O Estado Verde - Edição 22312 - 05 de agosto de 2014

Page 1

Conforto ambiental de um lado e desconforto de outro A foz do Riacho Maceió acaba de receber um belo parque, mas o curso do rio ainda é marcado por sujeira e desgastes. Págs. 6 e 7

DIREITO AMBIENTAL

Os lixões são a cara dos prefeitos do País

Coluna de Barros Alves apresenta situação geral sobre eliminação dos lixões. Para o articulista, esta será mais uma letra morta. Pág. 4

DIVULGAÇÃO

TARCILIA REGO

CONTRASTE

DIVULGAÇÃO

FOTO: TIAGO STILLE

ANO VI - EDIÇÃO No 349 FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 5 de agosto de 2014

LÂMPADAS

As incandescentes vão desaparecer do mercado brasileiro

Afim de manter o compromisso de melhorar a eficiência energética, reduzir as emissões de carbono e proteger o meio ambiente as Pág. 5 “amerelinhas” saem de cena.


2

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 5 de agosto de 2014

VERDE

Coluna Verde TARCILIA REGO

tarcilia_rego@terra.com.br

EBOLA

África tem maior epidemia de ebola já registrada, o vírus mata até 90% dos infectados e não há cura ou vacina disponível para uso na população. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), este é o maior surto da história da doença em quatro décadas e vem acompanhado de desafios sem precedentes com 1.323 casos e 729 mortes registradas até o momento na África Ocidental. O Ministério da Saúde informou, em nota, dia 1º/8, que o risco de propagação do ebola para o Brasil é considerado baixo. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e a Secretaria de Vigilância em Saúde fizeram recomendações aos controles de fronteiras, apesar de não haver reforço de fiscalização em locais como portos e aeroportos. Segundo a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, o “surto atual está se movendo mais rápido do que os nossos esforços para controlá-lo. Se a situação continuar a deteriorar-se, as consequências podem ser catastróficas em termos de vidas perdidas, mas também perturbações socioeconômicas graves e um alto risco de propagação para outros países”. O fato é que o risco de proliferação do Brasil não é zero, principalmente quando estamos tão próximos da África. Devemos nos preocupar como a situação está sendo tratada em Fortaleza, afinal, não é difícil se deparar com africanos chegando ao Ceará. PMF - ATENÇÃO A questão ambiental pede maior atenção de todos. Já perdemos 35% dos mangues do planeta, 25 países extinguiram totalmente as florestas, 50% das áreas úmidas da Terra estão perdidas, e 30% dos recifes de corais chegaram a um ponto em que é impossível a recuperação. É preciso (urgente) a criação de instrumentos econômicos que privilegiam princípios como o do Protetor-Recebedor. Trazendo a questão para a dimensão local, destaco que a Prefeitura de Fortaleza apresentou, dia 1o, através da Seuma, o terceiro componente da nova Política Ambiental da Capital. Infelizmente, a nova política, ainda não contemplou programas como “Pagamento por Serviços Ambientais” que favorece práticas voluntárias de proteção ambiental por contemplar o Princípio Protetor-Recebedor. É preciso começar a pensar nesta questão na nossa Cidade. A melhor forma de proteger o meio ambiente, seja natural ou urbano, é legislar de modo a evitar a ocorrência de danos. É urgente inovar em termos de políticas, de modo a proteger, efetivamente, o patrimônio ambiental em consonância com

Verde

o meio ambiente urbano, consonância essa, sempre tão bem colocado pela titular da Seuma, Águeda Muniz. DIA DOS PAIS Os bons ventos começam a sobrar com a proximidade do Dia dos Pais. Depois do fiasco no período da Copa 2014 as expectativas são boas para comerciantes, em especial para os shoppings da Capital. O Iguatemi, por exemplo, projeta crescimento de 12% nas vendas e no fluxo de clientes, em relação ao mesmo período de 2013. Segundo o gerente-geral do shopping, Luiz Carlos Queiroz, “os segmentos de moda masculina e esportiva, calçados e eletrônicos” serão os destaques de vendas no período. A data especial é uma boa oportunidade para comprar um presente amigo do meio ambiente e deixar o Dia dos Pais mais verde. Sugiro um relógio solar ou talvez, uma cesta repleta com as frutas e os legumes preferidos do seu pai, sem agrotóxicos e vindos diretamente da horta para a mesa. REFLEXÃO: “O homem é o único animal que pode permanecer, em termos amigáveis, ao lado das vítimas que pretende engolir, antes de engoli-las”. Samuel Butler, escritor britânico.

AGENDA VERDE 09 DE AGOSTO DIA INTERNACIONAL DOS POVOS INDÍGENAS

• Proclamado em dezembro de 1994 pela Assembleia Geral das Nações Unidas (Resolução 49/214, de 23 de dezembro) o dia tem como objetivo principal promover e proteger os direitos dos povos indígenas do mundo. Na Declaração da ONU sobre os Direitos dos Povos Indígenas consta que “os povos e pessoas indígenas têm o direito de pertencerem a uma comunidade ou nação indígena, em conformidade com as tradições e costumes da comunidade ou nação em questão. Nenhum tipo de discriminação poderá resultar do exercício desse direito”.

09 DE AGOSTO DIA INTERAMERICANO DE QUALIDADE DO AR

• Imperativo para a saúde do planeta e para a vida dos que o habitam, o Dia da Qualidade do Ar foi criado, em 2002, pela Associação Interamericana de Engenharia Sanitária e Ambiental (Aidis). O objetivo é conscientizar os cidadãos do mundo que é possível adotar medidas para melhoraria do ar que respiramos. O monitoramento da qualidade do ar tem como objetivo a quantificação de poluentes atmosféricos, bem como a avaliação da qualidade do ar em relação aos limites estabelecidos. Os principais poluentes atmosféricos são: partículas totais em suspensão (PTS) - partículas de até 100 µm de diâmetro; partículas inaláveis (PI) - partículas de até 10 µm de diâmetro; fumaça – parâmetro determinado pelo escurecimento de um filtro através da deposição de partículas em suspensão; dióxido de enxofre (SO2); monóxido de carbono (CO); dióxido de nitrogênio (NO2) e Ozônio (O3).

11 DE AGOSTO DIA DO ESTUDANTE

• Cem anos após a criação dos cursos de direito no País, D. Pedro I, em 11 de agosto de 1827, propõe a criação do dia para homenagear todos os estudantes brasileiros. De acordo com o Ministério da Educação (MEC), a quantidade de estudantes caiu de 50,5 milhões em 2012 para 50,04 milhões em 2013, 82,6% destes, estão na rede pública de ensino, 0,6% em escolas federais, 17,4% em particulares, 36% nas estaduais e 46% nas municipais.

O “Verde” é uma iniciativa para fomentar o desenvolvimento sustentável do Instituto Venelouis Xavier Pereira com o apoio do jornal O Estado. EDITORA: Tarcília Rego. CONTEÚDO: Equipe “Verde”. DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Wevertghom B. Bastos. MARKETING: Pedro Paulo Rego. JORNALISTA: Sheryda Lopes. TELEFONE: 3033.7500 / 8844.6873


3

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 5 de agosto de 2014

VERDE

DESENVOLVIMENTO

Crescimento da ALCA cai para 2,2% em 2014. Brasil deve crescer 1,4% Relatório da Cepal mostra que a desaceleração da economia da região, no último trimestre de 2013, continuou nos primeiros meses de 2014

“A

s economias da América Latina e do Caribe (Alca) crescerão em média 2,2% em 2014 devido à fraca demanda externa, à baixa demanda interna, à falta de investimento e ao espaço limitado para a implementação de políticas que promovam sua reativação”. É o que assinalou a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) ao apresentar a edição 2014 do Estudo Econômico da América Latina e do Caribe, produzido pela própria Cepal e divulgado ontem (4) em Santiago do Chile, sede do organismo das Nações Unidas (ONU). O relatório mostra que a desaceleração da economia, no último trimestre de 2013, continuou nos primeiros meses de 2014, fazendo com que a região cresça menos que no ano passado, quando alcançou a taxa de 2,5%. Mas, devido a uma melhoria gradual em algumas das principais economias do mundo, as economias regionais podem ter uma recuperação no final de 2014. O documento está disponível , na íntegra, no site da Cepal (www.cepal.org). Regionalmente, o crescimento em 2014 será liderado pelo Panamá, com um aumento do produto interno bruto (PIB) de 6,7%, seguido pela Bolívia (5,5%), Colômbia, República Dominicana, Equador

e Nicarágua, com expansões de 5%. O Brasil deve crescer 1,4%, uma queda em relação aos 2,5% do ano passado. As fontes de crescimento são analisados ao longo das últimas décadas e nota-se que, o novo contexto de sustentabilidade econômica e social do crescimento requer mudanças significativas que envolvem, entre outras coisas, aumentar os níveis de investimento e produtividade. A terceira parte do estudo contém notas relevantes sobre o

desempenho econômico dos países da América Latina e do Caribe em 2013 e no primeiro semestre de 2014. CEPAL A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) foi criada em 25 de fevereiro de 1948, pelo Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ECOSOC), e tem sede em Santiago, Chile. É uma das cinco comissões econômicas regionais da ONU.

Foi criada para monitorar as políticas direcionadas à promoção do desenvolvimento econômico da região latino-americana, assessorar as ações encaminhadas para sua promoção e contribuir para reforçar as relações econômicas dos países da área, tanto entre si como com as demais nações do mundo. Posteriormente, seu trabalho ampliou-se para os países do Caribe e se incorporou o objetivo de promover o desenvolvimento social e sustentável.


4

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 5 de agosto de 2014

VERDE

ARTIGO

Por que as empresas preferem neutralizar a reduzir o dano ambiental?

POR CECÍLIA VICK* Após a Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a necessidade de diminuir os impactos ambientais tomou conta da agenda pública e também adentrou no ambiente corporativo. Dois caminhos surgiram para as empresas: reduzir a emissão de poluentes com políticas de longo prazo ou neutralizá-los com ações mais simples? Abaixo, estão cinco das muitas dificuldades que as empresas encontram ao iniciar planos de redução: Necessidade produtiva – reduzir drasticamente o consumo de energia e a emissão de poluentes pode impactar na produtividade. Com a redução, as empresas operariam com menos máquinas e por isso não conseguiriam se manter competitivas. Aumento de equipamentos – a evolução tecnológica criou e aperfeiçoou diversos equipamentos voltados para o ambiente corporativo. Porém, há um preço. A maioria aumenta o consumo de eletricidade e, consequentemente, a emissão de gases estufa. Atuação integral – alguns setores, como os responsáveis por datacenters, operam em um sistema integral, com equipamentos ligados à noite e também aos fins de semana. Com máquinas trabalhando 24 horas ao dia, consequentemente haverá aumento de energia. Velhos hábitos – sustentabilidade ainda é visto como algo novo no ambiente corporativo. A falta de conhecimento sobre o tema faz com que velhos hábitos de consumo sejam mantidos, deixando para o “futuro” algumas decisões que poderi-

am implicar na diminuição de poluentes dentro da companhia. Medo de mais gastos – por fim, há uma visão errônea de que implantar políticas sustentáveis na gestão implica no aumento de gastos e na redução de lucros da empresa. Na verdade, é o contrário: ações bem simples possuem resultados eficazes e garantem até mesmo uma economia em alguns custos. Por tais motivos, a neutralização, ou seja, permanecer com a mesma produção, porém combater os respectivos dados caudados, têm sido o caminho mais simples e imediato para que a companhia cumpra com o papel sustentável. Porém, essa prática ainda é bastante inferior à emissão de poluentes. Os números seguem assustadores: no Brasil, o consumo de energia elétrica subiu 5,7% no segmento de comércio e serviços em 2013, de acordo com a Empresa de Pesquisa Energética. O uso da água está na casa de 165 litros por habitante/dia, muito acima da recomendação da ONU, que é de 110 litros por habitante (segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento). Em escala global, a emissão de gás carbônico pulou de 330 para 400 partes por milhão nas últimas três décadas. Seja reduzindo a emissão de poluentes ou compensando-a de fato com ações práticas (como, por exemplo, o plantio de árvores), é passada a hora das corporações tomarem medidas de responsabilidade para com o planeta!

*Cecília Vick é diretora executiva da GreenClick, empresa que contribui com a neutralização da emissão de CO2 no País através do plantio de árvores.

OS LIXÕES SÃO A CARA DOS PREFEITOS DO PAÍS A Lei 12.305, que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos, foi sancionada em 2 de agosto de 2010 com previsão executória final para 4 anos depois, ou seja, na mesma data deste ano da graça de 2014. Prazo findo sábado passado. Como muitas outras leis do ordenamento legal brasileiro, esta, caso os dirigentes da coisa pública não tomem vergonha na cara, será mais uma lei jogada ao vento. Ou seja, letra morta. A incapacidade das prefeituras se adequarem às determinações da referida lei foi quase total em todo o Brasil. Na capital federal, de onde deveria vir o melhor exemplo, é o pior que nos chega. Em Brasília existe o maior lixão do País. Os prefeitos são useiros e vezeiros em gastar milhões de reais com festanças e outras iniciativas que somente contribuem para apequenar o sentido de participação e cidadania. Mas, na hora de agirem para o cumprimento de uma legislação da maior importância, alegam falta de recursos. O que falta, de fato, na maioria das prefeituras do País é vergonha na cara dos dirigentes municipais. Irresponsabilidade O art. 4o da lei em questão assenta que “A Política Nacional de Resíduos Sólidos reúne o conjunto de princípios, objetivos, instrumentos, diretrizes, metas e ações adotados pelo Governo Federal, isoladamente ou em regime de cooperação com Estados, Distrito Federal, Municípios ou particulares, com vistas à gestão integrada e ao gerenciamento ambientalmente adequado dos resíduos sólidos.” Muito bonito para ficar só no papel. E tudo em razão da irresponsabilidade administrativa dos governantes em todas as instâncias de poder. Beleza! No art. 18 da referida lei, está definido que: “A elaboração de plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos, nos termos previstos por esta Lei, é condição para o Distrito Federal e os Municípios terem acesso a recursos da União, ou por ela controlados, destinados a empreendimentos e serviços relacionados à limpeza urbana e ao manejo de resíduos sólidos, ou para serem beneficiados por incentivos ou financiamentos de entidades federais de crédito ou fomento para tal finalidade.” Que beleza! Aliás, esta é uma das leis mais bem elaboradas pelos nossos legisladores. Que pode dar com os burros n’água. Inexequibilidade É muito triste se não fosse trágico ver que nossos governantes, por manifesta incompetência e/ou desídia, afirmam aos quatro ventos a inexequibilidade JORNALISTA E ESCRITOR

desta lei. É pela boca de seu representante que falam: “A maioria dos prefeitos não tem sequer o projeto. Não há condições para cumprir essa determinação. É uma lei inexequível. O custo para os municípios se adequarem à lei é de R$ 70 bilhões, sendo que a arrecadação total não chega a R$ 100 bilhões”, disse Ziulkoski. Papo furado total desse moço. Punição A lei em apreço define uma multa que varia entre 5 mil e 5 milhões de reais para as prefeituras que não cumprirem a determinação legal. E os dirigentes ainda devem responder a processo por crime ambiental, podem o administrador público ser preso. Tudo conversa fiada, porque ninguém cumpriu a legislação exatamente porque sabe que nada vai acontecer em termos de punição. Especialmente em ano eleitoral, qual o rato que vai botar o guiso no gato? Impasse A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, afirma que o prazo para o cumprimento da Lei 12.305 não será alterado e que o governo federal pretende reunir no próximo dia 22 do corrente, autoridades do Ministério Público Federal nos estados para buscar saídas para o impasse que está posto. Com efeito, cerca de 60% dos municípios brasileiros não atenderam à nova legislação e continuam patinando nas mãos de prefeitos incompetentes, desleixados, alguns corruptos.


5

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 5 de agosto de 2014

VERDE

LÂMPADAS

As incandescentes vão desaparecer do mercado

Medida é importante para o consumo consciente da energia no Brasil. Começou com as de 150 e 100 watts agora chegou a vez da mais popular: a de 60 watts POR TARCILIA REGO tarciliarego@oestadoce.com.br

O

s dias da lâmpada incandescente mais tradicional e popular no uso doméstico, estão contados. O Governo determinou é que este tipo de lâmpada, com potência de 60 watts não seja mais fabricado e comercializado como já ocorreu ano passado com as de 150 e 100 watts. A regulamentação consta na Portaria Interministerial n° 1007/2010, do Ministério de Minas e Energia e o desaparecimento do produto do mercado deverá ser gradual. A medida é importante para o consumo consciente da energia no Brasil que estabeleceu índices de eficiência, mas os valores inviabilizam a produção deste tipo específico de lâmpada. Para a obtenção do nível mínimo de eficiência energética de um modelo de lâmpada incandes-

cente, foi considerado o Método de Ensaio adotado pelo Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial - Inmetro, por meio do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE). A fim de manter o compromisso de melhorar a eficiência energética, reduzir as emissões de carbono e proteger o meio ambiente, muitos governos no mundo, gradualmente, proibiram o uso de lâmpadas incandescentes. Banidas na Austrália e na União Europeia, em 2009, e em países como Venezuela, Argentina e Cuba, elas já estão sendo substituídas em cerca de 40 países, segundos dados do Programa Ambiental da ONU. De acordo com o diretor técnico, Isac Roizenblatt, da Associação Brasileira da Indústria de Iluminação (Abilux), a iniciativa de fixar índices mínimos de eficiência energética para lâmpadas incandescentes comuns começou na Europa e foi seguido por

mais de 50 países, muitos deles já concluíram o programa desde 2010. “O programa tem o apoio das Nações Unidas em benefício do aquecimento global e possibilita uma economia de mais de 80% da energia com o mesmo ou maior fluxo luminoso”. A aposentada Silvana Guerra não parece muito preocupada com o aquecimento do planeta. Ela mora em um antigo casarão na Praia de Iracema e afirma que até hoje usa a lâmpada “amarela” [incandescente] e já está preocupada com o “desaparecimento das lâmpadas antigas das mercearias”, confessa. “Na minha casa, tudo é muito antigo, inclusive a instalação elétrica, e também,

as ‘luzes’ de 60 watts são muito mais baratas e como ‘gasto’ pouca energia, continuo com elas”, justificando o uso. De acordo com a Abilux, foram comercializadas 250 milhões de unidades ano passado. O pacote de luz fornecido pelas lâmpadas incandescentes de 60 Watts é o mais usual nas aplicações domésticas no mundo. Atualmente, em tempos de escassez de chuvas, as lâmpadas incandescentes comuns podem ser substituídas pelas fluorescentes compactas com 70/80 % de economia de energia, as lâmpadas LED com 85/90% de economia de energia e as incandescentes halógenas com 20/30% de economia de energia para um mesmo pacote de luz, indica o dirigente da Abilux. “Se todas as casas passassem a usar lâmpadas de LED no lugar da incandescente, por exemplo, a economia de energia seria igual a todo o consumo residencial dos sete estados da região norte do País”, esclarece Roizenblatt. ENERGIA RESPONSABILIDADE SOCIAL A Coelce, através do Projeto Superação nos bairros realizou , no último sábado (2), ação de cunho sócio educativo e levou esclarecimentos às comunidades do entorno do Cuca do Mondubim, sobre o uso eficiente de energia elétrica. O projeto faz parte do Coelce nos Bairros, plataforma de responsabilidade social da companhia de energia com foco em Educação para o Consumo Consciente. O objetivo da iniciativa é conscientizar os moradores sobre a importância do consumo, consciente e eficiente, de energia. Durante a ação, clientes Coelce tiveram a oportunidade de participar de palestras educativas, e foram alertados com relação aos riscos de acidentes com a rede elétrica. As pessoas que levarem a conta de energia paga, puderam trocar lâmpadas incandescentes por fluorescentes.

MAIS • Estima-se que 41 empresas brasileiras estão começando a produzir produtos de iluminação com a tecnologia LED. Estão encapsulando o chip do LED. Estão produzindo luminárias dos mais variados tipos e para diversas aplicações utilizando LED e módulos de LEDs. • O calor produzido pelas lâmpadas incandescentes e a produção de energia por usinas térmicas é muito mais dano-

so ao meio ambiente do que a utilização das lâmpadas fluorescentes compactas. • Para o uso residencial recomenda-se a aplicação de lâmpadas de cor “quente” ou com cerca de 2700 a 3000 Kelvin, chamadas no mercado no caso das fluorescentes compactas de “amarelas”, pois estas tornam o ambiente aconchegante. Fonte: Abilux


6

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 5 de agosto de 2014

VERDE

CONTRASTE

TARCILIA REGO

FOTO: TIAGO STILLE

Duas faces de um mesmo riacho

Na última sexta-feira, a foz do riacho Maceió, na avenida Beira Mar, recebeu um belo Parque. No restante do corpo hídrico, porém, sujeira e desgaste marcam a paisagem POR SHERYDA LOPES oev@oestadoce.com.br

M

esmo riacho, paisagens contrastantes. Enquanto na esquina da Avenida Beira Mar com a Rua Tereza Hinko a foz do Riacho Maceió é emoldurada com o Parque Otacílio Teixeira Lima Neto (POTLN), equipamento urbano fruto de Operação Consorciada entre a Prefeitura de Fortaleza e a Nordeste Participação e Empreendimentos (Norplar), a maior parte do recurso hídrico é repleto de muita sujeira e depredação. O prefeito Roberto Cláudio e os titulares da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente de Fortaleza (Seuma), Águeda Muniz e da Secretaria da Regional II (SER II), Cláudio Nelson Brandão, informaram que o corpo hídrico passa por limpezas regularmente e deve ser contemplado com mais projetos de urbanização até o final

da gestão. As declarações foram dadas durante a inauguração do POTLN, na última sexta-feira, 1o de agosto. De acordo com os gestores, serão mais duas etapas e devem transformar a paisagem do Riacho. A primeira delas, segundo Roberto Cláudio, será realizada com recursos próprios – e já garantidos - da Prefeitura de Fortaleza e vai contemplar o Riacho da Avenida Abolição até a Tavares Coutinho. Já a segunda etapa, que vai urbanizar a área até a lagoa do Papicu, será realizada em parceria com uma empresa privada, cujo nome não foi revelado, e a captação do recurso ainda está em fase de estudo. Embora o secretário Brandão não tenha apresentado prazo para a realização dessas etapas, o Prefeito afirmou que pelo menos a primeira deve começar até o final do ano. MAIS DETALHES Segundo o secretário da SER II, até o

entorno da lagoa do Papicu o Riacho receberá intervenção tanto urbanística quanto paisagística, assim como ocorreu com a região da Avenida Beira Mar. “Além da limpeza, haverá restauração do passeio, já que a área está totalmente deteriorada em função do tempo e da falta de cuidado”, disse. A SER II está estudando a possibilidade de reforçar as paredes do riacho com uma estrutura de pedra armada na parede de todo o corpo hídrico, que segundo o secretário, ajudará a proteger e dará maior vazão. A estrutura é semelhante à do riacho Pajeú, que passa pelo Centro e Aldeota. “PREFEITURA TAMBÉM TEM QUE TRABALHAR” “O Maceió não está sujo, pode observar que não há odor nenhum”, afirmou Águeda Muniz, durante a inauguração do Parque. Disse que “o Riacho passa por limpezas regularmente, mas a população precisa entender que se ela joga um saco

de lixo na rua, ele vai parar no recurso hídrico mais próximo. Se é feita a ligação de esgoto de forma clandestina, então algum rio, lago ou lagoa será poluído. Se o riacho está sujo não é por falta de ação do Poder Público, e sim por falta de parceria da sociedade para com a cidade”. A responsabilidade da população é reconhecida pelos moradores do entorno da esquina da Rua Alísio Mamede com a Canuto de Aguiar, na Varjota, área visitada pela reportagem do Caderno O Estado Verde. No local, a margem do Riacho Maceió está repleta de sacos de lixo, entre outros resíduos. Os moradores reclamam da quantidade de mosquitos à noite, que também incomodam os clientes de uma academia e de um restaurante, este último instalado na margem. A área livre e arborizada que existe no local não oferece estrutura para a prática de caminhada ou passeio. Ao invés disso, é utilizada como estacionamento.


7

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 5 de agosto de 2014

VERDE

Águeda Muniz, titular da Seuma

praticar esportes”, comenta o estudante de economia Lucas Lopes, 23, que também se queixa da pouca iluminação à noite. Para ele, a urbanização que ocorreu na foz do Maceió ficou muito boa, e o ideal é que toda a extensão do curso d’água receba o mesmo tratamento. O morador sonha com a volta dos bons tempos do Riacho, que conhece pelas histórias que a avó conta. “Ela mora no bairro há muitos anos e sempre me diz que antigamente as pessoas banhavam-se nesse rio. Hoje em dia não tem mais nem condições de fazer isso”, lamenta. Para ele, o contraste entre o local e o Parque do Riacho Maceió deve-se a uma questão de localização, já que a área recém-inaugurada está localizada em um ponto turístico. Segundo Águeda, as ações de educação ambiental da Prefeitura ocorrem diariamente por meio dos agentes de saúde, que estão capacitados para orientar cidadãos sobre a forma correta de descarte de resíduos e a convivência harmoniosa da sociedade com o recurso natural.

“As pessoas não ajudam. Tá vendo que não pode jogar lixo num lugar como esse? Mas a Prefeitura também tem que trabalhar. Aqui, por exemplo, bem que poderia ter uma praça para fazer caminhada, trazer crianças para brincar e

POLÍTICA AMBIENTAL O Parque do Riacho Maceió foi regulamentado no dia 10 de janeiro através da Política Ambiental de Fortaleza que está em curso. Ele foi contemplado no componente da Política , Águas da Cidade, que visa à despoluição de todos

Se o riacho está sujo não é por falta de ação do Poder Público, e sim por falta de parceria da sociedade com a cidade

os recursos hídricos da Capital, inclusive a orla, por meio de diagnósticos, identificação e tamponamento de ligações clandestinas de esgoto, ações de educação ambiental, entre outras. “O primeiro contato do Riacho com a Política Ambiental da Cidade foi por meio da regulamentação do Parque e ele representa a essência dessa Política, que é a integração entre o meio ambiente natural e o meio ambiente construído”, explicou Águeda, reforçando que os esforços da Prefeitura visam à completa despoluição do corpo hídrico. FIM DA CELEUMA Em janeiro do ano passado, o jornal O Estado noticiou o início das obras do Parque Otacílio Teixeira Lima Neto, cujo terreno é razão de polêmicas desde a gestão Juraci Magalhães. Para o diretor da Terra Brasilis, Eduardo Ponte, empresa subsidiária da Norplar, a inauguração representa a “realização de um antigo sonho que há 17 anos perseguíamos que era fazer essa Operação Urbana Consorciada. O que significa, urbanizar esta área e obter o direito de construir na parte alta do terreno”. O local é considerado Área de Preservação e por isso não poderia receber empreendimentos. A Operação Consorciada dá à empresa o direito de utilizar a área citada, onde,

segundo Ponte, serão construídas quatro torres, totalizando 88 unidades. Em troca, a empresa teria que construir o Parque e disponibilizá-lo para a população, além de promover melhorias na foz do Riacho e se responsabilizar pela manutenção do espaço por 10 anos. Os investimentos no projeto foram mais de R$ 7 milhões, segundo a empresa e a Prefeitura. Na inauguração, Ponte declarou que não houve ações de desapropriação do terreno para a realização do Projeto, mas segundo as declarações da então consultora jurídica da empresa, Rachel Melo, dadas ao O Estado em 2013, pelo menos 70 negociações nesse sentido foram feitas. Para a Prefeitura, as Operações Consorciadas são um bom negócio, pois promovem melhorias para a população sem onerar os cofres públicos. “Esse tipo de negociação deve ser aprofundada, e inclusive no dia 14 vamos realizar um seminário com um banco de investidores e consultores de outros estados para falar de áreas da Cidade onde temos grande interesse em realizar operações como esta”, declarou Roberto Cláudio. Atualmente, outras parcerias entre o Poder Público e empresas privadas semelhantes à do Parque estão acontecendo em Fortaleza, como a construção do Shopping Rio Mar, cuja contrapartida do investidor é a manutenção da Lagoa do Papicu.


8

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 5 de agosto de 2014

VERDE

VOLUNTÁRIOS

Uma família

louca

FOTOS: BETH DREHER

pelo verde

Ela troca mudas de plantas por resíduos eletrônicos em praça de Fortaleza. Peças arrecadadas são consertadas e vendidas, ou ainda, doadas POR: SHERYDA LOPES oev@oestadoce.com.br

C

ontribuir para melhorar o meio ambiente e a educação é dever de todos, e cada um pode fazer a sua parte. É nisso que acredita o funcionário público Denis Furtado, 50. Ele fala com orgulho da iniciativa que leva a família e amigos a recolher resíduos eletrônicos, como computadores quebrados e outros itens, na Praça da Igreja de Fátima, localizada na Avenida 13 de Maio. Quem entrega peças, recebe em troca uma muda de planta. Apesar de a ideia ter partido do filho de mesmo nome, é o pai quem toma a frente para falar do projeto que inclui ainda uma biblioteca gratuita em pleno espaço público. “Muita gente diz que eu sou

doido. Pode até ser... E daí?”, desafia o funcionário público. Há um ano e meio um representante da família, geralmente, o filho Kelvin Furtado, 15, guarda a estrutura improvisada repleta de livros e revistas doadas pela própria comunidade, além das mudas e dos resíduos arrecadados. O jovem assegura que a atividade voluntária não atrapalha os estudos, mesmo quando fica no local o dia inteiro. “Vou à aula à noite e tenho muito prazer em vir pra cá”, explica. As peças arrecadadas são consertadas e vendidas, ou ainda, utilizadas para ações em comunidades carentes do Jangurussu, onde mora Dênis, o pai. “Já realizamos cursos de informática com um computador que consertamos e em seguida, doamos o equipamento”, conta.

A intenção do grupo é ampliar a iniciativa para outras praças da Cidade

Não há como obter lucro com o projeto, o objetivo é conscientizar a população sobre a destinação correta dos resíduos eletrônicos e evitar o descarte, no lixo comum além de também, estimular a leitura. Segundo o idealizador da ação, Dênis Furtado, 22, a família compra as mudas. Os livros e revistas, à mostra são doados sem qualquer burocracia e sem pedir nada em troca, é só chegar e levar. “Algumas pessoas reclamam quando veem uma revista muito antiga, mas aqui é assim: você lê o que doa”, diz o jovem. TRABALHADORES NA PRAÇA CONTRIBUEM A comunidade no entorno já dedica simpatia à iniciativa da família, principalmente os mototaxistas, que têm um ponto praticamente ao lado. Um deles é Samuel Rodrigues, 37, que já levou resíduos eletrônicos e em troca, recebeu um celular quebrado, que foi consertado por ele, depois. “Esse projeto ajuda até a gente conseguir corrida, às vezes, a pessoa pára com a intenção de conhecer ou contribuir com a ação e aí, a gente chega junto oferecendo o serviço”, narra. Segundo Kelvin, os profissionais cuidam da estrutura quando alguém precisa sair para se alimentar e resolver algo, além de usufruir da leitura nos momentos de folga, o que acaba contribuindo para o bom convívio na Praça. FAMÍLIA PLANEJA ESTRUTURAÇÃO DO PROJETO O projeto da família Furtado que mobiliza pelo menos 15 pessoas entre amigos e familiares dos Dênis pode ga-

nhar força. Segundo ele, a intenção é registrar a iniciativa e criar uma ONG – Organização Não Governamental, obter um CNPJ, para que seja possível captar recursos. Assim, outras praças poderiam ser contempladas com a iniciativa, que também poderia ter a ajuda de agrônomos para orientar quanto à forma correta de escolher e cultivar as mudas. “O maior desafio é a burocracia”, reclama. A aposentada Margarida Furtado, 74, avó de Denis, o filho estimula a iniciativa. Para ela, além da satisfação, a contribuição com a comunidade é o mais importante. “Eu acho muito legal, porque sei o quanto ficam felizes, eles sempre gostaram de plantas e de leitura, então, eu acho que precisam continuar”, declara a senhora que , não se mostra nem um pouco interessada em conter a tal “loucura” dessa família.


9

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 5 de agosto de 2014

VERDE

CONSERVAÇÃO DA NATUREZA

Mais de R$ 700 mil de investimentos em pesquisas para o Nordeste

F

oi divulgada a lista das novas iniciativas de conservação da natureza que serão apoiadas pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza a partir do segundo semestre de 2014. No total, serão doados R$ 2,1 milhões para 20 novas iniciativas, nos seis biomas brasileiros, além do ecossistema marinho. A lista pode ser visto no site www.fudacaogrupoboticário.org.br. Apenas no Nordeste sete novos projetos serão financiados, com um total de quase R$767 mil investidos na região, nos biomas Mata Atlântica e Caatinga. As iniciativas foram selecionadas por meio de editais públicos da Fundação Grupo Boticário, instituição que realiza chamadas semestrais desde 1990 e que já apoiou 1.397 pesquisas em todo o país, sendo 225 delas no Nordeste. A maior

parte dos projetos selecionados tem duração de até dois anos, sendo que alguns se estendem por três ou quatros anos. Entre as pesquisas que receberão apoio no Nordeste destaca-se o estudo que acontece na Estação Biológica de Canudos (BA), abrigo da arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari), espécie que desde 2012 é considerada como ’ameaçada’ pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN). O projeto tem como objetivo o fortalecimento e o reconhecimento efetivo dessa área como Unidade de Conservação (UC), na categoria de Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN). O reconhecimento visa a contribuir com a conservação do Bioma Caatinga, especialmente importante para a preservação da arara-azul-de-lear.

DIVULGAÇÃO

Os recursos vão contribuir com a conservação do Bioma Caatinga

LEILÕES DE ENERGIA

Projetos eólicos voltaram a predominar no cadastro para participação 1.034 empreendimentos estão inscritos para o Leilão A-5/2014. Marcado para o dia 31 de outubro de 2014, o Leilão de Energia de Reserva 2014, marcado para o dia 31 de outubro de 2014,recebeu inscrições que representam oferta potencial de 26.297 megawatts (MW) de capacidade instalada. O destaque é que os projetos eólicos voltaram a predominar no cadastro para participação nos leilões. Segundo dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o Leilão de Energia de Reserva 2014 recebeu cadastro de 626 projetos de energia eólica. O número de inscrições de empreendimentos a energia solar fotovoltaica é significativo, com 400 projetos cadastrados, totalizando 10.790 megawatts (MW) de capacidade instalada. Também foram registradas inscrições de oito termelétricas a biogás e a resíduos sólidos urbanos (RSU). A energia proveniente dos empreendimentos vencedores no leilão será contratada como energia de reserva para atender toda a carga do Sistema Interligado Nacional (SIN), com início de suprimento previsto para 1º de outubro de 2017. Fonte: Ministério de Minas e Energia


10

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 5 de agosto de 2014

VERDE

ISOLADOS

Índios matém primeiro contato com Funai, no Acre

P

ovo indígena isolado estabelece primeiro contato. O grupo de índios fez contato com servidores da Fundação Nacional do Índio (Funai) e indígenas da etnia ashaninka, pela primeira vez, dia 29 de junho, no Acre. Um dos servidores da fundação filmou o encontro. Os grupos de índios isolados na região de fronteira acreana do Brasil com o Peru, estão envolvidos em conflitos armados entre si, buscam proteção no lado brasileiro. O primeiro contato com os índios isolados foi estabelecido, de forma pacífica, pelo índio Fernando Kampa. Os ashaninka da Aldeia Simpatia se aproximaram e os isolados gesticulavam

pedindo a calça de servidor da Funai, que estava com os ashaninka e que por isso aparece de cueca no vídeo que pode ser visto no Blog da Amazônia (http://terramagazine.terra.com.br/ blogdaamazonia/blog). O blog obteve com exclusividade o vídeo inédito do primeiro contato. Os índios isolados preferiram não se identificar , temem serem alvos de matança organizada de índios, por parte de outros grupos indígenas. No entanto, a situação mais grave envolve os narcotraficantes e madeireiros peruanos. A maioria desse grupo contatado é de jovens e eles tomaram a iniciativa de estabelecer os primeiros contatos.

Segundo publicado no Blog da Amazônia, além dos massacres perpetrados há anos por madeireiros e narcotraficantes do lado peruano, os povos indígenas isolados habitam fronteira do Acre com o Peru e também, correm risco de extermínio, por causa do despreparo e da falta de estrutura da Funai do lado brasileiro. Há mais de dois anos, à Frente de Proteção Etnoambiental (FPE) da Funai, foi invadida por peruanos, os servidores da Funai bateram em retirada e desde então, foi abandonada pelo governo brasileiro. O pessoal da FPE acompanhava a aproximação dos índios isolados desde o dia 13 de junho.

Há 10 anos cuidando da energia que move a sua vida .

Matriz: R. Cariré 64, Farias Brito – Fortaleza/CE – CEP: 60010-730 - Tel:(85)3392.6950 Natal/RN: R. Vivaldo Pereira de Araújo 409, Igapó – Natal/RN – CEP: 59106-130 – Tel: (84)3214.4410 Caruaru/PE: Av. José Rodrigues de Jesus, 530, Indianópolis – Caruaru/PE – CEP: 55026-000


11

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 5 de agosto de 2014

VERDE

“Pare de lavar seu jeans” Segundo o representante de uma das maiores marcas de roupas do mundo, somente um pano úmido é suficiente para a limpeza da peça. Ele está há um ano sem lavar a calça DIVULGAÇÃO

Chip Bergh considera que a lavagem é desperdício de água

A

economia de água é importante pois o precioso líquido, que está cada vez mais escasso em várias partes do mundo. Com isso, precisamos adotar hábitos que promovam a economia, como escovar os dentes com a torneira fechada, usar baldes ou regadores para molhar as plantas, parar de lavar os jeans... Não acredita? Pois Chip Bergh, diretor executivo (CEO) e presidente de uma das marcas mais famosas de jeans, a Levi Strauss & Co, recomendou que os consumidores parassem de lavar suas calças jeans. Segundo ele, a lavagem desgasta a peça e desperdiça água. A sugestão foi recebida com espanto pelos que participavam da discussão na conferência “Brainstorm Green”, da revista Fortune, realizada em maio na Califórnia, Estados Unidos. Na ocasião, Bergh ainda afirmou que sua calça, que já usa há mais de um ano, nunca foi lava-

da. “Sei que isso soa nojento, mas acredite, é possível. Você pode passar um pano úmido e colocar pra secar, e funciona. Nunca tive problema de pele, nem nada parecido”, afirmou. Então, quem topa fazer essa experiência? PESQUISA Bergh ressaltou que, segundo uma pesquisa da marca, metade do consumo de água é desperdiçada na produção e a outra metade na lavagem em casa, em seguida, sugeriu que os consumidores reduzissem esse gasto doméstico, mantendo o vestuário longe da máquina de lavar. Nos últimos anos, a marca tem buscado ser mais sustentável por meio de mudanças na produção das peças, como é o caso da linha “Water Less”, que é fabricada com redução de 96% de água. Fonte: CicloVivo.

VIVIAN REIS

ÁGUA

INDICAÇÃO DE LEITURA De Júlio Emílio Braz, a obra conta lendas indígenas Com histórias sobre o surgimento do açaí ou a explicação de como as estrelas apareceram no céu, Kuery traz ao leitor um pouco da cultura indígena por meio de suas lendas e mitos. Ilustrado por Weberson Santiago, o livro é dividido em cinco histórias, que abordam o cotidiano nas aldeias, onde os personagens são os pajés, caciques e os caçadores, responsáveis pelo sustento da tribo. Entre os mbiyá a palavra Kuery significa “plural” e o autor escolheu essa palavra como título do livro pensando nos múltiplos aspectos do ser humano, índio ou não, prendendo-se destacadamente em um deles: o amor. Não para apresentá-lo como diferente, mas, antes, para deixar claro como é igual e ao mesmo tempo tão singelo entre os vários grupos tribais do imenso e diverso Brasil. Para Júlio Emílio Braz o amor é o tema central da obra e é esse sentimento tão grande e intenso que é capaz de aproximar a realidade de outra cultura a nossa. Voltado para leitores mais fluentes, a obra é um mergulho na cultura indígena e uma oportunidade para que as crianças entrem em contato com as tradições de nossos índios. Sobre o autor Júlio Emílio Braz nasceu em abril de 1959. É mineiro de Manhumirim, mas aos cinco anos foi morar no Rio de Janeiro, cidade que adotou como lar. É autodidata. Lê desde os seis anos e aprendeu a ler sozinho, em revistas de terror da Editora Vecchi, do Rio de Janeiro. Começou sua carreira escrevendo histórias em quadrinhos e, mais tarde, começou a escrever livros de bolso de bangue-bangue sob 39 pseudônimos diferentes. Em 1986, ganhou o Prêmio Angelo Agostini de Melhor Roteirista de Quadrinhos e, em 1988, publicou seu primeiro livro infanto-juvenil, Saguairu, pela Atual Editora, que lhe rendeu o Prêmio Jabuti de Autor Revelação no ano seguinte. Hoje tem textos publicados em várias editoras do Brasil e de outros países. Na Áustria, ganhou o Austrian Children Book Award, pela versão alemã do seu livro Crianças na escuridão (Kinder im Dunkeln), e pelo mesmo livro também faturou o Blue Cobra Award, do Swiss Institute for Children’s Book. • Com informações da Editora Moderna. Título: Kuery Autor: Júlio Emílio Braz Editora: Moderna Ano: 2014


12

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 5 de agosto de 2014

VERDE

Filigranas de verde redundante

POR JÚLIA MANTA* “Choveu tanto que há ruas de água. Sem placas sem nomes sem esquinas.” Manoel de Barros

V

isitamos o arquipélago fluvial de Anavilhanas, no rio Negro, Amazonas. Visto de cima, da dimensão do espaço, é como se um tapete escuro se vestisse com um rendado labiríntico verdejante. Visto de baixo de uma pequena embarcação que ora desliza por um espelho negro, ora salta aos solavancos nas barés do rio, a dimensão do tempo estende-se quase ao infinito. É como um oceano, imensidão de água negra. São cerca de 400 ilhas, centenas de lagos, rios, paranás, furos e igarapés que compõem o Parque Nacional de Anavilhanas, mas na época em que fomos, quando a floresta encontra-se inundada por causa das chuvas, não pudemos apreciar suas praias de areias brancas. Fomos guiados rio a dentro por entre as ilhas, conduzidos pelo barqueiro seu Acrísio, mais conhecido

como Ceará, que há 30 anos trocou o sertão pela vida no Amazonas. Como num poema de Manoel de Barros, quando “é preciso transver o mundo”, incorporamos a paisagem dentro de nós e calamos a voz. O zumbido contínuo do motor e o balanço do barco, somado à ventania ribeirinha, nos conduziu ao que os yogues chamam de pratyahara, o recolhimento dos sentidos, onde alternávamos entre o estado de sonolência e o mergulho interior, cuja contemplação era a própria imagem de deus: a floresta. Por volta das três horas da tarde, aportamos na margem do rio. Mordidos pelo “idioleto manoelês”, começamos a “entrar em estado de árvore”, e a sofrer de “alguma decomposição lírica”, prevendo o encontro que viria. Após alguma caminhada, lá estava ela, soberana naquele trecho da floresta, uma Sumaúma (Ceiba pentandra) de aproximadamente 600 anos. Sumaúmas são as magnânimas catedrais da floresta amazônica, templos legítimos ligando a terra ao céu. Árvore de porte gigantesco, suas raízes tabulares conhecidas como sapopemas se estendem num raio de longa distância de seu tronco. Há quem as chame de “telefones da floresta”, pois ao bater em suas sapopemas produzem um som grandioso, parecendo uma explosão e possibilitando, outrora, a comunicação entre os povos da floresta. As Sumaúmas são mais frequentes nas várzeas e em solo argiloso e fértil. Kapok, a paina que envolve suas sementes, é utilizada para fazer colchões e travesseiros. Seu espírito é invocado pelos pajés, em rituais de cura. Um de nós muito bem disse estar diante do maior ser vivo já visto por ele em sua vida. Ali, entre suas

raízes, nos ajuntamos e entramos em contato com a ancestralidade desse ser. Novamente nos calamos. Nos despedimos e retornamos para o barco, seguindo de volta para Novo Airão. E os primeiros pingos começaram a cair, era a hora da chuva. Bonito ver a chuva caindo no rio Negro. A proa passando por cima da copa das árvores submersas, podíamos pegar nelas. Ainda incorporando Manoel de Barros, para alargar a percepção: “Uma chuva é íntima/Se as cigarras se perdem de amor pelas árvores/E o escuro se umedeça em nosso corpo”. E cada um se umedeceu de um jeito diferente, uns recebendo os pingos grossos nos rostos e rindo dos açoites de água, outros contemplativos, admirando as andirobas, as seringueiras, os buritis, na paisagem acinzentada, outros ainda sonolentos e imersos em sonhos. Enfim, já noite, chegamos, abismados de tanto verde e tanta água, extasiados de tanta beleza. *INTEGRANTE DO MOVIMENTO PRÓ-ÁRVORE


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.