Dezembro de 2019 - Ano XX - Edição 248
Abraão, Ilha Grande, Angra dos Reis - RJ
30 ANOS DA BRIGADA MIRIM ECOLÓGICA Lançamento do Livro histórico comemorativo Foto: arquivo
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NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
QUESTÃO AMBIENTAL
ESPETÁCULO DE BALLET: EU AMO ANOS 80
REVEILLON EM ILHA GRANDE
VOLUNTÁRIOS FAZEM LIMPEZA NA PRAIA DE ARIPEBA
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EDITORIAL
OS FRUTOS QUE SE COLHEM “Poliverso complexo é descrever Karen Garcia, mas o meu sentimento impõe que eu fale sobre esta jovem, até pela exceção em que ela se coloca entre os jovens contemporâneos seus. ”
Bem, vou começar pelo seu estilo “Margareth Thatcher”, de “pimpolha” acadêmica, e “dona do pedaço”. Nesta forma positiva incorporou, encarou com alma transparente, um tanto irreverente, por vez inconsequente, os desafios impostos pelo “mundo louco em que vivemos”. Jovem demais para abraçar um mundo com horizonte e desafios ao infinito. Desde que a conheci, aos 16 anos, engajou-se neste jornal e nas discussões do complexo sapiens contemporâneo. Muito jovem, cara de bebezona, mas sempre de olho em garantir um porvir pelo seu próprio esforço, nada comum ao jovem de hoje. Sempre perigosa em suas veredas, pois não saberíamos nunca onde desembocariam. Muito próprio do raro jovem empreendedor, que incorpora e encara o amanhã com os seus desafios imensuráveis, como se fossem banais, despegando-se dos imediatismos e modismos improdutivos oferecidos pelo cotidiano da mídia e das mudanças dos costumes. No TCC, ao que me consta em assunto de grande relevância, mas super discutível, obteve nota 10 com louvor. Enfim a cara de seu “ethos”* determinante, que é pela razão, resolver a discórdia ou ampliá-la consideravelmente. Nesta linha, ela concluiu a formação superior em jornalismo neste ano
e, ainda estagiária foi contratada pelo Jornal O Globo. Não gosto muito do termo “poderosa”, mas como a conheço muito bem, acredito que assim está se sentindo e ai de quem cair no julgamento do “sem mérito” sob suas críticas. Mas com total merecimento ela adquire o direito, de criticar construtiva ou negativamente em suas colunas. “O bom jornalismo é aquele que fala com todos e deixa que todos falem”. Ela com sabedoria e segurança perfeita, navega neste tenebroso mar, pois o bom jornalismo sempre foi a sua praia. A Karen foi para mim, entre inúmeras coisas, um aprendizado. Em minha carreira profissional, sempre interagindo com gente, como professor, palestrante, cargos desportivos, comissões, participação em movimentos da sociedade, discussões ambientais etc (“acredito que até o óbvio tive que discutir, com os pensantes inúteis”), mas ela fez-me mudar o escopo em relação ao “lidar com gente”. Fui obrigado a repensar outras formas de levar meu conhecimento aos outros e obter êxito. Travei duros embates com ela quanto às opiniões. Eu com quase 80 anos, à época, ela com 18 ou 20. A análise destas questões, deram origem à mudança no angulo de correção das ideias de ambas as partes. Isto é muito difícil e até duro de entender, mas aconteceu e foi produtivo. Eu encarei
Sumário
tudo como muito nobre, ela iniciando a vida e eu matusalêmico, discutindo pontos incomuns e analisando comuns na sociedade. Portanto, nem um pouco “sincréticos” face aos extremos do pensamento, pois um estava no fim e o outro no começo das experiências da vida. Destes conflitos, chamados por poeta de “entre tapas e beijos”, solidificou-se paradoxalmente uma grande amizade, mesmo permanecendo substanciais divergências de pensamento. Enfim, humanos, né! Sobre Karen Garcia, poderia escrever um importante livro, mas creio que o leitor já conheceu suficiente para sentir o peso de sua jornalística mão de ferro (referencia à conhecida dama de ferro inicial). Parabéns Karen, você é modelo para a juventude! Grande abraço e que a vida lhe sorria sempre.
O EDITOR *um conjunto de normas de conduta adotado com fundamento ético
Este jornal é de uma comunidade. Nós optamos pelo nosso jeito de ser e nosso dia a dia, portanto, algumas coisas poderão fazer sentido somente para quem vivencia nosso cotidiano. Esta é a razão de nossas desculpas por não seguir certas formalidades acadêmicas do jornalismo. Sintetizando: “É de todos para todos e do jeito de cada um”!
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MATÉRIA DE CAPA
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QUESTÃO AMBIENTAL
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INFORMATIVO DE O ECO
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COISAS DA REGIÃO
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NOTÍCIAS E OPINIÕES
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COLUNISTAS
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INTERESSANTE
Expediente DIRETOR EDITOR: Nelson Palma CHEFE DE REDAÇÃO: Núbia Reis CONSELHO EDITORIAL: Karen Garcia, Núbia Reis. COLABORADORES: Adriano Fabio da Guia, Alba Costa Maciel, Amanda Hadama, Angélica Liaño, Bebel Saravi Cisneros, Érica Mota, Heitor Scalabrini, Hilda Maria, José Zaganelli, Karen Garcia, Lauro Eduardo Bacca, Maria Rachel, Neuseli Cardoso, Núbia Reis, Pedro Paulo Vieira, Ricardo Yabrudi, Renata Paganotto, Renato Buys, Roberto Pugliese, Rosanne Pinheiro, Sabrina Matos, Sandor Buys e Talita Nascimento.
DADOS DA EMPRESA: Palma Editora LTDA. Rua Amâncio Felício de Souza, 110 Abraão, Ilha Grande-RJ CEP: 23968-000 CNPJ: 06.008.574/0001-92 INSC. MUN. 19.818 - INSC. EST. 77.647.546 Telefone: (24) 3361-5410 E-mail: oecojornal@gmail.com Site: www.oecoilhagrande.com.br Blog:www.oecoilhagrande.com.br/blog
As matérias escritas neste jornal, não necessariamente expressam a opinião do jornal. São de responsabilidade de seus autores.
Turistler için bilgi ve öneriler:
Cari amici,
Sevgili arkadaşlar, Ilha Grande’ye hoşgeldiniz!
Bem-veghesti a Ilha Grande (Vêneto dei imigranti - TALIAN) Cari amici, benvegnesti a Ilha Grande (Lingua di immigrazione italiana in brasileTALIAN) Al saludarve gavemo el piacere de darghe la informassion che semo su una APA (Area di protession ambintale), e un PEIG (Parque Estadual da Ilha Grande). Lavoremo tanto par protègere questa ísola, par questo domandemo el vostro aiuto. Savemo magari, che l’ísola no le come voi imaginate, má se non fosse par l’esforso dela comunità e dei turisti serebe tanto pedo. Il paeselo de Abraão ze sìmplice, podemo dire anca bucólico con fàcia multiculturale, ma lo ga bone posade e ristoranti, ciaramente questo dependerà dela vostra sercada. Sugestion par el conforto e securità: lá insessante oferta de laori a basso presso questo possibilita rovinare la vostra sognata vacansa. Semo sicuri che non torni inrabià se sai sercare el posto. Ilha Grande revelarà una esselente destinassion. Varda la guida turìstica che la trovi in tute le bone agensie, o laghi datirístiche localisati nela pròssima pàgina. Par intanto riguarda la protession e il respeto dela natura, non ciapar gnente e non lassar gnente. Non retirar del mare, anca se sia par un àtimo, le stele marine, o qualsia altre spèssie marine, sono bestiolete ràgile, parquesto non deve gnaca portar a la superfíssie. Ciàpele su le foto soto l’àqua in so ambiente, sensa mover le bestiolete del mar. Il paeselo de Abraão, le ofre tranquilità, ga un posto mèdico un destacamento de polìssia e dei vigili del fogo. Non doperar droghe, la lege non permete, questo po rovinare la vostra vacansa. Auguriamo un felice ritorno, portivia tante foto, forse anca scàtole piene, e lasse tanti amici. Nantri spetemo il vostro ritorno a la Ísola. Sempre in gamba e un bondi par tuti!
Sizi adamızda ağırlamaktan ve Ilha Grande’nin APA (Área de Proteção Ambiental - Koruma Altındaki Yerler) listesinde olan devlet parklarından biri olduğunu belirtmekten mutluluk duyarız. Bizler her zaman adamızı korumak adına elimizden geleni yapmakta ve bu konuda sizlerin yardımına ihtiyaç duymaktayız. Adamızın tam anlamıyla sizin bulmayı umduğunuz gibi bir yer henüz olmadığının farkındayız. Eğer yerel toplulukların ve turistlerin yardımları olmasaydı durum daha kötü olabilirdi. Abraão Köyü küçük ve kırsal bir yer olmakla birlikte birçok motel ve restaurant seçeneği sunmaktadır. Rahatınız ve güvenliğiniz için size sunulan her cazip teklifi kabul etmemenizi, hoşunuza giden uygun bir yer bulana kadar zamanınızı değerlendirmenizi öneririz. Size sunulan düşük fiyatlı olanaklar sizin için en iyi seçenek olmayabilir. Eğer size sunulan iyi olanakları değerlendirirseniz, ada sizin için harika bir SPA yeri haline gelebilir. Strese hiç gerek yok. Sonraki sayfadaki bilgiler size yardımcı olacaktır. Doğayı koruyun. Doğadan hiçbirşey almayın ya da doğaya bırakmayın. Deniz yıldızlarını yada diğer deniz canlılarını ait oldukları yerden toplamayın, onlar hassas canlılardır ve yeryüzüne çıkarılmamalıdır. Bunun yerine su altında onlarla fotoğraf çekilebilirsiniz. Kasaba sessiz sakin bir yerdir. Sağlık ocağı, polis merkezi, itfaiye gibi temel ve önemli birçok servis bulunmaktadır. Uyuşturucu maddeler kullanmayınız. Bu yasalara aykırıdır ve adadaki konaklamanızı da kapsayarak size ciddi sıkıntılara sebep olabilir. Size keyifli bir konaklama dileriz. Eminiz ki harika anılar ve fotoğraflar arşivleyecek ve arkanızda iyi arkadaşlar bırakacaksınız.
Apresto Gràssie.
Teşekkürler.
Mapa Vila do Abraão
A - Cais da Barca B - D.P.O. C - Correios D - Igreja E - Posto de Saúde F - Cemitério G - Casa de Cultura H - Cais de Turismo I - Bombeiros J - PEIG - Sede K - Subprefeitura
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Cais da Barca Cais de Turismo
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Av. Beira Mar
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Praça Cândido Mendes
2016
Capoeira | Ciranda | Literatura Artesanato | Cinema Av. Beira Mar, s/n arenacultural.og@gmail.com (24) 99999-4520
Secretaria da MinistĂŠrio da Cidadania e da Cultura Diversidade Cultural
QUESTÃO AMBIENTAL
VOLUNTÁRIOS FAZEM MUTIRÃO PARA LIMPAR A PRAIA DE ARIPEBA
Renata Paganotto
Sungas e biquínis foram substituídos por luvas e sacolas na tarde de 7 de dezembro na praia de Aripeba, Ilha Grande. A equipe do passeio Aripe Trip foi quem organizou o mutirão de limpeza que aconteceu no 1º sábado do mês. Comandada pelo marinheiro Rhuan Barros, a embarcação AthosII levou os voluntários que passaram a tarde recolhendo rejeitos sólidos deixados na praia por usuários e pela própria maré , que deposita nas praias o lixo de procedência muitas vezes desconhecida (cerca de 90% do lixo encontrado é trazido pelo mar e fica retido na praia por ser uma enseada muito abrigada).
Saindo da vila do Abraão às 11 horas, os voluntários chegaram em Aripeba e começaram um mutirão de limpeza da areia e do mar. Resíduos como garrafas, papelão, copos descartáveis, embalagens plásticas, bolinhas de isopor na areia e até sacos plásticos nas pedras dentro d’água foram minuciosamente recolhidos. O grupo foi formado em sua marioria por parceiros do roteiro e amigos da equipe, em grande parte vendedores das agências de temporada. Comerciantes voluntários forneceram alimentação a preço de custo. A ação contou também com a contribuição do Coletivo Plantou Colheu, com a criação de placas para conscientizar os turistas sobre o lixo e os marinheiros da ancoragem ilegal na praia. Jhuan, muito satisfeito com o resultado, conta que já foram realizados multirões na 8
Dezembro de 2019, O ECO
Fotos: Equipe Aripe Trip
Praia da Freguesia de Santana e Praia do Araçá, onde crianças de uma comunidade carente do Rio de janeiro ajudaram na remoção de lixos e microlixos na areia, e explica a escolha da vez: “O nome da nosso roteiro leva o nome desta praia (Aripeba - AripeTrip) por ser um local especial para todos nós, e desde sempre a ideia era retribuir o que este local mágico nos proporciona.” Ainda de acordo com o comandante da embarcação, calcula-se em torno de 10 sacos de 100 litros de lixo recolhido, além de um isopor do tamanho de duas máquinas de lavar. O lixo ficou devidamente guardado no local até que pudesse ser recolhido pela empresa Matos Teixeira, que é tercerizada pela Prefeitura de Angra dos Reis para limpeza de praias e ruas na Ilha Grande, e levado para Angra dos Reis junto com os demais lixos recolhidos a Ilha.
QUESTÃO AMBIENTAL
MUDANÇAS CLIMÁTICAS N.Palma*
Este tema em nossos dias, é
climáticas para a sobrevivência
e acreditam que nada mudará, só
si por interesses escusos, que
indiferença para alguns e desespero
na terra, dependem no momento,
pela ideia de que tudo é cíclico,
eu sou contra tudo o que existe
para outros. Enfim, onde está o
mais da salvação dos oceanos que
portanto se renovará por esforço
da natureza nos continentes. O
SAPIENS? “ Eis a questão”!
dos continentes. As destruições
próprio. A NATUREZA RESOLVE. -
que não é verdade, a verdade
O desencontro de opiniões é
da natureza nos continentes têm
VEREMOS! Até pode resolver, em
é: eu sou defensor em ter como
imensurável. Enfim onde estará
efeitos pontuais, nos oceanos sim,
alguns milênios.
sustentabilidade a proteção dos
a ciência? O que é ciência, o que
são globais, face a importância do
é desconhecimento e o que é interesse econômico?
para
biomas para que tenhamos a
mar para a sobrevivência global
observar que a grande discussão
biodiversidade protegida em todos
dos ecossistemas.
no mundo é pontual, mas sempre
os ecossistemas. As biotas devem
mar
falando como global! Portando
ser mantidas ricas e protegidas
supera qualquer questão. Onde
é o grande armazenamento de
serei eu o “tonto” ou os membros
de tudo o que possuíam em sua
ficará a sobrevivência na terra?
carbono e produtor de oxigênio,
que formam as grandes reuniões
origem. Todo o ser no planeta, eu
GRETA THUNBERG, personali-
e desde a revolução industrial
mundiais? PRECISAMOS DEFINIR
defendo, que tem seu fim biológico
dade do ano para uns, pirralha
ele vem se saturando de carbono
O QUE É CIÊNTIFICO DO QUE É
para o equilíbrio, razão mais que
para outros. Na realidade ela
e
afetando
ACHISMO OU CONVENIÊNCIA. O
forte para ser mantido. Espero que
parece mais produto de mídia
a vegetação marinha, a maior
leigo que está ansioso por saber,
assim me entendam.
que realidade. Em entrevista sem
produtora de oxigênio, além de
fica em fogo cruzado e cada vez
Concluindo, o objetivo principal
script, o jornalista a destruiu. Eu
outras espécies. Os corais sofrem
sabendo menos. Um dia ele terá
deste texto, é uma provocação para
a valorizo pela força jovem que
hoje de uma espécie de osteoporose
que votar para isso, na escolha de
nos fazer pensar. Todos temos que
ela representa, quanto ao discurso
e estão sendo destruídos. Sinais
seu governo, e daí saberá votar?
pensar para chegarmos de forma
parece orquestrado pela mídia e/
dos efeitos da poluição marinha.
Em verdade as decisões mundiais
coletiva, a um ponto comum que
Tentando
O jogo de interesses econômicos
justificar:
consequentemente
o
Lamentavelmente,
dá
ou interessados, além do próprio
Estudos nos mostram que se
começam no simples eleitor, pois é
realmente seja sustentável. Mas
propósito. Dá para admitir que
o oceano atingir 450 partes por
ele quem elegeu um governo que o
não basta ficar “no penso logo
é pelo menos discutível, mas a
milhão, a vida na terra estará em
representará nas decisões globais.
existo”, temos que pensar existir
admiro.
risco, até há afirmações que será
Esta é a grande necessidade de
e criar ideias que nos levem à
Enfim, é o ônus de sermos
destruída. Pois é! Também estudos
coisas claras e simples, para que
transformação que queremos para
racionais que nos leva ao raciocínio
mostram que já estamos em 409
todos conheçam o que é verdadeiro
o planeta. O planeta está em agonia!
até
que
partes por milhão, isso quer dizer,
e o que é interesse de governos que
Não há mais tempo a perder!
convenha ao interesse. “PARECE
estamos chegando em pouquíssimo
só pensam na reeleição.
Mudamos ou nos destruiremos!
ATÉ QUE O FIM JUSTIFICA O MEIO”!
tempo ao extremo. “Parece não nos
Há interesse, de certo grupo,
Machiavel deve se sentir “o cara”!
importar o vir a ser”, hoje ninguém
de desvirtuar o que se diz, em
De tudo o que tenho observado
quer saber de Heráclito. Para os
seu próprio interesse, portanto o
neste emaranhado de discussões,
pseudo-ambientalistas, o vir a ser
que estou me referindo é muito
dá para se concluir, que as questões
foi ontem, hoje já está no amanhã
perigoso, pois podem trazer para
pelo
absurdo,
desde
“Eis a questão”, só no “penso logo existo”, o “vir a ser” não será. *
N.
Palma,
é
curioso
questionador e crítico das questões globais.
Dezembro de 2019, O ECO
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INFORMATIVO DE O ECO
O ECO JORNAL NA COMUNIDADE Nós continuamos no esforço de manter a sustentabilidade em todos os sentidos, como essencial a nossa sobrevivência e a sobrevivência do ecossistema. Neste tema nós batemos constantemente, contra desordem e defendemos a harmonia da comunidade para o bem de todos. Como é saudável viver em um lugar pequeno, organizado, flores nas calçadas, todos dizendo bom dia a todos, sorrisos largos, a juventude de “cabelos ao vento”, imaginando sempre que hoje é melhor que ontem e o amanhã melhor que hoje. Parece conto de fada, não é? Pois é! Nosso Abraão só não é assim porque não nos interessamos por ele. Nossa Ilha está entre os melhores lugares do mundo, mas não cuidamos dela, assim um dia se tornará igual, aos morros de Angra: terra de ninguém, onde tudo pode. AINDA HÁ TEMPO DE REVERTER, mas temos que agir. Nosso trade é de novos ricos e para esta camada social, o pensar só em si é o que interessa e para eles sempre está bem como está, porque quando não prestar mais, eles vão embora e levam o que usurparam aqui. Quem fica sofrerá o estrago. Ou revertemos este quadro,ou o porvir será triste. NEM TUDO É LAMENTAÇÃO Mês passado nosso jornal foi agraciado como empresa cidadã em Paraty. Ficamos muito felizes com o acontecimento. Foi atribuído à nossa participação no Fórum DLIS - Agenda 21, onde contribuímos com a educação ambiental,
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Dezembro de 2019, O ECO
na questão do óleo de cozinha usado que era descartado em qualquer lugar. O tema era não jogue seu óleo pelo ralo. Nós mudamos este comportamento, com o reuso deste óleo, que passou a ser sabão (lembram do ECOBOM - sabão biodegradável?) e depois em produção de biodiesel. Este trabalho funcionou muito bem. Tudo foi feito em parceria com um abnegado grupo de Paraty que até hoje atua no fórum DLIS - Agenda 21. Vocês lembram da Agenda 21, não né! Memória de brasileiro, né! Então vejam: A Agenda 21 Global foi o Documento assinado em 14 de junho de 1992, no Rio de Janeiro, por 179 países, resultado da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento - Rio 92, podendo ser definida como um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Organizada por grupos temáticos em 40 capítulos, divididos em 4 seções, onde são apontadas as bases para ações, os objetivos, as atividades e os meios de implementação de planos, programas e projetos direcionados à melhoria da qualidade de vida e às questões relativas à conservação e gestão de recursos para o desenvolvimento sustentável. Também existe a Agenda 21 local que era o nosso caso. Lutamos muito por isso. Não resolvemos em total os problemas, mas foi reconhecido nosso mérito.
MATÉRIA DE CAPA - BRIGADA MIRIM
30 ANOS DA BRIGADA MIRIM ECOLÓGICA N. Palma
Lançamento do livro histórico comemorativo
Dia 7 de dezembro, 2019, foi uma importante data que serviu como um marco histórico para a Ilha Grande. A Bragada Mirim Ecológica engalanou-se para festejam, um trabalho socioambiental com 30 anos, encarando os percalços e glórias do período, cujo mérito é ter vencido todas as etapas com êxito absoluto.
O tamanho da festa foi empolgante, desde a partida no Portogallo Hotel, chegada no Abraão, hasteamento das bandeiras e Hino Nacional, os pronunciamentos, os depoimentos e até o tamanho da paella foi de impressionar. Enfim um dia importante em todos os sentidos. AS FOTOS FALAM POR SI.
A festa foi para premiar, com muita justiça, todos os seus integrantes: patrocinadores, idealizadores, a luta de todos os gestores para manter os propósitos, empregados, prestadores de serviços, técnicos, mas, em especial a juventude que integra a Brigada. A importância para os jovens da Ilha é dar-lhes uma oportunidade de aprender a proteção da natureza para sustentabilidade, adquirir conhecimentos das técnicas da produção marinha, algas, vieiras entre outras, fazendo com isso que o ser humano se fixe na origem com prosperidade, evitando assim o encharcamento das cidades. A Brigada lhes mostra que o futuro e mais promissor aqui, que aventurar-se no incerto urbanos dos grandes centros.
Nesta matéria construímos uma segunda parte que demonstra como a Brigada desenvolve o trabalho no engajamento dos jovens e historiando como se sucedeu.
PRONUNCIAMENTO DR. ARMANDO KLABIN E SENHORA
KAREN GARCIA, A MAIS JOVEM A SE PRONUNCIAR
Dezembro de 2019, O ECO 11
MATÉRIA DE CAPA - BRIGADA MIRIM FORMAR ADULTOS COMPROMETIDOS COM A CIDADANIA A Brigada tem um balanço positivo nas ações de redução de danos ao ambiente e uma agenda social bem resolvida Em 1992, o mundo se reuniu no Brasil na cúpula de meio ambiente Rio 92. Foi uma demonstração de que as nações do planeta entravam numa era de profundas preocupações com o futuro ambiental da Terra. Na cúpula, praticamente todos os países participantes estavam representados por suas mais altas autoridades. A cimeira foi um evento seminal na mobilização planetária em busca de caminhos sustentáveis para a civilização. Ao mesmo tempo, tornou-se um marco resultante de ações multidisciplinares e globalizantes que precederam o evento e nele desembocaram com uma sólida plataforma de ação. No primeiro caso, porque o encontro daquele ano do início da década de 1990 – ao qual compareceram, além de chefes de Estado e de Governo, cientistas e toda uma comunidade integrada em movimentos de preservação ambiental – tornou-se o ponto de partida para a elaboração e adoção de programas voltados para conter os crescentes agravos à biosfera terrestre, e, em especial, reparar suas consequências quando possível. No segundo (o combustível que alimentou o encontro de alto nível), porque, sem o ativismo, a militância e o envolvimento direto de organizações não governamentais, governos progressistas e personalidades integradas ao grande processo de redenção do planeta, a Rio 92 não se teria realizado. Nesse sentido, a criação da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande, três anos antes do encontro transcontinental do Rio, reveste-se de significado que transcende a própria motivação que a inspirou. Foi uma ideia pioneira – e de indiscutível sucesso, como atesta o saldo de sua atuação em 30 anos, completados em março de 2019. De fato, desde os primeiros passos a BMEIG pauta-se por um trabalho à frente do seu tempo em seus propósitos, e, por empírico, profícuo em suas ações. E tem um alcance amplo não só nas ações em defesa do meio ambiente da Ilha Grande, a maior concentração insular de remanescentes primários da Mata Atlântica da Região Sul fluminense.
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Dezembro de 2019, O ECO
Desde o último quarto do século passado, a ilha vem sendo alvo de cobiças no âmbito da ocupação do solo e, em boa medida – como decorrência direta desse modelo de exploração a qualquer preço –, vítima de agravos que conduziram, e ainda levam, à degradação de nacos significativos do paraíso. A isso, junta-se uma parcela substancial de leniência de organismos oficiais aos quais caberia implementar políticas de contenção de danos ao bioma local. Da galvanização desses elementos decorreu um quadro em que, à sua continuação, a ilha estaria irremediavelmente condenada a perder suas características ambientais, sociais e mesmo econômicas. Por isso, a atuação da Brigada Mirim se orienta por princípios mais amplos, que se espraiam do seu declarado, e primordial, engajamento em movimentos de socorro ao meio ambiente para a própria vida insulana – no que diz respeito aos vieses históricos, culturais, econômicos, educativos, sociais e mesmo comportamentais da comunidade local. Um termômetro eficiente para medir o tamanho do alcance da brigada são as ações implementadas pela ong na Ilha Grande. Elas falam por si. Entre os movimentos desenvolvidos para salvaguardar os modos de criar, fazer e viver da ilha alinham-se: – Apicultura de abelhas jataí para produção e consumo de mel; – Instalação de fazendas marinhas para o cultivo de moluscos (vieiras, também conhecidas como coquilles Saint-Jacques), com fins comerciais, gastronômicos e, por princípio estatutário da brigada, educacional; – Práticas de instalação e manutenção de hortas domiciliares e comunitárias; – Treinamento e práticas de manejo de embarcações; – Instalação do Projeto Brigada Mirim Ecológica em locais remotos da Ilha Grande, como praias Longa, Araçatiba, Vermelha, Aventureiro e Provetá. No que diz respeito a iniciativas no âmbito da salvaguarda de bens materiais e imateriais, destacam-se como movimentos da BMEIG ao longo de suas três décadas: – Criação e manutenção de viveiros de mudas nativas, para fins de reflorestamento de áreas degradadas da Ilha Grande; – Sinalização de praias e trilhas que remontam à ancestralidade insular. A ong contabiliza mais
de cem quilômetros de trilhas sinalizadas, uma notável contribuição para facilitar o acesso de visitantes e moradores aos belos recantos da ilha; – Integração efetiva aos postulados da Agenda 21, por determinação do Ministério do Meio Ambiente um instrumento de planejamento para a construção de sociedades sustentáveis, em diferentes bases geográficas, que concilia métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica – base para o desenvolvimento sustentável do país construída a partir de diretrizes mais amplas da Agenda 21 Global; – Coleta e separação de resíduos sólidos recicláveis. O produto dessas coletas é enviado a associações de catadores de lixo do continente de Angra dos Reis; – Programas de coleta, nas comunidades, de rejeitos de óleo de cozinha, eficiente vetor de redução dos riscos de contaminação e consequente poluição dos veios de água que abastecem a ilha; – Nas fazendas marinhas, instalação de viveiros de algas com o objetivo de aumentar a produção e fixação de carbono, com a consequente ampliação do processo de oxigenação da água do entorno. Essa iniciativa, simples por se integrar a movimentos próprios da natureza, contribui em todos os seus aspectos com a preservação das cadeias tróficas de animais da fauna marinha local; – Distribuição, nos pontos de acesso à ilha e nas praias, de sacolas biodegradáveis (ecobags) de papel para que, nelas, o visitante recolha o lixo produzido durante sua estada. Os resíduos assim embalados são concentrados no Abraão e, em seguida, destinados a apropriada vazão; – Participação em conselhos e organismos de caráter consultivo ou deliberativo, como representante da sociedade civil organizada para assuntos referentes à Ilha Grande (Conselho do Parque Estadual da Ilha Grande, Conselho da APA de Tamoios, Conselho do Mosaico Bocaina, Conselho da Criança e do Adolescente de Angra dos Reis, Conselho da Bacia Hidrográfica). Uma vez que a Baía da Ilha Grande é uma região geograficamente estratégica, e por esse motivo alvo da instalação de empreendimentos de grande porte e com alto potencial poluidor, ações como as da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande sem dúvida contribuem para a conscientização ambiental e, consequentemente,
MATÉRIA DE CAPA - BRIGADA MIRIM para a preservação do bioma local. Em três décadas, é altamente positivo o balanço das iniciativas da ong no âmbito da redução de danos, reparo de agravos e prevenção de riscos de degradação do meio ambiente. Há ainda outro aspecto a destacar na atuação da Brigada Mirim: o compromisso de, por oferta de oportunidades, contribuir para que os jovens caiçaras, se assim o desejarem, permaneçam residindo na Ilha Grande. Por definição, o que é o caiçara? “Diferentemente de muitas outras formas de vida, especialmente quando pensamos na sociedade urbanoindustrial, a cultura caiçara tem grande sintonia com a natureza, respeitando-a e protegendo-a através de um uso adequado, que atende às necessidades básicas da família e do grupo. Essa característica, proveniente dos indígenas que habitavam a região muito antes da chegada dos europeus, foi mesclada a outras trazidas pelos colonizadores portugueses e espanhóis que, aos poucos, foram se estabelecendo nas terras brasileiras. Desse encontro nasceu um modo de viver, pensar, fazer, trabalhar, se relacionar e se alimentar, que se mantém durante gerações, resistindo (ao tempo) e se adaptando às mudanças impostas pelo convívio com outras formas de cultura. As comunidades caiçaras têm um modo de vida particular que associa a pesca, a pequena agricultura, o artesanato e o extrativismo vegetal” com o desenvolvimento de “tecnologias patrimoniais e um conhecimento aprofundado sobre os ambientes em que vivem. Como resultado dessa relação secular com a natureza, criaram-se práticas e saberes que refletem o conhecimento empírico sobre o que o meio tropical pode oferecer ao homem”. (Aspectos da cultura caiçara na Ilha Grande, das pesquisadoras do Ecomuseu Ilha Grande-Uerj Cynthia Caroline Cavalcante e Thereza Cristina de Almeida Rosso). Portanto, para além de seus pressupostos ambientais, a Brigada Mirim assume também um compromisso com a história da Ilha Grande, em particular, e, em sentido amplo, com a própria crônica da formação populacional do país. No caso específico da ong, isso passa diretamente por atos que contribuem para manter o estilo de vida, hábitos cotidianos e produção cultural que remontam à ancestralidade caiçara da ilha. A partir dos anos 70, consolidou-se como perfil de uma região voltada para o turismo o próprio
contorno que moldaram para esse pedaço do paraíso as contingências da evolução da sociedade brasileira e da conjuntura urbanística do sul fluminense, bem como das políticas públicas de incentivo à ocupação – nem sempre benéfica – da porção insular de Angra dos Reis. Para o bem ou para o mal, essa atividade já é dominante entre os indicadores econômicos insulanos. Mas a pesca e a maricultura, principalmente a primeira, que remetem à ancestralidade de boa parte dos atuais moradores, ainda dizem muito da cultura caiçara, na forma de sistemas artesanais voltados prioritariamente para a subsistência familiar. Durante seus 30 anos de existência, a Brigada Mirim procurou mitigar as ondas migratórias dos habitantes locais. Para isso, além da formação profissional ministrada aos brigadistas e da sinalização de oportunidades de empreendedorismo oferecidas a jovens nativos, a ongdesenvolve também programas de complemento profissional. Com base nessa visão, levou para a ilha cursos diversos (no início, de cunho presencial, e em seguida, com o advento da internet e suas infinitas possibilidades, com aulas online, sob o princípio de Educação a Distância). Também são oferecidos aos brigadistas treinamentos e participação em eventos de ordem técnica, que contribuem para a capacitação dos jovens em disciplinas como línguas, hotelaria, mecânica de motores, contabilidade, práticas de preservação ambiental etc. A tudo se sobrepõe um princípio inegociável – o de formar futuros adultos comprometidos com a cidadania. O resultado desses pressupostos é a formação de contingentes de cidadãos dotados de sólida base de educação integrada, apesar da pouca idade. O arquiteto Luís Henrique Viallet Lima, que, convidado por Armando Klabin, entrou na brigada em 1994 como supervisor e, em seguida passou a gerente de Operações e diretor-administrativo (cargo que ocupou até 2014), compara: – Há sérias deficiências no sistema educacional da ilha. Por exemplo, um jovem que se forma por lá, no Ensino Médio, em geral sai sem ter tido aulas de Física ou Química. Quando vai para o continente, fazer um concurso ou em busca de um trabalho na iniciativa privada, sai sempre em desvantagem em relação a outros que tiveram uma formação mais apropriada. Tínhamos brigadistas que iam disputar vagas de gari, bombeiro e tal, e não passavam. Mas, por outro lado, em
funções que implicam relacionamento com o público eles se saem muito bem. No comércio, por exemplo. Sua formação os recomenda. Eles guardam os contracheques relativos à bolsa que recebem na Brigada, e quando os apresentam em entrevistas de emprego largam na frente de outros candidatos. Os brigadistas costumam ter preferência para emprego nas lojas por causa da conduta que aprendem na Brigada Mirim. É uma conduta diferenciada até na escola convencional. Quando o professor entra na sala de aula e dá bom dia, em geral os únicos que respondem são os alunos brigadistas. Ao longo de 30 anos, em torno de mil jovens passaram pela Brigada Mirim. “A grande maioria obteve emprego na ilha, em diversas pousadas, no comércio e no turismo”, informa Armando Klabin. “Sem dúvida, através do trabalho intenso de todos os envolvidos em suas atividades, e pela dedicação de seus diretores voluntários, bem como dos profissionais que abraçaram os objetivos da entidade, diversas atividades puderam ser desenvolvidas. Destaco, por exemplo, a construção do viveiro de mudas de espécies botânicas nativas. Também tem obtido resultados notáveis a implantação do projeto de maricultura, este em pleno desenvolvimento, com o cultivo de vieiras e algas nas enseadas do Abraão Pequeno, na Camiranga (Saco do Céu) e Araçatiba. Por fim, é mister registrar que diversas atividades possíveis de serem desenvolvidas em favor dos jovens ilhéus foram implantadas dentro do princípio de oferecer aprendizagem para atender ao crescente mercado de trabalho local”, destaca Klabin. Um caldo de demandas em meio ao paraíso Proprietários, personalidades e comunidade criam a Brigada Mirim Ecológica para implementar uma agenda socioambiental na Ilha Grande
Chegar à Ilha Grande pela primeira vez é um impacto indescritível. A travessia em si, nos pouco menos de 20 quilômetros que a separam do continente de Angra dos Reis, é uma espécie de preparação do espírito para um imediato estado de encantamento. O barco corta as águas de um verde estonteante, que se vai tornando mais profundo à medida em que se aproxima
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MATÉRIA DE CAPA - BRIGADA MIRIM dos pontos insulanos de desembarque. A Vila do Abraão é o mais importante deles, com um movimento constante – principalmente, claro, nas épocas de alta temporada – de chegada e saída de moradores, turistas, estudiosos do meio ambiente e trabalhadores. Se é impossível não se deixar conquistar pela beleza do espelho d’água durante a viagem, excede qualquer referência sensorial o que vem em seguida: deparar-se com esse imenso território que demarca a barra da Baía da Ilha Grande. Uma região idílica, a sexta maior ilha marítima do Brasil é coberta, ao longo de seus 193 quilômetros quadrados de praias paradisíacas, por cerrada vegetação de Mata Atlântica. Encantamento: certamente, não foi outra a sensação de Armando Klabin, Manoel Francisco do Nascimento Brito e outras personalidades, empresários e empreendedores quando, ainda nas décadas de 1960 e 1970, chegaram a Ipaum Guaçu – Ilha Grande na língua dos índios tamoios, os primitivos habitantes da região que lhe deram o óbvio nome. A identificação de Klabin com a ilha foi imediata – uma comunhão que se foi transformando em paixão à medida em que o empresário estreitava suas idas ao Morcego, na bela propriedade de seu irmão Israel, o engenheiro e ambientalista que foi presidente do extinto Banco do Estado do Rio de Janeiro (Banerj) e, antes, prefeito do Rio, de 15 de março de 1979 a 3 de junho de 1980. Aos poucos, suas visitas a Ipaum Guaçu não se resumiam ao paraíso do irmão. Outros amigos também já haviam descoberto a Ilha Grande, e lá se instalado. O casal Gerson e Gica Noronha, pais de Guilherme Noronha, amigo desde sempre de Klabin, igualmente o recebia para longas horas de bate-papo, convívio com a exuberância do mar cristalino e encantamento com as diversas gradações de verde da Mata Atlântica e do oceano. Em especial, Klabin tem como inesquecíveis os almoços de sabores da gastronomia baiana. Eram dias em que a eles se juntavam outros amigos ilhéus e, recorda-se o empresário, particularmente os vizinhos da Bica Fred e Lena Barroso. A definitiva comunhão de Armando Klabin com a Ilha Grande – ou seja, não mais como hóspede de proprietários locais, mas como efetivo participante da comunidade insulana – deu-se por iniciativa do amigo Guilherme 14
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Noronha. Depois de um dos incontáveis dias de praias de encher os olhos, passeios de barco e sol exuberante, Guilherme perguntou-lhe: – Você gostaria de “comprar” a praia mais bonita da Ilha Grande? A proposta foi uma surpresa. Mas toda a vivência de então na ilha, o ambiente que juntava amigos para dias e dias de absoluto prazer pelo convívio com a natureza, à época praticamente ainda intocada, e os momentos que selavam amizades cada vez mais sólidas já vinham alimentando em Klabin a ideia de também ter ali o seu próprio canto. Klabin se recorda que mesmo suas preferências de lazer à época, que até então não contemplavam necessariamente a possibilidade de ter uma propriedade num lugar como aquele, não inibiram sua aquiescência. Chegar à decisão por uma resposta afirmativa não demorou mais que uns poucos segundos. – Nunca fui um caiçara. Sempre fui caipira e amante dos cavalos. No entanto, o ambiente ali era tão encantador que respondi afirmativamente ao meu amigo Guilherme – recorda-se Klabin. Da decisão à prática decorreu uma visita à Praia do Sobrado, que abrigava uma propriedade de Ermelindo Matarazzo. O industrial queria passá-la adiante. A decisão do empresário paulista estava relacionada a um incômodo com a vizinhança do Instituto Penal Cândido Mendes, o famoso presídio da Ilha Grande, instalado no início dos anos de 1940 na localidade de Dois Rios. Uma colônia penal, a penitenciária ainda estava em operação na época. Hélène, mulher de Matarazzo, tinha receio de que prisioneiros pudessem fugir do recolhimento, sabe-se lá com que consequências. Diante desse receio permanente, o passo óbvio seria vender o Éden. Klabin arrematou a propriedade, na qual praticamente não havia benfeitorias – à exceção de uma coluna de postes metálicos de luz fria e um gerador com motor Skoda de pequeno porte (que alimentava de energia o sistema de iluminação do terreno). Mas, em compensação, havia o benefício natural de uma nascente de água doce, que jorrava pela fresta de um muro de pedra. Com o impulso do Skoda, a nascente alimentou um rudimentar sistema de abastecimento, com força suficiente para alcançar o iate da família que ficava ancorado na praia em frente.
Klabin fechou negócio e, tornou-se um efetivo integrante da comunidade da ilha. Foi um movimento crucial para, pouco tempo depois, Ipaum Guaçu começar a dar os passos iniciais nas ações que resultaram na criação da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande. Então, a ilha era o retrato acabado de um santuário praticamente preservado em seu estado natural. O dia a dia insulano era extremamente simples. O Abraão, o principal ponto de entrada na Ilha Grande, tinha aquele ambiente de pequena cidade, que remetia a acolhimento. Mas, mesmo sendo uma vila histórica e a despeito de sua importância para a vida cultural e econômica da região, tinha precária infraestrutura. Era um tempo em que todos os moradores se conheciam, conta Armando Klabin: – Ao chegar à ilha, o primeiro e inescapável programa era fazer uma refeição no restaurante da dona Janeth (Dias de Araújo), onde se comia uma deliciosa peixada caseira. Um tempo que deixou saudades. Entre o bucólico e as demandas mais imediatas do Abraão, a vila que é um termômetro das necessidades mais pontuais da Ilha Grande, impunha-se um contencioso de ordem mais geral – urbanístico e, por decorrência, ambiental, dado o perfil do bioma local. Como toda a Costa Verde, a ilha igualmente sofreu as consequências de uma colonização e uma ocupação deletérias, provocadas por ciclos econômicos que castigaram o solo e legaram ameaças ao meio ambiente de toda a baía. Naquele ponto, Ipaum Guaçu ainda havia resistido aos ataques predatórios, em grande medida graças a dois fatores – um geográfico e outro urbanístico. O primeiro caso, sem considerar a natural separação entre a ilha e o continente (em si, um fator inibidor de chegada de visitantes), explica-se em razão da secular precariedade do acesso à Baía da Ilha Grande a partir do Rio de Janeiro e de São Paulo, seus dois principais extremos fronteiriços. Somente no início da década de 1970 deu-se por concluída a Rodovia Rio-Santos, que abriria, e ainda assim de forma provisória, uma extensão de 500 quilômetros de uma estrada pontuada por praias paradisíacas entre o Sul Fluminense e o Litoral Norte paulista. Sem dúvida, a abertura dessa via, com seus
MATÉRIA DE CAPA - BRIGADA MIRIM sucessivos melhoramentos, carreou benefícios para a região. Mas, no bojo de um irrefreável surto de crescimento, carregou na bagagem também o fantasma da desordem urbanística. No segundo caso, é reconhecido que se deve creditar, em substancial medida, à histórica tradição carcerária da Ilha Grande (cuja gênese remonta ao fim do Império) a blindagem contra a invasão predadora. Boa parte da cultura, em sentido amplo, da ilha formou-se, desde a primeira metade do século passado, em torno da dinâmica do presídio instalado na Vila Dois Rios. É uma cultura que se manifestou no dia a dia dos caiçaras, segmento que forma a principal e mais numerosa parcela da população local, e transmitiu uma memória ainda vívida na região, mesmo após a desativação do Instituto Penal Cândido Mendes, em março de1994, e a implosão parcial de suas instalações, logo em seguida. No final dos anos de 1980, os agravos ambientais na Ilha Grande já refletiam o impacto provocado pelas movimentações exógenas no âmbito de ações urbanísticas, especialmente na rubrica de infraestrutura viária, que ampliaram os canais de acesso à Costa Verde. Internamente, e por decorrência, essas intervenções ajudaram a alimentar uma corrida por ocupações do solo nem sempre feitas dentro dos marcos balizadores estabelecidos pelas legislações então em curso. De acordo com um estudo divulgado pela Secretaria Estadual de Meio Ambiente, refletindo levantamentos feitos no final da década de 1980, no início dos anos de 1990 alguns dos principais riscos ao bioma da ilha eram cevados por consequências dessa opção, deliberada ou não, pela leniência regulatória.
Entre os efeitos deletérios apontados havia o registro de taludes degradados, a formação, à beira de se tornar perigosamente exponencial, de voçorocas (grandes buracos formados pela erosão, devido à inexistência ou à extinção de vegetação que proteja o solo do acúmulo de água das chuvas ou de intempéries próprias do solo), obras inadequadas de contenção de encostas, grandes faixas de desmatamento ao longo da rede de transmissão de energia elétrica, terrenos em declive tomados por pastos, bananeiras abandonadas e áreas com incêndios florestais ilegais. Um quadro assustador para uma região, como observou o estudo da secretaria, onde os ecossistemas são frágeis, sujeitos a erosão devido aos desníveis dos maciços e às chuvas abundantes. Eram problemas que se avolumavam e, já então, reclamavam ações no âmbito de macropolíticas de Estado. No plano micro, onde se dão as dores de cabeça por causas pontuais, aquelas em que a comunidade é suscetível a consequências mais imediatas, os problemas estavam à vista de todos. As trilhas que cortam a ilha, indispensáveis para moradores e turistas se locomoverem, não recebiam qualquer tipo de tratamento. As belas praias, de um modo geral, estavam sob a ameaça de degradação devido ao acúmulo de lixo. A preocupação com a preservação ambiental, em geral, não era sequer uma ideia abstrata – simplesmente, a visão que se tinha da natureza que explodia em exuberância em cada canto era a de que tanta beleza existia para servir ao lazer e à exploração econômica, sem contrapartida daqueles que dela se beneficiavam.
Ao mesmo tempo, acumulavam-se questões no âmbito da rubrica social. A dinâmica econômica e ambiental da Ilha Grande, no limiar dos anos de 1990, às vésperas da Rio 92, a cúpula mundial que ditaria os rumos das políticas de meio ambiente e sustentabilidade para as décadas seguintes, tinha mão única – e, pior, sem qualquer planejamento. Os caiçaras, quando não abandonavam a terra herdada de seus ancestrais, nela viviam em condições precárias. Em cada ponto habitado da ilha encontravamse jovens sem futuro, que procuravam ganhar algum dinheiro em troca de toda sorte de serviços desqualificados, trabalhadores idosos sem futuro, pescadores que abriam mão de suas seculares habilidades no mar em troca de um improdutivo e desalentador laissez-faire. Esse caldo cultural, social e ambiental alimentou o projeto de criação da Brigada Mirim Ecológica da Ilha Grande (BMEIG).
PROJETO RECICLA ILHA - REAPROVEITAMENTO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
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COISAS DA REGIÃO EVENTOS DE FÉ
“ COMO SÃO BELOS OS PÉS DO MENSAGEIRO QUE ANUNCIA A PAZ” VINTE E CINCO DEZEMBRO O padre, Frei Anchieta, acompanhado por Frei Lucas e equipe de liturgia desembarcam de um bote, na Praia do Bananal vão a igreja, tocam o sino, anunciam, a missa vai começar. De mansinho os fiéis chegam, ajoelham-se fazem o Sinal da Cruz diante do Sacrário. Cantam o Salmo. “Os Confins do universo contemplaram a salvação do nosso Deus.” Fazem a Leitura da Carta aos Hebreus “Muitas vezes e de muitos modos, falou Deus outrora aos nossos pais pelos profetas. Rezam cantando. Há um ditado popular “Quem reza cantando fala com Deus em dobro. Frei Anchieta Proclama o Evangelho: “A Palavra de Deus se tornou existência humana na pessoa de Jesus. Deus se faz gente como nós, para revelar seu amor fiel para conosco. O Filho e’ a revelação plena de tudo aquilo que o Pai tem de belo, cabendo a humanidade usufruir ou rejeitar esse dom”. Louvemos ao Pai, que, com a encarnação do Filho, possibilita o encontro do divino com o humano. A Palavra eterna de Deus se fez homem, e nós vimos brilhar a sua luz. “Peçamos a Deus a graça da fome e da sede
da Eucaristia O Banquete Espiritual. Quem transforma é o amor. Caminhar com Jesus é optar pelo melhor caminho”. Após o abraço de confraternização, Feliz Natal Eles saem em silencio e cada um retorna aos seus afazeres. Uma casa grande, com muitas portas abertas. A maior porta. A porta do coração do povo japonês desta comunidade. Um povo que sorri, fala baixinho, que trabalha com prazer, que respeita a natureza Hora do almoço: o sino toca. A senhorinha japonesa anuncia baixinho: venham, venham o almoço está servido, o vento esfria os alimentos. Tratava-se de uma mesa com deliciosos pratos pelo o aroma percebe-se que foram elaborados com muito prazer, tudo muito organizado. A música, ah a música! O barulho do mar, um verdadeiro canto gregoriano, embalado pela mãe natureza. Um dia lindo! Podemos ouvir diferentes sons de diferentes cantos de diferentes pássaros tais como: araponga, sabiá, juriti, trinca-ferro, bem te vi, e sanhaço. Meu pai diria: é tempo de fiar.
Fiar é: esperar, confiar, acreditar. Porque é tempo de viver. É vivendo neste pedacinho da Ilha, na Praia do Bananal, numa comunidade japonesa, onde as pessoas vão a Capela Divino Espírito Santo, agradecem a Deus pelo o Pão de cada dia. Dois barquinhos saem, vão ao continente, outro chega da pescaria, assim também como as fragatas e gaivotas dão o ar da graça, chegam do mar, sobrevoam a praia, observam, grasnam é tempo de pescar. Almoçamos pratos ornamentados diversos sabores e cores. Sobremesa, doces caseiros, produtos naturais biscoitinhos caseiros completando com cafezinho e um dedinho de prosa. Hora de viajar, nova rota, novo rumo...,levando saudades daquela gente Bonita, gente Humilde, gente de Deus! Deus abençoe a todos queridos irmãos japoneses. Abraços fraternos. Neuseli Cardoso
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TEXTOS, NOTÍCIAS E OPINIÕES OPINIÃO
SONHO DE CONSUMO É FICAR LIVRE DAS DISTRIBUIDORAS DE ENERGIA ELÉTRICA Heitor Scalambrini Costa Professor aposentado (não inativo) da Universidade Federal de Pernambuco
Há muito várias vozes clamam pelo incentivo ao uso da energia solar fotovoltaica em território brasileiro. Principalmente pelo fato desta tecnologia estar em pleno desenvolvimento, alcançando patamares técnico-econômicos atrativos e compatíveis com outras fontes de energia utilizadas para geração de energia elétrica. E também pelo fato de grande parte do país contar generosamente com quantidades expressivas do recurso solar, em particular o nordeste brasileiro. Todavia obstáculos não faltaram e não faltam para que esta fonte de energia democrática, abundante, barata, e geradora de empregos locais, cresça no país. A ausência de políticas públicas é uma das maiores barreiras, assim como a atuação de “lobies” contrários as fontes renováveis. Somente em janeiro de 2013 é que entrou em vigor a Norma Resolutiva (NR) 482/2012 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) – que estabeleceu regras para a micro e a minigeração, permitindo que consumidores possam gerar sua própria energia e trocar o excedente por créditos, dando desconto em futuras contas de luz –alavancando assim o uso desta fonte energética. A resposta do consumidor diante deste modesto, mais importante incentivo foi surpreendente. Em 2019, o número de instalações bateu recorde, sendo mais de 92 mil conexões até o final de novembro, segundo informações da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL). Foram quase 276 sistemas fotovoltaicos descentralizados instalados por dia no país e conectados à rede elétrica, que juntos somam uma capacidade instalada de mais de 1,1 Gigawatts (GW). De usinas solares centralizadas, hoje o país dispõe de mais de 2,3 GW. Mesmo com este crescimento, ainda é irrisório a contribuição da energia solar
fotovoltaica na matriz elétrica brasileira. Desde 2013, ano em que a Aneel promulgou as regras da Geração Distribuída (GD), o segmento já registrou um crescimento acumulado de mais de 789.000%. O que evidência a busca do consumidor em encontrar uma saída para o alto preço da energia no país, apostando na autogeração para economizar na conta de luz. Visto que hoje, segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), o consumidor brasileiro paga a 3ª tarifa mais cara do planeta, o dobro da média mundial. Assim é mais que evidente os obstáculos para o crescimento, e uma maior participação da eletricidade solar na matriz elétrica. O que depende para se transpor os obstáculos são políticas públicas mais agressivas voltadas ao incentivo da energia solar. Por exemplo: criação pelos bancos oficiais de linhas de crédito para financiamento com juros baixos, a redução de impostos tanto para os equipamentos como para a energia gerada, a possibilidade de ser utilizado o FGTS para a compra dos equipamentos, programa dirigido a agricultura familiar incentivando o uso do conceito agrofotovoltaico (produção de energia e alimento), e mais informação através de propaganda institucional sobre os benefícios e as vantagens da tecnologia solar. Mas o que também dificulta enormemente, no que concerne a expansão da geração descentralizada, são as distribuidoras. São elas que administram todo o processo, desde a análise do projeto inicial de engenharia até a conexão com a rede elétrica. Cabe às distribuidoras efetuarem a ligação na rede elétrica, depois de um burocrático e longo processo administrativo realizado pelo consumidor junto à companhia, que geralmente não atende aos prazos estipulados pela própria ANEEL. E convenhamos, as empresas que negociam com energia (compram das geradoras e
revendem aos consumidores) não estão nada interessadas em promover um negócio que, afeta diretamente seus lucros. Isto porque o grande sonho do consumidor brasileiro é ficar livre, e não depender das distribuidoras com relação à energia que consome. O consumidor deseja é gerar sua própria energia. Ai está o “nó” do problema que o governo não quer enfrentar, e que na prática acaba sendo “sócio” do lobby das empresas concessionárias, 100% privadas. Enquanto em dois dias instalamse os equipamentos numa residência, tem de se aguardar meses para que a conexão na rede elétrica seja realizada. Mais recentemente a ANEEL propôs uma consulta pública para a revisão da NR 482, retirando a isenção de encargos e impostos do setor da GD. Medida esta apoiada pelo Ministério da Economia, e de encomenda ao loby das concessionárias, representada pela Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (ABRADEE). Se as novas regras forem aprovadas, equivalerá a onerar esta opção tecnológica para o consumidor gerar sua própria energia. Assim nos parece que os pilares de regulação e fiscalização, que justificam a existência da ANEEL, estão sendo abandonados, tornando está agência um mero “puxadinho” da ABRADEE. O que de fato se verifica é que a “política” energética brasileira vai na contramão das exigências do mundo contemporâneo, a reboque de interesses de grupos que vêem na energia um mero produto, mercadoria. Sem levar em conta os interesses da população. Acordem, “ilustres planejadores” da política energética. A sociedade não aceita mais pagar pelos erros cometidos por “vossas excelências”. Exige-se mais democracia, mais participação, mais transparência em um setor estratégico, que insiste em não discutir com a sociedade as decisões que toma.
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TEXTOS, NOTÍCIAS E OPINIÕES NOTÍCIA
BALLET ILHA GRANDE UM ESPETÁCULO PARA TODAS AS IDADES Um Revival Especial, Através da Dança Clássica e da Música Fotos: @Fabianoonativo
Renata Paganotto
Dedicação, trabalho e comprometimento. Foram esses os três principais itens que juntos tornaram possível a realização do espetáculo Eu Amo Anos 80 , da companhia de dança Ballet da Ilha Grande. Marcado para o dia 8 de dezembro às 16 horas, a organização foi surpreendida pela repentina falta de luz na Vila do Abraão. Pais de alunas se mobilizaram para providenciar geradores de energia e combustível, e assim o show prosseguiu, revezando as apresentações de canto ao vivo e dança. Além de toda a dedicação da professora Amana Soares, o evento contou com a contribuição de alunas, pais e amigos para acontecer. Os voluntários trabalharam na divulgação, cenografia, textos e logística, além de cuidar das alunas menores e dos filhos de alunas que estavam se apresentando.
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A apresentação da dupla Fátima e William foi um show à parte. O casal apresentou ao vivo versões autorais de bandas de sucesso dos anos 80, como Blitz e Cazuza. Já as coreografias apresentadas pelas alunas foram escolhidas pela professora Amana, que também escolheu o repertório e concebeu os figurinos para cada turma. Alunas de 3 a 12 anos foram divididas em 3 turmas , além da turma de adultas, que apresentou uma demonstração de passos tradicionais do ballet clássico. Nesse setembro, o ballet completou um ano de trabalho juntamente com alunos, parceiros e incentivadores. O maior objetivo é despertar o gosto pelo clássico na comunidade, contribuindo uma transformação social efetiva e para a popularização do erudito. As matrículas para 2020 já estão abertas. Telefone: (21)96777-8018
TEXTOS, NOTÍCIAS E OPINIÕES NOTÍCIA
REVEILLON 2020 - ABRAÃO ILHA GRANDE
“Chegamos em 2020 e nos parece que nada mudou quanto ao fim de ano, a virada. Muita bebida, ansiedade movida por desejos realizados ou não, esperança de um ano melhor, enfim, por séculos é assim. Nem parece que o mundo mudou radicalmente. É! Assim sentimos que o tempo parou para o Ano Novo. Possivelmente até positivo” Vamos ao nosso Abraão. Nós sempre tivemos altos e baixos no fim de ano. Um ano excelente, o outro cheio de criticas e assim sempre se revezou. Este ano nos pareceu um novo modelo e o que nos acrescenta de novidade é que voltou a parceria, o que nunca deveria ter deixado de existir. O resultado foi positivo. Como sempre muita gente na paia, fazendo pedidos e agradecendo, cada qual ao seu Deus, por todo o recebido. Mesmo no vapor etílico foi pacífico e de alma esposta. Portanto valeu passar o ano novo no Abraão. A energia da Ilha, traz sempre coisas positivas para qualquer momento.
O comportamento humano na praia mereceria pelo menos um estudo muito especial, pois as pessoas formam uma multidão e ao mesmo tempo estão se sentindo a sós. Paradoxal não é? As pessoas abrem o coração para dizer o que pensam neste momento, como se não houvesse ninguém ao seu redor. Voltados para o céu, clamam por melhores dias. De joelhos pedem perdão a amada, pelos deslizes, prometendo ser santo a partir daí. Coisas muito de foro íntimo são públicas neste momento. Às vezes cheguei pensar que poderiam ser encenadas pela “cara de pau” do masculino. Mas, acredito que não, o coração explodiu de forma incontrolável, inesperada e a partir daí só poesia pode expressar bem isso vejam: “dentro de mim tem um ninho de amor que espera só você”. É! Não parece, mas ainda há sensibilidade no mundo louco em que vivemos. Pelo menos em nossa praia a emoção é forte. Tudo isso merece uma reflexão, pois não está fácil de receber expressões em forma poética da pessoa que se ama. Aqui em nossa praia ainda é assim. Não sei se a praia é mística e através de sua energia movimenta por emoções, ou se o Abraão em si já é pura emoção. Aqui até quem não ganha dinheiro é feliz. Eu pago para morar aqui e cada dia mais feliz. Espero que este palco nunca acabe o show. Devemos lutar por isto. Nosso principal muro na luta para assim sermos é a própria Prefeitura que ama a desordem do continente e ao que me parece quer transformar em “belo da Ilha”. Feio, não é? Temos que ressaltar a queima de fogos que foi estupenda, ouvi na praia elogios
impressionantes. Há quem disse: só o espetáculo valeu o custo de vir à Ilha. Mais opiniões. Como sempre, críticas e elogios se contrapondo. Uns reclamaram das barraquinhas, das bandas, dos DJs, outros elogiaram tudo, enfim este é o Abraão dos contrastes, das contradições, dos acertos e dos erros que é característica do povo daqui. É cultural, mas temos que viver com isso. Há quem diga: “terra de encantos”. Mas ouvi gente chata, tosca, exigente e do contrassenso existencial, quando não é ele que faz, a dizer: FOI BOM! - Já é progresso, não é? Como jornalista e críticos dos costumes que vêm de fora, eu diria que poderíamos aproveitar mais do que temos, das tradições, do nosso jeito de ser, enfim das coisas nossas, dizendo não aos enlatados. Ainda me parece que o nosso turista, que é o alvo principal do evento, clamaria por menos barulho, menos “enlatados da mídia doida”, e de menor agito, pois na tranquilidade a alma falaria suave e diria coisa lindas. Enfim o momento de virada é muito mais de alma que de exageros para muitos. Ouvi tudo isso na multidão, por isso peço aos possíveis exagerados, que entendam os outros. Contudo, o positivo superou o negativo com grande vantagem. Parabéns aos organizadores, pois conheço muito bem o sufoco que é fazer qualquer evento nessa ilha. Já sofri suficiente com meu envolvimento para entender os outros e mesclar paz e agito. QUEM FAZ ENCOMODA E LUTA CONTRA A CORRENTEZA, conheço muto bem, pois “entre o mar e a montanha sempre fui o marisco”, onde incluo, com louvor, meus apoiadores. Enepê
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LAMENTAÇÕES NO MURO OPINIÃO
ENTENDER A PREFEITURA MAIS COMPLEXO QUE A FÍSICA QUÂNTICA Há muito tempo a sociedade da ilha luta por uma secretaria com autonomia suficiente para atender às nossas necessidades e entender que somos diferentes, do desastre cultural do continente. Nós ainda somos diferentes, por isso somos sempre o grande embate para a administração, na parte politiqueira que sempre agiu em Angra. Com a nova secretaria não foi diferente. Criaram finalmente a Secretaria
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de Ilha Grande. Mas como sempre em nosso município, a construção tende ao incompleto e com a secretaria não foi diferente. Criaram o secretário, mas não criaram a infraestrutura da secretaria, tampouco plano de trabalho ou normas de funcionamento, organograma funcional etc. Como nada existe, o secretário está ao sabor do vento e o vento sopra rumo a uma “chapa quente” que sempre queimou os subprefeitos da Ilha, onde o novo secretário poderá estar a caminho. Nossa subprefeitura nunca passou de um movimento desagregador, sempre com grupos contra grupos, politicagens de todos os tipos, sempre com foco ideológico, onde o “puxa-saquismo” de pelegos foi predominante. Neste escopo parece ser o destino da secretaria, onde queimarão mais pessoas ainda, por não conseguirem administrar. Segundo observo em nossa comunidade, que é quem sempre forma minha opinião para críticas ou elogios, poucos estão satisfeitos com o diapasão que dá o tom a secretaria. Mas uma coisa é certa,
se colocaram o Kazuo como secretário para queimá-lo, não ficará agradável para Prefeitura. Aqui há força suficiente para voltar a incomodar o Prefeito com relação aos “compadres” no poder como sempre a comunidade o fez. Os compadres já deram sinal de insatisfeitos com a nomeação do Kazuo. O silêncio momentâneo é para análise “do como ficará”. Este jornal levará a vós da comunidade em apoio ao Kazuo, caso ele tenha sido “jogado aos leões” ou na chapa quente. Dá até para pensar que o Prefeito não sabe do que se passa no entorno. Na verdade, tenho que afirmar que realmente é complexo, como exemplo, nosso Centro Cultural, que não resolveu o problema de um regimento interno, coisa que bastava uma reunião e uma caneta, mas nada saiu além de um imbróglio, que quase impossibilitou a festa de 30 anos da Brigada Mirim, solicitada há meses e de véspera cancelada pelo subprefeito, porque bateu de frente com a secretária de cultura. Por sinal haviam duas agendas, uma da secretária outra do subprefeito. É feio, mas normal por aqui coisas do gênero. Continuamos sem a aprovação definitiva do regimento interno. Suponho que o Prefeito não sabe metade da “missa que se reza” na gestão, pois como o conheço tenho certeza que se soubesse rolariam cabeças. Quem foi eleito com mais de 80% dos votos, nunca admitiria descompasso na gestão. Nós fazemos nossa parte de criticar positiva ou negativamente, até como subsídio ao Prefeito. Esperamos entrar em 2020 com o problema da Secretaria da Ilha Grande resolvido para dizermos: enfim respirando em vida nova e com ar puro. N Palma
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A ÚNICA ESCOLHA Ricardo Yabrudi
Imagine a vida com seus múltiplos aspectos e o que ela tem a nos oferecer. A vida é um viver estampado em ações. Há ações que não dependem de escolha, nem de desejo. Por exemplo, não tenho como não respirar, o que não depende de um desejo ou vontade. Aliás, o desejo precede a vontade. Não consigo parar de pensar, apesar de alguns esforços para o esvaziamento da mente em algumas ações como a meditação. Não consigo deixar de ter fome, a menos que esteja com inanição por motivo de saúde precária. Contudo, todos os atos do desejo e consequentemente da vontade serão atos “voluntários” enquanto os outros serão “involuntários”. Nos voluntários, (onde a ação primordial inicial vem com o desejo de algo), existirá um leque “infinito” de “opções”. Posso simplesmente passear, não trabalhar, ler um livro, ir ao cinema, etc. Enquanto exerço uma ação não consigo exercer outra que preteri ao escolher aquela que exerço. Quando escolho pela vontade e deliberação fazer alguma coisa, todas as outras não serão executadas. O conceito da “única escolha” pode parecer uma tautologia, (falar e comentar o óbvio), entretanto, o homem quando escolhe fazer alguma coisa está deixando de fazer todas as outras que poderia estar fazendo naquele momento. Será que estamos escolhendo fazer e exercer as coisas certas e necessárias? Passar a vida escolhendo fazer as coisas que valem a pena para nós é um assunto que toca a felicidade do “eu”. Os gregos chamavam isso “eudaimonia”. Muito se buscou para encontrar a felicidade e explicá-la. Contudo, o homem sabe pelo menos de forma abrangente, quando algo que estamos fazendo não nos agrada. Às vezes quando estamos fazendo alguma coisa, nos perguntamos se não deveríamos estar fazendo outra coisa? Quando escolho viajar a
algum lugar não estarei indo a nenhum outro do mundo senão àquele ao que irei. Estaria perdendo todas as outras opções que tinha porque escolhi aquela. Por isso, o tédio é sempre um elemento, uma sensação que nos assola porque ao deixar de fazer aquelas outras coisas pensamos não estar aproveitando melhor nosso tempo terreno. Indagamos-nos frequentemente: “O que eu estou fazendo aqui neste lugar?”. O que nos incomoda não é tanto o de estar aqui ou ali, com estas ou aquelas pessoas. O que realmente nos incomoda é que tenho tantas opções para fazer na minha vida e que ao escolher isto, e executar a ação, não posso mais fazer aquilo. Gostaríamos talvez da ideia de possuir mais que um corpo para poder aproveitar a grande variedade que a vida nos proporciona. No entanto, com um só corpo, numa profusão de afazeres, esta sensação e realidade uno-corpórea, gera, geralmente em nós, uma ansiedade típica da sociedade agitada contemporânea. Nossa vida é preciosa, nosso tempo é precioso. Perder e jogar fora o precioso tempo que nos resta nessa vida, geralmente provoca ansiedade, por fim tristeza, tédio e a eudaimonia (felicidade) não acontece. O que fazer então, como agir frente às múltiplas e infinitas escolhas? Procurar e “acertar” na ação e escolha perfeitas são o “existir” plenamente. Geralmente acontece esse acerto quando em um lugar paradisíaco ficamos inconformados de ir embora. A ação de, obrigatoriamente ter que se ausentar de um lugar com companhias agradáveis, vai na contramão da eudaimonia. Os festejos culturais e até os mais particulares, (os encontros de família) revelam a preciosidade de alguns encontros perfeitos. Despedir-se dos amigos no final das celebrações para que retornemos ao lar, às vezes se revelam um ato fúnebre, com choro e lamentações, justamente o motivo pelo qual a felicidade pretere as despedidas, porque ela é riso, graça e festejo, ela é união humana. (Os encontros de formandos
trinta anos após a formatura são um esperado encontro). Podemos inferir a respeito desses encontros tardios, no qual o homem procura a felicidade nas lembranças com o corpo presente, que esse se alegra porque conta suas histórias e seus feitos para que o honrem. As brincadeiras e os achincalhes nestas comemorações, também são bem vindas porque atestam que somos falhos e defeituosos, e que nos corrigimos a todo o momento para sermos “visíveis”. Entretanto, porque não vivemos eternamente com os amigos mais queridos, aqueles que nos separamos porque estamos em uma outra cidade, porque a profissão só encontrou sua obrigação lá, longe das amizades juvenis? O ato fúnebre, o vazio, a privação dos encontros traz tristeza, falta de apetite, reclusão. A felicidade é alegria, mesa farta, espaço aberto e o dançar no meio do salão, mesmo sem um par, sozinho, talvez num torpor dionisíaco. O existir feliz acontece como um retorno que quando este volta a se mostrar tem o mesmo sabor, (o “agradável” eterno retorno de Nietzsche). Este sabor inigualável da graça, do riso, do bem estar é o mesmo quando mesmo em estado de apneia conseguimos respirar um ar de eucalipto no fundo de nossos pulmões. A falta de felicidade apagada pelo tédio não nos deixa respirar, (sufoca o ser como a privação e o encarceramento). A fórmula e o elixir para a correta e acertada escolha dos atos será testada também pela experiência. Muitos indivíduos ao visitarem nas férias, algum lugar extraordinário, largam a cidade de origem e se mudam para onde se encantaram, (é a geração “Z”). O encantamento mágico de alguns lugares e de pessoas na simplicidade romanesca atraem vidas que não desejam jogar fora o que é mais precioso para elas. A paz perene também é quesito para a felicidade. A música que acalma pode te transportar para um mundo ideal, pode congelar o tempo histórico e levar o individuo a um mundo metafísico, aquele que pretende, almeja a plenitude dos tempos, (é o
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canto inebriante de Orfeu que o fez chegar ao impenetrável Hades enganando todos até chegar a sua amada, a bela Eurídice). A música também pode nos conduzir a estados de euforia dionisíaca, êxtase, tal qual na música das tragédias gregas cantadas pelo coro ditirâmbico. O ÓCIO, A FELICIDADE E O CINÍSMO DE DIÓGENES Onde estará o trabalho profissional com respeito à felicidade? Deixar de trabalhar para levar uma vida livre sem ocupações profissionais foi uma obstinação do filósofo Diógenes de Sínope. Após uma vida conturbada profissional com seu pai, decidiu morar dentro de um barril em Atenas, cidade que adotou para manter sua felicidade. Em verdade não era um barril, mas um vaso cerâmico grande que improvisava como casa. Comia restos de comida, não se casou e expunha sua filosofia nas ruas através de seu “modus vivendi”. O grande imperador Alexandre o procurou uma vez para se aconselhar. O filósofo cínico era amigo de Platão. Um dia foi visitar o amigo doente. Enquanto Platão vomitava numa bacia, Diógenes comentou: “Vejo a bile, mas não vejo o orgulho”. Platão estava muito ocupado com os problemas da sua academia e seus pensamentos idealistas advindos de Sócrates e ainda não tão bem compreendidos. Por isso escreveu a vida do mestre, que são os diálogos de Sócrates com seus discípulos. No entanto, Diógenes não escreveu nada, assim como Sócrates e Jesus, que nada escreveram. Diógenes apenas viveu sua eudaimonia na práxis das ruas atenienses. O orgulho de Platão a que se referiu Diógenes, talvez tenha sido o de ser um filósofo, com projeção em uma sociedade filosófica que não arredava pé de suas convicções, associado à ideia de que o homem deve compreender o mundo para vivê-lo bem, (uma ideia bem Socrática). Diógenes sempre viveu na simplicidade em Atenas, sem os problemas que tinha quando fugiu de sua cidade natal, onde havia praticado atos ilícitos. O que mais nos aflige é saber e nos indagar se estamos “perdendo alguma coisa” e se estamos bem onde nos encontramos. Perguntamos-nos se poderíamos estar em outro lugar? Será que a todo o momento estamos perdendo oportunidades que atestariam a felicidade em nossas vidas? Estaríamos perdendo a chance de alguns
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momentos de felicidade quando alguém nos convida para alguma festa e não aceitamos? Seria melhor estarmos sós do que mal acompanhados? Será melhor a solidão acompanhada de nossos pensamentos egoístas? O HOMEM COMUM, O FILÓSOFO E O SÁBIO O sábio não é aquele erudito que sabe quase tudo do mundo, mas talvez aquele senhor que viveu uma vida de felicidade e que conversou com todos, sem preconceitos. Extrair sabedoria das pessoas foi uma obstinação de Sócrates, por isso foi filósofo e sábio. João Guimarães Rosa, literato e sábio, extraiu dos matutos e jagunços nas suas andanças pelo sertão a grande literatura de grande sabedoria que publicou: o “Grande Sertão: Veredas”. Essa obra, mais que o espelho de uma filosofia de vida, que fala do umbral, da vida, da morte, do medo, da privação, fala do simplório, da vida do comum, do diálogo do matuto, do jagunço, se revela erudita através do homem simples. Estamos frente á uma filosofia do jagunço como herói sob o olhar de um grande escritor. A felicidade é ser e estar sem preconceitos. Precisamos nos libertar, às vezes, do manto da erudição e encontrar no simples, na natureza que se mostra, no homem que não conseguimos ver em sua totalidade; a via para conhecer a felicidade através do “outro”. A escolha primordial em cada ato nosso, pode partir, não do acaso, todavia, escolher, libertar-se do preconceito de conhecer pessoas de um modo geral sem restrições. O “outro” é quem não somos. Por isso, o desejo de conhecer a vida, é conhecer o próximo como a ti mesmo. Observando o outro, relativizamos as diferenças e a alteridade. Nos perguntamos: Por que ele escolheu aquele caminho? Por que ouve esse tipo de música e não a que eu gosto? Por isso, a natureza é múltipla. A realidade é colorida, ela não está estampada em preto e branco. Contudo, existem pessoas que insistem em enxergar sem as cores das flores. As pessoas são como as cores, um espectro infinito de tons, (nunca serão iguais aos ciborgues). Conhecê-las todas, é uma empreita impossível, mas uma tentativa necessária. Fechar os olhos a elas é uma prerrogativa de cada um. Porém, Diógenes de Sínope, apesar da aparência de mendigo não poupou repreensões ao imperador Alexandre e nem a Platão.
O CAMINHO CERTO SURGE DEPOIS DOS ERROS COMETIDOS Que caminho devo seguir? A “única escolha”, “a acertada”, talvez seja aquela que foi escolhida e executada sem arrependimento futuro. Diria: escolhi, e está escolhida e a executei. Não podemos mover o passado, argumentou Nietzsche. O único desejo momentâneo e consequente escolha podem gerar, num futuro, um desagrado e uma culpa. Argumentamos que poderíamos ter escolhido um outro caminho. Escolher a opção “certa” é afirmar que todas as outras estão “erradas”. Não dançamos em linha reta, mas circunscrevemos no salão um grafismo que, se nossos sapatos estivessem manchados com tinta vermelha, o chão estaria todo pintado de escarlate. Esse vai e vem da vida se conforma em erros e posteriormente acertos. Que bom que erramos e depois acertamos! Que bom que dançamos a esmo! A melhor escolha estará praticamente fadada ao insucesso. A escolha será sempre fortuita. Não podemos intuir o acerto futuro se não passarmos pelo erro. Afastar a ansiedade de querer acertar a mosca no primeiro tiro é uma boa forma de viver bem. Querer ser o “Dr. Escolha Perfeita” e querer ser feliz a todo o momento é uma quimera. Feliz daquele que não se culpa, daquele que fala quando deve. Infeliz daquele que se cala por seu egoísmo. Contudo, se for preciso me isolar, subirei uma montanha e de lá inerte contemplarei o mundo. Como uma pedra milenar, zombarei das gerações que desejaram sempre acertar no primeiro momento. A maior e única escolha talvez seja a “eternidade”. Contudo, sem estar na plenitude, preciso escolher. Que esta escolha seja sem culpa, sem ansiedade, sem remorso, sem perseguição, porém, com muita luta. Tudo passa! Tudo passa! Tudo passa! Navegamos neste umbral, que é a própria vida Procuramos pelo melhor Remo Aquele que faz o nosso barco veloz Para desviar das pedras inertes nas águas caudalosas Este Remo te leva a caminhos sui generis Neste rio que flui Na qual as águas nunca são as mesmas.
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MEMORIAIS DA IMIGRAÇÃO ITALIANA MEMORIAL DOS PALMA Este jornal oferece à imigração italiana, todo o mês um espaço para que todos se expressem, enfim somos 30 milhão e brasileiros decorrentes desta imigração e que sem modéstia alguma, podemos afirmar que foi um grande braço do progresso brasileiro. Hoje encontram-se em toda a escala social, intelectual, artística, política, científica etc, sobrenomes italianos em grande número. Esta imigração interferiu de forma harmônica, nos costumes, na religiosidade, na construção familiar, no espírito de trabalho em grupo, na arte, na cultura, na música, na política, eu diria em tudo, até nas coisas mafiosas (teria alguns nomes interessantes a citar, mas não convém). Pois é! Este espaço está aí para todos disporem dele, até em vêneto ou no próprio italiano. Esta ascendência imigratória, mesmo com os contratempos do governo (década de 30), eles falam ou pelo menos entendem três idiomas: português, vêneto e italiano. Caso queira o leitor ampliar seu conhecimento sobre o assunto, sugeriríamos começar a pesquisar por MEMORIAIS ITALIANOS e clicar em imagens. Aí já terá uma ideia do tamanho do assunto. Encontrarão ali também, em várias postagens, para nossa alegria, o Memorial dos Palma. Bem, vamos falar agora um pouco sobre o mês de dezembro no nosso memorial. O forte foram os preparativos para a festa de aniversário de um ano do Memorial. Com um pouco de humor e exageros, preparamos para a gastronomia: um boi, três ovelhas, um suíno de 200kg, 20 kg de capeletti ou agnolini, 4 caixas de verdura, batatas, frutas e etc. É, a italianada come muito! O Zeca encarregouse de um barril de 200L de vinho. O musical também será muito abundante e tradicional, terá espaço para apresentação artística. O Marcos está aprendendo tocar trombone, para integrar a banda do município, hehehe! Agora uma parte importante e séria do assunto imigração. Nosso primo Alexandre, primogênito do tio Eliezer que era filho caçula do nono Ernesto Palma, que por sua vez era filho de Andrea Palma, que imigrou para o Brasil com todos os filhos e metade dos irmãos em 1892. Foi à Itália,
pontualmente visitando Legnago, nossa origem no velho mundo e nos trouxe o seguinte: LEGNAGO – UMA BREVE E AGRADÁVEL VISITA A REGIÃO DE ORIGEM DO NONO ERNESTO PALMA Legnago é uma comuna italiana da região do Vêneto, província de Verona. Segundo a Wikipedia, possui cerca de 24.232 habitantes, estende-se por uma área de 79,66 km², tendo uma densidade populacional de 307 hab/km². Faz fronteira com Angiari, Bergantino (RO), Bonavigo, Boschi Sant’Anna, Castelnovobariano (RO), Cerea, Minerbe, Terrazzo, Villa Bartolomea.( https:// pt.wikipedia.org/wiki/Legnago). Está a 483 km de Roma (link do Googlemaps) e a 43 km de Verona (link do Googlemaps) Minha viagem iniciou-se em Roma, onde permaneci por três meses realizando um curso de capacitação em italiano. Era 18 de novembro de 2019 e fazia chuva e frio, típicos dessa época do ano.Tive a companhia da Ester, minha esposa e parceiro na de viagens, e da Amanda, minha enteada caçula que estava fazendo intercâmbio em Dublin, Irlanda, e aproveitou para fazer
AMANDA, ALEXANDRE E ESTER EM VENEZA
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um giro pela Itália. Nossa ideia era ir a Veneza, passando por Legnago e Verona. Acordamos cedo e tomamos o trem com destino a Legnago. Fomos de Roma à Nogara, onde realizamos uma baldeação e pegamos outro trem à Legnago. Eu possuía como referência a foto abaixo, da casa do Sr. Cristiano Palma, foto que foi doada por primas Palma de Curitiba ao primo Nelson Palma, administrador do Memorial da Família Palma e editor do jornal “O Eco” de Ilha Grande/RJ.
PRIMAS DE CURITIBA PR, DESCENDENTES DE BORTOLO PALMA, IRMÃO DO BISNONO ANDREA. DA ESQUERDA: MERCEDES, TERESINHA, NELSON E NILZA. CONHECEM TUDO DA FAMÍLIA. FORAM AO ENCONTRO DA FAMÍLIA EM LEGNAGO EM 1998.
Entretanto, não sabia o endereço correto da casa onde, supostamente, viveu o nosso nono Ernesto Palma. Falei com alguns primos, tentei buscar no Google, mas não consegui. Mas, tanto Nelson,
PASSAGEM DE TREM ROMA-LEGNAGO
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INTERESSANTE como Heitor, me orientaram a ir perguntando que eu encontraria a casa do nosso avô. Ao chegar em Nogara, onde haveria baldeação para Legnago, resolvi ligar para alguns Palma cujos telefones encontrei no Google. Estava receoso de não ser bem recebido, ao mesmo tempo que não queria parecer invasivo. Já no trem para Legnago, e algumas ligações depois, atendeu uma senhora, Palma, cujo nome não anotei e, portanto, esqueci. Essa simpática senhora disse que, sim, conhecia a casa do Cristiano Palma e me deu o endereço e telefone do atual morador, o Orfeu Palma. A casa que, supostamente, seria onde viveu o nono Ernesto quando menino, localiza-se na Via Valbona. Chegando a Legnago, saímos a procura de um taxi. Entretanto, não havia táxi em frente à estação ferroviária, nem, tampouco, na rua. Assim fomos caminhando até um café, onde com ajuda da funcionária conseguimos pedir um táxi por celular. Na verdade, era um carro particular (não era Uber) e o motorista, muito solicito, nos levou até a Via Valbona, que se localiza no início da zona rural, numas das saídas da cidade. Ao chegar, esperavanos o Orfeu Palma, que havia sido avisado - pela senhora do telefonema - que parentes do Brasil estavam querendo conhecer a casa e tirar algumas fotos. Muito simpático, o primo Orfeu nos levou até a frente de sua casa, que ficava uns 50 metros mais adiante do endereço que julgamos ser a casa de Cristiano Palma. A conversa foi rápida, pois tínhamos que seguir viagem à Verona e o taxista nos esperava. Orfeu nos contou que vários parentes do Brasil já foram até Legnago e que realizam uma festa da família Palma. Disse que os Palma que foram ao Brasil eram originários da comuna de Gallio, na região das montanhas (https://pt.wikipedia.org/ wiki/Gallio), localizada 130 km de distância de Legnago. O primo Orfeu nos convidou para entrar e perguntou se tínhamos onde nos hospedar, demonstrando muita alegria em nos conhecer. Agradecemos o convite, mas tínhamos que seguir viagem. Nos despedimos, pois, o taxista tinha compromisso e não podia mais aguardar. Como estava frio e chuvoso, decidimos voltar a estação para seguir a Verona. Ficou aquele gostinho de “quero mais” e, sei que, certamente, abrimos uma porta para voltarmos e passarmos alguns dias em Legnago para que possamos desvendar a alma e o coração dos Palma que lá permaneceram. A seguir, algumas imagens de Legnago. Também fizemos alguns vídeos que poderão ser acessados no site do Memorial da Família Palma (http:// memorialdospalma.com.br/ - omemorial/).
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PRIMEIRA CASA, ONDE ORFEU PALMA VEIO AO NOSSO ENCONTRO. TUDO INDICAVA QUE ESSA SERIA A CASA DE CRISTIANO PALMA ATÉ AQUELE
ESTAÇÃO FERROVIÁRIA
MOMENTO.
HOMENAGEM AOS PILOTOS DA 2ª GUERRA CASA ONDE MORAVA CHRISTIANO PALMA
ORFEU PALMA, À ESQUERDA, CONVERSANDO COM O TAXISTA.
SÍMBOLO DO ENCONTRO DE LAGNAGO EM 25 DE ABRIL E 1.998. ATRAVÉS
PREFEITURA DE LEGNAGO
DAS PRIMAS, TERESINHA, NILZA E MERCEDES, NÓS RECONSTR4UIMOS BOA PARTE DA MEMÓRIA.
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POR QUE ESCREVEMOS EM VÊNETO? Porque nos reporta às memórias ancestrais. Os memoriais são formados de memórias ancestrais e o Vêneto, remonta ao século VI AC. Descende do latim vulgar, por isso é neolatina e teve influência de todos os povos de sua redondeza, espanhóis, franceses e até das antigas invasões de godos e visigodos etc. O Vêneto armazena nossa memória e no Brasil por pequena diferença da Itália, se chama talian”. No Rio Grande do Sul, consta que um milhão de pessoas ainda falam ou entendem o vêneto. Em Antônio Prado, a cidade mais italiana do Brasil, a língua é matéria escolar. No oeste do Brasil, chega até Rondônia e no Norte, em Boa Vista/RO, também é comum através do pessoal do Sul que lá se instalou, ter até um CTG (centro de tradições gaúchas), que já é cultura, que assimilaram no Sul através da imigração açoriana, que tinham em comum com os italianos, a religiosidade, a nostalgia de suas terras e a música melancólica. No Sul em certos lugares já existe um sincretismo face a harmonia em que vivem, influência na culinária, na
música e na vestimenta. Transformação normal onde os preconceitos não são dominantes. Bem, agora um pouco das histórias em vêneto. Tanto a literatura, quanto na história oral eram representadas com escopo em três veredas: muito séria com cara de dogma e piegas, ironia aos costumes que era o contraponto das coisa sérias (estas eram sempre sucesso), e por fim as satíricas, do tipo “pimenta nos ouros é refresco”. Tanto nos contos, quanto na poesia, onde a música era fundamental, pois a música, na melodia e na expressão corporal tornava teatral, tanto o satírico, quanto a ironia aos costumes. Quem cantou o Vecio Trivelin, o Filó de alguns compositores, a própria Veginela, sabe o quanto é irônico, e sempre bagunçando os costumes. Agora vamos à historia de uma estravagante figura, um tanto verdadeira, quanto satírica e irônica, mas totalmente de estilo vêneto. Muitos querem saber quem é o pitosto, pois é ele quem escreve as coisas extravagantes do vêneto.
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SHOW HUMORÍSTICO DO MÊS Humor Vêneto
MA CHI ZE STÔ PITOSTO FIGHE? - SOM MI, DESSO TE SPIEGO! “Pitosto Fighe son mi e son nato in Scandinavia, giusto a Stocolmo. Come primo nome el mio pare me ga messo in inglese : “Bag Shit”. No só cosa vol dir, mà, deve èssere bruto parque tutti ride quando lo digo. No gó mai volesto imparar inglese, par cuesto no só cosa vol dir. Una lengua que scrive five, se lege faive a dopo dize que ze cincue, mi no la gó mai capia. Gó fato la univercitá a Svezia e quando la gó finita, gó dito al pupá: vao via! -Te vé ndove? - Girar el mondo e guastar soldi, gó dito. Pupá gavea anca na bela fortuna. Lora son dato al stretto di Berring, ndove zè el mare piu bruto del mondo. Se te caschi l’acua, te morri suvito. Son dato a pescar cuei gambari grandi, de tre o quatro kg cada uno e a 200 metri de profondo. Son stato li um ano e cuei che no giera furbi, da romais gera tutti morti e come non morria mai piú nissuno, giera tuto monótono. Lora gó messo soldi in carsela, i son dato in África. Lá gó trová Gigio Delamare, um talian forbo. Me domanda: vuto laorar? – Se non laoro vao morrir de fame gó dito!- Vuto far filmi par la Eurovison? - Si gó dito! Basta che me spieghi! - Te meto su uma roba grossa i sicura e te meti a barrufar a sberle com el leone, mi te filmo, dopo lo vendemo a la Eurovision e te dó la metá dei soldi. - Suvito, gó dito! Gó scominciá com un poco de paura, ma come ndava bem com i sciafuni nel naso del leone, gavemo fato belissimi filmi e perso la paura. Ma el leone zera furbo, quando gá vedesto che solo ciapava sberle e mai me sbregava la roba, non me grafava mai, el gá dito basta! Lora cuando mi rivava, lu ndava via. Cosi no ghe gera piú laoro. Gó messo i soldi in scarsela, nantra volta, e son dato al mare, al arcipélago de Cabo Verde, um paese de lengua portughesa. Li son dato in cerca de laoro e gó trová una empresa sul-africana che se ciamava: Cazzi e Fighe Corporation. Gera fabricante de preservativi par pinciar securo. Gavemo ciacolá um poco e semo messi d’acodo cosi: Me dava um velero pícolo, de cincoe metri e
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Dezembro de 2019, O ECO
cincoe mile dolari, ma bisonha tegner su sempre uma vela in forma de preservativo, gionfa de vento e scrito: cazzi e Fighe Corporation, par tuto il vigio. Son partio! Lora, tanti giorni vardando, cazzi i fighe scrito en la vela, me gó messo il nome de Pitosto Fighe. Écolo li ndove riva il mio nome. El viaio gera longo bizognava ndar in fina la scandinávia, ritornar par la costa oeste de Europa, passar el canele di colorazione (dela smàcia) in fina el streto di Gibraltar, ndar detro al Mediterraneo, par la costa europea, fina el Egito. Son rivá a Israel e i militari me ga preso el velero con mi encieme, parche son dato justo a un posto proibito. Due giorni de ciácole i un puchi de soldi, i giudei me gá lassa dar via; co soldi e ciacole i giudei se mete d’acordo fácile. Son dato in fina la Alexandria i ritornato par la costa Africada fina el ercipélago de Cabo Verde, ndove son partio i tutti me spetava com una gran festa. Me gó sentio um faraon e piú che contendo! Le femene osava al timbre de faraone...madona, mesi sensa fêmene, mi me sentia stesso Rodolfo Vaneltino (símbolo sexuele dei ani 20) Con tutto el sucesso, la Cazzi e Fighe Corporation, me gá dato el velero e vinti mile dólari e na sbranca de preservativi, par ndar a fighe ndove volea. Mi gó ciapá suvito la corrente marina calda del ecuatore e son partito a Sudamérica. Dopo due mesi de mare, son rivá a Ilha Grade. Li gó trová Palma, um scapolon furbo e pien de scharsi con bele storie, semo stai u’nora incieme e gó visto suvito che giera stesso a me. Me gó messo scrívere una coluna satírica nel suo giornele, O Eco. La prima che gó srito, se ciameva: Amendoeira Abençoada. Giera um posto che al lombra, ndove tutti giocava carte, ciacolava mal la vita de tutti come sempre. Ze stata bona lá sátira. Palma riva e semena el giornal nel paeselo e mi son dato al Casaron del Maluco, um posto meso profano em la piassa principale e riva el gionale. Un homo meso talian meso brasiliano, com facia stravagante, de nome Marcolino e cognome Martelo, che la gente lo ciamava de Soto Scala, se mete a ledere lá sátira par tuti scoltarla. I se gionfava de rídere la gente. Ma, cualcuno domandava: chi zé sto Pitosto, che sá tutto dela Isola? Dopo luri deventava mati par saver chi giera Pitosto e mi giera contento com el sucesso de sátira. Coesta ze la mia storia! Sempre stravagante e profana má bem vivesta. Pitosto Figue, - um svedese che scrive talian e portoghese