FOTOS: DIVULGAÇÃO (INB)
Verde
ANO VI - EDIÇÃO No 334 FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 22 de abril de 2014
URÂNIO
Perigo ou desenvolvimento? Futuro das áreas urbanas
A ONU estima que dois terços da população mundial vivem em cidades. O assunto foi discutido no Fórum de Medellín. Pág. 3
DIVULGAÇÃO
Indústrias Nucleares Brasileiras e Governo do Estado defendem que projeto trará desenvolvimento, mas ativistas resistem e temem riscos ao meio ambiente Págs. 6, 7, 8 e 9 e à saúde da população campesina.
OPINIÃO Wanda Camargo: Sustentabilidade nas escolas Em muitas escolas, sustentabilidade é palavra lembrada em algumas efemérides, citada em umas poucas aulas. Pág. 4
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VERDE
Coluna Verde TARCÍLIA REGO
tarcilia_rego@terra.com.br
CLIMA
O documento que corresponde à terceira parte do relatório de avaliação (AR5) do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU), aponta que seria necessário um investimento global em torno de US$ 177 bilhões por ano no desenvolvimento de tecnologias que permitam reduzir as emissões e sequestrar o carbono já emitido. Todos os cenários de mitigação dos impactos das mudanças climáticas apresentadas no dia 13 de abril pelos cientistas do IPCC, passam pela redução das emissões de gases do efeito estufa e por investimentos em tecnologias capazes de sequestrar o carbono já emitido. Para os especialistas do Painel, a redução das emissões envolve o investimento em energias renováveis o aumento da eficiência no uso de recursos e a redução do consumo insustentável. FIRJAN De acordo com a Federação das Indústrias do estado do Rio de Janeiro (Firjan), depois de quatro novos reajustes autorizados pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), o custo médio da energia elétrica para a indústria brasileira passou de R$ 292,75 por MWh para R$ 301,66. Com o aumento de 3%, o país passou da 11a para a 10a posição em ranking internacional que contempla 28 países. O topo do ranking é ocupado pela Índia, com custo de R$ 630,92 por MWh. FALANDO NA INDÚSTRIA... A reunião do Conselho Temático de Meio Ambiente (Cotema) da CNI – Regional Nordeste acontece dia 23 (quinta-feira), na sede da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), em Fortaleza. Representantes do setor industrial de todos os estados da Região Nordeste, ao todo, três por estado, participarão do encontro, assim como o secretário executivo do Conselho e gerente de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Shelley Carneiro. O gerente do Núcleo de Meio Ambiente (Numa), Renato Aragão, o presidente do Sindiverde, Marcos Augusto Albuquerque e o diretor financeiro, Edgar Gadelha, representarão a Fiec. Na pauta, dentre outros temas de interesse da indústria, o desenvolvimento sustentável e a situação dos portos nos estados do Nordeste. Bruno Sarmento, presidente do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam) e a titular da secretária de Urbanismo e Meio Ambiente do Município de Fortaleza
Verde
(Seuma), Águeda Muniz, foram convidados para a reunião. No dia seguinte, os participantes irão visitar a Feira Recicla Nordeste, no Centro de Eventos. NUMA Núcleo de Meio Ambiente da Fiec, que tem a frente o dinossauro do ambientalismo cearense, Renato Aragão e a advogada Elaine Pereira, recebeu voto de congratulação da Assembleia Legislativa, pela outorga da 10a Edição do Prêmio FIEC por Desempenho Ambiental, no último dia 10 de março. A proposta foi feita pelo deputado Dedé Teixeira (PT). Nada mais merecido. KEPLER-186F O anúncio da Agência Espacial Americana (Nasa) sobre a descoberta do Kepler-186f, planeta com dimensões semelhantes à nossa (nossa?) Terra, 10% maior e, ao que tudo indica, composto de rochas e contendo água líquida, só fortalece minha ideia de que devemos tratar de cuidar mais e melhor o nosso planeta. O novo “primo” da Terra fica numa constelação (Cisne) a 500 anos-luz de distância daqui, se um ano-luz corresponde a cerca de 9 trilhões e 500 milhões de quilômetros em um ano. Sabe o que é isso? Aproximadamente cinco quatrilhões de quilômetros. REFLEXÃO “Não é verdade que as pessoas param de perseguir os sonhos porque elas envelhecem, elas envelhecem porque param de perseguir os sonhos”. Gabriel Garcia Márquez, escritor - 1927/2014.
GESTORA E EDUCADORA AMBIENTAL
AGENDA VERDE 22 DE ABRIL DIA TERRA
• Hoje o mundo celebra o Dia Internacional da Terra. Desde a instituição da data, a comemoração tem um caráter de manifestação. Em 22 de abril de 1970, o então senador norte-americano Gaylord Nelson, convocou o primeiro protesto nacional contra a poluição. Na ocasião, mais de 20 milhões de pessoas nos EUA, preocupados com a já visível degradação planetária, engajaram-se ao movimento. A data passa a ser adotada em vários países a partir de 1990 e torna-se um evento internacional comemorado livremente em todo o mundo, adequando-se a realidade de cada região. É um dia de reflexão para sociedade global pensar sobre a emergência de preservação dos recursos naturais e para os desafios a serem enfrentados relativos à adaptação às mudanças climáticas. No nosso caso, nada mais pertinente do que comemorar a data, de olho na Caatinga.
DE 24 A 25 DE ABRIL CNI
• Representantes do Conselho Temático de Meio Ambiente da CNI de todos os estados da região Nordeste reúnem-se de 24 a 25 de abril na sede da Fiec em Fortaleza.
25 DE ABRIL PRÊMIO ADPERGS DE JORNALISMO
• As inscrições para a 3a edição do prêmio que busca valorizar a imprensa e o seu compromisso com as iniciativas de melhoria da qualidade de vida e do fortalecimento da democracia, estão abertas até o dia 25/04. Informações: http://www.adpergs.org.br/regulamento.
DIA 26 DE ABRIL 28 ANOS DE CHERNOBYL
• O acidente nuclear na cidade de Chernobyl ocorreu dia 26 de abril de 1986 na usina nuclear, originalmente chamada Vladimir Ilyich Lenin (hoje Chernobyl) na Ucrânia que naquela época integrava a então, União de Repúblicas Socialistas Soviétics (URSS). Considerado o pior da história, produziu uma nuvem de radiotividade sobrea a URSS, Europa Ocidental, Escandinávia e Reino Unido 400 vezes mais radiotiva do que a bomba lançada sobre Hiroshima.
28 DE ABRIL DIA NACIONAL DA CAATINGA
• O objetivo da data é levar a sociedade a refletir sobre a conservação e a preservação da Caatinga, única floresta exclusivamente brasileira. Além de enfrentar longos períodos de estiagem, o bioma é considerado como que tem o menor índice de áreas protegidas no País, e talvez, o mais ameaçado. A conservação da Caatinga é essencial para a manutenção da vida de milhares de espécies, muitas ainda não conhecidas, e garantir a geração de renda e riqueza para aproximadamente, 25 milhões de pessoas que moram em áreas do bioma.
DIA INTERNACIONAL DA EDUCAÇÃO
• A data faz referência ao encontro de representantes de 180 países participantes do Fórum Mundial de Educação, realizado em abril de 2000, na cidade de Dakar, no Senegal. Na ocasião, foi assinado um documento no qual estes países se comprometiam a não poupar esforços para que a educação chegasse a todas as pessoas do planeta até 2015.
O “Verde” é uma iniciativa para fomentar o desenvolvimento sustentável do Instituto Venelouis Xavier Pereira com o apoio do jornal O Estado. EDITORA: Tarcília Rego. CONTEÚDO: Equipe “Verde”. DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Wevertghom B. Bastos. MARKETING: Pedro Paulo Rego. JORNALISTA: Sheryda Lopes. TELEFONE: 3033.7500 / 8844.6873
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VERDE
FÓRUM URBANO MUNDIAL
Encontro debate futuro das áreas urbanas Estimativas da ONU apontam que dois terços da população urbana mundial vivem em cidades onde a desigualdade de renda aumentou desde os anos 1980 POR TARCILIA REGO* tarciliarego@oestadoce.com.br
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umo a um futuro urbano, humano e sustentável. Neste contexto termina a 7a Edição do Fórum Urbano Mundial (WUF7) Medellín, na Colômbia. Pensar a cidade já não é a tarefa exclusiva de especialistas, mas entre os dias 5 e 11 de abril, nomes como o arquiteto e urbanista Leon Crier, o Nobel de Economia Joseph Stiglitz e o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg reuniram-se na cidade colombiana no WUF com o propósito de soluções inovadoras para o espaço urbano. O tema central girou em torno de um conceito que busca transformar e melhorar a vida nas cidades através da conexão do indivíduo com o lugar que habita. “Uma cidade não é um acaso, mas o resultado de visão e objetivos coerentes”, afirmou o arquiteto Leon Crier, considerado o “pai do Novo Urbanismo”, durante o encontro que acontece a cada dois anos. Promovido pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos (ONU_Habitat) convida uma variedade de participantes de todo o mundo para discutir os principais obstáculos enfrentados pelo ambiente urbano contemporâneo. É o evento sobre cidades e desenvolvimento urbano mais importante do planeta. Segundo estimativas da ONU, dois terços da população urbana mundial vive em cidades onde a desigualdade de renda aumentou desde os anos 1980. “Um ambiente pobre resulta em pouca saúde, que por sua vez resulta em bai-
UPP No dia 9, em celebração aos significativos avanços em políticas urbanas, o Fórum concedeu o Prêmio Pergaminho de Honra ao Brasil pelo programa social carioca Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), considerado “uma inspiração muito sólida para intervenções em regiões desfavorecidas”. China, Etiópia, Coreia do Sul e Reino Unido também tiveram iniciativas premiadas.
da Cidade colombiana lançou a Carta de Medellín, documento que trata sobre o futuro das cidades e o desenvolvimento – assuntos abordados no 7O Fórum que debateu a situação atual e os esforços na disseminação do desenvolvimento urbano sustentável. Nesse sentido, Medellín buscou compartilhar com os outros governos locais as estratégias que a tornaram uma referência internacional em termos de inovações urbanas, as quais permitiram lidar com os altos índices de violência e exclusão social e promover uma cidade mais inclusiva. Medellín conseguiu reduzir a violência, ilegalidades e conflitos urbanos, por meio de um planejamento coletivo e participativo que contou com total apoio das Organizações Não Governamentais (ONGs) e do setor empresarial. A Cidade adotou o chamado urbanismo social e um dos exemplos de maior destaque do modelo de desenvolvimento é o Metrocable (teleférico urbano) que permitiu às comunidades suburbanas pobres, acesso ao metrô. A Carta de Medellín, fundamentalmente, vai ao encontro da noção de cidades para a vida com equidade, apresenta o conceito de Cidades pela Vida e está estruturado em duas partes. A primeira discute os motivos, valores e princípios que poderia contribuir para a sustentação da visão da cidade para a vida. A segunda trata da gestão integral das cidades e seus desafios. A Carta pode ser lida no site do Caderno O Estado Verde: www.oestadoce.com.br/estadoverde.
CARTA DE MEDELLÍN Ao término do encontro, a Prefeitura
Com informações da ONU_Habitat e do World Urban Forum (WUF)
xo desempenho econômico”, explicou o Nobel da Economia de 2001, Joseph Stiglitz, que destacou o transporte público como um dos elementos mais importantes para o desenvolvimento urbano. Moradia, educação universal e desigualdade econômica foram outros dos temas em destaque. Pela primeira vez a população urbana da China ultrapassou os 50%, e na Índia, agora em torno de 30%, o que alimenta mais ainda a discussão sobre a forma de gerir o desenvolvimento urbano. O futuro do local, de cada cidade, se entrelaçou com o futuro do planeta. “Planejamento, equidade, segurança, mobilidade e gestão de serviços básicos para o futuro” é urgente. Mais um motivo para tornar indispensável o compromisso social porque pela primeira vez na história, vivem nas urbes, mais da metade da população do mundo e calcula- se que em 2050 sejam 80%. Nelas são decididos os aspectos centrais de nossa existência individual e coletiva.
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VERDE
OPINIÃO
Sustentabilidade nas escolas
POR WANDA CAMARGO*
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o mundo que sonhamos, todas as escolas institucionalizam a sustentabilidade em teorias e práticas, seus prédios são projetados e construídos com materiais reciclados/recicláveis, há condições para a economia de energia, reutilização de águas servidas e de chuva, descarte correto de resíduos; existe envolvimento das comunidades escolares, e do seu entorno, em atividades preservacionistas. No mundo em que vivemos, isso nem sempre acontece, a educação ambiental tem sido incipiente, os orçamentos públicos mal contemplam a construção das novas unidades escolares indispensáveis, e a manutenção, às vezes precária, das existentes. Em muitas escolas, sustentabilidade é palavra lembrada em algumas efemérides, citada em umas poucas aulas, e deixada de lado no restante do tempo. Em outras, felizmente, sabe-se que o caminho entre o sonho e a realização passa necessariamente pela vontade e pela ação; e constata-se, com esperança, aquilo que o ideal de muitos pais, professores, diretores e orientadores pedagógicos têm realizado com os poucos recursos disponíveis. No ensino fundamental, procura-se a atenção e o comprometimento das crianças, são criadas hortas comunitárias, oficinas de marcenaria para recuperação de mobiliário, sistemas de compostagem do lixo orgânico, reciclagem de materiais escolares, até
mesmo pequenas reformas com vistas à recuperação de ambientes degradados, sempre com a participação de alunos, pais e professores voluntários, que cedem parte de seu tempo de descanso. Não são grandes obras, não são grandes intervenções, são imensos exemplos. Sustentabilidade se funda em parte na materialidade, mas importa muito, também, a crença de que é vital para todos, e será cada vez mais. As escolas de ensino fundamental e médio comprometidas com sustentabilidade focam o coração dos alunos no processo de formação de consciência ambiental. Já as instituições de ensino superior miram a mente, estudantes universitários estão em faixa etária e intelectual em que a consciência já está formada, e são naturalmente mais sensíveis à racionalidade. As boas práticas sustentáveis concentram-se em atividades de extensão, em normalização de procedimentos, em orientação de monografias, em conteúdos curriculares. Reflexão ecológica, interrupção da destruição do ecossistema, diminuição dos hábitos de consumo desenfreado devem ser parte importante do ideário das instituições de ensino, e algo já indissociável do sentido pleno da educação. Uma questão que deve ser considerada é que sustentabilidade não dá lucro financeiro imediato e custa caro. E, ainda que muitas instituições cumpram seu papel de modo responsável, há um grande número de intenções piedosas manifestadas em documentos oficiais que não passam de bons propósitos e discursos vazios de quaisquer iniciativas deles decorrentes. No entanto, para além de interesses pecuniários ou investimentos de curto prazo, estará o bem estar e mesmo sobrevivência das próximas gerações. Devemos a elas, no mínimo, um planeta em condições de equilíbrio ambiental.
* Wanda Camargo é educadora e representante das Faculdades Integradas do Brasil - UniBrasil no Conselho Paranaense de Cidadania Empresarial (CPCE).
A CHESF NA AGENDA NEGATIVA DOS PROBLEMAS ENERGÉTICOS E SOCIAIS
Heitor Scalambrini Costa, professor da Universidade Federal de Pernambuco, escreveu um emblemático artigo sobre a Chesf-Companhia Hidroelétrica do São Francisco. Publicado originariamente no portal eletrônico EcoDebate, dá uma ideia da irresponsabilidade do governo brasileiro com as questões energéticas e agressões ambientais, sobretudo quanto às obras construídas ao longo do mais importante rio genuinamente brasileiro, o São Francisco, ao qual tanto deve o sertanejo nordestino. Em “A Credibilidade da CHESF”, Scalambrini, lamenta as agressões sociais praticadas contra as populações ribeirinhas por vários governos, algo que salta aos olhos, mas que vai passando despercebido, por omissão ou conveniência, tanto da sociedade, quanto daqueles que têm responsabilidade pública para com o patrimônio natural do povo brasileiro.
Decisões antidemocráticas O articulista lembra que “a construção das barragens ao longo do Rio São Francisco expulsou populações nativas, inundando várias cidades, e se constitui exemplo de decisões antidemocráticas, pois não levaram em conta os interesses dessas populações”. Esquecem os governantes que “para situações relacionadas à questão energética, preconiza-se a necessidade de construção de consensos, o que significa o reconhecimento dos interesses divergentes que devem ser considerados e incorporados no processo de negociação.
Nefasta ingerência Scalambrini observa com proficiência que “todo o sistema elétrico brasileiro, desde o final do século passado, tem sofrido ingerência político-partidária, mas nunca antes ocorrida com tal voracidade como agora, o que constitui algo nefasto para os objetivos, o trabalho e a atuação desse setor estratégico para o país”. É fácil constatar, segundo ele, que as empresas do setor viraram moeda de troca nas transações de pura politicagem, sendo que os dirigentes são apadrinhados. Vale o nepotismo e que se dane a competência técnica.
Direitos desrespeitados O atual governo é especialista em blindar questões que levantem problemas em se debatidas leva-o a adotar medidas contrárias à sua vontade ou planejamento burocrático. A Chesf, neste quesito, segundo entende Scalambrini, “virou intocável, inatacável, devido a sua importância para a região”, e, em face desta condição pouco ou nunca se debate as questões pertinentes à ação da companhia. Com essa postura, escamoteiam-se verdades e muitos direitos das populações afetadas, especialmente das minorias ribeirinhas não estão sendo respeitados.
Agenda negativa Infelizmente, não apenas na Chesf, mas em todos os órgãos públicos no Brasil o aparelhamento do Estado pelo Partido no poder tão evidente quanto deletério para o progresso do País. É só dar um olhadela na Petrobras dos dias hodiernos para se ver o descalabro que se impôs à gestão da “res publica” em nosso País. A Chesf – mais uma vez digo infelizmente – foi levada para essa agenda negativa determinada pela incompetência do governo lulo-comuno-petista. Aliás, nunca antes neste País se viu tanto mau caráter no poder da República.
JORNALISTA E ESCRITOR
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VERDE
CAATINGA
Mata Branca será apresentado em conferência internacional POR TARCILIA REGO tarciliarego@oestadoce.com.br
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ão por acaso, mas às vésperas de mais um Dia da Caatinga (28/04), projeto vitorioso, desenvolvido no Bioma será apresentado no Nepal. Realizado no Ceará pelo Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), o Projeto Mata Branca será apresentado na 8a Conferência Internacional sobre Adaptação à Base Comunitária (CBA8) – nome da conferência em sigla inglesa. O evento é promovido pelo International Institute for Environment and Development (IIED) e ocorre de 24 a 30 de abril na capital Katmandu. O Mata Branca fará parte da sessão “Construindo capacidade institucional e estimulando a governança para acessar e repassar financiamento”, no dia 27 de abril. A apresentação será feita pelo pesquisador Martin Obemaier, do Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). O pesquisador foi um dos avaliadores do fundo concedido ao Mata Branca pelo Banco Mundial. O pesquisador disse à redação do Caderno O estado Verde (OeV), que o principal tema da CBA8 é a discussão sobre o acesso a financiamento em projetos de adaptação à base comunitária (community-based adaptation em inglês, ou CBA). “A ideia do CBA segue em muito as ideias de projetos adequados para realidade local que visam reduzir a vulnerabilidade das comunidades locais de forma sustentável, integrando a questão da mudança climática”, explica Obemaier que viajou na manhã de ontem para o Nepal. Sobre a questão da captação de recursos para o Bioma, Obemaier disse que o Projeto não é o objetivo da sua palestra, mas fica óbvio que em apresentando as experiências do Mata Branca para um público especialista
Desenho Caatinga: Tiago Torres Coelho da Escola Vivência (Petrolina-PE) internacional pode despertar interesse em agências de fomento que estarão presentes na CBA8. “Uma ideia que tenho discutido com o Conpam (Ceará) e a Companhia de Desenvolvimento e Ação Regional – CAR (Bahia) - as duas agências implementadoras do Mata Branca - é como poderíamos procurar uma integração da questão de CBA e do Mata Branca no futuro”. Refere-se a parcerias entre a CAR, Conpam e outros, e de pesquisa (UFRJ, University of Michigan, etc. “Em maio acontece em Fortaleza a conferência Adaptation Futures 2014 e vamos nos reunir com uma equipe maior para falar sobre este tema”, explica o pesquisador da Coppe. CBA 8 A 8a Conferência Internacional sobre adaptação à base comunitária será realizada presencialmente e acompanhada virtualmente. Dentre os temas debatidos estão: governança em nível local, financiamento para projetos de desenvolvimento, inserção do setor privado em financiamento para adaptação lo-
cal, relação entre doadores e agências bilaterais em financiamentos e financiamentos em áreas urbanas. MATA BRANCA Projeto Mata Branca de Conservação e Gestão Sustentável do Bioma Caatinga objetiva contribuir para a preservação, conservação e manejo sustentável da biodiversidade do bioma Caatinga nos Estados da Bahia e do Ceará, melhorando simultaneamente a qualidade de vida de seus habitantes através da introdução de práticas de desenvolvimento sustentável. É um convênio de cooperação técnica entre os dois estados do, através do Conpam e a Fundação Luís Eduardo Magalhães. Os subprojetos do Mata Branca envolvem ações como a implantação de casa de beneficiamento de frutos, unidades produtivas, agrofloresta e fogões ecoeficientes. Apenas em 2011, cerca de R$ 396 mil foram investidos em subprojetos de capacitação e trabalhos ambientais para beneficiar 107 famílias das comunidades indígenas e quilom-
bolas das regiões de Quiterianópolis e Novo Oriente no Semiárido cearense. SOBRE A CAATINGA Apesar de único e de uma rica biodiversidade, a Caatinga pode até ser considerado o patinho feio dos ecossistemas do País se comparado ao amazônico e à Mata Atlântica. O bioma estende-se por toda a região Nordeste (Ceará, Bahia, Piauí, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba, Sergipe, Alagoas, Maranhão e Norte de Minas Gerais), abrangendo aproximadamente 11% do território brasileiro. Ecossistema pouco estudado, apresenta uma grande variedade de paisagens, riquezas biológicas e endemismos. Em conjunto, o Ceará e a Bahia detêm cerca de 60% da sua área total. Cerca de 70% da população cearense reside na área do Bioma, enquanto que na Bahia o índice é de 50%. Dados do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) apontam ainda que uma área que corresponde a 40% da região nunca foi estudada.
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VERDE
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ITATAIA
Para uns, desenvolvimento. Para outros, perigo A possibilidade de uma mina de urânio e fosfato ser construída no interior do Ceará tem levantado discussões sobre desenvolvimento e os impactos radioativos
POR SHERYDA LOPES EDIÇÃO: TARCILIA REGO oev@oestadoce.com.br
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rojeto Santa Quitéria prevê a exploração de urânio no Ceará para abastecer reatores das usinas de Angra dos Reis. O empreendimento implantado em pleno Semiárido através de um consórcio instalado no município de Santa Quitéria, é também conhecido como Mina de Itataia, o objetivo é explorar urânio para a produção de combustível nuclear que abastecerá os reatores de Angra I, II e III no estado do Rio de Janeiro. A expectativa do Consórcio Santa Quitéria que é formado por duas empresas: Indústrias Nucleares do Brasil (INB) e
Galvani Indústria, Comércio e Serviços S.A., é que além de 1.600 toneladas de urânio, o empreendimento produza anualmente 1.050.000 toneladas de derivados fosfatados, que são fertilizantes e produtos para alimentação animal. Os primeiros, Estudo e Relatório de Impactos Ambientais (EIA/Rima), receberam o aceite do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) no final de março e segundo o coordenador do projeto, José Roberto de Alcântara, a expectativa da INB é de que as obras comecem em 2015 e que a mina entre em operação até 2017. O documento já foi disponibilizado para setores envolvidos nas discussões e após publicação no Diário Oficial poderá ser acessado para consulta pública na sede do Ibama, em
Fortaleza. O empreendimento será constituído por uma mina, duas unidades industriais (Unidade de Fosfato e Unidade de Urânio), uma pilha de estéril, e outra de fosfogesso (um subproduto da indústria do fertilizante), uma barragem de rejeitos, além de estruturas de apoio. “A jazida representa uma riqueza e é de interesse, tanto do Governo Estadual quanto do Federal, pois possibilitará a produção de energia elétrica além de trazer o desenvolvimento para uma região inóspita do Estado e constantemente afetada por longos períodos de estiagens”, disse Alcântara. O empreendimento prevê a criação de 900 empregos diretos e 2 mil e 200 indiretos, e pode contribuir para evitar o êxodo de jovens durante períodos de seca. “Além
disso, vai atrair mais habitantes para a região, promovendo o desenvolvimento do comércio”, destaca. INFRAESTRUTURA E EDUCAÇÃO O Consórcio Santa Quitéria vai investir R$ 860 milhões, mas também receberá recursos do Estado, pois vários projetos do Governo estão previstos em decorrência da exploração do recurso mineral em território cearense. Segundo o técnico responsável pelo setor de mineração da Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), Francisco Pessoa, por causa da mina de Itataia o governo estadual vai transformar uma estrada, atualmente no padrão CE, em BR, além de melhorar a CE-366 que liga Itataia à cidade de Santa Quitéria.
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Também no setor de transporte, o Estado está tentando aprovar junto ao governo Federal uma ligação ferroviária de Itataia com a Ferrovia Transnordestina com o objetivo de escoar a produção de fertilizante fosfatado e concentrado de urânio ou yellowcake (produto final da operação da mina). Segundo Pessoa, essa infraestrutura de transporte abre canais de produção da jazida de calcário da INB para a Companhia Siderúrgica do Pecém (CSP) e também das jazidas de minério existentes na região do Apodi. Outra infraestrutura, fundamental e necessária é a hídrica. Uma adutora de 53 quilômetros de extensão transportará água do açude Edson Queiroz até a mina. O precioso recurso é necessário para beneficiar e transportar os produtos provenientes do fosfato e do urânio. As ações incluem ainda a instalação de linhas de eletrificação e de Internet, um projeto de urbanização do entorno visando atrair moradores e facilitar a locomoção de funcionários além de ações de capacitação. Os valores já orçados para esses projetos somam aproximadamente R$ 430 milhões, e, como informa, Pessoa, se não fossem as atividades previstas pelo Santa Quitéria, a maior parte não teria razão para acontecer, embora elas, também, contribuam para fortalecer a agricultura familiar. “Os produtores vão poder usar o fosfato produzido e terão vias melhores para escoar a produção”, disse. “Embora o potencial desenvolvimento da região seja apreciado, o poder público do município está atento”. É o que afirma o titular da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Santa Quitéria, Homero Novaes. Segundo ele, com a chegada do projeto, a atual gestão teme fatores como impactos ambientais, segregação social e aumento da criminalidade e da exploração sexual. Diante dos riscos da manipulação do urânio, a Prefeitura tem mantido constante comunicação com o Consórcio e está estudando o EIA/RIMA para ter uma noção mais concreta sobre o projeto. “A empresa usa a mina e vai embora, mas a população fica. Não podemos nos preocupar só com dinheiro”, alerta o secretário.
FOTOS: DIVULGAÇÃO (INB)
VERDE
SAIBA MAIS
- O urânio é um mineral radioativo, denso, inflamável, flexível e maleável. É encontrado em rochas sedimentares na crosta terrestre. É muito utilizado em fotografia e nas indústrias de cabedal (couro) e de madeira. No entanto, a aplicação mais importante do urânio é a energética (fonte de energia para usinas nucleares). -Segundo a INB (www.inb.gov.br) o Brasil é dono da quinta maior reserva de urânio do mundo, de aproximadamente 300 mil toneladas. Essas reservas distribuem-se entre as jazidas de Itataia, Ceará (142 mil toneladas), onde o mineral está associado ao fosfato e a rochas ornamentais economicamente exploráveis; Lagoa Rela, na Bahia; e outras jazidas menores, como Gandarela, Minas Gerais, onde há ouro associado ao Urânio; Rio Cristalino, no Pará; e Figueira, Paraná. “Isto confere ao País segurança estratégica, no que diz respeito ao suprimento de energia por via nuclear”. - Atua na cadeia produtiva do urânio, da mineração à fabricação do combustível que gera energia elétrica nas usinas nucleares. Vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, a INB está sediada na cidade do Rio de Janeiro e presente nos estados da Bahia, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
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VERDE OPOSIÇÃO Quem não vê o projeto com bons olhos são os núcleos populares dos municípios nas áreas impactadas pelo projeto como a Articulação Antinuclear do Ceará, composta pela Cáritas Diocesana de Sobral, Movimento Sem Terra (MST), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e pelo Núcleo Tramas, da Universidade Federal do Ceará (UFC). Estes movimentos não acreditam que “esse tipo” de mineração traga a geração de emprego e renda propagada pelo Consórcio e pelo Governo. “Mesmo se trouxesse, não concordamos com a geração de riqueza à custa da vida, saúde e bem-estar da população”, é o que afirma Thiago Valentim, integrante da CPT e morador do município de Madalena, próximo de Santa Quitéria. “Acreditamos no potencial produtivo da agricultura familiar camponesa e não de uma mineração perigosa e em larga escala”, completa o militante, enquanto afirma que os interesses ligados à Mina de Itataia são das empresas envolvidas e
comprometidas com a lógica econômica e não com os interesses da população, que tem questionado o projeto e teme os riscos da contaminação por material radioativo. A articulação vem atuando e mobilizando as comunidades, através da promoção de debates sobre radiação e racismo ambiental, citando como exemplo as denúncias sobre os acidentes ocorridos em Caitité, na Bahia, e as consequências graves do processo de extração do minério sobre a população. O EXEMPLO DE CAITITÉ No documento “No Ceará - A peleja da vida contra o urânio”, elaborado pela Cáritas Diocesana de Sobral em parceria com a Articulação, constam denúncias de aumento de ocorrência de câncer na região de Caitité, além de vazamentos ocultados pela INB e denunciados pela organização de atuação global, Greenpeace. O transporte do concentrado de urânio nas estradas tem exposto a população ao risco de acidentes, segundo a publicação, e mesmo com a resistência da comunidade as atividades não param. A mina baiana tem 100 mil 770 toneladas do metal. Denúncias sobre Caitité, a única mina ativa no País, também constam no vídeo “INB: a vida no entorno da mina de urânio” realizado pela CPT - Regional Bahia, com depoimentos de moradores que sofrem com poeira decorrente da exploração além de problemas de saúde que teriam começado após o início das atividades na mina. Ambas as publicações estão disponíveis na Internet e a Articulação afirma que vai continuar resistindo à implantação da mina no Ceará.
FOTOS: DIVULGAÇÃO (INB)
MONITORAMENTO E FISCALIZAÇÃO Segundo coordenador do projeto da INB, o temor da sociedade em relação ao urânio deve-se à falta de informação. “Para você ter ideia, já tinha gente dizendo que o calor em Santa Quitéria, no mês passado, era por conta da jazida, e ela nem existe ainda! O que tem lá é urânio natural”. Outro fator apon-
tado por ele para refutar tais medos é o de que o enriquecimento do urânio não vai acontecer em Santa Quitéria, e mesmo o concentrado de urânio que será transportado do local emite pouca radiação e ainda assim é monitorado. Ele nega que tenham ocorrido acidentes em Caitité e afirma que as denúncias do Greenpeace não foram provadas. Os avanços tecnológicos e a forte fiscalização em torno das atividades da INB são apontados pelo chefe da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Júlio Ricardo Cruz, do distrito de Fortaleza. Ele informa que além do licenciamento junto ao Ibama, o Projeto Santa Quitéria também passa pelo Licenciamento Nuclear, composto de três fases rigorosas: “São muitos parâmetros e normas a serem seguidas, nada é feito sem essa fiscalização”. Destaca, também, que toda atividade industrial envolve riscos, mas desde que atenda aos rigores da legislação, a atividade nuclear pode vir a ser, inclusive, uma
alternativa, “limpa e segura”, para a geração de energia elétrica. Cruz admite ocorrências em Caitité, mas afirma que foram pequenas e não ofereceram riscos à população. A partir de Caitités, Ricardo Cruz relembrou o grande acidente nuclear de 1986, acontecido na Ucrânia fazendo um “link” com a questão da segurança. “Os eventos de Chernobyl e Fukushima foram terríveis, mas os projetos que operam no Brasil são bem diferentes. São seguros e bem mais modernos”. No caso do município cearense, o EIA/ Rima prevê medidas compensatórias, dentre elas a realização de um ciclo de palestras com o objetivo de informar e esclarecer a polução sobre o que é o empreendimento e para desmistificar as atividades nucleares. A Comissão e a INB defendem que a ação, também, aconteça nas universidades e escolas. As atividades nucleares adotam padrões internacionais de segurança em suas unidades e são realizadas de forma transparente.
“Denúncias sobre Caitité, a única mina ativa no País, também constam no vídeo “INB: a vida no entorno da mina de urânio” realizado pela CPT - Regional Bahia, com depoimentos de moradores que sofrem com poeira decorrente da exploração além de problemas de saúde que teriam começado após o início das atividades na mina”
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SOBRE O EIA/RIMA DE ITATAIA
que, depois de prontas, o empreendimento possa começar a operar. Para acessar ao Relatório de Impactos Ambientais do Projeto Santa Quitéria o interessado deve aguardar a publicação no Diário Oficial ou solicitar acesso na sede da Superintendência do Ibama no Ceará, localizada na Avenida Visconde do Rio Branco, 3900, Bairro de Fátima. Setor de Licenciamento do Ibama: (85) 3307-1119 ou 3307-1184.
FOTOS: DIVULGAÇÃO (INB)
As conclusões do EIA devem ser traduzidas no RIMA com linguagem simples e objetiva, tornando-o formal perante o poder público. São documentos de caráter público, mesmo sendo elaborado por particulares – técnicos e especialistas contratados pelas empresas responsáveis pelo projeto – e fazem parte das exigências necessárias para que o órgão ambiental forneça as licenças ambientais necessárias para que as obras sejam feitas e, também, para
A seguir, conheça alguns resultados do estudo: RADIAÇÃO - “Algumas variações foram encontradas entre as amostras: os valores de radiação das águas dos poços foram maiores do que a dos açudes; as amostras de solo localizadas perto da futura mina apresentaram valores altos, mas ainda dentro dos limites estabelecidos para a saúde humana”. - “Os valores de radiação encontrados nas amostras ajudarão no desenvolvimento do Programa de Monitoramento Radiológico Ambiental que acompanhará e avaliará a exposição das pessoas à radiação devido a ingestão de água, consumo de alimentos e exposição a partículas presentes no ar”. PAISAGEM - A paisagem também mudará, já que a retirada do minério irá produzir uma grande cava (buraco) na área da mina, além das estruturas do empreendimento, que poderão ser avistadas de diversos locais, tais como as comunidades Morrinhos e Queimadas.
“São muitos parâmetros e normas a serem seguidas, nada é feito sem essa fiscalização”. Destaca, também, que toda atividade industrial envolve riscos, mas desde que atenda aos rigores da legislação, a atividade nuclear pode vir a ser, inclusive, uma alternativa, “limpa e segura”, para a geração de energia elétrica.” Júlio Ricardo Cruz Chefe da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)
ÁGUA - Durante as obras, as atividades de terraplenagem, retirada da vegetação, abertura e melhoria de acessos e estruturas poderão causar algumas alterações na água, no solo, no ar e no relevo. Isso ocorre porque as obras geram poeiras e sedimentos e o terreno fica sem a proteção da vegetação. A impermeabilização também reduz a infiltração da água, podendo afetar um pouco a quantidade de água subterrânea.
AR - Assim como na fase de obras, podem acontecer escorregamentos. E, como haverá movimentação de veículos e a usina industrial e nuclear estarão funcionando, terá poeira e fumaça, que poderão mudar a qualidade do ar. MEDIDAS COMPENSATÓRIAS PROPOSTAS As medidas tem objetivo de mitigar os impactos negativos decorrentes das obras, a operação e o fechamento do empreendimento, e também potencializar as alterações positivas: - Reduzir ao máximo as áreas de retirada de vegetação; - Cobrir com vegetação as áreas de encostas; - Implantar sistema de captação e escoamento das águas da chuva (sistema de drenagem); - Controlar a geração e o descarte do lixo - Monitorar a qualidade das águas e dos solos; - Monitorar a pilha de fosfogesso e a barragem de rejeitos; - Planejar a derrubada de árvores para não desmatar mais que o necessário e para permitir a fuga dos animais para outras áreas; - Promover a educação ambiental dos trabalhadores e da população da região; - Informar e esclarecer a população sobre o que é o empreendimento; - Estabelecer comunicação entre a população e o empreendedor; - Apoiar projetos de infraestruturas básicas.
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COPA 2014
Catadores são treinados para coletar resíduos no Castelão
“A gestão dos estádios durante o período da Copa é de responsabilidade da Fifa. A Prefeitura e a Governadoria não têm qualquer responsabilidade e gerência nisso”
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ntegrantes da Rede de Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis do Estado do Ceará são capacitados em Fortaleza. Resultado da parceria entre a Coca-Cola e a Fifa, 70 catadores da Rede, formada por 16 cooperativas e associações, foram treinados na manhã do dia 17 com o objetivo de trabalhar nas ações de coleta seletiva de materiais recicláveis e reutilizáveis durante os jogos da Copa do Mundo 2014 que acontecerão no estádio Castelão. Além do recebimento de diárias como pagamento pelas tarefas de segregar e destinar os resíduos sólidos recicláveis e reutilizáveis, os materiais coletados durante as partidas serão doados aos catadores para comercialização junto à indústria recicladora e de transformação , através das associações e cooperativas filiadas à rede, para a geração de renda. A estimativa é que sejam coletadas cinco toneladas de recicláveis, em cada um dos jogos da Copa. Para a coordenadora da Associação dos Catadores do Jangurussu (Ascajan), Sebastiana Alves, a oportunidade é positiva para aumentar a renda dos trabalhadores e trazer conhecimento. “Embora a gente já entenda muito de reciclagem, é sempre bom aprender mais”, disse a dirigente da Ascajan, uma das organizações que integram a Rede de Catadores participante do projeto da Coca-Cola em parceria com a Fifa. Durante o treinamento, equipamentos de infraestrutura que serão utilizados durante os jogos, como os coletores que receberão os resíduos segregados em secos e úmidos, foram apresentados aos catadores associados, eles também foram orientados quanto aos aspectos de segurança e de comporta-
Sebastiana Alves, coordenadora da Associação dos Catadores do Jangurussu (Ascajan)
mento que deverão seguir no decorrer da jornada de trabalho. “A gestão dos estádios durante o período da Copa é de responsabilidade da Fifa. A Prefeitura e a governadoria não têm qualquer responsabilidade e gerência nisso”, enfatiza a Coca- Cola Brasil. Segundo o diretor de Assuntos Governamentais, Comunicação e Sustentabilidade da Coca – Cola Brasil para a Copa do Mundo FIFA 2014, a experiência realizada no ano passado durante a Copa das Confederações foi um sucesso, e a participação dos catadores, fundamental. Em 2013, durante os jogos, foram arrecadadas 70 toneladas de resíduos, quantidade destinada às indústrias recicladoras, informa a assessoria da Coca - Cola. O QUE DIZ A LEI A coleta seletiva e a reciclagem de embalagens pós-consumo estão previstas na Lei no 12.305/10, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), que, entre outros aspectos, responsa-
biliza os geradores de “lixo” e os obriga a mitigar impactos através da logística reversa. A PNRS objetiva, entre outros, a gestão integrada de resíduos e da prioridade, nas aquisições e contratações governamentais, para a integração dos catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis nas ações que envolvam a responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. O Decreto no 7.405 de 2010, que regulamenta a PNRS, prevê o fortalecimento da participação dos catadores nas cadeias produtivas da reciclagem, o desenvolvimento de novas tecnologias que possibilitem agregar valor ao trabalho de coleta de materiais recicláveis e reutilizáveis e a manutenção de linhas de crédito para apoiar projetos de institucionalização e fortalecimento de cooperativas e associações de catadores. O decreto considera que os catadores são prestadores de serviços públicos de manejo de resíduos sólidos e não apenas mão de obra terceirizada. Para a associada Sebastiana, da Ascajan, as cooperativas fortalecem os catadores. “Nos anos 90, eu cheguei a levar minha filha com menos de um mês para o lixão, pois não tinha creche”, lembra, enquanto comemora que, atualmente, a criança tenha acesso a educação. A coor-
denadora da associação aprendeu recentemente a escrever o próprio nome, foi a realização de um sonho de vida, ela ainda ambiciona aprender a ler e escrever. “Somos seres humanos e contribuímos muito com a sociedade. Queremos respeito, saúde e educação”, cobra. 600 MIL Estudos realizados pelo Instituto de Pesquisas Aplicadas (IPEA), estimam que no País existam 600 mil catadores. Cerca de 10% do total estão organizados em associações e cooperativas. Grupos ligados ao Movimento Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis – (MNCR) e organizados na forma de redes de comercialização têm conseguido um bom nível de organização – hoje são cerca de 30 redes. Estas redes passaram por processo de capacitação financiado por órgãos ligados ao Comitê Interministerial para Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e Reciclagem (CIISC). MAIS Logística reversa é um conjunto de ações que viabiliza a coleta e restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, reaproveitando-os em sua própria cadeia produtiva ou em outra. FOTOS: TIAGO STILLE
SHERYDA LOPES
oev@oestadoce.com.br
Catadores são treinados para coleta seletiva de resíduos nos jogos da Copa
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PRÊMIO AMBIENTALISTA JOAQUIM FEITOSA
Fundação Araripe é a grande vencedora
Organização dialoga com os atores regionais para o estabelecimento do desenvolvimento regional
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reconhecimento vai para a Fundação Araripe. Em cumprimento aos prazos estabelecidos e normas anteriormente definidas, foi realizado dia 11/04 no Auditório do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam) o processo de análise das entidades indicadas para o Prêmio Ambientalista Joaquim Feitosa e o resultado da avaliação deu o prêmio à Fundação sediada no Crato e com comprovada experiência “na conservação, recuperação e desenvolvimento de atividades que contribuem sobremaneira para o fortalecimento das Políticas Florestal, da
Biodiversidade e de Educação e Extensão Ambiental”, como informa a assessoria do Conpam. O Prêmio será entregue dia 28/04, na sede do Conselho. A Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip), “apartidária, sem fins lucrativos, foi criada para contribuir regionalmente para uma maior associação da população às decisões públicas, com vistas à preservação do meio ambiente e ao desenvolvimento humano”, atua desde o ano 2000 e procura contribuir para uma gestão mais eficaz dos recursos humanos e materiais disponíveis, abrindo frentes de trabalho e participando da luta pelo
desenvolvimento sustentável. Conforme publicado no site da vencedora, “a estratégia da ‘Fundação para o Desenvolvimento Sustentável do Araripe’ e avançar na direção desejada, é dialogar com os atores regionais para o estabelecimento de agendas em termos de medidas concretas que permitam o desenvolvimento da educação e da saúde, da pesquisa, da vida econômica, regional, social e cultural”. Atuando no Cariri, no centro de um espaço do Nordeste, que inclui territórios do Ceará, Pernambuco e o Piauí, a Oscip atinge uma população de mais de 1.5 milhões de habitantes, distribuídos em mais de 100 municípios.
ENERGIA
Custo sobe 3% para indústria Segundo dados da Firjan, valor atingiu R$ 301,66/MWh “Quanto custa a energia elétrica para a indústria do Brasil?” O Sistema Firjan - Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro, divulgou na última quarta-feira (16/04), dados sobre o custo médio da energia elétrica para a indústria brasileira. Segundo a federação, o valor passou de R$ 292,75/ MWh para R$ 301,66/ MWh, um aumento de 3%, fazendo com que o País saísse da 11a para a 10a posição no ranking internacional que contempla 28 países. O topo do ranking é ocupado pela Índia, com custo de R$ 630,92 por MWh, seguida pela Itália com R$500,52 por MWh e Singapura com R$460,25 por MWh. No ranking estadual de custo médio
industrial, o estado do Mato Grosso passou da segunda para a primeira posição, com o aumento de 11,8% no custo da energia após o reajuste da Cemat. No Rio de Janeiro, o aumento foi de 7,4% após o reajuste da Ampla, passando o estado da sexta para a quarta posição. Em Minas Gerais, após o reajuste da Cemig, a energia aumentou 12,7% e o estado passou da 12ª para a sétima posição no ranking estadual. Já o estado de São Paulo passou da 18a para a 15a colocação após o aumento de 4,5% no custo da energia, por conta do reajuste da CPFL Paulista. A informação encontra-se no site (www.firjan.org.br/quantocusta), da Federação.
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Serra Redonda, uma proposta inclusiva de turismo sustentável POR LUCAS SOUTO*
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ara uma existência planetária que harmonize a interação entre os seres vivos e seus ecossistemas naturais, o desafio-chave das novas práticas do fazer turismo na contemporaneidade é apoiar iniciativas que promovam inclusão sócio-produtiva e a sustentabilidade ambiental no interior do Brasil. Nacionalmente conhecida pela prática do turismo religioso no sertão do Estado do Ceará, no município de Canindé identificou-se potencialidades turísticas e conservacionistas de um atrativo natural nominado Serra Redonda. A partir do contato com o presidente da Associação de Preservação da Natureza e da Cultura de Canindé (APRENAC), “Seu Joãozinho Caruca”, é que surgiu a inquietação de levar ao conhecimento da comunidade canindeense a importância de ser criada uma Unidade de Conservação para a região denominada Serra Redonda, onde seja preservada a configuração de fauna,
flora, nascentes de água, solo e dos demais elementos bióticos e abióticos que compõem aquele ecossistema. Unidades de Conservações (UCs) são áreas que apresentam características peculiares e concentram diversidade de populações, habitats e ecossistemas do território nacional e das águas jurisdicionais, preservando o patrimônio biológico existente. E é importante preservar também a cultura da comunidade tradicional do entorno que contempla trinta e duas famílias carentes, da localidade Cachoeira dos Alves. A partir dessa motivação conservacionista, o desafio político é envolvê-las no processo de criação do novo destino turístico, o qual será a Área de Relevante Interesse Ecológico da Serra Redonda (Arie). O turismo é fomentador de inclusão socioeconômica, interpreta o meio ambiente como área de socialização, tudo em concordância com a manutenção da integridade ambiental, muitas vezes frágil. O ecoturismo exige sério compromisso com a natureza, que por sua vez se traduz em responsabilidade social.
LEONARDO JALES
VERDE
Segundo o banco de dados do Centro Nordestino de Informações sobre Plantas da Associação Planta do Nordeste (CNIPPNE), a área correspondente a Caatinga é de aproximadamente 85 milhões de hectares, e esse bioma conta com apenas 5,7 milhões de hectares protegidos. O município de Canindé está inserido no bioma Caatinga, o único exclusivamente brasileiro. Esse bioma é único, mesmo estando no semiárido é rico em variedade paisagística, biológica e endemismo. Apesar de tamanha importância, a Caatinga tem sofrido o flagelo da degradação. Desmatamento e queimadas são práticas, frequentemente, usadas no preparo do solo para agropecuária. A alteração dos ecossistemas como a destruição da cobertura vegetal nativa resvala nas populações silvestres, na qualidade da água e no equilíbrio do clima e do solo. A Serra Redonda é um ecossistema com características de “ilha de umidade”, localizada no perímetro rural da cidade de Canindé, a cerca de 30 km da sede do município, compreende as localidades denominadas Barra do Curu, Cachoeira
dos Alves, Corrente, Oiticica, Piedade e Vazante do Curu. É comparada a um oásis no deserto. Constitui em sua paisagem, a distância, um mosaico de tons de verde, cinza e amarelo, isso durante a estiagem, mas é de profusão verde durante as chuvas. A Serra possui zonas com vocação para proteção permanente, onde estão os “olhos d’agua”, outras seriam de manejo sustentável, no entanto, ainda não existem estudos técnico-científicos para a região, envolvendo as áreas de biologia, zoologia, geografia, sociologia, etc. As informações dos camponeses residentes indicam que algumas espécies animais endêmicas já foram extintas em razão de ações antrópicas antigas. No cume da serra, a temperatura é amena, por estar em um dos pontos mais altos do município, com aproximadamente 968 metros de altitude. O turismo sustentável na Serra Redonda desponta assim como uma forma de manter o atrativo natural preservado e desenvolver econômica e socialmente a região. Essa futura Unidade de Conservação é ainda desconhecida da maioria dos canindeenses, como também dos turistas, peregrinos e romeiros que visitam o município. O local apresenta condições para contemplação paisagística, presença cênica quase intocada, com exuberância de fauna, flora, recursos hídricos e formações rochosas. O microclima da região favorece o aparecimento de espécies raras da flora da Caatinga. Esses fatores favorecem a visitação turística controlada e em pequena escala, característica do ecoturismo. A proposta de transformação do atrativo natural Serra Redonda em destino turístico sustentável no âmbito de Unidade Conservada sinaliza um novo paradigma de gestão do turismo local numa perspectiva emancipatória, gerando ocupação e renda, alternativas sustentáveis de conexão entre homem e natureza, promovendo a economia local, reduzindo níveis de pobreza e degradação ambiental, potencializando um desenvolvimento territorial socialmente responsável, economicamente justo e ambientalmente amigável. *Integrantes do Movimento Pró-Árvore