O Estado Verde - Edição 22421 - 06 de janeiro de 2015

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ANO VI - EDIÇÃO No 371 FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 6 de janeiro de 2015

RÉVEILLON 2015

Faltou educação e sobrou lixo A cena se repete: Aterro de Iracema vira lixão, ou melhor, aterro sanitário. Em apenas 12 horas, foram produzidas 63 toneladas de resíduos, dez vezes mais do que a cidade produz por dia.

BETH DREHER

Páginas 5, 6 e 7

COLUNA DIREITO AMBIENTAL

NOVO GOVERNO

Saiba mais dos princípios sobre os quais se assentam os caminhos da legislação e jurisprudência em questões ambientais no ordenamento jurídico brasileiro. Pág. 4

O Ceará atrai e continuará atraindo muitos empreendimentos, mas também vai garantir respeito ao patrimônio ambiental. O Estado será rigoroso no cumprimento da legislação. Pág. 10

Responsabilização das atividades lesivas ao meio ambiente

Artur Bruno já está no comando da Secretaria de Meio Ambiente


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FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 6 de janeiro de 2015

VERDE

Coluna Verde TARCILIA REGO tarcilia_rego@terra.com.br

CHEGOU 2015! Com ele, mais um ano de O Estado Verde, o oitavo! Um começo de ano especial, apesar da afamada crise, afinal, tenho como certo que crise e oportunidade, no dicionário chinês, têm o mesmo significado, sigo em frente, confiante. Ademais, segundo a numerologia, o oito é o número do ano, e significa expansão, ‘tô dentro’. SEJA BEM - VINDO, CAMILO Desde ontem, a gestão pública estadual conta com um novo comando, Camilo Santana. Desejo ao novo governador um mandato de muito sucesso e harmonia. Que ele possa, efetivamente, fazer a diferença, apesar dos tempos da austeridade anunciada pela presidente Dilma. Estou na expectativa e esta é a melhor possível, principalmente, com a boa notícia da criação da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, foi a grande e boa nova de começo de ano, para mim. Que o Estado cresça, cresça aceleradamente, mas sem destruir o meio-ambiente. Em tempos de economia verde, manter a estabilidade econômica só será possível se basearmos a nossa economia na emissão de baixo carbono; talvez, esse seja o nosso passaporte para um futuro realmente sustentável. Que Deus abençoe o Ceará e faça dele um Estado verde. KÁTIA ABREU Para a nova ministra da Agricultura, os conflitos de terra no Brasil não serão resolvidos com a Reforma Agrária que, em sua opinião, é um discurso ultrapassado. Kátia afirmou que não há mais latifúndio no Brasil e, por isso, a reforma teria de ser pontual. Ela disse ainda que as demarcações de terra para reserva indígena não irão aumentar e que o problema em torno desta questão é que os índios desceram das florestas para as áreas de produção. “Caso se entenda que a área destinada aos índios é pequena, a União pode comprar um pedaço de terra e entregar a eles para produzir, mas eu não posso tirar a terra de um para dar para outro.” Isso vai gerar problemas... UMA NOVA REDE SOCIAL Criada pela modelo e atriz britânica

Verde

Lily Cole, de 27 anos, a rede social de troca de ajuda, Impossible (impossível em inglês), quer estimular as pessoas a ajudar desconhecidos sem ganhar nada em troca. O site (www.impossible. com) nasceu há cerca de um ano e já tem usuários em mais de 70 países inclusive no Brasil. SAIU NO THE NEW YORK TIMES Aumenta número de suicídios entre índios da tribo Guarani. De 2004 até setembro de 2014, já foram 500 casos entre índios da tribo, que é o grupo étnico com a maior taxa de suicídio do mundo. De acordo com a notícia, as condições das reservas Guaranis se deterioraram durante o regime militar, entre as décadas de 1970 e 1980, por conta da superlotação de reservas e da separação dos integrantes da família. Atualmente, a situação se agravou, segundo o pesquisador, e muitos Guaranis se sentem sozinhos e isolados. SHOPPING CENETRS Hoje, há provavelmente mais de cem shoppings , abandonados nos Estado Unidos. Foi o que noticiou a BBC na última semana de dezembro, a crise econômica em várias regiões, principalmente no Meio-Oeste americano, combinada com uma acelerada ascensão das compras pela internet e com novos modelos de centros urbanos de comércio, empurrou o então aparentemente imbatível shopping center, para a decadência. Este é um assunto sério e tem impactos econômicos, sociais e ambientais sobre qualquer economia. Fiquemos atentos... Reflexão: “Foco e simplicidade... quando você chegar lá, conseguirá mover montanhas.” Steve Jobs.

AGENDA VERDE 06 DE JANEIRO DE 2015 Dia de Reis

• Hoje é Dia de Reis, uma tradição surgida no século VIII e que para os católicos, encerra os festejos natalinos. Segundo a tradição cristã e de acordo com o Evangelho (Mateus 2:1), seria aquele dia em que Jesus Cristo, recém-nascido, recebera a visita de “alguns magos do oriente” que aconteceu em 6 de janeiro. A noite do dia 5 e a madrugada do dia 6 são conhecidas como “Noite de Reis”.

Dia da Gratidão

• Hoje é o Dia da Gratidão, sentimento que sempre ocorre quando alguém faz algo que o outro gostaria que acontecesse, sem esperar nada em troca, e isso faz com que a pessoa que fez a ação sinta- se feliz, assim como a que recebeu a ação. Diz-se que a gratidão, assim como a amizade, é um sentimento muito nobre e traz junto com ele, uma série de outros sentimentos, como amor, fidelidade, amizade e etc...

09 DE JANEIRO DE 2015 Dia do Astronauta

• Em homenagem à Missão Centenário, realizada pela Agência Espacial Brasileira (AEB), em 2006, e a viagem de Marcos Pontes para a Estação Espacial Internacional (ISS), em 9 de janeiro comemora-se no Brasil, o Dia do Astronauta, profissional treinado para viajar pelo espaço, seja comandando, pilotando, servindo como membro da tripulação de uma nave espacial ou desempenhando atividade extra veicular, como turista espacial, por exemplo. A grande disputa entre os Estados Unidos e a extinta União Soviética no período conhecido como Guerra Fria, impulsionou grandes avanços científicos e tecnológicos, e até hoje, contribui para as pesquisas aeroespaciais.

11 DE JANEIRO DE 2015 Dia do Controle da Poluição por Agrotóxicos

• Os Agrotóxicos, popularmente conhecidos como “defensivos agrícolas”, são produtos químicos utilizados no combate às pragas e às doenças das plantas. É sabido que o uso de agrotóxicos afeta o meio ambiente, podendo ainda, causar danos a saúde dos homens e a saúde dos animais. Usar agrotóxicos para controlar pragas e doenças, é uma prática comum em fazendas do mundo inteiro. Mas , atualmente, o Brasil é o campeão mundial no uso de agrotóxicos, cabendo a cada brasileiro o consumo médio de 5,2 litros de veneno agrícola por ano. O dado foi divulgado, no último dia 3 de dezembro, por ambientalistas, quando foi celebrado o Dia Internacional da Luta contra os Agrotóxicos.

O “Verde” é uma iniciativa para fomentar o desenvolvimento sustentável do Instituto Venelouis Xavier Pereira com o apoio do jornal O Estado. EDITORA: Tarcília Rego. CONTEÚDO: Equipe “Verde”. DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Rafael F. Gomes. MARKETING: Pedro Paulo Rego. JORNALISTA: Elisangela Alves. TELEFONE: 3033.7500 / 8844.6873


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VERDE DIVULGAÇÃO

VISÃO GLOBAL

A maior usina solar dos EUA foi inaugurada antes do previsto Apelidada de Topaz Solar, a unidade possui 15,2 milhões de metros quadrados e nove milhões de placas fotovoltaicas. Energia suficiente para abastecer 160 mil residências

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maior usina solar dos Estados Unidos já está em funcionamento. Localizada no condado de San Luis Obispo, na Califórnia, a estrutura é capaz de produzir mais de 500 megawatts de energia limpa, obtida a partir de nove milhões de painéis solares. O projeto, que pertence à MidAmerican Solar, também é o maior do mundo. A fazenda que começou a ser construída há dois anos estava prevista para entrar em pleno funcionamento apenas em 2015, mas a conclusão ocorreu antes do esperado e em novembro ela começou a funcionar. Apelidada de Topaz Solar, a usina possui 15,2 milhões de metros quadrados, por onde estão espalhadas nove milhões de placas fotovoltaicas. Toda esta estrutura resulta em 550 megawatts de capacidade instalada. Partes do projeto estão sincronizados com

a rede ISO Califórnia, contribuindo , assim, para que o estado americano cumpra, até 2020, a meta de gerar 33% de sua energia a partir de fontes renováveis. A eletricidade gerada a partir da Topaz Solar Farms é suficiente para abastecer 160 mil residências e impedir que 407 mil toneladas de CO 2 por ano - o equivalente a 77 mil carros das ruas por ano sejam despejadas na atmosfera todos os anos. No entanto, mesmo com bons números, o posto de maior usina solar dos Estados Unidos será da Topaz por um período curto de tempo. O país já tem uma fazenda ainda maior sendo construída e ao finalizada, no próximo ano, será capaz de produzir 579 megawatts de energia. MidAmerican Solar é uma subsidiária da MidAmerican Renewables e está sediada na

cidade de Phoenix, no estado americano do Arizona. MidAmerican Solar tem três projetos de energia solar, dois dos quais estão em pleno funcionamento. No total, os projetos da MidAmerican solares representam 1.271 megawatts de geração de energia solar. ECONOMIA E RESPONSABILIDADE SOCIAL Os projetos da MidAmerican solares ajudam a criar empregos locais e captar investimentos de capital, além de outros benefícios econômicos para as comunidades locais, incluindo oportunidades de emprego em outros setores, como transporte e fabricação. De acordo com um estudo dos benefícios econômicos do Brattle Group e California Polytechnic State University, em San Luis Obispo, estima-se que a Topaz Solar Farms

poderá injetar 417 milhões de dólares na economia local, a maioria dos quais já foram gerados durante o período de construção, e o restante, ao longo do período mínimo de funcionamento, de 25 anos do projeto. A empresa dedica-se às comunidades onde seus projetos estão localizados e trabalha para atender as necessidades da comunidade, apoiando eventos e iniciativas locais, contratando trabalhadores locais, oferecendo benefícios educacionais para escolas e universidades locais, e fornecendo informações sobre os projetos e os benefícios da energia solar . Informações sobre MidAmerican estão disponíveis no site da empresa e suas páginas no Twitter, Facebook e YouTube, que pode ser acessado através do site www.midamericanrenewablesllc.com .


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VERDE

CULTURA

Secult disponibiliza edital para 66º Salão de Abril

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Edital permanecerá disponível para avaliação até o dia 9 de janeiro de 2015

Secretaria Municipal de Cultura de Fortaleza disponibiliza para Consulta Pública o Edital do 66º Salão de Abril. Podem participar do processo consultivo quaisquer interessados, seja Pessoa Física ou Jurídica. As sugestões devem ser apresentadas por carta, ofício ou similar no setor de Protocolo da Secultfor (Rua Pereira Filgueiras, nº 4 – Centro) ou através do e-mail: salaodeabrilfortaleza@gmail. com. Interessados têm até às 14h do dia 9 de Janeiro de 2015, para protocolar sugestões. O atendimento presencial será realizado em horário comercial. O Edital do 66º Salão de Abril visa selecionar 30 trabalhos para integrar a sua programação, além de premiar três artistas dentre os selecionados. Em 2015, a 66º Edição do Salão de Abril terá curadoria da pesquisadora, psicanalista e curadora de artes visuais, Flavia Corpas (RJ) e ocorrerá no período de 10 de abril a 10 de maio de 2015 na Galeria Antônio Bandeira, localizada no Centro Cultural Banco do Nordeste (Rua Conde D’eu, 560, Centro, Fortaleza – CE). “Esperamos que essa edição do Salão de Abril seja tão ou mais significativa que a passada, que nos apresentou um belo panorama da nova produção artística contemporânea brasileira”, ressalta a Coordenadora de Ação Cultural da Secultfor, Germana Vitoriano. O 66º Salão de Abril é uma realização da Prefeitura de Fortaleza, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, com a parceria do Centro

SERVIÇO

Cultural Banco do Nordeste. SOBRE O SALÃO DE ABRIL Lançado em 1943, como iniciativa da Secretaria de Cultura da União Estadual dos Estudantes (UEE), o Salão de Abril foi encampado em seguida por artistas que atuavam na cidade nos anos 1940. Foi assim que, a partir da segunda edição do Salão, em 1946, a Sociedade Cearense de Artes Plásticas (SCAP) assumiu a sua realização, tornando-se a entidade responsável por sua continuidade até 1958. As exposições do Salão de Abril, contudo, não tiveram uma constância. Houve um hiato nesta periodicidade logo depois de suas primeiras edições. Somente em 1964, quando a administração municipal ratificou publicamente a importância do Salão e tomou para si a responsabilidade da realização anual do evento, o mesmo assumiu um papel de eixo da vida cultural da capital cearense. Nas sete décadas de existência e 65 edições, nomes importantes passaram por suas mostras. Em 2014, foram mais de 800 inscritos, o que coloca o Salão de Abril entre os mais bem-sucedidos e disputados Salões do País. SOBRE A CURADORIA DO 66º SALÃO DE ABRIL Flavia Corpas é curadora de artes visuais, pesquisadora e psicanalista. Atualmente é docente do Curso de Especialização em Acessibilidade Cultural da UFRJ, na disciplina Exposição Acessível.

Edital de Consulta Pública 66º Salão de Abril Prazo para envio de sugestões: 9 de Janeiro de 2015 Onde: Setor de Protocolo da Secretaria de Cultura de Fortaleza (Rua Pereira Filgueiras, 4 – Centro) ou através do e-mail: salaodeabrilfortaleza@gmail.com Mais informações: 3105.1339 / 1305.1358 ou http://www.salaodeabrilfortaleza.com.br/ Acesse o Edital em http://www.fortaleza.ce.gov.br/sites/default/files/u2393/edital_consulta_publica_66_salao_de_abril.pdf

PRINCÍPIO DA RESPONSABILIZAÇÃO DAS CONDUTAS E ATIVIDADES LESIVAS AO MEIO AMBIENTE Este é o nono princípio entre aqueles sobre os quais temos abordado neste espaço e nos quais se assentam os caminhos da legislação e jurisprudência em questões ambientais no ordenamento jurídico brasileiro. Ele é de superior importância tendo em vista o fato de que as medidas preventivas têm-se revelado ineficazes. Com efeito, constata-se inconcebível tolerância, senão omissão, da Administração Pública para com os infratores da legislação ambiental. Em face dessa situação e de outras similares em casos de prevenção a agressões ao ambiente, os mecanismos preventivos não têm alcançado a eficácia esperada. Destarte, com o objetivo de termos um sistema de preservação e conservação do meio ambiente, faz-se necessário a ampla e rigorosa responsabilização dos causadores de danos ambientais.

RESPONSABILIZAÇÃO DO DEGRADADOR Segundo se depreende das linhas que norteiam este princípio, a legislação que nele se arrima e que trata da responsabilização do degradador, está relacionada, por primeiro, com a autonomia e independência dos sistemas de responsabilidade existentes: civil, administrativo e penal. Em razão desse ordenamento, aquele que desrespeita a norma, por um mesmo ato de poluição, pode ser responsabilizado, simultaneamente, nas esferas civil, penal e administrativa, com a viabilidade de incidência cumulativa desses sistemas de responsabilidade em relação a um mesmo fato danoso. CUMULAÇÃO DE RESPONSABILIDADES Esta assente no Direito Ambiental brasileiro a independência entre a responsabilidade civil e a administrativa, com a possibilidade de cumulação de ambas, que encontra respaldo em expressa disposição de lei (art. 14, § 1º, da Lei Federal 6.938/81), o que tem sido reconhecido em decisões jurisprudenciais de vários tribunais. Com relação à independência da responsabilidade criminal em face das demais a matéria também é tranqüila, sendo da própria tradição do nosso Direito (art. 225, § 3º, da CF, art. 1.525 do CC e art. 64 do CPC). RESPONSABILIDADE OBJETIVA Ademais disto, convém observar que, no âmbito civil, a responsabilidade do predador se submete, entre nós, a duas regras que revelam a amplitude da responsabilidade civil por danos ao meio ambiente e o rigor do legislador nessa matéria. A primeira regra é a da responsa-

JORNALISTA E ESCRITOR

bilidade objetiva do degradador pelos danos ambientais causados, isto é, independentemente da existência de culpa e pelo simples fato da atividade (art. 14, §1º, da Lei 6.938/81). A segunda regra é a da reparação integral do prejuízo causado, que tem como objetivo propiciar a recomposição do meio ambiente, na medida do possível, no estado em que se encontrava antes da ocorrência do dano. DIREITO INTERNACIONAL O professor Álvaro Luís Valéry Mirra assevera ser importante ressaltar que no sistema jurídico brasileiro não há espaço para aplicação de mecanismo por vezes utilizado no direito internacional, por meio do qual se procura compensar o rigor da responsabilidade civil objetiva com o estabelecimento de um limite máximo para as indenizações, teto esse que somente pode ser superado quando se consegue demonstrar a culpa do responsável. CONVENÇÃO DE BRUXELAS O professor Mirra exemplifica citando a Convenção de Bruxelas, de 1969, que trata da responsabilidade civil por danos causados em derramamentos de óleo no mar. Nas hipóteses de aplicação dessa Convenção, se se pretender fundamentar a responsabilidade do proprietário do navio transportador unicamente no fato da atividade, independentemente da sua culpa, ter-se-á que se contentar com uma indenização limitada no seu valor. Se, ao contrário, se quiser escapar desse teto máximo de indenização, estipulado na própria Convenção, para chegar-se à reparação integral dos prejuízos, ter-se-á que provar a culpa do armador no desempenho da sua atividade.


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VERDE

RÉVEILLON 2015

Durante a festa faltou educação e no final, sobrou lixo O 1ºde janeiro de 2015, na Praia de Iracema, foi de degradação. Ao raiar do sol, as amostras de o quanto estamos longe de sermos uma sociedade civilizada, veio à luz. Em 12 horas geramos 10 vezes mais lixo do que a cidade todinha, produz em um dia POR TARCILIA REGO tarciliarego@oestadoce.com.br

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cena se repete e o Aterro de Iracema, novamente, vira lixão. “Estima-se que 63 toneladas de resíduos foram recolhidas, sendo 30 de recicláveis”, disse a Prefeitura Municipal sobre o lixo produzido durante a Festa de Réveillon. Porém, não basta comunicar a quantidade de resíduos – recicláveis ou rejeitos – coletados no primeiro dia do ano, na Praia de Iracema, como não basta, a varrição, é preciso educação e o princípio da precaução, seja por parte da sociedade, seja por parte do poder público. Em apenas 12 horas, a quantidade de resíduos descartados por apenas 800 mil pessoas, foi 10 vezes maior do que a quantidade que toda a Cidade gera, diariamente. Fortaleza produz aproximadamente 6 toneladas e tem população estimada em 2.571.896 (IBGE,2014). Fato que deixou o engenheiro Ricardo Salmito Rodrigues, indignado. Ao observar aquele imenso lixão amanhecido na orla, ele citou o bom exemplo que veio do Japão: “Será que ninguém lembrou da torcida japonesa durante a Copa do Mundo de 2014?” Mesmo após a derrota frente às Costa do Marfim, os japoneses num gesto amoroso de cuidado ambiental e boa cidadania, limparam as arquibancadas do setor que ocupavam no estádio. “Mas, nós estamos longe disso”, lamenta o engenheiro, ao observar o cenário de degradação, deixado pela sociedade e, de certa forma, com a conivência do poder público e do empresariado, que investem muito recurso econômico em montagem de palcos, camarotização e shows, musical e pirotécnico, e quase nada, em educação ambiental, especialmente por “oca-

sião de eventos dessa magnitude”. Por ocasião do anúncio do Plano Operacional Réveillon 2015, em coletiva de imprensa dia 19 de novembro, no Paço Municipal, pelo prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, foram apresentados pontos relevantes para a organização do evento como um todo: trânsito, segurança, mapeamento de área e as atrações. Como se pode constatar, lixo, meio ambiente ou educação ambiental, sequer foram citados. A apresentação Power Point tá disponível em: P http://www.fortaleza.ce.gov.br/noticias/destaque/ prefeitura-de-fortaleza-anuncia-programacao-do-reveillon-2015 . INCOMPATÍVEL Segundo Salmito, o cenário é uma constatação da capacidade avassaladora do ser humano de produzir lixo, e o pior, tão perto da nossa praia. “Esse lixo é potencialmente agressivo ao mar, e embora a intervenção para a varrição tenha sido quase imediata, boa parte dos resíduos já foram parar nas águas do mar”, alerta. Para o engenheiro, “a cena é impactante e preocupa”, talvez, só mesmo “um puxão de orelha na sociedade e no poder público” para que ambos tenham um olhar mais apurado para a equação: lixo e educação. “É necessário que o poder público repense o atual modelo de gerenciamento de resíduos. Basta observar o aterro ou o dia a dia em Fortaleza, para perceber que o modelo não atende às demandas da Cidade. É preciso adotar uma coleta eficaz, e quanto à educação ambiental, ser mais efetivo e menos pontual. É urgente, a adoção de uma campanha educacional, no caso de grandes eventos e incentivar a população a

descartar menos lixou ou levar o material de volta para casa. Esta cena que estamos presenciando é incompatível com uma sociedade que se diz civilizada”, encerra o engenheiro. PNRS Para a gerente da Célula de Educação Ambiental da Seuma, Edilene Oliveira, sem dúvidas, “a gestão dos resíduos e seus impactos ambientais são desafios cada vez mais presentes no cotidiano das cidades litorâneas”. Certamente, um grande desafio e no qual a responsabilidade pela geração, descarte e destino, coloca o poder público, as empresas e o cidadão em um longo caminho compartilhado ou solidário, como afirma a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), instituída em 2010. A PNRS ou Lei 12.305 reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações, adotados pelo governo federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos (aquilo que tem valor econômico e pode ser reciclado ou reaproveitado) e a destinação ambientalmente adequada dos rejeitos (aquilo que não pode ser reciclado ou reutilizado). A Prefeitura de Fortaleza explica em nota ao Estado Verde que por meio de sua Política Ambiental tem realizado ações de sensibilização e conscientização para minimização, por exemplo, dos resíduos que chegam ao mar, como limpeza submarina e de praia, realizadas em parceria com entidades da sociedade civil como Mar do Ceará e Aquasis. Mas não é bem isso que

observamos, ano a ano, ao término da noite da virada, em Fortaleza, onde falta até containers mais apropriados para o descarte por parte do cidadão. No entanto, segundo Edilene Oliveira, da Seuma, em 2015, a coleta seletiva será uma constante em grandes eventos na Capital, e a Seuma, já tem um projeto concreto para acontecer dia 13 de abril durante a festa de aniversário da Cidade. “Queremos investir na mudança de cultura para termos eventos limpos, com coleta seletiva, distribuição de saquinhos para a população juntar seu lixo, entre outras ações, em Fortaleza”. O CAMINHO É EDUCAÇÃO O coordenador de campo do Projeto Limpando o Mundo, Juaci Araújo de Oliveira, afirma que a Prefeitura precisa ter um programa mais eficaz no caso de eventos de tão grande monta. “Tem que ter multa, sujou, tem que pagar”, ressalta. Disse, ainda, que a gestão pública e a sociedade devem repensar os seus valores e que a política e a educação ambiental são “dois gargalos” mas que devem andar juntas. “O que não pode acontecer é uma educação ambiental paliativa e pontual, por conta de uma cultura já estabelecida nas escolas”, destaca. Juaci não tem dúvidas: “o trabalho educativo e o caminho que devemos seguir é tratar o lixo de maneira mais consciente”. Limpando o Mundo é um projeto que objetiva formar uma rede de 400 voluntários, como pesquisadores e guardiões das praias na proteção, catalogação e remoção do lixo encontrado em áreas sob a influência da variação das mares, para atuar no monitoramento ambiental, além de “gerar um despertar na sociedade sobre a problemática do lixo marinho”.


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VERDE

TARCILIA REGO

O sociólogo Rosendo Amorim, da Universidade de Fortaleza (Unifor), também, não tem dúvidas: o caminho é a educação e o planejamento. “Cada vez mais devemos apostar nas crianças e nos adolescentes, tudo passa pelo comportamento e pela mudança de hábitos”. No entanto, reconhece que os desafios são muitos e exige uma nova cultura como a prática da coleta seletiva e o consumo consciente. “Não produzir lixo ainda é impossível, mas podemos reduzir, reusar e reciclar”, enfatiza. “O País está indo numa boa direção. Com relação a Fortaleza, sinto falta de todo um plano de marketing relacionado à educação ambiental e ou, uma proposta de cuidados por parte do cidadão com o descarte dos resíduos. É preciso um planejamento com uma proposta de conscientização da população dentro da logística dos grandes eventos.” MATERIAL RECOLHIDO A Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), informa através

de nota, que realizou contrato com a Cooperativa de Catadores de Materiais Recicláveis de Fortaleza e Região Metropolitana (Coopmares) que disponibilizou 100 catadores para fazer a coleta seletiva no Réveillon. “O material recolhido por eles pesou 30 toneladas, sobretudo de garrafas plásticas e latas de aço e alumínio, e foi doado à própria Cooperativa para ser beneficiado nos Centros de Triagem que a gestão municipal administra em parceria com a entidade”. A Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb), disse, também via comunicado a imprensa, que recolheu 63 toneladas e “por volta das 7h do dia 1º de janeiro , o trabalho de limpeza da área em que ocorreu a festa, já havia começado. O trabalho foi feito por duas equipes: 330 garis da Emlurb e 100 catadores da Coopmares, treinados e contratados por meio da Seuma”. Mas nem tudo foi recolhido pelos serviços municipais. GARRAFAS PARA OCARA É o caso da dona de casa Berenice Matos que despertou minha atenção

pelo fato de atravessar a rua com uma caixa contendo garrafas de vidro, vazias. Ela vem todo o ano da pequena Ocara, município com menos de 23 mil habitantes e a 101 km de Fortaleza, para “catar umas garrafas” de uma determinada bebida. “Só consigo esses vasilhames, dessa cor, aqui, pois na minha Cidade ninguém toma essa vodca, porque é muito cara”, explica Berenice, que passou a maior parte do tempo, “catando” as tais garrafas azuis de uma marca norte-americana e que custam em média, R$ 35,00. Enquanto muitos aguardam a virada para comemorar, ela aguarda a festa, o ano inteiro, só para recolher o material que está usando na construção de sua casa. “Comecei colocando sobre o muro, mas como ficou bonito, agora estou fazendo um caminho no jardim, só com o fundo dessas garrafas. Hoje, estamos levando um pouco mais de 100 peças, já vai adiantar muita coisa”, encerra. O marido acompanha Berenice e acomoda o material recolhido na caçamba de pequena camioneta do casal. Ela disse que volta em dezembro.

O LIXO NO MAR O mar sempre impressionou por sua grandeza e talvez, esta seja a explicação para superestimarmos a capacidade do mesmo de absorver, sem perigo, poluentes e lixo. Mas o mar que banha cidades superpovoadas está morrendo e o agente da ameaça é o estilo de vida atual da própria humanidade. “Longe dos olhos, longe do coração”, reflete o biólogo marinho, Clóvis Castro, coordenador geral do Projeto Coral Vivo. “O que o mar leva, parece que resolve um problema urbano, mas não é verdade, estamos , sim, acumulando mais problemas”, ressalta. “Outro dia”, ele nos conta , que ficou chocado com a quantidade de lixo que encontrou em uma localidade da Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro. “Eu mergulhei naquele local nos anos 80 e 90, e hoje, ao voltar para buscar alguns organismos, observei as pedras e todas as suas reentrâncias, tomadas pelo lixo...nunca pensei...um mar de copinhos. Muito menos imaginei que os resíduos afundariam e tomariam o lugar dos peixinhos que viviam nas tocas e foram afetados”.


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VERDE

FOTOS: TARCILIA REGO

Berenice Matos vem de Ocara coletar garrafa de vidro azul As pessoas, ao descartarem os resíduos de forma ou em local inadequado, acabam se tronando uma fonte produtora de lixo marinho. O material lançado a milhares de quilômetros da costa também pode converter-se em lixo marinho ao ser

transportado por riacho, rios ou sistemas de esgoto e daí lançados ao mar, e daí é transportado pelos oceanos através das correntes marinhas. “Portanto, qualquer lixo jogado indevidamente pode converter-se numa fonte de lixo marinho!”. O lixo marinho pode trazer consequências graves para a vida silvestre e para os seres humanos. Para a fauna, os problemas ocorrem quando os animais ficam presos no lixo ou engolem algum material, como por exemplo, o plástico que envolve os conhecidos packs de cervejas e ou refrigerantes em lata. Embora quase todas as espécies possam ser prejudicadas pelo lixo marinho, há algumas mais suscetíveis aos seus perigos do que outras: os mamíferos marinhos, tartarugas, aves, peixes e crustáceos são exemplos. “Para os seres humanos, o lixo marinho causa problemas tais como degradação da qualidade e da aparência estética das águas para banho de mar e também das praias, prejuízos econômicos para as comunidades costeiras e para a pesca, além de perigos para a saúde e segurança.”


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VERDE

CHUVA

Choveu tanto em Fortaleza que causou espanto aos turistas

Se nós que moramos aqui fomos surpreendidos com a precipitação pluviométrica dia 3, imagine quem visitava a Capital em busca de sol, praia e passeios POR TARCILIA REGO tarciliarego@oestadoce.com.br

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Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) informou que a chuva que banhou algumas regiões do Estado, dia 3 de janeiro de 2015, “constava na previsão do tempo elaborada nos dias anteriores”, no entanto, não constava nos planos de turistas e fortalezenses, que esperavam muito sol e praia, no primeiro final de semana do ano em Fortaleza. O maior registro de chuva na Capital aconteceu no bairro Edson Queiroz. Se nós que moramos aqui fomos pegos de surpresa com a chuva que superou a média histórica para o mês de janeiro e atingiu 148 milímetros até as 10h30 da manhã do último sábado, quando eram esperados 122 mm até o fim do mês, imagine o turista que chega à Cidade, pensando em pegar “aquela” praia. A paulistana, Maria Janete Valoni, advogada e delegada de polícia, sem opção de banho de mar e até mesmo de piscina – a do hotel na Avenida Beira Mar, onde estava hospedada com marido, filha, genro e netos, foi interditada –, disse que demorou muito a sair do hotel e enfrentar a chuva. A família optou por um restaurante muito conhecido na Varjota, mas sem

sucesso, pois não conseguiu uma mesa, sequer, e por isso fez queixas do “atendimento precário” e da pouca opção de restaurantes na Cidade. Voltou para a Beira Mar e almoçou numa tradicional peixada cearense. Dali, seguiu para o Centro Cultural Dragão do Mar, que segundo o marido, Antônio Rossi dos Santos, também, delegado de polícia aposentado, “encontrava-se debaixo d’água”. “Não é a nossa primeira vez em Fortaleza, diferentes de minha filha, genro e netos que visitam a Cidade pela primeira vez e resolveram retornar para São Paulo na manhã de domingo (4), somos turistas habitués do Ceará e do Nordeste. Eles saíram decepcionados com a chuva e o atendimento recebido”, destaca Rossi. O casal ressentiu-se da pouca opção de passeios, quando chove na Capital. MAIOR REGISTRO Em nota a imprensa, a Funceme informou que segundo dados das Plataformas de Coletas de Dados (PCDs) automáticas que a Fundação de Meteorologia acessa na Capital, “o maior registro de chuva aconteceu no bairro Edson Queiroz, com 82mm de precipitação entre 5h e 9h da manhã. Já a rede convencional de pluviômetros mostrou que choveu também em

SAIBA MAIS:

Previsão de Clima: previsão numérica das condições meteorológicas futuras para um e seis meses, através de modelagem estatística de grande escala e de baixa resolução, expressa através de desvios positivos ou negativos em relação ao comportamento médio passado. Previsão de Tempo: descrição detalhada de ocorrências futuras esperadas. A previsão do tempo inclui o uso de modelos objetivos baseados em certos parâmetros atmosféricos, a habilidade e experiência de um meteorologista, também chamada de prognóstico. Fonte: Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (Cptec).

BETH DREHER

outros 29 municípios cearenses, em regiões como Cariri, Inhamuns e Ibiapaba. O maior registro nos pluviômetros convencionais foi em Crateús, com 47mm até as 7h da manhã”. O órgão de monitoramento meteorológico do Estado, também comunicou que a precipitação pluviométrica do último dia 3 constava na previsão de tempo e que foi provocada pela combinação de dois sistemas atmosféricos: “o primeiro, um Vórtice Ciclônico de Altos Níveis, típico da pré-estação chuvosa, cuja atuação no Nordeste brasileiro já dura duas semanas, trazendo algumas chuvas isoladas ao Ceará; o segundo sistema são as chamadas Ondas de Leste, que atuam mais comumente nos meses de junho e julho, mas foi responsável pela intensificação das chuvas, principalmente, na

Região Metropolitana de Fortaleza”. DESISTINDO DO SOL A chuva de sábado alagou ruas e avenidas, derrubou postes, engoliu carros e até derrubou teto de shopping center, mas não diminuiu a vontade da aposentada, Antonieta Lima, que se dizendo “insistente” , voltou à praia domingo (4), na esperança de um dia de muito sol, após o “aguaceiro da véspera”. No entanto, encontrou céu nublado, e eu, a encontrei desanimada, pilotando uma pequena moto, por volta das 10 horas da manhã, desistindo da Praia de Iracema. Segundo ela, já estava voltando para casa – cedo para um domingo de praia – porque dia nublado é muito chato. “Adoro praia, mas com sol, por isso, o melhor a fazer é voltar para a minha residência”, disse a ex-funcionária pública, super bronzeada, e que não quis falar a idade. “Ainda não cheguei aos 60”, revelou, subindo na moto e pilotando em direção à Rua Ildefonso Albano, rumo à Avenida Aguanambi, no Bairro de Fátima, onde disse morar. Na maior parte do domingo (4), o céu permaneceu nublado. PROGNÓSTICO CLIMÁTICO A Funceme esclarece que os dois sistemas que provocaram as chuvas de sábado, não têm relação com a quadra chuvosa no Ceará e informa que o prognóstico climático para a estação de chuvas em 2015 será elaborado e divulgado somente na segunda quinzena de janeiro. Eram esperados 122 mm até o fim do mês. A Previsão Diária do tempo, da Funceme, informa que para o dia de hoje (6), “há tendência de formação de áreas de instabilidade sobre o setor norte do Nordeste (NE) brasileiro. Por isso, há possibilidade de ocorrer chuvas isoladas em todas as regiões do Ceará no decorrer do dia”.


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ECONOMIA E MEIO AMBIENTE

EUA: os shoppings centers podem estar fadados a sumir O mundo continua indo às compras freneticamente, mas, como a experiência americana mostra, alguns modismos também passam. Parece que a culpa é do varejo online

H

oje, há provavelmente mais de cem shoppings , abandonados nos Estados Unidos. Foi o que noticiou a BBC na última semana de dezembro, a crise econômica em várias regiões, principalmente no Meio-Oeste americano, combinada com uma acelerada ascensão das compras pela internet e também, o excesso de construção nas décadas anteriores, empurrou o então aparentemente imbatível shopping center para a decadência. Os equipamentos nunca foram pensados e criados para serem sinistros. Ainda assim, em 1977, George A. Romero escolheu um shopping deserto para filmar algumas sequências de O Despertar dos Mortos, seu cult de horror zumbi. Sem vida e sem luz, as enormes galerias vazias do local assumiram um ar assustador. Curiosamente, o cenário de Romero tem muito em comum com imagens que, recentemente, vieram à tona de shopping centers abandonados espalhados por todo o território dos EUA, segundo a matéria. Hoje, há mais de cem “dessas criaturas inanimadas de aço e concreto, espalhadas à beira das grandes avenidas dos subúrbios daquele país”. Muitos ainda são bastante frequentados e estão sendo ampliados ou reformados, mas os “shoppings fantasmas” estão rapidamente se tornando as “cidades fantasmas” do século 21.

DIVULGAÇÃO

O Rolling Acres Mall, em Akron, Ohio, foi um dos que fechou as portas com a crise nos Estados Unidos O PAI DO SHOPPING CENTER Os primeiros shoppings dos Estados Unidos não foram erguidos para ficar a quilômetros de distância de grandes centros urbanos, acessíveis apenas de carro. Victor Gruen, o “pai do shopping center”, os idealizou como ponto de referência no coração de áreas onde novos e aprazíveis bairros seriam erguidos. Nascido em Viena, em 1903, Gruen era um socialista ferrenho que estudou arquitetura em sua cidade natal antes de abandoná-la rumo à Nova York, na época da anexação da Áustria pelos nazistas, em 1938. Ele acabou projetando o primeiro shopping center fechado do mundo, o Southdale Center, o primeiro shopping dos Estados Unidos, inaugurado em 1956, em Edina, Minnesota.

‘AMERICAN WAY’ As casas, escolas, lagos e parques que Gruen havia imaginado continuaram sendo um sonho, enquanto os habitantes de Edina e, posteriormente, do resto do país faziam suas compras em edifícios climatizados cada vez maiores e cada vez mais kitsch ou estilo cafona. O shopping center virou um local de passeio, além de ter se tornado uma parte fundamental da cultura americana contemporânea e um modelo para muitos outros países que desejavam reproduzir o American way of life. Porém, nos Estados Unidos, em si, a tendência estancou. Em meados dos anos 90, surgiam 140 novos shoppings por ano naquele país. O freio foi acio-

nado em 2007, o primeiro ano, em quase meio século, em que nenhum desses centros foi construído. A recessão levou muitos estabelecimentos americanos a fechar suas portas. E, como tinham sido construídos em uma escala cada vez mais ambiciosa, nunca foi fácil convertê-los para novas finalidades. OS MAIORES DO MUNDO Hoje, os grandes shoppings estão em várias partes do mundo. O maior deles é o New South China Mall, em Dongguan, na China, com uma área 20 vezes maior do que a Praça de São Pedro, no Vaticano, e com mais do dobro do tamanho do King of Prussia Mall, na Pensilvânia, o maior dos Estados Unidos. Entre os dez maiores shoppings do mundo, dois estão no Irã, enquanto outro gigante acaba de ser erguido em Bangladesh, um país com um PIB per capita quase 50 vezes menor do que o dos Estados Unidos. O mundo continua indo às compras freneticamente, mas, como a experiência americana mostra, alguns modismos também passam. Como arquitetura, e como fenômeno social e econômico, os shoppings falam muito sobre a forma como gastamos dinheiro e vivemos nos últimos 50 anos. Leia mais em: www.bbc.com/culture/story/20140411-is-the-shopping-mall-dead. Fonte: BBC Culture


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NOVO GOVERNO

Secretario Artur Bruno assume o meio ambiente

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Haverá uma adequação, um projeto será encaminhado para Assembleia para a criação da Secretaria. O Estado será rigoroso no cumprimento da legislação

epois de ser anunciado e empossado pelo governador Camilo Santana como secretário de Meio Ambiente do Estado do Ceará, Artur José Vieira Bruno, já tomou posse. Na manhã do dia 2 de janeiro ele já estava a postos no Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente ( Conpam), recebeu as boas-vindas dos funcionários e já começou a trabalhar, após receber o cargo da antecessora, Virgínia Carvalho. Dirigimos ao secretário Artur Bruno a pergunta que não queria calar: O Conpam será transformado em uma secretária? “Sim”, respondeu. “ Haverá uma adequação, o governador Camila encaminhará Projeto de Lei para a Assembleia Legislativa, visando à criação da Secretaria de Meio Ambiente do Estado,” disse à nossa reportagem. Um dos objetivos do novo gestor é transformar o Conpam em uma secretaria. EXPECTATIVA Esta é uma Secretaria com a qual o novo secretária tem afinidades, tem muita pertinência com a educação e com a “criação de uma nova cultura em relação ao meio ambiente”. De acordo com o novo titular, a área ambiental será uma forte vertente no Governo Camilo Santana, que pretendo fazer uma gestão voltada para o desenvolvimento de Políticas Públicas para o Meio Ambiente. Artur Bruno tem ampla experiência em educação, é pedagogo, professor de História e Geografia, além de ex-vereador e ex-deputado federal. Isso o habilita a tratar com competência, questões de meio ambiente e

NAYANA MELO

Secretário de Meio Ambiente do Estado, Artur Bruno, durante solenidade de posse, dia 1º de janeiro no Palácio da Abolição educação ambiental. “São áreas que sempre despertaram o meu interesse”, ressalta. “Minha expectativa é grande com a Secretaria de Meio Ambiente, ela é estratégica para o Estado que será rigoroso na fiscalização e no cumprimento da legislação. O Ceará atrai e continuará atraindo muitos empreendimentos, mas também, quer garantir respeito ao patrimônio ambiental. Creio que vamos contribuir muito para a educação ambiental e buscar um jeito de tratar o meio ambiente, de forma a gerar emprego e renda, com sustentabilidade.”

DESCISÃO ACERTADA Para o coordenador da Unidade de Meio Ambiente (UMA) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), Renato Aragão, a reforma administrativa que vai transforma o Conpam em Secretaria é a decisão “mais acertada e já devia ter acontecido, há muito tempo”. Segundo Aragão, Camilo é um técnico do Ibama, conhece bem esse assunto, assim como o ex- deputado Bruno, e “ambos sabem o quanto é importante um órgão com status de secretaria para tomar

PERFIL

Artur Bruno é natural de Fortaleza, graduado em Pedagogia. Exerceu dois mandatos como vereador na Capital, quatro como deputado estadual e um como deputado federal. Na Assembleia, foi presidente da Comissão de Educação, Cultura e Desporto; da Frente Parlamentar em Defesa da Cultura Cearense; e da Frente Parlamentar em Defesa da Defensoria Pública. Nos mandatos anteriores como deputado, foi vice-presidente e presidente da Comissão de Educação, Cultura e Desporto; presidente da Comissão de Ciência e Tecnologia; membro do Comitê pela Eliminação do Analfabetismo Infantil; componente da Comissão de Defesa do Direito à Educação; e vice-presidente da Frente Parlamentar pela Criança e Adolescente. Na Câmara dos Deputados, foi membro da Comissão de Educação e Cultura e da Comissão Especial do Plano Nacional de Educação (PNE). Em 2013, foi primeiro vice-presidente da Comissão de Educação e suplente da Comissão de Constituição e Justiça.

as decisões políticas, e sob ela, um órgão executor, no caso a Superintendência Estadual de Meio Ambiente (Semace) para fiscalizar e executar”. Aragão criou e foi o primeiro superintendente da Semace, ficou no cargo no 12 anos.


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INGLATERRA

Ônibus é movido a fezes, esgoto e lixo orgânico Diante da crescente busca por novas fontes de energia, surgem algumas descobertas criativas e até mesmo estranhas e que acabam chamado atenção. Um exemplo é ônibus movido a fezes humana, que circula desde o dia 20 de novembro, nas ruas da cidade de Bristol, na Inglaterra. O Bio-Bus é um coletivo de 40 lugares, capaz de viajar até 300 quilômetros com um motor movido a gás biometano, gerado na decomposição de fezes, esgoto e lixo orgânico. Segundo especialistas, essa forma de combustível produz menos poluentes do que o diesel e a gasolina. O gás biometano é gerado a partir do esgoto. Durante o processo, uma bactéria transforma o material orgânico do lixo em metano e dióxido de carbono. Além disso, todas as impurezas são removidas para que as emissões produzidas fiquem sem odores. A empresa que opera o ônibus acredita que o “ônibus do cocô”, como o veículo está sendo chamado na cidade, irá trans-

portar cerca de 10 mil passageiros todos os meses, do aeroporto local até o centro da cidade de Bath. A cidade processa cerca de 75 milhões de metros cúbicos de esgoto e 35 mil toneladas de lixo doméstico por ano. Apenas o lixo anual de uma pessoa (tanto o descarte de alimentos quanto o esgoto) gera combustível para o ônibus rodar 60 quilômetros. Segundo a Bath Bus Company, o lançamento do ônibus agora é considerado apropriado, já que Bristol será a Capital Verde da Europa este ano. Para países como o Brasil que amarga a 112ª posição em um levantamento feito com 200 países no quesito saneamento, o ônibus pode ser uma boa solução e trazer uma grande contribuição para a sétima economia do mundo, o país aparece muito atrás de países como Argentina, Uruguai, Chile ,Omã, Síria e Arábia Saudita, e até de nações africanas, como o Egito.

DIVULGAÇÃO

Fonte: BBC

INDICAÇÃO DE LEITURA Livro trata das medidas brasileiras para eliminação de gases que destroem camada de ozônio

Obra retrata o progresso brasileiro nos quase 25 anos de adesão ao Protocolo de Montreal. “O livro mostra muito bem como o Brasil atendeu os objetivos de eliminação e redução dos gases CFC e HCFC, respectivamente, mesmo sendo o principal consumidor desses gases entre os países em desenvolvimento”, disse Jorge Chediek, representante residente do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), sobre o livro “Ações Brasileiras para a proteção da camada de ozônio”, lançado no dia 18 de dezembro na sede do Ministério do Meio Ambiente (MMA), em Brasília. O lançamento que ocorreu às vésperas do aniversário de 25 anos da ratificação pelo Brasil do Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio, também contou com a participação da ministra, Izabella Teixeira, e do coordenador-geral de Cooperação Técni-

ca do Itamaraty, Márcio Lopes Corrêa. Os participantes do evento, além do livro impresso, receberam uma versão virtual em pen-drives. Izabella Teixeira reforçou a importância do livro e assegurou que ele é um registro precioso de como as ações políticas, impulsionadas pelo Protocolo de Montreal, provocaram uma mudança profunda no comportamento cotidiano da sociedade. “A sociedade tem de se debruçar sobre os modelos de governança que tiveram bons resultados, como o Protocolo”. O livro faz uma retrospectiva de todas as medidas e estratégias adotadas pelo Brasil, um dos países que se destaca pelo cumprimento das metas estabelecidas no Protocolo de Montreal, para acabar com a emissão dos clorofluorcarbonos (CFCs) e hidroclorofluorcarbonos (HCFCs), encontrados em equipamentos de refrigera-

ção e em alguns tipos de espuma. O Brasil contou com o apoio do Pnud para o Plano Nacional de Eliminação de CFCs, concluído em 2012, e atualmente para o Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs.

PROTOCOLO DE MONTREAL O Protocolo de Montreal sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio é um tratado internacional e multilateral, com o objetivo de fazer os países comprometerem- se a eliminar e substituir o uso do CFCs e de outras substâncias que contribuem para a destruição da camada de ozônio. O tratado ficou aberto para adesão a partir do dia 16 de setembro de 1987, no Canadá, e entrou em vigor no dia 1º de janeiro de 1989. Mais de 150 países aderiram ao protocolo e estipulou-se 10 anos para que diminuíssem de forma significante ou acabassem com

o uso das substâncias. Em escala mundial, segundo informações do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), a produção desses gases caiu 99,7% entre 1998 e 2008. Na prática, isso significou uma queda de 1,07 milhão de toneladas para 2.746. Fontes: Pnud e MMA. BÁRBARA DE OLIVEIRA/PNUD BRASIL


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Ceará já tem um novo governador. A solenidade de transmissão de cargo entre Cid Gomes e Camilo Santana, foi realizada dia 1 º de janeiro. Pela primeira vez, a cerimônia que contou com um ato ecumênico nos jardins do Palácio, foi aberta à participação de todos os cearenses. De forma surpreendente, em seu discurso de posse, Camilo disse que ao invés de colocar a sua foto oficial nas salas do governo, colocará fotos e imagens do povo cearense. “Esses sim, merecem ser a inspiração para toda a minha equipe. Quero que meu secretariado trabalhe para o povo e não para mim”. Mas à nossa reportagem, não se surpre-

BIOGRAFIA

endeu tanto, já que dias antes, por ocasião do Seminário de Consolidação do Plano de Governo – Os 7 Cearás, Camila Santana, disse à nossa reportagem que a principal característica do seu Governo será a democracia. “ Eu quero que as pessoas possam participar de forma democrática das discussões. Este é um princípio que defendi na campanha e que será uma ação permanente na minha administração. Dialogar com a sociedade, ouvir a sociedade, este será o meu estilo, a partir de janeiro.”

Camilo Santana tem 46 anos, é casado e pai de dois filhos. Nascido no Crato, é engenheiro agrônomo, professor e mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Servidor público federal concursado, ocupou a Superintendência Adjunta do Ibama, no Ceará, em 2003 e 2004. No primeiro governo de Cid Gomes, entre 2007 e 2010, foi secretário do Desenvolvimento Agrário do Estado. Em 2010, foi o deputado estadual mais votado do Ceará, eleito com mais de 131 mil votos. No segundo governo de Cid Gomes, Camilo assumiu a Secretaria das Cidades.

NAYANA MELO

Camilo Santana um Governador para o povo


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