A
morte nĂŁo ĂŠ o fim
Assis Azevedo Espírito: João Maria
A
morte não é o fim
“Perda”
de pessoas amadas
3ª edição 20.001 a 25.000 exemplares
Dezembro/2011
Capa: Rogério Mota Planejamento gráfico: Equipe “O Clarim”
(Propriedade do Centro Espírita O Clarim). Fone: (0xx16) 3382-1066 – Fax: (0xx16) 3382-1647 C.G.C. 52313780/0001-23 – Inscr. Est. 441002767116 Rua Rui Barbosa, 1070 – Cx. Postal, 09 CEP 15990-903 – Matão, SP http://www.oclarim.com.br oclarim@oclarim.com.br
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morte não é o fim
“perda”
de pessoas amadas
Dados para catalogação na editora 133.91 Azevedo, Assis (médium psicógrafo) João Maria (espírito) A morte não é o fim 1ª edição: Maio/2006 – 10.000 exemplares Matão/SP: Casa Editora “O Clarim” 360 páginas – 14 x 21 cm
ISBN – 85-7357-075-X CDD – 133.9 Índice para catálogo sistemático: 133.9 133.901 133.91 133.92 133.93
Espiritismo Filosofia e Teoria Mediunidade Fenômenos Físicos Fenômenos Psíquicos Impresso no Brasil Presita en Brazilo
Agradecimentos Agradecemos pela valiosa colaboração que nos permitiu a edição desta obra: Revisão: Hiêda Rodrigues da Silva E aos nossos funcionários.
Casa Editora O Clarim – Maio de 2006 –
índice – – – – – – – – – – – – – – – – – – – – –
O PASSEIO..................................................... 11 O desespero.............................................. 25 IMORTALIDADE DO ESPÍRITO................. 39 VIDA APÓS VIDA......................................... 53 COLÔNIA ESPIRITUAL LUZ ETERNA...... 67 SOCORRO ESPIRITUAL.............................. 81 EMERGÊNCIA.............................................. 95 UNIDOS PELA DOR....................................111 O DESPERTAR.............................................127 O RESGATE DE ROBERTO........................141 O V ANEXO..................................................155 UM CASO PARA ESTUDO..........................169 A TRANSFERÊNCIA...................................185 A VOLTA DE ALBERTINHO.......................201 RECORDAÇÕES..........................................223 INTUIÇÃO DE MULHER............................237 TOMAZ E JOEL............................................251 LUTANDO POR UMA EXISTÊNCIA.........265 LÍGIA.............................................................279 ROBERTO, PAULINHO E JOEL.................293 ELUCIDAÇÕES SOBRE A REENCARNAÇÃO...................................309 CAPÍTULO XXII – O SONHO......................................................323 CAPÍTULO XXIII – NOVAS EXISTÊNCIAS...............................339 CAPÍTULO I CAPÍTULO II CAPÍTULO III CAPÍTULO IV CAPÍTULO V CAPÍTULO VI CAPÍTULO VII CAPÍTULO VIII CAPÍTULO IX CAPÍTULO X CAPÍTULO XI CAPÍTULO XII CAPÍTULO XIII CAPÍTULO XIV CAPÍTULO XV CAPÍTULO XVI CAPÍTULO XVII CAPÍTULO XVIII CAPÍTULO XIX CAPÍTULO XX CAPÍTULO XXI
CAPÍTULO I
O PASSEIO O carro rodava em alta velocidade, atravessando as ruas da grande cidade, passando em sinais fechados, ziguezagueando entre os demais carros que trafegavam àquela hora, fazendo ultrapassagens arriscadas e proibidas. O carro, tipo caminhonete, último modelo, sempre pedia mais e mais aceleração, pois seu motor era muito potente. O motorista era um rapaz magro, moreno, cabelos desgrenhados, altura mediana, com óculos escuros, vestido com uma bermuda de surfista e uma camiseta que deixava à vista várias tatuagens nos braços, pernas, costa e peito. Ele carregava no lado esquerdo da boca um cigarro. Os passageiros davam gritos de alegria quando Joel fazia manobras arriscadas ou ultrapassagens na avenida em alta velocidade. – Vamos, colega, bota essa geringonça para andar! – gritava um. – Não posso acreditar que o grande Joel está perdendo suas qualidades de grande motorista – provocava outro. – Passa essa garrafa para cá, cara – pedia outro. – Calma, amigo! Deixe-me tomar a minha, enquanto ainda tem – dizia outro. Os passageiros da caminhonete compunha-se de quatros jovens, três rapazes com idade variando entre os dezessete e vinte anos, e uma bela moça, morena, alta, com dezoito anos, namorada de Joel. – Vamos mais rápido, Joel! As meninas só vão esperar até às dez horas! – Calma, Rosa Maria! Ainda está cedo – respondeu o namorado. A morte não é o fim
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Roberto, um rapaz nu da cintura para cima, branco, de cabelos, compridos, cheio de tatuagens, com algumas correntes de prata e ouro no pescoço, levou uma garrafa à boca e tomou um gole da bebida. Rindo, pediu ao amigo: – Passa para cá esse negócio! Vou dar um “tapa”, para ficar mais esperto! – Cuidado, Roberto, para não apagar logo. Ainda temos três dias pela frente – chamou a atenção, um amigo de feições simpáticas, de cor branca, altura média e corpo “sarado”, como se referem os jovens à nova moda de cultuar o corpo. – Não se preocupe, Albertinho. Sou duro na queda. Albertinho, com dezessete anos, era o mais educado, e, embora, estivesse meio eufórico por causa da bebida que já ingerira, ainda mantinha-se controlado. O carro enveredou por umas ruas estreitas e desembocou novamente numa bela avenida, chegando a desenvolver quase cento e oitenta quilômetros por hora. – Vá mais devagar, Joel! Já estamos chegando na casa das meninas – pediu Rosa Maria. – Deixa comigo, amor. De repente o rapaz fez uma curva fechada e entrou numa alameda, estacionando em frente a uma bela mansão. Joel pulou do carro, correu para as duas moças que estavam de pé, cumprimentou-as e perguntou: – Vocês estão prontas? – Vocês é que estão atrasados! – disse uma delas. As moças tinham entre quinze e dezessete anos, ambas loiras, bonitas e apresentando aspectos alegres, próprios dos jovens. Rosa abraçou as amigas e depois disse: – Entrem logo no carro! Temos que viajar umas duas horas para chegarmos na casa de praia. – Diana vai se sentar ao meu lado – disse Albertinho, referindo-se à sua mais nova namorada. Assis Azevedo
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Roberto, que estava sempre rindo, olhou para a outra moça e disse: – Bem, Clarice, só lhe resta ir ao meu lado. – Ainda bem, cara, que me restou o lugar que eu estava desejando. Roberto riu e disse: – Então, entre! Vamos, Joel, bota essa carroça para andar! Após colocarem no porta-malas do carro as bagagens, Joel acelerou o carro e partiu em direção à rodovia que os levariam à praia, que ficava a cento e cinqüenta quilômetros dali. O carro deslizava no asfalto, sempre ultrapassando os veículos que trafegavam naquela perigosa rodovia estadual a uma velocidade alucinante. Os passageiros começaram a cantar e a falar alto. Já haviam bebido muito e o barulho do carro e do vento fazia com que eles aumentassem as vozes para se fazerem ouvir. – Cuidado, Joel, vá mais devagar – pediu Rosa Maria. – Deixe comigo! Quem está comigo, está com Deus! – É isso aí, Joel! Bota essa carroça para voar! – disse, às gargalhadas, Roberto. Após uma hora e alguns minutos, o carro entrou numa pequena cidade ensolarada do litoral, onde podia se observar vários carros chegando para passar o feriadão. Joel dirigiu mais um pouco e entrou na garagem de um casarão típico de praia. Saiu do carro e gritou: – Pessoal, vamos descer e aproveitar a vida! Rosa Maria também gritou: – Coloquem a bagagem para dentro e vamos dividir as tarefas! Albertinho fitou a moça e disse: – É isso aí, irmã! Bote moral na galera! – Tome cuidado com sua vida, Albertinho – alertou Rosa Maria. Joel abraçou a moça e disse: – A Rosa precisa tomar alguma coisa forte para deixar essa seriedade. – Você sabe muito bem que não bebo e nem uso nada que embote os meus sentidos. A morte não é o fim
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Roberto começou a rir alto, enquanto abraçava e beijava Clarice. Ele falou brincando: – Vamos respeitar minha irmãzinha! Quase que ela não aceita vir com a gente. Rosa Maria era irmã de Roberto, ambos filhos de um casal de médicos famosos. – Ela só veio, porque a mamãe insistiu muito – falou o irmão. Joel, que estava meio tonto de beber a todo instante, disse: – Não sei que graça tem aquela religião para enfeitiçar tanto a Rosa. – Joel, vamos fazer alguma coisa para almoçarmos e deixe de falar daquilo que você desconhece, certo? – Ok. Após arrumarem de qualquer jeito a bagagem na casa, alguns correram para o mar. Rosa Maria ficou limpando a cozinha e tentando fazer alguma coisa para comerem. Após algumas horas, a turma voltou gritando e rindo, uns já bêbados e outros “chapados”, tendo estes usado algum tipo de entorpecente. Roberto começou a cantar e a tocar seu violão, sendo acompanhado pelos demais. Joel quase não se agüentava em pé e ria por qualquer motivo. Ele chegou perto de Rosa e beijou-a, tentando fazer uma carícia mais ousada, sendo imediatamente impedido por ela. – Não, Joel! Você sabe muito bem que não sou disso! – Acho que vou procurar outra menina para “ficar”! Você é metida à santa! – Quando você estiver bom, vamos conversar. – Deixa, cara! Você sabe muito bem que ela é espírita e não aceita certas coisas – disse Albertinho. Joel era filho de pais separados. O pai era empresário e quase não o via. Sua mãe era psicóloga e, no momento, estava namorando outro homem que ele não gostava. Assis Azevedo
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Roberto continuava cantando, acompanhado pelas garotas, Diana e Clarice. Albertinho estava fumando um “baseado”. Quando olhou para o lado viu Rosa observando-o. Rosa pediu carinhosamente ao rapaz: – Meu amigo, não faça isso. Fico triste quando o vejo nesse estado, pois sei que você tem um coração muito bom. – Cara, não sei mais o que fazer desta vida. – Aquela garota não lhe merece – e fez um gesto com o queixo em direção à Diana. – Você é muito pura, Rosinha. Acho que não mereço ser seu amigo. – Levante-se e venha comer alguma coisa. – Depois... Rosa Maria começou a chorar. Ela amava aquele rapaz e não gostava de vê-lo naquela situação. Ela só namorava o Joel, porque sabia que o Albertinho era apaixonado pela bela Diana. Roberto, alegre e meio bêbado, chamou a irmã: – Rosa, venha aqui! A irmã aproximou-se e perguntou: – O que houve, Roberto? – Tome pelo menos um pouco de vinho para descontrair. – Obrigado, meu irmão. A alegria não está fora e, sim, dentro de nós. Estou muito bem assim. Mas não tenho nada contra vocês, divirtam-se e não liguem para mim. Roberto começou a rir. A irmã dele foi para dentro de casa, pegou um livro e leu um trecho do que estava escrito, pensando: “Meu Deus, perdoe meus amigos! Eles são pessoas inocentes e boas”. Neste momento ela ouviu alguém falar ao seu íntimo: – Minha irmãzinha, prepare-se! Chegou a hora! Rosa ficou pensativa: “O que é isso? Será que estou sendo avisada de alguma coisa?”. De repente ela ficou muito triste, porém, sacudiu a cabeça e disse em voz alta: A morte não é o fim
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– Estou pensando besteira! Por isso é que o seu Antônio João, presidente do meu centro, diz que devemos tomar muito cuidado com determinadas manifestações mediúnicas. Rosa Maria era espírita e pertencia à mocidade do Centro Espírita que freqüentava. Além de ser uma evangelizadora, era médium e sempre foi uma excelente trabalhadora, sendo amiga e simpática com todo mundo que a conhecia. Os pais dela adoravam-na e sonhavam com o dia que ela se formaria em Medicina, pois Rosa havia passado no vestibular naquele ano e por isso eles fizeram questão que ela se divertisse um pouco naquele feriado. – Está ficando maluca, mana? Rosa voltou-se e viu Roberto com os olhos vermelhos, falando com dificuldade. Ela abraçou o irmão, beijou-lhe a face e disse: – Roberto, tome cuidado. Estou muito angustiada, acho que prevendo alguma coisa ruim. – Bobagem, minha irmã! Ambos ficaram calados. Roberto sentou-se numa cadeira, colocou a cabeça entre as mãos e começou a chorar. Rosa ficou aflita e com pena dele. Ela aproximou-se e começou a abraçá-lo, perguntando: – O que houve, meu irmão? – Será que o papai gosta de mim? – Claro que gosta, Roberto! Como você pode pensar isso do nosso pai? – Eu amo meu pai, mas ele nunca me deu atenção. – Deixe de bobagem! O papai é um homem muito ocupado, talvez apenas lhe falte tempo para conversar. – Rosa, então por que ele vive conversando com você? – Impressão sua. Roberto ficou em silêncio. Depois disse: – Acho que eu seria muito feliz se um dia ele me desse um pouco de atenção. Assis Azevedo
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Rosa Maria ficou calada, pensando: “Realmente eu nunca vi o papai conversando com o Roberto, embora a mamãe se desdobre em dar atenção para ele”. Roberto passou a mão no rosto, enxugando as lágrimas e levantou-se, dizendo: – Mana, esqueça isso e vamos aproveitar o nosso feriado. Enquanto Roberto deixava a sala, Rosa ficou pensando, quando ouviu uma voz: – Minha filha, vocês vão voltar. Ela pensou: “Acho que vou para o meu quarto fazer uma prece. Estou meio perturbada”. O feriadão foi passando. Durante esses dias, naquela pequena cidade do litoral, muita bebida foi consumida e rolou muita droga e sexo. Aqueles jovens não conheciam outra coisa, a não ser o lado que a vida apresenta com insistência, principalmente, através da mídia. Rosa sempre conversava com Joel e tentava mostrar o lado certo da vida, porém, o rapaz estava completamente confuso e em conflito com o que a vida apresentava. Ele sempre contra-argumentava: – Rosa, vamos aproveitar essa vida, enquanto somos jovens! – Aproveitar a vida não é isso o que você pensa. – Os meus pais me ensinaram, através dos exemplos que vi, que não devemos perder tempo com essas asneiras que você chama de religião. O que interessa é gozar o que a vida nos dá, o resto não vale a pena. Rosa ficou em silêncio. Ela pensava: “Ele tem razão. Foi criado num ambiente onde sempre viu o lado fácil da vida e não poderia pensar diferente”. Na última noite que passariam naquele lugar, eles foram convidados para participarem de uma “festinha” numa casa muito grande, onde havia duas piscinas – propriedade de um grande empresário conhecido na cidade deles. A morte não é o fim
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Quando chegaram no local onde haveria a “festinha”, eles ficaram logo à vontade entre os vários adolescentes e alguns adultos que estavam presentes. Uma moça muito bonita e bronzeada veio recebê-los. – Sejam bem-vindos! Fiquem à vontade, pois a casa é de vocês. Meu nome é Marta. A “galera do Joel”, assim era conhecida pela rapaziada o pessoal que acompanhava aquele rapaz simpático, que topava qualquer parada. Ele identificou-se e a partir daquele momento já fazia parte da turma que entraria no “embalo”. Rosa Maria tomava refrigerante e não estava se sentido bem. Ela acompanhou a turma somente para atender ao pedido do namorado. Ela começou a observar que aqueles jovens estavam ingerindo muita bebida alcoólica e se drogando, enquanto num som de alta potência tocava um rock pesado que atiçava os sentidos inferiores deles. Quase duas horas da madrugada, alguém gritou: – Pessoal, tem alguém passando mal! Todos correram e viram na margem da piscina um rapaz deitado no chão, enquanto outro tentava reanimá-lo, fazendo respiração boca-a-boca, pois o mesmo tivera o começo de uma parada cardíaca, provocada pelo elevado consumo de bebidas e drogas. Rosa também correu, para tentar ajudar, e surpreendeu-se: o rapaz era o Albertinho. Ela começou a chorar e a fazer mentalmente uma prece: “Meu Deus, não deixe que essa criatura morra! Ele é tão jovem e não sabe o que está fazendo!”. Depois se aproximou e ajudou a reanimá-lo. Albertinho já estava melhor e procurou repousar numa cadeira de praia. Rosa Maria estava bastante preocupada. A “festa” havia se transformado numa orgia, onde se observavam algumas pessoas caídas, outras falando coisas sem nexo e o sexo era algo normal Assis Azevedo
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para aquelas criaturas. A droga corria de mão em mão, enfim, aqueles filhos de Deus estavam totalmente dominados pelas forças do mal. A moça pensava: “Meu Deus, por que essas criaturas estão tão perturbadas a ponto de esquecerem o Senhor?”. Rosa saiu à procura dos companheiros e os convidou a irem embora. Joel já não sabia o que estava fazendo ao ser convidado para ir embora, mas pediu com a voz meio embolada: – Rosa, vamos ficar mais um pouco? – Não, vamos embora! Já chega por hoje! Além disso, não esqueça que amanhã você vai dirigir. – Rosa, você é muito careta. Logo agora que a festa está no auge você quer ir embora – falou Diana, bêbada e quase nua, abraçada a Roberto. – Diana, já chega! Vamos embora! Diana se acalmou e olhando para Roberto, disse: – Tudo bem, garota. Assim, Rosa conseguiu levar os amigos para casa. Alguns deitaram de qualquer jeito e outros ficaram ao relento – ninguém tinha noção do que estava acontecendo. O sol começou a mostrar os seus primeiros raios, anunciando um novo dia. Quase ao meio-dia, alguns dos adolescentes levantaram-se com dificuldade e tentaram tomar alguma coisa para curar a ressaca. Rosa Maria gritou para que todos ouvissem: – Na cozinha tem café, suco, queijo e outras coisas, para quem quiser melhorar da ressaca. Não esqueçam que logo mais, às dezesseis horas, vamos retornar para casa. Albertinho, ainda tonto, disse: – Eu vou ficar por aqui, depois vou embora. Rosa disse imediatamente: – Você vai voltar conosco. Viemos juntos e juntos voltaremos. – OK, patroa! A morte não é o fim
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O pessoal, aos poucos, foi melhorando e começou a fazer uma faxina na casa, para deixá-la limpa como encontraram, sempre comandados por Rosa, que dizia: – Mesmo a casa sendo dos meus pais, é nosso dever entregá-la como recebemos. As horas passaram e todos já estavam preparados para retornarem às suas casas. Rosa aproximou-se de Joel e perguntou: – Você está em condições de dirigir? – Claro, amor. Já estou novinho. Roberto aproveitou a conversa e disse: – Caso você não esteja em condições, pode deixar comigo, pois já estou dirigindo bem. – Acho melhor o Joel dirigir, já que o carro é dele – disse Rosa. Mais ou menos às dezesseis horas o carro partiu, levando aqueles jovens de volta às suas casas. Rosa Maria não parava de orar. Seu peito estava apertado e, quase chorando, ela se perguntava mentalmente: “Meu Jesus, o que está acontecendo comigo? Que sensação estranha!”. Ela ouvia alguém dizer: – Minha filha, o seu tempo terminou. Agora, volte. Essas criaturas que estão com você são de sua inteira responsabilidade. Rosa meditou e pediu: – Joel, por favor, pare o carro. Joel estranhou a atitude da namorada, mesmo assim procurou um acostamento e estacionou o carro, perguntando: – O que houve, Rosa? – Não estou me sentindo bem! – Então, vamos esperar até que você melhore. Após alguns minutos, Rosa, que estava sentada no acostamento fitando o vazio, levantou-se e disse: – Vamos, estou melhor. O carro partiu. Assis Azevedo
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Joel falou para Rosa: – Daqui a vinte quilômetros tem um lugar legal. Vamos fazer um lanche, enquanto você se recupera. – Não se preocupe, Joel. Logo depois o carro estacionou num lugar onde havia um bar coberto de palha. Joel saiu do carro e disse: – Pessoal, vamos demorar por aqui uns dez minutos, enquanto a Rosa melhora um pouco mais. Rosa Maria se distanciou dos amigos e sentou-se numa pedra que ficava afastada do bar. Ela começou a pensar: “Por que estou com medo? Será que vai acontecer alguma coisa no caminho?”. De repente ela sentiu um abraço envolvê-la, enquanto alguém falava: – O que você tem, minha amiga? Ela viu que era o Albertinho e respondeu: – Não se preocupe, Alberto. – Estou preocupado com você. – Por quê? – Porque eu a amo como a uma irmã. Será que isso não é suficiente? Rosa Maria ficou decepcionada. Ela esperava que ele a amasse de verdade. – Alberto, nunca vou esquecer você. Acho que se nesta vida houve um desencontro entre nós foi porque assim Deus quis. – Que papo é esse, cara? Será que você está adivinhando algo de ruim? – Esqueça, amigo. Acho que não estou boa da cabeça. – Estou me sentindo esquisito, como se estivesse com frio. – Talvez seja por causa do porre que você tomou ontem. – Pode ser. Rosa levantou-se e disse: – Vamos indo! Todos entraram no carro e tomaram o caminho de casa. A morte não é o fim
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Joel, a cada momento, aumentava a velocidade da caminhoneta, que sempre pedia mais aceleração. Rosa Maria falou para o namorado: – Vá devagar, Joel. Não precisa correr tanto, pois antes das dezoito horas chegaremos em casa. – Deixe comigo! Eu sei o que estou fazendo. A maioria dos passageiros dormia, talvez cansada pelas noites mal-dormidas e pelo efeito das bebidas e entorpecentes que consumiram durante aqueles dias. O carro sempre fazia ultrapassagens e entrava em curvas perigosas, obedecendo à vontade do motorista, que estava ansioso e com os reflexos diminuídos pelos efeitos da bebida consumida na noite anterior. Rosa Maria estava com o olhar fixo na estrada e continuava sentindo o mesmo mal-estar, quando viu o carro encostar atrás de um ônibus de turistas e observou que o Joel tentava ultrapassar o veículo e não conseguia. Ela pegou o braço do rapaz e pediu: – Joel, pelo amor de Deus, tome cuidado! – Rosa, deixe comigo! Estou tentando ganhar tempo, todavia, esse ônibus anda muito devagar e, além disso, na frente dele, vai outro ônibus na mesma velocidade. Assim não vamos chegar nunca! – Não precisa pressa. Só faça a ultrapassagem com segurança. – Certo, boneca. Joel ficou dirigindo com calma, atrás do ônibus, e quando apareceu uma reta bem conservada, própria para motoristas imprudentes desenvolverem altas velocidades, mesmo estando cheia de lombadas perigosas, ele gritou: – Agora, vou mostrar à essas lesmas como se faz! – Cuidado, Joel – alertou a namorada. O motorista jogou o carro para a esquerda e viu uma fila de carros vindo em sentido contrário, então ele voltou para trás do ônibus, deixando-os passarem. Após alguns minutos ele jogou o carro novamente para a esquerda e como não viu nenhum carro pensou: “É agora ou nunca!”. E imediatamente começou a fazer a ultrapassagem. Assis Azevedo
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Ultrapassou o primeiro ônibus, olhou para a reta e viu que estava limpa e pensou: “Passo o outro!”. E assim fez, mas pensou: “Vou aproveitar e passar esses carros velhos. Depois fico livre”. Assim fez, mas quando ia terminar de ultrapassar o último carro, apareceu na sua frente, repentinamente, em sentido contrário, outra caminhoneta na mesma velocidade ou mais. Joel pensou: “Estou perdido!”. Ele tentou jogar o carro para trás do carro que estava na sua frente, mas não conseguiu: os motoristas dos carros não deram passagem, pois não havia acostamento suficiente, e mesmo assim não deu tempo para isso, acontecendo tudo em frações de segundos. Joel soltou o volante e botou a mão no rosto. Rosa gritou: – Meu Deus! A turma acordou e gritou. Os gritos se confundiram com um barulho que ninguém sabia distinguir. O carro de Joel pegou na lateral da outra caminhoneta, que vinha na contra-mão, a uma velocidade acima de cento e cinqüenta quilômetros por hora, após as tentativas de brecar para dominar o veículo. Ambos se chocaram e se desgovernaram, caindo num pequeno barranco. Silêncio. Os motoristas dos carros que trafegavam naquela hora pararam e correram para tentar salvar alguém. Eles comentavam ao olhar o estado em que ficaram os dois carros. – Pelo estado dos carros ninguém conseguiu sobreviver! – Os carros estão acabados! – Vamos ligar para polícia rodoviária! Uma das pessoas que estava averiguando de perto os carros acidentados com a esperança de salvar alguém, disse categoricamente: – Acho que estão todos mortos.
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