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Mensal - Distribução Gratuita

Digital 34 • Ano 46º Outubro 2017

A ESCOLA SUPERIOR NÁUTICA INFANTE D. HENRIQUE CELEBROU O SEU 93º ANIVERSÁRIO


NOTA DE ABERTURA

SUMÁRIO Digital 34 • Ano 46º Outubro 2017

O Mensal - Distribução Gratuita

A ESCOLA SUPERIOR NÁUTICA INFANTE D. HENRIQUE CELEBROU O SEU 93º ANIVERSÁRIO

CENTENÁRIO DO SOEMMM 04 A atividade da companhia nacional de navegação em 1941 e 1942

ANIMAL RARO DA ZONA EURO E O DIABO DE FOGO PORTUGUÊS

Financial Times (FT) debruça-se sobre a situação económica do nosso país, apelidando Portugal de “o animal raro da zona euro”. Depois de a agência Standard & Poor’s ter subido o rating do nosso país de “lixo”, onde se encontrava há 5 anos, o prestigiado jornal britânico diz que Portugal conseguiu uma recuperação “impressionante” da economia, depois de há tão pouco tempo ter pedido um resgate de 78 mil milhões de euros. O jornal diz que “o bom filho à casa torna” e que o “timing é tudo” uma vez que as “estrelas económicas se alinharam” assim que António Costa chegou a São Bento. Mas não se fica por aí, ao escrever, que a economia está a desfrutar do melhor crescimento da última década, através da liderança socialista. A S&P espera agora que a economia cresça duas vezes mais rápido em 2017 em comparação com o ano passado.

GESTÃO/EMPREENDEDORISMO 06 O acesso à liderança e os estilos de a exercer INOVAÇÃO/TECNOLOGIAS 08 Mais um método para tornar mais eficiente a energia solar MAR 09 A Escola Superior Náutica Infante D. Henrique celebrou o seu 93º aniversário 13 A turbulenta história do “Seven Seas Navigator” PESSOAS / RECORDANDO 14 Cursos da enidh de 1972 e 1980 organizam almoços comemorativos SEGURANÇA 15 O controlo de fumo em pátios anteriores e dos locais sinistrados no interior dos edifícios 16 Os perigos do manuseio e utilização dos cilindros com gases

FICHA TÉCNICA PROPRIEDADE: Centro Cultural dos Oficiais e Engenheiros Maquinistas da Marinha Mercante - NIPC: 501081240 FUNDADOR: José dos Reis Quaresma DIRECTOR: Rogério Pinto EDITORES: Jorge Rocha e Jorge de Almeida REDACÇÃO E ADMIN.: Av. D. Carlos I, 101-1º Esq., 1200-648 Lisboa Portugal Telefs 213 961 775 / 213 952 797 E-MAIL opropulsor@soemmm.pt COLABORADORES: Artur Simões, Eduardo Alves, José Bento, J. Trindade Pinto e Chincho Macedo. PAGINAÇÃO E DESIGN: Altodesign, Design Gráfico e Webdesign, lda Tel 218 035 747 / 912812834 E-MAIL geral@altodesign.pt Todos os artigos não assinados, publicados nesta edição, são da responsabilidade do Director e dos Editores. Imagens: Optidas na web

“Isto faz de Portugal o animal raro da zona euro: um governo liderado por socialistas que consolidam o orçamento ao mesmo tempo que a popularidade aumenta”, contrariando, dizemos nós, a teoria da chegada do diabo, inicialmente aprazada para Setembro de 2016. Referiu ainda o FT que o desempenho das exportações do país melhorou, o investimento está em alta e o crescimento acelerado ajudou a reduzir o buraco negro do orçamento de Portugal, para o seu nível mais baixo em mais de duas décadas. Todavia, hoje mesmo também soubemos que afinal o diabo sempre veio, mas foi um “diabo de fogo”. A notícia chegou-nos através do canal televisivo norte-americano “NBC” o qual deu destaque ao fogo em Arganil, mais propriamente ao fenómeno “tornado de fogo” ou “diabo de fogo”, como lhe chamou a imprensa estrangeira. O site do canal divulgou um vídeo de 30 segundos, com as imagens de uma espécie de tornado de fogo, um fenómeno explicado pela coincidência temporal de fortes ventos com altas temperaturas. “Este raro turbilhão natural acontece quando calor intenso e os ventos se juntam”, explica o vídeo. O comandante Miguel Oliveira, da ANPC explicou à Lusa, que “a floresta é muito densa e a matéria combustível arde com muita facilidade porque está cada vez mais seca”. Enfim, livrámo-nos do “Diabo da Economia”, mas nada nos tem safado do “Diabo do Fogo”, que tem provocado uma terrível devastação da nossa floresta. Director

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CENTENÁRIO DO SOEMMM

História do SOEMMM

A ATIVIDADE DA COMPANHIA NACIONAL DE NAVEGAÇÃO EM 1941 E 1942

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m maio de 1941, sob a presidência do conde de Monte Real, secretariado por Rocha Pereira e Correia Henriques, reunia-se a Assembleia Geral dos acionistas da Companhia Nacional de Navegação para apreciar o relatório e contas, bem como o parecer do Conselho Fiscal sobre a gestão do ano anterior. A marinha mercante nacional começava a dar sinais de recuperação da grave crise, que viveu no final da I República e no início do Estado Novo. E pertencendo a uma nação, que se declarara neutral no conflito mundial, os navios nacionais passavam a ter a oportunidade de cumprirem fretes demasiado arriscados para serem entregues aos dos pavilhões dos países beligerantes. O problema, como se constataria no decurso da reunião, estaria no número e tonelagem (63957 tons) dos seus navios. Um dos motivos de comprazimento foi a notícia do pagamento antecipa-

do do empréstimo extraordinário de 37800 contos autorizado em novembro de 1926 pelo então ministro das Finanças, o general Sinel de Cordes, que deveria ser satisfeito até 1947. A poupança em juros terá assim equivalido a 3867 contos. Esse subsídio fora fundamental para a compra de sete navios, que tinham aumentado a atividade da companhia, sobretudo no comércio com as colónias africanas. No entanto um dos presentes, o antigo administrador Cardoso Leitão, lamentara a pressa em satisfazer esse compromisso, porquanto o valor antecipado entregue ao Estado, melhor teria sido aplicado na aquisição de novos navios. Rui Ulrich, presidente da Administração, contestaria essa perspetiva, refletindo a cultura típica do regime salazarista em que a prioridade, mais do que investir, seria saldar dívidas. Essa polémica interna já era antecipada pelos novos responsáveis pela empresa, que no Relatório apresenta-

do avaliavam as possibilidades dessa renovação da frota: “Reconhecendo embora a necessidade urgente de a modernizar, entendemos não ser aconselhável a aquisição de navios no presente momento da guerra. Além da quase impossibilidade de adquirir navios novos, teríamos de os pagar, mesmo quando usados, por preços elevadíssimos, na certeza de que o seu valor decrescerá sensivelmente quando as hostilidades terminarem. Compras feitas nestas condições são discutíveis para quem explora o frete mundial, mas claramente inadmissíveis para quem tem de se limitar a fretes tarifados, e só muito ligeiramente acrescidos, como são os das novas carreiras de África.” Nesta altura já eram muitos os navios afundados sem que os estaleiros existentes conseguissem acompanhar o ritmo dessa perda de tonelagem, mesmo considerando que o comercio mundial conhecera, entretanto, uma

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CENTENÁRIO DO SOEMMM

drástica redução. Ainda estava distante o momento da entrada dos norte-americanos na guerra e a construção acelerada dos seus «Liberty» para colmatar tal carência. Acontecera nesse período a colocação ao serviço das rotas africanas do «Congo», após reparações de quase 2700 contos e do «Ambriz», que fora renovado por mais de 1500 contos. Curiosa a informação feita neste âmbito sobre a construção de dois batelões nas oficinas da empresa. Durante todo o ano os navios tinham percorrido 85 128 milhas, transportado 57 096 passageiros e carregado um total de 312 081 toneladas em mercadorias. No parecer do Conselho Fiscal a Companhia acentuava ter-se mantido a carreira do Brasil, cumprido os seus deveres respeitantes às carreiras de África e inaugurado as carreiras para a América do Norte, merecendo os elogios dos passageiros e carregadores e o aplauso público. Razão para se lhes juntar nos elogios. No ano seguinte, a Assembleia reuniu nos últimos dias de abril, sob a presidência de Bustorff Silva e refletia um otimismo indecoroso perante as circunstâncias, que o fundamentavam. No Relatório afiançava-se que “as empresas de navegação nacionais estão a realizar, neste período anormal consequente da guerra que avassala

o mundo, mais avultadas receitas do que em qualquer outra época da sua vida.” Mas tenta relativizar: “essas receitas, atingindo somas que para o reduzido meio das atividades nacionais parecem grandes, dão aos espíritos desprevenidos uma errada impressão de prosperidade excecional, induzindo-os em nocivo erro que não deve deixar-se persistir, por poder conduzir a deploráveis consequências.” Porque o texto em causa faz um diagnóstico coerente do setor vale a pena citar-lhe outra parte de tal Relatório: “a marinha mercante nacional, antes da guerra, não bastava só por si, para as necessidades do país. A não ser o tráfego entre as Colónias e a Metrópole, reservado por lei à navegação portuguesa, do restante com os portos estrangeiros, só uma pequena percentagem cabia aos navios nacionais. (…) Iniciada a guerra e volvidos poucos meses, a navegação estrangeira foi diminuindo a sua concorrência aos nossos portos, reduzindo-se bastante a sua colaboração no abastecimento do país. Desta maneira teve a marinha mercante nacional de tomar sobre si a tarefa superior às suas forças. Mas, como deviam empregar-se todos os meios para que a economia nacional sofresse o menos possível a falta de navegação estrangeira, foi necessário exigir dos nossos navios uma atividade

muito superior às suas normais possibilidades, abreviando-lhes a vida. Navios de boa construção, como são quase todos os que navegam sob a nossa bandeira, podem trabalhar muitos anos com regular eficiência, não se lhes exigindo serviços que não sejam compensados pela assistência constante. Essa assistência, porém, não é possível nas presentes circunstâncias porque demanda paragens que as prementes necessidades do país não consentem. Do que fica dito, claramente se deduz ser forçoso, no fim da guerra (…) substituir grande parte dos navios da frota nacional, que, não obstante, sem o esforço que se lhes está a exigir, porventura poderiam trabalhar maior número de anos. Para que essa substituição seja viável, é indispensável, naturalmente, possuir suficientes meios para a aquisição de novas unidades. E aqui se verá como é ilusória a suposição de ser próspera a situação da marinha mercante nacional.” Conclui-se, pois, que os navios andavam então a ser operados nos seus limites obrigando os nossos colegas a esforçarem-se ainda mais do que o normal para lhes garantirem a operacionalidade. E que os lucros anunciados bem escassos eram para essa previsível renovação da frota tendo em conta os preços entretanto atingidos no mercado pelos vapores de 9 mil toneladas: mais de 60 mil contos! A Assembleia via arrefecer os ânimos perante a evidência da perda de dois navios - o «Ganda» e o «Cassequel» - que explica a redução da frota para 54 231 toneladas, responsáveis no período em causa pelas 491 409 milhas percorridas, os 29 578 passageiros transportados e as 331 755 toneladas carregadas. Jorge Rocha, Eng. Maq. M. M.

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GESTÃO/EMPREENDEDORISMO

O ACESSO À LIDERANÇA E OS ESTILOS DE A EXERCER

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ormalmente chega-se à liderança de uma organização por quatro razões principais. Por nomeação, por eficiência, por carisma e por informação. O poder por nomeação emana de uma posição específica dentro da empresa, formalmente reconhecida. As pessoas que ostentam este tipo de poder, são oficialmente nomeadas para atuar em nome dos seus organizadores. Quando o posto deixa de existir, o líder vê-se privado do poder que tem associado a si. Por exemplo, um responsável transferido para outro local, deixa de exercer o poder no seu antigo local de trabalho, que passa a ser responsabilidade de um novo líder. Às vezes, alguns deles tentam reter esse tipo de poder, o que provoca sentimentos de mal-estar e nunca dá bons resultados. O poder por razões de eficiência emana das qualidades, capacidades e perícia de quem os detém; como tal não depende da sua posição dentro da organização oficial. Alguns líderes têm poder tanto por nomeação como por eficiência, uma situação que geralmente descrevem como muito gratificante. Frequentemente, as exigências da liderança por nomeação, impedem o dirigente de desenvolver plenamente a sua perícia no terreno do concreto, razão pela qual alguns especialistas - aqueles que comummente gostam de «sujar as mãos» - evitam este tipo de lugar. Muitas vezes, o poder devido à eficiência exerce-se de forma informal. Os bons líderes costumam pertencer a esta categoria, já que a contribuição que fornecem à equipa é tão ou mais importante que a dos nomeados para ocupar o comando. O poder carismático é ao mesmo tempo uma bênção e uma maldição, e as pessoas que o exercem costumam ser muitas vezes utilizadas como «trunfos» dentro de qualquer organi-

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zação. A julgar pela história, os líderes mais carismáticos costumam acabar mortos, caídos em desgraça, sós, na prisão ou em Hollywood. Ainda assim, um líder carismático é capaz de fomentar nos seus companheiros a vontade de dar o melhor de si mesmos, pelo menos durante algum período de tempo. Portanto, é tentador para este tipo de líder servir-se do carisma como a única forma de exercer a sua influência sobre os seus seguidores, uma tática muito pouco razoável. Para demonstrar que por detrás do seu encanto pessoal e da sua sedução existe algo mais, é melhor que os líderes empreguem, juntamente com o seu carisma, outras fontes de poder para influenciar os acontecimentos. O poder devido à informação é cada vez mais importante porque as novas tecnologias permitem hoje em dia dispor de enormes quantidades de informação. No passado, o bom desempenho empresarial, dependia em grande parte da memória humana, único meio para aceder à informação. Hoje em dia, esta função realiza-se principalmente através de sistemas informáticos. Dado que a falta de informação em momentos críticos pode provocar uma catástrofe, a melhor forma de manejar este tipo de poder é partilhar a responsabilidade da gestão da base informática. Deste modo, as organizações evitam depender de um só indivíduo, ou de sistemas eletrónicos como única fonte de poder de informação. Quando os líderes diversificam as fontes de poder, asseguram a sua posição. Se o poder que um líder utiliza tem uma força evidente e é imediatamente reconhecido, será mais fácil exercer a autoridade e, como tal, influenciar nos resultados. Sem dúvida, isto acarreta um risco já que é muito difícil opor-se a um líder que recorra aos quatro tipos de poder para impor a sua autoridade. Contudo, um líder com estas características Revista Técnica de Engenharia


GESTÃO/EMPREENDEDORISMO

não está livre de se enganar, o que é razão suficiente para evitar a liderança quando esta significa estar só ou rodeado de seguidores submissos que dizem a tudo que sim. Ter isto em conta constitui uma salvaguarda mínima contra o uso incorreto do poder. O poder e a autoridade expressam-se mediante o estilo de liderança. Os três estilos básicos são: Democrático, Autocrático e Permissivo. Um estilo democrático de liderança baseia-se no respeito mútuo entre colegas, sem importar o posto que ocupam. Quando os dirigentes descobrem que os subordinados não apresentam algumas capacidades e aptidões, preocupam-se em criar oportunidades para que as possam adquirir e desenvolver. A força deste estilo reside no ambiente de diálogo e debate que fomenta. Todos são beneficiados com este funcionamento, incluindo os líderes, que se veem induzidos a aprender com os seus colegas. Existem poucas satisfações maiores no desempenho da lide-

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rança do que a reunião de um grupo de colegas com capacidades pouco desenvolvidas e, mediante um trabalho de grupo, criar uma equipa equilibrada, dinâmica e eficiente. O estilo autocrático parece ser o melhor quando existe uma controvérsia. As pessoas confusas desejam um chefe «forte», um líder que lhes diga o que devem fazer. Existem na história alguns exemplos de ditadores autocráticos que foram «convidados» a tomar o poder, o que demonstra o grande valor que algumas pessoas dão a este tipo de liderança. Ainda assim, os estudos realizados sobre este tema, revelaram que os grupos dirigidos por um só líder têm uma produtividade e rendimento inferiores daqueles dirigidos democraticamente e, além disso, o descontentamento dos seus membros é maior. Quando um líder não se decide a estabelecer uma discussão porque tem demasiado medo, ou é excessivamente orgulhoso ou presunçoso, aquilo que na realidade consegue é prejudicar

a sua própria autoridade. Perdeu a oportunidade de demonstrar a sua autossegurança, bom senso e desejo de aprender. O estilo permissivo é frequentemente uma tentativa falhada do estilo democrático. A pessoa que exerce o poder desta forma está cheia de boas intenções e demonstra uma certa renitência em impor a sua vontade a outras pessoas. Infelizmente, estas virtudes podem chegar a ser exasperantes para aqueles, cujo trabalho requer coordenação, apoio ativo e direção. O líder permissivo não se dá conta de que dirigir e defender energicamente a equipa faz parte do seu trabalho. Ainda que os líderes, «boas pessoas» costumem ser populares entre os colegas de trabalho, estes também os taxam de débeis, brandos e incompetentes e lamentam o dia em que começaram a trabalhar sobre as suas ordens. Os três estilos tanto podem ser gratificantes como frustrantes para os membros da equipa.

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INOVAÇÃO/TECNOLOGIAS

MAIS UM MÉTODO PARA TORNAR MAIS EFICIENTE A ENERGIA SOLAR

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os sistemas de produção de energia, baseados em células solares de silício e outros semicondutores, existe o desperdício de calor suscitado pelo excesso de fotões acima da faixa do espectro utilizado. Recentemente descobriram-se pontos quânticos nos semicondutores capazes de armazenarem esses fotões de elevada energia ao converterem-nos em múltiplos excitãos, que garantem uma eficiência quântica acima dos 100%. Todos os sistemas até hoje concebidos para converter luz solar em combustíveis químicos, traduziram-se na conversão de um fotão num único eletrão passível de produzir aquele almejado produto. Mas uma inovação agora anunciada pelo Laboratório Nacional de Energias Renováveis dos EUA assinala a criação de uma nova célula eletroquímica, que duplica essa produção, fazendo com que um fotão dê origem a dois eletrões utilizáveis na reação química necessária à quebra das moléculas de água. A célula solar fotoeletroquímica agora anunciada integra um fotoeletrodo com pontos quânticos em sulfureto de chumbo, que são depositados sobre uma lâmina de vidro revestida de dióxido de titânio e óxido de estanho dopado com fluor.

Um fotoeletrodo (à esquerda) foi usado na célula fotoquímica à direita para alcançar uma eficiência quântica superior a 100% na geração de hidrogénio da energia solarC

A célula produz hidrogénio a partir de soluções aquosas de sulfureto de sódio com eficiência externa superior a 100% para fotoeletrodos de pontos quânticos com bandas de energia nas faixas de 0,85, 0,92 e 1,08 eletrões-volt e para energias de fotões incidentes superiores a 2,7 vezes a energia da banda de condução do semicondutor. Não estando em causa a criação de energia, trata-se de aproveitar o habitual desperdício de calor verificado nos sistemas convencionais, fazendo com que a conversão da luz solar em combustíveis químicos se torne mais

eficiente mediante o aproveitamento do potencial contido nos fotões. Uma maior eficiência significa menos custos e uma rentabilização acrescida nas instalações baseadas nesta energia renovável. Constatada a viabilidade do ensaio no protótipo, passar-se-á à fase seguinte, que contempla o funcionamento da célula fotoeletroquímica em maior escala, tornando-se mais concorrencial do que outros combustíveis limpos e mesmo gasolina sem petróleo, que estão a avançar rapidamente para a sua utilização prática.

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A ESCOLA SUPERIOR NÁUTICA INFANTE D. HENRIQUE CELEBROU O SEU 93º ANIVERSÁRIO

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o passado dia 28 de Setembro, no Auditório da DGRM situado no Campus da ENIDH, em Paço de Arcos, realizou-se uma sessão comemorativa do 93º aniversário da Escola Superior Náutica Infante D. Henrique (Dia da Escola), que contou com a presença da Sra. Ministra do Mar, Eng.ª Ana Paula Vitorino. O Dia da ENIDH, de acordo com os seus estatutos, deve coincidir com o dia Mundial do Mar, cuja data é determinada pela International Maritime Organization (IMO) e que este ano se comemorou em todo o mundo neste dia 28 de Setembro, sendo esta a razão para a data ser diferente da do ano transacto. Numa sala repleta de participantes: desde os jovens estudantes, sempre animados e curiosos, até a muitos dos mais antigos trabalhadores deste sector dos transportes marítimos, uns mais enrugados do que outros, mas em geral prateados, trazendo à sala a sensação de experiência, passando pelo formalismo dos representantes das entidades oficiais que nestas sessões sempre transmitem o selo do Estado, coube ao Senhor Presidente da ENIDH, Professor Doutor Luís Filipe Baptista, fazer a intervenção inicial, num discurso de saudação e balanço da actividade da Escola Revista Técnica de Engenharia

no ano transacto, mas referindo todo o trabalho realizado no seu mandato de 4 anos, que está agora a chegar ao fim. Por pensarmos que os nossos leitores que não puderam estar presentes gostariam de conhecer o conteúdo do discurso iremos transcrevê-lo, mais adiante. Falaram de seguida os outros membros da mesa começando pelo Presidente do Conselho Geral da Escola, Dr. Rui Raposo, seguindo-se o Presidente da Associação de Estudantes da ENIDH, Tiago Gomes Inácio, e o Presidente da Associação de Antigos Alunos da ENIDH, Eng. Rui Reis. Todos eles disseram palavras importantes, mas realçamos em particular a proposta apresentada por este último orador que propôs a criação de uma Comissão que preparasse o Centenário da Escola e fizesse um estudo de viabilidade para um navio escola. Nesta altura do evento foram celebrados três novos protocolos de colaboração entre a ENIDH e as seguintes entidades: a empresa Garland, a Comunidade Portuária de Lisboa e o Instituto de Socorros a Náufragos. A encerrar os discursos usou da palavra a Sra. Ministra do Mar, que utilizando a sua palavra de ordem desde

o inicio do seu mandato, afirmou que “fazer acontecer o mar” começa na ENIDH. A Sra. Ministra informou os presentes que tem um novo regime para a Marinha Mercante Nacional, o qual se encontra em Bruxelas para recolha do parecer obrigatório e que logo de seguida será apresentado na Assembleia da República para aprovação. Quem dera que nos enganemos, mas a nossa sensação é que se trata de mais uma medida que não passará do papel. Isto porque a seguir afirma “o que fizemos chegar à Comissão Europeia não tem lá nada que não exista em pelo menos um dos países da Europa”!? Por fim, a Sra Ministra, diz que as medidas que se prepara para introduzir vão “proteger os marítimos nacionais face a países terceiros”, mas curiosamente, que nós saibamos, os Sindicatos do Mar não fazem parte das entidades com quem já chegou a acordo. Em resposta à proposta do Presidente da Alumni, A Sra. Ministra disse que tínhamos, mas era, que falar com a Marinha de Guerra, para usarmos mais o Creoula e o Noruega e/ou o novo projecto, quase concluído, navio Mar Portugal. Passou-se de seguida à entrega de prémios aos melhores alunos dos curOutubro 2017 - Digital 34

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sos da ENIDH, que concluíram os seus cursos no ano letivo de 2016/2017, os quais prémios foram oferecidos pelas empresas Rebonave, Svitzer, Douro Azul e Projecto Detalhe. A sessão encerrou ao som dos cantares da Nautituna, tuna da ENIDH, que com a irreverência da sua juventude, convidaram a Sra. Ministra a subir ao palco e de, batina aos ombros, a participar na atuação da Tuna que foi muito aplaudida pela audiência. Vamos agora transcrever o discurso do Presidente da ENIDH, retirando os nomes de pessoas e entidades a quem se dirigiu, no início, saudando-os.

DISCURSO DO PRESIDENTE DA ENIDH

Hoje celebra-se o dia da ENIDH que de acordo com os seus Estatutos coincide com o Dia Mundial do Mar. Comemoram-se noventa e três anos de existência de uma Instituição quase centenária, totalmente dedicados à formação marítima. A ENIDH, enquanto entidade promotora do conhecimento e da formação de quadros superiores para o setor marítimo-portuário, tem vindo a afirmar-se ao longo dos anos para que Portugal mantenha uma imagem de prestígio na formação marítima. Procurando responder às necessidades que a Economia do Mar deve assumir para o desenvolvimento sustentado do país, a ENIDH tem como grande objetivo proporcionar um futuro de sucesso aos seus diplomados. Segundo os últimos dados disponíveis do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), a ENIDH possui

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uma das mais baixas taxas de desemprego dos seus diplomados no conjunto das instituições de ensino superior público, o que constitui um indicador importante para os jovens que pretendem ingressar no ensino superior. Ao nível das candidaturas de estudantes ao ensino superior, a Escola voltou este ano a melhorar a sua capacidade de atração de novos estudantes. Se tivermos em consideração todas as modalidades de acesso ao ensino superior estima-se que no corrente ano letivo ingressem cerca de 175 novos alunos nos cursos de licenciatura. Se a este número forem adicionados os cerca de 75 alunos inscritos nos cursos técnicos superiores profissionais, iremos ter este ano cerca de 250 novos alunos nas licenciaturas e cursos TeSP, número extremamente significativo e revelador da capacidade da Escola em atrair cada vez mais alunos para as suas ofertas formativas. No que diz respeito à captação de estudantes internacionais, no ano letivo anterior tínhamos cerca de 104 estudantes estrangeiros inscritos em cursos da ENIDH, cerca de 14% do número total de alunos da Escola, sendo maioritariamente oriundos de países de língua oficial portuguesa e do Panamá, o que constitui uma percentagem significativa do total de 770 estudantes a frequentar cursos da Escola. Gostaria de salientar pela sua importância, a frequência em diversos cursos da Escola de 35 alunos panamianos, na sequência da assinatura do protocolo de colaboração com o IFARHU, Instituto de Formação e Aproveitamento de Recursos Humanos do Panamá. Ao nível do Programa ERASMUS, continuámos a dinamizar o intercâmbio de estudantes, membros do corpo docente e não docente com instituições náuticas de países da comunidade europeia. No âmbito dos estágios de diplomados dos cursos marítimos, destaca-se o protocolo de cooperação com o armador alemão Hamburg Sud, que tem vindo a viabilizar embarques de praticantes com

apoio financeiro do Programa ERASMUS. Relativamente à melhoria das qualificações e estabilidade do corpo docente, a ENIDH tem vindo a incentivar os seus docentes a realizaram programas de doutoramento e provas para obtenção do título de especialista, conforme exigido pela legislação do ensino superior. Por conseguinte, têm-se realizado diversos concursos públicos para a carreira docente visando dotar a Escola de um quadro de pessoal docente devidamente qualificado e com condições de estabilidade na carreira. Ao nível da formação pós-graduada, assume igualmente grande relevância, o sucesso obtido na segunda edição do curso de Especialização em “Shipping & Logistics Management” da Academia MSC/ENIDH, que obteve uma taxa de empregabilidade dos formandos superior a 90%. Estou certo que a próxima edição do curso irá ser coroada de êxito a exemplo do que sucedeu nas duas anteriores edições. No que diz respeito à certificação de oficiais da marinha mercante, devido à aplicação das alterações de Manila ao STCW, a Escola realizou em 2016 um elevado número de cursos para revalidação dos certificados dos marítimos. Com efeito, cerca de 500 oficiais da marinha mercante no ativo realizaram na Escola cursos de formação de curta duração para atualização dos certificados, indispensáveis ao exercício da sua atividade profissional. Dado o enorme acréscimo de trabalho que esta atividade acarretou para a Escola ao longo do último ano, gostaria de agradecer aos membros do corpo docente e não docente envolvidos nesta atividade a enorme dedicação e esforço que tiveram para que esta tarefa pudesse ser realizada com sucesso. A Escola tem vindo igualmente a aumentar progressivamente a oferta de embarques de treino aos seus estudantes. No âmbito do protocolo estabelecido com a Escola Naval, manteve-se em vigor o programa de embarques ao fim de semana em corvetas da Marinha. Realizou-se igualRevista Técnica de Engenharia


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mente no final de agosto um embarque de treino de alunos da Escola no navio Creoula, pelo que aproveito publicamente para agradecer o apoio da Marinha Portuguesa a esta iniciativa. A Escola dinamizou igualmente o embarque de estudantes em embarcações de recreio da Associação David Melgueiro, que disponibilizou para o efeito o seu veleiro atracado na Marina de Oeiras. Gostaria igualmente de salientar a excelente colaboração existente entre a ENIDH e a empresa municipal Oeiras Viva, com o objetivo de dinamizar projetos de interesse comum na área náutica. Em particular, gostaria de destacar a colaboração da Marina de Oeiras, que possibilitou a atracação de embarcações de treino da ENIDH na marina durante largos períodos o que facilitou a realização de ações de formação da Escola.

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No que diz respeito à inserção dos diplomados da Escola na atividade profissional, a ENIDH tem procurado estabelecer protocolos com empresas armadoras de modo a assegurar estágios aos diplomados dos cursos marítimos, imprescindíveis para ascenderem à categoria de oficial da marinha mercante. Relativamente aos restantes cursos, a Escola tem vindo a celebrar um elevado número de protocolos de colaboração, visando aumentar a oferta de estágios aos nossos diplomados. Finalmente, gostaria de salientar o investimento efectuado ao longo do último ano na reabilitação do campus escolar, e que visaram melhorar as condições de trabalho e estudo da comunidade académica. Tendo em conta que a dotação orçamental das instituições de ensino superior é insuficiente para fazer face aos encargos decorrentes de alterações legislativas recentes, pelo que torna-se imperioso procurar outras fontes de financiamento para assegurar o investimento necessário para melhorar a qualidade de ensino e a requalificação das instalações escolares. Este ano, a ENIDH apresentou pela primeira vez na sua história uma candidatura a fundos comunitários do programa Lisboa 2020, tendo sido aprovado um financiamento elegível para aquisição de equipamentos de ensino com uma contrapartida a fun-

do perdido de 50%. De igual modo, continuamos empenhados na aquisição de novos simuladores para a Escola através de uma candidatura ao programa EEA Grants sob gestão da DGPM - Direção Geral da Política do Mar. Aguarda-se que as negociações entre as partes sejam finalizadas e que o projeto entre em execução em 2018. Caso este projeto seja aprovado conforme previsto, a ENIDH passará a ficar dotada de um conjunto de equipamentos de simulação modernos que a colocará como uma instituição de referência no âmbito do ensino superior náutico. Caros estudantes, caros colegas docentes e não docentes Ilustres convidados Minhas senhoras e meus senhores, O ano letivo que findou foi extremamente exigente para toda a comunidade escolar. Por este motivo, gostaria de agradecer aos membros do corpo docente e não docente toda a dedicação e empenho que tiveram para ajudar a transformar a ENIDH numa escola melhor. Gostaria igualmente de agradecer o importante papel desempenhado pela Associação de Alunos da ENIDH, que graças ao seu entusiasmo, irreverência e dinamismo conseguiu mobilizar os nossos estudantes para diversas atividades que deram visibilidade à nossa Escola no exterior.

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Sendo esta a última intervenção no dia da Escola no meu atual mandato, muito do que poderia dizer soará sempre como um balanço do que foi feito nestes últimos anos, com a consciência de que não o fizemos sozinhos, mas antes com a colaboração e o empenho dos membros do corpo docente e não docente, estudantes e entidades públicas e privadas do sector marítimo-portuário que nos têm apoiado neste esforço para melhorar a qualidade da formação ministrada pela instituição. Do vasto conjunto de ações realizadas ao longo do mandato, gostaria de destacar as seguintes: i) Criação de novas ofertas formativas, nomeadamente uma licenciatura e quatro cursos técnicos superiores profissionais; ii) Acreditação de todos os cursos conferentes de grau pela Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior e pela Agência Europeia de Segurança Marítima, no caso dos cursos marítimos; iii) Manutenção da certificação do Sistema de Qualidade da Escola; iv) Melhoria das condições de estabilidade na carreira do pessoal docente através da abertura de um número significativo de concursos; v) Renovação do corpo de pessoal não docente e melhoria das suas qualificações; vi) Estreita colaboração institucional com o Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, DGRM, EMSA, DGPM, MCTES e Ministério do Mar, nomeadamente em atividades de promoção da Economia do Mar; vii) Dinamização da cooperação com empresas e entidades do setor marítimo-portuário; viii) Aumento da visibilidade da escola no exterior; ix) Dinamização do programa Erasmus e da captação de estudantes internacionais; x) Aumento das receitas próprias; xi) Melhoria das condições de salas de aula, salas de estudo, biblio-

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teca, laboratórios, simuladores e embarcações de treino; xii) Requalificação das instalações do campus escolar, nomeadamente ginásio, piscina e Residência de Estudantes, entre outras. No entanto, como é óbvio muito ficou por fazer e será necessário prosseguir este esforço no próximo mandato de modo a termos uma escola cada vez melhor. Caberá ao Presidente da ENIDH que for eleito pelo Conselho Geral no final do corrente ano, a exigente tarefa de definir a estratégia que garanta um futuro de sucesso para a instituição. Aproveito esta oportunidade para agradecer toda a colaboração e apoio que o anterior e o atual Conselho Geral têm dado ao Conselho de Gestão da Escola. Os meus agradecimentos são extensivos aos vice-presidentes que me acompanharam com empenho e dedicação ao longo do mandato, bem como aos restantes membros do Conselho de Gestão que trabalharam afincadamente durante cerca de quatro anos para garantir que todas atividades pudessem realizar-se da melhor forma possível. Para terminar, gostaria de deixar uma mensagem de confiança aos nossos estudantes, em particular aos que agora iniciam os seus estudos na Escola, e assegurar-lhes que tudo faremos para lhes dar as melhores condições

de trabalho e de estudo, de modo a que possam ter sucesso na sua futura atividade profissional. Estou certo que, com a colaboração de toda a comunidade académica e do setor envolvente, a ENIDH irá vencer os desafios que se lhe coloquem e continuar a ser uma instituição de referência do ensino superior náutico. Muito obrigado.

Vieira Baptista pinta Infante Para a Enidh

Ainda antes do beberete, que viria a culminar este dia da ENIDH, os presentes foram solicitados a dirigir-se à Sala dos Professores, para assistirem à apresentação de um quadro alusivo ao Infante D. Henrique, pelo seu autor, o conhecido artista plástico Luis Vieira Baptista, antigo aluno da ENIDH.

Revista Técnica de Engenharia


MAR

A turbulenta história do “SEVEN SEAS NAVIGATOR”

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os últimos anos o porto de Lisboa tem sido visitado sucessivamente por um número crescente de paquetes, que despejam na cidade multidões vindas das mais diversas origens. Navios de todas as origens, dimensões, idades e antiguidades passaram a captar a atenção de quem atravessa diariamente a ponte sobre o Tejo ou quem se passeia nas zonas ribeirinhas. Daí fazer todo o sentido a publicação regular sobre este tipo de navios, onde não é crível que se encontrem colegas nossos, embora tal hipótese não se possa afastar liminarmente, tendo em conta as potencialidades de percurso profissional, que a nossa formação académica pressupõe. Neste número vamos olhar o «Seven Seas Navigator», que a 6 de outubro iniciou uma nova viagem de onze dias até Nova Iorque com escalas no Funchal, Ponta Delgada e Horta até chegar à metrópole norte-americana a 16 de outubro. Daí iniciará uma longa viagem à volta do mundo no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio só regressando ao Tejo no final de agosto do próximo ano. A sua história é muito curiosa: encomendado aos Estaleiros do Almirantado de Leninegrado pela União Soviética ainda em 1987 com o objetivo de se tornar num grande navio de investigação oceanográfica, não tem, por Revista Técnica de Engenharia

O navio na sua reconstrução em Génova em 1997

isso mesmo, o aspeto habitual dos que são projetados para as viagens de lazer. Lançado à água em 1991 em São Petersburgo com o nome de «Akademik Nikolay Pilyugin», ficou dois anos atracado no estaleiro devido a todas as perturbações relacionadas com a implosão do regime comunista e a transformação da Rússia naquela coisa híbrida meio indefinida, que até hoje ainda não se clarificou. O propósito científico, que estivera na origem da encomenda, deixou de fazer sentido para as novas autoridades de Moscovo e chegou a aventar-se a possibilidade de mandar o navio só cumprir a viagem inaugural diretamente para o local onde viesse a ser demolido. Foi então que uma empresa especializada no management de navios, a V-Ships, o comprou e fez rebocar até Génova. A fotografia de 1997, que o

mostra atracado no porto italiano revela por si mesma o nível de degradação por ele sofrido nesses anos de impasse quanto ao seu destino. Rebatizado como «Blue Sea» sofreu reparações de requalificação nos Estaleiros Mariotti para ser transformado em navio de cruzeiros. Tão só concluído esse processo foi imediatamente vendido confirmando-se o grande furo comercial, que representou esse negócio de dar nova vida ao queu tão torto nascera. Mudaram-lhe, entretanto, o nome para o atual e registaram-no nas Bermudas, situação que entretatno se alterou, porquanto hoje navega com o pavilhão das Bahamas. Operado pela empresa armadora - a Radisson Seven Seas Cruises - o «Seven Seas Navigator» comporta 28 550 tons de arqueação bruta e tem como medidas 170,7m x 24,8m x 39 m. O calado é de 12,3 metros e tem 13 pisos para alojar os 490 passageiros. Essas áreas ocupadas pelos clientes foram objeto de nova requalificação no ano transato, num investimento que ascendeu a 40 milhões de dólares. A propulsão é assegurada por quatro motores Wartsila 8L38, que proporcionam 19,5 nós nas duas hélices de passo controláveis. Falta dar conta da tripulação, que comporta 340 colaboradores dos dois sexos e de várias origens como se tornou regra neste tipo de navios. Outubro 2017 - Digital 34

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PESSOAS / RECORDANDO

CURSOS DA ENIDH DE 1972 E 1980 ORGANIZAM ALMOÇOS Comemorativos

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ais do que dar uma notícia, ou uma informação sobre dois eventos previstos para o próximo dia 21 de Outubro, um na Figueira da Foz e outro em Setúbal, como militante assumido das recordações, porta estandarte da palavra de ordem “recordar é viver”, apoiante da ideia de que nós somos as nossas lembranças, nós somos o que vivemos, amante incondicional da nossa exclusiva palavra saudade, consciente de que tudo o que tivemos e vimos e fizemos nos fizeram vir até onde hoje esta-

mos, mais do que dar a informação, dizia, eu celebro a amizade, relevo as recordações e, por isso, brindo a encontros deste tipo. Os meus caros leitores já pensaram como é bom ter coisas para recordar. Vivam os almoços comemorativos. Um organizado pelos ex-estudantes da Escola Náutica, hoje ENIDH – Escola Superior Náutica Infante D. Henrique, que terminaram o seu Curso em 1972, a realizar no dia 21 de Outubro, pelas 13 horas, no Restaurante O PELEIRO, sito no Paião, Figueira da Foz, comemorando o 45º Aniversário

CURSO DE 1972 ALMOÇO COMEMORATIVO DO 45º ANIVERSÁRIO Restaurante “O Peleiro” no Paião, Figueira da Foz 21/10/17, 13 horas

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do Curso. Vai haver um autocarro com saída de Lisboa que irá transportar a maioria dos participantes do sul. Todos irão ser prendados com uma surpresa muito interessante, que apresentaremos no próximo número desta revista. O outro, na mesma data, mas em Setúbal, organizado pelos estudantes que concluíram o Curso em 1980, além do almoço terão a antecede-lo um conjunto de actividades físico/ desportivas que não contarão para qualquer campeonato, mas somente para agitar algum menos mal bebido. No seu programa consta: Encontro na doca dos pescadores em Setúbal, em frente ao Bowling, pelas 11h com Moscatel de boas vindas, seguido de Torneio de Bowling e/ou Ténis de mesa, num desprezando uns aperitivos bem regados, com aquilo que temos de bom. Pelas 13 h será servido um lauto almoço preparado por um cozinheiro vindo de Aveiro, o Capitão Bixirão que além de confecionar a sua famosa “Chora de Bacalhau” fará mais umas “bacalhauzices” a fazer lembrar a pesca do bacalhau. Pelas 15h haverá a entrega de prémios dos torneios. Às 16h, com muita pena de todos, a sala tem de ser disponibilizada, podendo uns ir para casa e os outros quem preferir, ir até ao Ostradomus (5 minutos a pé) e pode continuar em amena cavaqueira até se cansar.

CURSO DE 1980 ALMOÇO COMEMORATIVO DO 37º ANIVERSÁRIO Sala do Bowling em Setúbal 21/10/17, início às 11 horas

Revista Técnica de Engenharia


SEGURANÇA

Regulamento técnico de segurançacontra incêndio em edifícios

O CONTROLO DE FUMO EM PÁTIOS ANTERIORES E DOS LOCAIS SINISTRADOS NO INTERIOR DOS EDIFÍCIOS

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os edifícios que possuem pátios interiores estes consideram-se naturalmente desenfumados. O controlo de fumo nos pátios interiores cobertos prolongados até ao topo do edifício pode ser realizado por desenfumagem passiva ou ativa. Nas instalações de desenfumagem passiva, as aberturas para admissão de ar devem ser colocadas na zona inferior do pátio e o mais baixo possível enquanto as dedicadas à evacuação de fumo devem consistir em exutores dispostos na sua cobertura. Caso existam paredes exteriores sobranceiras à cobertura com vãos não protegidos os exutores devem respeitar a distância mínima de 4 m a essas paredes. Excecionalmente, podem ser considerados vãos de evacuação de fachada, desde que estejam situados no terço superior do pátio e não contribuam com mais de um terço para a área total útil das aberturas de evacuação. A área total útil das aberturas para evacuação não deve ser inferior a 5 % da maior das secções horizontais do pátio, medidas em planta. As instalações devem dispor de comando automático a partir de detetores óticos lineares de absorção instalados na zona superior do pátio e, no caso de pátios com altura superior a 12 m, de detetores idênticos instalados a média altura e de comando manual de recurso, devidamente sinalizado, acionável a partir do piso principal. Devem ser dispostos painéis de cantonamento ao longo do perímetro do pátio que confine com vias horizontais servindo locais de risco A ou B, para garantir uma altura livre de fumos mínima de 2 m, na desenfumagem dessas vias. São permitidas instalações de desenfumagem ativa, desde que produzam Revista Técnica de Engenharia

resultados equivalentes aos das instalações atrás referidas. No caso de existirem espaços do edifício com aberturas para o pátio dotados de instalações de desenfumagem ativa, devem ser previstos painéis de cantonamento entre tais espaços e o pátio. O controlo de fumo nos pisos dos pátios interiores cobertos abertos pode efetuar-se por meios ativos e por hierarquização de pressões, mantendo o piso sinistrado em depressão relativamente aos restantes. O controlo de fumo nos locais sinistrados pode ser realizado por desenfumagem passiva ou ativa. Os locais não compartimentados, cuja área seja superior a 1 600 m2 ou em que uma das suas dimensões lineares exceda 60 m, devem ser divididos em cantões de desenfumagem, preferencialmente iguais, cujas dimensões não ultrapassem aqueles valores. Apenas se excetuam de tal regra os espaços dedicados ao estacionamento de veículos. Nas instalações de desenfumagem passiva, as aberturas para admissão de ar devem ser instaladas totalmente na zona livre de fumo e o mais baixo possível, enquanto que as aberturas para evacuação de fumo se devem dispor totalmente na zona enfumada e o mais alto possível.

O somatório das áreas livres das aberturas para admissão de ar deve situar-se entre metade e a totalidade do somatório das áreas livres das aberturas para evacuação de fumo. Se o declive do teto não for superior a 10 %, a distância, medida em planta, de um ponto do local a uma abertura de evacuação de fumo não deve ser superior a sete vezes o pé-direito de referência, com um máximo de 30 m. Se o declive do teto for superior a 10 %, as aberturas para evacuação devem ser localizadas integralmente acima do pé-direito de referência e o mais alto possível. No caso de bocas de evacuação ligadas a condutas verticais, o comprimento das condutas deve ser inferior a 40 vezes a razão entre a sua secção e o seu perímetro. Quando, no mesmo local, existirem exutores e vãos de evacuação de fachada, estes apenas podem contribuir com um terço para a área total útil das aberturas de evacuação. A área total útil das aberturas para evacuação deve ser objeto de cálculo devidamente fundamentado. Consideram-se naturalmente ventilados e desenfumados por meios passivos: Outubro 2017 - Digital 34

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SEGURANÇA

- os locais que apresentem fenestração direta para o exterior, desde que os respetivos vãos possam ser facilmente abertos e as vias de acesso sejam desenfumadas; - os pisos dos parques de estacionamento cobertos abertos; - os pisos dos parques de estacionamento semienterrados onde, sobre duas fachadas opostas, seja possível saída de fumo, ventilação alta, cujas bocas em ambos os casos tenham dimensões superiores a 0,06 m2 por lugar de estacionamento, em condições que garantam um adequado varrimento; - os parques de estacionamento de risco reduzido, desde que possuam condições para garantir um adequado varrimento.

As bocas de extração devem ser distribuídas à razão de uma por cada 320 m2 de área do local e proporcionar um caudal de 1 m3/s por cada 100 m2 de área do local, com um mínimo de 1,5 m3/s. Os sistemas de desenfumagem ativa comuns a vários locais devem ser dimensionados para a soma dos caudais exigidos para os dois locais de maiores dimensões. Nos pisos dos parques de estacionamento cobertos fechados a extração de fumo em caso de incêndio deve ser ativada com um caudal de 600 m3/hora por veículo no compartimento corta-fogo sinistrado e a insuflação deve ser parada no compartimento corta-fogo sinistrado e

ser acionada nos compartimentos corta-fogo adjacentes que comuniquem com o sinistrado, com caudais iguais a 60% da extração do piso sinistrado; No caso particular de compartimentos corta-fogo que não possuam, no seu interior, rampas de comunicação a outros pisos, a desenfumagem tem de ser efetuada, nesse compartimento, por insuflação ou extração com os caudais anteriores. O sistema de controlo de fumo pode recorrer ao sistema de ventilação para controlo de poluição por meios ativos desde que disponha das características exigidas pelo regulamento para o controlo de fumo.

OS PERIGOS DO MANUSEIO E UTILIZAÇÃO DOS CILINDROS COM GASES

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m dos maiores riscos, que procuramos prevenir na nossa profissão tem a ver com o manuseio, conservação e utilização de cilindros de gases, contenham eles oxigénio, acetileno ou azoto. Perigos de incêndio ou de explosão têm de ser tidos em conta e obrigam à implementação de medidas de segurança tão eficazes quanto possível. Que elas não bastam dá-nos conta o «MI News Network», que reporta em 5 de setembro um acidente fatal num navio de passageiros. Como de costume este órgão informativo não especifica em que navio foi ou em que porto norte-americano aconteceu. Fiquemo-nos, pois, pela descrição para que possa servir de caso de estudo que incentive maiores cuidados em quem nos lê e seja responsável por instalações onde algo de similar possa suceder. Tudo começou com a manutenção de um dos salva-vidas enquanto o navio estava atracado ao cais. Quem por ela se responsabilizava deu conta da perda de pressão num dos cilindros

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de nitrogénio utilizados para o lançamento à água da embarcação em caso de urgência e com o navio em black out. Um dos quatro cilindros, que integrava o «sistema de energia auxiliar» apresentava só 165 bar, quando o devido se situava entre 180 e 210. Algo que não surpreendeu o tripulante em causa, porque comum na situação em que eles estavam dispostos, sujeitos às condições adversas do ambiente marinho.

Verificados os tubos de ligação não se lhes encontrou deficiência que os identificasse como causa do sucedido. Razão para se decidir a substituição do distribuidor pneumático, que servia o conjunto dos cilindros. Após se proceder a essa tarefa o sistema voltou a ser carregado de acordo com o protocolo previsto para o devolver à pressão de funcionamento. Foi então, que sem qualquer pré-aviso, um dos cilindros estoirou, projetando estilhaços e detritos em todas as direções. Um dos tripulantes, que acompanhava a operação, sofreu lesões fatais. Na peritagem que se seguiu concluiu-se que o cilindro em causa estava seriamente corroído no seu interior, chegando a parede a estar reduzida em 75% na espessura devida. Inspecionados os outros cilindros a bordo constataram-se idênticas deficiências nalguns deles apesar de evidência da sua inspeção anual. O caso levará a maior exigência quanto ao conteúdo dessas inspeções, que passará obrigatoriamente pela medição regular das espessuras em causa. Revista Técnica de Engenharia


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