos aspectos, da nossa moderna noção de família nuclear (pai, mãe, filhos). Na grande família patriarcal, todos os que se encontravam ligados por laços de parentesco eram considerados membros de uma mesma família e, portanto, podiam chamar-se de irmãos. Lot, por exemplo, não era senão o sobrinho de Abraão (cf. Gen 12,5), mas a Escritura o chama de irmão, nesta passagem: ‘E Abrão, tendo ouvido que Lot, seu irmão, ficara prisioneiro...’ (Gen 14,14). Jacó era sobrinho de Labão (Gên 28,2), mas este lhe chama de irmão em Gên 29,15: ‘Acaso, porque és meu irmão, me servirás de graça?’ Jacó, também, quando encontrou a bela Raquel, filha de Labão, ‘declarou que era irmão de seu pai’ (Gên 29,12), quando era de fato seu sobrinho. No Levítico, depois que Nadab e Abiu, filhos de Aarão, foram mortos por castigo, Moisés chamando os primos dos que faleceram, Misael e Elisafan, filhos de Oziel, tio de Aarão, disse-lhes: ‘Ide, tirai vossos irmãos de diante do santuário’ (Lev 10,4). Jesus Cristo é o único Filho carnal de Maria. Todavia, a maternidade espiritual da Virgem se estende a todos os que, renascendo ‘da água e do Espírito Santo’ (Jo 3,5), configuram-se a seu Filho pelo Batismo. Assim como Jesus Cristo é o Novo Adão (1Cor 15,45), a Virgem Maria é a Nova Eva, Mãe de todos os que vivem para Deus em Jesus Cristo. O nome ‘Eva’ significa ‘mãe de todos os viventes’ (Gen 3,20). Por ter dado crédito à serpente, Eva acarretou maldição e morte ao gênero humano; Maria acreditou nas palavras do Anjo (cf. Lc 1,45), e obteve que aos homens viesse bênção e vida. Por culpa de Eva nascemos filhos da ira (cf. Ef 2,3); por Maria recebemos Jesus Cristo que nos regenera como filhos da graça (cf. Gál 4,4-7).

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Foi o próprio Jesus Cristo que, do alto da cruz, enquanto oferecia sua vida e seus sofrimentos para a salvação da humanidade, deixou-nos Maria por Mãe, na pessoa de seu discípulo amado, o Apóstolo João: ‘Mulher, eis aí o teu filho’ (Jo 19,26). E a exemplo de João, devemos também nós levá-la para nossa casa (cf. Jo 19,27), isto é, para o nosso coração. 4. OUTROS TEXTOS DA SAGRADA TRADIÇÃO SOBRE O TEMA: “O príncipe deste mundo ignorou a virgindade de Maria e o seu parto, da mesma forma que a Morte do Senhor: três mistérios proeminentes que se realizaram no silêncio de Deus” (S. Inácio de Antioquia, Ad Eph. 19,1). Santo Agostinho: “Maria permaneceu Virgem concebendo seu Filho, Virgem ao dá-lo à luz, Virgem ao carregá-lo, Virgem ao amamentá-lo de seu seio, Virgem sempre” ( Serm.,186,1: PL 38, 999). Referências: PEDROSO, Rodrigo Rodrigues. Apostolado Veritatis Splendor: A PERENE VIRGINDADE DE MARIA . Disponível em http://www.veritatis.com.br/article/3195. Desde 22/08/2005. NABETO, Martins Nabeto & VIDAL, José Fernandes. A VIRGINDADE PERPÉTUA DE MARIA – Traduzindo a obra de São Jerônimo.

ANOTAÇÕES ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________ ________________________________________________

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CAPÍTULO 4: MARIA MÃE DE DEUS 1. INTRODUÇÃO

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s dogmas não são grades que impedem o caminhar dos teólogos, ao contrário, são luzes no caminho de nossa fé que o iluminam e tornam seguro. Eles são para o povo de Deus como os trilhos são para um trem; são vínculos que dão ao veículo segurança e possibilidade de ir muito longe. O que seria do trem se saísse dos trilhos?. Não mais do que 14 vezes um Papa proclamou um dogma de fé; isto em 21 séculos de vida da Igreja. Mas há muitas outras verdades da fé, que não foram definidas explicitamente como dogmas por um Papa, mas que são também dogmáticas. Todos os doze Artigos do Credo são dogmas de fé; ele é o “Símbolo dos Apóstolos” e resume as verdades básicas da fé cristã que há 2000 anos a Igreja ensina. O Dogma é uma verdade Revelada por Deus, e proposta pela Igreja à nossa fé e à nossa conduta. E como algo revelado por Deus, e compreendido pela Igreja, é imutável. Podemos aperfeiçoar o entendimento da verdade revelada, mas nunca destruí-la ou negá-la. O Dogma pode estar contido na Bíblia ou na Tradição apostólica que não foi escrita, mas que tem para a Igreja o mesmo valor de Revelação da Bíblia; por exemplo, o Credo como é rezado não está na Bíblia, mas veio da Tradição.1 2. MARIA, PREDESTINADA A SER MÃE DO VERBO ENCARNADO A seguir, segue alguns documentos da Igreja que atestam a maternidade divina de Maria: “Quis o Pai das misericórdias que a Encarnação fosse precedida pela aceitação daquela que era predestinada a ser Mãe de seu Filho, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, uma mulher também contribuísse para a vida” (LG 56, 61). §488 – “Deus enviou Seu Filho” (Gl 4,4), mas para “formar-lhe um corpo” (Hb 10,5), quis a livre cooperação de uma criatura. Por 1 Prof. Felipe Aquino Igreja

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isso, desde toda a eternidade, Deus escolheu, para ser a Mãe de Seu Filho, uma filha de Israel, uma jovem judia de Nazaré na Galiléia, “uma virgem desposada com um varão chamado José, da casa de Davi, e o nome da virgem era Maria” (Lc 1,26-27): §495 – Denominada nos Evangelhos “a Mãe de Jesus” (Jo 2,1; 19,25; Mt 13, 55), Maria é aclamada, sob o impulso do Espírito, desde antes do nascimento de seu Filho, como “a Mãe de meu Senhor” (Lc 1,43). Com efeito, Aquele que ela concebeu do Espírito Santo como homem e que se tornou verdadeiramente seu Filho segundo a carne não é outro que o Filho eterno do Pai, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. A Igreja confessa que Maria é verdadeiramente Mãe de Deus. (CIC) (Theotókos, DS 251). 3. A SAGRADA TRADIÇÃO E A MATERNIDADE DIVINA DE MARIA Anônimo (séc. II) "Sob a vossa proteção procuramos refúgio, santa Mãe de Deus: não desprezeis as nossas súplicas, pois estamos sendo provados, mas livrai-nos de todo o perigo, ó Virgem gloriosa e bendita" (Oração Egípcia). Alexandre de Alexandria (falecimento 325) "[Jesus] não teve apenas a aparência, mas tinha carne de verdade recebida de Maria, Mãe de Deus" (Epístola a Alexandre de Constantinopla 12). Atanásio de Alexandria (falecimento 373) "A Sagrada Escritura, como tantas vezes fizemos notar, tem por finalidade e característica afirmar de Cristo Salvador estas duas coisas: que Ele é Deus e nunca deixou de o ser, visto que é a Palavra do Pai, seu esplendor e sabedoria; e também que nestes últimos tempos, por causa de nós, se fez homem, assumindo um corpo da Virgem Maria, Mãe de Deus" (Da Trindade). "Houve muitos que já nasceram santos e livres do pecado: Jeremias foi santificado desde o seio materno; também João, antes de ser dado à luz, exultou de alegria ao ouvir a voz de Maria, Mãe de Deus" (Da Trindade).

S. Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria.


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Ambrósio de Milão (falecimento 397) "Dissemos que José era um varão justo, dandonos o evangelista a entender que ele não se atreveria a profanar o templo do Espírito Santo: o ventre do mistério, o corpo da Mãe de Deus" (Comentário sobre o Evangelho de Lucas). "Que há de mais excelente do que a Mãe de Deus?" (De Virginibus 2,2,7). João Crisóstomo (falecimento 403) "Ó Filho único e Verbo de Deus: sendo imortal, vos dignaste, pela nossa salvação, encarnar-vos da Santa Mãe de Deus e sempre virgem Maria, vós que sem mudança vos tornaste homem e foste crucificado, ó Cristo Deus, que pela vossa morte esmagaste a morte; sois Um na Trindade, glorificado com o Pai e o Espírito Santo. Salvai-nos!" (O Monoghenis). João de Antioquia (falecimento ~420) "[O título] 'Mãe de Deus' foi concebido, dito e escrito por muitos Padres (...) Não há perigo algum em dizer e pensar as mesmas coisas daqueles doutores que na Igreja gozaram de boa reputação" (Epístola a Nestório 4). Concílio da União entre Orientais e Ocidentais (realização 433) "Confessamos (...) Nosso Senhor Jesus Cristo, o Filho único de Deus, Deus perfeito e homem perfeito (...), gerado antes dos séculos por seu Pai, segundo a divindade, e nos últimos dias, o mesmo, por causa de nós e para nossa salvação, gerado da Virgem Maria, segundo a humanidade. O mesmo consubstancial ao Pai por sua divindade e consubstancial a nós por sua humanidade, porque a união das duas naturezas se realizou. E é porque confessamos um só Cristo, um só Filho, um só Senhor que, neste mesmo pensamento da união sem mistura, confessamos a Santa Virgem Mãe de Deus, porque o Deus-Logos se encarnou" (Símbolo da União). Cirilo de Alexandria (falecimento 444) "Causa-me profunda admiração haver alguns que duvidam em dar à Virgem Santíssima o título de Mãe de Deus. realmente, se Nosso Senhor Jesus Cristo é Deus, por que motivo não pode ser chamada de Mãe de Deus a Virgem Santíssima que o gerou? Essa verdade nos foi transmitida pelos discípulos do Senhor, embora não usassem esta expressão. Assim fomos também instruídos pelos santos Padres. Em particular Santo Atanásio, nosso pai na fé,

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de ilustre memória, na terceira parte do livro que escreveu sobre a santa e consubstancial Trindade, dá freqüentemente à Virgem Santíssima o título de Mãe de Deus (...) Essas palavras são de um homem inteiramente digno de lhe darmos crédito, sem receio, e a quem podemos seguir com toda segurança. Com efeito, ele jamais pronunciou uma só palavra que fosse contrária às Sagradas Escrituras" (Maria, Mãe de Deus). "Contemplo esta assembléia de homens santos, alegres e exultantes que, convidados pela santa e sempre Virgem Maria e Mãe de Deus, prontamente acorreram para cá. Embora oprimido por uma grande tristeza, a vista dos santos padres aqui reunidos encheu-me de júbilo. Neste momento vão realizar-se entre nós aquelas doces palavras do salmista: 'Vede como é bom, como é suave os irmãos viverem juntos, bem unidos' (Sl. 132,1). Salve, ó mística e santa Trindade, que nos reunistes a todos nós nesta igreja de Santa Maria, Mãe de Deus. Salve, ó Maria, Mãe de Deus, venerável tesouro do mundo inteiro, lâmpada inextinguível, coroa da virgindade, cetro da verdadeira doutrina, templo indestrutível, morada daquele que lugar algum pode conter, virgem e mãe, por meio de quem é proclamado bendito nos santos evangelhos 'o que vem em nome do Senhor' (Mt 21,9). Salve, ó Maria, tu que trouxeste em teu sagrado seio virginal o Imenso e Incompreensível; por ti é glorificada e adorada a Santíssima Trindade; por ti se festeja e é venerada no universo a cruz preciosa; por ti exultam os céus; por ti se alegram os anjos e os arcanjos; por ti são postos em fuga os demônios; por ti cai do céu o diabo tentador; por ti é elevada ao céu a criatura decaída; por ti todo o gênero humano, sujeito à insensatez dos ídolos, chega ao conhecimento da verdade; por ti o santo batismo purifica os que crêem; por ti recebemos o óleo da alegria; por ti são fundadas igrejas em toda a terra; por ti as nações são conduzidas à conversão. E que mais direi? Por Maria, o Filho unigênito de Deus veio 'iluminar os que jazem nas trevas e nas sombras da morte' (Lc. 1,77); por ela os profetas anunciaram as coisas futuras; por ela os Apóstolos proclamaram aos povos a salvação; por ela os mortos ressuscitam; por ela reinam os reis em nome da Santíssima Trindade. Quem dentre os homens é capaz de celebrar dignamente a Maria, merecedora de todo louvor? Ela é Mãe e virgem! Que coisa admirável! Esse milagre me deixa extasiado.

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Quem jamais ouviu dizer que o construtor fosse impedido de habitar no templo que ele próprio construiu? Quem se humilhou tanto a ponto de escolher uma escrava para ser a sua própria mãe? Eis que tudo exulta de alegria! Reverenciemos e adoremos a divina Unidade; com santo temor veneremos a indivisível Trindade ao celebrar com louvores a sempre Virgem Maria! Ela é o templo santo de Deus, que é seu Filho e esposo imaculado. A ele a glória pelos séculos dos séculos. Amém" (Homilia no Concílio de Éfeso). Vicente de Lérins (falecimento 450) "Theotokos [=Mãe de Deus], mas não no sentido imaginado por certa heresia ímpia que sustenta que ela deva ser chamada a Mãe de Deus não por outro motivo, mas apenas porque deu à luz àquele homem que posteriormente se tornou Deus, exatamente como falamos de uma mulher como mãe de um sacerdote, ou mãe de um bispo, querendo dizer que ela era tal não por ter dado à luz a alguém já sacerdote ou bispo, mas dado à luz a alguém que posteriormente se tornou sacerdote ou bispo. Não dessa forma, afirmo, foi a santa Maria Theotokos - a Mãe de Deus - mas, pelo contrário, como disse anteriormente, porque em seu sagrado ventre se operou o mais sagrado dos mistérios pelo qual, por singular e única unidade de Pessoa, como a Palavra na carne é carne, assim o Homem em Deus é Deus" (Comentários 15). Concílio Ecumênico de Calcedônia (realização 451) "O sábio e salutar símbolo de Nicéia-Constantinopla era suficiente, pela graça de Deus, para fazer conhecer de maneira perfeita e para consolidar a verdadeira fé (...) Mas, uma vez que aqueles que procuram destruir o ensinamento da verdade difundiram, por suas heresias particulares, doutrinas vãs, alguns ousando desfigurar o mistério da Encarnação do Senhor diante de nós recusando à Virgem o nome de 'Mãe de Deus' os outros introduzindo miscelânea e confusão, imaginando loucamente que a carne e a divindade não são mais que única natureza, e supondo monstruosamente que, em função dessa mistura, a natureza divina do Filho único seja capaz de sofrer; por causa disso, desejando fechar a porta a todas as suas maquinações contra a verdade, o santo e grande Concílio ecumênico aqui presente, que ensina a inabalável doutrina pregada desde o começo, decidiu, antes de tudo, que a fé dos

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318 padres [de Nicéia] deve permanecer ao abrigo de qualquer ataque. E ele confirma também o ensinamento acerca da essência do Espírito dado mais tarde pelos 150 padres reunidos na cidade imperial [de Constantinopla] por causa dos pneumatômacos: eles levavam ao conhecimento de todos que não desejavam acrescentar nada ao ensinamento de seus predecessores, como se este fosse incompleto, mas expunham claramente seu pensamento sobre o Espírito Santo, mediante o testemunho das Escrituras, contra aqueles que tentavam rejeitar sua Soberania (...) Seguindo, por conseguinte, os santos padres, proclamamos todos a uma só voz um único e mesmo Filho, nosso Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade, o mesmo perfeito em humanidade, o mesmo Deus verdadeiro e homem verdadeiro, feito de uma alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai segundo a divindade, consubstancial a nós segundo a humanidade, semelhante a nós em tudo, exceto no pecado, gerado pelo Pai antes de todos os séculos quanto à sua divindade, mas, nos últimos dias, para nós e para a nossa salvação, gerado por Maria, a Virgem, a Mãe de Deus, quanto à sua humanidade, um único e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Filho unigênito, que reconhecemos possuir duas naturezas, sem confusão nem mudança, sem divisão nem separação; a diferença das naturezas não é absolutamente suprimida pela união, mas, ao contrário, as propriedades de cada uma das duas naturezas permanecem intactas e se unem numa única Pessoa ou hipostase" (Definição Dogmática). Lecionário Jerusalemitano (realização 450) "[15 de agosto:] O dia de Maria, Mãe de Deus". Anônimo (séc. V/VI) "Proclamamos-te bemaventurada, nós, gerações de todas as estirpes, ó Virgem, Mãe de Deus. Em ti, Aquele que está acima de tudo, Cristo, nosso Deus, dignou-se habitar. Felizes de nós, que temos a ti como nossa defensora, porque tu intercedes noite e dia por nós (...) Por isso te louvamos, gritando: 'Salve, ó cheia de graça! O Senhor é contigo" (Hino). Concílio Ecumênico de Constantinopla III (realização 681) "[Cristo foi] gerado (...) segundo a humanidade, pelo Espírito Santo e por Maria Virgem, aquela que é propriamente e com toda a verdade Mãe de Deus" (DS 555).

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João Damasceno ((falecimento 749) "Ó casto casal, Joaquim e Ana: vós, observando a castidade que prescreve a lei natural, fostes agraciados com dons que estão muito acima da natureza, já que colocastes no mundo aquela que, sem obra de varão, foi a Mãe de Deus. Vós, levando uma vida humana, piedosa e santa, tivestes uma filha superior aos anjos e que é agora Senhora dos anjos. Ó criança preciosa e cheia de doçura! Ó lírio entre espinhos, gerado da nobre e régia estirpe de Davi! Por meio de ti a dignidade real se uniu à do sacerdócio. Por ti a lei foi transformada e se manifestou o Espírito que antes estava oculto debaixo da letra, passando a dignidade sacerdotal da tribo de Levi para a de Davi (...) Bem-aventurados sejam as entranhas e o ventre de onde saíste; bem-aventurados os braços que te sustentaram e os lábios que se alegraram dando-te castos beijos, isto é, os de teus pais unicamente, de modo que sempre guardarás a perfeita virgindade! Hoje se iniciou a salvação do mundo: enaltece o Senhor toda a terra! Cantando, alegrai-vos e entoai salmos! Levantai vossa voz! Levantai vossa voz, exultai de júbilo, não temais, porque hoje nos nasceu, na santa Probática (=lar de Joaquim), a Mãe de Deus, da qual quis nascer o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo" (Homilia 1 da Natividade de Maria 6). "Quem ama ardentemente alguma coisa costuma trazer seu nome nos lábios e nela pensar noite e dia. Não me censure, pois, se pronuncio este terceiro panegírico da Mãe de meu Deus, como oferenda em honra de sua partida. (...) As portas do paraíso se abrem para acolher a terra portadora de Deus, onde germinou a árvore da vida eterna, redentora da desobediência de Eva e da morte infligida a Adão! (...) Erguei vossos olhos, Povo de Deus! Alçai vosso olhar! Eis em Sião a Arca do Senhor, Deus dos exércitos, à qual vieram pessoalmente prestar assistência os Apóstolos, tributando seu derradeiro culto ao corpo que foi princípio de vida e receptáculo de Deus! Eis a Virgem, filha de Adão e Mãe de Deus! (...) Cantemos hinos sacros e nossas melodias se inspirem nas palavras: 'Ave, cheia de graça: o Senhor é contigo'" (Homilia sobre a Dormição de Maria). Concílio Ecumênico de Nicéia II (realização 787) "Definimos, com todo rigor e cuidado, que, à semelhança da representação da cruz preciosa e vivificante, assim como as

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veneráveis e sagradas imagens pintadas quer em mosaico, quer em qualquer outro material adaptado, devem ser expostas nas santas igrejas de Deus, nas alfaias sagradas, nos paramentos sagrados, nas paredes e nas mesas, nas casas e nas ruas; sejam elas a imagem do Senhor Deus e Salvador Jesus Cristo, a da imaculada Senhora nossa e Santa Mãe de Deus, dos santos anjos e de todos os santos justos" (DS 600-601). 4. ORAÇÃO À MÃE DE DEUS MAIS ANTIGA A oração chamando Maria de Mãe de Deus mais antiga foi era rezada desde o século III como se verá a seguir. Isso para mostrar que desde o início a Igreja sempre viu em Maria a Mãe de Deus. Segue um texto do artigo de D. Estevão Bittencourt: O texto do fragmento papiráceo foi editado em 1938, sem que se tivessem até então identificado os seus dizeres. Isto só foi feito no ano seguinte por F. Mercenier: este pesquisador verificou que se tratava da oração mariana conhecida e recitada ainda hoje com as palavras iniciais "Sob a vossa proteção" (Sub tuum praesidium... em latim). Embora o texto não esteja completo, mas deteriorado pelas intempéries dos séculos (coisa normal entre os papiros), o sentido das palavras pode ser depreendido com clareza e segurança. O texto, devidamente reconstituído, diz o seguinte: Sob a tua misericórdia nos refugiamos. Mãe de Deus! Não deixes de considerar as nossas súplicas em nossas dificuldades, Mas livra-nos do perigo, Única casta e bendita! A oração, redigida na primeira pessoa do plural, parece ser, por isto mesmo, pertinente ao uso da Liturgia. Comentemo-la, levando em conta as traduções da mesma existentes nas diversas tradições litúrgicas. Sob a tua misericórdia nos refugiamos... Uma das diferenças mais notáveis quando consideramos as versões recentes, está em que o antigo orante se refugiava debaixo da misericórdia de Maria, ao passo que o texto latino diz praesidium, proteção, asilo, defesa o que parece ser mais sóbrio. A expressão "sob a tua misericórdia" se encontra nas versões bizantina, copta e ambrosiana, ao passo que a

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Liturgia síria reza mais enfaticamente ainda: "sob o manto da tua misericórdia". Por sua vez, o rito etíope diz: "sob a sombra de tuas asas". Alguns manuscritos latinos do século X traduzem literalmente: sub tuis visceribus, isto é, em tuas entranhas nos refugiamos. Esta versão faz ressoar um semitismo bíblico: a misericórdia é comparada às entranhas de uma mãe, que em seu íntimo defende e abriga seu filho. Na verdade, o vocábulo grego eusplanchían significa boas entranhas. Como se vê, o texto original põe em relevo a confiança filial e a índole afetiva das relações entre o cristão orante e a Santa Mãe de Deus. Theotókos. O título que comumente se traduz por "Mãe de Deus", quer dizer, ao pé da letra: "Aquela que deu à luz Deus", em latim Deipara. Este título professa que a pessoa que Maria deu à luz, é a pessoa do Filho de Deus ou a segunda Pessoa da SSma. Trindade na medida em que quis assumir a carne humana. Note-se que o vocábulo Theotóke é forma de vocativo; donde se depreende que a oração é dirigida a Maria, como expressão da grande antigüidade da devoção mariana no povo de Deus. Não deixes de considerar as nossas súplicas em nossas dificuldades. Ao pé da letra, o fiel pede a Maria: "não afastes de nossas súplicas o teu olhar". Basta, pois, que a Mãe de Deus esteja atenta às nossas súplicas para que estejamos seguros. Não se trata, porém, de qualquer súplica, mas daquelas que brotam das dificuldades. Mas livra-nos do perigo. Observe-se que o texto atual desta prece menciona "os perigos", ao passo que o papiro fala "do perigo". Quem recua até o ambiente egípcio do século III, verifica que o perigo por antonomásia eram as perseguições movidas pelo Império Romano contra os cristãos. O historiador Eusébio de Cesaréia (+339), em sua História da Igreja, descreve a grande crueldade das perseguições havidas no Egito. Por conseguinte, pode-se crer que a comunidade que compôs tal oração em tempo de perseguição, recorria à proteção da misericórdia da Mãe de Deus. Se tal suposição é correta, vê-se que a oração refletia dramaticamente a alma do povo de Deus. Única casta e bendita! A exclamação final professa a virgindade de Maria Santíssima. O termo agne significa pura, casta, santa; além da

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virgindade, proclama a fidelidade de Maria à vontade de Deus. 4.1. O problema da datação Os estudiosos concordam entre si ao afirmar a grande antigüidade do texto, mas oscilam entre o século III e o século IV. Os que preferem o século III valem-se de argumentos papirológicos (material sobre o qual se fez a escrita, tipo de letra, caligrafia...). Os partidários do século IV baseiam-se em razões de ordem doutrinária: o uso da expressão Theotókos, dizem, não se encontra antes do século IV. Todavia a pesquisa atenta das fontes literárias ou patrísticas leva a concluir claramente em favor do século III. Eis o que se pode apurar: Por volta de 428 Nestório, Patriarca de Constantinopla, rejeitou o costume, arraigado no povo cristão, de chamar Maria Theotókos; preferia falar de Christotókos (a que deu à luz o Cristo). Com isto Nestório queria pretensamente salvaguardar a humanidade completa de Cristo, mas na verdade estava separando o divino e o humano em Jesus e negando a verdadeira Encarnação. A réplica a Nestório não se fez esperar. São Cirilo, Bispo de Alexandria, sede tradicionalmente oposta a Constantinopla em questões cristológicas, assumiu a defesa do título Theotókos. O Concílio Geral de Éfeso em 431, valendo-se das palavras de Cirilo, declarou que os Santos Padres "não duvidaram chamar Theotókos a SSma. Virgem" - o que não queria dizer que a Divindade começou a existir a partir de Maria, mas que Aquele que nasceu de Maria, desde o seio materno está unido hipostaticamente ao Verbo de Deus (grifo nosso). A controvérsia assim oriunda tem suas raízes em épocas anteriores. Com efeito; quando Nestório se pôs a negar o título Theotókos, encontrou-o já inveterado no povo de Deus, principalmente no Egito ou na região de Alexandria. Retrocedendo ao século IV encontramos o grande Bispo Atanásio de Alexandria, que por volta de 340 atribuiu algumas vezes o título Theotókos a Maria SSma., tanto nos seus escritos contra os arianos quanto na sua Vida de Antão. O antecessor de Atanásio na sede alexandrina, S. Alexandre, também usou tal título: numa de suas cartas afirma que o Verbo assumiu um corpo verdadeiro, e não aparente, de Maria, a Theotókos (PG 18, 568c).

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Em 300 foi eleito Bispo de Alexandria Pedro I: ao referir-se ao mistério da Encarnação, chama duas vezes Maria Theotókos (PG 18, 517b). Nem Pedro nem Alexandre nem Atanásio sentem a necessidade de justificar ou explicar o titulo - o que mostra que era tranqüilamente aceito pelo povo de Deus. Entrando agora no século III, notemos que o mártir alexandrino Piero (+300) cognominado Orígenes Júnior, escreveu um tratado sobre a Theotókos (Peri tes Theotókou), como refere Filipe de Side. Recuando mais ainda, registra-se uma observação do historiador Sócrates, o Escolástico, na sua História da Igreja: afirma que Orígenes de Alexandria (+254) no início do seu comentário sobre a epístola aos Romanos (redigido por volta de 243), elaborou ampla explicação do sentido que tem o termo Theotókos; em tal caso pode-se crer que Orígenes sentia a necessidade de explicar o título mariano. Infelizmente, porém, esse comentário da epístola aos Romanos se perdeu. O vocábulo Theotókos ocorre ainda em alguns textos de Orígenes cuja autenticidade é discutida (o fragmento 80 sobre Lucas é tido geralmente como genuíno). Há certamente algumas afirmações de Orígenes, em suas homilias sobre São Lucas, que sugerem tenha Orígenes, já na primeira metade do século III, chamado Maria SSma. Theotókos. Este título ocorre outrossim na obra As Bênçãos dos Patriarcas, de Hipólito de Roma (+235), que pode datar de fins do século II (julga-se, porém, que a referência ao titulo é devida a uma interpolação e não pertence à integridade do texto). Como quer que seja, pode-se reconstituir a série de autores alexandrinos que aplicam a Maria a designação Theotókos: Orígenes, Piero, Pedro I, Alexandre e Atanásio; tal série vai de 243 a 340, evidenciando a antigüidade do texto. Estes dados de literatura patrística são assaz significativos para que se possa atribuir a oração em pauta ao século III. É testemunho de que a piedade mariana desde remotas épocas existe no povo de Deus, pondo em relevo a figura maternal de Maria: Mãe de Deus feito homem e Mãe dos homens que seguem a Cristo perseguido e vencedor da morte.

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ANOTAÇÕES ____________________________________

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CAPÍTULO 5: IMACULADA CONCEIÇÃO 1. INTRODUÇÃO

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azemos memória de nossa Santíssima, Imaculada, e gloriosíssima Senhora Maria, Mãe de Deus e sempre Virgem. (São Tiago Menor, S.jacob in Liturgia sua). "Prestemos homenagem, principalmente, a Nossa Senhora, a Santíssima, Imaculda, e abençoada acima de todas as criaturas, a gloriosíssima Mãe de Deus, sempre Virgem Maria" (São Tiago Menor, S.jacob in Liturgia sua). "Tendo sido o primeiro homem formado de uma terra imaculada, era necessário que o homem perfeito nascesse de uma Virgem igualmente imaculada, para que o Filho de Deus, que antes formara o homem, reparasse a vida eterna que os homens tinham perdido" (Santo André, Cartas dos Padres de Acaia). "O Cristo foi concebido e tomou o seu crescimento de Maria, a Mãe de Deus toda pura [...] Como o Salvador do mundo tinha decretado salvar o gênero humano, nasceu da Imaculada Virgem Maria" (Santo Hipólito +220). 2. PROVAS DA ESCRITURA

SAGRADA

"Ave, cheia de Graça" (Lc 1,28) - a saudação angélica mostra muito bem a Graça que Deus concedeu á Maria Santíssima. "Cheia de Graça" significa que a Virgem obtivera a graça que não existia, a graça perdida, a graça original, isto é, a Imaculada Conceição. A expressão "Cheia de Graça" em grego "Kecharitoménê", é empregada para designar a graça em seu sentido pleno. A tradução em latim "Gratia Plena", isto é, "Graça Plena" é mais perfeita do que a portuguesa "Cheia de Graça". O Arcanjo falando à Virgem que ela achara graça diante de Deus diz: Maria, sois imaculada, e por isto serás a mãe do Salvador. "O Senhor é Convosco" (Luc 1,28) - estas palavras angélicas, foram ditas antes da concepção pelo Espírito Santo, o que mostra que Deus está com a Nossa Senhora antes da encarnação do Verbo. E, onde está Deus não há pecado, ou seja, Maria não tinha o Pecado Original.

"Mas, vindo Cristo, o sumo sacerdote dos bens futuros, por um maior e mais perfeito tabernáculo, não feito por mãos, isto é, não desta criação" (Hb 9,11) - aqui São Paulo se expressa sobre o ventre que concebeu o menino-Deus, e o compara com um tabernáculo perfeito. Lembremos que no Antigo Testamento, no tabernáculo existia o lugar chamado "Santo dos Santos" ou "Santíssimo Lugar", que tinha a presença de Deus. Este lugar era visitado pelo sacerdote um vez por ano, e se entrasse lá em pecado, morria fulminado pela presença santa do Senhor. Era comum que o sacerdote entrasse amarrado a uma corda, que era usada para que o povo o puxasse se tivesse morrido. Pois onde Deus está, pecado não há. A Necessidade da Imaculada Conceição Se Deus pode preservar Nossa Senhora do pecado original em um ventre escravo deste pecado, por que que Deus não pode também preservar seu Filho nas mesmas condições? Isto leva a crer que não era necessário que a Virgem fosse Imaculada. O Professor Carlos Ramalhete esclarece o caso: "É necessário para isso perceber como funciona a transmissão do Pecado Original. O Pecado Original é transmitido do corpo dos pais ao dos filhos (em termos modernos poderíamos dizer que geneticamente, com óvulo e espermatozóide sendo portadores), e infecta a alma no instante de sua infusão no corpo (ou seja, no instante da concepção). Assim, a Imaculada Concepção foi um ato divino em que Ele impediu que houvesse esta contaminação; São Joaquim e Sant'Ana tinham o Pecado Original, e normalmente o teriam transmitido a sua filha. Deus, no entanto, impediu que a alma que Ele criou fosse contaminada pelo pecado original que normalmente a contaminaria. Este ato divino ocorreu no instante da concepção. Assim, ela foi preservada das conseqüência do Pecado Original, e sua vontade era submissa a sua razão. Seu corpo e sua alma estavam livres desta inimizade com Deus, logo preparados para ceder seu material genético para a Encarnação do Verbo. Já o caso de seu Filho é bastante diferente. Ele foi concebido pelo Espírito Santo, usando apenas material genético de Nossa Senhora.

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Como o material genético dela foi preservado por Deus do Pecado, esta concepção foi possível. Depois dessa concepção, em que o próprio Deus uniu-se a um corpo e alma humanos criados especialmente (posto que Nosso Senhor tem corpo humano - herdado da Virgem -, e alma humana - criada imediatamente por Deus, como todas as outras), não houve necessidade de fazer com Ele o que foi feito com Nossa Senhora. Isso aliás seria impossível, pois uma alma imaculada poderia viver em um ventre marcado pelo Pecado Original (o de Sant'Ana), mas a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade não. Provavelmente a Mãe d'Ele teria morrido em meio a dores horríveis caso fosse marcada pelo Pecado Original e tentasse abrigar em seu ventre - que não seria imaculado - a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade. Há assim, duas respostas que se completam à pergunta: 1 - Deus preservou Nossa Senhora do Pecado Original para que ela pudesse ser aquela que cedeu seu material genético para a Encarnação do Verbo. Seu material genético deveria estar imaculado, ou teríamos o pior caso de incompatibilidade da história da Criação! 2 - Sua preservação, que teve o fim que acabo de expor, foi feita de maneira sumamente diferente do que ocorreu em seu ventre quando da Encarnação do Verbo. Ela não é Deus; ela é simplesmente alguém que não foi contaminado (por interferência divina direta), como por exemplo o filho não-aidético de uma grávida aidética. Não há uma contraposição, uma inimizade completa, mas apenas um corpo sadio abrigado em um corpo doente. Já Nosso Senhor é o contrário do Pecado por definição. O Pecado é Seu inimigo, o Pecado é a ofensa feita a Ele. Assim, seria como misturar matéria e antimatéria, vírus e anticorpo, se Ele tivesse que ser colocado em um ventre marcado pelo Pecado Original. Ele não poderia ser nutrido por este corpo, Ele não poderia ter o Seu código genético originado deste corpo... a gravidez seria na verdade uma ilusão, pois Sua mãe não seria Sua mãe, sim Sua inimiga. Deus teria que ter criado o corpo dele do nada, e o mantido sem contato real com o corpo de Sua Mãe, ou ela morreria imediatamente."

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dogma da imaculada conceição 41. Por isto, depois de na humildade e no jejum, dirigirmos sem interrupção as Nossas preces particulares, e as públicas da Igreja, a Deus Pai, por meio de seu Filho, a fim de que se dignasse de dirigir e sustentar a Nossa mente com a virtude do Espírito Santo; depois de implorarmos com gemidos o Espírito consolador; por sua inspiração, em honra da santa e indivisível Trindade, para decoro e ornamento da Virgem Mãe de Deus, para exaltação da fé católica, e para incremento da religião cristã, com a autoridade de Nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados Apóstolos Pedro e Paulo, e com a Nossa, declaramos, pronunciamos e definimos: Doctrinam, quæ tenet, beatissimam Virginem Mariam in primo instanti suæ conceptionis fuisse singulari omnipotentis Dei gratia et privilegio, intuitu meritorum Christi Jesu Salvatoris humani generis, ab omni originalis culpæ labe præservatam immunem, esse a Deo revelatam atque idcirco ab omnibus fidelibus firmiter constanterque credendam. A doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante da sua Conceição, por singular graça e privilégio de Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservada imune de toda mancha de pecado original, essa doutrina foi revelada por Deus, e por isto deve ser crida firme e inviolavelmente por todos os fiéis. 42. Portanto, se alguém (que Deus não permita!) deliberadamente entende de pensar diversamente de quanto por Nós foi definido, conheça e saiba que está condenado pelo seu próprio juízo, que naufragou na fé, que se separou da unidade da Igreja, e que, além disso, incorreu por si, "ipso facto", nas penas estabelecidas pelas leis contra aquele que ousa manifestar oralmente ou por escrito, ou de qualquer outro modo externo, os erros que pensa no seu coração. ANOTAÇÕES _____________________________________ ______________________________________ _____________________________________ _____________________________________

3. BULA "INEFFABILIS DEUS" do papa Pio XII – definição do

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S. Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria.


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CAPÍTULO 6: DOGMA DA ASSUNÇÃO DE NOSSA SENHORA EM CORPO E ALMA AO CÉU 1.

INTRODUÇÃO

D

esde tempos remotíssimos a Igreja crê e celebra a assunção de Nossa Senhora ao Céu de corpo e alma. Inclusive o evangelho apócrifo de Tiago fala que Jesus veio buscar sua mãe para levá-la ao céu. A Sagrada Tradição da Igreja sempre neste sentido que a Mãe de Deus não ficou no sepulcro, mas que foi levada para o céu para reinar com Cristo, seu Diletíssimo Filho. Assim diz o Catecismo da Igreja católica: Finalmente, a Imaculada Virgem, preservada imune de toda mancha e culpa original, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celeste. E, para que mais plenamente estivesse conforme a seu Filho, Senhor dos senhores e Vencedor do pecado e da morte, foi exaltada pelo Senhor como Rainha do universo. A assunção da Virgem é uma participação singular na ressurreição de seu Filho e uma antecipação da ressurreição dos outros cristãos (CIC 966).

2.

ALGUNS TEXTOS DA SAGRADA TRADIÇÃO

Efrém da Síria (falecimento 373): "Disse Maria: o Menino que gerei me tomou consigo / E me abrigou entre suas poderosas asas / Elevando-me às alturas e explicando: / Os céus e as profundezas pertencem a teu Filho" (Hino do Natividade do Senhor 17). Ambrósio de Milão ((falecimento 397): "Se ela (=Maria) morria com seu Filho, sabia que havia de ressuscitar com Ele, pois ela não ignorava o fato misterioso de que havia gerado Aquele que havia de ressuscitar" (De Institutione Virginis 7,49). Timóteo de Jerusalém "'Uma espada transpassará a tua alma!' (...) Destas palavras, muitos concluíram que a Mãe do Senhor, morta pela espada, obteve o fim glorioso que é o martírio. Mas não foi assim. A espada metálica divide o corpo e não a alma. Nem era possível que tal acontecesse, porque a Virgem, imortal até hoje, foi transladada a partir do lugar de sua assunção por Aquele que nela fez a sua morada" (Homilia sobre Simeão e Ana).

Epifânio de Salamina (falecimento 403): "Se alguém julgar que estamos laborando em erro, pode consultar a Sagrada Escritura, onde não achará a morte de Maria, nem se foi morta ou não, se foi sepultada ou não. E quando João partiu para a Ásia, em parte alguma está dito que tenha levado consigo a santa Virgem. Sobre isto, a Escritura silencia totalmente, o que penso ocorrer por causa da grandeza transcendente do prodígio, a fim de não causar maior assombro às mentes. Temo falar nisso e procuro impor-me silêncio a esse respeito, porque não sei, realmente, se se podem achar indicações, ainda que obscuras, sobre a incerta morte da santíssima e bem-aventurada Virgem. De um lado, temos a palavra proferida sobre ela: 'Uma espada traspassará tua alma, para que sejam revelados os pensamentos de muitos corações'. De outro, todavia, lemos no Apocalipse de João, que o dragão avançou contra a mulher, quando dera à luz um varão, e que lhe foram dadas asas de águia para ser transportada ao deserto, onde o dragão não a alcançasse. Isso pode ter-se realizado em Maria. Nem digo que tenha permanecido imortal, nem posso afirmar que tenha morrido. A Sagrada Escritura, transcendendo aqui a capacidade da mente humana, deixa a coisa na incerteza, em atenção ao Vaso insigne e excelente, para que ninguém lhe atribua alguma sordidez própria da carne" (Panarion 78,10-12). Pseudo-Melitão "[Disseram os Apóstolos a Jesus:] 'Senhor, escolhestes esta tua serva (=Maria) a fim de que se tornasse para Ti uma residência imaculada (...) Portanto, pareceunos justo, a nós, teus servos, que assim como Tu reinas na glória, depois de teres vencido a morte, Tu ressuscitas o corpo de tua Mãe e conduze-a jubilosa contigo ao céu" (Do Trânsito da Virgem Maria). Sacramentário de Bóbbio "8 de janeiro: Festa da Assunção de Maria"; "[Este é o] Dia em que a Santa Mãe de Deus sofreu a morte terrena, mas não permaneceu nas amarras da morte".

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Germano de Constantinopla (falecimento 730): "Era necessário que a Mãe da Vida compartilhasse a habitação da Vida" (Homilia da Dormição de Maria). "Assim como uma criança procura e deseja a presença de sua mãe, e como uma mãe ama viver em companhia de seu filho, assim também para ti (=Maria), cujo amor materno pelo seu Filho e Deus não deixa dúvidas, era conveniente que tu voltasses para Ele. E, em todo caso, não era por ventura conveniente que este Deus, que provara por ti um amor deveras filial, te tomasse em sua companhia?" (Homilia da Dormição de Maria 1). "[Diz Jesus:] 'É preciso que onde Eu estou, tu também estejas, Mãe, inseparável de teu Filho'" (Homilia da Dormição de Maria 3). João Damasceno (falecimento 749): "Maria não conheceu os tenebrosos caminhos que levam ao inferno, mas disposto para ela um caminho reto, plano e seguro em direção ao céu. Com efeito, se Cristo, que é a verdade e a vida, disse: 'Onde eu estou, ali estará também meu servidor' (Jo 12,26), com muito mais razão não devia morar com Ele sua própria Mãe? Assim como ela Lhe deu à luz sem dor, assim também sua morte esteve isenta de dores. Funesta é a morte dos pecadores (Sl 34,22); daquela, ao contrário, em quem foi vencido o pecado, que é o aguilhão da morte, não teremos de dizer que a morte é o princípio de uma vida superior e indefectível? Se em verdade é preciosa a morte dos santos do Senhor Deus dos exércitos, muito mais é o gloriosa translado da Mãe de Deus" (Homilia 1 da Natividade de Maria 3). "Era necessário que aquela que vira o seu Filho sobre a cruz e recebera em pleno coração a espada da dor (...) contemplasse este Filho sentado à direita de Deus" (Homilia 2 da Natividade de Maria). "É aqui que o Criador de todas as coisas recebe em suas mãos a alma sacrossanta que emigra daquele corpo, que é o receptáculo em que habitou o Senhor! Com razão quis Ele prestar esta honra àquela que, embora por natureza fosse sua escrava, por uma altíssima e inefável decisão de sua bondade, ao assumir verdadeiramente nossa carne, a fez sua Mãe (...) Os coros dos anjos, segundo cremos, contemplaram - ó Virgem - tua saída deste mundo, por eles ansiada (...) Os anjos e arcanjos te transladaram. Ante teu translado, os espírito imundos que voam pelos ares se estremeceram de espanto. Com tua passagem o

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ar ficou abençoado e tudo foi santificado. O céu, com gozo, recebeu tua alma. As potestades celestiais saíram ao teu encontro, cantando hinos sagrados, com festiva alegria e expressando-se com estas ou parecidas palavras: 'Quem é esta que sobe toda pura, surgindo como a aurora, formosa como a lua e brilhante como o sol? Ó, que formosa és e toda cheia de suavidade! O Rei te introduziu em sua câmara, onde as potestades te escoltam, os principados te abençoam, os tronos entoam cânticos em tua honra, os querubins se maravilham e os serafins proclamam teus louvores, já que, por divina disposição, foste constituída verdadeira Mãe do Senhor'" (Homilia 1 da Assunção de Maria 1,1). "Quem ama ardentemente alguma coisa costuma trazer seu nome nos lábios e nela pensar noite e dia. Não me censure, pois, se pronuncio este terceiro panegírico da Mãe de meu Deus, como oferenda em honra de sua partida. Isto não será favor para ela, mas servirá a mim mesmo e a vós, aqui presentes (...) Não é Maria que precisa de elogios; nós é que precisamos de sua glória. Um ser glorificado, que glória pode receber ainda? A fonte da luz, como será iluminada ainda? Ela (Maria) cativou o meu espírito; ela reina sobre a minha palavra; dia e noite sua imagem me é presente. Mãe do Verbo, dá-me de que falar! (...) Eis aquela cuja festa celebramos hoje em sua santa e divina assunção. Aquele que (...) desceu ao seio virgíneo para ser concebido e se encarnar, sem deixar o seio do Pai; Aquele que através da Paixão marchou voluntariamente para a morte, conquistando pela morte a imortalidade e voltando ao Pai; como não poderia Ele atrair ao Pai sua Mãe segundo a carne? Como não elevaria da terra ao céu aquela que fora um verdadeiro céu na terra? Hoje, da Jerusalém terrestre, a Cidade viva de Deus foi conduzida à Jerusalém do alto: aquela que concebera como seu primogênito e unigênito o Primogênito de toda a criatura e o Unigênito do Pai, vem habitar na Igreja das primícias! A arca do Senhor, viva e racional, é transportada ao repouso de seu Filho! As portas do paraíso se abrem para acolher a terra portadora de Deus, onde germinou a árvore da vida eterna, redentora da desobediência de Eva e da morte infligida a Adão! Aquela que foi o leito nupcial onde se deu a divina encarnação do Verbo veio repousar em túmulo glorioso, como em tálamo nupcial, para de lá se elevar até a câmara das núpcias celestes, onde reina em plena luz com seu Filho e seu Deus,

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deixando-nos também como lugar de núpcias seu túmulo sobre a terra (...) Mas então? Morreu a fonte da vida, a Mãe de meu Senhor? Sim, era preciso que o ser formado da terra à terra voltasse, para dali subir ao céu, recebendo o dom da vida perfeita e pura a partir da terra, após ter-lhe entregue o seu corpo. Era preciso que, como o ouro no crisol, a carne rejeitasse o peso da imortalidade e se tornasse, pela morte, incorruptível, pura e, assim, ressuscitasse do túmulo (...) Erguei vossos olhos, Povo de Deus! Alçai vosso olhar! Eis em Sião a Arca do Senhor, Deus dos exércitos, à qual vieram pessoalmente prestar assistência os Apóstolos, tributando seu derradeiro culto ao corpo que foi princípio de vida e receptáculo de Deus! Eis a Virgem, filha de Adão e Mãe de Deus! Por causa de Adão, entrega o seu corpo à terra; mas por causa de seu Filho, eleva a alma aos tabernáculos celestes! Que toda a criação celebre a subida da Mãe de Deus: os grupos de jovens, em sua alegria; a boca dos oradores, em seus panegíricos; o coração dos sábios, em suas dissertações sobre essa maravilha; os anciãos de veneráveis clãs, em suas contemplações. Que todas as criaturas se associem nesta homenagem que, ainda assim, não seria suficiente. Todos, pois, deixemos em espírito este mundo com aquela que dele parte. Cantemos hinos sacros e nossas melodias se inspirem nas palavras: 'Ave, cheia de graça: o Senhor é contigo'" (Homilia sobre a Dormição de Nossa Senhora). "Como é possível que aquela que no parto ultrapassou todos os limites da natureza, agora se submeta às leis desta e seu corpo imaculado se sujeite à morte? (...) Certamente era necessário que a parte mortal fosse deposta para se revestir de imortalidade, porque nem o Senhor da natureza rejeito a experiência da morte. Com efeito, Ele morre segundo a carne e com a morte destrói a morte; à corrupção concede a incorruptibilidade e o morrer faz d'Ele nascente da ressusrreição" (Panegírico sobre a Dormição da Mãe de Deus 10).

3.

CONST. APOSTÓLICA DO PAPA PIO XII MUNIFICENTISSIMUS DEUS

Testemunhos da crença na assunção 14. Os fiéis, guiados e instruídos pelos pastores, souberam por meio da Sagrada Escritura que a virgem Maria, durante a sua peregrinação terrestre, levou vida cheia de

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cuidados, angústias e sofrimentos; e que, segundo a profecia do santo velho Simeão, uma espada de dor lhe traspassou o coração, junto da cruz do seu divino Filho e nosso Redentor. E do mesmo modo, não tiveram dificuldade em admitir que, à semelhança do seu unigênito Filho, também a excelsa Mãe de Deus morreu. Mas essa persuasão não os impediu de crer expressa e firmemente que o seu sagrado corpo não sofreu a corrupção do sepulcro, nem foi reduzido à podridão e cinzas aquele tabernáculo do Verbo divino. Pelo contrário, os fiéis iluminados pela graça e abrasados de amor para com aquela que é Mãe de Deus e nossa Mãe dulcíssima, compreenderam cada vez com maior clareza a maravilhosa harmonia existente entre os privilégios concedidos por Deus àquela que o mesmo Deus quis associar ao nosso Redentor. Esses privilégios elevaram-na a uma altura tão grande, que não foi atingida por nenhum ser criado, excetuada somente a natureza humana de Cristo. 15. ... Nem se deve passar em silêncio que no rosário de nossa Senhora, cuja reza tanto recomenda esta Sé Apostólica, há um mistério proposto à nossa meditação, que, como todos sabem, é consagrado à assunção da santíssima Virgem ao céu. Testemunho da liturgia 16. De modo ainda mais universal e esplendoroso se manifesta esta fé dos pastores e dos fiéis, com a festa litúrgica da assunção celebrada desde tempos antiquíssimos no Oriente e no Ocidente. Nunca os santos padres e doutores da Igreja deixaram de haurir luz nesta solenidade, pois, como todos sabem, a sagrada liturgia, "sendo também profissão das verdades católicas, e estando sujeita ao supremo magistério da Igreja, pode fornecer argumentos e testemunhos de não pequeno valor para determinar algum ponto da doutrina cristã".(6) 17. Nos livros litúrgicos em que aparece a festa da Dormição ou da Assunção de santa Maria, encontram-se expressões que de uma ou outra maneira concordam em referir que, quando a virgem Mãe de Deus passou deste exílio para o céu, por uma especial providência divina, sucedeu ao seu corpo algo de consentâneo com a dignidade de Mãe do Verbo encarnado e com os outros privilégios que lhe foram concedidos. É o que se afirma, para apresentarmos um exemplo elucidativo, no Sacramentário enviado pelo nosso predecessor

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de imortal memória Adriano I, ao imperador Carlos Magno. Nele se diz: "É digna de veneração, Senhor, a festividade deste dia, em que a santa Mãe de Deus sofreu a morte temporal; mas não pode ficar presa com as algemas da morte aquela que gerou no seu seio o Verbo de Deus encarnado, vosso Filho, nosso Senhor"(7). 18. Aquilo que aqui se refere com a sobriedade de palavras costumeiras na Liturgia romana, exprime-se mais difusamente nos outros livros das antigas liturgias orientais e ocidentais. O Sacramentário Galicano, por exemplo, chama a esse privilégio de Maria, "inexplicável mistério, tanto mais digno de ser proclamado, quanto é único entre os homens, pela assunção da virgem". E na liturgia bizantina a assunção corporal da virgem Maria é relacionada diversas vezes não só com a dignidade de Mãe de Deus, mas também com os outros privilégios, especialmente com a sua maternidade virginal, decretada por um singular desígnio da Providência divina: "Deus, Rei do universo, concedeu-vos privilégios que superam a natureza; assim como no parto vos conservou a virgindade, assim no sepulcro vos preservou o corpo da corrupção e o conglorificou pela divina translação".(8) A festa da Assunção 19. A Sé Apostólica, herdeira do múnus confiado ao Príncipe dos apóstolos de confirmar na fé os irmãos (cf. Lc 22,32), com sua autoridade foi tornando cada vez mais solene esta celebração. Esse fato estimulou eficazmente os fiéis a irem-se apercebendo mais e mais da importância deste mistério. E assim, a festa da assunção, que ao princípio tinha o mesmo grau de solenidade que as restantes festas marianas, foi elevada ao rito das festas mais solenes do ciclo litúrgico. O nosso predecessor S. Sérgio I, ao prescrever as ladainhas, ou a chamada procissão estacional, nas festas de nossa Senhora, enumera simultaneamente a Natividade, a Anunciação, a Purificação e a Dormição.(9) A festa já se celebrava com o nome de assunção da bemaventurada Mãe de Deus, no tempo de S. Leão IV. Esse papa procurou que se revestisse de maior esplendor, mandando ajuntar-lhe a vigília e a oitava. E o próprio pontífice quis participar nessas solenidades, acompanhado de imensa multidão. (10) Na vigília já de há muito se guardava o jejum, como se prova com evidência do que afirma o nosso predecessor S.

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Nicolau I, ao tratar dos principais jejuns "que... desde os tempos antigos observava e ainda observa a santa Igreja romana".(11) 20. A Liturgia da Igreja não cria a fé católica, mas supõe-na; e é dessa fé que brotam os ritos sagrados, como da árvore os frutos. Por isso os santos Padres e doutores nas homilias e sermões que nesse dia fizeram ao povo, não foram buscar essa doutrina à liturgia, como a fonte primária; mas falaram dela aos fiéis como de coisa sabida e admitida por todos. Declararam-na melhor, explicaram o seu significado e o fato com razões mais profundas, destacando e amplificando aquilo a que muitas vezes os livros litúrgicos apenas aludiam em poucas palavras, a saber, que com esta festa não se comemora somente a incorrupção do corpo morto da santíssima Virgem, mas principalmente o triunfo por ela alcançado sobre a morte e a sua celeste glorificação à semelhança do seu Filho unigênito, Jesus Cristo. Testemunho dos teólogos 24. Entre os teólogos escolásticos, não faltaram alguns, que, pretendendo penetrar mais profundamente nas verdades reveladas, e mostrar o acordo entre a chamada razão teológica e a fé católica, notaram a estreita conexão existente entre este privilégio da assunção da santíssima Virgem e as demais verdades contidas na Sagrada Escritura. 25. Partindo desse pressuposto, apresentam diversas razões para corroborar esse privilégio mariano. A razão primária e fundamental diziam ser o amor filial de Cristo para o levar a querer a assunção de sua Mãe ao céu. E advertiam mais, que a força dos argumentos se baseava na incomparável dignidade da sua maternidade divina e em todas as graças que dela derivam: a santidade altíssima que excede a santidade de todos os homens e anjos, a íntima união de Maria com o seu Filho, e sobretudo o amor que o Filho consagrava a sua Mãe digníssima. 26. Muitas vezes os teólogos e oradores sagrados, seguindo os passos dos santos Padres,(15) para explicarem a sua fé na assunção, serviram-se com certa liberdade de fatos e textos da Sagrada Escritura. E assim, para mencionar só alguns mais empregados, houve quem citasse a este propósito as palavras do Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca de vossa santificação" (Sl 131, 8); e na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível e colocada no

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templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado a tamanha glória no céu. Do mesmo modo, ao tratar desta matéria, descrevem a entrada triunfal da Rainha na corte celeste, e como se vai sentar a direita do divino Redentor (Sl 44,10.14-16); e recordam a propósito a esposa dos Cantares "que sobe pelo deserto, como uma coluna de mirra e de incenso" para ser coroada (Ct 3,6; cf. 4,8; 6,9). Ambas são propostas como imagens daquela Rainha e Esposa celestial, que sobe ao céu com o seu divino Esposo. 27. Os doutores escolásticos vislumbram igualmente a assunção da Mãe de Deus não só em várias figuras do Antigo Testamento, mas também naquela mulher, revestida de sol, que o apóstolo s. João contemplou na ilha de Patmos (Ap 12, ls.). Porém, entre os textos do Novo Testamento, consideraram e examinaram com particular cuidado aquelas palavras: "Ave, cheia de graça, o Senhor é convosco, bendita sois vós entre as mulheres" (Lc 1,28), pois viram no mistério da assunção o complemento daquela plenitude de graça, concedida à santíssima Virgem, e uma singular bênção contraposta à maldição de Eva. Na teologia escolástica 28. Por esse motivo, nos primórdios da teologia escolástica, o piedosíssimo varão Amadeu, bispo de Lausana, afirmava que a carne da virgem Maria permaneceu incorrupta - nem se pode crer que o seu corpo padecesse a corrupção -, porque se uniu de novo à alma, e juntamente com ela penetrou na corte celestial. "Pois ela era cheia de graça e bendita entre as mulheres (Lc 1,28). Só ela mereceu conceber o Deus verdadeiro do Deus verdadeiro, e sendo virgem deu-o à luz, amamentou-o, trouxe-o no regaço, e prestou-lhe todos os cuidados maternos".(16). 29. Entre os escritores sagrados que naquele tempo com vários textos, comparações e analogias tiradas das divinas Letras, ilustraram e confirmaram a doutrina da assunção em que piamente acreditavam, ocupa lugar primordial o doutor evangélico s. Antônio de Pádua. Na festa da assunção, ao comentar aquelas palavras de Isaías: "glorificarei o lugar dos meus pés" (Is 60,13), afirmou com segurança que o divino Redentor glorificou de modo mais perfeito a sua Mãe amantíssima, da qual tomara carne humana. "Daqui, vê-se claramente", diz, "que o corpo

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da santíssima Virgem foi assunto ao céu, pois era o lugar dos pés do Senhor". Pelo que, escreve o Salmista: "Erguei-vos, Senhor, para o vosso repouso, vós e a Arca da vossa santificação". E assim como, acrescenta ainda, Jesus Cristo ressuscitou triunfante da morte e subiu para a direita do Pai, assim também "ressuscitou a Arca da sua santificação, quando neste dia a virgem Mãe foi assunta ao tálamo celestial".(17). Na escolástica posterior 33. Na escolástica posterior, ou seja no século XV, são Bernardino de Sena, resumindo e ponderando cuidadosamente tudo quanto os teólogos medievais tinham escrito a esse propósito, não julgou suficiente referir as principais considerações que os antigos doutores tinham proposto, mas acrescentou outras novas. Por exemplo, a semelhança entre a divina Mãe e o divino Filho, no que respeita à perfeição e dignidade de alma e corpo semelhança que nem sequer nos permite pensar que a Rainha celestial possa estar separada do Rei dos céus - exige absolutamente que Maria "só deva estar onde está Cristo".(23) Portanto, é muito conveniente e conforme à razão que tanto o corpo como a alma do homem e da mulher tenham alcançado já a glória no céu; e, finalmente, o fato de nunca a Igreja ter procurado as relíquias da santíssima Virgem, nem as ter exposto à veneração dos fiéis, constitui um argumento que é "como que uma experiência sensível" da assunção.(24). Nos tempos modernos 34. Em tempos mais recentes, as razões dos santos Padres e doutores, acima aduzidas, foram usadas comumente. Seguindo o comum sentir dos cristãos, recebido dos tempos antigos s. Roberto Belarmino exclamava: "Quem há, pergunto, que possa pensar que a arca da santidade, o domicílio do Verbo, o templo do Espírito Santo tenha caído em ruínas? Horroriza-se o espírito só com pensar que aquela carne que gerou, deu a luz, alimentou e transportou a Deus, se tivesse convertido em cinza ou fosse alimento dos vermes".(25) 35. De igual forma s. Francisco de Sales afirma que não se pode duvidar que Jesus Cristo cumpriu do modo mais perfeito o divino mandamento que obriga os filhos a honrar os pais. E a seguir faz esta pergunta: "Que filho haveria, que, se pudesse, não ressuscitava a sua

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mãe e não a levava para o céu?"(26) E s. Afonso escreve por sua vez: "Jesus não quis que o corpo de Maria se corrompesse depois da morte, pois redundaria em seu desdouro que se transformasse em podridão aquela carne virginal de que ele mesmo tomara a própria carne".(27) 36. Quando já tinha aparecido em toda a sua luz o mistério que se celebra nesta festa, não faltaram doutores que, em vez de tratar das razões teológicas pelas quais se demonstrasse a absoluta conveniência de crença na assunção corpórea da Virgem santíssima, voltaram o pensamento para a fé da Igreja, mística esposa de Cristo, sem mancha nem ruga (cf. Ef 5,27), que o Apóstolo chama "coluna e sustentáculo da verdade" ( 1Tm 3,15). E apoiados nesta fé comum pensaram que seria temerária, para não dizer herética, a opinião contrária. S. Pedro Canísio, como outros muitos, depois de declarar que o termo assunção se referia à glorificação não só da alma mas também do corpo, e que a Igreja há muitos séculos venerava e celebrava solenemente este mistério mariano, observa: "Esta opinião é admitida há vários séculos e tão impressa na alma dos fiéis, é tão recomendada pela Igreja, que quem negasse a assunção ao céu do corpo de Maria santíssima nem sequer seria ouvido com paciência, mas seria vaiado como pertinaz, ou mesmo temerário, e imbuído mais de espírito herético do que católico".(28). 37. Pela mesma época, o Doutor Exímio estabelecia esta regra para a mariologia: "Os mistérios da graça que Deus operou na virgem Maria não se devem medir pelas leis ordinárias, senão pela onipotência divina, suposta a conveniência do fato e a não contradição ou repugnância com as Escrituras".(29) E apoiado na fé de toda a Igreja, podia concluir que o mistério da assunção devia crer-se com a mesma firmeza que o da imaculada conceição, e já então julgava que ambas as verdades podiam ser definidas. Fundamento escriturístico 38. Todos esses argumentos e razões dos santos Padres e teólogos apóiam-se, em último fundamento, na Sagrada Escritura. Esta nos apresenta a Mãe de Deus extremamente unida ao seu Filho, e sempre participante da sua sorte. Pelo que parece quase que impossível contemplar aquela que concebeu, deu à luz, alimentou com o seu leite, a Cristo, e o teve nos braços e apertou contra o peito, estivesse

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agora, depois da vida terrestre, separada dele, se não quanto à alma, ao menos quanto ao corpo. O nosso Redentor é também filho de Maria; e como observador perfeitíssimo da lei divina não podia deixar de honrar a sua Mãe amantíssima logo depois do Eterno Pai. E podendo ele adorná-la com tamanha honra, preservando-a da corrupção do sepulcro, deve crer-se que realmente o fez. 39. E convém sobretudo ter em vista que, já a partir do século II, os santos Padres apresentam a virgem Maria como nova Eva, sujeita sim, mas intimamente unida ao novo Adão na luta contra o inimigo infernal. E essa luta, como já se indicava no Protoevangelho, acabaria com a vitória completa sobre o pecado e sobre a morte, que sempre se encontram unidas nos escritos do apóstolo das gentes (cf. Rm 5; 6; lCor 15,21-26; 54-57). Assim como a ressurreição gloriosa de Cristo constituiu parte essencial e último troféu desta vitória, assim também a vitória de Maria santíssima, comum com a do seu Filho, devia terminar pela glorificação do seu corpo virginal. Pois, como diz ainda o apóstolo, "quando... este corpo mortal se revestir da imortalidade, então se cumprirá o que está escrito: a morte foi absorvida na vitória" (1Cor 15,14). 40. Deste modo, a augustíssima Mãe de Deus, associada a Jesus Cristo de modo insondável desde toda a eternidade "com um único decreto" (30) de predestinação, imaculada na sua concepção, sempre virgem, na sua maternidade divina, generosa companheira do divino Redentor que obteve triunfo completo sobre o pecado e suas conseqüências, alcançou por fim, como suprema coroa dos seus privilégios, que fosse preservada da corrupção do sepulcro, e que, à semelhança do seu divino Filho, vencida a morte, fosse levada em corpo e alma ao céu, onde refulge como Rainha à direita do seu Filho, Rei imortal dos séculos (cf. 1Tm 1,17). Definição solene do dogma 44. "Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro

S. Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria.


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e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial". 45. Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica. 46. Para que chegue ao conhecimento de toda a Igreja esta nossa definição da assunção corpórea da virgem Maria ao céu, queremos que se conservem esta carta para perpétua memória; mandamos também que, aos seus transuntos ou cópias, mesmo impressas, desde que sejam subscritas pela mão de algum notário público, e munidas com o selo de alguma pessoa constituída em dignidade eclesiástica, se lhes dê o mesmo crédito que à presente, se fosse apresentada e mostrada. 47. A ninguém, pois, seja lícito infringir esta nossa declaração, proclamação e definição, ou temerariamente opor-se-lhe e contrariá-la. Se alguém presumir intentá-lo, saiba que incorre na indignação de Deus onipotente e dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo. Dado em Roma, junto de São Pedro, no ano do jubileu maior, de 1950, no dia 1 ° de novembro, festa de todos os santos, no ano XII do nosso pontificado. Eu PIO, Bispo da Igreja Católica assim definindo, subscrevi. -------------------------------------------------------Notas

l'Assomption.; 27. S. Afonso Maria de Ligório, As glórias de Maria, parte II, disc. 1.; 28. S. Pedro Canísio, De Maria Virgine.; 29. E Suárez, In tertiam partem D. Thomae, q. 27, art. 2, disp. 3, sect. 5, n. 31.; 30. Bula Ineffabilis Deus, l.c, p. 599.

6. Carta Encíclica Mediator Dei, AAS 39( 1947), p. 541.; 7. Sacramentário gregoriano.; 8. Menaei totius anni..; 9. Liber Pontificalis.; 10. Ibid.; 11. Responsa Nicolai Papae 1 ad Consulta Bulgarorum, 13 nov. 866.; 15. Cf. S. João Damasc., Encomium in Dormitionem Dei Genetricis semperque Virginis Mariae, hom. II, 2, 11; Encomium in Dormitionem... [atribuído a S. Modesto de Jerusalém].; 16. Amadeu de Lausana, De Beatae Virginis obitu, Assumptione in Caelum, exaltatione ad Filii dexteram. ; 17. S. Antônio de Pádua, Sermones dominicales et in solemnitatibus. In Assumptione S. Mariae Virginis Sermo.; 18. S. Alberto Magno, Mariale sive quaestiones super Evang. "Missus est", q. 132.; 19. Idem, Sermones de Sanctis, sermo XV: In Annuntiatione B. Mariae; cf. também Mariale, q.132.; 20. Cf. Summa Theol. III, q. 27, a. 1. c.; ibid. q. 83, a. 5 ad 8; Expositio salutationis angelicae; In symb. Apostolorum expositio, art. 5; in IV Sent. D. 12, q. l, art. 3, sol. 3; D. 43, q. l, art. 3, sol. I e 2.; 21. Cf. S. Boaventura, De Nativitate B. Mariae Virginis, sermo 5.; 22. S. Boaventura, De Assumptione B. Mariae Virginis, sermo 1.; 23. S. Bernardino de Sena, In Assumptione B. M. Virginis, sermo 2.; 24. Idem, l.c.; 25. S. Roberto Belarmino, Conciones habitae Lovanii, concio 40: De Assumptione B. Mariae Virginis.; 26. Oeuvres de S. François de Sales, Sermon autographe pour la fête de

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S. Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria.


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CAPÍTULO 7: A VIRGEM MARIA MEDIANEIRA DE TODAS AS GRAÇAS 1. INTRODUÇÃO

C

hamamos mediador geralmente aquela pessoa que se interpõe entre duas pessoas a fim de uni-las quando se trata de fazer uma reconciliação. Para cumprir suas funções, o mediador deve ser aceito pelas duas pessoas a unir; quanto mais o mediador se aproximar delas, mais sua mediação será fácil. Na ordem sobrenatural as duas pessoas a unir são Deus e o homem que o pecado tinha separado. O ofício de mediador sobrenatural deverá ser dois: 1. primeiramente de merecer à humanidade em geral, a graça do perdão e a do pecado na participação à vida divina; 2. aplicar estas graças a cada homem em particular. Jesus, enquanto homem, é mediador perfeito entre Deus e os homens, estando não somente próximo de Deus e do homem, mas estando hipostaticamente unido a Deus e constituído por Ele chefe espiritual do gênero humano. Ele, só, é um mediador perfeito, pois que só Ele podia merecer com toda justiça, nossa reconciliação com Deus e as graças que ia dar o Deus reconciliado. Ao lado de Jesus os fiéis atribuem à Maria uma certa função mediadora. Mãe de Deus e mãe dos homens, ela também parece indicada para servir de elo entre Deus e os homens. Mas sua mediação, longe de tirar o que quer que seja de Jesus, é ao contrário, uma conseqüência e como que uma dilatação. Ela se exerce em união com Cristo, do qual ela tira toda eficácia. Como a de Jesus, a mediação de Maria é dupla: 1. Com o Cristo: Maria contribui para nos resgatar, donde seu título de co-Redentora[40]; 2. E com Cristo: ela obtém todas as graças aos homens; é a sua função de distribuidora de graças. Diz-nos São Tomás, ao falar da mediação do Salvador: ?Corresponde ao ofício de mediador entre Deus e os homens, o uni-los?. Isto significa que o mediador deve oferecer a Deus as orações dos homens e principalmente o sacrifício, ato principal da virtude da religião, e deve também distribuir aos homens os dons de Deus que santificam: a luz divina e a graça.

Existe, pois, uma dupla mediação, uma ascendente em forma de oração e sacrifício, outra descendente pela distribuição dos dons divinos aos homens. Este ofício de mediador não pertence com inteira perfeição, senão a Jesus, o único que nos pode reconciliar com Deus oferecendo-lhe, por toda a humanidade, um sacrifício de valor infinito, o da cruz que se perpetua substancialmente na missa. “Mas nada impede-nos’ diz São Tomás’ que existam entre Deus e homens, abaixo de Cristo, outros mediadores, secundários, que cooperam em união com Ele de uma maneira dispositiva ou ministerial, isto é, que disponham aos homens para receber a influência do mediador principal ou que a transmitam, mas sempre em virtude e sob a dependência dos méritos de Cristo”. Maria, em forma subordinada e dependendo dos méritos de Cristo, é medianeira universal para todos os homens desde a vinda de Jesus, e para a obtenção e distribuição de todas as graças, em geral bem como em particular. Não o é, em qualidade de ministro, senão como associada à obra redentora de seu Filho, conforme diz Sto. Alberto Magno. Desde que Nossa Senhora entrou na glória do céu, está cooperando em que sejam aplicadas aos homens as graças da redenção. Ela participa na difusão das graças por meio de sua intercessão maternal. Todas, absolutamente todas as graças que recebemos, é pela mediação da Mãe, mesmo aquelas que não são pedidas através dela. Esse é o ensinamento da Igreja. Ela é nossa mãe[41] e a Igreja antiga já ensinava isso. Orígenes diz que o cristão perfeito tem a virgem Maria por mãe. A mediação universal de Maria está em que ela cooperou na Encarnação, na redenção[42] e também por sua relação com a Igreja, da qual ela é o modelo perfeito. A prova de que ela é nossa advogada, nossa intercessora, está nos ensinos da Igreja que é corroborada pelos milhões de graças alcançadas pelos fiéis católicos, que a Ela recorrem diariamente. Se Maria fosse uma deusa estranha, como afirmam os hereges, receberiam os fiéis graças, as quais sabemos

S. Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria.


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que provêm do único Deus, mesmo após Ele ter dito que não há outro senão Ele? Por Francisco de Almeida Araújo FONTE: http://www.veritatis.com.br/article/2039 2. MARIA, MEDIANEIRA TODAS AS GRAÇAS

DE

Alguns acham exagero dizer que Nossa Senhora é a medianeira de todas as graças de Deus; mas isto é afirmado por grandes santos e doutores da Igreja, como mostramos abaixo. São Bernardo, doutor a Igreja, falecido em 1153, é autor da célebre sentença: “Deus quis que recebamos tudo por Maria” (citado em Valle, Pe. Inácio. “Vamos todos a Maria Medianeira”, Ed. Paulinas. 4ª ed., São Paulo, 1953, p. 191 - VtMM, p. 69). S. Luiz de Montfort afirma:“Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria. Esse grande Deus tem um tesouro, um depósito riquíssimo, onde encerrou tudo que há de belo, brilhante, raro e precioso, até seu próprio Filho; e este tesouro imenso é Maria, que os anjos chamam tesouro do Senhor, e de cuja plenitude os homens se enriqueceram.” (Tratado da Verdadeira Devoção à Virgem Santíssima, n. 23-25 - TVD). Talvez se possa achar algum exagero nessas palavras do santo, pelo fato de ser dito que “nenhum” dom é concedido aos homens sem que o seja pelas mãos de Maria. Contudo, se examinarmos com a devida atenção a vida de Jesus, veremos que foi por Maria que Ele quis agir em muitas situações. Por Maria Ele se encarnou; pela palavra de Maria santificou São João Batista, Seu precursor, no seio de Isabel. Foi por Maria que Ele, nas núpcias de Caná (Jo 2), mudou “seiscentos” litros de água em vinho da melhor qualidade, Seu primeiro milagre. Se a maior de todas as graças que recebemos de Deus Pai, Jesus Cristo, veio a nós por meio de Maria, como então todas as outras graças menores chegariam a nós, senão por ela? É claro que Deus é o Senhor absoluto de todas as graças. E Maria não é mais que uma pura criatura, e tudo que obtém recebe de Deus gratuitamente. Contudo, mais do que qualquer outra criatura na terra ela honrou e amou a Deus, sendo escolhida para ser Mãe de Seu Filho.Santo Afonso de Ligório afirma:“Deus quer que pelas mãos de Maria nos cheguem

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todas as graças… A ninguém isso pareça contrário à sã teologia. Pois Santo Agostinho, autor dessa proposição, estabelece como sentença, geralmente aceita, que Maria tem cooperado por sua caridade para o nascimento espiritual de todos os membros da Igreja” (Glórias de Maria, p. 15). Santo Afonso ainda explica: “Há quem ache ousada a grande confiança no patrocínio da Virgem e queira repreender-nos… Mas, como ensina o ‘Doutor Angélico’ (S. Tomás), nada se opõe a que também outros se designem medianeiros entre Deus e os homens, enquanto como ministros e instrumentos cooperam na união dos homens com Deus, como os anjos e santos do céu, os profetas e sacerdotes de ambos os testemunhos. Esta dignidade gloriosa cabe em ponto mais elevado à Santíssima Virgem. Pois não se pode imaginar uma só personalidade que operasse na reconciliação dos homens com Deus como Maria, ou pudesse jamais operar como ela… Foi dela que nasceu Jesus, e Ela é verdadeiramente Sua Mãe, e por essa causa digna e legítima Medianeira do Medianeiro” (VtMM, pp. 32 e 33). O Papa Leão XIII, na encíclica “Octobri mense”, de 22 de setembro de 1891 sobre a Anunciação, diz com base em S. Tomás:“No dia da Anunciação era esperado o consentimento da Santíssima Virgem em lugar de toda a natureza humana. Donde se pode, com não menos verdade e exatidão, afirmar que nada desses tesouros de toda a graça que o Senhor nos trouxe - pois que a verdade e a graça vêm de Jesus Cristo (Jo 1,17) - nos foi comunicado senão por Maria. E deste modo, como ninguém pode ir ao Pai senão pelo Filho, assim também, quase de igual modo, ninguém pode ir a Jesus Cristo senão por Sua Mãe” (VtMM, p. 47). Também o Concílio Vaticano II nos ensina que “um só é o nosso Mediador… Todavia a materna missão de Maria a favor dos homens de modo algum obscurece nem diminui essa mediação única de Cristo, mas até ostenta sua potência, pois todo o salutar influxo da bemaventurada Virgem a favor dos homens não se origina de alguma necessidade interna mas do divino beneplácito. Flui dos superabundantes méritos de Cristo, repousa em Sua mediação, dela depende inteiramente e dela aufere toda a força. De modo algum impede, mas até favorece a união imediata dos fiéis com Cristo” (LG n. 60).

S. Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria.


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E o mesmo Concílio fala com toda sua autoridade:“A Igreja não hesita em proclamar esse múnus subordinado de Maria. Pois sempre de novo o experimenta e recomenda-o aos fiéis para que, encorajados por essa maternal proteção, mais intimamente adiram ao Mediador e Salvador” (LG n. 62). Muitos santos falaram dessa mediação de Maria junto a Deus. São Bernardo (1090-1153) assim diz:“Tal é a vontade de Deus que quis que tenhamos tudo por Maria. Se, portanto, temos alguma esperança, alguma graça, algum dom salutar, saibamos que isto nos vem por suas mãos”. São Bernardino de Sena:“Todos os dons virtudes e graças do Espírito Santo são distribuídos pelas mãos de Maria, a quem ela quer, quando quer, como quer, e quanto quer” (TVD, p. 137). São Bernardo:“Eras indigno de receber as graças divinas: por isso foram dadas a Maria a fim de que por ela recebesses tudo o que terias” (idem). Santo Efrém (306-373), doutor da Igreja, já no século IV afirmava:“Minha Santíssima Senhora, Santa Mãe de Deus, cheia de graças e favores divinos, Distribuidora de todos os bens! Vós sois, depois da Santíssima Trindade, a Soberana de todos; depois do Medianeiro, a Medianeira do Universo, Ponte do mundo inteiro para o céu. Olhai benigna para minha fé e meu desejo que me foram inspirados por Deus” (VtMM, p. 97). São Boaventura (1218-1274), bispo e doutor da Igreja:“Deus depositou a plenitude de todo o bem em Maria, para que nisto conhecêssemos que tudo que temos de esperança, graça e salvação, dela deriva até nós” (VtMM, p. 101). Santo Alberto Magno (1206-1280), doutor da Igreja e professor de São Tomás:“É anunciada à Santíssima Virgem tal plenitude de graça, que se tornou por isso a fonte e o canal de transmissão de toda a graça a todo o gênero humano” (idem). São Pedro Canísio (1521-1597), doutor da Igreja:“O Filho atenderá Sua Mãe e o eterno Pai ouvirá Seu próprio Filho: eis o fundamento de toda nossa esperança” (idem). São Roberto Belarmino (1542-1621), bispo e doutor da Igreja:“Todos os dons, todas as graças espirituais que por Cristo, como cabeça, descem para o corpo, passam por Maria que é como o colo desse corpo místico” (VtMM, p. 102).

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São Luiz destaca outra razão importantíssima da intercessão de Maria. Diz ele:“Reconhecemo-nos indignos e incapazes de, por nós mesmos, aproximar-nos de Sua Majestade infinita; e por isso servimo-nos da intercessão da Santíssima Virgem. Além disso é uma prática de grande humildade, virtude que Deus ama acima de todas as outras. Uma alma que se eleva a si mesma rebaixa a Deus. Se vos rebaixais crendo-vos indignos de aparecer diante d’Ele e de vos aproximar d’Ele, Ele desce, rebaixa-se para vir até vós, para comprazer-se em vós, e para vos elevar.” (Tvd, n. 142). Santo Agostinho afirma que as orações de Maria junto a Deus têm mais poder junto da Majestade divina que as preces e intercessão de todos os anjos e santos do céu e da terra (Tvd, n. 27). Maria Santíssima é de fato a Medianeira de Todas as Graças como inúmeras vezes afirmou o Papa Pio XI:“É a Rainha de todas as graças, a Medianeira de Todas as Graças” (VtMM, p. 68). Durante o processo de canonização de Joana D’Arc, a Congregação dos Ritos hesitou, durante anos, em atribuir à santa um dos milagres propostos para sua canonização, por ele ter acontecido em Lourdes. No entanto, o Papa Bento XV assim disse:“Se em todos os prodígios convém reconhecer a Mediação de Maria, pela qual, segundo vontade divina, toda a graça e todo o benefício nos vêm, não se pode negar que esta Mediação se manifestou, de modo muito particular, num dos milagres precitados. Entendemos que o Senhor assim o permitiu, para nos sugerir que nunca devemos deixar de pensar em Maria, ainda mesmo quando um milagre pareça dever atribuir-se à intercessão de um bem-aventurado ou santo. Até quando Deus se compraz em glorificar seus santos, é preciso supor sempre a intercessão daquela que os Padres chamam de ‘Medianeira dos medianeiros” - Mediatrix mediatorum omnium” (VtMM, p. 69). Esta mesma doutrina foi confirmada pelo Papa Pio XI na Encíclica sobre o Santo Rosário, de 29 de setembro de 1937:“Convidamos a todos os fiéis para conosco agradecerem a Deus por termos recuperado a saúde. Como em outra parte já havemos dito, atribuímos essa graça à intercessão de Santa Teresinha do Menino Jesus, mas sabemos também que tudo quanto nos vem de Deus, o recebemos das mãos de Maria Santíssima” (VtMM, p. 70).

S. Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria.


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Fica assim bastante claro que mesmo as graças que recebemos de Deus sem recorrermos a Maria nos são dadas também por meio de suas mãos. Leão XIII, na mesma Encíclica “Octobri mense”, de 22 de setembro de 1891, faz suas as palavras de São Bernardo: “Toda a graça concedida ao mundo segue esta tríplice gradação: de Deus a Jesus Cristo, de Jesus Cristo à Santíssima Virgem, da Santíssima Virgem aos homens: tal é a ordem maravilhosa de sua disposição” (VtMM, p. 74).

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Do livro – A mulher do Apocalipse Prof. Felipe Aquino – Arquivado em: Nossa Senhora — Prof. Felipe Aquino at 12:16 am on quarta-feira, novembro 14, 2007. www.cleofas.com.br

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CONCLUSÃO

V

imos na presente apostila o quanto Maria é importante para a nossa salvação, ela co-opera na obra de redenção da humanidade, pois Deus quis que ela (Maria) desse o seu sim (Fiat) a Ele. Sem o qual não haveria salvação para nós. Além disso, os dogmas desempenham um papel importantíssimo, pois através deles a igreja ilumina o nosso caminho dizendo-nos por onde devemos andar. Mas, ao passo que, na Santíssima Virgem, a Igreja alcançou já aquela perfeição sem mancha nem ruga que lhe é própria (cfr. Ef. 5,27), os fiéis ainda têm de trabalhar por vencer o pecado e crescer na santidade; e por isso levantam os olhos para Maria, que brilha como modelo de virtudes sobre toda a família dos eleitos. A Igreja, meditando piedosamente na Virgem, e contemplando-a à luz do Verbo feito homem, penetra mais profundamente, cheia de respeito, no insondável mistério da Encarnação, e mais e mais se conforma com o seu Esposo. Pois Maria, que entrou intimamente na história da salvação, e, por assim dizer, reúne em si e reflete os imperativos mais altos da nossa fé, ao ser exaltada e venerada, atrai os fiéis ao Filho, ao Seu sacrifício e ao amor do Pai. Por sua parte, a Igreja, procurando a glória de Cristo, torna-se mais semelhante àquela que é seu tipo e sublime figura, progredindo continuamente na fé, na esperança e na caridade, e buscando e fazendo em tudo a vontade divina. Daqui vem igualmente que, na sua ação apostólica, a Igreja olha com razão para aquela que gerou a Cristo, o qual foi concebido por ação do Espírito Santo e nasceu da Virgem precisamente para nascer e crescer também no coração dos fiéis, por meio da Igreja. E, na sua vida, deu a Virgem exemplo daquele afeto maternal de que devem estar animados todos quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja tem de regenerar os homens. (LG 65) Exaltada por graça do Senhor e colocada, logo a seguir a seu Filho, acima de todos os anjos e homens, Maria que, como mãe santíssima de Deus, tomou parte nos mistérios de Cristo, é com razão venerada pela Igreja com culto especial. E, na verdade, a Santíssima Virgem é, desde os tempos mais antigos, honrada com o título de «Mãe de Deus», e sob

a sua proteção se acolhem os fiéis, em todos os perigos e necessidades (191). Foi sobretudo a partir do Concílio do Éfeso que o culto do Povo de Deus para com Maria cresceu admiravelmente, na veneração e no amor, na invocação e na imitação, segundo as suas proféticas palavras: «Todas as gerações me proclamarão bem-aventurada, porque realizou em mim grandes coisas Aquele que é poderoso» (Luc.1,48). Este culto, tal como sempre existiu na Igreja, embora inteiramente singular, difere essencialmente do culto de adoração, que se presta por igual ao Verbo encarnado, ao Pai e ao Espírito Santo, e favorece-o poderosamente. Na verdade, as várias formas de piedade para com a Mãe de Deus, aprovadas pela Igreja, dentro dos limites de sã e reta doutrina, segundo os diversos tempos e lugares e de acordo com a índole e modo de ser dos fiéis, têm a virtude de fazer com que, honrando a mãe, melhor se conheça, ame e gloria fique o Filho, por quem tudo existe (cfr. Col. 1, 15-16) e no qual «aprouve a Deus que residisse toda a plenitude» (Col. 1,19), e também melhor se cumpram os seus mandamentos. (LG 66) Entretanto, a Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início da Igreja que se há de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal de esperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o dia do Senhor (cfr. 2 Ped. 3,10).(LG 68).

S. Luiz de Montfort afirma: “Deus Pai ajuntou todas as águas e denominou-as mar; reuniu todas as graças e denominou-as Maria.


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