Revista Caras e Leilões n69

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numisma Revista semestral nº 69 • €3 • MAIO 2012

CARAS&LEILÕES

Colecção Algarve PARTE I

O Português de D. Manuel I Raridades de 2012 NUMISMA caras & leilões

Próximo Leilão dia 5 de Julho de 2012 – Tiara Park Atlantic Hotel

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numisma

CARAS&LEILÕES

Director Javier Sáez Salgado Director Adjunto Jaime Sáez Salgado Chefe de Redacção Ana Miranda Colaboradores José Rodrigues Marinho, Hermínio Santos, José A. Godinho Miranda, Blanca Ramos Jarque, Guilherme Abreu Loureiro Direcção de Arte Ana Miranda Fotografia Manuel Farinha Assistente de Produção Raquel Moura Secretariado Cláudia Leote Redacção e Administração Av. da Igreja, 63 C 1700-235 Lisboa Tel.: 217 931 838 / 217 932 194 Fax: 217 941 814 numismaonline.com info@numismaonline.com Impressão Palmigráfica – Artes Gráficas, Lda.

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NUMISMA recebe para o Leilão a realizar no Outono de 2012 moedas raras de ouro, prata e cobre


EDITORIAL

A exposição promete. Tem um título sugestivo: «Signs of Inflation». Mostra a história da inflação desde o século VII antes de Cristo (A.C.) até aos dias de hoje. Inclui quase 200 objectos monetários, desde búzios e notas de banco, até moedas de ouro. Explica o que é a inflação e a razão por que, nesses períodos, algumas moedas e notas cunhadas adquirem um grande simbolismo e significado. Um artigo publicado na revista Newsweek chama-lhe «The Value of Worthless Money» (O valor do dinheiro sem valor). A exposição é organizada pela American Numismatic Society e é possível visitá-la em Nova Iorque, no The Federal Reserve Bank of New York, através de marcação prévia. Certamente que ali estarão muitas raridades e curiosidades da economia mundial, sendo as moedas um símbolo incontornável de prosperidade ou dificuldade. Esse simbolismo está presente na moeda de ouro que a Numisma destaca no seu próximo leilão: o Português. Para os numismatas ela dispensa apresentações. Para os investidores é, mais uma vez, uma oportunidade para apostar no ouro e num valor seguro. Para a História de Portugal, o Português é um dos expoentes máximos do Império. Para a Numisma é mais uma raridade. Desde a sua fundação. em 1976, que a Numisma se assumiu como uma ‘casa de raridades’. O caminho para o sucesso começou a ser percorrido há mais de 20 anos quando se realizou o primeiro leilão. Desde a moeda romana até à moeda actual a Numisma sempre se preocupou com a qualidade e raridade dos exemplares em leilão, empenhando-se, com o máximo rigor, na sua classificação. Muitas das moedas que ao longo dos anos foram apresentadas em leilão, poderiam, certamente, figurar numa exposição como a da American Numismatic Society. Javier Sáez Salgado Informações sobre a exposição: http://numismatics.org/Exhibits/SignsofInflation

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DESTAQUE

A moeda do

senhor do mundo Por HERMÍNIO SANTOS

Há quase 600 anos Portugal começou a fazer História. A saga começou em 1415, em Ceuta. Expandiu-se em África e o seu primeiro auge foi atingido com as viagens de Vasco da Gama para a Índia. O segundo momento chave foi a descoberta do Brasil que consolidou o estatuto de potência marítima. Portugal tinha a fama e o proveito dos seus feitos alémmar, um rei que se intitulava senhor do mundo e naus a promover o comércio entre a Europa e os continentes africano e asiático. Faltava-lhe um símbolo eterno que projectasse esse poder. Esse símbolo foi o Português, provavelmente a primeira moeda global de todos os tempos. Circulou na Europa e no Oriente e era aceite universalmente como moeda de pagamento. Foi cunhada com o ouro vindo de África, Vasco da Gama levou-a para a Índia e as cidades da liga hanseática, no século XVI, inspiraram-se nela para bater uma moeda com a cruz de Cristo. O Português foi a moeda que simbolizou o poder de um reino e de um rei: D. Manuel I, que reinou entre 25 de Outubro de 1495 e 13 de Dezembro de 1521. 4

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Sobre a moeda o Português

, escreveu Damião de Góis: “Mandou lavrar no ano de 1499 os Portugueses de ouro, de 10 cruzados de valor cada um de 24 quilates, que era a mesma lei dos cruzados, os quais Portugueses tinham de uma parte por cunhos a Cruz da Ordem de Cristo, e um letreiro que dizia, IN HOC SIGNO VINCES, e da outra parte tinham o escudo das armas do Reino com uma coroa, e dois letreiros, um na garfilla de fora ao redor que dizia PRIMUS EMANUEL REX PORTUGALIE ALGARBIORUM CITRA VLA­RA IN AFRICA DOMINUS GUINEAE, e outro letreiro ao redor das armas que dizia, CONQUISTA, NAVEGAÇÃO, COMÉRCIO, ETHIOPIAE, ARABI­AE, PERSIAE, INDIAE.”


A moeda do senhor do mundo

O Português foi a moeda que simbolizou o poder de um reino e de um rei: D. Manuel I Como recorda Teixeira de Aragão, o monarca “juntou aos títulos usados pelos seus antecessores: Senhor da conquista, navegação, commercio, da Ethiopia, Arabia, Persia e India”. O Português é considerada a moeda mais representativa do expansionismo nacional. Apresenta, no anverso, em duas legendas envolvendo o escudo coroado, Manuel I, Rei de Portugal e dos Algarves, daquém e além mar em África, Senhor da Guiné, da conquista e navegação e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia. No reverso, ao centro, a Cruz de Cristo e na orla, a legenda: Com Este Sinal Vencerás. A nível numismático apresenta vários elementos originais. Por exemplo, foi a primeira onde surgiu a Cruz da Ordem de Cristo e D. Manuel I inscreveu os seus novos títulos. Por outro lado, foi

uma moeda de grande significado económico, muito apreciada pelo seu peso e toque. Durante cerca de 70 anos foi a maior e mais pesada moeda de ouro cunhada por um país europeu - valia 10 cruzados, ou seja 3.900 reais e pesava cerca de 35,5 gramas. As primeiras cunhagens do Português terão sido feitas entre 1495 e 1497. Um episódio passado com Vasco da Gama na Índia reforça esta teoria. Em 1498, o navegador mandou buscar à sua nau dez moedas de ouro para apresentar a um rei indiano dizendo que se chamavam Portugueses e que cada uma valia 10 dos pequenos cruzados que aquele rei tinha visto nas mãos dos pilotos. A moeda terá sido batida em grandes quantidades já que servia de oferta para as embaixadas e também para assinalar algumas cerimónias especiais.

Os exemplares desta moeda que se conhecem distinguem-se pelo seu estilo sóbrio, tamanho e peso, tendo sido batidos num ouro quase puro. Uma das melhores provas é o bem conservado Português que a Numisma levará à praça no seu próximo leilão. Outras moedas de ouro de D. Manuel I, os Cruzados, também prometem ser “estrelas” principais no mesmo leilão. Um deles, o do Porto, é extremamente raro. O facto de ser uma moeda muito apreciada no estrangeiro ditou o fim dos Portugueses, no reinado de D. João III. Segundo uma publicação do Banco de Portugal, da autoria de Maria Cristina Mota Gomes, já em 1525, nas Cortes de Torres Novas, os procuradores dos concelhos pediram a redução do peso e título das moedas de ouro. A razão era simples: os Portugueses eram “desviados” para o comércio internacional, NUMISMA caras & leilões

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DESTAQUE A MOEDA DO SENHOR DO MUNDO

“constituindo causa de grande perda para o reino que em retorno recebia numerário de alto valor nominal e baixo valor intrínseco”. A diminuição das entradas de ouro da Mina na Casa da Moeda de Lisboa “tornou ainda mais urgente que se tomassem medidas para evitar a saída de moedas de ouro do País”. Uma lei de Novembro de 1538 proibiu a cunhagem dos Portugueses, embora se tenham registado três excepções a esta proibição. O rei D. Manuel I aproveitou da melhor maneira todo o trabalho feito por monarcas anteriores, principalmente D. João II, para fazer de Portugal uma potência marítima. Vasco da Gama, com a descoberta do caminho marítimo para a Índia e Pedro Álvares Cabral, que descobriu o Brasil, são os exemplos maiores de uma epopeia que ficou para sempre gravada em monumentos como o 6

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O facto de ser uma moeda muito apreciada no estrangeiro ditou o fim dos Portugueses, no reinado de D. João III

Mosteiro dos Jerónimos e a Torre de Belém. Criou casas da moeda nos territórios de Goa, Malaca e Cochim e durante o seu reinado as finanças do reino iniciaram um período de prosperidade que duraria até ao início do século XVII. De acordo com a História de Portugal coordenada por Rui Ramos, “em 1506 e em 1518-19 as receitas de ouro da Mina, das especiarias asiáticas, do pau-brasil e das ilhas do Atlântico, entre outras, representavam cerca de dois terços das receitas régias, superando em muito as rendas fornecidas pelo próprio reino”. Talvez por não necessitar de fundos do reino é que o monarca deixou praticamente de convocar Cortes – um dos seus objectivos era solicitar mais dinheiro para a Coroa – depois de, no início do seu reinado, as ter convocado várias vezes para discutir problemas de sucessão.


CARAS&LEILÕES

Os seis “magníficos” da Numisma Leilões (em cima) e Cristina de Sousa Moraes muito interessada na leitura de um catálogo (à direita)

José Carlos Silva e José Marinho a sorrir para o leiloeiro

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LEILÕES NUMISMA

Das terras de Friume à Peça de D. João VI Bastaram três leilões à Numisma para apresentar várias pérolas da numismática portuguesa, desde os tempos dos Romanos até aos últimos monarcas que cunharam ouro

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ntre Outubro do ano passado e Março deste ano foram a leilão 1497 lotes de moedas, medalhas e uma Cruzeta de Angola. O que atingiu o preço mais elevado foi precisamente o tesouro monetário da Casa de Friume, apresentado no leilão 91, realizado em Março deste ano, constituído por cerca de 400 Denários romanos e que foi à praça com um preço base de 25.000 euros, tendo sido vendido por 51.000. Segundo Mário Ramires, num texto publicado em 1954 sobre as moedas encontradas em Friume, o “achado verificou-se em termos de vila de Ribeira de Pena, numa propriedade do Exmo. Senhor José Augusto Dias, de Sto. Aleixo, situada no Casal, lugar de Friume, freguesia de Salvador”. Uma outra moeda encontrada em Friume, um Áureo romano de ouro, foi à praça no leilão 90, ocorrido em Dezembro de 2011, com um preço inicial de 15.000 euros. Foi vendido por 18.000.

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A segunda moeda mais valiosa dos últimos três leilões da Numisma foi também em Março. Tratavase de um Tremissis Nandolas cunhado na região onde hoje se situa Gondomar, e um belo exemplar das moedas dos Visigodos que circularam em Portugal, onde este povo chegou a ter 15 casas de cunho. O seu preço de catálogo era 25.000 e foi arrematado por 28.000. O leilão incluiu ainda mais três moedas de ouro do tempo dos Visigodos e diversas raridades do tempo da monarquia portuguesa. Em Dezembro do ano passado, a Numisma vendeu duas das suas moedas mais valiosas do semestre: um Terço de Soldo Suevo e um Morabitino, de D. Sancho I (1185-1211), a primeira moeda de ouro portuguesa. Foi vendida no leilão por 17.000 euros. A moeda Sueva duplicou o seu valor inicial, tendo sido vendida por 20.000 euros.

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Mas o leilão que gerou mais vendas com valores acima dos 10.000 euros foi o de Outubro de 2011. A que merece maior destaque é o Triente, moeda cunhada pelo rei visigodo Hermenegildo, que reinou entre 579 e 584. Foi à praça com preço inicial de 15.000 euros e atingiu os 19.000. A segunda moeda mais cara do leilão foi uma Peça 1820, do reinado de D. João VI (1816-1826) que fez 14.500 euros – tinha um preço inicial de 10.000 euros. Tal como aconteceu em outros leilões da Numisma, os Dobrões de D. João V também entraram para o top ten dos três leilões realizados entre Outubro e Março. Foi no leilão 89 que dois Dobrões 1724 M atingiram os 11.000 e os 12.000 euros. O seu valor base foi 9.000 e 10.000 euros, respectivamente.

Os

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últimos Leilões

Leilão 91

Moeda de Ouro de Portugal e Brasil – Colecção Cascais e Carvalhal II 21 e 22 Março 2012 Lotes – 395

Leilão 90

Importante Colecção de Moedas de Ouro de Portugal e Brasil – Colecção Carvalhal 14 e 15 Dezembro 2011 Lotes – 474

Leilão 89

Colecção Arq. Henrique de Castro Mendia e Arcos de Valdevez II 12 e 13 Outubro 2011 Lotes – 628

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José Godinho Miranda rodeado de bons amigos (em cima) José Manuel Henriques e seu Pai, José Custódio, atentos ao desenrolar do Leilão (à direita)

Javier Salgado a conferenciar com Manuel de Mello

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PUBLICAÇÕES

Arte Monetária em Livro

Saez Salgado, Javier; Godinho Miranda, José António. Colecção Banco Espírito Santo (Colecção Carlos Marques da Costa) Banco Espírito Santo, Lisboa 2008 Por Miquel Crusafont i Sabater*

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Sr. Saez e o amigo e consócio Godinho Miranda foram responsáveis pela apresentação desta monumental Colecção Portuguesa. Os autores tiveram a sorte de que o Banco editor e dono da Colecção não tenha poupado meios do qual resultou um livro esplêndido com excelentes reproduções a cores das moedas e um cuidadoso design gráfico que dá ainda mais brilho à obra. Certamente resulta agradável o facto de poder contemplar as moedas com todo o detalhe e com as suas tonalidades reais, acostumados como estamos ao facto de sempre ter que poupar nas publicações da nossa especialidade. Uma ampla

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bibliografia apoia a cuidadosa classificação do material. A obra cobre todos os períodos histórico monetário portugueses. Inicia-se com as moedas da Antiguidade de Baessoris, Balsa, Bora, Brutóbriga, Cilpes, Dipo, Ketovion, Ébora, Murtili, e Pax Júlia, estendendo-se imediatamente às moedas Suevas e Visigodas a uma representação das Muçulmanas e a um amplíssimo material Medieval e Moderno, com peças de grande importância e abundância de moedas de ouro. Não faltam as grandes raridades começando pelo Tornêz de Beatriz filha de Fernando I. Os reinados são começados por uma breve introdução histórica achando apenas em falta os pesos dos exemplares. De toda a forma depois de cada reinado faz-se um

inventário da correspondência das peças respectivas ao catálogo de referência de Alberto Gomes (2007), com o que se ultrapassa de certa forma esta falta de informação. A Colecção inclui também os territórios coloniais e recolhe igualmente temas complementares como sejam Ensaios Monetários, Contra-marcas, Jetons, Pesos Monetários e Papel Moeda, inclusive de particulares. Estes últimos temas resultam muito difíceis de documentar de forma que apenas este sector já justificava plenamente a obra. Não há dúvida que os editores bem se esforçaram sobretudo para produzir um livro belo onde poderemos desfrutar plenamente de todas as delícias da arte monetária.

* Professor Universitário


CARAS&LEILÕES

Jesus Vico e alguns ilustres coleccionadores preparam-se para o início do leilão (em cima) Fernando Rocha e Ana Paula Marques da Costa animados com as suas aquisições (à direita)

A especial atenção de Carlos Matos e o interesse de Cristiano Bierrenbach pelo IPad (em baixo à esquerda) Carla Mendes e Luis Rodeia com simpatia acedem às solicitações do fotógrafo (em baixo à direita)

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Próximo Leilão | 92 Importante Colecção de Moedas de Ouro de Portugal e Brasil Colecção Algarve – Parte I

CATÁLOGO EM DISTRIBUIÇÃO

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5 Julho 2012

Tiara Park Atlantic Hotel

Av. da Igreja, 63 C 1700-235 Lisboa Tel. 217 931 838 / 217 932 194 Fax. 217 941 814 numismaonline.com info@numismaonline.com NUMISMA caras & leil천es

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O Conselho Científico da NUMISMA subscreve a filosofia de Bento Morganti «Se não te agradar o estylo, e o methodo, que sigo, terás paciência, porque naõ posso saber o teu genio; mas se lendo encontrares alguns erros, (como pode suceder, que encontres) ficar-tehey em grande obrigação se delles me advertires, para que emendando-os fique o teu gosto mais satisfeito.» Bento Morganti, Nummismalogia, Lisboa, 1737, no Prólogo: «A Quem Ler»

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