Boletim do Observatório da Diversidade Cultural - Maio 2017

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BOLETIM

DIVERSIDADE CULTURAL E COMUNICAÇÃO V68, N.04.2017 - Maio 2017 ISSN 2526-7442


REALIZAÇÃO

Grupo de Pesquisa Observatório da Diversidade Cultural

PARCEIROS Programa de Pós-Graduação em Artes

Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social


BOLETIM DO OBSERVATÓRIO DA DIVERSIDADE CULTURAL DIVERSIDADE CULTURAL E COMUNICAÇÃO



SUMÁRIO

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VISUAL VIRTUAL MTS E O USO DAS TIC PARA DIFUSÃO CULTURAL EM MATO GROSSO Giordanna Santos

A MIDIATIZAÇÃO DO FUNK: UM NOVO LUGAR PARA A MANIFESTAÇÃO CULTURAL

Mariana Luiza Augusto • Pedro Vasconcelos

UMA CÂMERA NA MÃO E UMA IDEIA NA CABEÇA Alison Rosa Loureiro

DIVERSIDADE CULTURAL E COMUNICAÇÃO: DESAFIOS À REALIDADE BRASILEIRA José Márcio Barros

SOBRE OS COLABORADORES DESTA EDIÇÃO SOBRE O OBSERVATÓRIO DA DIVERSIDADE CULTURAL SOBRE O BOLETIM DO OBSERVATÓRIO DA DIVERSIDADE CULTURAL


VISUAL VIRTUAL MT E O USO DAS TICS PARA DIFUSÃO CULTURAL EM MATO GROSSO Giordanna Santos

Como as tecnologias de informação e comunicação (TICs) podem ser usadas enquanto instrumento de difusão cultural, fomentando a diversidade cultural de um grupo social, em determinado território ou localidade? Para responder a este questionamento, primeiramente, cabe destacar que se compreende a comunicação como uma forma de expressão humana, seja ela oral, escrita ou visual, que possibilita e promove a interação entre os sujeitos sociais. Além disso, a comunicação também pode ser a transmissão de informação usando tecnologias de informação e comunicação (TICs), assim como é um elemento necessário para as interações sociais e para a difusão da cultura e suas expressões artísticas. Dessa maneira, entende-se que a comunicação confere à cultura sua dimensão de mediação que se manifesta, ao mesmo tempo, como 6


produção do sentido e como construção da forma. A comunicação permite ou possibilita que os processos culturais funcionem como espaços nos quais são transmitidas as diversas formas da experiência humana (CAUNE, 2008, p. 34). Nesse sentido, no que diz respeito à relação entre comunicação e cultura, considera-se, com base nas ideias de Caune (2008), que :

Essa passagem pela dimensão cultural da noção de comunicação e pela dimensão das manifestações expressivas (orais, escritas, plásticas, lúdicas etc.) e intencionais da experiência vivida nos conduz a salientar [...] características do fenômeno da comunicação em sua relação com a cultura. Em primeiro lugar, o uso de um meio de comunicação não tem por função unicamente fornecer dados informativos. Ao invés disso, ele é o lugar de participação e de ação sobre um mundo vivo e global, ordenado e constituído. A comunicação, enquanto configuração de forças ativas, nos implica, geralmente de maneira indireta, e nos conduz a assumir nosso posicionamento social. Em segundo lugar, o processo de comunicação é a base de toda construção de uma comunidade. [...] A consideração da dimensão cultural da comunicação pode ser definida como a consideração do processo simbólico através do qual a realidade se constrói, se mantém e se

Disponível em https://www3.ethos. org.br/wp-content/ uploads/2016/05/Perfil_Social_Tacial_Genero_500empresas.pdf. Acesso em 21 mar. 2017. 1

transforma. (CAUNE, 2008, p.40).

A partir desta visão sobre a relação comunicação e cultura, acredita-se que as tecnologias de informação e comunicação são instrumentos que facilitam as interações sociais, as redes sociais e a difusão das expressões culturais, podendo fomentar a diversidade cultural de uma localidade ou grupo social. 7


Vários podem ser os usos das tecnologias da informação e comunicação na cultura, sejam eles para produção, fruição ou acesso aos bens culturais. No que diz respeito a permitir a essas possibilidades, as páginas eletrônicas, acervos ou bancos de dados on-line e, também, as mídias sociais, podem ser utilizadas para a difusão de obras culturais e publicações sobre cultura, ampliando o acesso aos bens culturais e possibilitando, também, a fruição. A partir de uma discussão sobre difusão cultural nas artes visuais em Mato Grosso, em 2011, o Núcleo de Estudos do Contemporâneo teve aprovado, junto a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), o projeto “Artes Visuais em Mato Grosso: Acervo, difusão e crítica”. Artes Visuais em MT e o site Visual Virtual MT

Foi um dos grupos responsáveis pela formulação e implantação do Programa de Pós-Graduação em Estudos de Cultura Contemporânea da Universidade Federal de Mato Grosso (ECCO/ UFMT), hoje por ele abrigado. 1

O projeto “Artes Visuais em Mato Grosso” tem como um de seus principais objetivos disponibilizar digitalmente a produção visual contemporânea de Mato Grosso e produção acadêmica correlata. Nesse sentido, inicialmente, identificou-se a produção visual no estado, por meio de uma pesquisa catalográfica, com intuito de dar visibilidade à experiência artístico-visual praticada por artistas de Mato Grosso. Ou seja, uma das principais ações do projeto foi catalogar, junto a acervos públicos e privados, obras de artistas visuais mato-grossenses, com o intuito de criar um banco de dados e disponibilizar essas obras a todo o público do Estado, do país e até mesmo em nível internacional. 8


Dessa maneira, considerando as vantagens e as potencialidades das TICs, foram usados recursos tecnológicos e de baixo custo para a difusão desse material coletado e organizado em um acervo on-line. Além desses objetivos, procura-se ainda constituir um corpus de pesquisa que fomente a crítica sobre as artes visuais praticadas em Mato Grosso.

Figura 1 Página inicial do site Visual Virtual MT (www.visualvirtualmt.com. br), lançado em novembro de 2015.

Importante salientar, também, que para a execução do projeto, alguns princípios foram seguidos. Primeiramente, não se trata de uma pesquisa histórica. Ou seja, foi feita a coleta de produções visuais a partir da década de 1970. Em segundo lugar, privilegia-se a imagem, ou seja, a imagem não é pretexto para falarmos de possíveis significados dessa produção. Por isso, os textos se reduzem a ficha técnica. Isso ocorre principalmente com as produções indígenas, nas 9


quais busca-se que o registro das obras seja feito pelos próprios indígenas. Além disso, a escolha das imagens que comporão o banco de dados disponibilizado no site é sempre feita com o artista. O projeto se guia, também, pela compreensão de produções “aesthésicas”, ou seja, produções materiais e não materiais que têm a capacidade de afetar sentidos, sensações, situações e experiências. Assim, o desafio é a não utilização da categoria ocidental de “arte” ou “arte visual”, por estas determinarem categorias hegemônicas baseadas em hierarquias. Por isso, tenta-se escapar de rótulos tais como as predicações “arte popular”, “arte naïf” e distinção entre “arte” e “artesanato”. Iniciado em novembro de 2011, atualmente, esse projeto conta com duas bolsistas de pós-doutorado, duas bolsistas do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC), bem como alguns estudantes de mestrado e doutorado que desenvolvem investigações nessa área. Até 2016, a equipe já tinha executado boa parte do principal produto do projeto, que é a concepção e implementação de um acervo on-line de produções das Artes Visuais em MT, incluindo parte da produção indígena. Para a constituição desse banco dados, contamos com o site Visual Virtual MT (figura 1), que abriga as obras coletadas em instituições públicas e privadas, bem como em galerias e acervos pessoais, principalmente, em Cuiabá, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro. 10


Figura 2 Página do Facebook do site Visual Virtual MT

No site há obras de artistas mato-grossenses que são fotografadas (na inexistência de imagem de qualidade), bem como também se realiza (em fluxo contínuo) a digitalização de catálogos de exposições e coleta de publicações relacionadas às artes, sejam elas pesquisas acadêmicas como monografias, dissertações e teses ou matérias jornalísticas, entre outros tipos de material crítico sobre artes visuais em Mato Grosso. Afinal, além do acervo, o “Artes Visuais em MT” também busca a difusão da produção reflexiva existente sobre a temática. A partir desse contexto e considerando a importância das tecnologias de informação e comunicação, sobretudo, as mídias sociais, também foram criadas ações estratégicas para ampliar a difusão do projeto junto, prioritariamente, ao público mato-grossense. De tal modo que se busca ampliar a divulgação do site Visual Virtual MT e a difusão do acervo junto a estudantes da Rede Pública e Privada do ensino básico e fundamental.

Trata-se da Página VisualVirtualMT 2

Além dessa meta a ser desenvolvida neste e no próximo ano, para difusão do Visual Virtual MT, criamos uma página no Facebook (figura 11


2) , pois se reconhece o potencial das mídias sociais para divulgação científica e interação com os diversos públicos do projeto. Considera-se que: “a divulgação científica constitui-se no emprego de técnicas de recodificação de linguagem da informação científica e tecnológica objetivando atingir o público em geral e utilizando diferentes meios de comunicação de massa” (LOUREIRO, 2003, p. 90-91). Portanto, nesta atual etapa da pesquisa, uma das principais ações é a divulgação científica do Projeto Artes Visuais em MT, compreendendo-a como estratégia para dar visibilidade às produções de artes visuais, possibilitando maior fruição, por meio de recursos comunicacionais, sobretudo, usando a internet e as mídias sociais. Essa escolha se deve ao fato de se compreender que a forma de comunicação utilizada deve considerar a linguagem e os recursos que fazem parte do universo desses receptores (KUNSCH, 2001). Considerando essa premissa, optou-se pela página no Facebook, pois essa mídia social possibilita um alcance e engajamento maior aos diversos públicos que se pretende alcançar. Nesse sentido, Fábio Cipriani (2011, p. 105) argumenta que [...] as estratégias em mídias sociais que deram certo foram aquelas que conseguiram alcançar níveis superiores de engajamento e participação do seu público-alvo e, se esse é o caminho, assim como qualquer estratégia e tática bem definida, temos plenas condições de encontrar a melhor forma de atingir esse resultado, não sob o formato de regras imutáveis, mas como uma metodologia que direciona nossas ações e se preocupa com todos os elementos cruciais [para a ação e seu bom resultado]. 12


[...]. Se retirarmos a palavra “quantidade” e colocarmos “capacidade de mobilizar” ao lado de quantidade, fica bem mais fácil enxergar que apenas possuir muitas conexões não é nada se não conseguirmos fazer com que nossas conexões participem daquilo que pregamos ou buscamos. [...]. Ter capital social é ter conexões em sua rede de relacionamento que você consiga mobilizar, criando mais engajamento, participação, comprometimento e inovação (ibidem).

Por fim, nota-se que usar as ferramentas das TIC e as mídias sociais pode ser apenas um dos recursos e estratégias desenvolvidos pelo Projeto. Entre as metas deste e do próximo ano, está também a difusão das ações do projeto junto a públicos diversos em Mato Grosso, sendo que outras ferramentas podem ser usadas, tais como publicações impressas, palestras, rodas de conversa, workshop, artigos, etc. Além da difusão por meio do site e da página no Facebook, busca-se desenvolver ações de cultura e educação, divulgando esse projeto em ambiente escolar, com o intuito de fomentar o debate sobre a produção das artes visuais em Mato Grosso. Será dada continuidade a coleta de obras e publicações, mas também há outras metas, como: divulgar esse acervo entre os professores, com oficinas e publicações digitais sobre como usar o site em sala de aula, seja como recurso para pesquisa ou outras finalidades; melhorar a divulgação e aumentar o engajamento e a participação da sociedade mato-grossense com o projeto.

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Referências CAUNE, Jean. As relações entre cultura e comunicação: núcleo epistêmico e forma simbólica. Líbero - Ano XI - nº 22 - Dez 2008. In: http://revistas.univerciencia.org/index.php/libero/article/viewFile/6082/5545 Acessado em 08 mai. 2017. CIPRIANI, Fábio. Estratégia em mídias sociais: como romper o paradoxo das redes sociais e tornar a concorrência irrelevante. Rio Janeiro: Elsevier; São Paulo: Deloitte, 2011. GONZALEZ, Maria Iracema. A divulgação científica: uma visão de seu público leitor. 143 f. 1992. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) - IBICT/UFRJ/ECO, Rio Janeiro, 1992. p. 19. KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Planejamento de relações públicas na comunicação integrada. Ed. rev. atual., ampl. São Paulo: Summus, 2003. LOUREIRO, José Mauro Matheus. Museu de ciência, divulgação científica e hegemonia. Ci. Inf., Brasília, v. 32, n. 1, p. 88-95, Apr. 2003. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010019652003000100009&lng=en&nrm=iso>. Acessado em: 18 abr. 2017.

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A MIDIATIZAÇÃO DO FUNK: UM NOVO LUGAR PARA A MANIFESTAÇÃO CULTURAL Mariana Luiza Augusto Pedro Vasconcelos

Retomamos neste texto aspectos culturais relacionados ao estilo musical do “Funk” – tema já abordado em outra edição deste boletim a partir da dimensão de uma de suas vertentes, a do Funk Consciente. Aproveitamos o tema deste mês para explanar sobre a temática musical para além das espeficidades das letras e da musicalidade dos seus diversos braços. Neste sentido, observa-se que tanto o Funk Pancadão como o Ostentatação, ou ainda o Consciente tem o audiovisual como um processo diretamente imbricado no habitus de quem produz e consome esse estilo musical no Brasil. Entendemos que o conceito de midiatização pode ser uma chave para relacionar aspectos da diversidade cultural com um novo momento da comunicação. Conceito que revela uma nova ambiência, caracterizada por uma centralidade organizativa da mídia, que perpassa os modos de se relacionar dos indivíduos e das instituições. Neste sentido, autores como Sodré (2002); Braga (2006); Fausto Neto (2007) e Eliseo Verón (1997) buscaram captar, especialmente nestas últimas duas décadas, aspectos relacionados a esse novo momento da sociedade, em que a mídia se integra de maneira radical ao cotidiano

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das mais diversas instituições: como a religião, a política, a escola, o lazer e a cultura. Embora os avanços tecnológicos das comunicações sejam importantes para entendermos este momento, a compreensão por um viés tecnicista da midiatização é insuficiente para explicar todo o contexto de uma sociedade midiatizada. Deste modo, se estes avanços contribuem para a formulação de um novo padrão interativo, as tecnologias não devem ser compreendidas como próteses desta sociedade. Dessa forma, é necessário expandir a compreensão da midiatização, dando ênfase à importância das interações produzidas com e a partir desses dispositivos tecnológicos, simbólicos e sociais. Importante frisar, ainda, que nossa abordagem não prioriza uma discussão teórica sobre a midiatização. Mas, busca revelar, de maneira tentativa, dois casos de desdobramentos dessa sociedade midiatizada no universo do Funk. Aqui, salientaremos o caso de dois produtores audiovisuais independentes que cresceram exponencialmente junto com o estilo musical, e que hoje somam milhões de acessos em seus respectivos canais de videoclipes no Youtube: o Kondizila e o Tom Produções. Não desconhecemos a importância e a ainda pungente influência dos meios de comunicação de massa tradicionais no cenário musical, mas a proliferação recente de videoclipes de Funk nestes novos dispositivos de interação, como as redes sociais digitais, sites e blogs é um indicio de que algo está se transformando nessa indústria, e que embora uma lógica da mídia ainda opere com certo vigor, uma nova 16


lógica pautada pela midiatização surge conferindo status e prestígio a vozes outrora marginalizadas. Anteriormente, a indústria se valia do Funk como mais um produto da cultura de massa, enquadrando e inserindo este estilo ao formato dos videoclipes tradicionais. Como por exemplo os videoclipes de estreia da dupla Claudinho e Bochecha - no final dos anos 1990 - feitos para a televisão com o auxilio de grandes gravadoras, como a Universal Music, que impulsionava a venda de discos por meio da exibição destes vídeos em canais de televisão especializados, o mais famoso deles era a MTV Brasil que, naquele tempo, exibia os produtos em rede nacional aberta. A força do capital era preponderante para que um artista conseguisse a visibilidade. Hoje isto está se transformando, embora o capital ainda conserve um caráter determinante na disseminação de qualquer produto de massa. Agora ele opera a partir de lógicas mais sutis, por meio dos algoritmos e da publicidade disseminada na rede. Dizer, então, que vozes marginais conseguem acessar por outras vias o mercado da indústria cultural não significa desconhecer a existência e a influência do mercado sobre estes produtos. O Funk é um estilo musical que se disseminou nos morros cariocas, especificamente no período em que a tecnologia e a pirataria tornaram a produção e o consumo musical mais acessíveis para as classes econômicas mais baixas. Neste período, o Pancadão estourou no Rio de Janeiro com gravações de artista das comunidade em parceria com Djs locais em estruturas de gravação amadoras, mas que criaram um mercado musical independente, que estouraram nos famosos bailes funks. 17


Se os MCs já gravavam o Funk, de forma independente, em CDs nos primórdios da década de 1990, os videoclipes passaram a fazer parte deste universo nos anos 2000. O notório desenvolvimento e democratização de câmeras de alta resolução e equipamentos fotográficos possibilitaram que estes artistas também se inserissem no mercado audiovisual, alcançando centenas de milhões de acessos nas redes sociais e alavancando carrearias nacionais, tanto dos MCs como destes produtores de vídeos independentes. Talvez o exemplo mais emblemático seja o do produtor musical Konrad Dantas, de 25 anos, que como mostra uma matéria1 recente da edição online do jornal Folha de São Paulo, escrita pela jornalista Letícia Mori – mostra que o famoso canal Kondizila nasceu há cerca de três anos, quando o jovem começou a gravar clipes para artistas da periferia de São Paulo. O canal cresceu junto com a vertente do Funk Ostentação. Estilo que, para Libardi (2015), surgiu entre os anos de 2010 e 2011, explorando o imaginário do jovem da periferia de São Paulo, sobretudo da baixada santista, que sonha com a ascensão social por meio da música, valorizando os bens de consumo como carros, roupas de marcas e mansões. Um expoente desta vertente é o MC Guimê, que já gravou clipes com o jovem diretor no inicio e no atual estágio de sua carreira.

Matéria disponível em:<http://www1. folha.uol.com.br/saopaulo/2014/02/1405368-conheca-kondzilla-o-diretor-por-tras-dos-principais-clipes-de-funk-ostentacao.shtml>. Acesso em: 19 de maio de 2017. 1

O site do Kondizila está recheado com dezenas de clipes, com centenas de milhões de visualizações e já expôs o trabalho tanto de artistas consagrados como de artistas iniciantes. Konrad 18


explica na entrevista dada a Folha que a produção do clipe depende do investimento do artista. As casas e carros de luxo normalmente são emprestadas ou alugadas para a gravação. O investimento alto de alguns desses artistas já contribuiu para que o jovem vivesse experiências dignas de Hollywood – como a gravação de um clipe em Las Vegas ou da utilização de um helicóptero para a filmagem de planos aéreos.

Frame do filme Funk da nossa Gente (2016) Direção Pedro Vasconcelos

Importante ressaltar que, em um contexto de midiatização, o acesso a tecnologia é mais democrático, o domínio da técnica e da linguagem audiovisual também se democratiza. Diretores amadores espalhados por todo o Brasil demonstram nos clipes de Funk certa intimidade com a linguagem cinematográfica, explorando planos, enquadramen19


tos e cortes diversos, que dialogam com a produção audiovisual do mundo inteiro. A midiatização entende que a sociedade vive um novo bios, o bios midiático, explicado por Sodré (2002) como uma forma de vida permeada por uma tecnointeração exacerbada, que pode explicar o domínio naturalizado destes atores sobre a técnica destes novos dispositivos midiáticos. Mais próximo a Belo Horizonte temos outro exemplo de um produtor de vídeos, hoje consagrado, que de maneira autodidata construiu a sua carreira e viu de perto o crescimento de uma série de artistas consagrados no mundo do Funk. O Tom, da produtora Tom Produções, não nasceu em berço de ouro, como ele mesmo conta em uma de suas redes sociais. Antes de ser produtor, o jovem morador da região do Barreiro, em Belo Horizonte, foi camelô e vendia CDs e DVDs para se sustentar. Há cerca de dez anos comprou a sua primeira câmera por R$1.300,00, dividida em 10 vezes no cartão. A câmera amadora foi responsável pela gravação de clipes iniciais de importantes artistas do Funk Consciente de Belo Horizonte, como o do consagrado MC Dôdô, dentre outros. Hoje, Tom não mais reside em Belo Horizonte e é dono de uma das maiores produtoras de vídeo especializada em Funk do país, gravando artistas consagrados de todas as vertentes desse estilo musical. Tom é exemplo para centenas de produtores independentes que surgem nas cidades e nas periferias do Brasil, que conferiram ao Funk características da sociedade midiatizada que influem diretamente nos modos de produção e consumo desta manifestação cultural. 20


A ideia de que o processo de globalização interfere de maneira radical na cultura e na diversidade cultural, pulverizando certas identidades, é um aspecto destacável que precisa ser lembrado e acionado. Uma vez que os vídeos assumem, cada vez mais, uma linguagem homogênea e esterilizada, distanciando-se da origem destes movimentos. Contudo, a perspectiva da midiatização nos fornece ferramentas importantes para percebermos que estas identidades, apesar de modificadas, passaram a se manifestar de forma mais autônoma e democrática por meio dos novos dispositivos interacionais, dando voz a personagens anônimos e a trabalhos de artistas que antes estavam restritos a suas localidades de origem.

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Referências LIBARDI, Guilherme Barbacovi. O Funk Ostentação e o Papel das Redes Sociais Digitais: Uma Saída Contra a Hegemonia dos Meios. PPGCOM ESPM, COMUNICON 2015(5 a 7 de outubro 2015). São Paulo, Outubro de 2015. Disponível em: http://anais-comunicon2015.espm.br/gts/gt5/18_gt05-libardi.pdf .Acesso em 20.05.2017. BRAGA, José Luiz. Circuitos versus campos sociais. In: JANOTTI Junior, Jeder; MATTOS, Maria Ângela; JACKS, Nilda (Orgs.). Mediação & Midiatização. Salvador – Brasília; EDUFBA - Compós, 2012. FAUSTO NETO, Antônio. Midiatização: prática social, prática de sentido. In: ENCONTRO REDE PROSUL: comunicação, sociedade e sentido, 2006 (Seminário de midiatização). Anais. São Leopoldo: Unisinos. PPGCC, 26. VERÓN, Eliséo. Esquema para el analisis de la mediatización. Diálogos de la Comunicación, Lima, n. 48, out. 1997. SODRÉ, Muniz. Antropológica do espelho: uma teoria da comunicação linear e em rede. Petrópolis: Vozes, 2002

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UMA CÂMERA NA MÃO E UMA IDEIA NA CABEÇA Alison Rosa Loureiro

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Escola Estadual Caminho à Luz Maio de 2017 Belo Horizonte Brasil

As coordenadas acima oferecem um panorama do contexto em que se passou a experiência sobre a qual esta breve nota pretende refletir. Em um momento de intensa crise política, a escola ainda continua demonstrando ser um dos mais importantes espaços de debate e de formação de ideias, estruturantes, já que se encontra nas bases de (re) configuração das relações que a sociedade estabelece com a opinião pública.Uma vez que questões germinadas, quando instigantes, ecoam nos adolescentes, canais de propagação para suas famílias e comunidade, em um fluxo contínuo, também em sentido inverso. Em um momento no qual o uso de dispositivos móveis e da tecnologia na educação torna-se novamente demonizado, pela repercussão de casos criminosos1 no uso de aplicativos por jovens, o medo e, princi23


palmente a ousadia2, já tão profundamente discutida por Paulo Freire, ao refletir sobre o cotidiano do professor, precisa emergir novamente, como impulso para o rompimento da “cultura do silêncio” (para temas ainda polêmicos) instituída no espaço escolar, por meio do diálogo aberto e do uso de proposições educativas que provoquem a reinvenção do (s) modo (s) de uso e de apropriação das mídias pelos alunos. Neste cenário de greves e mobilizações, enquanto frentes de resistência às atuais deformações nas políticas públicas de proteção e seguridade ao trabalhador, para não falar da infeliz reforma do Ensino Médio, praticadas pelo atual governo brasileiro, os jovens se vêm atravessados por todos os lados (televisão, redes sociais, jornais, familiares) por versões díspares destes eventos, muitas vezes introjetando discursos fáceis construídos por grupos politico-midiáticos contrários aos seus interesses e de suas famílias, principalmente levando-se em consideração que a escola da qual falamos aqui é pública e que fica localizada em região periférica da cidade. Sendo tema do primeiro projeto interdisciplinar do ano letivo escolar do Ensino Médio, iniciativa da professora de Filosofia da escola, o binômio Ética e Cidadania foi objeto de estudo junto aos alunos em diferentes disciplinas como Língua Portuguesa, Sociologia, Artes e Geografia, através de atividades que instaurassem junto às turmas a compreensão das origens destes conceitos e como atualmente são operados e refletidos nas ações cotidianas por cidadãos e pelo Estado.

Referência aos casos de mortes causadas pelo uso de um aplicativo de celular por jovens em Minas Gerais, chamado Baleia Azul. Para mais informações, acesse: http:// www.em.com.br/app/noticia/gerais/2017/04/13/ interna_gerais,862064/ adolescente-e-primeira-vitima-mineira-do-baleia-azul-o-jogo-do-suicid. shtml 1

Referência à seminal obra do professor Paulo Freire: O medo e a ousadia (1986). 2

Na disciplina de História, na qual este autor é professor, a proposta lançada aos alunos partiu do estudo da Constituição Republicana de 1988. A turma foi convocada a investigar pontos básicos como, por 24


exemplo, o que é e para que serve uma Constituição, o contexto histórico da década de 1980, quando o documento foi elaborado e promulgado. Além destas pesquisas, cada aluno teve como tarefa apontar artigos constitucionais que em sua opinião não são praticados/respeitados no cotidiano.

Alunos foram estimulados a produzir vídeos baseados na na atual conjuntura brasileira e na Constituição Republicana de 1988. Foto ilustrativa licenciada por Creative Commons

A partir das escolhas dos artigos constitucionais, as turmas foram divididas em grupos e cada grupo deveria trabalhar a partir das seguintes coordenadas: > Escolher 1 ou mais artigos que pudessem ser retratados em situações (cenas) nas quais as premissas legais ali instituídas estivessem sendo descumpridas. Poderiam ser tanto situações do dia-a-dia quanto cenas criadas por eles. Registradas em um (s) curto (s) vídeo (s) produzido (s) com seus próprios celulares. 25


> Após a produção dos vídeos, em prazo combinado, os vídeos seriam assistidos pelas turmas em projeção durante as aulas. Críticas e questões seriam levantadas. > Alunos mais aptos à edição de vídeos seriam convidados a trabalhar o material produzido. > Como etapa final, o material seria reunido em um documentário da cada turma, com títulos criados por cada uma das classes. > Divulgar em suas páginas nas redes sociais seus documentários O retorno do trabalho foi significativo, com a produção de um material crítico e criativo, com olhares que refletem a diversidade cultural do alunado da escola, contando com o envolvimento de outros profissionais e dos próprios familiares, convocados a participar das gravações dos vídeos, instituindo um debate importante sobre a difícil relação que se estabelece historicamente no Brasil entre os princípios constitucionais, cidadãos e Estado, no descumprimento de grande parte destas premissas legais. Enquanto resultado parcial do trabalho, que ainda se encontra em processo, observa-se que: > Ao explorar um recurso midiático incorporado ao cotidiano e identidade dos estudantes, pode-se perceber considerável envolvimento de todas as turmas com a proposta, provocando uma discussão em toda a escola. 26


> Muitos estudantes procuraram acionar outros profissionais da escola durante a gravação dos vídeos, enquanto participação para opinarem e debaterem com os jovens, o que vem culminando em um processo colaborativo de pesquisa entre diferentes professores e demais funcionários. > Além do envolvimento das pessoas que trabalham na escola, a comunidade escolar, como um todo, também se envolve com as gravações dos alunos. Vizinhos, do bar ao posto de saúde, muitas pessoas foram procuradas pelos alunos para opinarem sobre diferentes princípios constitucionais. > Os jovens vêm estabelecendo uma relação mais direta entre o seu cotidiano e as questões políticas presentes na Constituição da República. Parafraseando a icônica frase do cineasta brasileiro Glauber Rocha3 , título deste texto, que na década de 1970 lutou por um cinema autoral, poético e a serviço da transformação social, os jovens mostram-se capazes de se comunicar com potência em um mundo em que o sistema educativo transforma-se, inevitavelmente, em uma sociedade educativa4. As turmas estão ansiosas para a exibição do documentário que se realizará em breve na escola, na Mostra de Cinema que está sendo organizada. Também em breve, ficarei feliz em divulgar aqui o link para acesso ao material criado.

Glauber de Andrade Rocha (Vitória da Conquista, 14 de março de 1939 — Rio de Janeiro, 22 de agosto de 1981) foi um importante cineasta brasileiro e também ator e escritor. Para conhecer: www.tempoglauber.com.br/). 3

Referência aos estudos de Jesús Martín Barbero, em sua obra Comunicação na Enquanto isso, vivamos um mundo com menos medo e mais ousadia. Educação (2014). 4

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DIVERSIDADE CULTURAL E COMUNICAÇÃO: DESAFIOS À REALIDADE BRASILEIRA José Márcio Barros

A proteção e a promoção da Diversidade Cultural têm na democratização da Comunicação um elemento central, uma espécie de pré-requisito, sem o qual o fracasso é iminente. Há, contudo, um grande paradoxo a ser enfrentado. As rápidas e radicais transformações operadas no campo tecnológico das comunicações fomentaram, mobilizaram e articularam o que Martín-Barbero chama de “imaginação social das coletividades, potencializando suas capacidades de sobrevivência e de associação, de protesto e de participação democrática, de defesa de seus direitos sociopolíticos e culturais e de ativação de sua criatividade expressiva” (Martín-Barbero, 2009, p. 154). Mas, por outro lado, esse mesmo avanço apresentou retrocessos significativos, dado que contribuiu para o agravamento das desigualdades entre setores de uma mesma sociedade, como também entre diferentes culturas e países. Os meios de comunicação se mostram, hoje, como instrumentos centrais das práticas políticas, econômicas e sociais. Mas, também, se apresentam como verdadeiras barreiras que impedem a garantia do respeito e do fomento à Diversidade Cultural. Isto se dá tanto pela privatização da esfera pública da Comunicação, como pela disputa desi-

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gual de sentidos dos conteúdos veiculados nas diversas mídias, seja também pela impossibilidade de acesso popular aos meios e pelas restrições de participação e controle social. Daí o porquê da necessidade de adoção de medidas concretas que favoreçam o compromisso com a diversidade nos meios de comunicação, por meio de atividades que oportunizem a pluralidade na produção, na difusão, na veiculação e no consumo de conteúdos em formatos diversos. A Declaração Universal Sobre a Diversidade Cultural (UNESCO, 2002), a Convenção sobre a proteção e promoção da Diversidade das Expressões Culturais - aprovada na 33ª reunião da Conferência Geral da UNESCO em 2005, e ratificada pelo Brasil por meio do Decreto Legislativo 485/2006 - e os documentos conclusivos das três Conferências Nacionais de Cultura realizadas no Brasil nos anos de 2005, 2010 e 2013, são enfáticos nessa relação entre a democratização da comunicação e a Diversidade Cultural. Entretanto, se olharmos para as políticas públicas, desenvolvidas nos últimos anos no Brasil, encontraremos um quadro preocupante. Se as ações do Ministério da Cultura incorporaram e colocaram em funcionamento um conjunto de ações visando o acesso à Cultura Digital, o reforço identitário de grupos socioculturais historicamente invisibilizados e o diálogo intercultural mediado por tecnologias da informação, o mesmo não se repete se considerarmos as políticas públicas de Comunicação. Aliás, Liedtke & Aguiar (2013) afirmam que o período inaugurado com 29


a eleição de Lula em 2003, não foi capaz de produzir a revisão do marco regulatório dos meios de comunicação. Da mesma forma, a tentativa de transformação da Agência Nacional de Cinema (ANCINE) em Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual (ANCINAV) - órgão regulador e fiscalizador da produção e distribuição dos conteúdos audiovisuais - configurou-se como a maior derrota política do governo para os grupos tradicionais de mídia, só minimizada pela ação compensatória de criação do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), regulamentado pelo Decreto nº 6.299, de 12 de dezembro de 2007 (LIEDTKE, 2008). De maneira geral, não houve alteração fundamental na realidade da concentração da propriedade da mídia no Brasil. Além disso, as deliberações da única Conferência Nacional de Comunicação, CONFECOM, realizada em 2009, não saíram do papel. Do mesmo modo, o Conselho Nacional de Comunicação permanece marcado por uma trajetória descontínua e frágil, apesar de criado em 1991 com a missão - conforme seu ARTIGO 3º - de: a) Assegurar o exercício do direito à informação e a liberdade de imprensa; b) Zelar pela independência dos órgãos de comunicação social perante os poderes político e econômico; c) Contribuir para garantir a independência e pluralismo de cada órgão de comunicação social do Estado; d) Garantir o exercício dos direitos de antena, de resposta e de réplica política; e) Salvaguardar a possibilidade de expressão e confronto através dos meios de informação, das diversas correntes de opinião e providenciar pela isenção, rigor e objetividade da informação. (Lei nº6/91 de 3 de Outubro). Os avanços nos dois mandatos do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e no primeiro da Presidente Dilma Roussef foram tímidos. Apesar 30


de ampliar e criar novos instrumentos de diálogo com a sociedade civil, a exemplo da CONFECOM, esses três mandatos demonstraram que o governo se intimidou com a repercussão negativa na imprensa das propostas democratizantes da Comunicação, bem como valorizou majoritariamente o interesse dos empresários da mídia, tanto na aprovação do padrão japonês da TV Digital, como na implantação de medidas redutoras à concentração de propriedade nos meios de Comunicação (LIEDTKE; AGUIAR, 2013, p.71). Algumas exceções devem ser citadas. A criação da TV Brasil e o agendamento público do debate sobre a democratização da Comunicação no país, fruto da mobilização e da participação de vários setores organizados da sociedade civil, como a Central Única dos Trabalhadores (CUT), Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC), Conselho Federal de Psicologia, Associação Brasileira de Radiodifusão Comunitária (ABRAÇO), Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Coletivo Inter-vozes de Comunicação, Federação Interestadual dos Trabalhadores em Radiodifusão e Televisão (FITERT) e Movimento Negro Unificado, etc. De um lado, houve significativos avanços no fortalecimento da mídia pública, na realização de fóruns de participação da sociedade civil na formulação de políticas públicas, na descriminalização das rádios comunitárias e na revisão do marco regulatório dos meios de Comunicação (LIEDTKE; AGUIAR, 2013, p.71). Entretanto, diante da oposição ao tema no Parlamento e da repercussão negativa na imprensa massiva, as políticas públicas de Comunicação pouco avançaram em relação aos principais compromissos para o combate à concentração 31


de propriedade no setor, na divulgação dos concessionários de emissoras de rádio e televisão e na participação da sociedade na renovação das outorgas. A atuação do Ministério da Cultura foi importante para o aumento da produção de conteúdos culturais para veiculação nos meios públicos de comunicação. No período inaugurado em 2003, algumas iniciativas como a definição de cotas de produção nacional na TV a cabo, de cotas de tela em cinemas para a produção nacional e a obrigatoriedade de exibição de filmes nacionais em escolas públicas, expressam estes avanços. A presença de temáticas de Comunicação nas três Conferências Nacionais de Cultura realizadas, também confirma essa importância dada à Comunicação pelo campo Cultural. Barros & Moreira (2013) afirmam que o Plano Nacional de Cultura, instrumento político e institucional que define as prioridades e diretrizes para as políticas públicas de Cultura no período de 10 anos, é a própria expressão da importância da articulação entre Cultura e Comunicação: [...] do ponto de vista de princípios e perspectivas políticas e conceituais, o Plano Nacional de Cultura projeta sobre a comunicação um estratégico e central papel nas políticas culturais. É tanto a condição para o exercício de uma cidadania crítica, quanto mecanismo através do qual, dois movimentos opostos e paradoxais podem se realizar – a integração nacional e a participação nos fluxos de trocas globalizadas. (BARROS; MOREIRA, 2013, p.153).

Dentre as 43 metas do PNC, seis referem-se diretamente à questão 32


de produção e veiculação de conteúdo cultural. Se, do lado da Comunicação, os avanços mais estruturantes são quase ausentes, do lado da Cultura a experiência em rede parece ter dominado. Algumas ações deste campo, visando à democratização da Comunicação e o seu alinhamento à proteção e promoção da Diversidade Cultural, merecem destaque: • O Programa de Comunicação Para a Cultura – Comunica Diversidade; • As normativas de cota de produção nacional na TV paga; • A obrigatoriedade de exibição de filmes de produção nacional nas escolas de educação básica; • A regionalização da produção de TV; • A formação das redes de Pontos de Cultura, Lab. Cultura Viva e pontos de mídias livres; • e os Programas: Revelando Brasis; Ponto Brasil; Cultura Ponto a Ponto; Doc TV; Brasil Plural: São ações que demonstraram potência transformadora que, entretanto, desvinculadas de alterações estruturais na democratização da Comunicação, podem não passar de boas experiências.

REFERÊNCIAS BARROS, José Marcio, KAUARK, Giuliana (orgs). Diversidade Cultural e desigualdade de trocas.: Observatório da Diversidade Cultural, Instituto Itaú Cultural, São Paulo, 2011. 33


BRAGA, José Luiz. Nem rara, nem ausente tentativa. Revista Matrizes. Ano 4 – No 1 jul./dez. 2010 - São Paulo - Brasil. p. 65-81. BRASIL. Caderno I Conferência Nacional de Comunicação. Brasília, 2009. BRASIL. Ministério da Cultura. Plano Nacional de Cultura. Brasília, 2010. BRASIL. Ministério da Cultura. As metas do Plano Nacional de Cultura. Brasília, 2012. BRASIL. Ministério da Cultura. Apresentação das ações da coordenação geral de Cultura e Comunicação para 2013. Disponível em: <http://prezi.com/cmfaa9lpdzso/apresentacao-das-acoes-da-coordenacao-geral-de-Cultura-e-comunicacao-para-2013/>, acesso em mar. 2013. BARBERO, Jesús-Martín. Desafios políticos da diversidade. In: Itaú Cultural. Revista Observatório Itaú Cultural. São Paulo, 2009. LIEDTKE, Paulo Fernando; AGUIAR, Itamar. Políticas Públicas de Comunicação no Governo Lula (2003-2010): avanços e retrocessos rumo à democratização do setor, In: BRITTES, Juçara. Saber militante: teoria e crítica nas políticas de comunicação do Brasil, Vol. 8 – Coleção GPs ebook, São Paulo, INTERCOM 2013. 34


SOBRE OS COLABORADORES DESTA EDIÇÃO Pós-Doutoranda do Programa de Pós-Graduação Estudos de Cultura Contemporânea, da Universidade Federal de Mato Grosso (ECCO/ UFMT). Doutora em Cultura e Sociedade, Universidade Federal da Bahia (UFBA), integrante do Observatório da Diversidade Cultural Educador, com experiência na educação formal e não formal. Professor efetivo de História da rede estadual de ensino, também atua com projetos culturais de formação continuada. Pesquisador do Observatório da Diversidade Cultural e do Núcleo de Pesquisa em Teatro para Educadores do Grupo Galpão. É formado em História pela UFMG, com Especialização em Educação Inclusiva pela PUC-MG e está iniciando o Mestrado acadêmico em Artes pela UEMG. Graduada em filosofia, mestre em sociologia e doutoranda em sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais.

Jornalista, documentarista e mestre em Comunicação Social pela PPGCOM PUC Minas. É pesquisador do grupo Observatório da Diversidade. Professor do PPg em Artes da UEMG, do PPg em Comunicação da PUC Minas. Professor Colaborador do PPg em Cultura e Sociedade da UFBa. Coordenador do Observatório da Diversidade Cultural. E-mail: josemarciobarros2013@gmail.com

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SOBRE O OBSERVATÓRIO DA DIVERSIDADE CULTURAL O O Observatório da Diversidade Cultural – ODC – está configurado em duas frentes complementares e dialógicas. A primeira diz respeito a sua atuação como organização não-governamental que desenvolve programas de ação colaborativa entre gestores culturais, artistas, arte-educadores, agentes culturais e pesquisadores, por meio do apoio dos Fundos Municipal de Cultura de BH e Estadual de Cultura de MG. A segunda é constituída por um grupo de pesquisa formado por uma rede de pesquisadores que desenvolve seus estudos em várias IES, a saber: PUC Minas, UEMG, UFBA, UFRB e USP, investigando a temática da diversidade cultural em diferentes linhas de pesquisa. O objetivo, tanto do grupo de pesquisa, quanto da ONG, é produzir informação e conhecimento, gerar experiências e experimentações, atuando sobre os desafios da proteção e promoção da diversidade cultural. O ODC busca, assim, incentivar e realizar pesquisas acadêmicas, construir competências pedagógicas, culturais e gerenciais; além de proporcionar experiências de mediação no campo da Diversidade Cultural – entendida como elemento estruturante de identidades coletivas abertas ao diálogo e respeito mútuos. Desenvolvimento, orientação e participação em pesquisas e mapeamentos sobre a Diversidade Cultural e aspectos da gestão cultural. Desenvolvimento do programa de trabalho “Pensar e Agir com a Cultura”, que forma e atualiza gestores culturais com especial ênfase na Diversidade Cultural. Desde 2003 são realizados seminários, oficinas e curso de especialização com o objetivo de capacitar os agentes que atuam em circuitos formais e informais da cultura, educação, comunicação e arte-educação para o trabalho efetivo, criativo e transformador com a cultura em sua diversidade. Produção e disponibilização de informações focadas em políticas, programas e projetos culturais, por meio de publicações e da atualização semanal do portal do ODC e da Rede da Diversidade Cultural – uma ação coletiva e colaborativa entre os participantes dos processos formativos nas áreas da Gestão e da Diversidade Cultural. Prestação de consultoria para instituições públicas, empresas e organizações não-governamentais no que se refere às áreas da cultura, da diversidade e da gestão cultural.com a temática da diversidade cultural refletem sobre a complexidade do tema em suas variadas vertentes.

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SOBRE O BOLETIM DO OBSERVATÓRIO DA DIVERSIDADE CULTURAL O Boletim do Observatório da Diversidade Cultural é uma publicação mensal em que pesquisadores envolvidos com a temática da diversidade cultural refletem sobre a complexidade do tema em suas variadas vertentes. Para colaborar com o Boletim, envie textos para: info@observatoriodadiversidade.org.br.

Coordenação geral: José Márcio Barros Conselho Editorial: Giselle Dupin – MINC – http:// lattes.cnpq.br/ 2675191520238904 Giselle Lucena – UFAC – http:// lattes.cnpq.br/ 8232063923324175 Humberto Cunha – UNIFOR – http:// lattes.cnpq.br/ 8382182774417592 Luis A. Albornoz – Universidad Carlos III de Madrid – http:// portal.uc3m.es/ portal/ page/ portal/grupos_investigacion/ tecmerin/ tecmerin_investigadores/Albornoz_Luis Núbia Braga – UEMG – http:// lattes.cnpq.br/ 6021098997825091 Paulo Miguez – UFBA – http:// lattes.cnpq.br/ 3768235310676630 Comissão editorial: José Márcio Barros e Giuliana Kauark Revisão editorial: José Márcio Barros e Giuliana Kauark Revisão de texto: Camila Alvarenga, Carlos Vinícius Lacerda e Julia Roscoe Diagramação: Carlos Vinícius Lacerda

info@observatoriodadiversidade.org.br www.observatoriodadiversidadecultural.com.br 39


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