Foto: Paula Caal
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Dança
em Pernambuco NESTA EDIÇÃO Clube das Pás mantém tradição
Adultos aderem à prática do balé
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Dançarino de aluguel tenta superar preconceito
Biodança gera benefícios à saúde
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O BERRO
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Carta ao leitor
Um mundo de movimentos dança no Recife. Desde pessoas com deficiência, que superam os limites do corpo, à formação acadêmica de profissionais da área. Do forró estilizado aos descontraídos passos da biodança, passeando pela coreografia elaborada do balé e pelos atuais problemas do frevo. O Berro mostra também que tradições orientais deixaram um legado às mulheres do nosso tempo, entre eles a sensual dança do ventre, que, adaptada à realidade ocidental, exala feminilidade através de movimentos que envolvem todo o corpo. Hoje, banida em alguns países árabes, a dança, há muito tempo,
Foto: Paula Caal
Quem nunca teve vontade de remexer o corpo enquanto ouvia uma música, um batuque, um frevo? Esta edição do jornal O Berro é inteiramente dedicada à dança, atividade que tem papel bastante significativo na evolução humana, sendo vista, ao longo dos séculos, não apenas como forma de entretenimento como também instrumento de libertação e terapia. A dança encontrou maneiras de comunicar, transpondo barreiras físicas, culturais e políticas. Nas próximas páginas, o leitor vai encontrar histórias de pessoas que não só vivem financeiramente da arte como
fazem dela a sua motivação para superar desafios. As reportagens a seguir
buscam proporcionar uma fonte de conhecimento e reflexão acerca da realidade da
deixou de sofrer preconceito no Brasil, o que, infelizmente, não acontece com os personal dancers, dançarinos contratados na noite, vítimas constantes de discriminação. Metrópole famosa pelos tradicionais ritmos da terra, a capital pernambucana mostra a multiplicidade de alternativas que o amante da dança pode encontrar sem sair da cidade. Este jornal procura oferecer uma abordagem, sempre que possível crítica, das atividades que movem a arte na região. Um olhar, essencialmente, sobre a vida, as pessoas, seus passos, desenvolturas e posições no cenário do Recife.
ALEXANDRA GAPPO
Disciplina, esforço físico e vocação são características necessárias para ser um profissional de dança. A carreira, em suas duas vertentes (bailarino e professor), atualmente não é bem remunerada, a concorrência é dura, e a falta de profissionalização prejudica esse campo de trabalho. No Recife existem inúmeras academias de dança que exploram a aptidão do bailarino, sem focar o lado teórico dessa atividade. Para suprir essa urgência de um curso superior na área, o Ministério da Educação integrou a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) ao Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais (Reuni), o que resultou na liberação de R$ 58,4 milhões para viabilizar o curso de Licenciatura em Dança, criado em 2008. O objetivo não é formar bailarinos, mas sim profissionais para atuar como professores. A maior dificuldade está no mercado de trabalho, que não dispõe de muitas opções, pelo fato de a dança ainda não estar inserida nos programas das escolas públicas e privadas de Pernambuco. A coordenadora e professora da graduação, Márcia Virgínia Araújo, descreve o público do curso e as dificuldades encontradas por eles. “A suspresa foi que apareceram não só pessoas já envolvidas com a
dança mas também pessoas interessadas no aprendizado em si. Uma das preocupações da gente como professor é onde esses alunos irão atuar além dos cursos de dança ”.Os candidatos às 30 vagas passam por testes de aptidão. Por eles são observados aspectos de postura e domínio corporal, além de criatividade e comunicação. Atualmente, a UFPE é a única universidade a abrigar uma graduação nessa área em Pernambuco, um diferencial para os alunos que recebem orientações teóricas e práticas. Djalma Rabelo, 21 anos, estudante do 4º período, é bailarino desde os 11 anos e optou por ter um curso de ensino superior no currículo: “Já passei por
Foto: Alexandra Gappo
Curso de graduação profissionaliza jovens
LICENCIATURA Alunos de graduação misturam teoria e prática
academias de dança, mas a graduação tem outro teor, o pedagógico. Ela junta a arte com a educação.” Assim como Rabelo, a estudante Taciana Silva, 22, também do 4° período do curso, explica que ainda
EXPEDIENTE Coordenador do Curso de Jornalismo Alexandre Figueirôa O BERRO é uma publicação da Disciplina Jornal-Laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade Católica de Pernambuco. Rua do Príncipe, 526 - Boa Vista - Recife-PE 50.050-900 CNPJ 10.847.721/0001-95 Fone: (081) 2119.4000 Fax: 81 2119.4222 | site: www.unicap.br/oberro
Professor Orientador Marcelo Abreu Subeditores Alexandre Cunha Mariana Lemos
Repórteres Alexandra Gappo Alexandre Cunha André Amorim André Maia Eliane Carneiro Gabriela Alcântara Gabriela Arantes Thereza dos Anjos Mariana Lemos Milton Raulino Rodrigo Adamski Tássia Melo
Revisão Fernando Castim Diagramação Flávio Santos Impressão FASA
existe preconceito na área e que as pessoas não sabem o que a dança lhes pode proporcionar. “Para mudar isso, é preciso que a maior parte da população tenha acesso à dança como conhecimento”, afirma Taciana.
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ALEXANDRE CUNHA
No alto do portão da entrada, após as catracas, uma placa com letras vermelhas adverte: “proibido usar bermuda neste recinto”. Um pouco mais acima e centralizada, outra chama a atenção sobre cigarros e bebidas no salão, proibidos. Aos que julgarem pela primeira vista, o ambiente parece ter a rigidez de um quartel militar. Porém basta alguns passos para se constatar a atmosfera de nostalgia e amizade no interior do Clube das Pás. Oriundo de um bloco carnavalesco criado por operários e carvoeiros do Porto do Recife, em 1888, o lugar se mantém, até hoje, como um dos maiores pontos de dança do estado. O eclético repertório dos bailes (desde valsas vienenses ao regionalismo do brega) atrai um público mais
Foto: Alexandre Cunha
Clube das Pás mantém saudosismo
CASA CHEIA Mesmo sem apoio, local continua com público fiel
Não troco as Pás por clube algum”, afirma. Além da estrutura física, a preferência também pode ser explicada por outra razão: foi no local que, há 15 anos, o professor conheceu sua mulher. “No dia em que ela visitou o clube pela primeira vez, na companhia da mãe, acabamos nos conhecendo. Como se diz por aí, foi amor
experiente e saudosista, cujos cabelos brancos não impedem a jovialidade do corpo. De acordo com o professor universitário Gilberto Pereira, assíduo frequentador do clube há mais de 20 anos, o fator primordial para o sucesso é a qualidade do salão. “Pelo piso ser de taco, dançamos como se estivéssemos de patins, deslizando no gelo.
à primeira vista”, lembra Pereira, casado há oito anos. Para ele, o único aspecto negativo do espaço são as cadeiras e mesas, ainda antigas e desconfortáveis. Segundo Álvaro Melo, diretor de promoção de eventos das Pás, essa é uma reclamação habitual por parte dos visitantes; a seu ver, o motivo está na omissão por parte das autoridades que lidam com cultura em Pernambuco. “Falta incentivo das entidades competentes, o clube apenas ganha notoriedade no carnaval. As Pás é mais antigo do que o próprio frevo (19 anos de diferença) e as pessoas esquecem ou desconhecem sua importância histórica”, conta o administrador. O local é conhecido como a universidade do frevo e promove, gratuitamente, uma escolinha do tradicional ritmo para crianças e adoles-
centes do bairro de Campo Grande, onde fica localizado o clube. Com cerca de 12 participantes, o grupo já realizou apresentações em países europeus, sendo a mais recente na Suíça. Um projeto para oferecer turmas de dança de salão é também objetivo das Pás, mas os interessados já podem ensaiar os dois pra lá e dois pra cá quatro vezes por semana (de sexta a segunda), nas tradicionais festas da casa. O associado Hercílio Sena Salles, há três décadas participante ativo dos bailes, afirma jamais ter presenciado qualquer confusão no lugar. “O Clube das Pás é uma higiene mental para todos. Um grande exemplo à juventude de que, para se divertir, não é preciso violência”. Como diz a frase na fachada do local, “lugar onde se dança com muita paz”.
em casa assistindo à televisão ou fazendo crochê O que um professor de está longe de fazer parEducação Física, um ex- te da rotina de mulheres militar e um fiscal da pre- como Ângela Valença, 58 feitura têm em comum? anos, que é formada em Todos eles se encontram Relações Públicas e danno baile da casa Black Tie, ça, no mínimo, uma vez pelo menos três vezes na por mês com seu personal, semana, para fazer aquilo Del Santana, ex-sargento. de que mais gostam: dan- Elegante e animada, Ânçar. E não é só isso; além gela conta que procurou de passarem Santana logo horas a fio Conhecidos depois de so“fazendo o comos personal frer de uma passo” no forte crise salão, os ra- dancers, eles de deprespazes ainda fazem companhia são. “Ano lucram. Eles para mulheres passado, são os cha- que adoram descobri que mados perestava com dançar sonal dancers, câncer. Dedançarinos pois disso, de aluguel profissionais, entrei em depressão. Duque a cada dia estão re- rante minha recuperação, cebendo mais e mais te- dançar foi a minha válvula lefonemas do público fe- de escape, e o Del passou minino, formado, em sua de professor a amigo.” maioria, por senhoras de A relação das senhoras idade, viúvas ou divorcia- com os dançarinos, que das, que gostam de curtir geralmente são homens a noite. muito bem arrumados, Nos dias de hoje, ficar cheirosos e sorridentes, é MARIANA LEMOS
Foto: Mariana Lemos
Mulheres contratam dançarinos
PROCURA no Recife, cresce o número de personal dancers
sempre de muita parceria e companheirismo. Para eles, a aparência conta bastante para o sucesso na profissão. “Você tem que estar sempre bem vestido e ser uma pessoa bem educada, não adianta só ser um bom dançarino”, diz Sidney Assunção, 30 anos e fiscal da Prefeitura durante o dia. Assunção, que tem clientela fixa, diz que, com o tempo, o personal acaba tornando-se uma espécie de psicólogo
das clientes. “Entre um passo de dança e outro, elas sempre chegam para conversar sobre seus problemas pessoais, principalmente as mais antigas, com quem tenho mais intimidade”, declara o dançarino. Mas nem sempre tudo são flores. “A maioria dos homens que estão no baile não gosta dos dançarinos, eles dão cotovelada, empurrão e te olham de cara feia. Isso nos deixa um
pouco chateados, pois somos profissionais e temos que passar por cima disso”, responde o professor de Educação Física, Alexandre Santana, 34 anos. Esse tipo de atitude no salão mostra que ainda há desrespeito com a profissão. Mas contra fatos não há argumentos. Hoje em dia, um bom dançarino pode viver, sim, apenas do seu trabalho com a dança. Como bailes não faltam na noite recifense, se o personal tiver fôlego para dançar de cinco a seis noites por semana, ele pode ganhar até R$ 2 mil por mês. Isso porque a dama paga a entrada do dançarino, o que ele consumir e o valor acordado pela noite de trabalho, que varia entre R$ 80,00 e R$ 100,00. “Esse é um trabalho como outro qualquer, nem melhor nem pior que o de ninguém, existem médicos, advogados e personal dancers”, afirma Santana.
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ELIANE CARNEIRO
Perder, ou nunca ter tido, o movimento nas pernas não impede ninguém de dançar. A funcionalidade dos membros inferiores é irrelevante, quando a música toca e convida o corpo a se expressar. As batidas sonoras são cúmplices nesse momento de entrega, em que o deficiente vence obstáculos ao rodopiar pelo salão. Esse é o caso da bióloga Rosália Cavalcanti, 40, e da comerciante Rilmar Barros, 50, que, desde 2008, praticam a dança esportiva em cadeira de rodas. Atualmente, elas integram o grupo Cia Cadências, pioneiro em Pernambuco nessa modalidade. É necessário, para participar de uma companhia do tipo, um investimento financeiro, uma vez que a aquisição da cadeira especial – que suporta o peso extra do parceiro durante as coreografias – custa mais de R$ 3.000,00. O fator emocional também é decisivo para a integração ao grupo. A reação do cadeirante à dança depende do tipo de paralisia por ele desenvolvida.
No caso da bióloga Rosália, que contraiu ainda na infância poliomielite, essa relação ficava apenas na vontade. “Eu me imaginava dançando, porém só me via andando, sempre em pé, nunca em uma cadeira de rodas”, declarou. Com o trabalho dos professores, aprendeu que, mesmo cadeirante, conseguia dançar, além de ter outros benefícios. “Me senti capaz, percebi que posso fazer algo que não
Dificuldades, como a falta de local e horário específicos para a realização de ensaios não abalam a união dentro do grupo Cia Cadências imaginava. Eu prestei mais atenção ao meu corpo. Tinha vergonha dele, mas hoje o aceito. A dança não mexe só no corpo mas também na alma”, contou. Para a comerciante Rilmar Barros não é uma questão de
autoestima, mas de conquistar espaço, estar inserida na sociedade. Mesmo com parte dos movimentos comprometidos, devido a um acidente de carro, os compromissos dela são iguais aos de todo mundo, seja no trabalho ou com as duas filhas, nada a impede de ir e vir, inclusive de dirigir um carro adaptado. Então, dançar torna-se outra conquista. “Sempre gostei e foi o máximo descobrir que poderia fazer na cadeira de rodas. Sou independente e adoro a vida, adoro dançar”, disse. A Cadências, companhia da qual elas fazem parte, tem um trabalho na reabilitação do deficiente físico através da dança. O gupo é coordenado pelas professoras, formadas em educação física, Lilianna Martins e Maria Eliza Mendes, que desenvolvem no Estado essa integração artística entre dançarinos sem deficiência e cadeirantes. Os entraves para manter o grupo são os mesmos de qualquer outra companhia. A começar pela falta de estrutura, pois não dispõe de uma academia para os ensaios, que ocorrem sem dia fixo e em
Foto: Eliane Carneiro
Cadeirantes superam deficiência
SOBRE RODAS Rosália (esq.) e Rilmar (dir.) praticam a dança com alegria
locais improvisados – como a sala de exercícios de um condomínio residencial –, a escassez de patrocínio, e o próprio acesso aos locais de apresentação de dança esportiva em cadeira de rodas. No entanto, essas dificuldades unem o grupo na divulgação da dança sobre rodas, que, segundo Mariel Rocha,
psicóloga e coordenadora do projeto Fazer Viver, melhora a vida dos participantes. “Qualquer atividade, principalmente atividades lúdicas: de dança, de música, de arte, tudo isso é bom para as pessoas com deficiência. É uma forma de elas se inserirem socialmente, desenvolvendo outras habilidades que têm”, afirmou.
Balançando ao som frenético das guitarras GABRIELA ALCÂNTARA
O som que sai das caixas é agitado e clássico. Ao ouvir as primeiras notas da guitarra, uma comoção geral pode ser sentida na pista de dança, e uma moça mais animada levanta os braços para comemorar: o dj acabara de colocar “Voodoo Child”, de Jimmy Hendrix, considerado por muitos o melhor guitarrista do mundo, e um dos músicos quase obrigatórios nas pistas de dança. Quer dizer, ao menos naquelas em que o rock ‘n roll predomina. Não é de hoje que os jovens começaram a requebrar ao som das guitarras. A bem da verdade, o rock nasceu, em meados dos anos 1950, como uma música que tocava principal-
mente em bailes estudantis. Quem não se lembra do rebolado de Elvis, que encantava as moças e inspirava os rapazes? Difícil também esquecer os bailinhos dos anos 1960, onde os Beatles reinavam – ou, para quem prefere um olhar mais local, os rapazes do The Fevers, que, por sinal, ainda estão por aí. Para a graduada em cinema Ianah Maia, 22, a dança é uma forma de libertação. Ela afirma que junta rock e dança sempre que pode, e diz ainda que isso a ajuda a relaxar. Segundo Ianah, as festas trazem também a chance de conhecer novas bandas: “sei que não é tão novo, mas conheci os Talking Heads em uma festa a que fui na semana passada”.
E que não se enganem os puristas, acreditando que apenas os ouvintes de um estilo mais pop ou indie conseguem entrar no baile: metaleiros e punk rockers
“O rock é bom de se dançar porque é classico, atemporal”, afirma o produtor Pedro Santos também dançam. Sim, pois, se em seu sentido mais cru, a dança é uma reação do corpo ao estímulo musical, nada mais natural que entrar numa roda punk para dançar, mesmo que isso signifique fazer movimentos agressivos com chutes e pontapés. De acordo com o
estudante Marcelo Moreira, 19, quando se escuta uma boa guitarra, “a vontade de bater cabeça é praticamente instantânea”. Independente do gênero, o rock volta a tomar seu espaço nas pistas - onde, atualmente, predominam o pop, brega ou funk. Isso acontece, provavelmente, porque os frequentadores de festas de rock se identificam mais facilmente com as músicas, que geralmente ouvem em casa. O músico Diego Max, 23, que também trabalha como dj, diz que já salvou algumas pistas de dança com o estilo. “Alguém colocou um remix de Mpb antes de eu entrar, daí ataquei de ‘Free the robots’ e foi uma reação quase imediata, de gente pulando e neguinho batendo
o pé e sacudindo a cabeça”. O jornalista e designer Luiz Arrais, 57, ressalta ainda que o ritmo acelerado traz à tona várias facetas das pessoas. “Sempre fui muito tímido, mas, em todos os shows do Ave Sangria, eu subia no palco e dançava sozinho quando eles tocavam ‘Geórgia, a carniceira’”. ATEMPORAL Para o produtor Pedro Santos, 24, o rock “é bom de se dançar porque é clássico, atemporal. Enquanto hoje em dia tem gente lotando festa de brega, daqui a uns anos, ninguém mais vai querer ouvir isso. As guitarrinhas não, essas estão aí desde que minha avó suspirava pelo Johnny Cash”.
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Foto: Gabriela Arantes
Prática do balé beneficia adultos
EXPERIÊNCIA Pessoas de mais de 30 anos iniciam prática da dança
formado e, por isso, é mais fácil moldá-lo. E as dificuldades de um adulto acontecem por vários fatores: sedentarismo, idade, vícios posturais e diminuição da mobilidade. Mas a prática pode ajudá-los a superar esses entraves”, afirma Alexandre Troccoli, professor de balé para adultos. “No início, tive problemas com coordenação motora e sincronismo, mas trabalhei em cima deles com exercícios e ganhei equilíbrio,” conta a atendente Magalli Fernandes, 50 anos. O perfil dos alunos que vão em busca do balé é representado por universitários, pessoas
O estilo clássico sempre esteve associado a crianças e adolescentes. Essa visão foi reforçada, ao longo dos anos, sob o lema de quanto mais cedo a pessoa iniciar no balé, melhor para sua desenvoltura, em virtude de o corpo ainda se encontrar em formação e apto a submeterse à dura rotina de exercícios. Devido a isso, é muito comum os pais matricularem os filhos na infância para incentivá-los à prática do balé e, a partir daí, despertar neles o interesse de permanecer na dança pelo resto da vida. No entanto, o universo sofisticado e complexo do balé se modificou. O que antes parecia impensável, hoje é totalmente possível, especialmente para aqueles de 30, 40 ou 50 anos. “Antes, havia uma pressão de que o balé não era para adultos e que eles não podiam fazer isso ou aquilo. Mas, com o passar do tempo, eles perceberam que podiam dançar, sim. E o melhor de tudo: vale a pena”, conta Flávia Barros, 70 anos, professora de balé, formada pela escola de dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Ao som da música clássica, os alunos fazem alongamento, flexões, atividades no solo, no centro (adágio), na barra e de frente ao espelho, de saltos e pliés (dobrar o joelho). Por exigir rigor e esforço, as limitações para um adulto são mais evidentes do que para uma criança. “O corpo de uma criança não está
Foto: Gabriela Arantes
GABRIELA ARANTES
que nunca tiveram contato com a dança e por gente que, de alguma maneira, deseja resgatar a modalidade clássica. A assitente
“A dança mantém o corpo em movimento, proporcionando o bem-estar”, diz o fisioterapeuta Bruno Melo social Mônica Barroso, 46 anos, faz balé desde os oito anos, mas deixou de se apresentar nos
palcos em 2001 para se dedicar à área profissional. “Hoje faço balé com o objetivo de manter a forma. Em vez de recorrer a exercícios como pilates, pratico a dança duas vezes na semana. O balé me dá prazer”. Outro detalhe importante é o benefício ao corpo e à mente. “A dança, enquanto atividade física, mantém o corpo em movimento, proporcionando o bem-estar”, diz o fisioterapeuta e professor da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap) Bruno Melo. A terapeuta ocupacional e professora da Universidade Federal de Per-
nambuco (UFPE) Flávia Pereira complementa: “ Dançar melhora o humor, reforça a identidade e facilita as relações interpessoais”. A psicóloga Magda Figueiroa, 43 anos, atribui ao balé a melhora em sua qualidade de vida. “Antes, eu sentia dores nas pernas e muito cansaço. Com o balé, esses problemas desapareceram. Além disso, ele trabalha minha memória, tira o estresse e melhora minha autoestima”, afirma. Cuidados com a realização dos exercícios, dormir bem e ter uma alimentação saudável são essenciais para o bom funcionamento do corpo. MOVIMENTO Alunos aproveitam para se exercitar na barra
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MILTON RAULINO
Halteres pesados, horas de corrida e muito esforço. Esqueça tudo isso. A busca pelo corpo perfeito, que leva homens e mulheres de todas as idades às academias de ginástica, pode ser simplificada por uma atividade bastante divertida. A arte de dançar alia perda de calorias ao ganho de qualidade de vida e de bem estar físico, mental e emocional. Tal como através de exercícios físicos comuns, é possível deixar o corpo em forma dançando. Em uma hora de tango ou balé clássico, por exemplo, uma pessoa gasta, em média, entre 300 e 350 calorias. Já em ritmos mais agitados, como samba ou salsa, pode-se queimar até 450 calorias. Sendo feita com regularidade e supervisionada por um profissional, a prática pode, inclusive, substituir atividades aeróbicas, como esteira e bici-
Foto: Milton Raulino
Melodia e ritmo na hora de malhar
BODY PUMP Atividade é uma das inovações da malhação tradicional
cleta. “Além da perda calórica, ela tonifica os músculos, exercita a flexibilidade e é bastante prazerosa”, diz a professora de educação física Eunaítala Farias. A eficácia da arte como atividade física acabou se desdobrando em novos tipos de exercícios da musculação tradicional. É o caso do body jump, por exemplo, que consiste em coreografias coordenadas feitas sobre a cama elástica. Já o body pump representa um tipo de malhação ritmada. “Os pumps e jumps são uma
a disposição para enfrentar a rotina. “A dança faz muito bem, porque você se exercita divertindo-se, fazendo algo que lhe dá prazer”, diz Bruna.
mistura de dança, música e atividade aeróbica. Essa combinação é potente para quem quer perder peso, além de fazer bem ao coração”, afirma Eunaítala. Outra modalidade que tem sido frequentemente procurada nas academias é a dança aeróbica. Bruna Monteiro, professora de educação física, já ensina esse tipo de dança há quatro anos. Nelas, os alunos se exercitam ao som daquilo de que gostam – do brega, ao axé e à música eletrônica. E é assim que eles encontram
SAÚDE ALÉM DO CORPO Apesar de um corpo sarado ser o objetivo de alguns dançarinos e atletas, o bemestar reservado aos praticantes da arte é ainda mais amplo. Muito mais que trabalhar o físico, ela também gera satisfação mental e emocional. “A dança é exercício para o corpo e para a alma. Com ela,
conseguimos expressar nosso estado interior, como também nos melhoramos por dentro”, diz a terapeuta holística e professora de dança cigana, Roberta do Espírito Santo. Os alunos de Roberta aprendem uma espécie de terapia que foi formulada pela professora há dois anos. Nela, o dançarino passa a se conhecer melhor e a ficar mais à vontade consigo mesmo. “Muitas vezes, a vida corrida trava nossos movimentos. Dançando, podemos relaxar e desestressar para vivermos melhor, sendo quem realmente somos”, explica. Como resultado, a turma aprende a ficar mais segura não somente na hora de mexer o corpo nos bailes e nas festas mas também nos simples movimentos do cotidiano. “A dança demonstra autoafirmação. Por isso, ela aumenta a autoestima, diminui a timidez e ajuda nas relações pessoais e profissionais”, diz a terapeuta.
ANDRÉ AMORIM
O ditado popular diz que quem canta os males espanta. Pode até ser que isso seja verdade, mas uma pesquisa realizada pelo professor de educação física e pesquisador da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Flávio Campos de Morais, mostrou que a prática de dança de salão também pode ser um importante aliado no combate a doenças comuns no processo de envelhecimento, em especial a hipertensão. De acordo com dados do Ministério da Saúde, cerca de 65% dos brasileiros com 65 anos ou mais têm esse mal, e esse número pode crescer nos próximos anos. A pesquisa, realizada no município de Vitória de Santo Antão, contou com a ajuda de um grupo bem animado de 29 idosas, com idades entre 65 e 70 anos, inscritas no programa Saúde da Família, do Governo Federal, e atendidas pelo posto de saúde do bairro da Bela Vista. As aulas de dança são ministradas pelo próprio pesquisador,
na quadra da paróquia da igreja do bairro. Em comum, o grupo apresentava uma mesma reclamação. Todas se queixavam de problemas como pressão alta ou de diabetes e colesterol alto. Para comprovar o resultado, o pesquisador aferiu a pressão do grupo antes e após cada sessão, por um período de quatro meses. “Os resultados demonstraram diminuição média significativa. As sessões foram significativas em potencializar os efeitos hipotensores”, disse. Outro dado relevante da pesquisa é a diminuição na dose de medicamentos de algumas das participantes do estudo, o que confere à dança de salão a ideia de tratamento alternativo. O presidente da Associação Pernambucana de Cardiologia, Carlos Melo, ratifica os resultados da pesquisa. De acordo com o cardiologista, a prática de exercícios físicos, como a dança, é um tratamento eficaz contra esse tipo de doença, mas que não pode ser encontrado nas prateleiras de farmácias. “Dançar faz
bem não só para o sistema cardiovascular como, também, para o emocional e o cognitivo dos idosos”, disse. “Quando fazemos a receita de um remédio, os exercícios físicos também estão inseridos não como recomendação, mas como obrigação. O problema é que a gente não encontra nas drogarias”, disse. A empregada doméstica Maria das Graças Aguiar ficou animada ao saber que dançando ela pode evitar problemas como, por exemplo, a hipertensão. Aos 67 anos, a doméstica está assustada com os altos e baixos na pressão e aponta a rotina no trabalho e a dieta rica em sal como vilões. “É muita coisa no trabalho. Eu acho que estou velha para isso. A comida lá da casa tem um dedinho bom de sal”, disse. E o marido de Maria das Graças pode ir-se preparando que muita coisa vai mudar na rotina deles. “Vou ver se, na minha folga, eu dou uma dançada com meu marido. Vamos ver se as coisas, agora, ficam melhores para mim.”
Foto: Izabela Alves
Prática regular ajuda a manter vida saudável
SAÚDE Dança de salão é alternativa no combate à hipertensão
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THEREZA DOS ANJOS
A dança é algo capaz de envolver os mais variados povos. Entretanto, é evidente o fascínio que causa em grande parte das mulheres, especialmente quando consegue traduzir para as pessoas um pouco do universo feminino. Nada representa melhor a sensualidade do que a milenar dança do ventre, originária do Oriente Médio e Ásia Meridional. O estilo árabe apresenta diversas vertentes, que, mesmo exibindo coreografias distintas, sempre possuem como principais características os movimentos sinuosos do quadril e da barriga. Mesmo que o estilo árabe já fosse conhecido no país, foi apenas no ano de 2001, com a exibição da novela “O Clone” pela Rede Globo, que a dança do ventre começou a ganhar maior repercussão. Mesmo se tornando conhecida e acessível ao público feminino, a coreografia era vista por alguns como imoral, inibindo muitas mulheres de aprenderem o estilo. No caso da terapeuta ocupacional Renata Magalhães, o preconceito foi do próprio namorado, que não aceitava as roupas e os movimentos. Mesmo que tenha demorado alguns anos, as mulheres perceberam que a própria atitude era machista, e lentamente o estilo passou a ser visto como arte. Para comprovar essa mudança de pen-
Foto: Thereza dos Anjos
Dança do ventre se torna popular AULA Bernadete Lins pratica a dança com uma espada
samento, a professora e dançarina Renata Machado afirma que “o ensino de dança do ventre no Recife está muito bom, muitas academias têm oferecido aulas, e há também um aumento no número de mulheres interessadas”. O estilo não tem contraindicações de idade, podendo ser praticado desde a infância até a terceira idade. Este é o caso da
advogada Bernadete Lins, que começou a fazer as aulas em 2003. Aos 56 anos, ela se mostra apaixonada pelo estilo, exibindo orgulhosamente as roupas usadas nas apresentações. Ela conta que a dança foi fundamental para superar a morte do filho, e também a fez valorizar-se mais. Karol Mahailah, professora de dança do ventre desde 2001, declara que “os
benefícios são muitos, pois as mulheres perdem peso e modificam a postura, passando a se sentir mais sensuais”. Poucos poderiam imaginar que uma dança milenar seria capaz de modificar de tantas formas a vida de quem a pratica. A dança não causa apenas uma mudança física, mas também um aumento de autoestima, favorecendo uma melhor qualidade de vida.
Biodança proporciona bem-estar TÁSSIA MELO
Muitas perguntas surgem ao se ouvir falar da biodança. Isso acontece porque ela ainda é pouco conhecida e valorizada, algo que serve para levantar dúvidas sobre seus resultados. Enquanto alguns acreditam que fazer ou ensinar a biodança foi de extrema importância para suas vidas, outros duvidam que ela seja útil e cumpra aquilo que propõe, já que não possui um “método” específico. De acordo com a professora Ana Maria Leão, que participou de work-shops e praticou a biodança por um tempo, a atividade trouxe benefícios consideráveis para sua vida. Ela diz que o mais importante foi, “em primeiro lugar, a possibilidade de “sentir”, de ser apenas eu, sem rótulos ou julgamentos. Estes dois pontos eram muito marcantes em minha história de vida: não ser boa ou
ruim, competente ou incompe- depois de um encontro de psitente, triste ou alegre - era apenas cologia, em 1978. Cezar Wagner, eu, meus sentimentos e minha ex- professor na Universidade Federal do Ceará e facilitador da biodanpressão.” A biodança ou biodanza, seu ça, foi convidado para fazer uma nome original, foi criada na dé- participação durante esse enconcada de 1960 pelo antropólogo e tro. A partir daí, um grupo se psicólogo chileno Rolando Toro. interessou pelo assunto e entrou Ela tem como principais objetivos em contato com ele conseguindo trazer para cá o prómelhorar a saúde, prio Rolando Toro. desenvolver a criaEm 1987, foi criada tividade existencial, “Qualquer um a Escola Pernambuelevar a autoestima e pode praticar cana de Biodanza. garantir o resgate da a biodança”, A biodança não é autonomia. Através afirma a só um tipo de dança. do chamado princíEla é definida por pio biocêntrico, em fisioterapeuta aqueles que a estuque se faz uso dos Lorena Oliveira dam como um sismétodos da naturetema de integração za para recriar vida, e do ideal de sentir a música e afetiva e é considerada uma pecriar seus próprios movi-mentos, dagogia da arte de viver. Segundo é possível realizar trocas de ener- a fisioterapeuta e especialista no gia positiva nas chamadas “vivên- assunto Lorena Oliveira, “qualquer um pode praticar a biodança. cias”. No Recife, a biodança surgiu Ela possui a vitalidade como uma
das linhas de desenvolvimento e expressão, trabalhando com diferentes qualidades do movimento como força, potência, resistência, fluidez e leveza.” Apesar das controvérsias, a biodança vem ganhando cada vez mais credibilidade, além de ser um fato comprovado que ela ajuda tanto fisicamente quanto psicologicamente aqueles que a ela recorrem. É algo que exige disciplina e concentração tanto dos alunos quanto dos facilitadores, mas que vem oferecendo cada vez mais resultados positivos. ALTERNATIVOS Durante as décadas de 70 e 80, a biodança foi muito praticada por pessoas adeptas de terapias alernativas. Junto com a alimentação natural e a yoga, ela faz parte do grupo de práticas que são adotadas por quem tenta levar um estilo de vida mais natural.
O BERRO
8 | Recife, setembro de 2011
Coreografias de balé distorcem o forró figurinos apelativos, aliados a letras com palavras de baixo calão. A única coisa que não se vê é a originalidade. Tal decepção, para quem defende o tradicionalismo, se deve à introdução de variados estilos de dança, como o pop, na cultura nordestina. Para os bailarinos, essa nova tendência vem mostrar uma mistura de teatro e espetáculo, aliada à maneira como são feitas as produções musicais das bandas. De acordo com a bailarina clássica, coreógrafa e figurinista, da banda Aviões do Forró, Dyva Brasil, a ideia de trazer casais de bailarinos para o forró é uma estratégia necessária para acompanhar as mudanças pelas quais o ritmo passou. “A proposta é fazer com que o público goste do som e admire com os olhos. O forró autêntico realmente não se vê, pois
ANDRÉ LUFRAMAIA
O forró não é uma dança restrita apenas aos ciclos juninos, ela é praticada o ano inteiro no Brasil, principalmente no Nordeste. Para entrar no compasso, não há mistério. Basta se deixar levar pelo tradicional “dois pra lá, dois pra cá”, bem agarradinho, ao som da sanfona, triângulo e a zabumba. Esse é o estilo original de forrozar. Mas, com o passar dos tempos, e o advento das bandas estilizadas, o jeito rudimentar da dança desvalorizou-se e perdeu a identidade. Atualmente, quem vai curtir um show de banda de forró, na esperança de aprender a cadência dos passos originais, deparase com bailarinos no palco executando saltos acrobáticos, com coreografias e
ele, não é mais tocado por essas bandas”, disse. Segundo a profissional de dança, a introdução do contemporâneo no forró se encaixou
“Hoje procuro sempre inovar. Não tenho definição para o estilo”, diz João Dance, da banda Voadores do Forró. bem, devido à forma livre de expressar a dança numa coreografia. “Primeiro escuto a canção, vejo os compassos e vou construindo os movimentos, tentando expressar, com o corpo, a mensagem da música.” Com dez anos de atividades em bandas, o coreógra-
fo do Voadores do Forró, João Dance, 31 anos, revela que busca montar suas coreografias, para serem vendáveis, espelhando-se nas técnicas usadas pelas cantoras internacionais, como: Britney Spears, Jannet Jackson e Jennifer Lopez. “Hoje procuro sempre inovar. Não tenho definição para o estilo. Procuro colocar de tudo um pouco, ou seja, jazz, salsa, samba e o street”, contou. O bailarino reconhece que a autenticidade está extinta e se justifica, contrariando os conservadores quanto à maneira de dançar. “Infelizmente já se foi à época de que se ia para uma festa de forró, para dançar agarradinho.” CRÍTICAS Defensor da forma tradicional de dançar, o professor da escola Studio de
Danças, Rogério Alves, 42 anos, é totalmente contrário ao que se pratica nas megaproduções estilizadas. “O que eles fazem são passos soltos, misturados com o jazz, o swing e a lambada. Isso não é forró. São apelos performáticos. A química do forró perdeu sua identidade. O forró, o xote e o baião não existem nas mãos dos coreógrafos de bandas”, disse Alves. O professor e diretor da academia Além do Passo, Flávio Campos, 36, reforça o coro. “Falta, para eles, contextualização de como se deve dançar. Não estão preocupados com a essência. O estilo é agarradinho, não com piruetas aéreas. O turista passa a ter uma visão contrária. Por isso, defendo que eles estão queimando a imagem do forró”, afirmou Flávio Campos.
RODRIGO ADAMSKI
Os passos indisciplinados e preguiçosos da figura do matuto, incorporados nas tradicionais quadrilhas juninas, podem virar nostalgia. Isso porque uma nova modalidade dos conjuntos de dança popular nordestina vêm ganhando força: a estilizada. Nessa, a sanfona, o triângulo e a zabumba dividem espaço com teclados e guitarras, e o alavantour e o anarriê dão lugar a coreografias sincronizadas e ordenadas muito além das antigas interpretações nas festas de São João. Enquanto as quadrilhas tradicionais se preparam nas semanas que antecedem o feriado junino, os grupos estilizados passam o ano inteiro dedicando-se à criação de enredos, de cenários, de figurinos e de passos previamente ensaiados à exaustão. Com a mudança, entram em cena personagens como os casais de reis, o príncipe e a princesa, os ciganos e as espanholas. E, se antes a função do marcador era ditar os
Foto: Solon Baltar
Quadrilhas estilizadas provocam polêmica
QUADRILHA RAIO DE SOL: coreografias teatrais e elegância transformam o “novo matuto”
passos, agora, na ruptura entre o antigo e o moderno, ele torna-se um apresentador e parte da coreografia. Os concursos também não se prendem apenas à época das festas de junho, são dedicados ao novo gênero e têm critérios de avaliação que mais se parecem com o de carnavais cariocas, entre eles, repertório, evolução, criatividade e
adereços. Para a coreografa Marilana Freitas, da quadrilha junina Raio de Sol, a variação das performances não deve ser comparada às escolas de samba do Rio de Janeiro. “A gente trabalha em cima de um enredo que está ligado à história e não perdemos a essência da cultura nordestina. Os passos, apesar de modernos e com outras interpretações, es-
tão ligados a movimentos típicos como o cavalo-marinho e a ciranda”, afirma. Estudiosos apontam que a estilização das quadrilhas acompanha os anseios do público, mas não representa o fim da cultura do meio rural. Segundo Zuleica Dantas, professora de História da Universidade Católica de Pernambuco, a nova perspectiva
rítmica já se descolou da tradição agreste. “Essa modalidade tem outro significado, um novo tipo de representação e faz parte de um processo de necessidade da espetacularização do mundo urbano. As músicas são diferentes e o que importa é ganhar concursos”, afirma ela. Se, por um lado, o costume pernambucano de dançar quadrilha desde criança sempre foi lúdico e enraizado na história brasileira como um movimento típico de representação de classes menos favorecidas, a cada ano e a cada novo concurso, mais altos ficam os investimentos por conta das estilizadas. O custo de substituir o chapéu de palha, camisa remendada e bigodes falsos por fantasias luxuosas e cenários modernos, ao todo, faz com que as apresentações cheguem a custar R$ 40 mil. “É só com muito amor mesmo pelo São João para nos mantermos juntos e no compromisso com a quadrilha”, afirmou André de Azevedo, do grupo Arraial do Balão Dourado.