Está revista foi impressa com papel reciclado, como uma pequena contribuição aos cuidados ambientais.
Ao povo Xokleng Laklãnõ e sua resistência.
Apresentação Muito antes da pacificação do não-índio (1914), havia uma grande coletividade entre o povo Laklãnõ (Xokleng). Eles caçavam, pescavam, colhiam e viviam em paz, todos em uma única aldeia aonde faziam suas festas e rituais. Para todos esses eventos os Xokleng elaboravam diversos utensílios e adereços nos quais empregavam penas de aves diversas, para enfeitar cocares e brincos, madeira e plantas nativas para produzir lanças, arcos e flechas. Outros utensílios eram confeccionados para serem utilizados em festas, nas guerras e mesmo para seu próprio uso cotidiano. Suas casas eram feitas com galhos e troncos de árvores e cobertas com palhas ou folhas de palmito. As mulheres confeccionavam mantas com fibra de urtiga brava para se cobrirem durante as noites de inverno. Viviam em harmonia em seu território. Após o contato com a cultura não indígena muitos desses costumes foram aos poucos sendo deixado de lado e hoje o que se percebe é que as gerações mais novas não estão mais aprendendo a confeccionar o artesanato e também não estão mais falando em sua língua materna, deixando assim, uma grande preocupação, principalmente por parte dos professores e anciãos do povo, que tentam encontrar ou criar uma metodologia para que essa tradição não se perca. Este projeto veio para reforçar essa luta da escola e dos anciãos do povo e ocorreu em um momento muito importante, pois proporcionou que especialistas em arte Laklãnõ (Xokleng) pudessem ministrar oficinas de confecção de artesanato para as crianças e jovens, além de promover momentos de contação de história ao redor do fogo. Contribuindo, dessa maneira, para o fortalecimento da cultura Xokleng.
De kághan jó Zug óg blé ẽ Vãnhkala jobág te ka, dén plul te óg vãjõblé nõ un gé ke mũ. Akle tóg te tanh kũ óg kagklo te gég kũ mẽ ko ké ke mũ. Vel óg kute mẽ dén kónã tẽ te mẽ ko ké ke mũ kũ óg ẽ nõ jó pil ki nõdẽ ké ke mũ. Nõ jã óg ãgglag gé ke mũ kũ óg zé dén tóg te kághan gé ke mũ, ẽ tõ tu kũ vãnhglén jé. Dén káki to óg mẽ vin gé ke mũ, ti u tẽ é. Zãnkó, nẽglãg ki vi jó, kalá, vyj blé do mẽ óg dén káki tóg te vin gé ke mũ. Kó lu to óg ẽ vãle te han gé ke kũ óg dékugluzéj, like tũ kũ détéj zéj to óg klẽ vin gé ke mũ. Tá te óg kutxó ti jé óg kul tõ vãze han gé ke mũ. Ẽ tõ zug óg jógzẽ mẽ jópalag te kũ óg ẽ tũ te mẽ tovanh ke mũ. Kũ ũn tóg te li jẽl te óg ẽ jug óg tõ dén kághan gé ke mũ te kághan ban tũ tẽ kũ vel óg vũ ẽ vẽ te ki vãjõblé vẽ ban tũ tẽ. Tóg ve kũ ãg txi blé zejópaló te óg vãjẽtũg gũ ẽ jáklé te han nõdẽ ẽ tõ ẽ jug óg jógzẽ te mẽ vãtxika mẽ káglẽn jé, ti mẽtũg tũ jé. Kũ ãg tõ dén han jó tóg te vũ ãg jákle te vãnhgõ han mũ líke ti jé nã jẽl te óg mõ nã ũn tõ dén txi mẽ kághan gé ke mũ óg gég kamũ kũ óg ki mẽ óg jópalag mũ. Vel óg dén txi, pẽ jãla, óg mõ kabén mũ.
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O Projeto “Arte e Cultura Xokleng” O projeto foi viabilizado pelo Museu do Índio/FUNAI e pela Coordenação Regional Litoral Sul da FUNAI, e pretendeu propiciar momentos de troca de experiências entre as gerações através da troca de técnicas de arte e artesanato e possibilitar um meio de valorização do conhecimento ancestral, tendo como conseqüência o fortalecimento da língua Xokleng.
Para isso, foram viabilizados especialistas xokleng, anciãos e anciãs que puderam repassar seus conhecimentos acerca das técnicas de artesanato Xokleng às gerações atuais. O Projeto desenvolvido mobilizou as oito aldeias por meio de ações e atividades em conjunto na Escola Laklãnõ /Aldeia Palmerinha e na Casa do Artesanato Coctá Camlém/ Aldeia Figueira. Proporcionando o aprendizado e a interação de saberes e fazeres entre os Xokleng de diferentes idades.
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Arte e Cultura Xokleng O Povo Laklãnõ -Xokleng A população Xokleng está localizada, em sua maioria, na terra indígena IbiramaLaklãnõ, dividida atualmente em oito aldeias e localizada nos municípios de José Boiteux, Vitor Meireles, Doutor Pedrinho e Itaiópolis, em Santa Catarina, sul do Brasil.
Pressionados pela invasão de seu território promovida pelo Estado brasileiro que financiara a colonização, inclusive com financiamento de bugreiros que caçavam índios, durante o século XIX, os Xokleng decidiram entrar em contato amistoso com os zug (brancos), no ano de 1914. Poucos anos depois de realizar o contato inicial com alguns funcionários do Serviço de Proteção ao Índio (SPI), passaram a viver aldeados na mesma região onde hoje se encontra a terra indígena. O primeiro antropólogo que esteve e estudou efetivamente o grupo na década de 1930, Jules Henry, relata que em função de epidemias de doenças advindas do convívio com os brancos (gripe, febre amarela, sarampo), a população Xokleng sofreu uma redução de aproximadamente dois terços. Note-se que quando optaram pelo contato, os indígenas já sofriam uma grande perda populacional, resultante dos conflitos exacerbados pela invasão de seu território. Do início do século XX até os dias de hoje, várias pessoas se interessaram em conviver e pesquisar entre os Xokleng. Na comunidade científica brasileira, Sílvio Coelho dos Santos desenvolveu pesquisas com o grupo a partir da década de 1960. Mais recentemente, Flavio Wiik e diversos acadêmicos de universidades de várias regiões do país vêm produzindo uma literatura cada vez mais vasta sobre o grupo(principalmente através de dissertações, sobre aspectos da “cultura tradicional” no que tange a organização social e política, de parentesco e da religiosidade. Na década de 1970 teve início à construção da barragem norte próximo aos limites da terra indígena, para auxiliar no controle das enchentes no Vale do Itajaí. A obra foi finalizada na década de 1990 e inundou a maior parte das terras agricultáveis, obrigando os Xokleng a saírem das margens do rio e a morarem nas encostas. 6
A história recente dos Xokleng é marcada por uma quantidade de reveses, a partir dos quais o grupo vem respondendo ativamente, buscando alternativas e soluções através de uma organização dinâmica de sua experiência, que tem como produto novas configurações sociais e culturais. Em 1992, por iniciativa do professor Xokleng bilíngüe Nanblá Gakran, as escolas da terra indígena acrescentaram o ensino da língua nativa em sua grade curricular. Um livro com mitos nos dois idiomas (Xokleng e português) foi produzido pelo professor, com a colaboração de outros professores indígenas, tendo o apoio da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) e Fundação Universidade Regional de Blumenau (FURB). Um pequeno dicionário Xoklengportuguês também foi elaborado com o mesmo objetivo: a “revitalização” da língua nativa. Contemporaneamente, as artisticidades (cantos, danças, adornos corporais, mitos) e modos do tempo do mato, ou, ainda do tempo dos antigos, como costumam chamar os próprios Xokleng, são equacionados com a “cultura tradicional”. Através de uma apropriação muito específica de alguns dos elementos desta “cultura tradicional”, os índios constroem um marco mito-temporal (a diferença relacional entre os índios do mato e os índios de fora do mato) que povoa toda sua cosmologia e organização social contemporânea. Atualmente existem aproximadamente 2.100 pessoas Xokleng, suas oito aldeias, cada qual com um cacicado, havendo também um Cacique Geral eleito por toda as comunidades. Vivem atualmente em uma área bastante reduzida e com poucas áreas para o plantio no fundo de um vale devido à barragem existente para contenção das cheias nas cidades do vale do Rio Itajaí. Tem como atividades de geração de renda e o auto-sustento a produção agrícola de alimentos, o plantio de árvores de reflorestamento (eucalipto), a criação de pequenos animais, a produção de artesanato e alguns se empregam no mercado e indústria local. Com o passar das últimas décadas algumas técnicas tradicionais de arte e artesanato Xokleng como a produção tecelã (mulheres) e a produção de bordunas (homens) foram deixadas de ser transmitidas para os mais novos. Conseqüentemente, os mais novos passaram a não valorizar a troca de experiências com os mais velhos, principalmente através dos momentos de contação de histórias ao lado do fogo.
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Confeccionando Artesanato Tradicional Laklãnõ (Xokleng) Nas oficinas que ocorreram durante três dias na Escola Indígena de Educação Básica Laklãno, localizada na aldeia Palmeirinha, as crianças e jovens da TI Laklãno puderam aprender com os (as) artesãos (sãs) a confeccionar e produzir os artesanatos Xokleng.
Laklãnõ (xokleng) óg tõ dén mẽ kághan gé ke mũ mẽ kághal
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Ũn txi te óg jé kyl kũ óg jẽl te óg mõ dén txi tóg mẽ jópalag mũ.
Oficina de brincos e colares: Esta oficina foi ministrada pelas artesãs Gertrudes Patté e Adelina Patté. Brincos e colares são usados como adornos corporais. Na fabricação utilizavam sementes de frutos, penas de aves e linha feita com fibra de tucum. Hoje em dia são usadas miçangas e fio de náilon, além de sementes do mato.
Zãnkó blé nẽglãg to vin jó: Jõ tõ Juklug blé Tádo óg tõ ki ãg jópalag jó va. Ẽ vãnh hun jé óg tu ké ke mũ. Dén kónã zy blé dén káki to óg han gé ke mũ. Kũ délã zál zeń kũ ti jál tóg te han gé ke mũ. Ũn tóg te li óg ẽ tõ zãnkó blé ãg nẽglãg ki vin jó kághan jé óg zé dén tóg te kágdjam gé ke mῦ.
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Cocar: Esta oficina foi ministrada pela artesã Marlene Paté. Usado somente pelos homens, o cocar era feito com fibra da casca e penas de diversas aves.
Vãnkuky: Jõ tõ Marlene Paté zi tõ ki ãg jópalag jó vã. Kónhgág óg tõ ẽ klẽ ka nẽm gé ke jó vã. Kuklej to óg han gé ke mũ. Kũ óg to dén káki vin gé ke mũ.
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Borduna e lança Esta oficina foi ministrada pelo artesão Cuzu Nucle. A borduna e a lança eram usadas como armas para guerra contra possíveis ameaças e inimigos. E a lança também era usada para caçar animais de grande porte.
Kalá blé kalá ján: Vãgdjó tõ Kuzug Nukle tõ ki ãg jópalag jó vã. Kalá ján blé kalá tóg te óg ẽ tõ kónhgág pã blé vãjõgég gé ke jé óg han gé ke mũ. Kũ kálá tóg to óg vel akle bág mẽ káglãg gé ke mũ.
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Arco e Flecha Oficina ministrada pelo artesão Vamble Indili. Utilizado para caça e proteção da comunidade.
Vyj blé do
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Vãgdjó tõ Võble vῦ ki ãg jópalag mῦ.
Cerâmica Oficina ministrada pelas artesãs Condim Camlém e Ioco Camlém. Formada pela mistura de argila e cinzas de carvão a cerâmica era utilizada para cozinhar alguns alimentos e para pegar água. Hoje em dia não se faz mais panelas de argila, pois o povo, infelizmente, compra panelas dos não indígenas para utilizarem.
Kuklũ tõ ku’ol Jõ tõ Kudin Kámlẽn blé Zi ji tõ Jóko óg tõ ãg jópalag jó vã. Ku’ol tõ óg han gé ke mũ, kũ óg mlã blé kámẽ ké ke mũ. Ẽ tõ ki ãggágdénh jé óg tõ kághan gé ke vã, kũ vel óg ki goj bag gé ke mũ. Ũn tóg te li óg kuklũ tõ ku’ol te kághan ban vanh tẽ, zug óg tũ kágdjam gé ke óg mũ.
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Ervas Medicinais Esta oficina ministrada por Milicia Moncona. Propiciou aos jovens aprender a encontrar e identificar nas matas as plantas que possuem propriedades medicinais para curar diversas doenças. Os alunos prepararam e beberam chás diversos que além de propiciarem a cura também funcionam como preventivos. Jõ tõ Milicia Monconã zi tõ ãg jópalag jó vã. Tóg te ki nã kózéj tõ ãg tõ vãnhkógtó han gé ke mῦ hãta mẽ jópalag mῦ. Jẽl blé kálῦ te óg dénh kῦ mẽ kaklag mῦ, like ti jé ãg vãnhkogtó tóg te u tavẽ ãggógó ti jé tẽ, vel ãggógó tῦg jé ta u tẽ.
Manta cobertor Oficina ministrada pelas artesãs Rosa Kaú-Ván-Pripra e Melissa Korikran Pripra. Fabricada para se cobrir durante as noites de frio, eram feitas com fibras de urtiga desfiadas e trançadas. Hoje em dia, infelizmente poucos artesãos(ãs) ainda guardam o conhecimento de como produzir esse artesanato. E por isso é tão raro encontrar essa manta.
Kul tõ vãze Jõ tõ Rosa Kávãn Priprá blé Melissa Krikran Priprá óg tõ ãg jópalag jó vã. Vãnhguzej pãn zál zén kῦ óg kul tóg te kághan gé ke mῦ. Kutxó mã kῦ ẽ vãnhpaklẽg jé óg han gé ke mῦ. Ũn tóg te li óg kul tõ vãze te han ban vanh tẽ. 16
Procedimentos da manta cobertor Um dos artesanatos que se perdeu com o contato, foi a produção de manta (cobertor) com fibra de urtiga brava. Por isso, durante as oficinas de produção de artesanato foi possível pesquisar junto a duas senhoras que ainda guardam o conhecimento de como confeccionar esse tipo de artesanato e elaboramos uma receita do passo-a-passo dessa produção, para que fique registrada. Ãg tõ zug óg blé vãnhkala kól te kῦ nã agzẽn txi ῦ mẽ kugtun mῦ. Kul tõ vãze tóg te ãg tõ kághan gé ke te nã tovanh mῦ. Te kῦ ãg tõ dén kághan jó tóg vῦ u tẽ mῦ. Like ti jé nã tá légle tõ vel han u nõdẽ mῦ óg mõ zé vãnkle kῦ mẽ lánlán jó vã. Kῦ hã jãgló óg vel ki ãg jópalag mῦ. U tãvẽ ta tẽ mῦ - Tirar fibra de urtiga brava (casca do caule); - Vãnhguzej pãn kágzan kῦ mã ti zál hãta mẽ gé. - Pendurar ao sol para secar; - Laglẽn jó mẽ zãgdján ló; - Cozinhar com água e cinza por vários dias, trocando a água do cozimento de semana em semana, para eliminar a sujeira; - Mẽ kágdénh txin ló ti kuplyg jé. Kῦ mã ti goj jãgly kujãg gé ké. - Depois desse processo, aproximadamente 3 meses, tirar o material e estendê-lo no chão e bater com um pau para eliminar o restante da sujeira. Em seguida pendure ao sol para secar novamente. - Tóg kól kῦ mã kuklῦ te ka gég kῦ kó lu vun kῦ mã dén zál hã ta te mẽ jatẽ, te jãgly ke te jé mẽ vál. Kól kῦ mã laglẽn jó mẽ zagdján ban, jé ta kaggag. - Preparar os fios desfiando a fibra já processada e em grupo de três fios, fazer uma espécie de trança (modelo tradicional); - Vaha mã zén. Tõ vãze han ló. - Montar um estaleiro (tear tradicional) com duas estacas de madeira fincadas ao chão (a largura do manto é decidida neste momento) da altura de um metro e duas da altura de um metro e meio (formando uma estrutura como de uma meia água); - Kó gỹnh légle tõ mã gó te ka tõ lum ke. Vãnh kóto ma óg kujug. A tõ kul han ke a tõ nẽm ku kógzãg. - Amarrar um pedaço do fio uma ponta em cada uma das estacas menores para servir apoio para o começo da tecelagem;
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- Vãze tõ mã kó légle hãta óg to kógdjé. Ti judun ῦ to mã kó pil to kógdjé. Kῦ mã ti judun ῦ te to mã kó ῦ ta to kógdjé. - Amarra fios nessa base (do comprimento que se quiser) de um lado até o outro até preencher toda a base com os fios; - Vãze mẽ kykym kῦ mã ῦ ta to zagdján. To kógdje kῦ mã mẽ vin. Vãjõ la ma kógdjé. Vãze ve a tõ kó to kógdje jó hãta te to ã tõ ῦ te zãgdján kan jé ke vã. - Os últimos dois fios a serem amarrados na base são exatamente a linha com as quais vai se tecer o tecido; - Ti jógdo mẽ ã tõ vãze légle zagdján ke ã tõ a vãzen ke vã. Kῦ mã téj kῦ tovanh. - Para tecer, é necessário passar um dos fios compridos por baixo das linhas postas e outro por cima e trançar em cada uma das linhas postas sucessivamente até o seu final. Assim você terá o seu manto pronto para se aquecer do frio em noites de inverno. - Vaha mã vãze téj judun ῦ te tõ mã ῦn zágdján kῦ nõ hãta te klãm tẽn kῦ ti judun téj ῦ te tõ ti nẽnã mẽ tẽn. like tẽ jã ti judun te ki tavig kῦ vãtxika li tóken katẽ gé ke óg mῦ. Tóg kῦ a kul to vãze te kól tẽ, ã tõ kutxag gé ke kῦ tõ vãnh pag jé. Observação: para produzir alguns fios de cor vermelha, usa-se a casca do caule da araucária. O processo é simples. Tira se a casca do caule da araucária e cozinha-se com os fios até que ganhem o vermelho desejado. Tóg ve ló: Ãg tõ vãze kutxug han ti jé nã zág pãn zál hãta blé nã vãze kupli te kágdénh gé ke mῦ. Kῦ ta kutxug tẽ ké ke mῦ.
Contação de Histórias Contadores: Voie Comlem e Venhaku Veictha Crendó O encontro de contação de histórias foi realizado na Casa do Artesanato Coctá Camlem/ Aldeia Figueira e contou a participação da comunidade, envolvendo crianças e adultos. Foram convidados anciãos que contaram suas histórias que remetiam a época do contato entre brancos e xokleng em 1914 e histórias dos índios do mato, como eles mesmos se referem. A contação iniciou no período da manhã e perdurou até o meio da tarde, havendo pausa para um almoço de confraternização que continha carne de porco, peixe assado e totolo; uma espécie de farinha torrada; que foi preparada pelos próprios Xokleng. Ao final foi realizada uma roda de dança e musica tradicional.
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A Morte de Lili Versão do Sr.Vãjẽky Klẽdo Transcrição e tradução: Prof. Marcondes Namblá Foi para denunciar os maus tratos sofridos por seu povo, causados por Eduardo, que Lili resolveu ir denunciar para as autoridades competentes (SPI). Quem o acompanhou nessa vigem foi o Kudag. E eles foram para o Rio de Janeiro denunciá-lo. Então o Inspetor deu um documento para ele trazer para Eduardo. Por causa desse tal documento que Eduardo o matou. Ao retornar, ele reuniu todo o povo e contou as novidades. Conforme o Inspetor lhe tinha falado ele lhes contou. Ele lhes disse: - Quando eu contei sobre nosso sofrimento nas mãos do Eduardo, as autoridades ficaram muito bravos... disse-lhes mostrando o envelope com o documento. Agora, eu mesmo me encarrego de entregar pra ele. Então eles lhe disseram: -Não... não faça isso...esse cara pode te matar! Disseram. E assim ficaram tentando tirar da cabeça dele aquela loucura, mas mesmo assim ele descontente com Eduardo, disse-lhes: - Se ele me matar, vai ser para o bem de vocês. Eu estou partindo para abrir o grande portão da estrada pra vocês. Disse-lhes. No outro dia bem cedo ele partiu, levando consigo o tal documento. Kudag o acompanhou novamente. Eles desceram de canoa. Não sei como, mas alguém já havia denunciado Lili para Eduardo. Então ele chamou todos os brancos da redondeza e colocou nas mãos de cada um uma arma e ficaram todos de tocaia esperando ele vir. Ele mentiu que os índios viriam todos para o matar e por isso precisava da ajuda deles. Enquanto que somente Lili e Kudag vieram para entregar aquele documento. Sem saber da armadilha que lhes esperavam, os dois entram na casa de Eduardo. Então Lili entregou-lhe o documento e voltou acompanhado de Kudag. Quando eles estavam se aproximando do grande portão da estrada, ele atirou nele. Eduardo atirou em Lili. Então ele disse para Kudag: - Vai anunciar... diga ao povo que Eduardo me matou! E mesmo fraco do tiro. Ele atravessou pelo portão e caminhou pela estrada até uma certa distância e se escondeu debaixo de um grande bueiro. Enquanto isso Eduardo e seus capangas vieram procurá-lo. Ficaram procurando ele, até ouviram um gemido. Finalmente o encontraram. Encontrando-o, terminaram de matá-lo à ponta pés. Depois, jogaram seu corpo no rio. Não sei como que a notícia chegou a Ibirama. Então a polícia veio e prendeu Eduardo. Levaram-no preso. E ele ficou preso durante algum tempo e ao sair da prisão, adoeceu e veio a falecer. Depois disso, tudo o que Lili falou para os nossos pais, veio a se cumprir. E o grande portão da estrada se abriu. Até os dias de hoje.
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Lili tel jó kãbel Vãgdjó tõ Vãjẽky Klẽdo vãbel vã Vãgdjó tõ Marcondes Namblá tõ lánlál vã Lili ti tõ ãggónhka, Jãgál tõ mẽ óg nẽvi jógdẽg ve kũ kabén jé tẽg vã, Pa’i bág te óg mõ. Kũ hã jãgló Kudag vũ ti blé txó mũ. Rio de Janeiro ló óg ti kãbén jé mũ mũ. Kũ Pa’i te ti mõ vãnhlál ũ nẽm mũ, ti tõ Jãgál mõ bó katẽ jé. Vãnhlál tóg ha bó ti katẽ ha vũ Jãgál te ti tanh mũ. Ẽ tavi te kũ ta ãggónha, vãtxo mẽ óg vagzun kũ óg mõ mẽ kabén mũ, ũ liken kũ Pa’i tõ ẽ mõ vẽ jó te ta óg mõ mẽ kabén mũ. Óg mõ ta: - Pa’i bág te óg, ẽtxõ Jãgál tõ mẽ ãg nẽvi jógdẽg kabén te kũ mã óg to jũ mũ. Kũ óg tõ Vãnhlál tóg, ti mõ zanã vã... vãnhlál te óg mõ ven kũ ti tõ óg mõ like vã. Tóg gen kũ nũ ẽnh jã ti mõ bó tẽ tẽ. Kũ óg mã kũ ti mõ: - Vanh... like tũ...ve mõ kũ dén hãta ti jé a tanh jé...ke mũ... Ti mõ óg to vãtxin nõ ké ke mũ. Jãgló ta kakó mõ óg mõ, Jãgál ti jé vãnhkaju kũ: -Ti tõ ẽtxanh hãta te kũ mã mẽ vãnh hun kũ nõ tẽ. Mẽ a jy ẽtxõ zãnka bág tõ ãmen ka jã hãta lónh jé tẽg ke vã. Ke óg mõ mũ. Tõ kulag te kũ ta vójóke tãvẽ mũ jãgló ti to katale mũ, vãnhlál hãta te vun kũ katẽ mũ. Kudag ha vũ ti jãnkénh tẽ ban mũ. Kakénh ki óg ti to kale mũ. Jãgló hã tõ, Jãgál ti mõ ũ tõ Lili kabén jó ta tẽ. Kũ ta ãg ba mẽ zũg tẽ te mẽ óg jékyn kũ óg nẽga ki vyj mẽ vin kũ óg ti to vajig kũ nãli nõdẽ. Óg mõ jógtxa kũ ãggónhka óg tõ ẽ tanh jé kamũ ke tan kũ ti tõ mẽ óg jékyl vã. Jãgló Lili te Kudag blé légle, tógge, ti to kamũ mũ, ẽtõ vãnhlál hãta ti mõ nẽm jé. Hã... óg tõ ẽ to vajig te mãg mã ka óg, Jãgál nẽ jó te ló ge mũ. Kũ Lili te ti mõ vãnhlál nẽm kũ vãtxika Kudag ti blé katẽ mũ. Óg tõ zãka bág tõ ãmẽn ka jã hã ta te to ha kamũ jãgló ta ti to pãg mũ. Jãgál te Lili ti to pãg mũ. Kũ ta Kudag ti mõ: -Ẽnh kabén tẽg. Óg mõ mã, Jãgál vũ ti tanh mũ, ke ló. Kũ Kudag te mã kũ lálá ti kabén jé katẽ mũ. kũ ta kágtẽ kũ zãnka bág hãta te mẽ katẽ kũ “bueiro” bág ũ klãm la mũ. Jãgló zug te óg Jãgál blé óg ti du ti kónãg kamũ mũ. Ti kónãg gé ke jã óg, ti tõ á ke mãg mũ. Kũ óg ti vég mũ. Vaha óg “bueiro” ka ti kunũnh kũ óg ẽ pãn hã tõ ti tanh hón mũ. Ti tanh kũ óg goj ki ti zun mũ. Kũ hã jãgló, hã tõ ke kũ óg Ibirama tá mẽ mãg mũ. Kũ pa’i te óg ka mũ kũ Jãgál ti txég mũ. Ti txe kũ óg ti bó le mũ. Kũ ta ka jã jã, ẽ tõ kakutadẽg kól te kũ ta kóggó kũ ty mũ. Jãgló Lili ti tõ jug óg mõ vẽ jó ha ló ta tẽ mũ. Zãnka bág hãta te tõ lónh ke vũ ta mũ. Ha, ãg tõ mẽ nõ vã.
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Conclusão
O desenvolvimento do projeto possibilitou ao povo Xokleng uma rememoração e um reencantamento pela sua própria cultura no que concerne a preservação da língua, da arte e as respectivas técnicas de construção e das histórias de origem e contato com o não-indígena. Foi possível, inclusive, problematizar as relações que hoje se estabelecem entre a cultura Xokleng e a cultura moderna não-indígena no que concerne a comercialização do artesanato e plantas medicinais indígena com estes últimos. Dessa maneira, podemos concluir que o projeto alcançou seu objetivo maior no que concerne a integração entre gerações, a transmissão de conhecimentos e a perpetuação da memória histórica material e imaterial Xokleng. Esperamos, assim, que outros projetos surjam no intuito de perpetuar e fortalecer a cultura do Povo Laklãnõ no espaço e no tempo.
Ãgzẽn jó tóg te vῦ Xokleng te óg mõ u tãvẽ tẽ mῦ. Like ti jé óg ha ki, ẽ jógzẽ txin gé ke jó te mẽ aklén ban mῦ. Kῦ vel óg ẽ vẽ te tõ ẽ mõ zógy mã ban. Ãg tõ zug blé ẽ Vãnhkala kῦ ẽ jógzẽ mẽ tovanh mῦ tẽ óg, tóg kól kῦ óg ẽ jákle pã ten kῦ nõdẽ. Vel nã ῦn liken kῦ óg tõ zug óg blé nõ kῦ óg mõ ẽ tõdén blé ẽ vãnhkógtó, vãtxej pov kóto lẽg gé ke te vég. Te kῦ ta u tãvẽ tẽ mῦ, like tijé nã, ãg tõ, kugzó óg tõ jẽl blé kálῦ óg jópalag han ke te nã like mῦ. Tóg gen kῦ ῦn pã tõ óg mõ ãgzẽn jó te likenh ló ta vῦ óg mõ u tavẽ tẽ tẽ, kῦ nã vel u vég tẽ.
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ARTE E CULTURA XOKLENG
Copyright: Indígenas Xokleng Realização: Coordenador Regional da FUNAI do Litoral Sul Capa: Catiúscia Custódio de Souza e Orivaldo Nunes Jr. Imagem de capa: Contação de Histórias – Casa do Artesanato - Aldeia Figueira – José Boiteux/SC, dez/2012. Promoção: Museu do Índio (Promotor) Organização: João Maurício Assumpção Farias (Coordenador Regional), Catiúscia Custódio de Souza (Historiadora e Cientista Política), Ana Roberta Uglõ Patté (indígena Xokleng e Licenciada pela Licenciatura Intercultural Indígena da UFSC) e Marcondes Namblá (indígena Xokleng e Licenciada pela Licenciatura Intercultural Indígena da UFSC), Fernanda Cerqueira (Técnica da FUNAI). Tradução: Ana Roberta Uglõ Patté e Marcondes Namblá. Impressão: Gráfica Riosul - São José - SC
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