BOLETIM
Produção Audiovisual, Comunicação Midiática e Redes Socais
V58, N.06.2016 - Junho 2016
PATROCÍNIO 814/2013 FPC: Manutenção das atividades Observatório da diversidade Cultural
Realizado com recursos da Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Belo Horizonte
REALIZAÇÃO Grupo de Pesquisa Observatório da Diversidade Cultural
PARCEIROS
Programa de Pós-Graduação em Comunicação
Programa de Pós-Graduação em Artes
BOLETIM ODC # 58 PRODUÇÃO AUDIOVISUAL, COMUNICAÇÃO MIDIÁTICA E REDES SOCIAIS JUNHO 2016
SUMÁRIO Raquel Utsch
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Giselle Dupin
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Pedro Vasconcelos Costa e Silva
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DOCUMENTÁRIO FUNK DA NOSSA GENTE – UM OLHAR SOBRE A PERIFERIA MINEIRA
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SOBRE ACESSIBILIDADE, REDES SOCIAIS DIGITAIS E DIVERSIDADE CULTURAL
Vinícius Lacerda
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COMUNICAÇÃO EM REDE: DA CONECTIVIDADE À DIMENSÃO COMUNITÁRIA
A COMUNICAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL
SOBRE OS COLABORADORES DESTA EDIÇÃO SOBRE O OBSERVATÓRIO DA DIVERSIDADE CULTURAL SOBRE O BOLETIM DO OBSERVATÓRIO DA DIVERSIDADE CULTURAL
COMUNICAÇÃO EM REDE: DA CONECTIVIDADE À DIMENSÃO COMUNITÁRIA Raquel Utsch
Em contexto cultural marcado pelas tecnologias da comunicação, no qual as interações midiatizadas modelam os processos de produção e circulação da informação, o professor da UFRJ, Muniz Sodré, considera que vivemos uma “crise de mediação”. As tecnologias das mídias atuam de forma a manter o predomínio de uma ambiência sociocomunicacional composta pela massa de consumidores que buscam a “notícia desejada”. Sodré realizou a palestra de abertura do Encontro Nacional de Escolas de Comunicação, nos dias 24 e 25 e maio, na PUC Minas . Na ocasião, refletiu sobre1 os desafios da formação em comunicação no século XXI, tema do evento, com foco no debate de interesse público nas redes, por onde circulam as informações em larga escala e cada vez mais de forma ágil, difusa e fragmentada. Estaria em crise o espaço público de debate do qual o jornalismo é agente central, em função da prevalência da “democracia das emoções” sobre “democracia das opiniões”? Para Muniz Sodré, como o direito à informação e comunicação depende da liberdade de expressão da imprensa e do exercício do debate público, a democracia está comprometida, uma vez que o campo do jornalismo constitui a base do exercício da cidadania. A função do jornalismo deve ser, mais do reportar - para além do mero relato do acontecimento - fundamentalmente promover o fomento da “conversa pública” vinculada à interação social na esfera midiatizada, a fim de “consolidar a soberania para afirmar o pacto implícito da comunicação”. 1 http://fca.pucminas.br/verbo/2016/05/24/encontro-nacional-das-escolas-de-comunicacao-conferencia-de-abertura-com-muniz-sodre/)>
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A função do jornalismo está atada aos direitos do homem e do cidadão, portanto, implica contrato social de “fundo ético e político”. Muniz afirmou que o retorno da produção jornalística deve-se encontrar no registro da publicidade que socializa o que é de interesse público e não no mero publicismo que gera visibilidade ao Estado na mídia. Nesse contexto, a mídia consiste em uma “forma de vida” que articula indissociavelmente mercado e tecnologia, de forma determinante nas atuais relações culturais. O fenômeno da midiatização que se processa na interface tecnológica das tradicionais instituições e sujeitos sociais com a mídia reconfigura a vida cultural, por meio de uma relação gerada pelo código tecnológico. Da concepção de agente universal liberal, a mídia atua hoje de forma determinante na manutenção de um “mercado da atenção” que, para Sodré, enfatiza a cultura do entretenimento e frivolidade, em vez de contribuir para a vida cívica. Ao promover a ordem mercantil como dispositivo que interfere na dimensão sensorial simbólica, a experiência midiatizada influencia sujeitos de consumo cada vez mais dispersos, conectados em redes sociais. A economia do tempo e da atenção social confronta com a missão de agente cultural na dimensão simbólica da cidadania, compondo regime conectivo, mais do que uma ética comunitária, configurando-se, dessa forma, um dispositivo baseado na conectividade generalizada das pessoas que promove o vínculo emocional das audiências, sob o efeito da simultaneidade e ubiquidade, próprios da interação diferida no tempo e no espaço. Nesse sentido, em oposição à desejável virtude cívica no espaço público de informação e debate, a mídia funciona como a “boca orgânica do mercado”. Em consequência, reduzem-se os “direitos morais da testemunha” inerentes à atividade jornalística, ou do espaço das representações sociais dela decorrente, com o predomínio da “ressonância das emoções”, o que alerta para o comprometimento desse espaço comunicacional quanto ao “aperfeiçoamento da informação jornalística no mundo digital” e obriga o jornalismo a “ressignificar valores do sujeito contemporâneo”, como afirmou o professor, destacando a produção informativa dos blogs como expressão política, ao
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“fecundar a vida democrática”. Frente aos desafios da comunicação e cultura contemporâneas, apresentados por Muniz Sodré, Elton Antunes (UFMG) apontou a importância da dimensão comunitária na formação acadêmica dos comunicadores. A atuação profissional implica a experiência da diversidade cultural, diferentemente do ideal da unicidade: é preciso romper com a “circularidade”, para desencadear processos midiáticos que alcancem o “mundo vivo”. O protagonismo dos estudantes deve ser visto “como projeto pessoal, profissional, singular, articulado às relações com o mundo”. Um processo de aprendizagem que gere espaço de interlocução, inventividade e transformação social, ao contrário do ambiente disciplinar previsível: “Educação para atenção à diversidade, pluralidade”. Lembrando a Ecologia dos Saberes, proposta pelo sociólogo Boaventura dos Santos 2, que legitima a pluralidade cultural como base da condição emancipatória, a comunicação ocupa o espaço da multiplicidade simbólica, no qual as atividades de extensão universitária foram identificadas como eixo transversal estruturante: espaço da “educação para a sensibilidade”, para a “escuta”, como meio de compreender o diverso na relação com o outro, por meio da intervenção coletiva na vida social. Em entrevista à editora Boitempo no último dia 2 de junho, Boaventura dos Santos refere-se ainda às “Epistemologias do Sul”, definindo-as como uma “proposta no sentido de valorizar o conhecimento nascido na luta, justamente dos movimentos sociais e daqueles e daquelas que se mantiveram invisíveis, ocultos, marginalizados ao longo da história. Isto é, os vencidos, digamos assim, dos três grandes modos de dominação contemporânea: o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado”.3 2 Para além do pensamento abissal. Das linhas globais a uma ecologia dos saberes. Revista Crítica de Ciências Sociais, 78,Outubro 2007. <http://migre.me/u0JlZ>. 3 https://blogdaboitempo.com.br/2016/06/02/boaventura-contra-o-golpe-parlamentar-no-brasil/>
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Para o antropólogo Jesús Martín-Barbero 4, frente à comunicação transmissiva, um modelo de comunicabilidade em rede, interativo e conectivo traduz-se como eixo de atuação coletiva que pode propor uma atitude proativa, mediante a globalização que aprofunda as diferenças sociais. Nessa perspectiva, vivenciamos o reforço das desigualdades entre setores sociais, culturas e países, mas também a capacidade de potencializar o associativismo e a cooperação, nas redes tecnológicas, promovendo a participação democrática e a defesa de direitos sociopolíticos e culturais, ativando a criatividade. Uma vez apropriadas por grupos sociais, as tecnologias comunicacionais agenciam forças contra hegemônicas que precisam construir projeto político que não vise substituir o Estado, mas reinstituí-lo ou reinstitucionalizá-lo, em interação com ações comunitárias locais e interpelação a novos atores mundiais. Em acordo com o geógrafo Milton Santos, o autor analisa a globalização como possibilidade de efetivar mudanças ancoradas na enorme - e assimétrica desigualdade social - mistura de povos, raças, culturas e gostos, com a emergência cosmovisões que colocam em crise a hegemonia do racionalismo ocidental. Ele se refere à comunicação na cultura que, em vez de realizar a mediação, na esfera do mercado, entre criadores e consumidores, age na dissolução de barreiras sociais e simbólicas, descentralizando e desterritorializando a produção cultural. No contexto intercultural, vinculam-se assim os processos comunicacionais e o compartilhamento de experiências, ao encontro da diversidade como projeto político presente em Boaventura dos Santos (2007, p.20), na “amplificação simbólica de sinais, pistas e tendências latentes que, embora dispersas, embrionárias e fragmentadas, apontam para novas constelações de sentido, tanto no que respeita à compreensão como à transformação do 4 Diversidade em convergência. Matrizes, V. 8 - Nº 2 jul./dez. 2014. São Paulo. <http://migre.me/u0JmJ>
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mundo”. Um universo de sentido, como lembra o professor Elton Antunes, que requer no contexto midiatizado da “venda da atenção” e circularidade da “notícia desejada”, a produção de situações comunicativas construídas junto com o outro, por meio da intervenção na realidade social.
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A COMUNICAÇÃO PÚBLICA NO BRASIL Giselle Dupin
Vivemos um momento da história do país em que está muito claro – no mínimo, para os pesquisadores das áreas de comunicação e de cultura – o quanto os meios de comunicação são atores ativos do jogo político, econômico e social, numa confirmação de seu potencial de participar na “partilha e disputa do poder com ou contra o Estado, e com frequência à custa do enfraquecimento do papel do Estado” (BRANDÃO, 2007, p.6). As principais democracias consolidadas do mundo – países como Inglaterra, França, Alemanha, Suécia e outros – possuem um sistema de radiodifusão pública que faz contraponto aos meios de comunicação privados, o que contribui saudavelmente para garantir a pluralidade de opiniões e a diversidade cultural. Em seu recente Relatório Mundial Re/Pensar as Políticas Culturais, a Unesco confirma que a diversidade dos meios de comunicação não pode existir sem sua liberdade, e que “os meios de comunicação do serviço público podem ser elementos motores cruciais para a diversidade das expressões culturais – enquanto produtores, patrocinadores, distribuidores, difusores e mediadores de um conjunto vivo de conteúdos midiáticos de qualidade, quaisquer que sejam as tecnologias e os meios utilizados” (UNESCO, 2015). No Brasil, onde os serviços de radiodifusão foram criados pela iniciativa privada, a complementariedade entre os sistemas público, privado e estatal, além de recente – estabelecida pela Constituição de 1988 – esperou até 2007 para ser regulamentada. A Medida Provisória 398/2007
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(depois convertida na Lei nº 11.652, de 07/04/2008) foi fruto de uma demanda da sociedade pela democratização da comunicação no país, em particular durante o I Fórum Nacional de TVs Públicas e a Conferência Nacional de Comunicação. Por meio dessa legislação, foi criada a Empresa Brasil de Comunicações – EBC, cuja atribuição é gerir as emissoras de rádio e televisão públicas federais,1 sob a supervisão de seu Conselho Curador, composto majoritariamente por representantes da sociedade civil. Essa medida suscitou a esperança de que o Brasil viesse a dispor de uma radiodifusão pública de referência, especialmente no que diz respeito ao estabelecimento de um mecanismo de participação e envolvimento da sociedade na sua gestão, produção e programação, bem como no encaminhamento de críticas e sugestões pela população. Para cumprir esse papel e garantir a pluralidade da sua programação, era fundamental a autonomia e independência da EBC, em relação tanto aos governos quanto ao mercado. Desde então, muitos foram os percalços enfrentados por essa empresa pública, que vão desde a busca por um modelo de financiamento e de gestão mais adequado, por aqueles que queriam seu aperfeiçoamento, às tentativas de desqualificação da televisão pública. Quase sempre baseadas em comparações superficiais com o modelo de comunicação privada e, portanto, nos baixos índices de audiência da programação, as críticas foram agravadas pela reduzida compreensão da sociedade sobre a função e importância de veículos públicos de comunicação para o fortalecimento da democracia e da cidadania, e da necessidade deles para a consolidação da comunicação como direito social e humano. Essa incompreensão sobre a necessária distinção entre comunicação governamental e comunicação pública tem sido observada no Brasil em diversos momentos e instâncias. Para citar apenas 1 A EBC é responsável pela TV Brasil, TV Brasil Internacional, Agência Brasil, Radioagência Nacional, Portal EBC e Rádios EBC – Rádios Nacional do Rio de Janeiro, AM e FM de Brasília, da Amazônia e do Alto Solimões, Rádios MEC AM e FM do Rio de Janeiro e Rádio MEC AM de Brasília.
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dois exemplos: há diversas acusações de aparelhamento político-partidário da TV Cultura pelo governo do PSDB em São Paulo; e, no nível federal, algumas posições em relação à EBC, do próprio governo do PT que a criou, ameaçaram a autonomia da empresa. Outro exemplo claro disso é que um dos itens da agenda de medidas de “correção de rumos” do governo interino de Michel Temer diz respeito ao aumento do controle do governo sobre a comunicação pública no país, e mais especificamente à atuação da Empresa Brasil de Comunicações – EBC, cujo Presidente precisou ter seu mandato garantido pelo Supremo Tribunal Federal, e cujo Conselho Curador, segundo seus membros, estaria ameaçado de extinção por Medida Provisória “em gestação”. Apesar dessas ameaças de retrocesso, um novo passo foi dado recentemente em nosso país a favor do direito à comunicação, com a regulamentação (em 2013) do Decreto nº 5.820, de junho de 2006, que dispõe sobre a implantação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital Terrestre. Isto porque o sistema de TV Digital brasileiro, graças à ferramenta Ginga, permite a interatividade, ou seja, cria a possibilidade de uma interação do usuário com a informação que está sendo exibida. Como as pessoas deixariam de assistir à televisão de forma passiva, podendo modificar as informações transmitidas e atuar diretamente sobre a programação, esta seria uma revolução social – e não apenas tecnológica. Muito tempo antes da Internet e das redes sociais possibilitarem uma ruptura com a unidirecionalidade da comunicação tradicional, e permitirem uma democratização real do acesso à produção e circulação de informações e conteúdo, o educador brasileiro Paulo Freire teorizou sobre a perspectiva dialógica da comunicação e a importância da comunicação interativa. Para ele, a comunicação implica um diálogo entre sujeitos – necessariamente iguais – mediados pelo objeto de conhecimento. Ou seja, ao restringir a comunicação a uma relação entre sujeitos iguais, toda relação de poder fica excluída (FREIRE, 1984).
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No entanto, essa potencialidade só será explorada no Brasil se houver pressão social, pois, até o momento, as emissoras de televisão privadas do país pouco têm utilizado e pouco interesse demonstram pela interatividade, de modo que desperdiçam todo o potencial de inclusão social e de democracia participativa que o Ginga permite. Diante deste quadro, torna-se imprescindível manter aceso o debate amplo sobre a comunicação no Brasil, inclusive para que a sociedade em geral seja melhor informada de seu direito à comunicação, tanto no que diz respeito aos canais de rádio e de televisão pública – aqui incluídos os Canais de Cidadania, criados pelo já citado Decreto nº 5.820 – quanto em relação a essas possibilidades de interação criadas pela televisão digital. Afinal, só quando estiverem informadas as pessoas poderão pressionar o governo (seja ele qual for) pela garantia de seus direitos. REFERÊNCIAS: Brandão, e. P.; Bueno, Wilson da Costa; Martins, L.; Matos, Heloísa.; Monteiro, M. da Graça; Novelli, Ana Lucia. Conceito de comunicação pública. In: JORGE DUARTE. (org.). Comunicação pública: Estado, Mercado, Sociedade e Interesse Público. São Paulo: Atlas, 2007. Carta da Sociedade Civil em defesa do caráter público da EBC. Disponível em: http://culturadigital.br/oqueagentequer/2011/10/em-defesa-do-carater-publico-da-ebc-carta-da-sociedade-civil/. Acesso em: 03/06/2016. Freire, Paulo. Extensão ou comunicação, 8ª Ed. Rio de janeiro: Paz e Terra, 1983. Relatório Mundial Re/Pensar as Políticas Culturais, UNESCO, 2016. Disponível (em inglês) em: http://en.unesco.org/creativity/monitoring-and-reporting/publications/global-report-2015-reshaping-cultural-policies
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DOCUMENTÁRIO FUNK DA NOSSA GENTE – UM OLHAR SOBRE A PERIFERIA MINEIRA Pedro Vasconcelos Costa e Silva
O Documentário Funk da nossa gente apresenta a musicalidade do Funk Consciente como ferramenta política, contestadora e denunciativa. O universo funkeiro, tradicionalmente associado ao erotismo e a violência, através dessa vertente que se mostra, não se limita a seguir modelos muitas vezes estigmatizados neste gênero musical. Durante o ano de 2015 e parte de 2016, dediquei-me à direção e a realização deste documentário. Colhemos entrevistas, frequentamos os bailes e acompanhamos os DJs e MCs em seu cotidiano. Pretendo, neste texto, apresentar algumas de minhas observações acerca do gênero, que se mostra como um potente enunciador do cotidiano e história da periferia de Belo Horizonte. Parece-nos relevante lançar um olhar multiculturalista, na perspectiva que o faz Hall (2003), sobre o universo e o espaço, objetos de nossa investigação. Tal olhar só é possível a partir do entendimento da cultura como elemento transformador que pode alterar a lógica ideológica da verdade ocidental, do valor, da produção e, cada vez mais, desde a segunda metade do século vinte, do consumo, para o jogo de indeterminação menos excludente, para o diálogo e para uma ressignificação simbólica da alteridade.
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A associação do gênero musical Funk à sua vertente Carioca é quase automática devido à visibilidade midiática e a relação identitária intrínseca com a cidade do Rio de Janeiro. As peculiaridades e similaridades rítmicas, melódicas e harmônicas constroem um gênero de fácil identificação. Palombini (2009), em uma pesquisa detalhada, descreve as origens deste estilo e discorre sobre o processo de apropriação da cultura negra mundial pelas periferias brasileiras ao longo do tempo, passando pelo soul e sofrendo mutações que culminaram nos subgêneros do Funk. Dentre estes subgêneros, o Funk Consciente aparece como fruto da aproximação do funk com o rap. Em Belo Horizonte o Funk ganhou força no final da década de 80, quando os Mc’s adaptaram as letras denunciativas do gênero norte-americano à batida mais dançante dos Funks que se destacavam e começavam a eclodir no Rio de Janeiro. Suas letras verbalizam a pobreza, a violência da e para com a juventude, o tráfico de drogas, além da religiosidade na vida dos moradores. Com esta temática ele se diferenciou dos demais estilos, não somente pelo objeto retratado, mas também pelo comportamento dos artistas envolvidos com o “Consciente”. Dessa maneira o novo gênero se desdobra na experiência de uma cultura de paz, cuja pretensão de afastar os jovens da criminalidade por meio da “conscientização”, acaba por criar uma nova identidade para o Funk, e coloca-se como um “construto estético social” que é ao mesmo tempo transformador e relator da realidade. O conceito de “construto estético-social”, discutido pelo autor Rodrigo Duarte ( 2012), dialoga com o objeto que se apresentou para equipe durante as filmagens.
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O construto estético-social busca compreender alguns fenômenos estéticos contemporâneos que apresentam, por um lado, traços de mercadorias culturais, já que renunciam à complexi dade formal das obras de arte propriamente ditas e são – pelo menos parcialmente – veiculados por típicos meios de massa; por outro lado, eles não se enquadram totalmente na categoria de mercadoria cultural, uma vez que apresentam aspectos críticos à sociedade tardo-capitalista e são ligados a ações políticas originadas em comunidades muito pobres, que se entendem a si mesmas como dispostas a transformar aquela sociedade. Fenômenos que se enquadram na descrição de “construtos estético-sociais” podem ser encontrados, por exemplo, na cultura hip hop. ( DUARTE, 2012, p. 10)
A iniciativa artística dos MCs de Belo Horizonte ao ressignificar o Funk, concomitantemente ao significado que dá a favela mineira, reclama uma nova categoria desse gênero musical, que por sua vez relaciona com o modo pelo qual os territórios urbanos são estruturados e hierarquizados. As letras que comumente apostam nas trajetórias individuais dos jovens e nas histórias de vida dos moradores da periferia, discutem como pano de fundo segurança, atuação policial, pobreza, violência, juventude, oportunidades entre outros temas sociais expressos através da música e pela perspectiva desses atores. As entrevistas bem como as imagens revelam como a favela de Belo Horizonte, ao demonstrar suas peculiaridades frente as favelas carioca e paulista, aninha engenhosamente seu gigantismo com traços paroquiais e moralizadores. Desse modo, a favela mineira não pode ser vista como um lugar que se esgota nos estereótipos mais genéricos, pois se apresenta como sítio de sujeito e predicado: “BH é a terra do funk consciente”, “ Funk consciente é arte e realidade”, e realidade é a linguagem de favela. Se por um lado o espaço urbano Rio de Janeiro aparece sempre de modo explícito no Funk Carioca, por outro lado, em Belo Horizonte, o Funk Consciente traz à tona características da periferia
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da cidade, contando histórias e ressaltando contextos específicos da capital mineira. A feitura do filme no que diz respeito aos procedimentos técnicos contou com o roteiro e produção de Camila Coeli e a direção de Pedro Vasconcelos; os assistentes de produção e de direção foram Tamara Fontes e Caio Graco, respectivamente. As imagens foram feitas por Pedro Vasconcelos e Caio Graco e, por fim, a edição foi de André Oliveira. O filme também contou com os especialistas em Cultura Popular Gustavo Gusmão e Valdecir Cunha. O documentário recebeu apoio institucional do Museu da Imagem e do Som, da Fundação Municipal de Cultura e da Prefeitura de Belo Horizonte e traz nos seus 12 minutos de duração, os grandes e principais nomes do Funk Consciente: Mc Dodô, Mc Belo, Mc Lucas Lv, Mc Márcio BH, Mc Bebe, Mc Kell, Mc Jefinho, Mc Caçula, Mc Pitico, Mc Romeu, Mc Papo e Mc Cunhado. Da Favela do índio ao aglomerado da Serra o filme apresenta suas trajetórias, que são indissociáveis ao espaço que compartilham. REFERÊNCIAS: DAYRELL, Juarez. O rap e o funk na socialização da juventude. UFMG, departamento de sociologia e antropologia, 2001. Tese (Doutorado). DUARTE, R. Desartificação da arte e construtosestético-sociais. In: Viso: Cadernos de estética aplicada, v. VI, n. 11 (jan-jun/2012), HALL, Stuart. A identidade Cultural na pós-modernidade. 11 ed. Rio de Janeiro: DP & A, 2006.
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PALOMBINI, Carlos. Soul brasileiro e funk Carioca. In: ENCONTRO DA AMPON: Música, sociedade e cultura, Universidade Federal de Minas Gerais 2009. LANGNIER, Pablo. Lugar do Outro: situações de estigma do funk carioca nas páginas do JB. In: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação IX Congresso de Ciências da Comunicação na Região Sul – Guarapuava – 29 a 31 de maio de 2008.
Duelo de MCs 5 Anos - Noite de Danças Fonte: Flickr - Casa Fora do Eixo Minas, 03/08/2012
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SOBRE ACESSIBILIDADE, REDES SOCIAIS DIGITAIS E DIVERSIDADE CULTURAL Vinícius Lacerda
Um recente estudo etnográfico da University College London levou nove pesquisadores a diferentes localidades do mundo, como Brasil, Itália, China e Turquia, para observar como as pessoas se relacionam com a tecnologia e com outras pessoas por meio da internet. Cada pesquisador permaneceu por 15 meses e os resultados, em formato de livros, áudios e vídeos, estão sendo divulgados online e darão origem ao curso “Por que postamos?”. Entre diversos fatos, o estudo evidencia como a população de diferentes países se relaciona com as redes de diferentes formas baseado em normas específicas de suas culturas. Na Índia, por exemplo, os indivíduos costumam criar dois perfis: um para socialização com integrantes de sua própria casta e outro mais geral. O Brasil, por sua vez, foi lembrado no estudo pelo caso da jovem evangélica que estabeleceu um vínculo de amizade com um integrante do candomblé. De acordo com o estudo, essa relação só existe por causa das redes sociais. Por meio de densa observação e descrição, a etnografia realizada versa sobre as formas de uso das redes sociais e, por esse caminho, levanta questões sobre diversidade cultural, privacidade e mediação e tipos de interação sócio-comunicacional. Porém, as observações só puderam ser feitas porque há acessibilidade das pessoas às redes sociais digitais. Essa condição nos levou às seguintes indagações: há acesso suficiente de indivíduos no mundo para analisar a diversidade cultural? O que é considerado ter acesso à internet nos dias de hoje? Em que medida estão relacionados acessibilidade às redes sociais e diversidade cultural?
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Para tentar esclarecer um pouco essas questões, convidamos o fundador e presidente do IRIS (Instituto de Referência em Internet e Sociedade), Lucas Costa dos Anjos. Criado em Belo Horizonte, o IRIS, por meio de seminários, cursos, bate-papos e pesquisa, procura estudar e entender os impactos da internet sobre a sociedade contemporânea: seu desenvolvimento, suas dinâmicas, suas normas e seus padrões. 1) Para ter acesso às redes sociais é necessário ter acesso à internet. Para isso é preciso de um dispositivo tecnológico, como computador ou smartphone. No entanto, há cidadãos no mundo que não possuem acesso integral (por falta de internet ou do dispositivo) e outros têm acesso constante. Essa situação torna um pouco nebuloso o conceito de acessibilidade. Poderia defini-lo para nós? Acessibilidade ainda é um dos maiores desafios contemporâneos. O preço de dispositivos de acesso à internet, como smartphones e computadores, até diminuiu nos últimos anos, devido à popularização de tecnologias e a decadência de algumas patentes. No entanto, o custo do acesso ainda é muito alto, principalmente em países em desenvolvimento. O continente africano tem um dos maiores custos de acesso. Acesso, no entanto, não significa apenas conexão à internet. As pessoas que se conectam sabem utilizar os aplicativos, sites, e outros serviços de provedores de aplicação? Eles são informados sobre questões de segurança, privacidade de dados, direito de imagem e privacidade, limites da liberdade de expressão, entre outros aspectos tão importantes da vida online? A resposta para essas perguntas costuma ser não, o que gera preocupações quanto à efetiva forma de inclusão dessas pessoas à rede mundial de computadores.
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2) O Facebook conta com 1,6 bilhão de pessoas cadastradas e o Twitter com 320 milhões de usuários. Considerando que há 7,3 mil milhões de pessoas no mundo, é pertinente dizer que considerável parte da população mundial tem acesso às redes? Eu analisaria com cuidado essas informações, já que os usuários em redes sociais não representam, de forma fidedigna, o número de pessoas físicas presentes nas redes sociais. O Twitter, por exemplo, é notório por conter vários bots com a finalidade de aumentar o número de seguidores de outros usuários, realizar ações de spam, etc. Já o Facebook é uma rede social que não tem a mesma aderência em todas as sociedades. No Brasil, por exemplo, ela é alta, mas na China (onde é censurado) é baixa. Acredito que, mais importante do que verificar o número de pessoas nas redes sociais, é imprescindível verificar quantos são os usuários da internet atualmente (quase 3,4 bilhões, segundo dados recentes da Internet Live Stats) e como eles estão distribuídos pelo globo. Apesar de representar quase 50% da população mundial, somente 10% desse número de usuários estão na África. Além disso, há diferenças de gênero quanto à acessibilidade (homens geralmente têm mais acesso às redes, segundo a International Telecommunication Union), bem como diferenças na qualidade do acesso, preço e liberdade de expressão online. 3) De que maneira esse resultado implica algum desdobramento na concepção de que as redes sociais digitais promovem igualdade entre seus participantes? De acordo com os estudos do IRIS, essa afirmativa é pertinente com a realidade contemporânea? A internet com certeza potencializa o exercício de direitos políticos, democratiza o acesso ao conhecimento, facilita a organização de usuários de acordo com seus interesses, entre outros aspectos da vida online. Nas redes sociais, é possível que esses direitos e exercícios democráticos
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sejam ainda mais fáceis de ocorrer, já que os usuários passam a ter, de uma forma ou de outra, a oportunidade de dizer o que pensam e de expressar suas preferências políticas. Isso aumenta, relativamente, a igualdade entre os usuários online, porque a utilização de rede independe de classe social, gênero, orientação sexual, etc. No entanto, é preciso se atentar para o fato de que nem todas as redes sociais funcionam da mesma forma, e que diferentes usuários vão se apropriar daquela plataforma de maneiras distintas. O Facebook, por exemplo, utiliza um algoritmo que limita a exibição dos conteúdos postados de acordo com os interesses dos usuários, ou com o ramo de atividade da página que posta esses conteúdos. Ou seja, por mais que todos os usuários (indivíduos, organizações, empresas, etc.) tenham voz, isso não significa que todas essas vozes serão ouvidas. É possível que essas formas de organização das redes sociais efetivamente causem mais homogeneidade de discursos entre usuários com interesses similares, verdadeiras “bolhas” online, nas quais se ouve apenas o que se quer. Nesses contextos, há menos debate entre pessoas com opiniões diferentes e até mesmo a radicalização de discursos. 4) Como é visto no mundo o direito de acesso a internet por parte do cidadão? E no Brasil? Cada vez mais, o acesso à internet tem sido considerado um direito humano, inclusive em diretivas da Organização das Nações Unidas, do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development). No Brasil, o Marco Civil da Internet considera o acesso à internet “essencial ao exercício da cidadania” (art. 7º). Essa é uma legislação extremamente avançada, cujo mérito foi reconhecido por diversos países e organizações internacionais. É como uma “constituição da internet”, que estabeleceu direitos básicos dos usuários e os princípios basilares da internet no Brasil.
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Em geral, acessibilidade à internet é considerada indício de desenvolvimento econômico e social, então a maioria dos países tem empreendido esforços no sentido de aumentar a porcentagem de suas populações com acesso às redes. No entanto, o que se observa são resistências à forma de acesso, já que em alguns países existe censura de conteúdo, vigilância do tráfego de informações, monopólio estatal de provedores de internet, entre outras maneiras de limitar um acesso livre e neutro. Na China, sites como Google e Facebook são simplesmente proibidos. Na Rússia, há vigilância de sites e usuários que promovem discussões sobre a temática LGBT online. A partir do momento em que a navegação do usuário é limitada dessa forma, seu acesso não é efetivo. 5) Acredita que essa política está de acordo com política de produção e manutenção da diversidade cultural? A forma com que a arquitetura da internet foi estabelecida, paralelamente ao desenvolvimento e à democratização do acesso a novas tecnologias, diminui a distância entre os usuários e promove mais acesso às ferramentas de produção e divulgação cultural. Sem tantos intermediários, como gravadoras, editoras, etc., é possível que os usuários produzam e distribuam sua música, livros, outros tipos de produtos culturais, além de disseminar e manter hábitos e costumes de suas culturas. A Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural reconhece essa característica da internet e das redes sociais para “promover a diversidade linguística”, “facilitar a circulação eletrônica dos produtos culturais endógenos” e o “acesso aos recursos digitais de ordem educativa, cultural e científica”. Ou seja, a internet, a partir do momento em que corrobora e dinamiza a comunicação entre usuários, é um facilitador da produção e manutenção da diversidade cultural também no universo online.
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6) Em que medida o acesso às redes sociais digitais contribui (ou não) para fomentar a diversidade cultural mundial? Devido à característica aberta, plural, diversificada e colaborativa da internet na contemporaneidade, é possível que as redes sociais digitais também sejam plataformas de exercício da identidade e da diversidade cultural online. Desde que informado, crítico e consciente, o acesso acarreta maior participação nos movimentos de produção cultural, seja como espectador, seja como produtor de cultura. REFERÊNCIAS: UNIVERSITY COLLEGE LONDON. Global Social Media Impact Study. Disponível em: <http://www.ucl.ac.uk/global-social-media> , acesso em 4 de junho de 2016. CENTRO REGIONAL DE INFORMAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. ONU projeta que população mundial chegue aos 8,5 mil milhões em 2030. In: Centro de Notícias da ONU. Disponível em: <http://www.unric.org/pt/actualidade/31919-onu-projeta-que-populacao-mundial-chegue-aos-85-mil-milhoes-em-2030> , acesso em 4 de junho de 2016.
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In front of the "Red Fort" in New Delhi, India - New Delhi Youth / India (2012) Fonte: Flickr - Stephan Rebernik, 31/12/2011
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SOBRE OS COLABORADORES DESTA EDIÇAO: Raquel Utsch Jornalista, Mestre em Comunicação Social. Professora do curso de Jornalismo (Universidade FUMEC). Pesquisadora integrante do grupo Observatório da Diversidade Cultural.
Giselle Dupin Bacharel em Comunicação Social/Jornalismo ( pela UFMG), com pós-graduação em Relações Internacionais ( pela PUC-Minas) e em Gestão Cultural ( pela Universidade de Paris Dauphine). Ponto Focal da UNESCO no Brasil para a Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais.
Pedro Vasconcelos Jornalista, além de realizador e diretor de documentários. Atualmente é mestrando em Comunicação Social pela PPGCOM da PUC Minas. Também é pesquisador do grupo de pesquisa Observatório da Diversidade Cultural.
Vinícius Lacerda Mestrando em Comunicação pela PUC-Minas e gestor de comunicação do Savassi Festival e do Café com Letras. É voluntário no projeto TransEnem, cursinho voltado para inclusão de transexuais e travestis em universidades e já passou pelo caderno Magazine, do jornal O Tempo, e pela Webcitizen, empresa de engajamento cív ico que coordenou o TEDx São Paulo e TEDx Amazônia, além do Vote na Web.
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SOBRE O OBSERVATÓRIO DA DIVERSIDADE CULTURAL: O O Observatório da Diversidade Cultural – ODC – está configurado em duas frentes complementares e dialógicas. A primeira diz respeito a sua atuação como organização não-governamental que desenvolve programas de ação colaborativa entre gestores culturais, artistas, arte-educadores, agentes culturais e pesquisadores, por meio do apoio dos Fundos Municipal de Cultura de BH e Estadual de Cultura de MG. A segunda é constituída por um grupo de pesquisa formado por uma rede de pesquisadores que desenvolve seus estudos em várias IES, a saber: PUC Minas, UEMG, UFBA, UFRB e USP, investigando a temática da diversidade cultural em diferentes linhas de pesquisa. O objetivo, tanto do grupo de pesquisa, quanto da ONG, é produzir informação e conhecimento, gerar experiências e experimentações, atuando sobre os desafios da proteção e promoção da diversidade cultural. O ODC busca, assim, incentivar e realizar pesquisas acadêmicas, construir competências pedagógicas, culturais e gerenciais; além de proporcionar experiências de mediação no campo da Diversidade Cultural – entendida como elemento estruturante de identidades coletivas abertas ao diálogo e respeito mútuos. Pesquisa Desenvolv imento, orientação e participação em pesquisas e mapeamentos sobre a Diversidade Cultural e aspectos da gestão cultural. Formação Desenvolv imento do programa de trabalho “Pensar e Agir com a Cultura”, que forma e atualiza gestores culturais com especial ênfase na Diversidade Cultural. Desde 2003 são realizados seminários, oficinas e curso de especialização com o objetivo de capacitar os agentes que atuam em circuitos formais e informais da cultura, educação, comunicação e arte-educação para o trabalho efetivo, criativo e transformador com a cultura em sua diversidade. Informação Produção e disponibilização de informações focadas em políticas, programas e projetos culturais, por meio de publicações e da atualização semanal do portal do ODC e da Rede da Diversidade Cultural – uma ação coletiva e colaborativa entre os participantes dos processos formativos nas áreas da Gestão e da Diversidade Cultural. Consultoria Prestação de consultoria para instituições públicas, empresas e organizações não-governamentais no que se refere às áreas da cultura, da diversidade e da gestão cultural.com a temática da diversidade cultural refletem sobre a complexidade do tema em suas variadas vertentes.
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SOBRE O BOLETIM DO OBSERVATÓRIO DA DIVERSIDADE CULTURAL: O Boletim do Observatório da Diversidade Cultural é uma publicação mensal em que pesquisadores envolv idos com a temática da diversidade cultural refletem sobre a complexidade do tema em suas variadas vertentes. Para colaborar com o Boletim, env ie textos para: tailzemelo@yahoo.com.br
Expediente: Concepção e coordenação geral: José Márcio Barros Conselho Editorial: Giselle Dupin – MINC – http:// lattes.cnpq.br/ 2675191520238904 Giselle Lucena – UFAC – http:// lattes.cnpq.br/ 8232063923324175 Humberto Cunha – UNIFOR – http:// lattes.cnpq.br/ 8382182774417592 Isaura Botelho – SESC SP – http:// lattes.cnpq.br/ 3961867015677701 Luis A. Albornoz – Universidad Carlos III de Madrid – http:// portal.uc3m.es/ portal/ page/ portal/ grupos_ investigacion/ tecmerin/ tecmerin_ investigadores/Albornoz_ Luis Núbia Braga – UEMG – http:// lattes.cnpq.br/ 6021098997825091 Paulo Miguez – UFBA – http:// lattes.cnpq.br/ 3768235310676630 Coordenação editorial: Camila Alvarenga e Tailze Melo Projeto gráfico: Dânia Lima Rev isão editorial e rev isão de texto: Tailze Melo Contato: boletim@observatoriodadiversidade.org.br w w w.observatoriodadiversidadecultural.com.br
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