CIRO ALBANO/NE BRASIL BIRDING
ANO VI - EDIÇÃO No 357 FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 30 de setembro de 2014
ELEIÇÕES
Entrevista com Camilo Santana
FOTO: BETH DREHER
Faltando cinco dias para o primeiro turno do pleito eleitoral, o candidato do PT afirma que é muito importante investir em produção de conhecimento científico e Págs. 6 e 7 em inovação tecnológica para nos adaptarmos às mudanças climáticas.
BIODIVERSIDADE
Descoberta nova espécie
de ave no Brasil
Enquanto milhões de animais estão sendo extintos, a descoberta do Macuquinhopreto-baiano é uma boa notícia. Porém, o pequeno passarinho já corre o risco de desaparecer. Pág. 5
TECNOLOGIA
Primeiro Bio – Manguinhos fora do Rio, será no Ceará
Unidade Fiocruz, dedicada ao desenvolvimento e produção de vacinas e biofármacos, está em vias de ser implantado juntamente com o Polo Tecnológico e Industrial da Saúde, no município de Eusébio. Págs. 9 e 10
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VERDE
Coluna Verde TARCILIA REGO
tarcilia_rego@terra.com.br
A FONTE SECOU
Semana passada, muitos brasileiros foram surpreendidos com a notícia de que uma das nascentes do São Francisco, na Serra da Canastra, secou. Eu não me surpreendi. Outras fontes secarão se continuarmos com a ilusão da abundância de água. É preciso discutir, debater, incessantemente, a relação da sociedade com a água, principalmente a falta dela. Este é um dos desafios da sustentabilidade planetária. Hoje, 2,8 bilhões dentre os mais de sete bilhões de pessoas em todo o mundo vivem em áreas onde a oferta de água é reduzida, segundo o Programa Mundial de Avaliação dos Recursos Hídricos (WWAP). Para completar, de acordo com a Associação Internacional de Energia (IEA), o fornecimento de água e a geração de energia estão intimamente ligados, e o crescimento da população global, nas próximas décadas, aumentará a demanda por esses recursos cada vez mais limitados. Atualmente, segundo o IEA, 2,5 bilhões têm pouco ou nenhum acesso à eletricidade. Até 2035, o consumo mundial de energia crescerá 35%, enquanto o consumo de água pelo setor energético aumentará em 85%. LIXO Modelo carioca será adotado em São Paulo. A gestão Fernando Haddad (PT) quer multar os cidadãos que jogam lixo nas ruas da capital paulista. Para isso, usará leis já existentes e definirá a fiscalização por meio de decreto. A GUERRA É NO BRASIL “Não podemos aceitar que essas manifestações de barbárie recrudesçam, ferindo nossos valores éticos, morais e civilizatórios.” Assim falou Dilma Rousseff durante seu discurso na abertura da 69ª Assembleia Geral da ONU. Se ela considera barbárie o que acontece no Oriente Médio, como a presidente considera a violência que assola o Brasil? Segundo o Mapa da Violêncian2014 (http://www.mapadaviolencia.org.br), entre os anos 1980 e 2012, morreram no País: 1.202.245 pessoas vítimas de homicídio; 1.041.335 vítimas de acidentes de transporte; 216.211 suicidaram. As três causas somadas totalizam 2.459.791 vítimas. Que guerra e ou conflito mata tanto, atualmente? Não há tempo a perder com críticas a Obama, o tempo é de resolver a violência que assola o Brasil. SEMANA DA FAUNA De 04 a 10 de outubro nossa atenção deve estar voltada para a fauna. De acordo com o Ibama, “apesar de
Verde
proibido pela Lei 5.197/67, existe um crescente comércio da fauna silvestre brasileira, transformando-se, inclusive, numa atividade ilícita muito lucrativa. E por isso, milhões de animais silvestres são mortos. Dos animais silvestres comercializados por Brasil, estima-se que 30% sejam exportados. O principal fluxo de comércio ilegal nacional dirige-se da região Nordeste para a região Sudeste, principalmente o eixo Rio-São Paulo. Dados do MMA calcula que o tráfico de animais silvestres retire, anualmente, cerca de 12 milhões de espécies de nossas matas; outras estatísticas, no entanto, estimam que o número real esteja em torno de 38 milhões. 1O. DE OUTUBRO Dia Internacional e Nacional dos idosos. A comunidade local e global, amanhã (1o/10), deve prestar mais atenção, ainda, aos direitos dos idosos e mais do que nunca, envidar esforços para a construção de uma “sociedade para todas as idades”. Reflexão: “Há muitas razões para estarmos preocupados com a atual situação do mundo. Mas também há muitas razões para termos esperança.” Ban Ki-moon, secretário geral da ONU, durante o primeiro debate da 69 a Assembleia Geral da ONU, dia 16 em Nova York.
AGENDA VERDE 1O DE OUTUBRO DIA INTERNACIONAL DAS PESSOAS IDOSAS
• Nas últimas três décadas, o número de idosos dobrou. A população no mundo está ficando cada vez mais velha e, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), por volta de 2025, pela primeira vez na história, haverá mais idosos do que crianças no planeta. As Nações Unidas vem lutando pelos direitos e bem-estar dessas pessoas com um Plano de Ação sobre o Envelhecimento. É importante ressaltar que o idoso tem um papel importante em todas as sociedades: são líderes, trabalhadores, aposentados, detentores de sabedoria, avós, cuidadores e voluntários.
02 DE OUTUBRO DIA MUNDIAL DO HABITAT
• Celebrado na primeira segunda-feira de outubro desde 1985 pela Organização das Nações Unidas (ONU), tem como objetivo permitir a reflexão sobre o estado das cidades e do direito humano à moradia adequada, assim como, lembrar ao mundo da responsabilidade coletiva sobre o habitat das gerações futuras.
DE 04 A 10 SEMANA DE PROTEÇÃO À FAUNA
• De acordo com o Ibama, “apesar de proibido pela Lei 5.197/67, existe um crescente comércio da fauna silvestre brasileira, transformando-se, inclusive, numa atividade ilícita muito lucrativa. E por isso, milhões de animais silvestres são mortos pela ganância humana e, em alguns casos, pela desinformação de algumas pessoas que criam bichos selvagens como se fossem animais domésticos”.
04 DE OUTUBRO DIA DA NATUREZA
• A data é de pouca comemoração e muita reflexão. Desmatamentos, queimadas, destruição da camada de ozônio, efeito estufa e poluição dos recursos hídricos são algumas das causas, dentre tantas outras, que estão impactando o meio ambiente destruindo a natureza. Consequentemente, causando o desparecimento de espécies vegetais e animais. O que fazer para evitar a destruição da base ecológica do planeta? Pense sobre...
04 DE OUTUBRO DIA MUNDIAL DOS ANIMAIS E DO PATRONO DA ECOLOGIA
• Este dia foi escolhido por coincidir com a data em que se assinala a morte, em 1226, de São Francisco de Assis, padroeiro dos animais. Um dos santos mais populares, ele é reconhecido, também, por seu apreço à natureza e aos animais, o que o fez conhecido, mundialmente, como o patrono da Ecologia.
O “Verde” é uma iniciativa para fomentar o desenvolvimento sustentável do Instituto Venelouis Xavier Pereira com o apoio do jornal O Estado. EDITORA: Tarcília Rego. CONTEÚDO: Equipe “Verde”. DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Wevertghom B. Bastos. MARKETING: Pedro Paulo Rego. JORNALISTA: Jessica Fortes. TELEFONE: 3033.7500 / 8844.6873
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VERDE
VISÃO GLOBAL
Discurso da Presidente Dilma na abertura da 69ª sessão da AG da ONU POR TARCILIA REGO tarciliarego@oestadoce.com.br
H
oje, apresento o discurso da presidente Dilma Rousseff na abertura da 69a sessão da Assembleia Geral da ONU. Destaco a parte – pequena – dedicada às Mudanças Climáticas. De um total de 2.523 palavras apenas 167 focaram na temática. O leitor poderá ler o discurso em sua totalidade no site do O Estado. Para alguns especialistas da área econômica, ambiental e de sustentabilidade, assim como para alguns jornalistas, a fala da nossa presidente revelou uma Chefe de Estado que não conseguiu desvincular-se da imagem de candidata. Mais parecendo discurso de campanha eleitoral, as palavras Rousseff deixaram de expressar às nações do mundo, uma mensagem que realmente representasse o povo brasileiro. O colunista do Estadão e colaborador do Bloomberg View, Mac Margolis, escreveu em http://internacional.estadao.com.br/noticias/geral,o-mundo-e-um-palanque-imp , que com o segundo mandato em jogo, Dilma tem outro público a convencer. “Por isso enxergou no colegiado das nações um estúdio itinerante de propaganda eleitoral e seu discurso, um ‘Café com a Presidenta’ pelo teleprompter alheio.” O tom de Dilma repercutiu tanto que no dia seguinte (25), em Nova York, o
ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, tratou logo de defender o discurso da presidente como o de estadista e não como de política. Na primeira parte do discurso e num tom político, Rousseff falou de democracia, melhorias sociais, o Plano Brasil sem Miséria e em seguida pulou para o incremento da educação no País a partir da exploração do petróleo do Pré-Sal. Na segunda etapa continuou discursando de forma similar ao falar da economia e da crise financeira de 2008. Em seguida Dilma comentou efeitos da crise econômica no Brasil. Fez questão de citar a VI Cúpula dos países Brics que aconteceu em julho deste ano, em ForDIVULGAÇÃO
taleza, de ameaças à paz e à estabilidade mundial e finalmente sobre a reforma do Conselho de Segurança da ONU. Na penúltima parte do discurso “entrou no clima”. Foram 167 palavras para afirmar que a Cúpula do Clima fortalece as negociações no âmbito da Convenção-Quadro para um “novo acordo equilibrado, justo e eficaz”. Colocou o Brasil como cumpridor das metas acordadas em Copenhague, 2009. Na última parte, ela abordou o combate à discriminação, ao racismo, à corrupção e à defesa dos direitos humanos e da privacidade na internet. Mencionou avanços brasileiros como o reconhecimento, pelo Supremo Tribunal Federal
(STF), da união estável entre pessoas do mesmo sexo e o fortalecimento da transparência governamental. Por fim, mencionou o Marco Civil da Internet. CÚPULA DO CLIMA Na véspera da abertura da Assembleia Geral, aconteceu a Cúpula do Clima, convocada pelo Secretário-geral da ONU. Embora a Cúpula não tivesse o objetivo de anunciar acordos, a intenção era dar visibilidade ao tema, que terá um momento decisivo na 21a. Conferência das Partes, em dezembro de 2015, quando é esperado um acordo com novas medidas, posteriores ao Protocolo de Quioto.
CLIMA:167 PALAVRAS “A mudança do clima é um dos grandes desafios da atualidade. Necessitamos, para vencê-la, sentido de urgência, coragem política e o entendimento de que cada um deverá contribuir segundo os princípios da equidade e das responsabilidades comuns, porém diferenciadas. A Cúpula do Clima, convocada em boa hora pelo secretário-geral, fortalece as negociações no âmbito da Convenção-Quadro. O Governo brasileiro se empenhará para que o resultado das negociações leve a um novo acordo equilibrado, justo e eficaz. O Brasil tem feito a sua parte para enfrentar a mudança do clima. Comprometemo-nos, na Conferência de Copenhague, em 2009, com uma redução voluntária das nossas emissões em 36% a 39%, na projeção até 2020. Entre 2010 e 2013, deixamos de lançar na atmosfera, a cada ano, em média, 650 milhões de toneladas de dióxido de carbono por ano. Alcançamos em todos esses anos as quatro menores taxas de desmatamento da nossa história. Nos últimos 10 anos, reduzimos o desmatamento em 79%, sem renunciar ao desenvolvimento econômico, nem à inclusão social.”
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VERDE
CONSUMO E SUSTENTABILIDADE
Lançado um desodorante aerossol com tecnologia inovadora e sustentável
O
consumidor final está cada dia mais consciente e exigente com relação aos padrões de consumo e às questões ambientes. E cada vez mais no mundo, empresas buscam estratégias que possibilitem mudanças nos padrões insustentáveis de consumo a fim de preservar o meio ambiente e incentivar a utilização de produtos considerados sustentáveis. Pensando nesse cenário e entendo que as escolhas cotidianas de cada um podem melhorar a vida de todos e do planeta a Natura desenvolveu a tecnologia Ecocompacto: uma solução que alia menor impacto no meio ambiente à proteção e performance esperadas de um desodorante aerossol. O produto marca a entrada definitiva da Natura no segmento de desodorantes aerossóis com uma proposta que traz 48% menos impacto ambiental com mesmo rendimento e 24h de proteção antitranspirante e desodorante. Uma boa notícia para o Brasil que é o maior
mercado mundial de desodorantes (USD4, 8 bi), sendo que 50% dele é concentrado em aerossol. EMBALAGEM Uma das inovações do Ecocompacto está na embalagem. Com metade da volumetria de um aerossol comum, 75 ml x 150 ml, o desodorante oferece o mesmo rendimento, graças à tecnologia de sua válvula e a sua fórmula concentrada. “É muito mais eficiente e reduz significativamente o impacto no meio ambiente. Isso porque conseguimos concentrar a fórmula e aliá-la a uma válvula que exige menos gás propelente para o funcionamento do conjunto. Como resultado, reduzimos o tamanho da embalagem e consequentemente da quantidade de material utilizado”, explica Alessandro Mendes, diretor de formulação e embalagem da Natura. A embalagem tem, em média, 15% menos de alumínio quando comparado aos aerossóis do mercado.
ATÉ 10 DE OUTUBRO
Prêmio Impacto/Fiec de Inovação Aberta recebe inscrições A empresa Impacto Protensão e a Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec) recebem, até 10 de outubro, as inscrições e os projetos com ideias para o Prêmio Impacto Protensão /Fiec de Inovação Aberta. A inscrição on-line pode ser feita por meio do endereço eletrônico www.impactoprotensão.com.br. Nesse ambiente virtual, também é possível baixar o edital. A Impacto Protensão é a terceira empresa a aderir ao Projeto Inovação Aberta. O concurso de ideias é gratuito e o prêmio será concedido às três melhores ideias que propuserem inovações para melhorar a qualidade dos produtos. Cada inscrito poderá participar com um ou mais projetos, individual-
mente ou em equipe, devendo efetuar a inscrição preenchendo um formulário de apresentação de cada ideia. O formulário estará disponível para download e pode ser encaminhado na página do prêmio, que fornecerá um código confirmando a inscrição. As premiações dos melhores projetos variam de R$ 3 mil a R$ 10 mil. PROJETO INOVAÇÃO ABERTA O Inovação Aberta, do Programa Uniempre, lança chamadas para apresentação de ideias de inovação por parte de um público externo às empresas. Mais informações sobre o que é Inovação Aberta: http://www.uniempre. org.br/o-uniempre/inovacao-aberta.
ANTES QUE AS ABELHAS SEJAM EXTINTAS Peço vênia ao leitor para tratar de assunto não exatamente jurídico-legal na coluna de hoje, mas sem descuidar da questão ambiental. Com o título que epigrafa estes tópicos recebi um e-mail da Avaaz, desimportante à primeira vista. Todavia, ao lê-lo considerei de suma importância colocá-lo à vista de todos. Eu que sou um curioso das abelhas e consumidor do mel que produzem, não poderia deixar de fazê-lo. Cumpre informar que a Avaaz é uma rede de campanhas globais de 38 milhões de pessoas que se mobiliza para garantir que os valores e visões da sociedade civil global influenciem as questões políticas internacionais. (“Avaaz” significa “voz” e “canção” em várias línguas). Membros da Avaaz vivem em todos os países do planeta e estão espalhados em 18 países de 6 continentes, operando em 17 línguas. Saiba mais sobre as campanhas no site http://www.avaaz.org/ po/highlights.php ou seguindo o movimento no Facebook ou Twitter. Abelhas dizimadas Transcrevo a referida mensagem: “Silenciosamente, bilhões de abelhas estão sendo dizimadas, pondo em risco nossa produção de alimentos. Abelhas não apenas fazem mel – elas são uma força de trabalho imensa, polinizando 75% das plantas que cultivamos. Mas em dois dias os EUA podem dar um passo em direção à proibição dos pesticidas tóxicos responsáveis pela mortandade.” Pressão pública Continua o alerta: “Nós sabemos que podemos conseguir a proibição – depois de uma megacampanha da Avaaz ano passado, a União Europeia baniu essa mesma categoria de venenos, considerada por diversos cientistas como a responsável pela morte em massa das abelhas. Nesse exato momento fábricas de componentes químicos estão fazendo forte lobby junto às autoridades norte-americanas para impedir uma mudança. Mas, informantes da Avaaz dizem que uma pressão pública massiva poderia ser o fiel da balança a favor da causa apiária. Vamos fazer pressão! Um banimento feito pelos EUA pode deflagrar um “efeito dominó” no resto do mundo.” Zunido global O tempo urge. Tempus fugit, diz o axioma latino. Portanto, não percamos tempo. A força-tarefa que cuida do assunto na Casa Branca apresentará propostas para a regulação. Não estamos falando apenas da sobrevivência das abelhas, estamos falando da JORNALISTA E ESCRITOR
nossa própria sobrevivência. Assine a petição imediatamente – vamos fazer um zunido global pedindo que os EUA proíbam esses químicos assassinos, antes que as abelhas sejam extintas, causando sérios danos ao planeta. O leitor pode assinar a petição e dá contribuição inestimável ao movimento, no seguinte endereço eletrônico: https://secure.avaaz.org/ po/save_the_bees_us_pet_ loc/?bPYbOeb&v=47042 Vitais para a vida Lembram os organizadores do movimento que as “abelhas são vitais para a vida na Terra: todos os anos, elas polinizam plantações, um trabalho que, se fosse pago, seria equivalente a cerca de 40 bilhões de dólares. Sem uma iniciativa imediata que assegure que as abelhas continuem a polinização, muitas das nossas frutas, vegetais e castanhas favoritas podem desaparecer das prateleiras dos supermercados e um terço da nossa oferta de alimentos pode sumir”. Espécies extintas Nos anos recentes, temos visto um declínio grande no número de abelhas – algumas espécies já foram completamente extintas. Quando eu era menino nos sertões havia várias espécies de abelhas nativas, como a jandaíra (melipona subnitida duke), típica da Caatinga. Hoje só a encontramos em meliponários. Se não agirmos, é certo afirmar que o fim das abelhas está próximo e com elas a diminuição das possibilidades de sobrevivência do homem na natureza.
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VERDE
BIODIVERSIDADE
Nova espécie de ave é descoberta no Brasil
Os estudos para identificação do pequeno passarinho começaram há mais de 20 anos. Mas o novo macuquinho brasileiro já nasce como ameaçado de extinção
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20 ANOS DESPERCEBIDO O passarinho passou muito tempo despercebido na natureza pelos pesquisadores e ornitólogos. Apesar de a descrição acontecer em 2014, o estudo que levou à descoberta da nova espécie começou há mais de 20 anos, quando uma expedição com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) realizou a primeira coleta de exemplares e gravações das vozes da espécie. No entanto, estudos sistemáticos e exaustivos dirigidos para estudar e descrever a nova espécie, começaram somente em 2004, culminando com uma grande expedição em 2006, com apoio da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza. O primeiro exemplar da espécie foi encontrado em 1993, sendo que, inicialmente, os pesquisadores acreditavam que o pássaro era um macuquinho-preto comum (espécie do sul e sudeste do Brasil), pois era bastante semelhante à espécie. “Ao longo do estudo, porém, percebemos que se tratava de uma nova
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omunidade científica descobre uma nova espécie de ave no Brasil. Macuquinho-preto-baiano é como foi batizado este pequeno passarinho, que pesa em torno de 15 gramas e mede apenas 12 centímetros da espécie Scytalopus gonzagai da ordem Passeriformes, que engloba os animais conhecidos popularmente como pássaros ou passarinhos. A descoberta aconteceu numa estreita faixa de Mata Atlântica junto ao litoral da Bahia foi reconhecida oficialmente em agosto deste ano, pela revista The Auk, periódico científico da American Ornithologists’ Union (União dos Ornitólogos Americanos), voltado para estudos e pesquisas de aves.
ave do gênero Scytalopus”, explica Giovanni Nachtigall Maurício, professor do curso de Gestão Ambiental da Universidade Federal de Pelotas (RS) e primeiro autor do artigo de descrição da espécie. Os outros autores são Ricardo Belmonte-Lopes e Marcos Ricardo Bornschein (ambos da UFPR), José Fernando Pacheco (Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos), Bret Whitney (Louisiana State University, Estados Unidos) e Luís Fábio Silveira (USP). AMEAÇADO DE EXTINÇÃO O Scytalopus gonzagai apresenta ritmo de canto mais forte e diferentes vocalizações – como se fossem vários tons da fala
humana – diferenciando-se das outras aves do mesmo gênero. “A comunicação do passarinho apresenta diferentes notas. Percebemos, então, que a forma estrutural de sua voz era de uma nova espécie”, ressalta o coautor do artigo, Marcos Ricardo Bornschein, do setor de Ciências Biológicas da UFPR e do Instituto de Pesquisas Ambientais de Curitiba (PR). Segundo o biólogo, o macuquinho-preto-baiano também tem outras características próprias que o diferencia de outros macuquinhos. “As espécies do gênero Scytalopus são, em geral, muito semelhantes entre si, sendo que muitas delas diferem umas das outras apenas por diferenças no canto e na genética; contu-
do, o macuquinho-preto-baiano difere dos seus parentes também por tamanho e coloração, o que é um fato notável para o gênero”, comenta Bornschein. Apesar da recente descoberta, o novo macuquinho brasileiro já nasce considerado ameaçado de extinção. Estima-se que existam pouco menos de 3 mil indivíduos, número baixo para aves. A nova espécie é encontrada exclusivamente num trecho de montanhas do litoral baiano, numa área de florestas de 5.865 hectares, no bioma Mata Atlântica. FUNDAÇÃO GRUPO BOTICÁRIO A Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza é uma organização sem fins lucrativos cuja missão é promover e realizar ações de conservação da natureza. Criada em 1990 por iniciativa do fundador de O Boticário, Miguel Krigsner, a atuação da Fundação Grupo Boticário é nacional e suas ações incluem proteção de áreas naturais, apoio a projetos de outras instituições e disseminação de conhecimento. Desde a sua criação, a Fundação Grupo Boticário já apoiou 1.398 projetos de 480 instituições em todo o Brasil. A instituição mantém duas reservas naturais, a Reserva Natural Salto Morato, na Mata Atlântica; e a Reserva Natural Serra do Tombador, no Cerrado, os dois biomas mais ameaçados do país. Outra iniciativa é um projeto pioneiro de pagamento por serviços ambientais em regiões de manancial, o Oásis. SERVIÇO Veja mais sobre os projetos da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza na internet: www.fundacaogrupoboticario.org.br, www.twitter.com/ fund_boticario e www.facebook.com/ fundacaogrupoboticario.
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VERDE
ENTREVISTA
Camilo Santana, candidato do PT ao governo do Ceará FOTOS: BETH DREHER
POR TARCILIA REGO tarciliarego@oestadoce.com.br
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ão 6,2 milhões de pessoas que estão aptas a votar no Ceará em 5 de outubro para eleger presidente, governador, senador e representantes para a Câmara Federal e Assembleia Legislativa. No caso do posto máximo do Palácio da Abolição, são quatro candidatos na disputa. Para permitir uma melhor análise do perfil e das propostas de cada um dos concorrentes, o Caderno O Estado Verde publica entrevistas com os mesmos. Eles respondem sobre temas estratégicos como Segurança Pública, Saúde, Educação, Transporte, Desenvolvimento, Economia, Meio Ambiente, Recursos Hídricos e Semiárido. Hoje, você pode conferir um pouco das propostas do candidato do PT, Camilo Santana. [O estado Verde] Por que o senhor decidiu disputar as eleições para o cargo de governador do Ceará e por que acha que merece ser eleito? [Camilo Santana] Tenho orgulho de fazer parte de uma geração que está pensando o Ceará para o futuro. Nos últimos sete anos, com o governador Cid Gomes, apoiado pelos governos de Lula e Dilma, o Ceará experimentou um crescimento acima da média do Brasil, gerou mais de 350 mil empregos com carteira assinada, realizou projetos estruturantes sonhados há muitos anos, como a Siderúrgica que hoje emprega mais de oito mil funcionários em sua construção, o Eixão das Águas, que garante água para toda região metropolitana de Fortaleza e que está construindo a maior obra hídrica da história do Es-
tado, o Cinturão das Águas, que vai resolver, definitivamente, nos próximos anos o problema de falta d’água nas áreas mais críticas do Estado. Além disso, estamos construindo a melhor rede pública de saúde do Brasil, com hospitais no interior, UPAs 24 horas, Policlínicas e Centros de Especialidades Odontológicas (CEOs). Também colocamos o Ceará com um dos melhores índices de educação do Brasil e construímos a maior rede de escolas de educação profissional em tempo integral do País. Sou candidato não por vaidade ou por um projeto pessoal. Sou candidato apoiado por 18 partidos que compreendem e trabalham para um Ceará mais justo e menos desigual.
[OeV] Se eleito o que vai priorizar no seu Governo? [CS] Se o povo do Ceará me der à honra de ser governador, vou trabalhar para seguir avançando na ampliação da rede de saúde pública para o interior com a construção dos hospitais da Região Metropolitana e do Vale do Jaguaribe e com UPAs nos municípios acima de 50 mil habitantes. Também vou apoiar a Prefeitura de Fortaleza na construção de seis policlínicas para consultas e exames especializados. Além disso, pretendo melhorar o atendimento nas unidades de Saúde do Estado com um programa em que os pacientes vão dar notas para o atendimento recebido. Se a nota for boa, os profissionais da saúde
vão receber uma gratificação especial. Se a nota não for boa, não tem gratificação. Na área da segurança, pretendo implantar 33 delegacias 24 horas na Capital e no Interior, contratar mais policiais militares e civis, valorizar e incentivar o trabalho policial, estudando um novo sistema de promoções e corrigindo distorções salariais. Vamos também reorganizar o Ronda do Quarteirão e ampliar o Raio. Na área da segurança pública tenho como compromisso, também, ampliar a presença do Governo nas áreas mais críticas, com diversas ações articuladas na educação, esporte, saúde, assistência social, cultura, lazer e combate às drogas. Na educação, vou levar progressivamente a escola profissionalizante em tempo integral para toda a rede estadual, seguir avançando com o Programa de Alfabetização na Idade Certa (PAIC), criar Centros de Línguas Estrangeiras em todas as regiões e fortalecer políticas para a educação superior, com ampliação de investimentos e contratação de professores. Vou implantar, também, o Bilhete Único para a Região Metropolitana de Fortaleza, expandir o Minha Casa, Minha Vida no Estado e construir o Cinturão das Águas, que vai levar recursos hídricos para os Inhamuns, Sertão Central e Centro-Sul do Estado. [OeV] O atual governo do Estado afirma que tem envidado no sentido de combater a criminalidade, mas a sociedade queixa-se dos resultados e do clima de violência e insegurança. Por que será? Como resolver a questão? [CS] Este é um tema que preocupa a todos os cearenses. Assim como o Ceará, outros 19 estados brasileiros viram a criminalidade crescer nos últimos anos. Isso é decorrente, principalmente pelo aumento do consumo e tráfico de drogas. Além de aumentar os quadros da polícia para combater este crime, vamos ampliar as redes de proteção à juventude, com educação profissionalizante em tempo integral, que vai proteger nossos jovens e prepará-los para o futuro.
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VERDE
[OeV] As escolas do Estado, em geral, não têm qualidade. O que o candidato propõe para melhorar o ensino público estadual? [CS] A educação no Ceará melhorou significativamente nos últimos anos. Saímos da 11a colocação no Norte e Nordeste para o primeiro lugar. Além disso, criamos a maior rede de escolas profissionalizantes do Brasil. Já são 105 escolas em tempo integral que preparam anualmente mais de 40 mil jovens tanto para o vestibular, quanto para o mercado de trabalho. Com a melhoria da educação, somente em 2013 mais de 14 mil estudantes de escolas do Estado foram aprovados no Enem, universidades estaduais e no Programa Universidade para Todos (Prouni). Para melhorar ainda mais o ensino médio, vou ampliar progressivamente o número de escolas em tempo integral e seguir valorizando os professores. [OeV] O metrô de Fortaleza – a maior parte em obra e outras em estudo – conta com apenas 24 km de extensão e um longo período em obra (17 anos). O que o candidato propõe para acelerar a ampliação do meio de transporte estratégico e fundamental para a melhoria da mobilidade urbana na Capital? [CS] A expansão da rede do metrô depende de financiamento de longo prazo e planejamento urbano, com foco nas oportunidades econômicas e no aumento de densidade populacional no corredor de transporte. Foi com o governador Cid Gomes que o Metrô de Fortaleza tornou-
se uma realidade. Vamos colocar para funcionar a Linha Sul, que já opera em fase de testes, e o VLT até 2015, além disso, fazer uma força tarefa para não haver atraso na construção da Linha Leste, que liga o Centro ao Fórum Clóvis Beviláqua. A parceria com o Go-verno da presidenta Dilma e a Prefeitura Municipal de Fortaleza são fundamentais para que a conclusão do metrô ocorra no tempo acordado. [OeV] O candidato é contra ou a favor da criação de novos municípios? [CS] A discussão sobre a criação de novos municípios está ocorrendo neste momento no Congresso Nacional. Há muitas localidades que desejam ter autonomia política e administrativa, sendo esta uma vontade que deve ser respeitada. Por outro lado, muitos municípios estão preocupados com a per-
da de receitas do Fundo de Participação do Município (FPM). Desde 1996 que se discute uma Lei que regulamente a emancipação de distritos, mas ainda não houve consenso. Minha posição é que devemos manter foco na formação de um consenso sobre a melhor legislação para atender às demandas de autonomia, por um lado, e o equilíbrio fiscal, por outro. [OeV] Como alavancar a economia do interior do Ceará? Qual a política que o senhor propõe para desenvolver o Semiárido cearense, por exemplo? [CS] Nós temos grandes oportunidades e vocações no Interior do Estado que precisam ser incentivadas e planejadas. O Ramal da Transnordestina, o Canal da Transposição do São Francisco e o Cinturão das Águas criarão as condições apropriadas para uma polítiFOTOS: BETH DREHER
[OeV] Quase tudo que se arrecada é gasto com o custeio da máquina pública, uma máquina enorme, com órgãos muitas vezes ineficientes, desnecessários, com grande quantidade de cargos comissionados que consomem dinheiro público. Esta é a realidade, em praticamente, 100% dos estados brasileiros. Se eleito o senhor envidará esforços para uma reforma administrativa séria, dura, com “cortes na carne”? [CS] A administração pública deve ser pautada pela eficiência e transparência. O Ceará avançou muito nos últimos anos com mecanismos de informação sobre os próprios gastos e criou o programa de gestão por resultado. Vou seguir avançando para que tenhamos uma máquina administrativa sempre mais veloz e capaz de atender às demandas da população.
ca de desenvolvimento regional diversificada entre nos setores primário (agricultura), secundário (industrial) e terciário (comércio e serviços). Além de uma matriz logística diversa e interligada – portos, ferrovia, as estradas e aeroportos regionais - teremos água e energia, o binômio principal para a atração de investimentos econômicos. Isso permitirá que a política de convivência com o Semiárido se dê em outra perspectiva, mais social e econômica e menos climática. De maneira imediata, quero colocar para produzir mais de 15.000 hectares de perímetros irrigados que estão prontos. [OeV] Um projeto para o desenvolvimento do Semiárido passa pela melhoria do acesso à água e universalização do saneamento básico, no entanto estamos longe de resolver o problema que impacta diretamente sobre a saúde e a economia como um todo. Qual o caminho para enfrentar a situação? [CS] O caminho é avançarmos em direção à independência energética e a segurança hídrica. Isso está em curso e nos esforçaremos para que ganhe a velocidade necessária para garantir a qualidade de vida que todos almejamos para o povo cearense. Em parceria com o Governo Federal e os Municípios vamos expandir a rede de saneamento básico e o acesso à água de qualidade. Queremos estabelecer um planejamento de longo prazo com metas, resultados e prazos para o desenvolvimento social e econômico para que a sociedade civil organizada acompanhe a estratégia de superação das desigualdades sociais e regionais. [OeV] Como garantir segurança hídrica ao Semiárido num ambiente de Mudanças Climáticas? [CS] As instituições vinculadas à Secretaria de Recursos Hídricos serão fortalecidas: Cogerh, Sohidra e Funceme. É muito importante que tenhamos investimento em produção de conhecimento científico e em inovação tecnológica para nos adaptarmos às mudanças climáticas. Por um lado, temos que procurar reverter o processo de aquecimento e desertificação que enfrentamos e, por outro, buscar alternativas para que o desenvolvimento ocorra de forma sustentável. Mas, sem dúvida, que a Transposição do São Francisco, o Cinturão das Águas, a Integração de Bacias e a dessalinização da água do mar são fundamentais para garantir a segurança hídrica de todo o Ceará.
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FÁBRICA DE VACINAS
Instituto Biomanguinhos será implantado no Eusébio
Unidade será dedicada ao desenvolvimento e produção de vacinas e biofármacos baseados em plataformas de expressão vegetal, dentre elas a vacina contra febre amarela FOTOS: DIVULGAÇÃO
POR JESSICA FORTES oev@oestadoce.com.br
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Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos, BioManguinhos, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), está implantando no Polo Tecnológico e Industrial da Saúde (PITS) em Eusébio, o Centro Tecnológico de Plataformas Vegetais. Esta será a primeira unidade de Bio-Manguinhos fora do Rio de Janeiro e será dedicada ao desenvolvimento e produção de vacinas e biofármacos baseados em plataformas de expressão vegetal, voltados para atender prioritariamente às demandas da saúde pública nacional. O novo Centro, que será instalado no bairro da Precabura, no Eusébio, terá plantas industriais multipropósitos e prédios de desenvolvimento tecnológico e de controle e garantia da qualidade, que permitirão nova capacidade de desenvolvimento e fabricação de produtos biofarmacêuticos para uso humano. Segundo o diretor de Bio-Manguinhos, Artur Couto, serão implantadas duas plataformas, uma de expressão transiente em folha de tabaco e outra de expressão em cultura de célula vegetal. “A primeira se voltará para a produção de uma nova vacina contra febre amarela, e a segunda para a produção do biofármaco alfataliglicerase, usado por pacientes da rara Doença de Gaucher”, explica. O paciente com esta enfermidade apresenta insuficiência de uma enzima relacionada à decomposição de moléculas de gordura que se acumulam no baço e no fígado. Os produtos de Bio-Manguinhos garantem à população brasileira acesso gratuito a imunobiológicos de alta tecnologia e permitem a redução
dos gastos do Ministério da Saúde. Segundo o Instituto, em 2013, foram aproximadamente 100 milhões de doses de vacinas entregues ao Programa Nacional de Imunizações (PNI) e outras 8,4 milhões de doses exportadas, mais de 5,3 milhões de reações para kits de diagnóstico e 11 milhões de frascos de biofármacos. SOLUÇÕES SUSTENTÁVEIS A Unidade também terá como característica a adoção de soluções sustentáveis com uso de energias renováveis, reutilização da água, preservação do meio ambiente e ações voltadas ao desenvolvimento local. Com relação à preservação do meio ambiente, a BioManguinhos buscará junto aos órgãos competentes as certificações ambientais
previstas a fim de reduzir o impacto ao meio ambiente e ao mesmo tempo contribuir para a sua preservação. Segundo o Instituto, na localidade de Precabura serão também desenvolvidas ações de responsabilidade socioambiental, por meio da interação com a comunidade e autoridades locais. A cadeia de fornecedores da região também será de grande importância para as atividades do Centro, sendo, assim, fortalecida. REGIÃO SERÁ FORTALECIDA Artur Couto lembra ainda, que a instalação da unidade no Ceará fortalecerá ainda mais a capacidade do Nordeste de produção científica e tecnológica em saúde. “A instalação obedece a premissas ambientais, a todas as normas, legais aplicáveis a indústria biofarmaceutica,
bem como as diretrizes urbanísticas. O projeto está sendo idealizado por meio de diálogo e de um desenvolvimento orgânico com as instituições locais, numa iniciativa que busca levar a demais centros as novas tecnologias e as fronteiras da pesquisa científica”. O prefeito do município de Eusébio, José Arimatéa Júnior, também ressalta a importância da instalação da Unidade. “Serão buscadas parcerias para programas de formação em conjunto com as universidades e institutos nacionais. Isso vai atrair e desenvolver profissionais qualificados localmente, que vai ajudar a viabilizar o pleno funcionamento do Centro Tecnológico, que prevê a geração de 400 postos de trabalho em diferentes áreas. Isso movimenta a nossa economia”, comemora.
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FOTOS: DIVULGAÇÃO
O Decreto no 30.955, de 12 de julho de 2012, declara de utilidade pública outra área, contígua ao Polo, para implantação do Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Biomanguinhos. O orçamento autorizado pelo Ministério da Saúde para a FioCruz no Polo Industrial da Saúde é de R$ 170 milhões.
POLO TECNOLÓGICO E INDUSTRIAL DA SAÚDE O PITS tem como objetivo principal desenvolver o segmento farmoquímico do Estado, promover a inovação e a integração entre a academia e o setor privado e fomentar a sinergia entre as indústrias que formam o Polo. O plano piloto do empreendimento, foi desenvolvido em parceria entre a Adece e a Prefeitura do Eusébio e contempla o cuidado ambiental no tratamento da área situada no entorno da Lagoa da Precabura, integrando as áreas verdes das matas naturais das margens ao projeto urbanístico com construções saudáveis, humanizadas e sustentáveis. Para administrar a implantação do PITS, foi criado, pelo Decreto nº 30.884, de 19 de abril de 2012, o Comitê Gestor do Polo, que é integrado pelos titulares da Secretaria da Infraestrutura do Estado do Ceará (Seinfra), Secretaria da Ciência e Tecnologia (Secitece), Secretaria da Saúde (Sesa), Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), Prefeitura do Eusébio, Câmara Setorial da Cadeia Produtiva da Saúde, Sindicato das Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado do Ceará (Sindquímica) e pela Agência de Desenvolvimento do Estado do Ceará (Adece), a quem compete liderança. Segundo o prefeito Júnior, o Polo terá três empresas âncoras: Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (vinculado ao Ministério da Ciência e Tecnologia) e a Isofarma Industrial Farmacêutica Ltda.
FIOCRUZ A Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz), ligada ao Ministério da Saúde, desenvolverá um centro de formação, pesquisa e desenvolvimento, constituído por um prédio de gestão e ensino com 13 mil metros quadrados de área e 23 salas de aula com capacidade para 560 alunos, um prédio de pesquisa, de 15 mil metros
quadrados de área, com 15 laboratórios (dois deles de nível de biossegurança 3), um prédio de infraestrutura, auditório para 300 lugares, anfiteatro e praça. A unidade da FioCruz está orçada em R$ 140 milhões em obras e equipamentos. A terraplanagem do terreno já foi iniciada e o prazo de conclusão está previsto para meados de 2015.
CTI RENATO ARCHER O Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer é uma unidade de pesquisa do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que atua na pesquisa e no desenvolvimento em tecnologia da informação. Terá como foco de atuação as áreas de componentes eletrônicos, microeletrônica, sistemas, software e aplicações de TI, como robótica, softwares de suporte à decisão e tecnologias 3D para indústria e medicina. ISOFARMA A Isofarma, líder na produção brasileira de soluções parenterais em frascos de pequeno volume (até 100 ml), ocupará uma área de cerca de três hectares no Polo. Esse conjunto de ações objetiva tornar o Ceará um ambiente privilegiado para a construção de um complexo da saúde forte e inovador, que contribua para o desenvolvimento do Estado e para a melhoria da qualidade de vida da população brasileira.
Segundo o Instituto Bio-Manguinhos, em 2013, foram entregues aproximadamente 100 milhões de doses de vacinas ao Programa Nacional de Imunizações (PNI)
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AGENDA 21
O caminho perdido dos Fóruns de discursão
Quase nove anos depois do primeiro encontro, grupo foi disperso e segue sem reuniões. Representantes lamentam. Seuma afirma que os Fóruns foram substituídos por espaços de discussões de temáticas específicas. MMA confirma o fim da Agenda POR JESSICA FORTES oev@oestadoce.com.br
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Agenda 21 chega ao fim. Documento oficial resultado da Segunda Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro, conhecida também como Eco-92. Trata-se de um detalhado plano de ação com intuito de modificar os padrões de consumo e produção em escala mundial, na tentativa de minimizar impactos ambientais sem deixar de atender as necessidades básicas da humanidade. O novo padrão que busca a conciliação da justiça social, eficiência econômica e equilíbrio ambiental e passou a ser chamado de Desenvolvimento Sustentável. Um dos princípios da agenda estava baseado no pensar global e agir local. Em Fortaleza, a proposta foi criada pelo Decreto Municipal nº 11812 de 16 de maio de 2005 e a primeira reunião aconteceu em novembro daquele ano, com 25 entidades representadas. O objetivo principal do processo era produzir um plano de ação para o alcance de um cenário futuro desejável para a Capital. Esse plano levaria em consideração a análise das vulnerabilidades e potencialidades de sua base econômica, social, cultural e ambiental. Perto de completar nove anos de existência, antigos representantes lamentam o fim das reuniões e discussões do fórum.
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VERDE FIM DOS ENCONTROS Para o ambientalista Ademir Costa, jornalista e integrante do Movimento do Proparque, lamenta o fim dos encontros que eram muito importantes, na medida em que poderiam fazer estudos sobre a Cidade e propor uma visão de futuro; sobre qual o lugar que queremos viver. “Dentro do Fórum existiam representantes de poderes da sociedade civil e estudiosos, por exemplo. Tínhamos uma visão de longo prazo e poderíamos fazer propostas para o Governo, para a sociedade e para o mundo dos negócios, pois estes três segmentos comandam a Cidade. No entanto, os encontros não estão mais acontecendo, é lamentável”, comenta. Segundo Ademir, sem os Fóruns da Agenda 21, e sem outro que o substitua, Fortaleza fica entregue as invertidas, pensadas apenas no imediato. “A cidade não pode ser tomada por medidas emergenciais que só adiam um problema. Em alguns países fala-se em derrubar viadutos, em São Paulo, por exemplo, fala-se em derrubar o Minhocão e em Fortaleza estão criando minhoquinhas, parece que a cidade não tem massa crítica, não tem especialistas para avaliar e discutir intervenções como essa”, ressalta o ambientalista.
NOVOS ESPAÇOS DE DISCUSSÃO A Agenda 21 local foi inicialmente organizada pela então Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam) e acompanhada de perto pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), os Fóruns aconteciam quinzenalmente, mas deixaram de acontecer no primeiro ano da atual gestão municipal. A atual Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma) informa que as ações foram interrompidas, “dada à necessidade de reestruturação do Fórum e também em razão dos novos espaços de discussão e participação social, surgidos ou
reativados a partir do ano de 2013”. Conforme explicou a coordenadora de Políticas Ambientais da Seuma, Magda Maia, as discussões da Agenda foram substituídas por espaços de discussões de temáticas específicas, como o Fórum Adolfo Herbster, o Fórum Mensal de Urbanismo e Meio Ambiente, a Câmara Técnica da Arborização, Conselho Municipal de Mudanças Climáticas, dentre outros, já em busca da concretização daquilo que foi preconizado pela Agenda 21. SEM CONVITES Apesar da justificativa, a presidente do Sindicato dos Engenheiros do Ceará
(Senge), Thereza Neumman, que antes participava da Agenda 21 de Fortaleza, representando a entidade, afirma não ter recebido mais nenhum convite ou informação sobre as mudanças. “Todo espaço de participação da sociedade, é importante. Esse da Agenda 21 era voltado para a questão do meio ambiente e era importantíssimo, tendo em vista a problemática que vivenciamos relacionada ao tema. Então nada mais importante do que ter um espaço de discussão de projetos, de participação, por que era realmente muito representativo por todos os segmentos da sociedade. Diante de alguns problemas, o Fórum foi esvaziando, mas não podia ter parado e deveria voltar”, reitera. AGENDA 21 CANCELADA Nossa equipe procurou a assessoria de comunicação do MMA – que acompanhava de perto os Fóruns de discussão da Agenda 21 local – para saber mais informações sobre o fim dos encontros. A assessoria confirmou, por telefone, que foram canceladas todas as ações envolvendo a Agenda 21, enviamos algumas perguntas por email com o intuito de obter mais detalhes e os reais motivos do cancelamento, mas até o fechamento desta edição a demanda não foi justificada.
AGENDA 21 A Agenda 21, resultado fundamental da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – Rio 92, morreu. O documento que introduziu a ideia, hoje aceita por todos, de que desenvolvimento e meio ambiente constituem um binômio central e indissolúvel caiu no esquecimento. O processo não era somente uma agenda ambiental e sim uma agenda de desenvolvimento sustentável, na qual o meio ambiente era a estrela de primeira grandeza, mas sem deixar de considerar questões estratégicas ligadas à geração de emprego e de renda, a diminuição das disparidades regionais e interpessoais de renda, as mudanças nos padrões de produção e consumo, a construção de cidades sustentáveis, a adoção de novos modelos e instrumentos de gestão. Em suma, a expressão de um planejamento estratégico e participativo de uma sociedade determinando suas prioridades, a serem definidas e executadas através de políticas públicas. Propunha o resgate da capacidade de planejamento e auto-organização de uma sociedade, permitindo interações entre os diversos grupos sociais e incentivando uma cidadania ativa e propositiva num processo contínuo. A noção de “processo contínuo” era uma constante em toda a Agenda 21, que nunca foi entendida como um único acontecimento, documento ou atividade, mas como um processo de construção participativo e no qual a sociedade e ou a comunidade (Agenda 21 Local) aprendia sobre suas deficiências e identificava as suas potencialidades e recursos.
Tarcilia Rego – Educadora Ambiental
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Projeto real ou mero marketing eleitoral? POR GABRIEL PARENTE*
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o projeto de governo lançado a época de sua candidatura ao executivo municipal, o atual prefeito de Fortaleza propunha, entre outros aspectos, desenvolver uma gestão em que a questão ambiental tivesse grande relevância. No que se refere às propostas de ação envolvendo as áreas verdes e a cobertura vegetal de Fortaleza, cidade marcada por baixo índice de arborização de suas vias, o então candidato propunha como diretrizes de sua gestão o aumento das áreas verdes e a melhoria na gestão ambiental por meio do incentivo à profissionalização, ao monitoramento e à avaliação das políticas ambientais. Entre as críticas apresentadas, o projeto ressaltava que não havia no município um planejamento referente ao plantio e manejo de áreas verdes e destacava a situação de abandono e de má conservação de nossas praças. Próximo a chegar à metade de sua gestão, as ações da administração Roberto Cláudio não refletem o que o então candidato se propôs no que se refere à questão destacada, neste aspecto as praças do Centro são um grande exemplo pelo estado de abandono em que se encontram. O Passeio Público, um dos espaços que efetivamente vinham sendo revitalizados ao longo dos últimos anos, tanto pela reforma e conservação de suas estruturas e jardins como por políticas culturais que incentivavam a ida de pessoas a este espaço, vivencia atualmente uma situação de abandono que nos faz lembrar que o espaço, até bem pouco tempo atrás, era reduto de prostituição e consumo de drogas.
As obras viárias desenvolvidas na cidade também se confirmam como expressões da pouca importância que a atual gestão efetivamente tem dedicado às áreas verdes e às políticas de arborização municipal. A arborização das avenidas Santos Dumont e Dom Luís, por meio do plantio de mudas em suas calçadas, desenvolvida com a justificativa de ser uma compensação à perda das várias árvores adultas retiradas para a implantação de um sistema de binários nas avenidas, só foi anunciada e executada em função das críticas de parte da sociedade ao corte das árvores de seus canteiros centrais. Frente à experiência no caso das duas aveni-
das, a Prefeitura, em uma clara intenção de antecipar-se a críticas, anunciou que, antes de retirar quase 200 árvores adultas do canteiro central da Avenida Bezerra de Menezes para a implantação de um sistema de BRT, plantaria mais de 300 mudas ao longo de suas calçadas. A execução desta ação, contudo, evidencia a falta de planejamento e a pouca relevância que a atual gestão confere à questão. Muitas das mudas recentemente plantadas na Avenida já morreram, algumas pela falta de água, (pois apesar de plantar, a Prefeitura não desempenhou ações de rega, necessárias especialmente nos primeiros momentos após o plantio para o enrai-
zamento e estabelecimento da muda) e outras por terem sido arrancadas, pois em nenhuma das mudas plantadas foi colocada grade de proteção de forma a garantir uma maior segurança até que estas atingissem porte suficiente a estarem imune a estas ações. Lamentavelmente, o balanço que fazemos das ações e omissões da atual administração ao longo da primeira metade de seu governo no que se refere a suas políticas de gestão das áreas verdes e de fomento à arborização é a de uma gestão que não tem saldos a apresentar à sociedade, mas débitos. *Integrante do Movimento Pró-Árvore