Propulsor d16 web

Page 1

Mensal - Dis-

Digital 15• Ano 45º Março 2016

O SOLO E AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS


NOTA DE ABERTURA

SUMÁRIO PARAÍSOS FISCAIS SÃO UMA FORMA DE ROUBAR

Digital 15• Ano 45º Março 2016

Mensal - Dis-

U O SOLO E AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

AMBIENTE 04 Sinais 2015 O solo e as alterações climáticas

ltimamente tem-se falado muito dos paraísos fiscais. Este interesse de repente surgido deve-se à descoberta, análise e divulgação de uma base de dados com largos milhares de ficheiros contendo dados de empresas fantasmas, que permitem aos endinheirados, quer com dinheiros legítimos quer oriundos de vigarices ou de dinheiros ilegais, fugir aos impostos ou lavar esse dinheiro. É claro que há os que defendem que os paraísos fiscais não estão mal, o que está mal é o que se faz com eles. Alguns até atribuem o seu aparecimento, não ao obsessivo desejo de fugir aos impostos no país de origem, mas sim ao desenvolvimento económico mundial, à globalização dos mercados e à formação dos grandes blocos económicos. Devíamos, portanto, até estar agradecidos, tantas as benesses que daí recolhemos! Será?!

07 Reação dos “pequenos gigantes”, aos derrames de óleo no Ártico, sob investigação CENTENÁRIO DO SOEMMM 08 1937: As viagens marítimas de guerra Maio INOVAÇÃO/TECNOLOGIAS 10 Geradores de correntes oceânicas 10 Transformadores dez vezes menores 11 Revolucão nos plásticos híbridos 11 Bateria ideal: armazena energia e recolhe CO2 12 Metais metamórficos evoluem SEGURANÇA 14 A Reacção ao fogo

FICHA TÉCNICA PROPRIEDADE: Centro Cultural dos Oficiais e Engenheiros Maquinistas da Marinha Mercante - NIPC: 501081240 FUNDADOR: José dos Reis Quaresma DIRECTOR: Rogério Pinto EDITORES: Jorge Rocha e Jorge de Almeida REDACÇÃO E ADMIN.: Av. D. Carlos I, 101-1º Esq., 1200-648 Lisboa Portugal Telefs 213 961 775 / 213 952 797 E-MAIL opropulsor@soemmm.pt COLABORADORES: Artur Simões, Eduardo Alves, José Bento, J. Trindade Pinto e Chincho Macedo. PAGINAÇÃO E DESIGN: Altodesign, Design Gráfico e Webdesign, lda Tel 218 035 747 / 912812834 E-MAIL geral@altodesign.pt Todos os artigos não assinados, publicados nesta edição, são da responsabilidade do Director e dos Editores. Imagens: Optidas na web

2

Abril 2016 - Digital 16

Dadas as suas características, os paraísos fiscais são a maior parte das vezes usados com finalidades criminosas. Entre os casos mais comuns podemos lembrar: lavagem de dinheiro, fuga ao fisco e a fraude fiscal. O sigílo bancário e profissional absoluto, as acções ao portador de sociedades que impedem saber quem está por trás, e outros meios para disfarçar o dinheiro de origem ilícita, permitem que o dinheiro ilegal seja legalizado. Pelas mesmas razões é quase impossível saber quem fez alguma coisa e onde acabou o dinheiro enviado para uma sociedade de um paraíso fiscal. Estas características são aproveitadas por golpistas para realizar variadas fraudes financeiras e comerciais. A última vaga de atentados terroristas terá sido em grande parte patrocinada por dinheiros que circularam por esses paraísos fiscais. Isso devia fazer os responsáveis mundiais pesar as vantagens e desvantagens desses paraísos fiscais e decidir em conformidade, ou seja, acabar com eles. Mas, mesmo que o dinheiro dos terroristas não passasse por esses “paraísos”, mesmo que fosse apenas um meio de fugir aos impostos, a sua existência não seria nunca favorável à generalidade das pessoas. Seria sempre uma forma de os mais endinheirados ficarem mais endinheirados ainda, enquanto os menos abonados teriam de suportar ainda mais impostos para garantir o funcionamento dos países. No fundo os paraísos fiscais não são mais do que uma forma de roubar devidamente legalizada. O Director

Revista Técnica de Engenharia



AMBIENTE

SINAIS 2015

O SOLO E AS ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS

O solo é um elemento importante — e muitas vezes esquecido — do sistema climático. É o segundo maior «armazém», ou «sumidouro», de carbono, a seguir aos oceanos. Consoante as regiões, as alterações climáticas podem levar a um maior armazenamento de carbono nas plantas e no solo devido ao crescimento da vegetação, ou a uma maior libertação de carbono para a atmosfera. A recuperação de ecossistemas terrestres essenciais e o uso sustentável do solo nas zonas urbanas e rurais pode ajudar-nos a atenuar as alterações climáticas e a adaptar-nos a elas.

É

frequente encararem-se as alterações climáticas como algo que acontece na atmosfera. Afinal de contas, quando as plantas realizam a sua fotossíntese, absorvem carbono da atmosfera. Porém, o carbono atmosférico também afeta o solo, porque o carbono que as plantas não utilizam para crescer à superfície é distribuído através das suas raízes, que o depositam no solo. Se não for perturbado, este carbono pode estabilizar e ficar armazenado durante milhares de anos e os solos saudáveis podem atenuar, deste modo, as alterações climáticas. Em matéria de armazenamento de carbono, nem todos os solos são iguais. Os solos mais ricos em carbono são as turfeiras, a maioria das quais se situa no norte da Europa, no Reino Unido e na Irlanda, mas o solo dos prados também armazena grande quantidade de carbono por hectare. Pelo contrário, o solo das zonas quentes e secas do sul da Europa contém menos carbono.

As alterações climáticas sujeitam o solo a pressões Em algumas regiões da Europa, o aumento da temperatura pode suscitar maior crescimento da vegetação e maior armazenamento de carbono no solo. No entanto, as tem-

4

Abril 2016 - Digital 16

peraturas mais elevadas também podem aumentar a decomposição e a mineralização da matéria orgânica do solo, reduzindo o seu teor de carbono orgânico. Noutras zonas, os baixos níveis de oxigénio existentes na água impedem que a matéria orgânica, rica em carbono, das turfeiras estáveis se decomponha. Se essas zonas secarem, a matéria orgânica decompor-se-á rapidamente, libertando dióxido de carbono (CO2) para a atmosfera. Já há indícios de que o teor de humidade do solo está a ser afetado pela subida das temperaturas e pela alteração dos padrões de precipitação. As projeções futuras apontam para uma continuação destas tendências, que alterarão a humidade do solo no verão, na maior parte do continente europeu, no período de 2021 a 2050, com reduções significativas na região mediterrânica e alguns aumentos no nordeste da Europa. A concentração crescente de dióxido carbono na nossa atmosfera pode fazer com que os microrganismos presentes no solo decomponham mais rapidamente a matéria orgânica, libertando mais dióxido de carbono. A libertação de gases com efeito de estufa a partir do solo deverá ser particularmente significativa nas regiões mais seRevista Técnica de Engenharia


AMBIENTE

tentrionais da Europa e da Rússia, onde a fusão do permafrost poderá libertar grandes quantidades de metano, um gás com efeito de estufa muito mais potente do que o dióxido de carbono. Ainda não se sabe ao certo qual será o efeito global, dado que as diferentes regiões absorvem e emitem diferentes níveis de gases com efeito de estufa, mas há um risco manifesto de que o aquecimento climático provoque maior libertação de gases com efeito de estufa a partir do solo, aquecendo ainda mais o clima, numa espiral autossustentada.

Uma agricultura e uma silvicultura que conservem o carbono no subsolo As alterações climáticas não são o único fator capaz de transformar o solo, que passa de sumidouro de carbono para uma fonte de emissões: a forma como o utilizamos também influencia a quantidade de carbono que ele consegue reter. Atualmente, o carbono armazenado nas florestas europeias está a aumentar, graças a mudanças na gestão florestal e às alterações ambientais. Cerca de metade desse carbono está armazenado no solo das florestas. No entanto, quando estas estão degradadas ou são abatidas, o carbono nelas armazenado é de novo libertado para a atmosfera e as florestas tornam-se contribuintes líquidas de carbono para a atmosfera. Nas terras agrícolas, é sabido que a mobilização do solo acelera a decomposição e a mineralização da matéria orgânica. Assim, para conservar o carbono e os nutrientes no solo, os investigadores sugerem que se reduza a lavoura, que se façam rotações complexas das culturas, que se utilizem «culturas de cobertura» e que se deixem resíduos das culturas à superfície do solo. Os resíduos deixados durante as operações de plantio ajudam a proteger o solo contra o risco de erosão, uma proteção tanto mais essencial quando se sabe que a formação de alguns centímetros de solo pode demorar milhares de anos. A redução da lavra permite fragmentar e revolver menos o solo, mas os métodos utilizados para a reduzir ou eliminar estão frequentemente associados à maior utilização de adubos químicos, que têm outros efeitos ambientais negativos. Do mesmo modo, a utilização de estrume pela agricultura biológica ajuda a reconstituir o carbono orgânico do solo muito abaixo da sua superfície. A agricultura biológica tem ainda o benefício adicional de diminuir os gases com efeito de estufa por não utilizar adubos químicos. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura calcula que os sistemas de agricultura biológica produzem emissões de CO2 por hectare 48 % a 66 % inferiores às dos sistemas convencionais. Curiosamente, há formas de produção de biocombustíveis que reduzem o carbono armazenado no solo. Na verdade, um estudo recente concluiu que os biocombustíveis à base de resíduos de milho podem aumentar globalmente as emissões de gases com efeito de estufa porque a matéria

Revista Técnica de Engenharia

orgânica é queimada como combustível em vez de ser devolvida ao solo (28). Em termos gerais, a adoção de práticas apropriadas de exploração agrícola e florestal tem um grande potencial de recuperação dos solos e de remoção de CO2 da atmosfera.

Proteger as cidades com o solo Após várias casas da cidade belga de Velm, próximo de SintTruiden terem sido cinco vezes inundadas com água lamacenta em 2002, os seus habitantes pressionaram a autarquia local para que esta tomasse medidas. As inundações de água lamacenta tinham-se tornado um problema recorrente na área, uma vez que as águas escorriam dos campos nus arrastando sedimentos. Para resolver o problema, as autoridades procuraram proteger as casas com o próprio solo, adotando várias medidas, como a plantação de culturas de cobertura no inverno, quando o solo estava desprotegido e, logo, em risco de inundação. Além disso, deixaram resíduos das colheitas nos campos para reduzir a erosão. Essas medidas de recuperação dos sistemas naturais impediram a ocorrência de inundações de lamas entre 2002 e a atualidade, apesar das chuvas torrenciais que, entretanto, caíram por diversas vezes. A regulação e prevenção das cheias é apenas um dos «serviços» essenciais que um solo saudável nos presta e talvez tenhamos de contar cada vez mais com ele, uma vez que fenómenos meteorológicos extremos como as inundações se estão a tornar mais frequentes e graves. A qualidade do solo poderá ditar de muitas outras formas de que modo seremos afetados pelas alterações climáticas. Um solo permeável também protege das ondas de calor, armazenando grandes quantidades de água e mantendo as temperaturas baixas, um aspeto particularmente importante nas cidades, onde as superfícies duras (impermeabilização dos solos) criam o denominado «efeito de ilha de calor». Várias cidades europeias estão a tentar aproveitar estas funções do solo. Por exemplo, o Parque Gomeznarro, em Madriden, foi recuperado de modo a incluir novas superfí-

Abril 2016 - Digital 16

5


AMBIENTE

cies permeáveis, vegetação e armazenamento de água no subsolo. Esta solução tem sido reproduzida noutros locais de Madrid e em toda a Espanha.

Recuperação de ecossistemas Os dados mais recentes são claros: a recuperação de alguns ecossistemas ajuda a capturar carbono da atmosfera. Por exemplo, os esforços de recuperação de turfeirasen têm sido uma boa resposta à perda de carbono orgânico resultante da exploração de turfa para fins energéticos. A maneira mais rápida de aumentar o carbono orgânico no solo cultivado é converter as terras aráveis em prados, segundo conclui um estudo do Centro Comum de Investigação da Comissão Europeia. Infelizmente, algumas tendências recentes parecem estar a seguir o sentido oposto. Entre 1990 e 2012, a superfície de terras aráveis, culturas permanentes, pastagens e vegetação seminatural diminuiu na Europa. Mais concretamente, a «ocupação de terras» no continente europeu levou à perda de 0,81 % da capacidade produtiva das terras aráveis, devido aos campos que foram convertidos em cidades, estradas e outras infraestruturas entre 1990 e 2006. Esses projetos de desenvolvimento urbano implicam muitas vezes a impermeabilização da superfície do solo, o que, para além das

6

Abril 2016 - Digital 16

preocupações de segurança alimentar, também faz com que a Europa tenha menor capacidade para armazenar carbono orgânico, prevenir inundações e manter as temperaturas baixas. Se for corretamente gerido, o solo ajuda-nos a reduzir os gases com efeito de estufa e a adaptar-nos aos efeitos mais gravosos das alterações climáticas, mas se não cuidarmos dele, podemos piorar muito os problemas por estas causados.

Revista Técnica de Engenharia


AMBIENTE

REAÇÃO DOS “PEQUENOS GIGANTES”, AOS DERRAMES DE ÓLEO NO ÁRTICO, SOB INVESTIGAÇÃO

Á

medida que os gelos do Ártico vão derretendo é de supor que as expedições para investigação ou exploração de recursos vão aumentar. Da mesma forma, é esperado um significativo aumento do tráfico de navios naquela zona do globo o que aumenta também o risco de derrames de óleo: quer sejam óleos de lubrificação ou óleos combustíveis. A comunidade científica mundial sabe que os micróbios das águas quentes desempenham um importante papel na digestão dos óleos derramados, mas nada sabe sobre como reagirão os micróbios específicos das águas frias do ártico perante eventuais derrames futuros. É por isso que uma equipa de investigadores do Laboratório Bigelow, um conhecido centro de investigação do Maine, Estado Unidos, está a desenvolver uma investigação visando perceber quais as potenciais consequências de um derrame de óleo naquelas águas frias. Qual será a reação dos micróbios específicos desta zona? A crescente população humana enfrenta muitos desafios no que diz respeito a recursos, mudanças climáticas, poluição e saúde entre outras. O Laboratório Bigelow diz, no seu relatório anual, que as soluções para esses desafios podem ser encontradas dentro do invisível mundo microbiano do oceano. Esses pequenos gigantes — invisíveis plantas marinhas e animais — desempenham um grande papel, muito além do seu diminuto tamanho, no desenrolar da vida do nosso planeta. A equipa de investigadores tem vindo a medir os efeitos de vários tratamentos com óleos que vão sendo feitos em comunidades microbianas tanto em águas de superfície como no mar de gelo, ao mesmo tempo que vai analisando a caRevista Técnica de Engenharia

pacidade dos micróbios para atenuar ambientes criados por derrames de óleo em praias do Ártico. Estes resultados serão usados para desenvolver o mais eficaz meio de resposta a derramamentos. O relatório também realça a pesquisa que está a ser feita à acidificação do oceano. Os cientistas preveem uma diminuição de 0,3 unidades de pH nos próximos 100 anos. Este aumento de acidez terá grande impacto principalmente sobre organismos com casca, nomeadamente amêijoas, ostras, vieiras e caracóis do mar, reduzindo a sua capacidade de produzir conchas protetoras. Uma equipa de cientistas do laboratório Bigelow está observando a interação da acidificação dos oceanos e a microbiana libertação de gases nocivos que podem causar formação de nuvens. Formação de nuvens e seus efeitos de resfriamento podem ajudar a mitigar a mudança climática, enquanto uma reduzida formação de nuvens pode amplificar o aquecimento. A equipa tem vindo a quantificar essas interações em ambas as águas do Ártico e em águas tropicais ao largo das Ilhas Canárias. Este ano a equipa trouxe a experiência para casa, onde eles usaram mesocosmos — grandes tanques onde as condições ambientais podem ser controladas e manipuladas — na Suite de água salgada do laboratório para testar o que pode ocorrer se o oceano continuar a acidificar durante o próximo século. Esta equipa observou uma relação entre o aumento da acidez do oceano e a diminuição das emissões de gás na sua superfície e prevê que estes efeitos possam amplificar o aquecimento provocado pelo homem por fazer diminuir a cobertura de nuvens. Abril 2016 - Digital 16

7


CENTENÁRIO DO SOEMMM

HISTÓRIA DO SOEMMM

1937: AS VIAGENS MARÍTIMAS DE GUERRA MAIO

N

os anos 30 Guerra Maio era um dos mais prolíficos jornalistas num género de artigos, que causava então sensação e que tinha a ver com viagens. Numa época em que, de barco, se podia chegar a qualquer dos continentes e em que a aeronáutica civil - por avião ou por zepelim - já dava passos significativos para encurtar a duração das viagens, os leitores procuravam textos capazes de satisfazerem a curiosidade perante um mundo muito maior do que o da sua aldeia. Júlio Verne ou Emilio Salgari eram lidos com devoção e os filmes de aventuras tinham plateias cheias nos cinemas de todo o país. «Travessia por Mar: Surprezas de viagem» foi um dos textos assinados por Guerra Maio neste ano de 1937 e caracteriza-se por denunciar a simpatia pelo regime e pelo alheamento do que de preocupante estava a acontecer em Espanha, onde a guerra civil se estendi aos mares mediterrânicos ou gascões. Ele escreveu esse texto precisamente

da Biscaia, a bordo do paquete «Formose», que viajava do Havre para o Rio de Janeiro, com escala em Lisboa, contando com o patrocínio da «Chargeurs Réunis», armador interessado em aumentar a clientela lusa. Começa por uma constatação: na época dos grandes paquetes transatlânticos, que até serviam de argumento propagandístico para os seus regimes totalitários - sobretudo o italiano e o alemão - havia-se temido pela sobrevivência dos navios mais pequenos, igualmente condicionados pela velocidade mais lenta. Mas isso não acontecera: “ A vida febril que vamos atravessando parecia indicá-lo mas em matéria de transportes marítimos o caso é outro. Há muitas pessoas que não têm pressa e preferem as delícias duma travessia tranquila à viagem num desses monstros da velocidade.” Essa preferência por viagens que, de Lisboa ao Rio de Janeiro, poderiam levar quinze dias - como era o caso do «Formose» - tinha como explicação

o ambiente quase familiar: “viaja-se numa tranquilidade doce apesar da diversidade dos passageiros que enchem amplamente as suas três câmaras”. Mas não tardará a compreender-se a razão de tanta descontração: a maioria dos passageiros entrados em Hamburgo, em Antuérpia ou no Havre, eram judeus e polacos fugidos do inferno nazi e partiam para paragens bem mais calmas onde pudessem refazer as suas vidas. Sem arriscar essa explicação Guerra Maio limita-se a constatar: “É uma gente tranquila mas que à noite dança nos vários salões (…) e que, de dia, está estendida ao sol a estudar português e espanhol.” Outro comportamento, que suscita estranheza no nosso viajante é essa gente, vinda do norte da Europa, passar o tempo a fumar, aproveitando o preço baratíssimo dos cigarros a bordo: os maços de «Camel» ou de «Chesterfield», que custariam sete francos em Paris, vendiam-se a quarenta cêntimos

O PROPULSOR Revista Técnica de Engenharia

8

Abril 2016 - Digital 16

Revista Técnica de Engenharia


CENTENÁRIO DO SOEMMM

na loja da «Chargeurs Réunis». E no botequim passava-se o mesmo: os cálices de vinho do Porto custavam menos de metade do que, então, se praticava na capital parisiense. Em suma fumavase e bebia-se bem, para acompanhar as lautas e saborosas refeições: “a mesa, seja a da primeira, seja a da segunda ou a da terceira classe concorre poderosamente para a fama de que goza a marinha mercante francesa de dar aos seus passageiros o melhor que a culinária tem criado. A acompanhálo a companhia oferece gratuitamente e à disposição um magnifico vinho de Bordéus, engarrafado, tinto e branco.” Num outro texto, datado de junho, o mesmo jornalista aborda as vicissitudes da ligação marítima entre Lisboa e Marselha, que desejaria melhoradas para garantir um acesso facilitado à Côte d’ Azur, então muito na moda. Mas, como iremos constatar, o artigo é muito mais interessante do que indiciaria o tema, como iremos ver. “Longos anos Marselha esteve sem comunicações diretas com Lisboa. Parece estranho mas foi assim mesmo. Até a Companhia Fabre, cuja sede era em Marselha, deixou de fazer ali escala, indo os vapores diretamente de Nápoles a Lisboa, donde seguiam para Nova Iorque.” Felizmente para o autor algumas companhias armadoras tinham retomado as ligações entre Marselha e Lisboa nos últimos três ou quatro anos. O que valeu a Guerra Maio uma viagem a bordo do «Jagersfontein», um dos

três paquetes da «Holland Africa Line» com nomes de cidades do Transvaal, e que tinham ganho justa fama quanto à estabilidade em mares tormentosos. Com 10 083 toneladas, e apesar do mar irrequieto, “todos os passageiros estão lá em cima estendidos ao sol, gozando a delícia de viver”. Porque tinha de fazer jus a quem lhe pagava a viagem, Guerra Maio não poupa nos encómios: “tinham-me dito (…) que o ‘Jagersfontein’ e os seus dois irmãos gémeos eram uma miniatura dos transatlânticos de luxo e que a sua mesa era excelente. Confesso que ao entrar aqui tive uma surpresa, pois o reclame era inferior à realidade, pois não é só um navio de requintado gosto mas tem tudo quanto a moderna técnica naval tem inventado. Os seus vários salões, ligados entre si e estendidos a todo o comprimento do tombadilho, são um mimo de arte e de estética e os seus camarotes, largos e bem compreendidos, se não têm a sumptuosidade do ‘Normandie’ e do ‘Vulcania’, têm um aconchego muito particular e os mais pequenos detalhes do conforto não foram esquecidos”. Um pormenor que deixou o autor extasiado foi a garrafa termo à cabeceira da cama, sempre com água fresca disponível, que muita diferença fazia em relação a outros navios mais luxuosos, cuja água mole disponível pretenderia suscitar a requisição de água mineral ou de cerveja do botequim. Embora se tratasse de um navio misto com seis porões para o transporte de

mercadorias, o «Jagersfontein» comportava camarotes, apenas de primeira classe, para 88 passageiros todos eles com vigia para o exterior e com camas individuais, porque “o viajar com um desconhecido, vai, felizmente, passando de moda”. Esta curiosidade soma-se a outra, reencontrada nestas investigações pelos jornais do passado: a de, em 1937, ainda se atirarem ao mar os corpos dos que morriam a bordo. E, de facto, numa pequena notícia datada de 21 de fevereiro, noticiava-se a chegada ao porto de Lisboa da viúva e da filha de um administrador de roças de São Tomé que, aos quarenta anos, não resistira a uma encefalite de que já se queixava ao embarcar no «Moçambique» e que, morrendo dois dias depois, tivera um funeral com o mergulho do corpo nas águas do Atlântico.

O PROPULSOR Revista Técnica de Engenharia

Revista Técnica de Engenharia

CREATED TO MEET INDUSTRY CHALLENGESDezembro Abril 2016 2014 - Digital - N.º 259 16 9


INOVAÇÃO/TECNOLOGIAS

GERADORES DE CORRENTES OCEÂNICAS

A

nunciadas regularmente como sendo solução miraculosa para resolver o desafio de criação de energia limpa em conformidade com os objetivos de combate às emissões de CO2, os projetos que se fundamentam no aproveitamento dos movimentos das marés ou das ondas, têm acumulado sucessivos fracassos. Mas há quem não desista de produzir energia maríti-

ma limpa, de forma eficiente e economicamente viável. Como sucede com o prof. Katsutoshi Shirasawa que, de Okinawa, veio reivindicar a panaceia com o recurso às correntes oceânicas. Estas têm notórias vantagens em relação às marés e às ondas, porque o seu movimento é contínuo, como se se tratassem de autênticos rios a cruzar os oceanos. Podem, assim, manter uma produção quase constante du-

rante as vinte e quatro horas diárias desde o primeiro ao último dia do ano. O protótipo de Shirasawa consiste numa turbina situada cem metros abaixo do nível do mar para não causar problemas à navegação. Nos cálculos apresentados cada turbina desse tipo produzirá a mesma quantidade de energia produzida pelo vento forte a incidir numa turbina eólica. Já estando em testes dois equipamentos desse tipo, eles consistem num flutuador, num contrapeso, num gerador e em três pás, que irão requerer uma manutenção básica e pouco frequente. A ambição da equipa de Shirasawa é conseguir implantar 300 turbinas de 80 metros de diâmetro, capazes de produzir um total de 1 GW, que equivale à produção de uma central nuclear. O que, num país, ainda traumatizado pelo sucedido em Fukushima não são será coisa de pouca monta.

TRANSFORMADORES DEZ VEZES MENORES

H

á quem afiance que as energias renováveis ganharão novo impulso se contarem com transformadores mais eficientes e menores na sua ligação às redes de distribuição. Os transformadores de alta frequência irão ser mais leves, dez vezes menores, mais baratos, com melhor desempenho e com risco reduzido de explosão, porquanto dispensam a refrigeração a óleo. É o que garantem os cientistas que patentearam uma nova técnica capaz de produzir núcleos à base de nitreto de ferro em câmaras de azoto líquido, e depois amoníaco, atingindo-se as baixas temperaturas necessárias à sua consolidação. Além de eficiente este processo tem outras duas características fundamentais: é rápido e barato. Até agora a sintetização do nitreto de ferro nunca conseguira ser alcançada em dimensões dignas de registo,

10

Abril 2016 - Digital 16

porque implicava o recurso a câmaras de vácuo ou a interação com outros materiais. Todd Monson, dos Laboratórios Sandia, nos EUA, reivindica a superação do desafio a que a sua equipa se propôs com o que designou como técnica FAST.

Tornam-se assim possíveis sistemas transportáveis ​​de armazenamento e de conversão de energia, que podem caber num único semirreboque para instalar rapidamente em sistemas de energia solar, eólica e geotérmica, mesmo nos locais mais remotos. Revista Técnica de Engenharia


INOVAÇÃO/TECNOLOGIAS

REVOLUCÃO NOS PLÁSTICOS HÍBRIDOS

I

magine um polímero com partes removíveis, capazes de libertar algo no ambiente ou na sua envolvente - um medicamento, um defensivo etc. - e, em seguida, ser quimicamente regenerado para funcionar novamente. Ou um polímero capaz de se contrair e expandir da mesma forma que os músculos das pessoas e dos animais. Funções como essas exigem polímeros formados por secções rígidas e secções flexíveis, cada uma com propriedades totalmente diferentes, combinadas no mesmo material, em escala molecular. Pois foi justamente isto que Zhilin Yu e Samuel Stupp, da Universidade Northwestern, nos EUA, acabam de criar. Eles desenvolveram um polímero híbrido com potencial para ser usado em músculos artificiais, para a aplicação localizada de medicamentos ou biomoléculas, em materiais danificados capazes de se autorreparar, em baterias e numa infinidade de outras aplicações. O novo polímero possui compartimentos em nanoescala que podem ser removidos e regenerados quimicamente várias vezes. Esses dois compartimentos podem ser ajustados ou preenchidos com os materiais necessários para cumprir a função desejada. O polímero híbrido combina os dois tipos de polímeros conhecidos: aqueles formados com fortes ligações covalentes e aqueles formados com ligações

Entre os braços da estrela ninja fica o material mais macio e similar aos materiais biológicos. Esta é a área que pode ser funcionalizada e recarregada. [Imagem: Mark E. Seniw/Northwestern University]

fracas, não-covalentes, também conhecidos como “polímeros supramoleculares”. Depois da polimerização simultânea das ligações covalentes e não-covalentes, os dois compartimentos ficam interconectados, criando um filamento cilíndrico perfeito e muito longo. O esqueleto covalente do polímero híbrido, a sua parte mais rígida, possui uma secção transversal parecida uma estrela ninja - um núcleo duro com braços se espiralando para fora. Entre os braços fica o material mais macio,

mais parecido com os materiais biológicos. Esta é a área que pode ser funcionalizada e recarregada, características que poderão ser úteis em uma vasta gama de aplicações. “A nossa descoberta pode transformar o mundo dos polímeros e iniciar um terceiro capítulo na sua história: a história dos ‘polímeros híbridos’, depois do primeiro capítulo dos polímeros covalentes imensamente úteis e da recente classe mais emergente dos polímeros supramoleculares,” disse o professor Stupp.

BATERIA IDEAL: ARMAZENA ENERGIA E RECOLHE CO2 Bateria subterrânea Armazenar o CO2 em vez de o emitir para a atmosfera e ao mesmo tempo e no mesmo sistema guardar a energia renovável produzida pelas instalações eólicas e pelas fotovoltaicas é uma ideia que tem vindo a ser desenvolvida por uma equipa de investigadores do Laboratório Nacional Revista Técnica de Engenharia

Lawrence Livermore, nos EUA, liderada pelo professor Thomas Buscheck. “Se você quizer armazenar as grandes quantidades de energia renovável necessárias para equilibrar os desiquilibrios entre oferta e a procura, armazenando-a de forma eficiente, acreditamos que a melhor maneira de o fazer é no subsolo. Acreditamos

que esta é uma maneira de baixo custo para armazenar a energia o tempo suficiente para que possa ser usada mais tarde,” afirmou o professor Buscheck. A ideia consiste em dirigir a energia capturada por fontes solares e eólicas para um sistema subterrâneo de energia geotérmica artificial, que Abril 2016 - Digital 16

11


INOVAÇÃO/TECNOLOGIAS

funcionaria como uma enorme bateria subterrânea. Ao mesmo tempo, o sistema armazenaria o CO2 libertado pelas centrais termoelétricas que funcionam à base de combustíveis fósseis.

Salmoura O sistema prevê a injeção de CO2 liquefeito em reservatórios subterrâneos situados em rochas sedimentares, que são altamente porosas, criando um ambiente pressurizado que empurraria a salmoura presente nessas rochas até poços de produção na superfície. A salmoura pode ser aquecida e re-injectada no reservatório para armazenar energia térmica, e o CO2 pressurizado resultante funcionaria como um amortecedor de choque, permitindo que o sistema seja carregado ou descarregado em função da oferta e da procura de energia. Quando houver insuficiência na geração da energia renovável - à noite ou na ausência de ventos -, o CO2 pressurizado e a salmoura poderiam ser libertados e convertidos em eletricidade.

Dessalinização De acordo com os modelos de computador, a quantidade de CO2 que poderia ser armazenada no subsolo por um sistema desse tipo seria de

O projeto é baseado em rochas sedimentares localizadas em grandes profundidades. [Imagem: LLNL]

pelo menos 4 milhões de toneladas por ano ao longo de 30 anos, o equivalente ao CO2 emitido por uma central a carvão de 600 megawatts. “Armazenar grandes quantidades de CO2 cria muita pressão. Este é o maior desafio para mantê-lo permanentemente no subsolo, mas é administrável. Para ter certeza de que não

temos pressão excessiva, podemos desviar um pouco da salmoura produzida para gerar água através da dessalinização,” disse o Professor. A questão é que tudo parece bom demais para ser verdade e ainda não há previsão de datas para testar, na prática, esta bateria ideal.

METAIS METAMÓRFICOS EVOLUEM

O

material muda do formato de um cilindro para um cubo e retorna ao seu formato original. [Imagem: Rob Shepherd Group/Cornell] Na busca incessante sobre novos materiais capazes de satisfazer as necessidades cada vez mais exigentes da indústria e do comércio mundial, os cientistas têm seguido em diversas direcções em timings variados. Aviões com asas que mudam de formato em pleno voo, bem como ligas metálicas que se lembram de seu

12

Abril 2016 - Digital 16

formato original, sempre retornando a ele, já são conhecidos, mas os aparelhos verdadeiramente metamórficos vão passar a mudar de formato conforme a necessidade. Mas, isso exigirá novos tipos de materiais, como uma liga metálica de alta porosidade que acaba de ser criada pela equipa do professor Rob Shepherd, da Universidade Cornell, nos EUA. A espuma metálica muda de forma mediante um aquecimento moderado, suprido por um bico de ar

quente, por exemplo. Ao esfriar, ela recupera não apenas seu formato original, mas também sua rigidez. Embora o conceito não seja novo, é um dos materiais metamórficos de mais alta eficiência e maior versatilidade já criados, com aplicações promissoras no campo da robótica e da aeronáutica. A propósito, a equipa do professor Shepherd tem vindo a interessar-se por robôs moles já há bastante tempo, o que já resultou em inovações como garras robóticas flexíveis, que

Revista Técnica de Engenharia


INOVAÇÃO/TECNOLOGIAS

combinam a delicadeza com a força das garras mecânicas tradicionais, e até um coração de espuma que bate de verdade. A nova liga metálica híbrida combina a dureza dos metais com a porosidade e a maciez das espumas, aproveitando as melhores propriedades de ambos - rigidez quando ela é necessária, e elasticidade quando é preciso mudar de forma. Este material tem também a capacidade de se autoreparar quando sofre alguma avaria mecânica. “É exatamente esta a ideia, ter um esqueleto quando você precisar dele, derretê-lo quando você não precisar dele, e depois refazê-lo,” disse Shepherd. O material híbrido é resultado da combinação de uma espuma de silicone poroso com uma liga metálica macia, conhecida como metal de Field, uma liga de bismuto, índio e estanho. Além do seu baixo ponto de fusão - 62º C - o metal de Field foi escolhido porque, ao contrário das ligas similares, ele que não con-

O material muda do formato de um cilindro para um cubo e retorna ao seu formato original. [Imagem: Rob Shepherd Group/Cornell]

tém chumbo, que pode limitar as aplicações. Para fabricá-lo, a espuma de silicone é mergulhada no metal fundido e, em seguida, colocada em ambiente de vácuo, de modo que o ar

nos poros da espuma seja removido e substituído pelo metal. A espuma resultante possui poros de cerca de 2 milímetros, mas isto pode ser ajustado para criar materiais mais duros ou mais flexíveis.

Elevada taxa de empregabilidade MESTRADOS Pilotagem Engenharia de Máquinas Marítimas Sistemas Eletrónicos Marítimos

PÓS-GRADUAÇÕES Logística e Segurança – Petróleo & Gás

Em parceria com o ISCTE-IUL - Instituto Universitário de Lisboa

Especialização em Gestão Ambiental Portuária

Em parceria com o ISCIA – Instituto Superior de Ciências da Informação e da Administração

LICENCIATURAS Pilotagem Engenharia de Máquinas Marítimas Engenharia de Sistemas Eletrónicos Marítimos Gestão Portuária Gestão de Transportes e Logística

TeSP Eletrónica e Automação Naval Revista Técnica de Engenharia

www.enautica.pt

Manutenção Mecânica Naval Abril 2016 - Digital 16

13


SEGURANÇA

REGULAMENTO TÉCNICO DE SEGURANÇACONTRA INCÊNDIO EM EDIFÍCIOS

A REAÇÃO AO FOGO

N

o conjunto de textos dedicados ao Regulamento Técnico de Segurança contra Incêndios em Edifícios concluímos neste número o capítulo dedicado ao Isolamento e proteção de locais de risco. Esta legislação é de conhecimento obrigatório para todos quantos forem contratados para dirigir a Manutenção e as Operações em edifícios, sejam eles habitacionais, hospitalares, dedicados ao lazer, à atividade comercial, ao desporto ou a quaisquer outros fins, onde implique o risco de existirem vidas humanas em risco por eventuais incêndios. Por isso mesmo, logo desde a conceção dos edifícios, e durante toda a sua construção, devem ser rigorosamente cumpridas as classificações de risco dos materiais aplicáveis, tendo em conta que sobressai sempre a regra de prevenir o fogo em vez de minimizar os seus eventuais efeitos. Para os que nos leem e têm atualmente responsabilidades neste tipo de edifícios, as preocupações maiores estarão relacionadas com a respetiva requalificação, remodelação ou recurso a materiais de uso temporário. Como fica explicito no texto abaixo o rigor deverá ser maximizado nessas situações. A classificação de reação ao fogo dos materiais de construção de edifícios e recintos aplica-se aos revestimentos: • de vias de evacuação e câmaras corta-fogo; • de locais de risco e de comunicações verticais, como caixas de elevadores, condutas e ductos; • a materiais de construção e revestimento de elementos de decoração e mobiliário fixo.

A subclasse “d” (drop) vai de d0 a d2, sendo que d0 corresponde a um material que ao arder não produz gotas nem deixa caírem matérias incandescentes; A subclasse “FL” (floor) indica que são materiais que foram testados para pavimentos (não podendo ser aplicados em paredes e tetos). A subclasse “L” indica materiais que foram testados no isolamento de condutas. As classes mínimas de reação ao fogo dos materiais de revestimento de pavimentos, paredes, tetos e tetos falsos em vias de evacuação horizontais são, conforme consta da tabela 1. Tabela 1

Elemento

Ao ar livre e em pisos até 9m de altura

Em pisos entre o e 28m de altura

Em pisos acima de 28m de altura ou abaixo do plano de referência

Paredes e tectos

C -s3 d1

C -s2 d0

A2 -s1 d0

Pavimentos

DFL-S3

DFL-S2

DFL-S1

A classificação dos materiais é feita de A a F em que A é um material que não arde (pedra) e F é um material inflamável ou sem classificação. A subclasse “s” (smoke) vai de s1 a s3 e traduz a quantidade de fumo produzida sendo que s1 não produz fumo e s3 produz fumo escuro.

14

Abril 2016 - Digital 16

Revista Técnica de Engenharia


SEGURANÇA

As classes mínimas de reação ao fogo dos materiais de revestimento de pavimentos, paredes, tetos e tetos falsos em vias de evacuação verticais e câmaras corta-fogo são, confo- 
 me contas da tabela 2. As classes mínimas de reação ao fogo dos materiais de revestimento de pavimentos, paredes, tetos e tetos falsos de locais de risco A, B, C, D, E e F são, confome contas da tabela 3. Os materiais utilizados na construção ou no revestimento de caixas de elevadores, condutas e ductos, ou quaisquer outras comunicações verticais dos edifícios, devem ter uma reação ao fogo da classe A1. Os septos dos ductos, se existirem, devem possuir a mesma classe de reação ao fogo que os ductos. Os materiais constituintes dos tetos falsos, com ou sem função de isolamento térmico ou acústico, devem garantir o desempenho de reação ao fogo não inferior ao da classe C-s2 d0. Os materiais de equipamentos embutidos em tetos falsos para difusão de luz, natural ou artificial, não devem ultrapassar 25% da área total do espaço a iluminar e devem garantir uma reação ao fogo, pelo menos, da classe D-s2 d0. Todos os dispositivos de fixação e suspensão de tetos falsos devem garantir uma reação ao fogo da classe A. Os elementos de mobiliário fixo em locais de risco B ou D devem ser construídos com materiais com uma reação ao fogo, pelo menos, da classe C-s2 d0. Os elementos de enchimento desses equipamentos podem ter uma reação ao fogo da classe D-s3 d0, desde que o respetivo forro seja bem aderente e garanta, no mínimo, uma reação ao fogo da classe C-s1 d0. As cadeiras, as poltronas e os bancos para uso do público devem, em geral, ser construídos com materiais da classe C-s2 d0. No caso de cadeiras, poltronas e bancos estofados, os quais podem possuir estrutura em materiais da classe D-s2 d0, e componentes almofadados cheios com material da classe D-s3 d0, se possuírem invólucros bem aderentes ao enchimento em material da classe C-s1 d0. Os elementos almofadados utilizados para melhorar o conforto dos espectadores em bancadas devem possuir invólucros e enchimento nas condições do mesmo tipo. Os elementos de informação, sinalização, decoração ou publicitários dispostos em relevo ou suspensos em vias de evacuação, não devem ultrapassar 20 % da área da parede ou do teto e devem possuir uma reação ao fogo, pelo menos, da classe B-s1d0.

Revista Técnica de Engenharia

Os mesmos elementos, quando colocados em locais de ris
 co B, podem garantir apenas a classe C-s1d0 de reação ao fogo. 3. Podem ser excecionados dessa exigência de desempenho de reação ao fogo os quadros, tapeçarias, obras de arte em relevo ou suspensos em paredes, desde que o revestimento destas garanta uma reação ao fogo da classe A1. Não é permitida a existência de reposteiros ou de outros elementos suspensos, transversalmente ao sentido da evacuação, nas vias de evacuação e nas saídas de locais de risco B, C, D, E ou F. A cobertura, a eventual cobertura dupla interior e as paredes das tendas e das estruturas insufláveis, devem ser constituídas por materiais que possuam uma reação ao fogo, pelo menos, da classe C-s2 d0. As claraboias e faixas laterais contendo elementos transparentes podem ser constituídas por materiais que possuam uma reação ao fogo, pelo menos, da classe D-s2 d0, se forem materiais rígidos, e D-s3 d0, se forem materiais flexíveis Tabela 2 No interior de edifícios Elemento

Exteriores

Paredes e tectos Pavimentos

De pequena ou media altura

De grande e muito grande altura

B -s3 d0

A2 -s1 d0

A1

CFL-S3

CFL-S1

CFL-S1

Abril 2016 - Digital 16

15


SEGURANÇA

Tabela 3 Local de risco Elemento

de espessura igual ou inferior a 5 mm, desde que a sua área total não ultrapasse 20% da área total da tenda ou do insuflável e estejam afastadas umas das outras com uma distância superior a 3,5 m. Os palcos, estrados, palanques, plataformas, bancadas, tribunas e todos os pavimentos elevados devem ser construídos com materiais, no mínimo, da classe C-s2,d0, assentes, se existir, em estrutura construída com materiais, da classe A1. Os pavimentos devem ser contínuos e os degraus das escadas ou das bancadas providos de espelho, com o fim de isolar as zonas subjacentes, devendo estas zonas ser ainda fechadas lateralmente por elementos construídos com materiais, no mínimo, da classe D-s1. As plantas artificiais, árvores de natal ou outros elementos sintéticos semelhantes, devem estar afastados de qualquer fonte de calor, a uma distância adequada à potência desta.

A

B

C

D,E e F

Paredes e tectos

D-s2 d2

A2-s1 d0

A1

A1

Pavimentos

EFL-s2

CFL-s2

A1FL

CFL—s2

É permitida a utilização de materiais da classe de reação ao fogo não especificada dos elementos de decoração temporária de espaços interiores destinados a festas, exposições ou outras manifestações extraordinárias, desde que aplicados em suportes da classe de reação ao fogo D-s1 d0, no caso de tetos e paredes, ou DFL-s1, no caso de pavimentos, e sejam adotadas as medidas de autoproteção previstas para alterações de uso, lotação ou configuração de espaços.

Seminário “Náutica de Recreio” e entrega de prémios da XII Regata da ENIDH & COMM –A uditório da DGRM, Campus da Escola Superior Náutica Infante D. Henrique - 13 de abril de 2016

Programa 17h45 – R eceção aos convidados 18h00 – Abertura |Prof. Luís Filipe Baptista, Presidente da ENIDH 18h05 – I ntervenção | Daniela Gonçalves, Presidente da Associação de Alunos da ENIDH 18h10 – Intervenção | “Apresentação da regata Tall Ships Race”, Rui Santos, Aporvela 18h30 – I ntervenção | “Oportunidades de emprego na náutica de recreio”, António Fontes, oficial piloto e velejador da regata Mini Transat 2015 18h50 – E ntrega de prémios da XII Regata da ENIDH 19h00 – Beberete

16

Abril 2016 - Digital 16

Revista Técnica de Engenharia


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.