Comece pelo Comecinho Educação Espírita Infantojuvenil: uma proposta de trabalho
Os valores arrecadados com a venda desta obra serão repassados ao Centro Espírita Gabriel Ferreira (R. Kaneda, 474 – São Paulo – SP)
Martha Rios Guimarães
Comece pelo Comecinho Educação Espírita Infantojuvenil: uma proposta de trabalho
Matão, SP - 2011 -
COMECE PELO COMECINHO Capa: Rogério Mota Projeto gráfico: Equipe O Clarim Revisão: Teresa Cunha Todos os direitos reservados © Casa Editora O Clarim (Propriedade do Centro Espírita O Clarim) Rua Rui Barbosa, 1070 — Centro — Caixa Postal 09 CEP 15.990-903 — Matão-SP, Brasil Fone: (16) 3382-1066 — Fax: (16) 3382-1647 CNPJ: 52.313.780/0001-23 Inscrição Estadual: 441.002.767.116 www.oclarim.com.br oclarim@oclarim.com.br
FICHA CATALOGRÁFICA Martha Rios Guimarães Comece pelo comecinho — Educação Espírita Infantojuvenil: uma proposta de trabalho 1ª edição: novembro/2011 – 6.000 exemplares Matão/SP: Casa Editora O Clarim 160 páginas – 14 x 21 cm
ISBN – 978-85-7357-108-0 CDD – 133.9 Índice para catálogo sistemático: 133.9 Espiritismo 133.901 Filosofia e Teoria 133.91 Mediunidade 133.92 Fenômenos Físicos 133.93 Fenômenos Psíquicos Impresso no Brasil Presita en Brazilo
Sumário
Prefácio................................................................................. 9 Comece pelo comecinho..................................................... 13 Agradecimentos.................................................................. 15 Introdução........................................................................... 17 Um pouco de história.......................................................... 21 1. Educação Espírita x Evangelização................................... 25 2. O trabalho de Educação Espírita Infantojuvenil............... 29 3. Objetivos da Educação Espírita da Infância e Juventude............................................................ 33 4. Componentes do processo de Educação Espírita Infantojuvenil......................................... 43 5. Estruturando o Departamento de Infância e Mocidade Espírita............................................... 65 6. Planejamento do trabalho de Educação Espírita da Infância.............................................. 87 7. Recursos didáticos........................................................... 97
8. Elaborando aulas........................................................... 101 9. Integrando o departamento.......................................... 107 10. Lidando com as diferenças.......................................... 111 11. Considerações finais.................................................... 121 Material de apoio.............................................................. 123 PLANO ANUAL — INICIANTES O Evangelho segundo o Espiritismo.................... 125 O Livro dos Espíritos — Livro Primeiro................ 126 O Livro dos Espíritos — Livro Segundo................ 127 O Livro dos Espíritos — Livro Terceiro................. 130 O Livro dos Espíritos — Livro Quarto................... 133 PLANO ANUAL — INTERMEDIÁRIO O Evangelho segundo o Espiritismo.................... 134 O Livro dos Espíritos — Livro Primeiro................ 135 O Livro dos Espíritos — Livro Segundo................ 136 O Livro dos Espíritos — Livro Terceiro................. 139 O Livro dos Espíritos — Livro Quarto................... 143 PLANO ANUAL — PRÉ-MOCIDADE / MOCIDADE O Evangelho segundo o Espiritismo.................... 144 O Livro dos Espíritos — Livro Primeiro................ 145 O Livro dos Espíritos — Livro Segundo................ 147 O Livro dos Espíritos — Livro Terceiro................. 150 O Livro dos Espíritos — Livro Quarto................... 154 Formulário para elaboração de aulas........................... 155 Formulário para cadastro do educando........................ 156
Prefácio
É com grata satisfação que testemunhamos o surgimento deste livro no meio editorial espírita. Trata-se de importante contribuição para a reflexão e melhoria de nossas ações nos Centros Espíritas, com relação aos jovens e no Movimento Espírita, com relação ao futuro do Espiritismo. A autora, que conhecemos de longa data, iniciou no Espiritismo bem jovem, no Centro Espírita Gabriel Ferreira, na Vila Maria. Hoje ela ocupa a vice-presidência da União das Sociedades Espíritas (USE) Regional São Paulo. Poucas pessoas entendem tanto quanto ela sobre quão importantes são o acolhimento, o estímulo e as oportunidades ofertadas às crianças e aos jovens, dentro das atividades no meio espírita, visando a formação de pessoas espiritualizadas e comprometidas com os objetivos do Espiritismo e a vivência dos seus princípios, empenhadas em seu progresso espiritual e na melhoria de nossa sociedade terrena, o que resume em poucas palavras a educação espírita infantojuvenil. Marthinha, como a autora é carinhosamente conhecida no meio espírita, tem trabalho destacado na atuação com crianças e jovens. Desde seu ingresso no Espiritismo sempre vivenciou intensamente o processo da juventude dentro da Comece pelo comecinho | 9
Casa Espírita. Isso possibilitou que ela tivesse condições para questionar e melhorar a relação entre a diretoria e o grupo de jovens, buscando aprimorar as relações e ampliar as possibilidades de integração efetiva dos jovens nos trabalhos. Diretora do Departamento de Educação Espírita da Infância na USE, participa ativamente das atividades inerentes ao cargo, o que lhe permitiu uma ampla visão das especificidades relativas à educação espírita. Pela sua trajetória tem plena condição, conhecimento e vivência para tratar devidamente do tema deste livro. Consideramos que a autora nos brinda com uma oportunidade de aprendermos com quem vivenciou com muito amor e dedicação a sua fase de formação, no âmbito da mocidade espírita. Relata importantes iniciativas que promoveu para melhorar o grupo de jovens e crianças no C. E. Gabriel Ferreira, que afetivamente ela chama de Gabi. Essas ações, que com empolgação e coragem levou adiante, são exemplos práticos e efetivos de novas possibilidades para a total integração dos mais jovens nas atividades das Casas Espíritas. Pessoalmente visitei o C. E. Gabriel Ferreira, algumas vezes, e sempre tive grande satisfação ao ver que lá os jovens realmente se sentem parte importante do Centro Espírita, onde têm responsabilidades e direitos, que efetivamente contribuem com as atividades da Casa, e que têm seu espaço e voz garantidos, enquanto aprendem e consolidam seus dons espirituais, para, mais tarde, assumirem os postos para os quais estejam preparados na condução do Centro Espírita e do Movimento Espírita. Na primeira vez que estive no Gabi surpreendeu-me o fato de ser recebido por crianças e jovens — sem a companhia de adultos. Eles me levaram para conhecer o Centro e cuidaram de minha estada, permanecendo ao meu lado. Presentearamme com um potinho de vidro todo enfeitado, contendo pequenas tiras de papel que contavam a história e detalhes sobre a 10 | Martha Rios Guimarães
Instituição. Fiquei realmente muito impressionado em ver o quão engajadas aquelas crianças e jovens estavam nas tarefas daquele Centro. Verifiquei que lá eles têm um espaço privilegiado dentro da Casa. Posteriormente, em conversa com a autora, que nos contou que planejava escrever um livro, a estimulamos tendo em vista o trabalho ímpar que realiza no Gabi. Para nossa alegria pudemos participar do processo de criação desta obra. Esperamos que este importante livro estimule uma profunda reflexão em todos nós que trabalhamos à frente de Casas Espíritas e do Movimento Espírita e, especificamente, aqueles que trabalham diretamente com crianças e jovens. Que possa nos desafiar a novas empreitadas no sentido de fazer com que os mais jovens sintam-se acolhidos e integrados ao Centro Espírita e no meio espírita em geral. Os exemplos citados neste livro e o rico material de apoio nele inclusos, com certeza, serão úteis por retratarem uma realidade já implementada com sucesso, juntamente com as dificuldades encontradas e os desafios superados, bem como os meios para dar suporte às atividades. É muito importante que os Centros estejam preparados em termos materiais, espirituais e de mentalidade, para promover a participação dos mais jovens de forma consistente, sempre estimulando-os a assumir responsabilidades, gozando o direito de se expressar e questionar construtivamente nossas práticas cotidianas. Este livro tem o mérito de nos preparar e dar suporte para assumirmos tal compromisso. São Paulo, novembro de 2011. Jeferson Betarello Diretor do Departamento do Livro da USE Regional São Paulo. Comece pelo comecinho | 11
Comece pelo comecinho
Uma das primeiras providências que tomei ao assumir o Departamento de Educação Espírita da Infância, pela USE São Paulo, foi a realização de uma pesquisa, em todo o estado, que oferecesse subsídios para um planejamento que atendesse os anseios dos trabalhadores do setor. Os dados obtidos nortearam as ações do departamento e demonstraram a necessidade de uma campanha para valorizar a atividade dentro da Casa Espírita, bem como estabelecer a base kardequiana como conteúdo para as reuniões espíritas voltadas as crianças e aos jovens. Assim, em fevereiro de 2010, a partir de conversações entre os departamentos de Comunicação e de Infância da USE, foi lançada pelo Departamento de Infância e Mocidade do Centro Espírita Gabriel Ferreira, com o apoio da USE Vila Maria, a campanha Comece pelo Comecinho (alusão à campanha Comece pelo Começo, criada pela USE na década de 1970, e, posteriormente, adotada pela Federação Espírita Brasileira em todo território nacional). Por entender a atualidade desta campanha e por esta obra compartilhar os objetivos da mesma, emprego o mesmo título a este livro. Mais do que difundir uma ideia, é uma forma Comece pelo comecinho | 13
de homenagear o esforço de muitas pessoas na correta disseminação da mensagem espírita.
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Agradecimentos
A Deus e a todos os grandes e maravilhosos amigos da espiritualidade. A presença deles sempre foi essencial e constante ao longo desses anos de trabalho no Movimento Espírita. Aos educadores espíritas que, de alguma forma, participam — ou participaram — do Departamento de Infância e Mocidade do Centro Espírita Gabriel Ferreira. Em especial Álvaro Ramos da Silva — por estar presente em todos os momentos, deixando a vida mais alegre —, Cristiane Silva e José Eduardo Rodrigues Martins, grandes parceiros e educadores que tornaram a caminhada mais leve, rica em aprendizado e feliz. Aos trabalhadores e amigos do Centro Espírita Gabriel Ferreira que sempre apoiaram a atividade e comemoram conosco as vitórias alcançadas, entendendo que a tarefa é de todos. Aqui destaco Alda Sandrim que, ao me oferecer a oportunidade do trabalho, permitiu a uma jovem em início de aprendizado colocar em prática ideias inovadoras e diferentes do que se praticava no meio e Maria Aparecida Rodrigues Alvarez por ter vislumbrado em mim potencial para assumir o Departamento de Educação Espírita da Infância, na USE Regional São Paulo, ponto de partida para meu trabalho nesse setor no movimento de unificação. Comece pelo comecinho | 15
A todos os educadores espíritas infantojuvenis que passaram por cursos, palestras e seminários ministrados por mim (junto com a equipe da qual faço parte); aos que visitaram o Centro Espírita Gabriel Ferreira dando opiniões ou, simplesmente, ofertando o carinho tão necessário para prosseguir. Aos amigos da União das Sociedades Espíritas de São Paulo, através de todos os órgãos, que acreditaram no meu trabalho e me deram apoio e amizade. Entre tantos, destaco os amigos da USE Vila Maria, Maria Isabel Miranda que me acolheu quando cheguei na USE São Paulo, dividindo comigo valiosas informações obtidas em longos anos de trabalho e ouvindo novas propostas. Agradeço também a Jeferson Betarello e Wladisney Lopes por terem me incentivado a escrever essa obra e por terem lido e apresentado sugestões preciosas para o aperfeiçoamento do conteúdo. À minha família que, compartilhando ou não de minha crença, está sempre presente em minha vida, respeitando minhas opções e auxiliando quanto possível nos caminhos que escolho percorrer, em especial dedico à minha mãe Dalva Rios Guimarães e ao meu pai, Abel Reis Guimarães (já desencarnado). Finalmente, a cada criança e jovem do Departamento de Infância e Mocidade do C. E. Gabriel Ferreira pela permuta de aprendizado e amor que a convivência mútua possibilita.
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Introdução
Este livro não tem pretensão de ser definitivo, encerrando todas as respostas à grande e difícil tarefa de educar nossas crianças e jovens à luz da Doutrina Espírita. É uma contribuição baseada em minha experiência pessoal, que começou a ser formada em 1992, quando iniciei esta atividade no Centro Espírita Gabriel Ferreira, situado na Zona Norte paulistana, membro da União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo (USE). O trabalho de Educação Espírita da Infância e Juventude foi minha porta de entrada na seara espírita, apesar de ser comunicadora por formação e atuação, representando um grande desafio em minha vida. A inexperiência e o pouco conhecimento, na área, me levaram a, inicialmente, seguir o padrão estabelecido no setor — que ainda está em vigor em muitas Casas Espíritas. Aos poucos, a observação criteriosa, um maior entendimento do trabalho e o aprofundamento doutrinário, somados às minhas características pessoais — planejamento, organização e criatividade foram essenciais — me levaram a perceber a necessidade de uma forma de atuação mais moderna e condizente com as peculiaridades das crianças e jovens desta nova geração. Sempre com cautela, avaliação e com os parceiros ideais para esse tipo de iniciativa (sem os quais nosso trabalho não teComece pelo comecinho | 17
ria atingido o patamar atual), o Centro Espírita Gabriel Ferreira conseguiu estabelecer ao longo dos anos uma forma de atuação bastante diferenciada e que tem se revelado muito positiva na formação de crianças e jovens. Não demorou muito e começaram a chegar convites para apresentar essa proposta de trabalho por meio de oficinas, palestras e cursos. Surgiram viagens por várias cidades do estado de São Paulo e até o envio de material para outros estados e países. A troca de ideias com outros educadores infantojuvenis espíritas e o saldo positivo da trajetória tem demonstrado que, apesar de ter muito a aprender, tenho informações para dividir com outras pessoas que, assim como eu, encaram este como um dos mais importantes trabalhos na seara espírita. Nesse percurso os educadores espíritas da infância e juventude — muitos transformados em amigos queridos — passaram a cobrar a publicação de uma obra contando essas experiências e projetos porque, segundo eles, o trabalho deveria chegar ao maior número possível de colaboradores do setor. Inicialmente, atribuí esse pedido ao carinho conquistado no decorrer desses encontros. Contudo, com o tempo e a impossibilidade de atender todos os pedidos de cursos, palestras e oficinas que chegavam, percebi que este seria um excelente canal para dividir com os interessados conhecimentos adquiridos ao longo desse caminho. Imagino que nesse momento muitas pessoas estão adentrando à fascinante área de Educação Espírita Infantojuvenil e, provavelmente, muitas delas sentem-se despreparadas ou inseguras em relação ao melhor rumo a tomar. Para essas pessoas, bem como para as que são suficientemente abertas a novas ideias ou, simplesmente, àquelas que desejam conhecer um pouco mais sobre essa atividade tão fundamental para a Casa Espírita, para o Movimento Espírita e para a sociedade é que direciono essa obra. A desvalorização do trabalho por parte de grande número de Dirigentes e a pouca atenção dos pais dos educandos são 18 | Martha Rios Guimarães
apenas alguns dos obstáculos a serem transpostos. Além disso, a dificuldade em conseguir formar um grupo de trabalho coeso, a falta de tempo imposta pela vida moderna, a alta rotatividade dos educadores e os problemas do cotidiano nos colocam diante da fatídica pergunta: Vale a pena? A resposta é óbvia para todos os que insistem e transpõem as barreiras, colhendo o mais doce de todos os frutos: sim, vale a pena acompanhar o crescimento espiritual daqueles seres que são colocados em nossos caminhos, ainda que por breves instantes de sua vida. Por experiência própria, sei o quão difícil é iniciar e estruturar um trabalho competente e sólido. Boa vontade, amor e conhecimento doutrinário são ferramentas essenciais para atingir este objetivo, mas sem determinação e dedicação correse o risco de ver os castelos desmoronarem, juntamente com a primeira onda de desafios a serem transpostos. Ressalto que o leitor não precisa concordar com tudo o que consta aqui. E mesmo concordando pode — e deve — tomar apenas como ponto de partida, adequando cada ideia às necessidades da Casa Espírita em que atua e ao público com que trabalha — cada um com suas próprias características. Se ao menos uma pequena parte desta obra puder ser útil, ficarei feliz. Por isso, convido os leitores a darem sua opinião e dividir suas experiências, colaborando para que, juntos, possamos aprimorar cada vez mais o trabalho de Educação Espírita Infantojuvenil. Que o Mestre Jesus possa nos fortalecer e mostrar sempre os melhores rumos no desenvolvimento desta tarefa que, para ser realmente espírita, só pode ser pautada nos ensinamentos legados a nós pelo grande pedagogo e Codificador da Doutrina Espírita, Allan Kardec. Martha Rios Guimarães (Marthinha) São Paulo, novembro de 2011. Comece pelo comecinho | 19
Um pouco de história
Desde 1992, quando iniciei meu trabalho como educadora espírita infantojuvenil, o Centro Espírita Gabriel Ferreira, transformou-se em uma espécie de laboratório para mim, para os demais tarefeiros que fazem — ou fizeram — parte da equipe de educadores da Instituição e até mesmo para educadores espíritas de outras Sociedades. Pessoas que vêm até o Gabriel Ferreira para conhecer nossa forma de trabalho, manusear nossos materiais e atestar que as informações passadas nos cursos foram, de fato, implementadas, obtiveram resultados significativos, podendo ser mensurados, adaptados e replicados em outros grupos. Entre os benefícios que essas visitas proporcionam, o mais importante é fazer com que as pessoas percebam que é possível realizar um trabalho de qualidade — e pautado em Kardec — direcionado às crianças e aos jovens. Vê-las saírem motivadas e repletas de ideias para começar ou aprimorar o trabalho destinado aos mais jovens é, para mim, motivo de extrema alegria e uma verdadeira recompensa ao esforço direcionado a essa área. Como esse trabalho vem sendo totalmente desenvolvido no Centro Espírita Gabriel Ferreira, acho oportuno fazer um Comece pelo comecinho | 21
breve resumo de sua história e alguns esclarecimentos, para que entendamos melhor o motivo pelo qual ele se tornou um local de referência para atividades infantojuvenis espíritas. Ele foi fundado em 10 de agosto de 1948, fruto da mediunidade de sua fundadora Aparecida Faria, recebendo o nome “Gabriel Ferreira” para homenagear o mentor dessa senhora e também da própria Casa Espírita. Aos poucos, com a chegada do público, começaram a surgir reuniões de estudo, mediúnicas, de assistência espiritual e, paralelamente aos estudos e trabalhos doutrinários, atividades de assistência e promoção social espírita. Documentos atestam que o Gabi, como é carinhosamente conhecido, foi um dos primeiros a participar do movimento de unificação paulista, fazendo parte da União das Sociedades Espíritas (USE) a partir dos anos 50 e, desde então, colabora na difusão e preservação da Doutrina Espírita. A preocupação com o trabalho de Educação Espírita Infantojuvenil esteve sempre presente por parte da equipe espiritual. As atas de Diretoria registram informações importantes sobre esse tema: no ano de 1949, o Espírito Gabriel Ferreira cobra a criação de um trabalho voltado para a educação espírita das crianças. Em outras oportunidades a cobrança retoma, sendo que em 1953 o mentor volta a insistir com veemência na implantação da atividade, levando ao surgimento das primeiras iniciativas no setor. Entre as décadas de 50 e 80 muitas tentativas foram iniciadas, porém, sempre ficavam no meio do caminho – e, invariavelmente, o mentor da Casa voltava a cobrar a continuidade ou a retomada da tarefa. No ano de 1992, o Departamento de Infância e Mocidade ressurge de forma tímida, porém firme, para ao longo do tempo figurar como uma das referências no trabalho espírita destinado ao público infantojuvenil. A participação do Espírito Gabriel Ferreira nesse processo é extremamente significativa, principalmente quando as leituras das atas e outros registros históricos da Casa que leva seu 22 | Martha Rios Guimarães
nome demonstram que nenhum outro setor da Instituição mereceu do mentor tantas cobranças e tanta ênfase na sua implantação e consistência. A última mensagem deste querido amigo do Plano Espiritual, deu-se em 2007, quando incentivou a equipe de educadores do Centro, responsável pela elaboração e apresentação do módulo intitulado “As crianças do futuro e o futuro das crianças”, no 13o Congresso Estadual de Espiritismo, realizado pela USE Regional São Paulo e pela USE Intermunicipal Guarulhos. Tenho grata satisfação, portanto, de fazer parte dessa Casa Espírita e de ter sido um dos elementos a atender ao chamado da Espiritualidade a estruturar e atuar na área de Educação Espírita da Infância e Mocidade. Trabalho que contribuiu – e contribui sempre – para o meu crescimento pessoal, espiritual e profissional.
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1. Educação Espírita x Evangelização
“É notável verificar que as crianças educadas nos princípios espíritas adquirem uma capacidade de raciocinar precoce, que as torna infinitamente mais fáceis de serem conduzidas. Isso não as priva da natural alegria, nem da jovialidade.” Allan Kardec — Viagem Espírita em 1862
O objetivo principal deste livro é discutir o Espiritismo voltado às crianças e jovens, respeitando a opinião de todos os que atuam na área, bem como dos Espíritas em geral. Contudo, para que as ideias a serem desenvolvidas nas próximas páginas possam ser captadas de forma adequada, faz-se necessário iniciar com a seguinte discussão: “Nós devemos Evangelizar ou Educar segundo a Doutrina Espírita”? A princípio pode parecer que não há nenhuma divergência entre essas duas nomenclaturas. Uma análise mais profunda e detalhada, porém, mostra que há uma diferença entre ambas e, acima de tudo, que é preciso definir qual delas pretendemos enfocar no trabalho com os pequenos. Comece pelo comecinho | 25
O Dicionário de Aurélio Buarque de Hollanda afirma que Evangelizar significa “pregar o Evangelho; apostolar; difundir o Evangelho”. Em outras palavras, o Evangelizador seria aquela pessoa que ensina o Evangelho para as crianças e jovens, limitando as reuniões da Casa Espírita destinadas a esse público ao conteúdo de O Evangelho segundo o Espiritismo ou, usando um termo comum no meio espírita, oferecendo aos menores apenas a Moral Evangélica. Percebo mesmo que há um grande número de tarefeiros e de Casas Espíritas que acreditam ser esse o único — ou principal — ponto a ser enfocado. Os principais motivos para essa opção são: • A crença (errônea, diga-se de passagem) de que as crianças só conseguem entender esses temas, supostamente mais simples (será?!); • o trabalhador sente-se mais preparado para desenvolver esses temas por acreditar que são mais simples de serem abordados (de novo: será?!?); • dificuldade de mudança, haja vista que o trabalho sempre foi baseado nesses temas e, muitas vezes sem perceber, a equipe mantém a mesma forma de atuação; • associação da atividade com o trabalho de Assistência e Promoção Social Espírita. Convém lembrar que a Doutrina Espírita, segundo definição do próprio Codificador é Moral (ou Religião), Filosofia e Ciência, tendo Kardec o cuidado de lançar cinco obras consideradas como base do Espiritismo, todas elas tendo O Livro dos Espíritos como ponto de partida e complementares umas às outras. Assim, é possível concluir que para entender e ajudar outras pessoas a compreenderem o Espiritismo (sejam crianças, jovens, adultos ou o público da terceira idade) é necessário enfocar todos os seus aspectos — já que optar por apenas uma das partes no ensino doutri26 | Martha Rios Guimarães
nário é passar conhecimentos incompletos aos que buscam a Casa Espírita. Seguindo o mesmo raciocínio, afirmar que o trabalho de Educação Espírita Infantojuvenil tem como meta o estudo da Doutrina Espírita e da Moral Evangélica, ao meu ver, é uma grande redundância, haja vista que a moral cristã ou Evangelho de Jesus está contido na base doutrinária. As reflexões acima me parecem suficientes para repensarmos o nome e, principalmente, o enfoque dado à atividade que a Casa Espírita oferece aos pequenos. Além de tratar-se de uma nomenclatura incompleta, Evangelização é apenas uma das muitas facetas que — ao meu ver — a atividade deve oferecer aos educandos. Ao longo desta obra ficarão mais claros os motivos pelos quais considero o nome “Educação Espírita da Infância e Juventude” mais apropriado ao trabalho, mas citarei como o mais importante o fato de que a criança e o jovem devem — e merecem — ter acesso à base integral da Doutrina Espírita e aos benefícios advindos desse conteúdo único e inigualável, como um todo. Além do mais, o próprio Codificador ao se referir ao assunto usava o termo “educação”, como pode ser comprovado na frase que abre este capítulo. Sei que mudanças são difíceis, e que muitos optarão por manter a nomenclatura antiga, enraizada nos meios espíritas. Porém, espero que este capítulo tenha servido para reflexões e para que os envolvidos no processo educacional espírita percebam que têm em mãos uma atividade muito mais grandiosa e complexa do que a princípio possa parecer.
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