O Estado Verde - Edição 22417- 30 de dezembro de 2014

Page 1

ANO VI - EDIÇÃO No 370 FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de dezembro de 2014 DIVULGAÇÃO

BANDEIRA VERMELHA

Ano começa com energia mais cara Consumidores pagarão mais por cada 100kWh consumidos. O novo sistema valerá para todo o País a partir de janeiro. Semelhantemente aos semáforos, as cores aparecerão na conta de luz, em função das condições da geração de energia no País. Páginas 6 e 7

DNOCS

ONU

O diretor do órgão federal, Walter Gomes de Sousa, concedeu entrevista exclusiva a o Estado Verde. Segundo ele, a água só é valorizada quando deixa de ser abundante.

A iniciativa global, encabeçada pelas Nações Unidas, irá ressaltar aos cidadãos do mundo, a importância da luz e das tecnologias ópticas na vida das pessoas e suas relações com o futuro e o desenvolvimento sustentável da sociedade. Página 3

Mais de um século de política de convivência com a seca

Páginas 9, 10 e 11

O mundo vai celebrar o Ano Internacional da Luz

eu espero que... O que pensam os formadores de opinião sobre a questão ambiental para o Ano Novo. Página 12


2

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VERDE

Coluna Verde

AGENDA VERDE

TARCILIA REGO tarcilia_rego@terra.com.br

FELIZ ANO NOVO! Sempre que um ano está terminando, cresce aquela expectativa do que teremos pela frente. Será que virá um ano de paz, crescimento, dificuldades, conquistas... As previsões da Astrologia, da Numerologia e do Horóscopo Chinês são positivas. Será o Ano do Carneiro, e com a influência do planeta Marte, 2015 promete muita energia e ação. De acordo com a Numerologia, a soma de 2015 é 8, significa que pode ser um ano marcado pela ética e a honestidade, além de um grande senso de justiça. Em geral é um ano de sorte, que favorece mudanças em todos os sentidos. Mudança é a palavra-chave deste ano. Já que estamos falando de mudança, quanto às mudanças climáticas, o que esperar? Será que teremos o sonhado acordo vinculante para conter o aquecimento global? E o Governo brasileiro, o que está fazendo com relação à adaptação a alterações do clima? O que nos reserva 2015 sob o ponto de vista do meio ambiente? Penso que a mudança climática será a grande protagonista do ano, afinal, não é mais uma ameaça distante, ela já está desafiando nossas comunidades e nossa capacidade de proteger a qualidade do ar que respiramos, e da água que bebemos. Quero ser otimista, mas preocupa-me a possibilidade de mais um ano em que a agenda ambiental passará ao largo das decisões políticas, afinal, com Kátia Abreu no Ministério da Agricultura e o Aldo Rebelo no comando da Ciência, Tecnologia e Inovação, como confiar em Dilma? Depois dessas indicações... Acaba de repercutir em toda a imprensa nacional, o questionamento levantado por Rebelo, sobre a existência do aquecimento global. Se o novo ministro não acredita no fenômeno, imagine como ficarão as pesquisas do País referentes ao tema. Com relação à dimensão local, 2014 não foi de todo ruim para Fortaleza, apesar do triste evento do viaduto do Cocó, estou mais otimista com as políticas em andamento. Na Cidade, foram criados novos parques (só no papel, por enquanto), foi feito o inventário de emissões de gases de efeito estufa e agora, com as ciclofaixas, está mais fácil pedalar pelas ruas movimentadas da Capital. Minha expectativa para 2015 é que o Prefeito estenda as vias de ciclistas para as regiões periféricas de Fortaleza, nessas, sim, as vias serão de mais valia. Termino a coluna dessa semana, agradecendo o apoio recebido durante o ano que termina, desejando a todos, um feliz Ano Novo, pleno de saúde, harmonia e prosperidade.

Verde

31 DE DEZEMBRO DE 2014 Réveillon de Fortaleza 2015

• Aterro da Praia de Iracema. Mais informações no site: www.fortaleza.ce.gov.br.

1o DE JANEIRO DE 2015 Dia Mundial da Paz e Dia da Confraternização Universal

• Em 8 de dezembro de 1967, o papa Paulo VI escreveu uma mensagem propondo a criação de um Dia Mundial da Paz, a ser celebrado no dia 1º de janeiro de cada ano. Mas o papa não queria que a comemoração se restringisse apenas aos católicos – para ele, a verdadeira celebração da paz só estaria completa se envolvesse todos os homens, não importando a religião. “A proposta de dedicar à paz o primeiro dia do novo ano não tem a pretensão de ser qualificada como exclusivamente nossa. O desejo é que ela encontre a adesão de todos os verdadeiros amigos da paz”, dizia, em sua mensagem, Paulo VI. A ideia “pegou” e, desde então, o primeiro dia do ano é reservado à reflexão, é o dia em que trocamos votos de paz, felicidade e saúde para o ano que está começando. Fonte: Ibge.

6 DE JANEIRO DE 2015 Dia da Gratidão

• Gratidão ocorre sempre que alguém faz algo que o outro gostaria que acontecesse, sem esperar nada em troca, e isso faz com que a pessoa que fez a ação sinta- se feliz, assim como a que recebeu a ação. Diz-se que a gratidão, assim como a amizade é um sentimento muito nobre e traz junto com ele, uma série de outros sentimentos, como amor, fidelidade, amizade e etc... Gratidão atrai muitas graças, mas é importante não confundir gratidão com bajulação ou lisonjas, com servilismo.

Exposição reúne trabalhos de artistas cearenses no Estoril

• Até 6 de janeiro de 2015, quem passar pelo Estoril, poderá conferir na Galeria Mário Barata, a exposição Feliz Natal! A mostra, que tem a curadoria de Dodora Guimarães, é um Cartão de Natal tridimensional, que reúne presépios festivos, animados pelos festejos dos Reisados e das Cantorias. Os presépios são esculpidos em madeira e moldados no barro pelos mestres escultores Manoel Graciano (1920-2014), Maria de Lourdes Cândido (MLC, 1942) e Raimundo Caetano Rodrigues (Racar, 1966). Artistas do povo e reconhecidos Mestres da Cultura Cearense – Tesouros do Patrimônio – Manoel Graciano e Maria de Lourdes Cândido, ambos de Juazeiro do Norte, são referências nacionais, tendo suas obras em importantes coleções públicas e privadas. Raimundo Caetano é a promessa da tradicional Escola de Juazeiro do Norte. Serviço: Exposição Feliz Natal! Quando: Em cartaz de 12 de dezembro a 6 de janeiro de 2015 Onde: Estoril, na Rua dos Tabajaras, 397 – Praia de Iracema.

O “Verde” é uma iniciativa para fomentar o desenvolvimento sustentável do Instituto Venelouis Xavier Pereira com o apoio do jornal O Estado. EDITORA: Tarcília Rego. CONTEÚDO: Equipe “Verde”. DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Rafael F. Gomes. MARKETING: Pedro Paulo Rego. JORNALISTA: Elisangela Alves. TELEFONE: 3033.7500 / 8844.6873


3

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VERDE

2015

Será o Ano Internacional da luz Assembleia Geral das Nações Unidas celebra a luz e suas aplicações como matéria da ciência e do desenvolvimento tecnológico. A ideia de criação do IYL foi liderada pelo México POR TARCILIA REGO

2

015 - Ano Internacional da Luz (IYL 2015). É uma iniciativa global que irá ressaltar aos cidadãos do mundo, a importância da luz e das tecnologias ópticas em suas vidas, para seu futuro, e desenvolvimento da sociedade. “É uma oportunidade única para inspirar, educação e conexão em escala global”. Como afirma o presidente do Comitê Gestor IYL 2015, John Dudley, é uma “tremenda oportunidade” para garantir que os formuladores de políticas internacionais e as partes interessadas “fiquem cientes do potencial de resolução de problemas, através da tecnologia da luz”. O objetivo é promover o conhecimento sobre o papel essencial que a luz desempenha nas nossas vidas. O Ano será celebrado, em 2015, por decisão da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em reconhecimento à importância das tecnologias associadas à luz na promoção do desenvolvimento sustentável e na busca de soluções para os desafios globais nos campos da energia, educação, agricultura e saúde. Criado em 2010, o IYL 2015 “é um projeto transdisciplinar de educação e sensibilização com mais de 100 parceiros em mais de 85 países, acompanhado pelo Programa de Ciências Básicas Internacional

da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)”. A ideia da criação do IYL 2015 foi liderada pelo México, e entre os 35 países que apoiaram a proposta encontram-se o Chile, Israel, Nova Zelândia, Rússia, Sri Lanka, Estados Unidos, China, Cuba ou a Ucrânia. Ele incorpora sociedades científicas e sindicatos, instituições de ensino e pesquisa, plataformas de tecnologia, organizações sem fins lucrativos e parceiros do setor privado para promover e celebrar o significado da luz e suas aplicações em 2015. O Brasil, também está engajado na causa. O ANO NO BRASIL Inúmeras atividades estão sendo planejadas ao redor do planeta, dirigidas a audiências de todas as faixas etárias e de todos os níveis culturais. Aqui no Brasil, a 67ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que acontecerá entre os dias 12 e 18 de

julho de 2015, no campus da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Carlos (SP) e a próxima edição da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), abraçaram a ideia e terão a luz e suas tecnologias como tema. O SBPC criou um grupo de trabalho que tem proposto e organizado eventos no País sobre o tema, que ocorrerão no próximo ano. E a primeira ação da comissão foi o lançamento da versão, em português, do site do Ano Internacional da Luz. A solenidade de abertura Ano Internacional da Luz será realizada em Paris nos dias 19 e 20 de janeiro. A resolução, publicada pela Assembleia Geral da ONU que cria o IYL, aponta que o

ano de 2015 coincide com a comemoração de alguns marcos importantes relacionados à luz o longo da história da ciência: 1. Os trabalhos em óptica de Ibn Al-Haytham em 1015; 2. O comportamento ondulatório da luz, proposto por Fresnel em 1815; 3. A teoria eletromagnética da luz, proposta por Maxwell em 1865; 4. Os trabalhos de Einstein sobre o efeito fotoelétrico (1905) e sobre o vínculo entre a luz e a cosmologia no contexto da Relatividade geral (1915); 5. A descoberta da radiação cósmica de fundo em micro-ondas por Penzias e Wilson em 1965. 6. Os trabalhos de Charles Kao (1965) a respeito do uso de fibras ópticas nas comunicações. Saiba mais em: http://www. luz2015.org.br


4

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VERDE

IBGE lança Mapa Político do Brasil

PRINCÍPIO DA AVALIAÇÃO PRÉVIA DOS IMPACTOS AMBIENTAIS DAS ATIVIDADES DE QUALQUER NATUREZA De dois princípios discorreremos hoje. O primeiro trata da avaliação prévia de impactos ambientais e, indiscutivelmente, constitui um dos princípios basilares do ordenamento jurídico em matéria de proteção do meio ambiente. Está arrimado positivamente, de forma expressa, no art. 225, § 1º, inc. IV, da CF, no art. 9º, inc. III, da Lei 6.938/81 e no princípio 17 da Declaração resultante da Conferência do Rio de Janeiro, de 1992. Embora intimamente ligada à ideia de prevenção de danos ambientais, a avaliação de impactos no meio ambiente tem conotação mais ampla. Configura, de fato, mecanismo de planejamento, na medida em que insere a obrigação de levar em consideração o meio ambiente, antes da realização de atividades e antes da tomada de decisões que possam ter algum tipo de influência na qualidade ambiental.

O

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lança o Mapa Político do Brasil. Em versão impressa e digital, o IBGE apresentou, no último dia 18 de dezembro, na escala 1:2.500.000 (1cm=25km), uma representação cartográfica de todo o território brasileiro, informando a distribuição espacial das capitais e cidades, com destaque para as de maior população. Esse mapa é utilizado como referência em projetos geocientíficos, fornecendo suporte aos tomadores de decisão para o macroplanejamento do país e para geração de diversos mapas em escalas menores. O Mapa Político do Brasil 1:2.500.000, devido a sua ampla dimensão (1.800mmX2.260mm), é disponibilizado nas suas versões, impressa e digital, dividido em 4 quadrantes, a fim de possibilitar sua impressão e manuseio. O produto, completo e por quadrantes, no formato PDF poder ser baixado através do linkftp://geoftp.ibge.gov.br/mapas_tematicos/mapas_murais/Brasil2500_2014/.

As cartas imagem proporcionam uma visão atualizada do território, compatível com os requisitos de representação da escala, e apresentam a denominação dos elementos geográficos de maior relevância. Devido à característica simplificada desse produto, a sociedade pode dispor das informações de forma mais rápida do que em relação à produção de uma folha topográfica completa. Fonte: IBGE. Elaborado a partir da Base Cartográfica Contínua do Brasil na escala de 1:1.000.000 (1cm=10km), o mapa é composto por limites estaduais e internacionais, feições hidrográficas, pontos extremos, sistema de transporte, vegetação, energia e comunicações. A edição de 2014 traz a atualização da distribuição territorial brasileira, correspondente aos 5.570 municípios do Brasil. A versão do Mapa Político do Brasil ,divulgada hoje pelo IBGE, retrata a situação populacional com base no Censo Demográfico de 2010. Desde 1940, o IBGE produz o Mapa Político do Brasil.

MELHOR PREVENIR O Estudo de Impacto Ambiental constitui o instrumento essencial e obrigatório, para toda e qualquer atividade suscetível de causar significativa degradação do meio ambiente (art. 225, § 1º, inc. III, da CF). É este o caminho natural para a avaliação prévia de impactos ambientais. Todavia, não há como negar o caráter eminentemente preventivo, quanto às degradações ambientais, relativamente a essa espécie de instrumento administrativo. Leve-se, pois em consideração a lição dos franceses, como regra de bom senso: refletir antes de agir para evitar degradações ambientais importantes. Ou como se diz cá entre nós: melhor prevenir do que remediar. PREVENÇÃO DE DANOS O oitavo princípio em que se arrimam os operadores do Direito é o Princípio da Prevenção de Danos e Degradações Ambientais. Ele decorre da constatação de que as agressões ao meio ambiente são, em regra, de difícil ou impossível reparação. Isto significa dizer que após consumada uma degradação ao meio ambiente, a sua reparação é sempre incerta e, quando possível, excessivamente custosa. Daí a necessidade de atuação preventiva para que se consiga evitar os danos ambientais. PRINCÍPIO DA PRECAUÇÃO Ao nos depararmos com este princípio cada vez maior importância deve ser dada à educação ambiental e à exigência legal, mas, sobretudo a consciência cultural, de que o patrimônio ambiental deve ser preservado por todos os meios, com vistas a que as gerações futuras, dele possam desfrutar. A ideia de prevenção se tornou importante de tal forma que a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, em 1992,

JORNALISTA E ESCRITOR

adotou, em sua Declaração de Princípios, o denominado Princípio da Precaução. RIGOROSA PREVENÇÃO De acordo com o Princípio da Precaução, sempre que houver perigo de ocorrência de um dano grave ou irreversível, a falta de certeza científica absoluta não deverá ser utilizada como razão para se adiar a adoção de medidas eficazes para impedir a degradação do meio ambiente, sobretudo em função dos custos dessas medidas. Por outras palavras, mesmo que haja controvérsias no plano científico com relação aos efeitos nocivos de uma determinada atividade sobre o meio ambiente, em atenção ao Princípio da Precaução essa atividade deverá ser evitada ou rigorosamente controlada. IMPERATIVIDADE DE PREVENÇÃO Em muitas situações, torna-se imperativa a cessação de atividades potencialmente degradadoras do meio ambiente, mesmo diante de controvérsias científicas em relação aos seus efeitos nocivos. Nessas hipóteses, o dia em que se puder ter certeza absoluta dos efeitos prejudiciais das atividades questionadas, os danos por elas provocados no meio ambiente e na saúde e segurança da população terão atingido tamanha amplitude e dimensão que não poderão mais ser revertidos ou reparados. Serão, portanto, irreversíveis. Daí a imperatividade da prevenção. FELIZ 2015 Que o novo ano seja para os meus leitores como o trinar de milhões de pássaros em que a harmonia da natureza se desvenda como um concerto de extraordinária beleza. E que o verde de nossas matas e florestas seja um símbolo do verde da esperança que deve brotar em todos os corações. E que essa esperança se torne realidade de todos os seus desejos.


5

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VERDE

OPINIÃO

Sustentabilidade e Recursos Humanos na PME POR MARCUS NAKAGAWA*

O

empreendedor, por meio de sua Pequena, Micro e Média Empresa - PME pode trabalhar diretamente com as questões de sustentabilidade, pensando e atuando também em temas sociais e ambientais, não somente o financeiro. Entendo que a maioria deve pensar “mas, puxa vida, eu mal dou conta da parte financeira, imagina o restante”. Não conseguimos tangibilizar mensurar as outras duas áreas tão bem como a financeira, ou melhor, não aprendemos muito bem a fazer isso. Na nossa atual realidade modernidade e sistema vigente temos somente aprendido a apertar botão e adicionar ou subtrair. Infelizmente, o questionamento profundo das áreas sociais, que regem os nossos sentimentos, valores e, algumas vezes, ações, é deixado de lado, e é tratado como um hobby ou uma questão religiosa pontual. E a parte ambiental então, nem se fala, faz parte da nossa tríade do legado: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. Mas somente com este legado, ter um filho, ou criar um filho, ou o que deixar para este filho? No dia a dia da “vida real” estes tipos

de questionamentos, muitas vezes, nem fazem parte dos nossos pensamentos. Imagina se você ainda tem uma equipe na sua empresa para gerenciar e uma meta para bater. Já que tocamos no assunto de pessoas, os empreendedores não associam que o cuidar bem da equipe, dar o que a lei exige e mais um pouco, educar o funcionário, entre outras ações são também assuntos de sustentabilidade, ligados obviamente ao pilar social. Tanto é que os principais indicadores de sustentabilidade como o GRI (Global Reporting Initiative), processo para um relatório de sustentabilidade de uma empresa, ou mesmo os Indicadores Ethos para Negócios Sustentáveis, possuem uma área nas quais são questionadas práticas de trabalho e direitos humanos. No que se refere a direitos humanos, tem muito a ver com as questões de trabalho infantil, trabalho escravo ou análogo a escravo, promoção da diversidade e a verificação se o produto ou serviço pode afetar ou impactar algum ponto da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Já nas práticas de trabalhos, os indicadores são referentes à relação da empresa com os empregados terceirizados; relações com sindicatos; remuneração e

benefícios; compromisso com o desenvolvimento profissional; comportamento frente a demissões e aposentadoria; saúde e segurança dos empregados e condições de trabalho; qualidade de vida e condições de trabalho. Estes questionários são uma base para que a empresa faça uma autoanálise e verifique se efetivamente a organização está dando o devido valor para estes temas ou, como na maioria das vezes, este não está sendo um tópico prioritário. Após esta análise é necessário engajar mais pessoas e buscar pontos de melhoraria e, finalmente realizar as ações e monitorá-las. Se você está achando que para uma PME é muito difícil pensar em ações concretas de sustentabilidade para a área de recursos humanos, está enganado, comece a buscar mais informações sobre o tema. Um bom exemplo, que consta no site do Centro Sebrae de Sustentabilidade, é a empresa K-jet, que trabalha há 16 anos na indústria de injeção de termoplástico em Belo Horizonte, sendo que 70% do seu faturamento vem da cadeia automotiva. Nesta empresa eles usam telhas transparentes que permitem iluminação natural do interior da fábrica, reduzindo o consumo energético; fazem gestão eficiente

hídrica por meio de sistema de captação de água de chuva usada no processo de resfriamento dos equipamentos (enchem dois reservatórios de 11 mil litros de água); e fazem a contratação de mão de obra local. Até aqui tudo bem, porém, como diferencial na área de recursos humanos a empresa permite que o funcionário volte para almoçar em casa para que tenha um maior convívio com a família, mais qualidade de vida etc. Além disso, a empresa também realiza treinamentos, remuneração com diferenciação e tudo o que está na lei. Realmente é o início do trabalho. Para os empreendedores que não têm um assistente ou secretária para ajudar, vai acabar sobrando mais esta função. Se tivermos uma visão de que estamos gerando emprego, treinando gente e melhorando vidas, conseguimos dizer que o nosso empreendimento está no rumo do tal desenvolvimento sustentável. Um caminhar diário com muita resiliência, sempre acreditando e mostrando os seus valores é que faz valer a pena esta vida de empreendedor. *Professor da ESPM; idealizador e presidente do conselho deliberativo da Associação Brasileira dos Profissionais de Sustentabilidade (Abraps).


6

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VERDE

ENERGIA

Foi dada a largada: a conta está mais cara, e a bandeira é vermelha

Consumidores pagarão mais para cada 100 kWh de energia consumidos. O novo sistema valerá para todo o País, a partir de janeiro, com exceção do Amazonas, Amapá e Roraima POR TARCILIA REGO tarciliarego@oestadoce.com.br

A

Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) encerra o ano com a primeira bandeirada tarifária, e o brasileiro começa 2015 tendo que arcar com o acréscimo de R$ 3 para cada 100 quilowatts-hora consumidos, da conta de luz. A Aneel informou que a partir de 1º de janeiro, passa a valer o Sistema de Bandeiras Tarifárias (SBT) e fixa a bandeira de cor vermelha para os consumidores de todos os estados do País, com exceção do Amazonas, Amapá e Roraima, que ainda não estão interligados com o Sistema Nacional de energia elétrica. O novo SBT entrará em vigor para sinalizar os custos de geração de energia elétrica na fatura mensal dos consumidores. A sinalização é feita por três bandeiras, semelhante aos semáforos, que aparecem em função das condições da geração de energia no País, associado ao volume de água armazenada nos reservatórios das hidrelétricas, cujo custo é bem menor do que a geração termelétrica. R$ 800 MILHÕES A bandeira verde indica que as condições estão favoráveis à geração de energia e que não há acréscimo na tarifa. A amarela indica que as condições da ge-

ração estão menos favoráveis e a tarifa sofre um acréscimo de R$ 1,50 para cada 100 kWh efetivamente utilizados. Já a bandeira vermelha, indica que as condições estão desfavoráveis. De acordo com a Aneel, a bandeira vermelha está sendo aplicada porque a oferta de energia para atender a demanda dos consumidores está ocorrendo com maiores custos de geração, como, por exemplo, o acionamento de grande quantidade de termelétricas, por parte das distribuidoras, portanto, uma fonte mais cara de geração de energia. Com as bandeiras, haverá, portanto, uma sinalização mensal do custo de geração da energia elétrica que será cobrada do consumidor, com acréscimo das bandeiras amarela e vermelha. Essa sinalização dá, ao consumidor, a oportunidade de adaptar seu consumo, se assim desejar. “O sistema de bandeiras é para o consumidor poder reagir ao momento de preço. Para o consumidor conhecer quanto está custando naquele momento e consumir de uma maneira consciente. É uma ferramenta a mais para melhor adequar o consumo. Se estamos em um momento de escassez e custo alto, por exemplo, ele colabora consumindo menos e isso tem um benefício para o sistema”, declara o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, à imprensa.

No primeiro mês, a cobrança será feita proporcionalmente ao dia do fechamento da fatura de cada cliente. Para as contas de luz com fechamento previsto para 10 de janeiro, será cobrada a bandeira tarifária apenas sobre os dez dias de janeiro. Os demais 20 dias referentes a dezembro virão com o valor normal. A agência estabeleceu o ano de 2014 como período de teste e não cobrou dos consumidores os valores adicionais. A divulgação da cor da bandeira válida para o mês de fevereiro será feita em 30 de janeiro. Estimativas do setor indicam que a arrecadação adicional do setor elétrico pode chegar a R$ 800 milhões por mês quando a cor vermelha estiver estabelecida e R$ 400 milhões com a cor amarela. COELCE A dona de casa, Terezinha Ferreira, moradora da Praia de Iracema, disse que não estava sabendo do aumento, muito menos das “bandeiradas”, e não pareceu surpresa. “Já estou acostumada com os aumentos, são tantos... A novidade é esse negócio de bandeira, e eu só quero ver, se um dia, a Coelce vai mandar uma bandeirinha na minha conta, indicando que a minha luz vai baixar”. Terezinha ironiza, dizendo que vai “esperar sentada”. A cada mês, a Aneel vai informar qual bandeira estará em vigor no mês seguinte.

POR QUE A ANEEL CRIOU AS BANDEIRAS? Segundo a Aneel, a energia elétrica no Brasil é gerada predominantemente por usinas hidrelétricas. Para funcionar, essas usinas dependem das chuvas e do nível de água nos reservatórios. Quando há pouca água armazenada, usinas termelétricas podem ser ligadas com a finalidade de poupar água nos reservatórios das usinas hidrelétricas. Com isso, o custo de geração aumenta, pois essas usinas são movidas a combustíveis como gás natural, carvão, óleo combustível e diesel. Por outro lado, quando há muita água armazenada, as térmicas não precisam ser ligadas, e o custo de geração é menor.

As bandeiras tarifárias são uma forma diferente de apresentar um custo que hoje já está na conta de energia, mas geralmente passa despercebido. Atualmente, os custos com compra de energia pelas distribuidoras são incluídos no cálculo de reajuste das tarifas dessas distribuidoras e são repassados aos consumidores um ano depois de ocorridos, quando a tarifa reajustada passa a valer. Com as bandeiras, haverá a sinalização mensal do custo de geração da energia elétrica que será cobrada do consumidor, com acréscimo das bandeiras amarela e vermelha. Essa sinalização dá, ao consumidor, a oportunidade de adaptar seu consumo, se assim desejar.

A Coelce, distribuidora de energia elétrica que atua em todo o estado do Ceará, informa, através da assessoria de imprensa, que a empresa já está providenciando o devido atendimento às novas exigências relativas ao Sistema de Bandeiras Tarifárias. “Como distribuidora regulamentada, a Coelce cumpre o que a Agência determina, já que é o órgão regulador nacional”. A empresa distribui energia elétrica para aproximadamente 9 milhões de habitantes em todos os 184 municípios cearenses e comunicará, na conta de energia, a aplicação das bandeiras, conforme o novo sistema tarifário. A Aneel informa (www.aneel.gov.br) que as empresas de energia elétrica prestam este serviço por delegação da União na sua área de concessão, ou seja, na área em que lhe foi dado autorização para prestar o serviço público de distribuição de energia elétrica. “Cabe à Agência Nacional de Energia Elétrica estabelecer tarifas que assegurem ao consumidor o pagamento de uma tarifa justa, como também garantir o equilíbrio econômico-financeiro da concessionária de distribuição para que ela possa oferecer um serviço com a qualidade, confiabilidade e continuidade necessárias”. SAIBA MAIS - Os consumidores de energia elétrica no Ceará pagam as tarifas de energia por meio da conta recebida através da Coelce, um valor correspondente à quantidade de energia elétrica consumida, no mês anterior, estabelecida em kWh (quilowatt-hora) multiplicada por um valor unitário, denominado tarifa, medida em R$/kWh (reais por quilowatt-hora), que corresponde ao preço de um quilowatt consumido em uma hora. - Para facilitar a compreensão do novo sistema, 2013 e 2014 foram anos testes. Em caráter educativo, a Aneel divulgou, mês a mês, as bandeiras tarifárias que estariam em funcionamento nesse período.


7

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VERDE

CONSCIÊNCIA ALTA, CONTA BAIXA Por meio do sistema, o consumidor poderá identificar a bandeira do mês e reagir à sinalização com o uso inteligente da energia elétrica, sem desperdício.

•Condições favoráveis: significa que os custos para gerar energia naquele mês foram baixos. A tarifa não sofre acréscimo .

•Atenção! Condições de geração de energia menos favoráveis. A tarifa terá acréscimo de R$ 1,50 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.

•Condições mais onerosas de geração naquele com maior acionamento de termelétricas, a tarifa sofre acréscimo de R$ 3 a cada 100 kWh.

COMO FORAM CALCULADOS OS CUSTOS DE CADA BANDEIRA? A aplicação das bandeiras é realizada conforme os valores do Custo Marginal de Operação (CMO) e do Encargo de Serviço de Sistema por Segurança Energética (ESS-SE) de cada subsistema. O Custo Marginal de Operação (CMO) equivale ao preço de unidade de energia produzida para atender a um acréscimo de demanda de carga no sistema;, uma elevação deste custo indica que a geração de energia elétrica está mais custosa. Um CMO elevado pode indicar níveis baixos de armazenamento de água nos reservatórios das hidrelétricas e condições hidrometeorológicas desfavoráveis, isto é, poucas

chuvas nas bacias dos rios. O CMO também é impactado pela previsão de consumo de energia, de forma que um aumento de consumo, em decorrência, por exemplo, de um aumento da temperatura, poderá elevar o CMO. Quando isso acontece, as usinas termelétricas entram em operação para compensar a falta de água dos reservatórios das usinas hidrelétricas ou o aumento de consumo e, assim, preservar a capacidade de geração de energia dessas hidrelétricas nos meses seguintes. Já os Encargos de Serviço do Sistema (ESS) são aqueles decorrentes da manutenção da confiabilidade e da estabilidade do Sistema Interligado Nacional

(SIN). Os custos de ESS por segurança energética advêm da solicitação de despacho do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) para realizar geração fora da ordem de mérito de custo, ou seja, despachar geração mais custosa (térmicas), visando garantir a futura segurança do suprimento energético nacional. Juntos, o CMO e o ESS-SE determinam a bandeira a ser adotada em cada mês, por subsistema: • Bandeira verde: CMO + ESS-SE menor que R$ 200,00/MWh (duzentos reais por megawatt-hora);

• Bandeira amarela: CMO + ESS-SE igual ou superior a R$ 200,00/ MWh e inferior a R$ 350,00/MWh; • Bandeira vermelha: CMO + ESS-SE igual ou superior a R$ 350,00/ MWh Uma vez por mês, o ONS calcula o CMO nas reuniões do Programa Mensal de Operação (PMO) - quando também é decidido se haverá ou não a operação das usinas termelétricas e o custo associado a essa geração. Após cada reunião, com base nas informações do ONS, a Aneel aciona a bandeira tarifária vigente no mês seguinte. Fonte: Aneel


8

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VERDE

PETROBRAS

Companhia está entre as 20 mais poluidoras do mundo

Se já não bastassem as consequências da Operação Lava Jato, agora a empresa tem outra questão para resolver – a ambiental. Acaba de entrar em uma lista negra de emissões de CO2 POR TARCILIA REGO

O

problema, agora, é ambiental. A Petrobras, além de envolvida em grande escândalo de corrupção e lavagem de dinheiro, acaba de ter o nome incluído na relação das 20 empresas mais poluidoras do mundo. A estatal, de acordo com um relatório elaborado pela Thomson Reuters, divulgado esta semana, aparece na 20 ª colocação, com emissões de 73,4 milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalentes (CO2e). A primeira colocada é a chinesa Petrochina, com 310,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono e equivalentes. O estudo analisa as emissões das 500 maiores companhias do mundo, que juntas, representam 28% do PIB (Produto Interno Bruto) global em termos de receita, assim como o esforço dessas empresas, no sentido de reduzir as emissões de poluentes. Essas companhias, afirma o relatório, foram responsáveis por 13,8% das emissões globais de gases de efeito estufa em 2013. 4,96 GIGATONELADAS De acordo com o documento, as emissões poluentes das 500 maiores empresas do mundo cresceram 3,1% de 2010 a 2013, até 4,96 giga toneladas por ano de dióxido de carbono. No mesmo período, essas emissões deveriam ter caído 4,2% para haver uma probabilidade de manter a elevação média da temperatura global nos 2ºC previstos pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Só as 20 primeiras colocadas responderam por 56% das emissões

das 500 maiores empresas em 2013, de acordo com o relatório. Para chegar ao resultado, os pesquisadores analisaram a evolução das emissões de 2010, ano-base para o cálculo das emissões de gases de efeito estufa, até 2013, o último ano com dados completos. O mesmo relatório mostrou que a mineradora Vale reduziu suas emissões em 23% ,principalmente devido à venda de seus ativos de alumínio e também por alterações em sua infraestrutura em 2013. REINCIDENTES Em setembro de 2013, um documento da organização independente, Carbon Disclosure Project (CDP), especializada no reporte climático de empresas, também destacou as duas empresas brasileiras – Petrobras e Vale - entre as maiores poluidoras: a primeira, no setor de energia, e a segunda, no setor de materiais. CRISE No centro daquele que parece ser o maior escândalo de corrupção e lavagem de dinheiro do País, conhecido como Operação Lava Jato, a Petrobras é investigada no Brasil, nos Estados Unidos e na Suíça. O escândalo envolve dezenas de políticos e as maiores empreiteiras do País, algumas com seus principais executivos presos há mais de um mês em Curitiba. Por causa da Lava Jato, a empresa atrasou a divulgação de seu balanço auditado do terceiro trimestre de 2014, que, inicialmente, deveria ter sido publicado em novembro. A Petrobras tentou apresentar um balanço não auditado em 12 de dezembro, sem sucesso.

Confira a lista das 20 empresas que mais poluíram em 2013: 1-Petrochina Company Limited – 310,5 milhões de toneladas de CO2eq 2- China Petroleum & Chemical Corp. – 294,4 milhões de toneladas de CO2eq 3- Arcellor Mittal – 207 milhões de toneladas de CO2eq 4- NTPC Ltd – 200,9 milhões de toneladas de CO2eq 5- RWE AG – 167,2 milhões de toneladas de CO2eq 6- GDF Suez – 153,3 milhões de toneladas de CO2eq 7- Duke Energy Corporation – 136,1 milhões de toneladas de CO2eq 8- Gazprom OAO – 131,8 milhões de toneladas de CO2eq 9- Exxon Mobil Corporation – 126 milhões de toneladas de CO2eq 10- E.ON SE – 120,7 milhões de toneladas de CO2eq 11- Enel SPA – 115,6 milhões de toneladas de CO2eq 12- American Eletric Power Comp., Inc – 115 milhões de toneladas de CO2eq 13- Nippon Steel – 114 milhões de toneladas de CO2eq 14- Holcim Ltd – 102,1 milhões de toneladas de CO2eq 15- The Southern Company – 102 milhões de toneladas de CO2eq 16- Lafarge S.A. – 92,5 milhões de toneladas de CO2eq 17- Posco – 88,1 milhões de toneladas de CO2eq 18- Royal Dutch Shell – 83 milhões de toneladas de CO2eq 19- EDF – 80 milhões de toneladas de CO2eq 20- Petrobras – 73,4 milhões de toneladas de CO2eq


9

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VERDE

DNOCS

Mais de um século de política de acumulação de águas O diretor do órgão federal, Walter Gomes de Sousa, concedeu entrevista exclusiva ao Estado Verde. Disse que só valorizamos o recurso hídrico, quando ele deixa de ser abundante BETH DREHER

POR TARCILIA REGO

A

escassez de água doce já é um problema de ordem mundial. Quem é nordestino conhece bem essa realidade e o seu significado, afinal, a maior parte da região Nordeste está inserida em zona semiárida e sujeita, de forma quase recorrente, a longos períodos de estiagem. A falta de chuva, ainda é o grande fantasma que assombra e causa sofrimento às populações que ‘enfrentam’, de um jeito ou de outro, sob os impactos da seca. Com o fenômeno das mudanças climáticas, questões ligadas aos recursos hídricos, agora, assombram, também, outras regiões do Brasil e deixam de ser ‘privilégio’ de nordestino. São Paulo, por exemplo, vive grave crise de abastecimento de água e tem como pano de fundo as alterações do clima e a falta de planejamento hídrico. Se comparada ao Estado paulista, e mesmo após as estiagens prolongadas registradas em 2010, 2012 e 2013, a situação por aqui é mais confortável considerando que a região, há mais de 100 anos, conta com o apoio técnico do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (Dnocs). O Caderno O Estado Verde teve a oportunidade de uma longa e boa conversa com o diretor geral do órgão, Walter Gomes de Sousa, sobre a água, o papel do Dnocs e do cidadão em geral, nesse contexto de carência hídrica. O papo com o, também, engenheiro civil, aconteceu na sala da diretoria, ambiente amplo e acolhedor, cercado de boas memórias. Na parede principal, ele nos aponta uma bela fotografia do Açude do Cedro, construído em 1898 e hoje, tombado pelo patrimônio histórico. Na ocasião, ele destacou a importância do órgão que desde sua criação, em 1909, até hoje, atua em diversas frentes, através de uma política de acumulação de águas, como construção de açudes, poços, perímetro irrigado, cisternas, e

tro de Pesquisas em Aquicultura e nas 14 estações de piscicultura sob a tutela do Dnocs, “a produção, deste ano, ficou em torno de 35 milhões de alevinos e o principal laboratório do Ceará, fica no município de Pentecoste, produzindo 100 mil quilos de peixes por ano”. ESTRATÉGIA Sob o ponto de vista estratégico, o Dnocs é importante para todos os estados do Nordeste, há anos prepara a Região para enfrentar períodos de seca. Aqui no Ceará, ele [Dnocs] mantém uma forte tradição por concentrar a sede do órgão, que a princípio, poderia estar na Paraíba, Piauí, enfim, em qualquer outro Estado. “Há um componente político presente, mas, independente disso, queremos fazer da melhor maneira, aquilo para o qual nos propomos”, declara Walter. Desde 1909, o órgão estuda, planeja e implanta e implementa ações de enfrentamento das cíclicas secas que assolam o Semiárido. Até 1959 foi a única agência governamental federal executora de obras de engenharia na região, construiu grandes açudes, como Orós, Banabuiú, Araras, Castanhão, no Ceará, Bonito e Armando Ribeiro Gonçalves, no Rio Grande do Norte. O último é considerado o maior reservatório de água, construído e administrado pelo Dnocs, no Estado vizinho. Só o Ceará, de acordo com o Setor de Monitoramento Hidrológico, “possui 66 açudes construídos e administrados pela Coordenadoria Estadual, com uma capacidade total de 15.625.796.000m3, correspondendo a 85% de toda água passível de ser armazenada e monitorada no Estado”.

ainda, com projeto voltado à piscicultura. Para Gomes, “enquanto usufruímos da água em abundância pouco a valorizamos, mas quando o recurso começa a rarear, despertamos para a sua impor-

tância estratégica”. Por exemplo, a falta de água já começa a comprometer a produção de alevinos - filhotes de peixe – em projetos de piscicultura. Mesmo assim, no Cen-

REESTRUTURAÇÃO O Dnocs conta com profissionais técnicos e especialistas nas mais diversas áreas de formação, engenheiros, geólogos, geógrafos entre outros. “Mas até o


10

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VERDE

ano de 2018, o órgão perderá mais de 60% dos funcionários, pois, chegarão à idade limite para aposentadoria”. Por isso, o Departamento entregou um projeto ao Ministério da Integração Nacional (MIN) que visando a reestruturação do órgão, propõe a realização de concurso público. Segundo Walter Gomes, para garantir que o conhecimento dessa geração seja repassado para a nova geração é preciso agilidade em todo o processo. “O governo está decidindo e a expectativa é que essas mudanças ocorram, o mais rápido possível, e de forma concomitante, ou seja, reestruturação e concurso público”, disse. SEGURANÇA HÍDRICA O dirigente do Dnocs, também falou sobre Segurança Hídrica e reconhece que é vital para todos os setores sociais e econômicos. Porém, esclarece que não é de responsabilidade do órgão, garantir a oferta de água para o abastecimento humano e para as atividades produtivas em situações de seca, estiagem ou desequilíbrio entre a oferta e a demanda do recurso, em quantidade e qualidade. “Atualmente, é uma responsabilidade das companhias de saneamento” e claro que o Dnocs entende que “a água, para o abastecimento humano, sempre será prioridade, depois para uso com irrigação, e por fim, na indústria”. “A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (Cogerh) e a Agência Nacional de Águas (ANA) controlam a distribuição do recurso natural. Elas decidem qual o volume de água sairá para cada situação. É um trabalho sério que vem sendo feito. Acompanhamos agora o que está acontecendo em São Paulo, e a ANA está sendo muito importante nesse momento”, disse, destacando que é preciso a união de algumas instituições, formando parcerias, para que as coisas funcionem de modo integrado e coordenado. “Outra questão urgente perpassa a educação em

sentido amplo”, ressalta. De acordo com o engenheiro, o cidadão na maioria das vezes desconhece a complexidade de alguns processos, o que dificulta o trabalho das equipes. Por exemplo: o tratamento de água. O País está aprendendo a conviver com esgotos. “Tratamento de água de esgoto é caro, além disso, exige tecnologia avançada”. ÁGUA NÃO TEM PREÇO “No mundo não cabe 7 bilhões de pessoas”. Mais uma vez, o quesito educação vai importar e muito na relação do indivíduo com os recursos naturais é preciso mudança no padrão de consumo. “A geração do excesso e do consumismo leva a esse exagero até com a natureza. Racionalizar é urgente, sob pena de esgotarmos de vez, o líquido tão precioso”, alerta o dirigente, sempre levantando a questão da educação ambiental e sustentabilidade hídrica. “O benefício de ter água não tem preço. Com

o uso da caixa de água padronizada já se tem controle e uma economia. Vamos imaginar que um bilhão de pessoas resolvem fazer a sua parte com o uso consciente da água. No final, isso fará grande diferença em nossos reservatórios e consequentemente, em nossas vidas. Economias de luz e de água são essenciais.” Para Walter, a tecnologia, também, virá em nosso favor e trará soluções para o problema da seca que sempre será urgente. Para ele, a principal falha é esquecer o problema no período chuvoso, relaxando no racionamento e quanto ao Dnocs, seria importante “desenvolver um programa educativo voltado à produção, armazenamento, gasto e economia da água. Equacionar o sistema de abastecimento para evitar chegarmos à água do mar”. CASTANHÃO A água se torna um desafio cada vez maior e atinge um alto nível de complexidade, que só muita

chuva resolve. Vive-se uma das piores secas da história do Ceará. “São três anos, ainda estamos confortáveis graças ao Açude Castanhão”, diz Walter. “A barragem é mesmo motivo de orgulho para o cearense”. Mas dirigente demonstra preocupação com a situação do reservatório. O açude tem 6,7 bilhões de metros cúbicos, está com menos de 2, ou seja, perdeu 4,7 bilhões. “Agora, é torcer para que o ano de 2015 nos surpreenda, já que os meteorologistas ainda não sabem precisar esses números”. Gomes lembrou que quando foi concluído em 2002, “quase como um milagre, o Castanhão encheu em apenas 29 dias, pois, chovia muito naquele ano”. De acordo com o Dnocs, o “Ceará enfrentou em 2012 e 2013, a sexta e sétima piores secas desde 1950, quando choveu respectivamente em média no Estado, 352,1mm e 378,3mm, e, vem sendo castigado novamente em 2014, com uma nova seca, porém, menos rigorosa de acordo com a Funceme, quando choveu 24 por cento abaixo da média histórica”. NÃO NOS ADAPTAMOS A SECA? Questionamos o representante do Dnocs: por que, mesmo após mais de 100 anos de políticas de ‘enfrentamento’ aos longos períodos de estiagem, ainda não nos adaptamos com a situação de seca? “Porque o problema é pesado”, responde. Esta é uma questão tão recorrente que causa certa inquietação em toda a população, especialmente no Nordeste do País. Atualmente, são seismil caminhões pipa trabalhando só na nossa região, mas, a distribuição é lenta e o custo muito alto para o Governo Federal. “Sem falar das distâncias percorridas”, destaca.


11

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VERDE

HOMENAGEM DOS CORREIOS

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos prestou grande homenagem ao Dnocs, com lançamento de um selo. A homenagem deve-se aos 105 anos de história. O diretor do órgão ressalta o orgulho de fazer parte dessa construção. “É uma grande responsabilidade tratar o problema da seca, imagine o momento que atravessamos de um longo período de estiagem, sem falar, das perspectivas meteorológicas que apontam para o ano de 2015 com poucas chuvas”, lamenta.

PING PONG

Dnocs do passado? É uma das coisas bonitas desse Nordeste. Dnocs de hoje? Motivo de preocupação já que queremos fazer o melhor. Dnocs do futuro? É a esperança de deixar o melhor para as gerações futuras. Qual a mensagem final? Que cada ser humano se conscientize da responsabilidade com a água. No mundo, ela existe para uso limitado. Quanto mais economizamos mais livramos os outros da sede.

Dnocs beneficia 21.609 famílias com a implantação de cisternas no Ceará O Dnocs está beneficiando 21.609 famílias cearenses com a instalação de cisternas, através do Programa Água para Todos, sob a coordenação do Ministério da Integração Nacional. Deste total, 14.983 cisternas de polietileno já foram implantadas em 12 municípios, enquanto 6.626 reservatórios estão previstos

para beneficiar os municípios de Mombaça (4.374) e Morada Nova (2.234). Maranguape foi a cidade que mais recebeu reservatórios, somando 3.723 implantações concluídas. As outras cidades beneficiadas com instalações já finalizadas são: Barro (1.081), Catarina (488), Ibicuitinga (692), Jardim

(2.841), Maranguape (3.723), Palhano (419), Russas (2.366), Saboeiro (1.853), São João do Jaguaribe (366), Tabuleiro do Norte (1.154). O Programa Água para Todos do Governo Federal foi criado para realizar repasses de recursos para a implementação de ações que visem garantir acesso

à água para comunidades rurais cujos habitantes se encontram em situação de vulnerabilidade social. Ele prioriza a população que vive na extrema pobreza, de acordo com os critérios definidos no decreto de sua criação (7.535/2011), articulando ações com diversos órgãos e instituições federais.


12

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de dezembro de 2014

VERDE

ASPAS VERDES Com a proximidade de 2015, fica a pergunta: O que esperar do novo ano, ambientalmente falando? O Estado Verde levantou a expectativa de alguns formadores de opinião, aí vão elas. “Minhas expectativas são as melhores possíveis. Observo que as pessoas estão se capacitando da escola a indústria para o devido tratamento das questões ambientais. Do ponto de vista da indústria, são melhores. O presidente Beto Studart já sinalizou, a partir de 2015, que o tema vai crescer, ainda mais, na Fiec. Estou otimista, cada vez mais, as pessoas internalizam, que as gerações futuras, também, devem usufruir dos recursos naturais.”

Antônio Renato de Lima Aragão, Coordenador da Unidade de Meio Ambiente (UMA) da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec).

“As ações socioambientais precisam ter maior foco em 2015. As evidências são cada vez mais claras que nosso planeta precisa de ajuda. Uma prova clara é a escassez acelerada dos recursos hídricos. A sociedade precisa repensar seu comportamento e as empresas têm papel fundamental em implementar e desenvolver ações sustentáveis e criativas que funcionem de dentro para fora, de modo que a sociedade incorpore. A expansão das energias renováveis passa a ser uma necessidade eminente e espero que possa ser mais acessível a todas as camadas.” Renato Albuquerque Felipe Diretor presidente da Ceneged

“Infelizmente, não vejo 2015 com otimismo no que diz respeito às temáticas ambientais. Localmente, o governador eleito já acena para a continuidade das políticas do Governo anterior, que podem ser resumidas como desastrosas. Em apenas um ano, por conta do acionamento da termelétrica do Pecém, as emissões de CO2 no Ceará cresceram 15%, quando todos os esforços deveriam se voltar para reduzi-las.” Nacionalmente, Dilma sinalizou no sentido de ignorar o necessário cuidado ambiental, ao indicar como ministros Kátia Abreu e Aldo Rebelo. E globalmente, ainda temo que a COP21 (paris 2015), não feche um acordo vinculante com a força necessária para conter o aquecimento global abaixo de dois graus, como espera a comunidade científica. Minha única expectativa positiva, vai no sentido de um aumento do grau de consciência ambiental em nossa sociedade. A solução passa pelas ruas, pelas aldeias, pela mobilização dos mais atingidos pelas catástrofes climáticas e ambientais.” Alexandre Costa, físico cearense, integrante do Painel Brasileiro de Mudanças Climáticas (PBMC)

“Como toda educadora ambiental, sou otimista e tenho a visão de que tudo possa ser melhor em 2015. Além do mais, considerando a nova gestão, o governador eleito, por formação e vivência profissional, traz a questão ambiental muito forte em seu perfil. Acredito que ele dará mais ênfase ao tema, e acredito que existe no novo Governo, mais sensibilidade no trato do assunto.”

Maria José Holanda, coordenadora de Educação Ambiental do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam).

“A questão ambiental, cada ano, fica mais crítica. Observamos durante 2014 a seca que assolou o Estado de São Paulo, não por coincidência, o desmatamento da floresta amazônica teve um aumento considerável. São áreas muito distantes entre si, mas que formam um mesmo sistema climático do País. A escassez de chuva, aliada à má gestão do setor elétrico no Brasil, trará impactos fortes ao fornecimento de energia para os próximos anos. O grande potencial eólico e solar do País desponta como um caminho a seguir. Porém, essas gerações são soluções paliativas para o cenário atual do setor, e também, esbarram na dificuldade de financiamento e de fornecimento de equipamentos para curto e médio prazos. Talvez, uma solução seria ampliar os leilões de energia e flexibilizar as linhas de financiamento para projetos de energias renováveis.” Eduardo Frota, empresário e diretor da Ziatech

Em 2015, desejo que nós, que lutamos em prol das árvores e de um mundo de mais delicadeza e amor, tenhamos muita força pra continuar, porque as expectativas não são boas. Mas que a gente consiga converter esse quadro calamitoso, conseguindo mais mentes e corações pra se unir a nossa causa. Júlia Manta, ambientalista e integrante do Movimento Pró- Árvore


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.