October Doom Magazine Num 60

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LANÇAMENTOS + RESENHAS + SHOWS + MATÉRIAS + ENTREVISTAS

MAGAZINE

ANO II Nº60

ENTREVISTA

1 CD

RESENHA DO ALBUM ‘BLACK WATER’

ENTREVISTA

RESENHAS FESTIVAIS

RESENHAS FESTIVAIS

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EDITORIAL Um passo a mais.

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Nº JUL/2016

By October Doom Entertainemnt

A October Doom Magazine é resultado da parceria e cooperação de alguns grupos e iniciativas independentes, que trabalham em função de um Underground Brasileiro mais forte e completo, além de vários individuos anônimos que contribuem compartilhando e disseminando este trabalho. EDITOR CHEFE: Morgan Gonçalves COLABORADORES NESTA EDIÇÃO: Fabrício Campos | Cielinszka Wielewski | Matheus Jacques | Jenny Sousa | Gustav Zombetero | Merlin Oliveira | Raphael Arizo | Leandro Vianna | Billy Goate | Rafael Sade | Erick Cruxen | Amilton Jr | Aaron Pickford EDITOR DE ARTE:

Márcio Alvarenga | noisejazz@gmail.com issuu.com/octoberdoomzine/ Facebook.com/OctoberDoomOfficial octoberdoom.bandcamp.com/ COLABORADORES:

Facebook.com/FuneralWedding

N

esta edição, venho dividir e comemorar com vocês, mais uma realização da October Doom Magazine, desta vez em parceria com a famigerada Stond Union Doomed. Trata-se da Hard’n Slow Brazilian Compilation. Uma coletânea criada para destacar alguns dos lançamentos do primeiro semestre de 2016 que nos chamou a atenção. A compilação será lançada semestralmente, tendo sempre músicas lançadas no semestre anterior, dentro dos gêneros preferidos pelos leitores da October Doom Magazine. O primeiro volume dessa “coleta” sai hoje, com vinte músicas, de vinte bandas diferentes, transitando entre o Doom, Sludge e Stoner. Temos grandes planos para esta ideia, e tudo dependerá da repercussão da “HSBC” pelo mundo... Se hoje somos um dos principais canais de propagação da música pesada e torta, nada mais justo do que trazer de bandeja pra vocês, um pouco dessa música que tanto gostamos. O streaming e o download da Hard’n Slow Brazilian Compilation estão disponíveis no nosso bandcamp (octoberdoom.bandcamp.com) Com a HSBC esperamos ajudar as bandas brasileiras que se destacam no movimento a alcançar ainda mais o respeito e a admiração do público no Brasil e no Exterior. Ouça, Baixe e Compartilhe nossa coletânea. Todo esse trabalho e feito pra vocês.

Nada mais justo do que trazer de bandeja pra vocês, um pouco dessa música que tanto gostamos.”

Obrigado, Aproveite a Música e Boa Leitura MORGAN GONÇALVES CONTATO:

contato@octoberdoom.com

Facebook.com/morgan.goncalves.1 EDITOR CHEFE


SUMÁRIO THE OCEAN ENTREVISTA

RESENHA

DEMONS FROM THE DUNGEOON DIMENSION!

20 34 38

ENTREVISTA

RESENHAS

ENTREVISTA ALBUM DO MÊS JUL2016

RESENHA DO ALBUM DO MÊS

62 RESENHAS

RESENHA DO ALBUM

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ENTREVISTA RESENHA

do album 4

FESTAS

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44


1 CD

ENTREVISTA:

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A ASCENSÃO DE UM GRANDE NOME

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ENTREVISTA JAIRO BASS/VOCALS - CHAOS SYNOPSIS

A ASCENSÃO DE UM GRANDE NOME NUM DOS MELHORES MOMENTOS DA CARREIRA DE SUA HISTÓRIA, CHAOS SYNOPSIS EM ENTREVISTA POR | Raphael Arízio

A

banda Chaos Synopsis vem se destacando a cada lançamento como uma das melhores bandas brasileiras em atividade. Com diversas tours gringas e três discos inteiros e um split com a banda Terrordome em seu currículo. Vamos ver o que a banda nos tem a dizer sobre a tou de “Seasons of Red” e sobre seu recente lançamento o Split CD com a banda Terrordome.

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Raphael Arizio: A banda lançou esse ano um split cd com a banda Polonesa Terrordome chamado “Intoxicunts”, como está sendo a repercussão desse disco? Jairo: a receptividade de “Into-

xicunts” tem sido excelente, tanto da mídia quanto dos fãs, logo no lançamento já vendemos boa parte das cópias que pegamos e todos ficaram animados com as composições, que são uma continuação do que foi visto em “Seasons of Red”.

Como foi feita essa parceria com a banda Terrordome para o lançamento desse Split? A banda pretende fazer mais algumas coisas em parceria com os poloneses? Jairo: Em nossa primeira tour na Europa, tocamos com o Terrordome e acabamos virando muito amigos, tanto que tocamos novamente com eles em 2014 e 2015 na Europa e ajudamos a banda com alguns shows no Brasil no início de 2016. Não há nada planejado, mas nunca se sabe o que o futuro reserva.

Há planos para mais uma tour em 2017, já estamos agendando os shows.” Jairo, BASS/VOCALS - CHAOS SYNOPSIS

Em “Intoxicunts” a banda apresenta um cover para o clássico Damage Inc. do Metallica. Como foi feita a escolha desse cover? O Metallica é uma grande influência para o Chaos? Jairo: Metallica é Metallica né,

acho que influência todas as bandas de thrash do mundo. Foi uma escolha do Friggi, que sempre gostou muito desse som e que tem bastante a ver com as partes mais Thrash do Chaos Synopsis. OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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ENTREVISTA JAIRO BASS/VOCALS - CHAOS SYNOPSIS

O BATERISTA FRIGGI MADBEATS, em performance ao vivo da Chaos Synopsis

Recentemente a banda anunciou a entrada do guitarrista Diego Santos. Como está sendo a estadia de Diego na banda? O que a banda procurava nesse novo integrante? Jairo: Eu já gostava muito de sua banda anterior “All Forms of Agony” e todo o trabalho que ele fazia nas guitarras. Com a entrada dele, houve alteração principalmente na composição, com ele trazendo boas ideias de seu estilo de tocar, o que vai agregar muito para os próximos lançamentos.

Em 2015 a banda fez uma tour pela Europa, foi a terceira da banda em solos europeus. O que a banda já conquistou nesses três tours gringas? Tem planos para mais shows na Europa? Jairo: Além de novos fãs, fi-

zemos muitos amigos na estrada, conhecemos vários locais novos e nos divertimos ao infinito. Há pla-

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nos para mais uma tour em 2017, já estamos agendando os shows.

Passados praticamente um ano do lançamento do “Seasons of Red” que frutos a banda colheu com esse lançamento? Jairo: Com o lançamento de “Seasons of Red” acredito que a banda cresceu musicalmente e mercadologicamente. Estamos fechando um contrato para lançamento internacional do álbum, que deve sair até julho.

A banda anunciou que está preparando um novo clipe. O que podemos esperar desse vídeo novo? Já tem alguma previsão de lançamento? Jairo: O vídeo de “Gods

Upon Mankind”, será lançado entre maio e junho. Tentamos colocar no clipe uma visão dos faraós e seu contato com alguns dos principais deuses adorados na época. Vendo as edições, o vídeo está ficando sensacional. OD | A

INTOXICUNTS CAPA

SPLIT CHAOS SYNOPSIS / TERRORDOME

2015

Fico pensando em temas que me agradem e que caberiam bem em álbum de metal.” Jairo, BASS/VOCALS - CHAOS SYNOPSIS


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ENTREVISTA JAIRO BASS/VOCALS - CHAOS SYNOPSIS

O Chaos já tem a previsão de lançar um novo disco? Já sabem se ele será conceitual como os últimos lançamentos da banda? Jairo: Já estamos compondo

um novo álbum com previsão de lançamento para meados de 2017. Acredito que esse lance álbuns com um conceito apenas se tornou uma das características da banda, então vamos continuar nessa pegada. O conceito já está formado, já tendo se iniciado em uma música do split “Intoxicunts”.

Um dos grandes destaques da banda são suas letras e percebe-se uma grande preocupação da banda com essa parte. Como são feitas as escolhas dos temas das letras e dos discos da banda? Há alguma preparação

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ou estudo antes de compor as letras? Jairo: Antes de começarmos

um álbum, fico pensando em temas que me agradem e que caberiam bem em álbum de metal. Após escolher alguns temas, discuto com o pessoal e decidimos qual será, com isso em mãos, parto para os estudos em si, muita leitura através de livros e informações contidas na internet para que eu aprenda bem sobre o tema e possa escrever algo baseado nos fatos históricos.

OS MEMBROS DA CHAOS, (foto acima, da esquerda para direita) Diego Santos (guitarra), Luiz Ferrari (guitarra), Jairo (baixo) e Friggi (bateria).

Espaço para agradecimentos e considerações finais Jairo: Quero agradecer cada fã e membros da imprensa pela parceria durante essa nossa caminhada, adoramos encontrar todos em nossos shows e curtir a música que nos une. OD | A

LINKS https://www.facebook.com/chaossynopsisbr http://chaossynopsis.com/


FICHA ORIGEM

São José dos Campos, São Paulo

GÊNERO

Thrash/Death Metal

Com o lançamento de “Seasons of Red” acredito que a banda cresceu musicalmente e mercadologicamente.”

SEASONS OF RED CAPA

2015

Jairo, BASS/VOCALS - CHAOS SYNOPSIS

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ENTREVISTA RESENHA

do album

THAIS PANCHERI

BASS - FUNERAL SEX

Stoner Rock com Gosto de Sangue 12


FICHA ORIGEM

Rio Claro, São Paulo

GÊNERO

Stoner Rock/ Metal

CURRENT MEMBERS

Vladimir Matheus Vocal, Guitara Thais Pancheri Baixo Victor Delmondi Batera

Gustav Zombetero: Salve Thaís. Comece apresentando a Funeral Sex pros leitores da ODM. Thaís Pancheri: Olá! A

Funeral Sex é uma banda de Rio Claro, interior de São Paulo, formada em 2013, de Stoner Rock mas com características próprias, algumas influências de bandas dos anos 70, mas com uma pegada mais moderna.

O nome da banda chama a atenção, como foi feita a escolha dele e por que toparam usar este nome? TP: O nome tem a ver com as

letras. Usamos temas fúnebres, mas de uma maneira mais “poética”. O nome acabou nascendo daí...

POR | Gustav Zombetero

D

a cidade de Rio Claro, Funeral Sex transita entre o macabro e os riffs do Stoner Rock. Com um álbum e um EP lançados, o trio formadopro Vladimir, Thais e Victor tem tocado e movimentado os roles do interior paulista.

Em 2015 a banda debutou com “Sex, demons and rock’n roll” - já de cara, com 9 faixas. Comente a respeito de todo o processo do material. TP: Desde o início da banda a

intenção é compor som autoral. O processo de amadurecimento, tanto das letras como das músicas nos surpreendeu. Logo desenvolvemos uma ideia pra arte da capa do álbum, falamos com Wildner Lima (Nosso amigo que fez a capa do disco) fizemos, entramos no estúdio e gravamos. Achamos que o trabalho como um todo estava coerente e lançamos. OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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ENTREVISTA RESENHA

do album

THAIS PANCHERI

BASS - FUNERAL SEX

O atual momento do Stoner Rock no Brasil é crescente... aos meus ouvidos vocês vão além dessa pegada sonora, o som da banda tem uma certa obscuridade que me remete a bandas mais alternativas dos anos 90, também me lembra algo de Goth Rock, saca? Tem uma certa levada soturna. Comente a respeito da proposta sonora. TP: Procuramos ser uma banda autêntica sem se prender a estilos. A nossa intenção é ser soturno e fúnebre mesmo. Tem a ver com nossa temática.

As letras da banda parecem seguir em linha reta; sangue, demônios, heresias, zumbis, temas mórbidos,

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além de sexo (entre mortos hahahaha). Por que vocês escolheram abordar tais temas? TP: Nós gostamos desses temas e é algo natural pra banda... as letras, as melodias, resultam também a isso... hahaha (é um processo bem natural mesmo pra nós).

Também rolou um lançamento com 4 faixas extraídas do debut, porém, cantadas em português, qual foi o motivo disso? TP: A princípio, não sabíamos como seria lançado o cd, se seriam só em português, ou só em inglês, ou os dois.... Algumas músicas temos as duas versões, então decidimos fazer em 2 cds. Um em inglês, (Sex, Demons and Rock’n Roll, com as 9 faixas) e outro com

As pessoas estão começando a frequentar mais os festivais, entender um pouco a importância das bandas autorais no rock nacional.” Thais Pancheri, BASS - FUNERAL SEX


as versões em português (Adoradores de Sangue, com 4 faixas). É muito complicado compor letras em português pro rock, mas nós gostamos e sempre tentaremos manter, pelo menos algumas músicas em português.

Findamos por aqui, continue fazendo som massa e na correria hahaha. Use este espaço para dizer o que quiser. TP: Gostaria de aproveitar e

Voltando ao debut, além de estar disponível em mídias digitais, ele também foi lançado em formato físico, você acha que vale a pena ter gastos com isso? Como tem sido a distribuição do mesmo? TP: É difícil ser uma banda

independente, mas ainda é um meio viável pra se divulgar a banda. Nós gostamos do material físico, temos vendido em shows e pela internet.

Você tem envolvimento com produção de festivais, qual seria o saldo dessas feitas até o momento, a galera ta colando, as pessoas estão mostrando mais interesse no som autoral? Quais são as maiores dificuldades para realizar rolês aí no interior de SP?

TP: A maior dificuldade ainda é o público. Tentamos de alguma forma criar/contribuir para uma cena mais forte e cada vez maior. Aos poucos o autoral se fortifica. As pessoas estão começando a frequentar mais os festivais, entender um pouco a importância das bandas autorais no rock nacional, mas ainda é pouco, não é suficiente, mas está “engatinhando”...

dizer que estamos trabalhando no material novo, previsão para gravar no ano que vem. (Modéstia a parte tá ficando foda pra caralho! hahaha). Estamos fechando as datas da nossa tour pela região do Sul, fim de setembro, início de outubro, pra saber do andamento, da relação dos shows, podem nos acompanhar na nossa página no facebook, e quem ainda não conhece a Funeral Sex, além da página, pode conferir os sons no youtube e bandcamp. Que o público continue crescendo, que a cena se fortaleça. Comprem material, vão à shows das bandas autorais nacionais. Leiam e compartilhem Zines! #apoieounderground #vivaoautoral. OD | A

LINKS https://www.facebook.com/funeralsex/ https://funeralsex.bandcamp.com/

facebook.com/OctoberDoomOfficial

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RESENHAS

POR | Gustav Zombetero

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onsidero ser muita audácia uma banda lançar o seu primeiro material contendo 9 faixas, estou acostumado com singles, EPs, demos, o trio de Rio Claro, cidade do interior paulista, preferiu estrear desta forma. Os Funeral Sex trazem um lado gore em suas letras, nessas letras temos algo romantizado, como uma HQ sanguinária com um enredo que se depara com ocasiões da vida real, mesmo que fale de demônios, zumbis... se você parar para analisar deve conhecer zumbis e demônios, ambos no deturpado da palavra, saca?! A sonoridade possui várias nuances, uma atmosfera mórbida, as vezes lembra algo de música gótica, mas, o peso é predominante, uma verdadeira demonstração de Rock torto de identidade, Vladimir (guitarra e voz) e Thaís (baixo) se entendem muito bem, suas notas são tortas, transmitem algo de mórbido e dançante, Victor (bateria) é bem preciso em suas marretadas, tudo bem alinhado e bem gravado. “Before The Devil”, “Sex, Demons and Rock’n Roll”, “My Zombie Girfriend”, são algumas faixas do play, por esses títulos fica mais claro o que eu falei logo acima, Vladimir tem um vocal ‘arranhado’ que veio a calhar com a proposta sonora. Sex, Demons and Rock’n Roll foi gravado em 2014 no ATM Studio, em Limeira, porém, só foi lançado em setembro de 2015. A

FUNERAL SEX SEX, DEMONS AND ROCK’N ROLL

2015

RIO CLARO, SÃO PAULO WEB

FUNERALSEX.BANDCAMP.COM

1 - Before the devil knows you are dead 05’22’’ A 2 - Sex, demons and rock `n roll 05’34’’ A 3 - Worshipers of blood 05’02’’ A 4 - My zombie girlfriend 03’39’’ A 5 - The devil is me 04’53’’ A 6 - Die with me 06’28’’ A 7 Funeral 05’57’’ A 8 - Thanks to God 02’59’’ A 9 - This is my soul 04’32’’

arte ficou insana, obra do Widner Lima. Devo destacar a faixa “The Devil is Me” com uma pegada mais sombria de início, mesclando com uma sonoridade do ‘deserto’. Separe um tempo para ouvir o som da banda seja em mídia digital ou adquirindo o material físico, uma proposta sonora diferenciada e interessante. OD | A

LINK https://www.youtube.com/watch?v=9oEJmyblYps


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COLUNA

https://www.facebook.com/FuneralWedding

http://www.funeralwedding.com/

NOME NOVO, VELHOS CONHECIDOS POR | Vortane

F

ormada por Narqath e JL Nokturnal ambos do Azaghal, originalmente sob o nome de Hellkult, o projeto se estabeleceu com o nome Wyrd. A banda faz um pagan black metal que adentra pelo folk e pelo doom metal, especialidade dos finlandeses. Após 7 anos nas sombras, a banda trouxe meio que de surpresa o álbum Death of the Sun, bem

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diferente dos outros álbuns que Narqath fez praticamente sozinho. Esse artefato traz em sua conjuntura 4 novos membros, o que certamente influenciou na sonoridade e na produção como um todo. O álbum se inicia com a faixa homônimo “Death Of The Sun” e apresentam guitarras bem harmonizadas, vocais impressionantes que causam uma boa impressão, do meio ao fim são apresentados dedilhados na guitarra acústica e finalizando a canção de forma perfeita para adentrar em “Man

DEATH OF THE SUN 2016 MORIBUND RECORDS Tracklist: 2 - Man of Silent Waters 3 - The Sleepless and the Dead 4 - Pale Departure 5 - The Pale Hours 6 - Inside 7 - Cursed Be the Men 8 - Where Spirits Walk the Earth 9 - Rust Feathers

of Silent Waters”, que mergulha em sussurros e cantos limpos, guitarras mais frias, com poucas elevações de velocidade. “The Sleepless and the Dead” nos leva em uma deformação do tempo e do ritmo, para uma for


PHOTO BY: EIJA MÄKIVUOTI - ALLMETALFEST

influência do Iron Maiden, fiquei surpreso com a semelhança. Principalmente dos vocais limpos e dos riffs empregados. O que também acontece na faixa “Inside”. As canções seguintes retomam uma pegada mais melancólica e sombria, com múrmuros e mais dedilhados, ao som bem arrastado de “Pale Departure” e a elevação da velocidade em “The Pale Hours” é bem agradável e mais uma vez mostra a potência dessa

FICHA

ORIGEM

Hyvinkää, Finlandia

composição bem diferenciada da banda. A faixa de encerramento “Rust Feathers” tem riffs pesados e é impressionante a harmonia com a bateria, gostei muito da forma com que usaram os vocais limpos introduzidos no meio para o fim da canção. É como experimentar vários sons da banda, em várias épocas, em pouco mais de 50 minutos, oferecendo algo para todos de certa

GÊNERO

Black / Folk / Doom Metal

CURRENT MEMBERS

forma, acredito que essa característica tenha sido não só pela nova composição da banda, mas um experimento para o renascimento mais atual dela. E se você não conhece Wyrd, esse é um ótimo álbum para se começar. OD | A

LINKS https://www.facebook.com/wyrdhvnk/ https://soundcloud.com/moribundrecords/ sets/wyrd-death-of-the-sun

Narqath e JL Nokturnal

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ENTREVISTA ROBIN STAPS GUITARRA - THE OCEAN

POST METAL ALEMÃO EM OUTUBRO NO BRASIL 20


PHOTO BY: PAWEL JOWIAK

POR | Luiz Mazetto

E

m outubro, a banda de post metal, The Ocean (ou The Ocean Collective), virá ao Brasil para uma única apresentação, no Epica Metal Fest. Uma boa chance para os brasileiros presenciarem um show cheio de peso, com melodias belas e intensas. O The Ocean surgiu na Alemanha em 2000, e possuiu diversas formações, mas sempre com a presença do guitarrista Robin Staps. A banda já lançou seis álbuns; Fluxion (2004), Aeolian

Eu realmente estava ligado em compor as músicas mais complicadas que eu conseguisse (risos).” Robin Staps, GUITAR - THE OCEAN

(2006), Precambrian (2007), Heliocentric (2010), Anthropocentric (2010) e Pelagial (2013); além de diversos singles, EPs e

splits, como o belíssimo Transcendental, lançado em 2015, pelo próprio selo da banda (Pelagic Records), numa parceria com a banda japonesa, Mono. A atual formação do The Ocean conta com: Robin Staps, Loïc Rossetti, Damian Murdoch, Paul Seidel, Mattias Hägerstrand. O The Ocean já se apresentou em diversos festivais de metal alternativo como Roadburn, Dunk!Festival, Hellfest entre outros. Segue a entrevista que o comparsa Luiz Mazetto fez com o guitarrista Robin Staps, para o segundo volume do livro “Nós Somos a Tempestade” que sairá nos segundo semestre de 2016. OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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ENTREVISTA ROBIN STAPS GUITARRA - THE OCEAN

E estar em turnê com o Sólstafir também foi muito legal. São pessoas quietas da Islândia (risos).”

Robin Staps, GUITAR - THE OCEAN

Luiz Mazetto: Vocês fizeram uma turnê recente com o Mono e o Sólstafir pela Europa. Como foi cair na estrada com bandas de lugares totalmente diferentes, como Alemanha, Japão e Islândia? Foi algo especial para você, imagino. Robin: Bom, nós normalmen-

te não pensamos muito sobre de onde são as bandas com quem nós tocamos. Mas é algo que aparece naturalmente durante a tour quando você começa a falar com as pessoas e descobre que tipo de pessoa elas são e quais as histórias que tem para contar porque isso é sempre interessante. Mas sempre fizemos turnês internacionais com bandas de todos os lugares, então isso não foi realmente algo novo para nós. Foi a primeira vez que fizemos uma tour com o Mono e foi uma ótima experiência. Eu tenho uma relação longa e bastante intensa com essa banda desde que os descobri por volta de 2002 ou 2003, quando o The

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Ocean abriu um show deles em Berlim. E isso continua até hoje já que pude trabalhar recentemente com eles na minha gravadora. E foi muito bom sair em turnê com esses caras em especial, nos divertimos muito juntos. Acho que realmente nos demos bem tanto como músicos quanto como pessoas e também considerando o público muito específico que nós atraímos. E estar em turnê com o Sólstafir também foi muito legal. São pessoas quietas da Islândia (risos). Foi realmente uma mistura bem interessante de músicas e pessoas nesta turnê.

Pensa que, mesmo sendo de culturas e lugares muito diferentes, vocês compartilham visões similares sobre música e o cenário underground? Robin: Em algumas partes sim e em outras não. Nós viemos de backgrounds e experiências culturais e pessoais muito diferentes. E todos cresceram em

cenas e épocas diferentes. O pessoal do Mono está na faixa dos 40 anos e a maioria dos integrantes do The Ocean está na casa dos 30 anos ou fim dos 20. Então também é uma geração diferente de alguma maneira. E cenas e épocas distintas a partir das quais surgimos. Mas parece que todos estamos no mesmo lugar neste momento. Estamos fazendo uma turnê juntos, tocando nas mesmas cidades e casas de shows, então é interessante ver como pessoas de origens geográficas, temporais e culturais totalmente diferentes se encontram ao mesmo tempo no mesmo lugar.

Voltando a essa relação especial com o Mono que você comentou. O The Ocean acaba de lançar um split com eles chamado Transcedental (2015) pela sua gravadora, a Pelagic Records. Como isso aconteceu? Era algo que você já queria fazer há algum tempo?


FICHA PHOTOS BY: ROKITA

ORIGEM

Berlin, Alemanha

GÊNERO

Progressive/ Atmospheric Sludge Metal/ Post-Hardcore

PELAGIAL CAPA

2013

Robin: Não, na verdade foi uma ideia que surgiu quando pensamos em fazer a turnê há cerca de um ano. Primeiro começamos a falar sobre fazer uma tour juntos. E sabíamos que não teríamos discos novos prontos a tempo dos shows, tanto o Mono como a gente. Então apenas dissemos "Ei, vamos lançar um split juntos. Ainda há tempo para fazer isso e teríamos algo novo para a turnê". Já queria começar uma série de splits pela Pelagic há algum tempo. O disco com The Ocean e Mono foi a primeira parte e agora acabamos de lançar a segunda com o Cult of Luna e o The Old Wind. E virão outros no futuro. Venho da cena hardcore do começo dos anos 1990 e costumava descobrir bandas ao comprar splits de 7" em shows locais. Você sempre conhecia uma banda, é por isso que você comprava o disco. Mas muitas vezes você não conhecia a outra metade do split e era basicamente assim que você conhecia bandas novas antes da

Internet. Então isso é algo que fez parte da minha juventude e que queria fazer com a minha gravadora já há algum tempo, meio que trazer de volta essa época do hardcore em que você conhecia bandas legais ao comprar splits nos shows.

Aproveitando que você falou sobre esse passado no hardcore. No começo, o The Ocean tinha uma maior influência desse tipo de som, principalmente nos primeiros discos, quando tiveram participações de integrantes de bandas como Converge, Breach, Integrity e Cave In. Como foi essa mudança de som na banda? Foi algo planejado, você sentiu que precisava mudar? Robin: É algo que aconteceu naturalmente com o tempo. Não houve realmente nenhum tipo de plano por trás disso. Quando comecei a escrever músicas para a banda aqui em OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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ENTREVISTA ROBIN STAPS GUITARRA - THE OCEAN

Berlim, eu tinha uma ideia muito clara do que queria fazer e essa ideia definitivamente envelheceu e evoluiu ao longo dos anos. Houve uma época, por volta de 2005/2006, em que eu realmente estava ligado em compor as músicas mais complicadas que eu conseguisse (risos). E foi isso que nos levou a músicas como "The City and The Sea", do Aeolian (2005), e à primeira metade do Precambrian (2007). Mas, ao mesmo tempo, eu sempre curti composições longas e atmosféricas que eram mais simples e estruturadas, em termos de ritmo e coisas do tipo. Então sempre tive esses dois mundos de interesses que eu tive de combinar e foi isso o que levou a esses discos dicotômicos como o Precambrian, em que a primeira metade é focada na parte pesada, curta e complicada e o restante traz um material atmosférico e mais elaborado. Então é isso o que eu fiz com o Fluxion (2004), o Aeolian e o Precambrian: sempre desenvolver os dois lados e tentar juntá-los ao lançar álbuns duplos ou discos que sejam conectados, em que cada um

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Queria trabalhar com vocais, no sentido de usar os vocais como um instrumento melódico.” Robin Staps, GUITAR - THE OCEAN

foque em um lado. E então eu meio que passei dessa fase com o Precambrian e o Heliocentric (2010) foi realmente uma nova fase para mim como compositor e músico, apenas queria fazer algo diferente. Eu não estava mais tão interessado em escrever essas músicas super complexas e pesadas. E queria trabalhar com vocais, no sentido de usar os vocais como um instrumento melódico e não

apenas um instrumento rítmico como tinha feito no passado. Ao mesmo tempo, nós tínhamos perdido o nosso vocalista Mike Pilat na época, que tinha gravado o Precambrian, e então o Loïc (Rossetti, atual vocalista) entrou na banda. E ele tinha essas habilidades para realmente desenvolver o vocal nesta direção que eu queria. Tudo isso aconteceu entre 2009 e o começo de 2010. E a partir daí foi uma nova fase, o meu foco tinha mudado. Eu ainda escrevia músicas pesadas e complicadas, já que havia algumas coisas do Anthropocentric (2010) que lembravam a fase antiga da banda, por exemplo. Mas, de forma geral, incorporar vocais diferentes foi algo que se tornou mais e mais importante com o tempo. E esse é apenas um processo natural de crescer como um músico e tentar explorar territórios e abordagens musicais diferentes na hora de compor. E então realmente encontrar o seu caminho, que sempre será bom por apenas um período de tempo limitado. Porque aí você fica entediado com isso e precisa tentar outra coisa.


PHOTO BY: ROKITA

A BANDA ALEMÃ THE OCEAN, que faz show no Brasil em Outubro.

Você sempre foi o principal compositor da banda e já disse até que não consegue escrever quando está em turnê porque precisa de uma certa distância para fazer isso. Por isso, queria saber como é o processo de composição atualmente? Pergunto por que já passaram por algumas mudanças de formação ao longo da carreira, incluindo algumas mais recentes. Robin: Isso vai nos afetar (a mudança de formação). A nossa parte do split com o Mono, o

Transcendental (2015), é uma música minha, eu a escrevi. Mas para o próximo disco, em que vamos começar a trabalhar em breve...Aliás, nós já começamos a escrever e temos algumas músicas prontas. Mas o nosso novo guitarrista, o Damian (Murdoch), também vai estar envolvido no processo de composição do nov disco. Ele escreveu algumas coisas que eu já pude ouvir e achei que são muito boas e representam para onde vejo o The Ocean seguir. E o nosso baterista, Paul Seidel, que entrou para a banda no fim de 2013, também está muito mais envolvido no processo de

escrever as músicas e suas partes de baterias do que era no passado. Então acho que o próximo disco será um esforço mais colaborativo do que o Pelagial (2013), que basicamente foi todo escrito por mim. E eu quero isso, sinto agora que nós temos a formação mais forte que a banda já teve, em termos dos músicos e do que eles podem trazer para a mesa. Então naturalmente eu quero explorar isso, usar isso e ter essas pessoas contribuindo criativamente com a banda. Por isso, acho que o próximo disco será um novo ponto de virada, no sentido de que não será tão escrito por mim. OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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ENTREVISTA ROBIN STAPS GUITARRA - THE OCEAN

Esse estilo de música que vocês tocam, normalmente chamado de pós-metal, teve origem nos EUA com bandas como Neurosis, Melvins e Isis. Mas mais recentemente me parece que as bandas europeias como vocês, o Cult of Luna e o Amenra, sem contar outras mais antigas como o Breach, talvez estejam recebendo mais atenção e reconhecimento. Concorda com isso? Robin: Essas bandas dos EUA que você citou realmente são incríveis e importantes, mas existem outras bandas como o Breach que começaram ainda nos anos 1990 e me influenciaram muito, mais até do que muitos nomes americanos. Eu cresci indo a shows de hardcore no começo dos anos 1990 e pude ver bandas antigas do estilo como Integrity, Earth Crisis e Undertow, mas ao mesmo tempo via bandas europeias como o Refused, que já levaram o Breach como banda de abertura, por exemplo. Por isso, já vi o Breach ao vivo algumas vezes e eles real-

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mente abriram os meus horizontes musicais. A primeira vez que os vi eles eram uma banda de hardcore da "nova escola" e o Tomas (Hallborn, vocalista) estava usando uma camiseta do Youth of Today e eles faziam aqueles movimentos hardcore tradicionais. E a segunda vez que os vi foi logo após eles lançarem o It´s Me God (1997) e era uma banda totalmente diferente. Todos estavam vestidos de preto, havia dois bateristas no palco, ninguém falava com o público e apenas uma atmosfera super dark e fria. E isso tudo realmente me "ganhou". Comprei aquele disco e o escutei por um mês e meio e apenas pensava "Essa é a razão pela qual eu quero tocar". Para mim, certamente houve algumas bandas europeias que foram muito importantes, de forma igual ou maior do que as bandas americanas que moldaram o gênero. Você mencionou o Isis e nós falamos sobre o Mono antes, essas duas bandas vieram de cenas parecidas naquela época. Os gêneros não eram tão divididos como eles são agora, em que você tem uma gravadora dedicada para cada estilo

de música. As pessoas falam sobre pós-metal e sludge, mas ninguém sabe o que esses termos realmente significam ou qual deveria ser a diferença entre eles. Só que esse não era o caso antigamente. Bandas como Isis e Mono podiam fazer um show juntas, mesmo tocando músicas muito diferentes e vindo de backgrounds bastante distintos. Mas era tudo parte da... vamos chamar de cena de hardcore experimental do início e metade dos anos 1990. Na verdade, essas bandas surgiram um pouco depois. Mas os gêneros não eram tão divididos e penso que era uma época muito interessante e emocionante porque te permitia descobrir bandas não apenas a partir desse tipo de cena mais fechada, mas a partir de uma perspectiva musical mais ampla. OD | A

LINKS https://www.facebook.com/theoceancollective/ https://theocean.bandcamp.com/ http://theoceancollective.com/pelagial/ Epica Metal Fest https://www.facebook.com/events/844867092307384/


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IGOR VAN DER LAAN

GUITARRA/VOCAL

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D

epois de um início meteórico e o recém-lançamento do novo trabalho “Black Water”, o Cattarse começa a se firmar como um dos principais expoentes da cena arrastada e desacelerada que vem rolando no sul do país. A October Doom Magazine procurou o trio formado por Igor van der Laan (guitarra/vocais), Yuri van der Laan (baixo) e Diogo Stolfo (bateria) pra saber um pouco mais sobre novos trabalhos, planos pra tour e opiniões sobre a cena. OD | A

facebook.com/OctoberDoomOfficial

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IGOR VAN DER LAAN

GUITARRA/VOCAL

Merlin Oliveira: Primeiramente, eu agradeço em nome da October Doom Magazine pela atenção de vocês. O Cattarse é uma banda formada em 2008, mas o primeiro trabalho de vocês só saiu em 2014. Por que essa demora pra lançar um debut? Igor van der Laan: Vários

motivos, desde a grana pra gravar, o próprio amadurecimento da banda e diversas mudanças de formação com bateristas (até nos acertarmos com o Diogo). Achamos que foi num momento certo também, quando a banda já estava mais amadurecida e mais “fechada”.

Como foi a recepção desse primeiro trabalho, o “Cattarse”? E nos shows, o público tem aparecido em maior número? Igor: Depois que lançamos o

nosso primeiro disco começamos a nos consolidar mais na cena aqui do sul como banda. Deu pra sentir que o trabalho começou a ficar mais sério e que o público começou a aumentar também. Nossa

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O plano central da banda é tocar no Brasil inteiro (se possível).” Igor van der Laan, GUITAR - CATTARSE

repercussão desse primeiro disco foi maior mesmo aqui no Sul. Infelizmente, nessa época, por diversos motivos, não saímos para tocar pelo Brasil.

Ainda falando sobre o primeiro trabalho, quais eram as influências da banda em 2014? Igor: A banda ainda estava se

descobrindo em muitas coisas, e as músicas eram na sua maioria composições bem antigas que eu ainda escrevia no colégio, então as

influências acabavam se misturando muito. Nossa maior influência sempre foi o rock n’ roll setentista do Led Zeppelin, Black Sabbath e Jimi Hendrix, e sempre será.

O novo álbum, “Black Water”, está carregado de novas influências e experimentalismos pouco comuns à bandas de stoner. Como o público tem recebido essa nova fase? Igor: A galera vem curtindo,

e nós também. Queremos tentar sempre trazer à tona sonoridades diferentes e curtimos a ideia de usar elementos às vezes pouco comuns para as nossas músicas.

Depois de muitos shows no sul, o Cattarse foi confirmado como uma das atrações do Goiânia Noise. Vocês tem planos para uma turnê de maiores proporções ainda esse ano? Igor: Com certeza. O plano

central da banda é tocar no Brasil inteiro (se possível). Esse plano já está em fase de execução e logo vai rolar shows da Cattarse em outros estados.


FICHA ORIGEM

Porto Alegre, Rio Grande do Sul

GÊNERO

SHOWS DO LANÇAMENTO do álbum Black Water

Stoner Rock, Heavy Blues

CURRENT MEMBERS

Igor van der Laan Guitarra, Vocal Yuri van der Laan Baixo Diogo Stolfo Bateria

Cattarse (2014)

A cena de música pesada e arrastada no sul do país vem crescendo cada vez mais, vocês são hoje um dos maiores expoentes do que está acontecendo aí. O público tem prestado mais atenção às bandas da região? Igor: Sim. Estamos vivendo

no Sul algo muito massa, que não se via à um tempo também. A união entre todas essas bandas é muito visível e genuína, todos são muito amigos entre si. Consequentemente, o público vem prestando atenção nisso e comparecendo em maior número nos shows. Bandas como Wolftrucker, Space Guerrilla, Black Moon Riders, Motor City Madness, Mar de Marte, Quarto Ácido e diversas outras muito massa (que eu ficaria citando aqui por um bom tempo, heheh) copartilham de um mesmo público, o que fortalece muito as coisas por aqui.

Ainda nesse assunto, é perceptível uma união maior entre as bandas também, relação essa que é um dos

prováveis trunfos desse novo cenário. Existem mais planos vindouros dessa união? Igor: Existe sim. Desde os

festivais que rolam aqui do sul (o próprio Stoner Fest), a planos de uma possível turnê com duas ou três bandas viajando juntas pelo Brasil. Tudo pode acontecer e o momento é agora!

Nacionalmente, as pessoas estão começando a prestar mais atenção nas bandas que estão surgindo em todos os cantos do país, a cena tem ficado cada vez mais forte e unida. Como vocês avaliam esse processo em relação à Cattarse? Existem mais pessoas de outras regiões pedindo por show de vocês? Existem bandas de outras regiões com as quais vocês gostariam de tocar? Igor: A união é importantís-

sima para qualquer cenário. Só assim é possível o fortalecimento do mesmo e a sua perduração. É muito massa essa interação nacional com outros músicos, outros cenários, outros públicos. OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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RESENHAS

IGOR VAN DER LAAN

GUITARRA/VOCAL

Existem sim outras pessoas pedindo shows da banda em outros lugares, o que nos motiva muito a tocar fora do Sul e continuar sempre dando rolês maiores. Com certeza queremos que essa seja a nossa realidade para os anos que estão por vir. Bandas gaúchas tocando cada vez mais, e interagindo com outras bandas de outros estados, por todo o Brasil. Tem tanta banda que a gente gostaria de tocar juntos que não cabem aqui nessa pergunta, mas tem a Pantanum, Muddy Brothers, Muñoz (que a gente já tocou várias vezes aqui no sul), Funeral Sex (que vai rolar!), Hellbenders, Quarto Astral e Old Stove (que tocamos à pouco juntos aqui no sul), Far From Alaska (por que não?), Red Mess, Fuzzly, Monster Coyote, enfim! Se tem um som chapante e pesado, nós queremos tocar junto!

Vocês tem planos de outros trabalhos? O que os fãs podem esperar daqui pra frente? Igor: O plano é lançar um disco por ano (pelo menos tentar!). Os fãs podem sempre esperar por novas composições, novas viagens da banda, enfim. Pre-

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2 tendemos ficar fazendo isso por muito tempo das nossas vidas. Nesse ano ainda vai sair um clipe da banda, que está previsto pra ser lançado antes do final desse ano.

Mais uma vez, muito obrigado pela atenção e a disposição. Deixo aqui esse espaço pra vocês falarem o que quiserem ou complementar outras informações. Igor: Queremos agradecer a

October Doom por esse espaço maravilhoso que vocês dedicam às bandas do cenário Stoner/ Doom/Rock. Valeu mesmo galera! Pretendemos nos ver muito ainda nessa estrada maluca e insana chamada MÚSICA. Longa vida à October Doom Magazine!

EM NOVO DISCO, BANDA GAÚCHA MUDA IDIOMA, MAS NÃO A HABILIDADE DE FAZER BOA MÚSICA!

V

ão-se cerca de dois anos da estreia da banda gaúcha Cattarse com seu álbum homônimo. O agora trio, fundado em 2008 pelos irmãos Igor (guitarra/voz) e Yuri (baixo) Van Der Laan e completado pelo baterista Diogo Stolfo em 2012, enraizou sua sonoridade no que podemos chamar de "heavy blues", ou "stoner blues", mas nomenclatura realmente pouco importa. A timbragem absurda, a rifferama e a densidade cavernosa do som dos caras já era vista à vontade no debut, e segue intacta em "Black Water", o bem vindo novo registro do trio de Porto Alegre. Para começar, é imprescindível ressaltar algo: uma das principais características da banda, as letras em Português, foi deixada pra trás. "Black Water" traz apenas composições em inglês. E em efeitos práticos, o que isso


CATTARSE BLACK WATER

BLACK WATER é o segundo disco do Cattarse.

2016

PORTO ALEGRE, RS WEB

WWW.CATTARSE.COM

1 - Walking on Glass 03’41’’ A 2 - Mr. Grimm 04’11’’ A 3 - Sound Barrier 03’40’’ A 4 Meet me in the Darkness 04’25’’ A 5 - You Blew My Mind 03’15’’ A 6 - Turn to Stone 04’48’’ A 7 - Fire in the Hole 04’24’’ A 8 Black Water 04’40’’ A 9 - Ashes 04’05’’

realmente muda no fim das contas? Quase nada. "Black Water" destila ao logo de seus mais de trinta minutos de duração, semelhante voracidade sonora inerente ao trabalho anterior dos caras. A acachapante martelada de riffs densos e marcantes segue intacta, com timbragem definida e presença sólida. Os caras continuam "linkando" versos e linhas vocais de qualidade a partes instrumentais maduras e convincentes, como já demonstra a grudenta faixa inicial "Walking on Glass", no melhor estilo das bandas setentistas de hard rock. É, a grosso modo, como se pegassem o "velho e bom" blues e, com propriedade, o trajassem com uma atmosfera contemporânea baseada no "tal stoner rock" Ah, sim. Temos riffs, talvez já tenha sido dito. E se você esqueceu, "Mr.Grimm" segue a cerimônia e te relembra, não se preocupe.

Riffs e versos grudentos pra cacete. "Sound Barrier" possui, veja só, trechos quase sabbathicos. É mais uma reverência (que não soa manjada, entretanto) ao "old school" e ao tanto que nos concedeu em termos sonoros nos dias de hoje. "You Blew My Mind" tem uma convidativa intro melancólica e um andamento que demonstra que os guris tambem manjam do quanto pesar a mão e do quanto cadenciar um som para torná-lo mais climático e maleável. Mas sem perder o peso e a convicção. E isso logo depois da sólida "Meet me in the darkness", primeiro single divulgado e peso pesado do álbum. "Turn to Stone" pode surpreender e mostrar em seu conteúdo uma singela passagem... a la reggae? Trechinho de reggae-vibe com stoner/blues pode? Pode sim. Ouça a faixa e tire sua conclusão. A trinca final. Se prepare para o bate-cabeça com "Fire in the Hole" e sua linha densa e "badass" de blues, como se Robert Johnson houvesse entrado em um buraco de minhoca e viajado no tempo até parar em 2016, tendo bandas como Graveyard e Clutch conduzindo sua jornada pelo nosso tempo. E se achou "Fire in the hole" boa, te prepara pra fixar "Black Water" e sua intro chiclete em tua mente por um bom, bom tempo... O refrão vai

grudar na intro, a intro vai grudar na tua mente... bem, o resto você já sabe: mais uma faixa para te acompanhar por uns bons tempos. "Ashes" encerra o álbum de forma quase nostálgica e sorumbática, numa suave pegada em tom de poesia folk a te conduzir para uma boa reflexão e ao relaxamento após a verdadeira sucessão de pedradas de "Black Water". Os caras mudaram um elemento importante e que os distinguia de muitos, no fim das contas: abandonaram as composições em Português (coisa que me agradava bastante, não me soa fácil fazer boas canções de heavy rock em Português, como esses três sujeitos faziam). Mas, definitivamente não deixaram para trás uma coisa mais essencial ainda: a maturidade sonora com a qual demonstraram nascer em "Cattarse", de 2014. O peso e a habilidade em moldar canções seguem em seu devido lugar, e isso é bacana demais. Seja no idioma de Raul Seixas ou no de Bob Dylan, os caras continuam tendo algo em comum com ambos: fazem música boa! OD | A

LINKS https://www.facebook.com/bandacattarse/?fref=ts https://cattarse.bandcamp.com/releases

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RESENHAS

3 OS EVENTOS SE DESENROLAM DEVAGAR, EM UM ATRAENTE INTERMÉDIO ENTRE A ADORAÇÃO HIPNÓTICA AOS AMPLIFICADORESDO SUN O))) E AO DOOM QUASE INERTE DO MONARCH! OS RIFFS EMERGEM DA MELANCOLIA, MUDAM DE FORMA ACENTUADOS POR BATERIAS FORTES COMO UM SOCO NO ESTÔMAGO. SE IMERSÃO NOS MAIS PROFUNDOS E OBSCUROS DRONES TE AGRADA, MERGULHE NO POÇO DE DESESPERO QUE É OMMADON. 34


FICHA

Review

ORIGEM

Glasgow, UK

POR | Charlie Butler thesludgelord.blogspot.com TRADUÇÃO | Elyson Gums

GÊNERO

Drone, Doom Metal

CURRENT MEMBERS

Ewan Mackenzie Drums, Keyboards, Noise David Tobin Guitars, Noise

I

magine estar preso em uma caverna. Você percebe que todas as saídas estão bloqueadas e nota água se acumulando aos seus pés. Enquanto o nível da água sobe, você chega à sombria conclusão de que não há nada a ver, além de aceitar seu destino. O novo EP auto-intitulado do Ommadon captura perfeitamente esta claustrofobia. O duo de Glasgow pegou o drone sísmico e os riffs glaciais de lançamentos anteriores e os condensou no single de 42 minutos que compõe este LP. Uma nuvem de zumbidos eletrônicos dão o tom, o tom ameaçador enaltecido pelo peso opressivo e impenetrável peso do sludge das guitarras. Os eventos se desenrolam devagar, em um atraente intermédio entre a adoração hipnótica aos amplificadoresdo Sun O))) e ao doom quase inerte do Monarch!. Osriffsemergemda melancolia, mudam de forma acentuados por baterias fortes como um soco no estômago. Se imersão nos mais profundos e obscuros drones te agrada, mergulhe no poço de desespero que é Ommadon. Ommadon envolve o ouvinte, tornando a tensão cada vez maior e negando ao ouvinte a fuga que ele deseja. Quando eles enfim chegam à uma guinada que leva a uma investida de doom depois do que parece ser uma eternidade de

OMMADON OMMADON

2016

DRY COUGH RECORDS MEDUSA CRUSH RECORDINGS

GLASGOW, UK 1 - Ommadon 41’39’’ A

medo rastejando, o efeito é devastador. Quando a poeira finalmente abaixa, seguindo a conclusão do LP, o alívio é palpável. Dry Cough e Medusa Crush Records lançou outros ótimos álbuns esse ano, como os do Sea Bastard, Primitive Man e Sealclubber, mas este é um tipo diferente de peso. Se imersão nos mais profundos e obscuros drones te agrada, mergulhe no poço de desespero que é Ommadon. OD | A

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ENTREVISTA DUNCAN PARK

DEMONS FROM THE DUNGEON DIMENSION!

CORRESPONDENTE - USA

EXCLUSIVO POR | Billy Goate (Doomed & Stoned) TRADUÇÃO POR | Elyson Gums

DOOMED & STONED NA ÁFRICA DO SUL 36


O tio de um amigo estava desaparecido por três meses e uma noite o encontraram vagando pelas ruas pelado e ele não conseguia lembrar o que aconteceu. Acreditaram que uma bruxa havia o capturado e o mantido prisioneiro para usálo em rituais”. Duncan Park, DEMONS FROM THE DUNGEON DIMENSION!

O

que é ser um puta doomer em um dos lugares mais remotos da Terra? Decidi descobrir. O artista solo de folk/blues Duncan Park sempre teve um gosto pelo lado mais pesado da música e recentemente embarcou em um projeto chamado Demons From the Dungeon Dimension. Embora pareça a imaginação exagerada de um adolescente (ou uma refe-

rência a Minecraft), é na verdade um dedo na ferida da cultura vigente em KwaZulu Natal, África do Sul, que não é apenas esmagadoramente cristã, mas tem o Pânico Satânico (como o que eu vivi crescendo como um moleque fã de heavy metal no Texas, em 1980). Enquanto escrevia, a página do Demons From the Dungeon Dimension ainda estava fora do ar devido ao que Duncan caracteriza como “pressão de uma organização cristã anti-Satã”. OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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ENTREVISTA DUNCAN PARK

DEMONS FROM THE DUNGEON DIMENSION!

Billy Goate: Demons From The Dungeon Dimension, gostei do nome. Poderia nos dizer sua história de origem? Duncan Park: Bom, a banda

atualmente é apenas eu, então é um projeto de doom de m homem só. Eu gostaria que tivesse mais membros, mas eu vivo em uma área bastante rural da África do Sul, então não tem tantas pessoas ao redor e é difícil encontrar pessoas que gostariam de tocar qualquer tipo de hard rock ou doom original na minha vizinhança. O projeto começou porque eu sempre gostei de metal, mas havia apenas tocado blues acústico e folk em bandas ou como músico solo. Então comecei com os riffs e etc no meu violão, gostei deles e achei que valeria a pena gravá-los. Foi mais ou menos isso.

Ouso dizer que a vasta, vasta, vasta maioria de nós aqui nos Estados Unidos, e provavelmente nas Américas não têm ideia de como o outro lado vive. Como é a vida de um projeto como este na

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Houve o apartheid até pouco tempo atrás e estas feridas ainda estão abertas. Tentar se entender com o nosso passado é incrivelmente doloroso e difícil”. Duncan Park, DEMONS FROM THE DUNGEON DIMENSION!

África do Sul? O que você faz numa sexta-feira à noite? Há uma cena de metal por aí? Duncan Park: Bom, em um

certo grau eu não acho que as

nossas vidas sejam muito distantes. Tem bares e clues de metal bastante populares nas cidades. Infelizmente a maioria só toca metal genérico, como Devil Driver, Machine Head, Metallica e esse tipo de música que eu não suporto, então eu nunca fui de frequentar tanto, a menos que bandas que eu conheço estejam tocando. Tem várias bandas de metal aqui e na minha opinião a maiora é terrível, mas algumas delas são simplesmente incríveis. Mas eu não vivo permanentemente na cidade, então não estou exatamente vivendo e respirando a cena de metal daqui. Eu gosto de outros tipos de música e a maioria dos meus amigos não gosta muito de metal. Os tipos que eu gosto não são exatamente os mais populares. Gosto de black metal e doom. Infelizmente esses gêneros são muito associados ao Satanismo, e a África do Sul é muito Cristã. Quando o Behemot veio aqui eles foram muito pressionados e algumas bandas foram barradas de tocar aqui, ou tiveram shows cancelados por causa da


pressão de grupos religiosos. Essa é outra razão pela qual é tão difícil encontrar outros membros para o meu projeto. Tipo, até a página do Facebook caiu porque irritou alguns Cristãos. Como resultado, tentar encontrar apoio para a sua banda de metal pode ser difícil, especialmente se você não estiver tocando o tipo de som genérico, “do meio da estrada”. Se você estiver tocando algum doom lento, ou algo mais estranho, avant-garde black metal, não será estranho você ser boicotado de vez em quando. Os estilos mais underground ainda não estabilizaram suas próprias cenas. Dito isso, definitivamente tem um movimento embrionário de doom crescendo em duas das nossas maiores cidades, Cidade do Cabo e Joanesburgo. Em termos de estilo de vida, acho que uma das maiores diferenças entre a vida aqui e nos Estados Unidos é que a nossa idade para beber é dezoito, e maconha é muito, muito comum aqui, mesmo sendo ilegal. Cresce livre e selvagem em todo o país, então é mais barato que beber e a maioria das pessoas aceita bem. Então, pra mim, descobrir o metal e ir aos shows e etc sempre esteve acompanhado pelo cheiro da erva e por muita cerveja. Queria acrescentar que se você pedisse para outro Sul-Africano dscrever vida aqui você provavelmente teria uma história completamente diferente. É um país enorme com uma população grande e diversa, as pessoas vivem vidas diferentes e em circunstâncias diversas. É importante sabe rque essa é a apenas a minha perspectiva e não um tipo de verdade absoluta.

Assim como você, eu também cresci em uma comunidade Cristã fundamentalista. Como é isso pra você? Nos Estados Unidos, Cristãos e o metal brigaram duas décadas atrás e agora coexistem de má vontade. As pessoas estigmatizam o metal aí? Eles acreditam, assim como os nossos fundamentalistas acreditavam (e muitos ainda acreditam) nisso de invocação de espíritos e coisas assim? Duncan Park: A cena de

metal aqui ainda é vista como bem maligna. Eu conheço pessoas que perderam empregos por vestirem camisas de bandas e eu apanhei uma vez por isso. Teve um moleque que cortou os colegas de escola até a morte com uma espada, vestindo uma máscara do Slipknot uns anos atrás, e foi visto como sendo um ritual satânico/de metal. O senso comum é de que metaleiros se deixam possuir pelo Diabo e que isso significa que gostar de metal é estar numa gangue que tem um processo de iniciação envolvendo assassinato, drogas, orgias e tudo o mais. O negócio é que existe bruxaria no país. Assassinatos Muthi (ou Muthi Murders, se quiserem usar o termo original) é quando alguém é assassinado e os corpos são usados para fins medicinais ou mágicos. Metaleiros são relacionados à bruxaria, às vezes. Também tem metaleiros racistas da extrema-direita que não ajudam a mudar essas percepções. A igreja e os pastores odeiam metal e normalmente relacionam com bruxaria, invocação de espíritos malignos, assassinatos satânicos, orgias... Os pastores OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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ENTREVISTA DUNCAN PARK

DEMONS FROM THE DUNGEON DIMENSION!

‘Hillbilly Doom’ é saber que você pode ser pesado sem depender de uma distorção monstruosa.” Duncan Park, DEMONS FROM THE DUNGEON DIMENSION!

são como celebridades e têm muita influência, então o metal é inerentemente entendido como satânico e maligno. Mas tem um pouquinho de uma cena extrema! Bons locais são o Winston em Durban, Rumours em Joanesburg, Gandalfs na Cidade do Cabo, Slipstream em Grahamstown e alguns outros que não consigo lembrar. Em áreas rurais organizamos shows em fazendas com um gerador e um trailer de trator como palco, mas isso geralmente incluit odos os tipos de música, desde acústicos à rappers e punk rock. Qualquer coisa serve! Não tenho nenhuma foto, mas geralmente não tem mais de cinquenta pessoas – geralmente os músicos!

Fale um pouco do seu estilo. O que é “hillbilly doom”? Duncan Park: (Risos) Hill-

blly Doom.... Acho que vem do fato de eu sempre viver em uma

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área rural da África do Soul, no interior montanhoso e de florestas. Sempre fui mais um cara que toca violão, tocando folk, blues, música de raíz, hillbilly. Então pra mim é um atestado de quem eu sou e de onde eu vim. Mas também acho que fala sobre como a música soa. Doom não precisa necessariamente ser com afinações baixas e sonicamente pesado pra caralho. Também pode ter esse som mais metalico. Com There Was Ogres eu pensei se o som deveria ser sério e afinado baixo, com essa distorção pesada e destruidora do doom, mas decidi que seria mais cabreiro manter a afinação padrão e dar um som mais metálico e interiorano ao timbre da guitarra. Pensei nisso como algo único, diferente de eu ter abaixado tudo e colocado uma puta distorção. Então eu acho que “Hillbilly Doom” é saber que você pode ser pesado sem depender de uma

distorção monstruosa, e sim desenhando outros sons para complementar a música.

Fale um pouco sobre os lançamentos recentes – um LP e um Ep. Estou particularmente interessado em saber o que inspira suas músicas. Duncan Park: Bom, tudo do

Demons foca em temas fantásticos e metáforas, porque eu acho que sou bem nerd e gosto de fantasia. Isso me permite explorar outros pensamentos sem precisar deixá-los claros para todo mundo saber. Significa que as pessoas podem dar seus próprios significados às letras. Mas algumas letras de As the Crow Flies lidam com a condição social da África do Sul e em como eu lido com isso. Houve o apartheid até pouco tempo atrás e estas feridas ainda estão abertas. Tentar se entender com o nosso passado é incrivelmente doloroso e difícil.


FICHA ORIGEM

KwaZulu Natal, África do Sul

GÊNERO

Stoner/Doom Metal

As the crow flies Full (2016)

As pessoas ficam agressivas e defensivas. Muitas pessoas morreram por decisões políticas, a maioria do país não podia ter uma terra, estudar ou acumular qualquer quantia significante de dinheiro, enquanto viviam em uma sociedade baseada em supremacia branca. Agora temos grande desigualdade entre quem tem dinheiro, quem tem eduração, quem tem poder... Muitas pessoas ainda veem o mundo sob uma ótica de supremacia branca. Lidar com isso é muito, muito difícil. Em “As the Crow Flies” eu usei temas fantásticos e metáforas para pensar sobre essas coisas e viajar sobre isso de forma mais pessoal.

Nas letras, você abordar o legado de mitos e superstições da cultura ao seu redor? Duncan Park: Uma coisa

que tem forte influência é o fato de muitas pessoas genuinamente acreditarem e praticarem magia

e bruxaria. Não necessariamente magia negra – muitas envolvem ganhar dinheiro, trazer a pessoa amada de volta, ou mesmo aumentar seu pênis, mas é bastante comum e meio assustador. Algumas “magias” comuns são fumar cérebro de abutres para alucinar e ver os números da loteria, ou queimar o rabo de uma hiena do lado de fora da janela de alguém enquanto essa pessoa estiver dormindo, então eles respiram a fumaça e não vão acordar, então você pode invadir a casa e roubá-los. Algumas letras são referências diretas a histórias que amigos me contaram. Por exemplo, O tio de um amigo estava desaparecido por três meses e uma noite o encontraram vagando pelas ruas pelado e ele não conseguia lembrar o que aconteceu. Acreditaram que uma bruxa havia o capturado e o mantido prisioneiro para usá-lo em rituais. OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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ENTREVISTA DUNCAN PARK

DEMONS FROM THE DUNGEON DIMENSION!

THERE WAS OGRES CAPA EP 2016

Mas a mais assustadora aconteceu com outro amigo meu. Ele é um segurança, então ele vai bem tarde pra casa. Ele viu um homem e uma mulher descendo a rua, parecendo espalhar alguma coisa ao longo da estrada. Ele acordou a vizinhança, que ficou histérica e logo virou uma puta multidão. Eles ficaram violentos e meu amigo se trancou em casa. Pensaram que os dois pelados eram bruxos, e estavam com um pneu na cabeça. (necklaced, no original. Esse é um termo específico do apartheid, relativo a uma forma específica de assassinato). Se você não sabe o que isso significa: era muito comum na épo-

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ca de violência do apartheid. Um pneu vazio é enchido de petróleo e incendiado, depois colocado na cabeça da vítima. O pneu prende os braços enquanto eles queimam até morrer e não deixa que a pessoa seja capaz de cair e rolar pra apagar as chamas. Essas histórias e temas tem uma influência massiva nas minhas composições. Especialmente quando meus amigos têm esses tipos de encontros que mencionei acima. Em bandas como o Electric Wizard o Oculto é imaginado e romantizado porque está distante das memórias do passado. Aqui é parte da vida cotidiana.

Quais são os instrumentos, pedais e amplificadores que você usa? Duncan Park: Eita! (Risos)

Virtualmente, eu não tenho nenhum equipamento! Tudo o que eu tenho é uma guitarra, que é uma Epiphone Dot, genérico de uma Gibson ES-335, mas gosto do som. Tem esses humbuckers com um som denso e grosso,eu amo. Pra gravar eu tive que pegar um amplificador emprestado com um amigo. Esse amplificador este sempre por aí. A cabeça foi substituída e torcida por um antigo dono, e o alto falante também foi trocado e dá pra perceber que foi customizado a vida toda. Então eu não estou muito seguro sobre o que está lá dentro ou sobtre o que ele é, mas acho que faz um som legal. Tem um overdrive que eu usei em “As the Crow Flies”. Não tem baixo nas gravações, o que me deixa desapontado, mas nin-

guém nunca reparou, então acho que vou levando! A bateria que eu toco é um Linderland jazz kit dos anos 70, com chimbais Zildjan e Paiste tão velhos quanto. Meu equipamento é o fundo do poço e não é nem “meu”! Mas é porque a moeda aqui é tão fraca que eu não consigo comprar mais nada. Equipamentos são absurdamente caros! É tipo o salário de dois meses pra comprar um amplificador. Eu gostaria de gastar nisso, mas não tenho dinheiro nem pra comprar um pedal.

O que vem agora para o Demons from the Dungeon Dimension?Se você tivesse que fazer uma tour pelo continente, qual seria a melhor cidade pra tocar e a pior? Se você pudesse tocar fora da África do Sul, para onde iria? Duncan Park: Bom, tocando

no continente, eu gostaria de tocar em Gaborone, em Botswana. Não sei se você já viu na internet ou algo assim, mas eles têm uma cena de metal absolutamente maluca. Tem muita gente tocando doom. A pior eu não tenho certeza, mas talvez uma conservadora, tipo Bloemfontein. (Risos) não sei nem se eles tocam lá algo lá. Internacionalmente eu gostaria de tocar em Seattle, nos EUA, porque eu gosto de bandas de doom de lá, principalmente Bell Witch. Também gostaria de tocar no Reino Unido, onde parece que as bandas têm a melhor recepção. Mas não sei. Qualquer lugar em outro continente seria fantástico!


Acho que podemos terminar com algo engraçado, tipo, qual sua cerveja preferida? Qual é a bebida pra quando as pessoas querem ficar mal? Duncan Park: A minha cer-

veja preferida se chama Castle Milk Stout e se você quiser realmente apagar a memória, temos um tipo de moonshine (bebida destilada, altamente alcoólica, produzida geralmente de forma ilícita) feita de naartjies –vocês chamam de tangerinas? São como laranjas. Se chama Mampoer, e é mais áspero que a bunda de um

texugo. É forte demais e os resultados variam porque é feito geralmente em casa. Mas somos um país que bebe vinho e cerveja, a menos que tenhamos pecados pra esquecer. Tem sempre um Mampoer pra isso.

Muito obrigado pela entrevista!

Obrigado pelo tempo para conversar! OD | A

LINK

https://demonsfromthedungeondimension. bandcamp.com/

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RESENHAS FESTAS

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PHOTO BY: DANIELA COSTA

1

POR | Gustav Zombetero

M

ais um sabadoom em que eu me lancei a cruzar Sampa, desta vez, meu destino foi a cidade do Arujá. Localizada no leste da Grande São Paulo, onde rolou a 1ª edição do Doomed Planet Fest, organizada pelo vocalista/guitarrista dos Fallen Idol, Rod Sitta. O festejo começou cedo, as 20hrs, todas as bandas estavam no recinto, porém, lá pelas 22:30 que a primeira banda tomou seu posto, é um lance cultural da cidade o fato dos shows começarem bem tarde por lá. A primeira banda a se apresentar foi as HANNAH, um duo de irmãs portuguesas ancoradas em Santos, no litoral paulista - Ana Sombra; guitarra/ vocal e Deborah; bateria. O show foi baseado no que virá a ser o 1º álbum do duo, ainda sem previsão de lançamento. Segundo elas mesmas, estavam sem ensaiar por 2 meses, isso fez com que em certos momentos a música delas descambassem pra uma jam, o que ficou bem foda. A música delas é irrotulável, é algo torto, agressivo, lento, psicodélico, etéreo, são inúmeras influências no mesmo

caldeirão. Elas terminam o seu set ovacionadas pelos presentes, uma apresentação que nos deixou vidrados. Logo em seguida, o trio paulistano SUPERCHIADEIRA assumem o palco, os caras tocam aquele Stoner Rock anos 90, com algo de 70 e da malandragem brasileira, aquela ginga só nossa. Apresentaram faixas do seu EP recém lançado e mais umas inéditas, um set enérgico, chapado e dançante, foi bem redonda a apresentação dos caras. Não posso esquecer de ressaltar que a banda é do time das que cantam em português. É chegada a hora dos anfitriões subirem ao palco, com um play lançado, os FALLEN IDOL executam um Doom Metal tradicional com influências do Heavy Metal clássico, os caras dividiram o set em músicas do debut e músicas do seu 2º play que está prestes a ser lançado. O vocalista da banda, Rod Sitta, mesmo com a garganta zoada assumiu a bronca e foi até o fim, aliás, o fim da apresentação dos caras foi absurda, Ivi Kardec (da banda Beyond the Grave) subiu ao palco e assumiu a guitarra, dessa brincadeira os caras fizeram um interlúdio entre Demon’s Gate, Bewitched e Solitude dos Mestres

JUN 2016

1 DOOMED PLANET FEST GEREBA’S ROCK BAR ARUJÁ - SP

Denial of Light A Fallen Idol A Superchiadeira A Hannah

Candlemass, um encerramento verdadeiramente épico. Para findar a noite, é a hora do rancor e a crueza dos DENIAL OF LIGHT, outra banda da capital. O quarteto tocou as duas faixas da sua Demo e mais algumas inéditas, são duas guitarras ásperas e cortantes, a cozinha massiva e horas arrastada, horas enérgica, os caras banharam o ambiente já escuro com mais ‘falta de luz’. Partindo de algo entre o Doom/Death dos anos 90 (fortemente influenciados pelos Paradise Lost dessa época) e rigidez do Crust, vocais rancorosos e raivosos, ver/ouvir o som desses caras é voltar no tempo, foi uma apresentação destruidora. Já era madrugada quando as luzes do palco foram acesas e voltamos a si, uma madrugada digna do empenho e da qualidade das bandas nacionais, que mais roles desse aconteçam lá no Arujá. OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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RESENHAS FESTAS

POR | Matheus Jacques

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ando-se o fim do Megalodoom Fuzztival com êxito, lá pelas 8 da noite uma galera (eu incluso) embarcou na “Van Chapada da Felicidade”, uma opção para quem pretendia fazer o percurso/maratona MegalodoomMedusa indo de Brusque a Florianópolis. Após um bemhumorado e descontraído percurso, com pausas no meio do caminho que envolveram um mercado e um dinossauro, por volta das 11 da noite a galera chegou lá em Florianópolis, na baita casa de shows Célula Showcase, palco de apresentação de bandas como Kadavar, Radio Moscow e Stoned Jesus e que naquela noite receberia o primeiro festival de Stoner Rock de Florianópolis. A casa contava com um número admiravelmente grande de pessoas nesse horário, algo a se respeitar dado o clima bem frio que predominava, mostrando que além de qualquer “plateia cativa” da casa, a ótima divulgação que permeou desde o início essa empreitada da Saragaço (representada

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JUN 2016

MEDUSA STONER FESTIVAL GEREBA’S ROCK BAR ARUJÁ - SP

Space Guerrilla A Red Mess A Muñoz A Hammerhead Blues

por Christian Fedrizzi) e da Batmacumba Cultural Independente (representada pelo Liu Impalea) se fez muito recompensada e funcionou pra tirar o pessoal de casa e conferir o tal “stoner rock” tomando o Célula de assalto. Por volta de Meia Noite iniciaram-se as atividades do festival,

com os paranaenses do Red Mess dando o pontapé primordial no que seria uma grande noite de rock lisérgico e pesado. Infelizmente precisei sair antes do derradeiro show, o excelente duo de heavy blues Muñoz (mas já conferi pelo menos cinco shows dos caras em Floripa, e já fica a recomendação: se puder ir conferir, VÁ. Sempre eletrizante e visceral, sempre foda), então fica minha impressão dos três primeiros shows: Red Mess, Hammerhead Blues e Space Guerrilla. De qualquer forma, peguei umas palavrinhas sobre o festival com Mauro Fontoura, vocal e guitarra na Muñoz, que estarão no fim da matéria.

RED MESS Ali por volta de meia noite e uns trocados, entrou no palco pra iniciar a chapação do Medusa Fest o trio Red Mess, formado por três jovens lá de Londrina e que destila um stoner/doom rock com uma verve lisérgica bem demarcada. Como principal característica a se ressaltar, definitivamente a energia da juventude e a empolgação incontida em fazer uma apresentação marcante e desenrolar um


Se liguem nas coisas legais que são feitas perto de onde você mora.” Lucas Klepa, RED MESS

som bem “de boa” definem esses caras. Durante cerca de 30 ou 40 minutos, os guris apresentaram músicas de seus dois trampos, os EPs “Crimson (2014)” e “Drowning In Red (2015)”, e pelo menos mais uma faixa nova, “Enemies”, que soou muito bem ao vivo. Alternando entre momentos mais voltados para o som “reto” e pesado, e outros mais arrastados e condensados na psicodelia, a banda jogava para a plateia riffs e riffs, e passagens sólidas e marcantes, com uma divisão bacana entre os bons vocais de Thiago Franzim (guitarra) e Lucas Klepa (baixo). Apesar da não muita idade e de um tempo relativamente curto de banda, o trio (completado pelo baterista Douglas labigalini) mostrou um entrosamento muito positivo e uma energia no palco a se res-

peitar. Como destaque, as ótimas faixas “Trapped in my mind” do primeiro Ep e “Daybreak’s Dope” do segundo, além de “Enemies”, que deve constar num vindouro trampo novo dos guris. Grande abertura para a noite de rock torto e viajante no Célula Showcase.

ENTREVISTA Matheus: Cara, gostaria que falasse um pouco sobre a experiência com o Medusa Stoner Fest: como e quando veio essa convocação, qual foi a tua impressão da galera presente e qual teu feedback com a apresentação da própria Red Mess? Foi satisfatório? Klepa: Fomos chamados

ainda no começo do ano, talvez

em fevereiro, para um festival de stoner em florianópolis. Topamos sem hesitação. Acho que o nosso som chegou aos ouvidos do Christian e consequentemente dos outros produtores por meio do Mauro, do Muñoz. Logo descobrimos que nossos amigos do Stolen Byrds tinham um show marcado em florianópolis, fechou o bonde paranaense na residência Muñoz. O Medusa foi um evento muito especial para a gente, conheci um monte de gente muito legal e o público foi muito receptivo para com o som da banda.

Matheus: Em 2014 vocês apareceram ai com "Crimson", um baita Ep de quatro faixas que já demonstrava uma sonzeira muito promissora, com uma união do doom OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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RESENHAS FESTAS

mais lisérgico e de momentos de uma verve mais para frente, mais hard rock.Em 2015, foi a vez de um trampo com mais duas faixas novas, "Drowning in Red", que mantiveram o bom padrão. Ja planejam algo a mais para 2016, como indica inclusive a aparição de uma faixa nova no setlist, "Enemies"? Thiago: No momento estamos em processo de composição de músicas que farão parte do nosso primeiro álbum, do qual a gravação está planejada para o segundo semestre de 2016. Lançamos no youtube uma demo, gravada ao vivo, das 5 primeiras faixas do álbum, que são músicas que já estão no nosso repertorio e tocamos nos shows. A música “Enemies” é a única que tocamos que não está gravada em estúdio ainda, mas estará presente no álbum com certeza.

Vocês são todos muito jovens, pelo que sei você é o mais velho e tem 22. Começaram a tocar juntos com que idade e até que ponto essa juventude já atrapalhou o desenrolar da banda estrada afora? Douglas: Eu e o Thiago toca-

mos juntos desde os 14, e desde os 15 com o Klepa. O que mais nos atrapalhou durante a nossa menoridade foi a questão de fechar shows em bares, até mesmo aqui em Londrina. As opções eram li-

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mitadíssimas, nos restando alguns bares e eventos que nos salvavam e deixavam a gente tocar e mostrar o som. Com o tempo isso foi melhorando e as portas começaram a se abrir mais, possibilitando a gente a fazer mais shows por aí.

Cara, deixe uma mensagem final ai pros que curtem um stoner rock massa como o de vocês, e recomende uma banda que você mesmo ouça e goste! Klepa: Se liguem nas coisas

legais que são feitas perto de onde você mora. Porém, deixarei aqui uma banda inglesa. Aos que curtem um som de doido eu vou deixar um clássico progressivo, acredito que vá agradar o ouvido de chapeiros desandados. O álbum de 1981 do King Crimson que marca o início de uma nova fase da banda depois de longos anos de recesso: King Crimson Indicipline.

HAMMERHEAD BLUES

Numa noite em que apenas os irmãos Fontoura da Muñoz Duo destoaram das formações clássicas de power trio, o segundo deles a entrar em campo lá pela uma da manhã foi um lá de São Paulo, formado pelos idos de 2014, a Hammerhead Blues. Mas ao contrário da real data de formação, a banda demonstrou durante toda sua apresentação bem mais tempo de estrada.

SET LIST RED MESS

1 - Snowglasses 2 - Illusion 3 - Into The Mess 4 - Disillusion 5 - Enemies 6 - Daybreaks Dope 7 - Trapped in My Mind

Com um Ep datando de 2015 produzido pelo próprio baterista, William Paiva, a Hammerhead Blues, que já conta com uma extensa folha corrida de apresentações na carreira, apresentou à plateia do festival uma união madura e animadora de elementos mais atrelados ao Classic Rock, ao “hardão 70” com toques de blues e também envoltos em uma roupagem contemporânea que os situa muito bem entre essa nova safra do rock autoral nacional, no cenário Stoner Rock. Riffs rasgados e precisos e uma condução competentíssima do trampo de baixo, méritos de Luiz Felipe Cardim e Otávio Cintra (também vocalista da banda), se juntavam ao excelente trampo de bateria de William, com uma pegada encorpada e marcante. Ouvir o som dos caras é quase como colocar um pé de volta nos anos 70, mas sabendo que o outro ainda está lá bem firme em 2016, dando o alívio de ver que existe um bom e honesto resgate das deliciosas sonoridades antigas sendo feito. Em nenhum momento o som dos caras soa mero OD | A


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RESENHAS FESTAS

pastiche, cópia ou pura reciclagem; ao contrário disso, a Hammerhead Blues consegue pegar os elementos já existentes e dar sua própria cara a eles, fazendo essa conexão direta entre a década de 70 e o ano de 2016. Como destaque do show dos caras, vou ressaltar a incrível faixa “Moontale” e a igualmente pesada e empolgante “Low”, ambas presentes no Ep de estreia dos caras.

ENTREVISTA Matheus: E ai, Otávio! Deixo primeiramente os parabéns pelo show de primeira no Medusa Stoner Fest, muito foda. A apresentação de vocês lá demonstrou afinidade de veteranos, de longo tempo de estrada, apesar da banda existir apenas desde 2014. Vocês já tocavam há muito tempos juntos antes disso, já tinham outros projetos, como rolou?

Otávio: Opa, valeu pelo

elogio! haha Eu e o Luiz tocávamos juntos já há muitos anos em uma banda chamada Electric Age e conhecemos o Willian enquanto participávamos de um festival com a outra banda dele, a Leeds, que continua na ativa. Respeitamos muito o trabalho uns dos outros e, quando saímos da nossa então banda, eu e o Luiz o chamamos para montar um projeto, que acabou virando a Hammerhead Blues.

Vocês vêm de algumas outras datas em RJ e SP, incluindo o Solsticio do Som em Petrópolis, e agora caem aqui pros lados do Sul, em Florianópolis. É a primeira vez que vocês vêm tocar aqui em Santa Catarina, ou mesmo no Sul do país em geral? E qual a impressão de vocês sobre a cidade e sobre o Medusa Stoner Festival?

HAMMERHEAD BLUES no Medusa Fest.

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O festival foi grandioso, todas as bandas foram sensacionais e o célula estava fervendo.” Otávio Cintra, HAMMERHEAD BLUES

SET LIST

HAMMERHEAD BLUES 1 - Low 2 - Vultures 3 - Morning breeze 4 - Hero 5 - Age of void 6 - Rat Drifter 7 - Moontale

Otávio: Foi a primeira vez de todos nós na região sul do Brasil! Foi uma ótima experiência.... O festival foi grandioso, todas as bandas foram sensacionais e o célula estava fervendo. Conhecemos pouco da cidade, mas conhecemos o público da noite que fez um espetáculo à parte, batendo cabeça a noite toda. Gostamos muito e pretendemos voltar assim que possível! O som de vocês remete ao hard rock cru e visceral dos anos 70, ao rock´n roll e ao blues, e ao mesmo tempo mantem um pé no contemporâneo, não se tornando defasado e assimilando bem o cenário atual. Quais são os sons, tanto "das antigas" quanto os dos tempos mais atuais, que têm feito a cabeça de vocês, até pra alguma eventual inspiração?


SPACE GUERRILLA no Medusa Fest.

Otávio: Nós somos muito fãs do hard rock clássico dos anos 70 e final dos 60 como Led Zeppelin, Black Sabbath, Mountain e outras psicodelias e blueseiras como Allman Brothers e os blueseiros das antigas, mas ao mesmo tempo somos grandes admiradores de bandas atuais, que têm chegado a sonoridades incríveis como Mars Red Sky, Radio Moscow e Graveyard e têm sido muito influentes no que fazemos! Nós bebemos de muitas fontes diferentes e cada dia nós adicionamos elementos diferentes. Pra finalizar, dá pra soltar alguma novidade sobre material novo, sobre mais alguma tour bacana que esteja pra acontecer, e por aí vai? Otávio: Estamos no final da

pré-produção do nosso primeiro full lenght... muitas músicas nós já executamos nos shows das últi-

mas turnês, mas ainda tem muita coisa bem diferente por vir. Ainda não temos uma data definida, mas estamos muito orgulhosos com o material e ansiosos para lançar! Quanto a turnês, nosso próximo passo é por Minas Gerais! Logo anunciamos mais detalhes mas vai ser uma boa trip.

SPACE GUERRILLA

Mal o Hammerhead Blues havia saído do palco, deixando uma plateia animada com tamanha qualidade de som, a Space Guerrilla já adentrava o cenário para jogar suas viagens cósmicas em forma de música pela segunda vez no mesmo dia. Dessa vez, seria Floripa a receber as ondas de derretimento cerebral dos caras, e o negócio se cumpriu mesmo: mais um arregaço. O trio gaúcho composto por Ângelo, Cristiano e Gustavo mais

uma vez se juntou para jogar seu rock psicodélico instrumental monolítico na plateia, a exemplo do que havia feito algumas horas antes em Brusque. Com um setlist igualmente foda como o do show anterior, o Space Guerrilla disparava suas passagens instrumentais reverberantes com a precisão de um raio laser, inebriando e chapando a galera presente com a propriedade de quem realmente sabe o que está fazendo. Linhas vibrantes de baixo se juntavam a um peso psicodélico absurdo da guitarra e às porradas acachapantes na bateria, como se a construir o ressoar de uma Nave Mãe sobre um indefeso planeta. O show dos caras comprova a qualidade encontrada na audição de “Boundless”, EP de estreia dos sujeitos em 2014, e que, imagino eu, será sucedida pelo próximo trampo deles, o full “Oceans of Becoming”, que virá à tona ainda esse ano. OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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RESENHAS FESTAS

Pra mim, que precisei sair antes dos grandes caras da Muñoz encerrarem a noite, esse foi um fechamento magistral para o que se mostrou um presentão para os fãs de rock psicodélico, torto e arrastado de Florianópolis, um festival bem organizado, muito bem divulgado e que contou com duas coisas essenciais: um line-up de respeito e uma galera que aderiu em massa à ideia e compareceu para prestigiar a primeira noite stoner da cidade. Que venham muitos mais como esse, para derreter mais cérebros e fazer mais adeptos do stoner rock!

ENTREVISTA Matheus: Dai, cara! Vocês adentraram o dia 19 de junho com duas grandes apresentações feitas em Santa Catarina, uma de tarde em Brusque e uma de madrugada em Florianópolis. A sensação de dever cumprido e a satisfação com os dois festivais, Megalodoom e Medusa, superou a canseira? (risos) Cristiano Muniz: Sem dúvida, foi uma satisfação imensa tocar pela primeira vez pro público catarinense. Galera animada agitando sem parar durante os shows, essa energia contagiou a gente em cima do palco e com certeza se refletiu nas nossas performances. Os produtores dos dois festivais estão de

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SET LIST

SPACE GUERRILLA 1 - Interplanetary Violence 2 - Deep Space Cruising 3 - Vortex 4 - Jurassic Grass 5 - Event Horizon 6 - Harmonic Oscillator 7 - Supercluster 8 - Lift Off

parabéns pela organização e cuidado com as bandas, nos sentimos realmente acolhidos pela gurizada de Santa Catarina. Também foi demais a interação e a união das bandas, a maioria do pessoal nós já tínhamos contato virtual e finalmente pudemos nos conhecer pessoalmente. Aproveito aqui pra deixar um salve pra galera das bandas Hammerhead Blues, Muñoz, Red Mess, Ruínas de Sade e Tropical Doom. Foi uma honra dividir palco com esses monstros. Certamente, o grande mérito desses rolês foi conseguir juntar algumas das melhores bandas do gênero no Brasil. Tudo foi realmente do caralho, um fim de semana épico e histórico para o stoner rock nacional. Voltamos pra casa com o desejo de retornar em breve e reencontrar essa galera doidona do rolê barriga-verde [rs].

O repertório de vocês nos shows misturou faixas do Ep de estreia "Boundless", de 2014, e do novo disco "Oceans of Becoming". Sobre esse disco novo, como foi o processo de composição, com quantas faixas deve contar o álbum e qual a previsão de lançamento? Rolará uma mídia física dele? Cristiano: O disco novo está

em fase de finalização, em breve será anunciada a data de lançamento e os shows de divulgação. O processo de composição do "Ocean of Becoming" reflete uma evolução no trabalho da banda, dando continuidade à saga psicodélico-espacial iniciada no EP "Boundless". Nesse disco novo, tivemos bastante cuidado com o trabalho de pré-produção e estruturação das músicas, buscando trazer pra gurizada um trampo ainda mais doido que o primeiro.

O cenário do stoner por essas bandas tem se desenvolvido consideralmente nos últimos tempos. O Paraná já contava com seus próprios fests (a exemplo do Red Fuzztival e do Stolen Fuzztival), e o estado de vocês, o Rio Grande do Sul, tambem (como o Stoner Fest e o Stoned to Death). Agora, foi a vez de Santa Catarina botar na conta dois eventos de uma só vez, o Megalodoom


Fuzztival em Brusque e o Medusa Stoner Fest la na capital, Floripa. Como foi a experiência de vocês com os dois festivais e como rolou toda essa parada de vocês cairem aqui pros lados de Santa Catarina? Cristiano: Ficamos muito felizes com o desenvolvimento da cena stoner no sul do Brasil, com o surgimento de bandas e festivais importantes nos últimos dois anos. A proliferação de eventos de stoner rock é resultado dessa movimentação das bandas e dos produtores, sempre pilhados em impulsionar os rolês. Era pra ter rolado nossa ida à Santa Catarina ano passado, no festival Congresso Bruxólico, mas devido a alguns contratempos tivemos que cancelar nossa participação. Agora em 2016 surgiram esses dois convites quase simultâneos pro Megalodoom Fuzztival e pro Medusa Stoner Festival, isso sem contar na galera que já vinha falar conosco pedindo show da Space Guerrilla em SC [rs]. Então veio na hora exata esses rolês do último fim de semana, e já estamos com vontade de voltar pra tocar o terror espacial pro povo que curte brisa cósmica e rock chapado.

Pra fechar, qual a tua visão sobre o atual panorama do rock autoral no país

e, mais especificamente, sobre o Stoner Rock? Você vê o lance evoluindo e as "cenas" se integrando de forma satisfatória? Cristiano: Na nossa visão,

o rock autoral está voltando a ter evidência, impulsionado pela cena underground, já que o mainstream há muito tempo tem sido relutante em abrir espaço às bandas de rock com trabalho próprio. Então é isso aí, toda uma cena independente em que as bandas e os produtores têm que dar altos corres pra conseguir montar e manter uma banda, gravar material, produzir shows e festivais, tudo no suor e na raça, muitas vezes sem um pila de orçamento (tirando grana do próprio bolso, como é nosso caso e de muitas outras). Por esse motivo, a união entre bandas, produtores e públicos que compõem as diferentes "cenas" locais é fundamental pra gerar essa integração e daí sim poder falar numa "cena nacional" de stoner rock. Penso que no momento atual estamos vivendo uma aproximação dessas diferentes cenas regionais, com festivais surgindo em diferentes Estados. Nesse sentido, só temos que saudar iniciativas como o Megalodoom Fuzztival e o Medusa Stoner Festival, que muito contribui para o fortalecimento do rolê stoner brasileiro. OD | A

Galera animada agitando sem parar durante os shows, essa energia contagiou a gente em cima do palco e com certeza se refletiu nas nossas performances.” Cristiano, SPACE GUERRILLA

facebook.com/OctoberDoomOfficial

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RESENHAS FESTAS

MUNÕZ ENTREVISTA Matheus: E ai, Mauro! Como surgiu esse convite pra vocês se apresentarem no Medusa Stoner Festival e em que momento? Mauro: Essa foi mais uma

grande produção da Saragaço que participamos. Desde que nos mudamos pra Floripa, a um ano atras, temos participado dos principais eventos deles. Uma parceria que se fortalece cada vez mais e está apenas começando.

Cara, o som de vocês mostra influências óbvias do blues/ blues rock, certamente constando na formação e construção de vocês dois, tu e teu irmão Samuel, como músicos. Mas diferindo um tanto do blues de caras como B.B.King, Buddy Guy e outros mestres do blues mais "clássico", o som de vocês tem um aspecto mais "encorpado", mais pesado, algo que uns chamam de "heavy blues", outros de "stoner blues" e por aí vai. Esse lance de pesar um pouco mais a mão no som vem desde sempre ou tem um mo-

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mento onde vocês começam a assimilar mais elementos diferenciados, mais peso, mais lisérgica no som que fazem? Mauro: Já tivemos várias fases e bandas ao longo da nossa vida musical. Sempre curtimos vários tipos de som, estudamos country, blues e jazz por um tempo com outras bandas. Mas o som pesado sempre foi a principal influencia no nosso processo de composição. O blues pesado, o rock psicodelico, riffs sujos e grooves marcados tem funcionado em nossas composições e temos percebido várias novas possibilidades.

Ja vi uns cinco shows de vocês em Florianópolis. Pra mim, basicamente todos eles mantiveram duas características: um set-list padrão com poucas alterações e uma dose maciça de peso e muita energia, com apresentações sempre explosiva e contagiantes. Você diria que, definitivamente, Muñoz é uma banda pra sacar plenamente ao vivo? Mauro: Nosso show se difere

das gravações por ser mais pesado e por tocarmos algumas músicas que não foram gravadas. Mas al-

O som pesado sempre foi a principal influencia no nosso processo de composição.” Mauro, MUÑOZ

gumas músicas dos álbuns nunca foram tocadas ao vivo, por funcionarem melhor cm a estética de estúdio. Então, acho que o som deve ser sacado das duas formas.

Finalizando: vocês têm um álbum novo à vista, que deve rolar ainda esse ano e suceder o ótimo "Nebula'. Já da pra adiantar alguma coisa dele, se já estão executando sons novos vivo, se vai rolar algum single novo em breve, coisas do tipo? Mauro: Estamos no processo

final de composição das músicas. O álbum será captado em nossa casa em julho, em parceria com o Rafael Vaz, que produziu o Nebula e o EP de 2013. Em agosto deve sair algum single e logo depois o lançamento. OD | A


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RESENHAS SPACE GUERRILLA no Megalodoom Fuzztival.

FESTAS

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JUN 2016

FUZZTIVAL MEGALODOOM GEREBA’S ROCK BAR BRUSQUE - SP

Space Guerrilla A Ruínas de Sade A Tropical Doom

POR | Matheus Jacques

T

endo sua concepção e sua produção idealizadas há alguns meses por Paulo Vitor (baixista da banda Ruinas de Sade) e seu amigo Caio Souza, e passando desde então por uma grande campanha de divulgação nas redes sociais, se desenrolou no Container Bar em Brusque no último sábado, dia 18 de junho, a primeira edição do Megalodoom Fuzztival. O festival, o primeiro na cidade tendo como mote o stoner rock, o rock lisérgico, torto e desvirtuado, reuniu três nomes

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de destaque do cenário no Sul do país: os psicodélicos viajantes espaciais gaúchos da Space Guerrilla, os acelerados e densos paranaenses da Tropical Doom e a prata da casa Ruinas de Sade, sediando o evento e recebendo os visitantes com seu doom metal chapado e fulminante. O evento rolou de forma muito bacana, contando com o bom espaço para apresentações do tradicional pico em Brusque e com três shows de primeira linha.

SPACE GUERRILLA

Iniciei a trip de sábado, que tinha como destino final outro


PHOTO BY: LEANDRO WISSINIEWSKI

SET LIST

SPACE GUERRILLA

festival de stoner rock em SC, o Medusa Stoner Festival (sim, dois no mesmo dia e estado, porque um só não basta), rumando para Brusque. Devido a alguns atrasos na estrada, previsíveis contratempos de percurso, chegamos no local com o som já desenrolando bonito. No palco, a Space Guerrilla já liberava suas primeiras ondas cósmicas de lisergia destilando o fino do stoner instrumental psicodélico e entorpecente. O trio formado em 2013 na capital gaúcha por Cristiano, Ângelo e Gustavo debutou em 2014 com seu Ep “Boundless”, uma sólida peça de rock psicodélico

com temática sci-fi que atraiu atenção de diversas mídias e plataformas. Nos últimos tempos, os caras vêm divulgando em seu repertório algumas novidades do seu vindouro álbum, “Oceans of Becoming”, e algumas delas se mesclaram ao primeiro Ep tocado na íntegra no show. “Supercluster”, primeiro single liberado do novo álbum, se mostrou um verdadeiro arregaço ao vivo ao se juntar com verdadeiras pedradas do primeiro trampo dos caras, como as ótimas “Lift Off” e “Interplanetary Violence”. O derretimento vinha em camadas e mais camadas através de um trampo muito coeso formado pela pre-

1 - Interplanetary Violence 2 - Deep Space Cruising 3 - Vortex 4 - Jurassic Grass 5 - Event Horizon 6 - Harmonic Oscillator 7 - Supercluster 8 - Lift Off

sença pulsante e marcante do baixo, linhas inebriantes e sinuosas de guitarra e uma pegada nervosa na bateria. Os caras simplesmente se entendem perfeitamente ao vivo, e o resultado é realmente de outro mundo, assim como a provável inspiração para a sonoridade do trio. Satisfação muito mais que garantida nos cerca OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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RESENHAS FESTAS

de 40 minutos de apresentação dos caras. E na sequência tinha Tropical Doom.

TROPICAL DOOM Dando sequência à tarde viajante de muito som chapado e pesado, entraram em campo após alguns minutos os paranaenses da Tropical Doom. Diferindo dos delírios psicodélicos e espaciais da Space Guerrilla, o quarteto de Curitiba trouxe à tona um stoner mais orientado ao hard rock e metal, mais “porrada”, mas logicamente cedendo um muito bem-vindo espaço aos elementos sabbathicos e ao entorpecimento, e também demonstrando afinidade com o que se pode denominar desert rock, deixando transparecer de certa forma influências de bandas como Queens

of the Stone Age. Fazendo uma apresentação muito correta e vibrante, o grupo liderado por João Farah segurou exemplarmente as pontas e misturou petardos de seus dois trabalhos, o full homônimo do ano passado e seu mais recente trampo, o Ep “Mangue”, desse ano. O som “quente” e realmente mais tropical, se assim pode-se dizer, funcionou muito bem para manter completamente ligado o bom público presente no Container Bar, que ainda veria pela frente mais uma apresentação, o derradeiro encerramento do evento pelas mãos dos nativos Ruinas de Sade. Como ponto alto do show, gostaria de destacar, entre outros sons, “Down in Peña”, com uma excelente execução ao vivo carregando ecos de Black Sabbath e Queens of the Stone Age.

RUINAS DE SADE Com dois bons shows já executados, coube à banda brusquense Ruinas de Sade encerrar

PAULO VITOR (Ruinas de Sade) E CAIO, organizadores do Megalodoom.

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SET LIST

TROPICAL DOOM 1 - Roadikill 2 - Peña 3 - Hot Beer / Sacred Sip 4 - Far Sight 5 - Among 6 - Date Murder 7 - Jellyfish 8 - Lines 9 - Red Light 10 - Mute

de forma exemplar o festival. Jogando em casa, o quarteto de doom metal canábico e visceral, ora mais entregue ao arrastamento, ora experimentando passagens mais aceleradas e enérgicas, fez muito mais. Fez realmente bonito. Com muita eficiência e domínio de campo, os caras entregaram uma apresentação de primeira, que nem um pequeno contratempo com um microfone defeituoso conseguiu chegar perto de arranhar. Despejando riffs e mais riffs gordurosos e densos, tendo como pilar uma cozinha eficiente e segura, e contando com um bom vocal muito condizente com a proposta de som do grupo (e em português, o que considero um diferencial e um baita destaque!), além de ótimas letras, a Ruinas de Sade fez as honras da casa com muita qualidade e jeito de veterana. Tocaram na integra o seu Ep (ou full, levando em conta que apesar de apenas 3 faixas, o trabalho soma mais de 30 minutos de duração) “Ruinas de Sade”, que já arrancou um


SET LIST

RUINAS DE SADE 1 - Funeral do Sol 2 - Divindade Abissal 3 - Cadáver da Terra 4 - Hammer of Witches (faixa nova)

belo acerto com o selo americano Swamp Metal Records, da Georgia, e ainda apresentaram a estreia da ótima faixa “Hammer of Witches” encerrando a apresentação, a primeira (pelo que me consta) em inglês. De forma sólida, madura e empolgante, os caras da banda Ruinas de Sade deram números finais ao evento com um positivo saldo de muitas cabeças balançando, um feedback muito bacana do público, muita vibração e a sensação de dever cumprido após o desenlace correto do festival. O cast da primeira edição do festival Megalodoom juntou com sabedoria e correção elementos associados ao stoner: a verve psicodélica e lisérgica, o toque

TROPICAL DOOM no Megalodoom Festival.

mais orientado ao hard rock, a densidade e lerdeza do doom metal. Três ótimas escolhas de banda para um festival que, seguindo dessa forma, demonstra futuro. No mais, como elementos bacanas/fundamentais, destaco a boa organização e o bom espaço da casa, a bem-vinda e interessante presença de última hora de um estande de artigos de uma marca de “skate shop” e a opção de entrega de alimentos não perecíveis e agasalhos como parte da entrada no evento. Como mínimo ponto negativo, a perda do primeiro som do Space Guerrilla pelo atraso na estrada. Mas tudo bem, afinal ainda rolaria mais um show dos caras lá em Florianópolis à noite... OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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&

Apresentam

Hard’n Slow Brazilian Compilation

Uma coletânea criada para destacar alguns dos lançamentos do primeiro semestre de 2016 https://www.facebook.com/OctoberDoomOfficial/ https://www.facebook.com/SUDORDER https://octoberdoom.bandcamp.com/


2016 - I


RESENHAS

ALBUM DO MÊS JUL2016

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FICHA ORIGEM

Recife, Pernambuco

GÊNERO

Stoner Rock

CURRENT MEMBERS

Junior Supertramp Guitarra/voz Raphael Dantas Bateria Francisco Olay Baixo

POR | Matheus Jacques

E

mbebido em punk rock, metal e fúria rock´n roll, “Too loud is not enough” é um daqueles discos ao qual se adequaria perfeitamente uma etiqueta “Recomendado ouvir no máximo do volume”, bem em evidência na frente do álbum. A sonoridade praticada pelo trio pernambucano nesse álbum é permeada por riffs impactantes, melodias fortes e retumbantes, e por uma energia admirável que só faz ressoar em cada uma das sete faixas da bolacha. Sem fazer concessões a qualquer possibili-

dade de “suavizar” ou tirar o pé do acelerador, o álbum de estreia da Mondo Bizarro não é muito recomendado para quem deseja curtir a brisa numa vibe mais contemplativa, mas é perfeito para qualquer um que deseje tocar o terror” e simplesmente abraçar a causa do “Rock porra louca” com o máximo da paixão. E essa é uma das palavras-chave para o álbum: paixão. Apenas citando, as faixas “Down on Me”, “Moreless” e “Mad” representam o espírito tresloucado do som dos caras e podem dar uma ótima amostra do que esperar de “Too Loud is not enough”. OD | A facebook.com/OctoberDoomOfficial

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RESENHAS

POR | Matheus Jacques

ALBUM

R

DO MÊS JUL2016

MONDO BIZARRO TOO LOUD IS NOT ENOUGH

2016

RECIFE, PERNAMBUCO 1 - No More 02’54’’ A 2 - Mad 04’16’’ A 3 Too loud is not enough 02’18’’ A 4 - Moreless 02’30’’ A 5 - French Girl 02’25’’ A 6 - Sex Machine 02’56’’ A 7 - Down on me 03’33’’ A

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etornando com algo que já havia feito por aqui (apesar de não ser muito um costume desenvolver resenhas), vou tecer umas palavras hoje, mais que necessárias, ao álbum de estréia da baita banda Mondo Bizarro, lá de Pernambuco. A banda Mondo Bizarro iniciou suas atividades em 2012, em Recife/ PE, e desenrola um Stoner tendendo ao rock´n roll e ao metal, sem firulas. Os caras ja haviam disponibilizado uma demo de seis faixas no ano passado, dando bem a entender qual era sua proposta sonora e que estavam muito mais que aptos a colocá-la em prática. E com “Too Loud is not Enough”, eles vêm apenas reiterar tudo isso. Acima de tudo e antes de qualquer outra coisa, o álbum é SÓLIDO. Solidez em forma monolítica. As sete faixas do album, sendo cinco oriundas da primeira demo e mais duas faixas novas, carregam um peso inegável e uma robustez que caminham paralelamente à uma estruturação melódica muito bacana. A segunda coisa a respeito do album: ele é relativamente curto, com canções não tão longas, então irremediavelmente a audição será fluida e você irá se sentir impelido a dar o Play novamente assim que acabar a primeira audição. Ponto. As canções trazem uma sensação de “reconhecimento” e aderência imediata, como se possuissem uma extrema facilidade em entrar na mente e ficar lá por tempos e tempos.

Riffs e mais riffs. Linhas vocais precisas alternando entre momentos levemente mais melódicos e outros bem mais rasgados. A audição de “Too loud is not enough” como um todo é semelhante, metaforicamente, à sensação de ser atropelado por um caminhão, recomendando-se sempre ouvir no máximo possível do volume. Por isso, havendo uma coesão entre as faixas e ressaltando que todas são muito boas, destacar esta ou aquela talvez soe injusto, mas, definitivamente “Mad”, “Moreless” e “Down on Me” foram as que mais grudaram de imediato e ainda ressoam na mente até agora. “Mad” em especial é uma daquelas músicas que vai te acompanhar por um bom tempo e poderia ser um single de qualquer grande lançamento por aí. Facilmente. Os caras da Mondo Bizarro estão em uma tour muito bacana com as bandas Cocaine Cobras (CE) e Projeto Trator (SP), e certamente são um dos principais nomes da boa cena torta e chapada de Pernambuco. “Too Loud is not Enough”, produzido pela banda e gravado, mixado e masterizado pelo vocalista/guitarrista Junior Supertramp, reforça isso veementemente, sendo um dos principais lançamentos de Stoner no ano. OD | A

LINKS https://www.facebook.com/mondobizarrope/ https://mondobizarro1.bandcamp.com/


PROJETO GRÁFICO DESIGN noisejazz@gmail.com

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AGENDA AGENDA OCTOBER DOOM

UMA SELEÇÃO DOS MELHORES EVENTOS, FESTIVAIS E SHOWS QUE ACONTECEM DURANTE OS PRÓXIMOS DIAS.

III FESTIVAL

ROCK DO DESERTO

28 e 29/07

A AUTÊNTICA – BELO HORIZONTE/MG

19H

O FESTIVAL ROCK DO DESERTO ACONTECE PELO TERCEIRO ANO, DESTA VEZ COM AS BANDAS THE SHRINE, LIVELY WATER, GREEN MORTON, MAD CHICKEN, COLT. 45, PESTA, GOVERNATOR INSANE E KALFAS

ACESSE https://www.facebook.com/ events/1054177327994493

SHOW RUÍNAS DE SADE

28/07

HOTEL BAR – SÃO PAULO/SP

20H30

DIVULGUE SEU EVENTO Envie para nossa redação, as informações e links.

OS CATARINENSES DO RUÍNAS DE SADE ESTÃO REALIZANDO A TURNÊ BRASIL EM RUÍNAS, E NESTA QUINTA-FEIRA, O ROLE ACONTECE NO HOTEL BAR, PRÓXIMO DA RUA AUGUSTA, EM SP.

contato@octoberdoom.com.br

Não nos responsabilizamos por mudanças ocorridas na programação

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ACESSE https://www.facebook.com/ events/1249492635075876/


SHOWS

SHOWS

THE SHRINE EM FLORIPA

RUÍNAS DE SADE + OCTOPUS + MAGZILLA

29/07

CENTRO CULTURAL ZAPATA – SÃO PAULO/SP

30/0719H

ACESSE

CELULA SHOWCASE – FLORIANÓPOLIS/SC

https://www.facebook.com/ events/1079628225459624

23H

OS CALIFORNIANOS DO THE SHRINE SE APRESENTAM EM FLORIPA, E ABRINDO A FESTA, OS LOCAIS DO MISSION PILOTS AND THE DROPKICK APOLLO.

ACESSE https://www.facebook.com/ events/1318616074833447

SHOWS THE SHRINE + BANDANOS + MONSTRO AMIGO

ALÉM DOS JÁ CONHECIDOS RUINAS DE SADE, QUE ESTÃO TOCANDO POR VÁRIAS CIDADES DO BRASIL, AS BANDAS OCTOPUS E MAGZILLA TAMBÉM SE APRESENTAM, DEIXANDO A NOITE AINDA MAIS PESADA.

30/07

SP DOOM DAYS

18H

ESPAÇO SOM – SÃO PAULO/SP

INFERNO CLUB – SÃO PAULO/SP

A TURNÊ DO THE SHRINE CONTINUA PELO BRASIL, PASSANDO POR SÃO PAULO, PARA UMA GRANDE NOITE AO LADO DAS BANDAS BANDANOS E MONSTRO AMIGO.

ACESSE https://www.facebook.com/ events/519597704905348

31/07 18H

ACESSE https://www.facebook.com/ events/1737702679830902

EM MAIS UMA EDIÇÃO DO EVENTO REALIZADO PELA LAST RIME PRODUÇÕES, O FALLEN IDOL RECEBE OS CATARINENSES DO RUÍNAS DE SADE PARA UMA NOITE DE STONER/DOOM NU E CRU. facebook.com/OctoberDoomOfficial

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AGENDA SHOWS

FESTIVAL

22º GOIÂNIA NOISE FESTIVAL

ACESSE

BACKYARD III

BACKYARD – CURITIBA/PR ACESSE

https://www.facebook.com/ events/298725697131016/

SHIFT OF DIMENSION ESTÚDIO HANÓI – RIO DE JANEIRO/RJ ACESSE https://www.facebook.com/ events/1077776932259537/

01 a 07/08

https://www.facebook.com/ events/537148606461518/

LEFT HAND PARTY BOTECO DO ROSÁRIO – SANTA MARIA/RS https://www.facebook.com/ events/1875409766019900/

SHOW

THE SHRINE NO RIO DE JANEIRO

04/08 19H

TEATRO ODISSEIA – RIO DE JANEIRO/RJ

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https://www.facebook.com/ events/214714092256795/

19H

AS BANDAS STONE HOUSE ON FIRE, BONGATRON E GODS & PUNKS SE ALINHAM PARA A PROPORÇÃO DE UMA NOITE DE DISTORÇÃO SONORA E DIMENSIONAL AO SOM DO ESPAÇO, DO DESERTO E DO OCULTO.

ACESSE

ACESSE

15H

BACKYARD É UMA FESTA QUE VEM PRA CELEBRAR SURF, SKATE, MÚSICA E ARTE. AS BANDAS CONFIRMADAS PARA O EVENTO SÃO MATORRALES, CREATIONALS E TROPICAL DOOM.

O FESTIVAL QUE REÚNE SHOWS, EXPOSIÇÕES E CONFERÊNCIAS DE VÁRIAS TRIBOS DO ROCK E DO METAL CHEGA À SUA 22ª EDIÇÃO, COM NOMES CONSAGRADOS E EMERGENTES DO BRASIL E DO MUNDO. ENTRE ALGUMAS DAS ATRAÇÕES, CATTARSE, THE SHRINE, BLACK ALIEN E MUITOS OUTROS. SÃO AO TODO, 7 DIAS DE FESTIVAL COM VÁRIAS ATRAÇÕES.

GOIÂNIA/GO

13/08

FECHANDO A TURNÊ PELO BRASIL, O TRIO THE SHRINE SE APRESENTA NO TEATRO ODISSEIA, COM ABERTURA DOS OS VULCÂNICOS E DO PSILOCIBINA.

LEFT HAND PARTY É UMA FESTA REGADA A ROCK, PESO E PSICODELIA, FOCADA NO STONER ROCK. AS BANDAS CONFIRMADAS SÃO CATTARSE E QUARTO ÁCIDO.

19H


COMPARTILHE esta edição da October Doom Magazine com as hashtags #cattarse e #octoberdoommagazine e concorra a um cd Black Water, do Cattarse Serão dois ganhadores, e o resultado sai na proxima edição da revista. Quanto mais você compartilhar, mais chances tem de Ganhar

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1 CD


FOTO

RUÍNAS DE SADE MEGALODOOM FESTIVAL



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RUA VINTE E QUATRO DE DEZEMBRO. N477 AP 303. CENTRO - MARÍLIA, SP - BRASIL - CEP: 17500-060

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