CEARÁ
Terra do sol, calor e alegria
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ifícil dizer o que significa a palavra “Ceará”. Para alguns ela significa “canto da jandaia”, tal como adotou José de Alencar em seu romance, Iracema, baseado nos estudos do historiador e geógrafo português que morou durante muito tempo no Brasil: Aires de Casal. Para o cônego Ulisses Penaforte, no entanto, “Ceará” quer dizer “muitas serras” ou “reunião de cordilheiras”, levando-se em consideração que, para ele, esta é uma palavra que reúne duas outras: “cetá”, muitas, e “ará”, serras. Mas há quem afirme, como o historiador Teodoro Sampaio, que ela tem outro sentido: “bandos de papagaios”, diz ele. E não para por aí. As indagações são tantas que houve até quem aventasse a possibilidade de “Ceará” vir de “Saara” por causa das secas que, de vez em quando, assolam a região. O certo é que ninguém sabe o que significa. Mas todos sabem o que não significa. Basta alguém procurar pela palavra “Ceará” em qualquer lugar do mundo para saber, imediatamente, que aqui não faz frio e que, se o sol nasce na China ou no Japão, é para estes lados que se dirige e, antes de desaparecer por trás das Cordilheiras dos Andes,
permanece mais tempo por aqui do que em qualquer lugar do planeta. Assim, para quem quer conhecer estas terras e para quem já conhece, a palavra “Ceará” tem este sentido mágico: sol, calor e alegria. Não é à-toa que o estado é considerado a capital do humor, no Brasil, e se José do Patrocínio a chamou de “a Terra da Luz” não foi só porque libertou os escravos, em 1884, quatro anos antes do Brasil, mas porque a luz brilha quase o ano todo sobre ela a ponto de Paula Ney, poeta cearense do século XIX, considerar Fortaleza, a capital do estado, “a loura desposada pelo sol”. Aqui, neste Caderno, um pouco dessa história na qual o Ceará está inserido. Árvores como as carnaubeiras, que só nascem em regiões secas como o Ceará, cajueiros e oitizeiros que fazem parte não só do meio ambiente mas, inclusive, da vida do povo. Assim, há o cajueiro da Mentira, o cajueiro do Fagundes e o oitizeiro do Instituto. Tudo isso ao lado de ruas que já se chamaram da Alegria, das Flores ou da Aurora e hoje se chamam Floriano Peixoto, Castro e Silva e Costa Barros. Não importa. No Ceará é assim. A poesia divide seu espaço com a prosa sem ninguém perder.
EXPEDIENTE
COORDENAÇÃO: Ricardo Dreher TEXTOS HISTÓRICOS E TURÍSTICOS: Natalício Barroso VERSÃO EM INGLÊS: Márcio Correia REVISÃO: Lena Lopes PROGRAMAÇÃO VISUAL: J. Júnior FOTOGRAFIA: Anderson Santiago e Divulgação.
Revelação
AS CIDADES DO CEARÁ E SEUS NOMES EM PORTUGUÊS Qual o nome de sua cidade? Tianguá, Ipaporanga ou Jaguaribe? Pois a sua cidade, na verdade, se chama “espectro d’água” em tupi-guarani, “águas belas” e “onças pretas”. Aqui, a tradução de alguns destes nomes em português
Gruta de Ubajara ou, em tupi-guarani, do “Senhor das Canoas”
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s denominações são várias. Logo que os portugueses chegaram aqui, no Ceará, os lugares por onde andaram já tinham nome. Alguns deles se chamavam “Apuiarés” porque era ali que esta tribo habitava ou “Canindé” porque, tal como a região de Apuiarés, era habitada por esta tribo de índios. Havia outros nomes, no entanto, que indicavam acidentes geográficos ou abundância de pássaros, por exemplo, como é o caso de “Aratuba”. Modificando alguns nomes e mantendo outros ao longo do tempo, o Ceará possui, atualmente, 184 municípios dos quais pelo menos 107 são nomes indígenas: Camocim, Crateús, Crato, Itatira e assim por diante. Para quem gostaria de saber o que alguns destes nomes significam, em português, aqui vão algumas versões. Aquiraz, município que fica perto de Fortaleza e, segundo a História, foi a primeira capital do estado, quer dizer “gente de terra”. Não se sabe exatamente por que mas, se se levar em consideração que fica perto do mar dá a impressão de que tal denominação foi dada por índios pescadores em relação àqueles que ficavam em terra enquanto se aventuravam em alto mar. Aracati, por sua vez, se refere a um vento. Diferente
de todos os outros, no entanto, o “vento aracati” tem uma particularidade. Ele não só refresca o ambiente por onde passa. Ele também perfuma estes lugares. Aracoiaba, por outro lado, se refere ao lugar onde as aves cantam enquanto Beberibe indica o lugar onde a cana cresce. Banabuiú é o rio que dá muitas voltas. Assaré, a terra que fica entre dois rios. Guaiuba é o vale que possui muitas águas e Coreaú indica o nome de um pássaro, curiá, e de um rio porque era para ali que estes pássaros costumavam se dirigir quando tinham sede. Coreaú, portanto, significa “água dos curiás”. O mesmo acontece com Ipaporanga que, se não tem nome de pássaro em sua etimologia tem, pelo menos, o nome de um rio ou lagoa que, de tão bonito, os indígenas chamaram de “águas belas”. Irauçuba é “amizade”. Itapajé, “pedra do pajé”. Itapipoca, “pedra-lascada” e Itarema, tal como Aracati, também exala perfume em suas sílabas. “Ita” identifica “pedra” e “ema”, “perfume”. Itarema, portanto, quer dizer “a pedra que perfuma”. De onde os índios tiraram tal nome, fica difícil dizer mas, se se levar em conta que, além das pedras e ventanias que perfumam o interior do Ceará ainda há o “lugar das flores”, Po-
tiretama, e do “senhor das canoas”, Ubajara, dá para entender por que outros lugares da terra de Iracema se chamam “rio das onças”, Jaguaribe, “onças pretas”, Jaguaretama e “buraco das tartarugas”, Jericoacoara. Tianguá, em tupi-guarani, quer dizer “espectro de águas” e Quixeramobim, segundo uma lenda, “Ah que saudades que eu tenho”. Conta a lenda que um velho índio, tendo voltado à terra onde nasceu depois de muito tempo, se emocionou tanto diante do que viu que exclamou: “Quixeramobim” que, em português, quer dizer “Ah que saudades que eu tenho”. Com a Independência do Brasil em 1822, muitas destas cidades ou povoados passaram a se chamar Independência, Imperatriz ou Pedro II. Logo após a Proclamação da República, os nomes indígenas retornaram. Itapipoca, por exemplo, que se chamava Imperatriz em homenagem à Dona Leopoldina, mulher de D. Pedro I, voltou a se chamar Itapipoca e D. Pedro II, atual Abaiara, passou a ter este último nome em 1938, trinta e nove anos depois da Proclamação da República, é verdade. Abaiara, no entanto, quer dizer “homem ilustre” em tupi-guarani. Como D. Pedro II é, de fato, uma pessoa ilustre, há quem diga que
tal nome, quando foi escolhido pela população, tinha, como objetivo, homenagear o velho imperador novamente. Desta vez em língua indígena. OUTRAS CURIOSIDADES Independência, que fica a 310 quilômetro de Fortaleza, só passou a ter este nome em 1857. Antes disso se chamava Pelo Sinal. E por uma razão muito simples. Havia passado pelo lugar, em fins do século XVIII, o Frei Vidal da Penha e pediu a um fazendeiro, José Ferreira de Melo, para levantar uma capela em suas terras. O fazendeiro atendeu à sugestão do frei e, com o tempo, surgiu um povoado em torno da capela que, por falta de nome melhor, passou a se chamar Pelo Sinal e como tal permaneceu até meados do século XIX. Acarape, que fica nas imediações de Redenção, tinha outro nome. Chamava-se “Cala a Boca”. Segundo a tradição, tal denominação foi dada pelos fieis que frequentavam a igreja nas imediações. Como os índios faziam muito barulho em torno dela, os fieis saíam para fora e gritavam “cala a boca” para eles. De tanto repetir esta admoestação, o nome pegou e, antes de Acarape, o município se chamava “Cala a Boca”. “Vai para onde?” “Cala a Boca”.
As mil e uma noites do Ceará
LENDAS E CURIOSIDADES DE FORTALEZA E DO INTERIOR
Camelos em Fortaleza e em Baturité, dilúvio em Itapipoca, dragões em Ipu e uma cruz milagrosa em Solonópole. Estas são algumas das lendas do interior e da capital cearense
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ecém-chegado ao Ceará em 1859, o pintor francês, F. Biard, não ficou nem um pouco surpreso quando se deparou com alguns camelos nas praias de Fortaleza. Para ele isso era muito natural. Mas não para a população que quando viu aqueles ruminantes chegar ficou extasiada. A ideia, na verdade, partiu da Comissão Científica, formada no Rio de Janeiro em meados do século XIX e que tinha o objetivo de viajar por todo o Brasil coletando amostras da fauna e da flora do País. Achando que o clima cearense era propício para se criar camelos e dromedários, a Comissão, também chamada “das Borboletas”, por causa de sua aparente inutilidade, aconselhou Dom Pedro II a praticar esta experiência científica. E Dom Pedro aceitou o conselho. Assim, no dia 14 de setembro de 1859 Fortaleza recebia, estupefata, a chegada de 14 animais estranhos totalmente ao seu meio ambiente. Impressionado com aquilo, o povo de Fortaleza foi para o cais ver a chegada dos animais e dos quatro árabes que os acompanhava. Alguns dias depois, a experiência continuou. Como a Comissão Científica queria saber se os animais se adaptariam, de fato, ao clima seco do Ceará, promoveu uma pequena caravana, dirigida por um dos árabes, que tinha, como finalidade, partir de Fortaleza e chegar a Baturité. Não se sabe se a caravana foi ou não bem sucedida. O certo é que, com o tempo, os camelos deixaram de ser meios de transporte, no Ceará, e tornaram-se atração turística. Eram levados para Pernambuco, por exemplo, onde os jornais locais anunciavam a chegada deles da seguinte forma: “No botequim do Buessard, camelos aclimatados no Ceará. Entrada: 500 reis”.
OUTRAS LENDAS E EXTRAVAGÂNCIAS Fortaleza concentra, nela, boa parte da história do Ceará. Há outros municípios cearenses, no entanto, que também têm suas lendas e curiosidades e um deles é Ipueiras. Segundo a lenda, Ipueiras surgiu a partir da prisão de Manoel Martins Chaves, potentado do lugar. Acusado de ter mandado matar o Juiz Ordinário de Vila Nova d’El-Rei, contam os historiadores de Ipueiras que o governador da província do Ceará, nesta época, João Carlos Augusto Oeynhausen e Grwembourg resolveu prender o coronel e, para isso, decidiu viajar para a Ibiapaba. A intenção do governador, aparentemente, era a de passar revista no Regimento da Capitania. Assim, foi recebido por Manoel Martins Chaves que, para ser útil ao governador, o acompanhou por algum tempo até que Oeynhausen resolveu revelar a sua verdadeira intenção. Estava com o coronel em Ibiapina quando mostrou uma réplica da coroa portuguesa para ele e perguntou se sabia de quem era. O coronel disse que era da rainha, Sua Senhora.
Camelos e árabes nas dunas do Ceará
Oeynhausen, diante disso, acrescentou: “pois, diante desta coroa, o senhor está preso” e disse lá o motivo. Levado para Fortaleza, Manoel Martins foi transferido, em seguida, para Lisboa onde foi recolhido na prisão de Limoeiro. Morto em 1808, justamente no ano em que a Família Real partia de Portugal para o Brasil, as terras do coronel foram vendidas em Vila Nova d’El-Rei. Dentre elas a Fazenda Ipueiras que, com o tempo, foi doada à freguesia de Nossa Senhora de Assunção e hoje dá nome à cidade que dista 298 quilômetros de Fortaleza. PEDRA LASCADA A lenda de Itapipoca é indígena. Denominada “pedra lascada” em tupi-guarani, há quem diga que esta lenda data do tempo do dilúvio. Neste tempo, enquanto Noé singrava os mares por cima da Mesopotâmia, as águas da praia da Baleia invadiam a região de Uruburetama e tomavam conta do lugar. Noé, quando o dilúvio acabou, se deparou com o arco-íris. Em Itapipoca, o que surgiu foi uma pedra, justamente aquela que dá nome à cidade e que ainda hoje pode ser vista em Vila Velha do Arapari, com o nome de Itaquatiara, em tupi-guarani, ou “pedra-d’água” em português. TESOUROS, GRUTAS E DRAGÕES DO IPU Ipu,a região para onde a índia tabajara Iracema do romance de José de Alencar se dirigia para tomar banho em uma bica, também tem suas lendas. A Grécia fala de um velocino de ouro, guardado por um dragão, a Alemanha de um anel, o de Nibelungo, guardado por outro dragão. No Ipu também havia
um dragão que guardava um tesouro, mas que foi vencido por um holandês. Descobrindo uma forma de fazer o monstro dormir, este holandês, que não tem nome conhecido, conseguiu roubar um pouco do tesouro que o monstro guardava em sua gruta. Feito isso, levou-o para a frente da Igreja de São Sebastião, que estava sendo construída em Ipu, e o enterrou para que toda a sua riqueza fosse protegida pelo santo. Em seguida, partiu para a gruta novamente. A intenção, desta vez, era a de levar todo o ouro que existia no local. Mas como não conseguiu adormecer o dragão, suficientemente, foi morto por ele. A lenda, no entanto, pegou e, em pouco tempo, apareceu muita gente disposta a explorar a gruta do holandês. A pessoa que se deu bem, no entanto, não precisou ir até lá. Trata-se de um homem chamado João da Costa Alecrim que, sem precisar enfrentar nenhum monstro nem entrar em nenhuma gruta, deu com o tesouro do holandês diante da Igreja de São Sebastião. Assim, ficou rico da noite para o dia. Toda vez que saía de casa, porém, era recebido com indiferença pela população do Ipu. Como ela considerava que aquele ouro todo estava sob a guarda de um santo (São Sebastião) não admitia que ninguém se servisse dele tal como fez Alecrim. Assim, toda vez que passava pelas ruas do povoado, a população dava-lhe as costas.
um de seus escravos viu reluzir, por entre o matagal rarefeito, um objeto de metal. Percebendo que era um crucifixo que media mais ou menos um palmo de comprido e largura, pegou-o e o levou, imediatamente, para a casa grande sem se importar mais com as ovelhas do general. Na casa grande, entregou a cruz para a mulher do general, dona Rita das Dores Pinheiro, que levou a cruz para a capela da fazenda. No dia seguinte, porém, a cruz havia sumido. Procurada por todo canto, ninguém dava com ela até que o mesmo negro a descobriu no mesmo local. Colocando a cruz em um baú, desta vez, dona Rita esperou para ver o que haveria de acontecer e, para sua surpresa, a cruz sumiu outra vez sem ninguém forçar o baú para o abrir. Diante disso, dona Rita resolveu reunir a família na fazenda e discutir a situação. Terminada a reunião, foi tomada a seguinte decisão: dona Rita haveria de construir uma capela para aquela cruz no mesmo local onde ela apareceu a primeira vez. Tomada essa decisão, algo quase inacreditável aconteceu: a cruz reapareceu novamente. Desta vez dentro do baú sem que, como antes, fosse forçado. Diante disso, a capela foi construída, rapidamente, e o primeiro milagre da cruz aconteceu. A filha do coronel Simeão Correia Lima Landim era muda e, por algum motivo, transportava a cruz de metal de um lugar para outro. Durante este percurA CRUZ MILAGROSA so, abriu a boca e falou. Toda Solonópole é tida e havida população de Solonópoles tescomo terra de muita fé. Foi ali, por temunhou o ocorrido e, desde exemplo, que se deu um caso até então, a capela de Bom Jesus hoje contado como intrigante. Pas- Aparecido da Cachoeira, atual toreando os rebanhos do tenente Solonópole, nunca mais deixou general Manuel Pinheiro do Lago, de ser frequentada pelos fieis.
Poetas do Ceará
O POETA MAIS EXCÊNTRICO DE TODOS OS TEMPOS
Alto, magro e dispondo de “perfil grego”, o poeta Raimundo Varão, do Ceará, possuía seis dedos em cada mão, criava um sapo em uma quartinha e só comia biscoito
A
s excentricidades dos poetas são conhecidas no mundo todo. Há um poeta cearense, no entanto, que se destaca neste quesito. Chama-se Raimundo Varão. Contam os cronistas do início do século XX que o poeta não dava muito valor à higiene, mas, antes de pegar em um livro, fosse ele qual fosse, lavava as mãos. E mais um detalhe. Podia andar sujo e mal lavado, os livros que possuía, entretanto, eram todos eles impecáveis. Não havia um deles que possuísse um risco quanto mais uma mancha em seu interior ou em sua capa. Acostumado a andar sujo e mal vestido, houve um dia em que resolveu tomar banho. A novidade foi grande. Curiosos com aquilo, os amigos quiseram saber por que e descobriram o motivo. O autor de “Mademoiselle Íbis” e “Visão Noturna” estava apaixonado. Assim, resolveu não só tomar banho. Queria mudar de roupas, também, e assim foi feito. A casa onde o poeta morava neste tempo, portanto, que ficava na Rua Formosa, atual Barão do Rio Branco, ficou apinhada. Muitos eram os amigos (e até inimigos, quem sabe) que queriam acompanhar aquela transformação. Depois do banho, Raimundo Varão virou um gentleman. Afinal, não era feio. Conta Otacílio de Azevedo em “Fortaleza Descalça” que, como tinha “perfil grego” era, de fato, bastante elegante. A elegância do poeta, infelizmente, durou pouco. Como a mulher amada não correspondeu às suas expectativas, voltou à vida desleixada de sempre e, como resultado disso, andava sempre com as mãos para trás levando, entre elas, um atlas de grandes dimensões que nunca foi aberto por ele. Depois
se soube que aquele atlas tinha uma função. A intenção do poeta era a de esconder, das pessoas, os fundilhos de suas calças que, segundo Otacílio, estavam “em petição de miséria”. O atlas servia, também, para o poeta se sentar sobre ele fosse lá onde fosse. Outra mania do poeta era a de criar um sapo dourado na casa onde vivia. Há quem diga que era desta água, inclusive, que bebia e não comia outra coisa que não fosse biscoito. Quando se aventurou a comer carne seca assada com farinha d’água e cebolas quase morre. Sofreu uma indigestão. A última excentricidade do poeta ocorreu no Rio de Janeiro. Encantado com a Cidade Maravilhosa teve a felicidade, ainda, de ganhar na loteria. Assim, montou uma camisaria. Mas durou pouco tempo a felicidade. Revoltado com o fato de ter que abrir a loja todo dia e ficar por trás de um balcão, tomou uma decisão drástica: fechou as portas da loja e foi para a rua distribuir as camisas, de graça, para as pessoas. Depois disso desapareceu e ninguém nunca mais teve notícias dele. OUTRO EXCÊNTRICO Visitando Quintino Cunha, certa vez, Otacílio de Azevedo se deparou com uma menina linda e loura que saía da casa dele. Impressionado com aquilo, perguntou ao poeta, brincando, se aquela menina era filha da Holanda. Quintino disse que sim. Achando que o autor de “Solimões” estava ironizando, Otacílio ficou envergonhado. Percebendo o embaraço do amigo, Quintino se voltou para dentro de casa e gritou: “Holanda!” “Oh Holanda!” Daí a instantes, apareceu a mulher do poeta que, de fato, se chaRaimundo Varão, o poeta mais excêntrico que morou no Ceará mava Holanda.
Uva no Ceará
POR ENTRE PARREIRAIS E CAJUEIROS
Natural de regiões quentes, e não frias como as uvas, os cajus também produzem o seu vinho e suas guirlandas para um povo alegre que se vestia de algodão e não de linho
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trigo, o linho e a uva fazem parte da cultura europeia. A mandioca, o algodão e a aguardente, da brasileira. Com o trigo se faz o pão, com o linho, as roupas que foram usadas, inclusive, pelos faraós e, com a uva o vinho do qual se tem notícia ainda no tempo de Noé quando este, tendo salvo a humanidade do dilúvio, tomou vinho com seus filhos e filhas em uma carraspana que ainda hoje é discutida pelos rabinos nas sinagogas. A civilização da mandioca, do algodão e da aguardente, por sua vez, tem uma outra história. Mas é com a mandioca, neste caso, que se faz o pão; com o algodão que se veste os seus integrantes e com a aguardente, extraída da cana-de-açucar, que se faz a bebida alcoólica. Há uma outra bebida produzida por esta civilização, no entanto, que se assemelha um pouco com aquela feita pela civilização do trigo: o vinho de caju e não de uva. Há quem diga que tal descoberta se deu por intermédio de uma pessoa que, tal como Newton,
em uma sociedade do vinho a partir do caju e não da uva. Assim, se a Europa teve seus vinhos deliciosos citados por Homero, no passado, e por Baudelaire no século XIX, o Brasil também tem o seu sem que, para isso, precise viver em regiões frias e nubladas como acontece com aqueles que cultivam a parreira. Natural de regiões secas e ensolaradas, o cajueiro é o oposto desta cultura fechada que faz com que as chuvas, e não a luz do sol; a neve, e não a claridade, transforme o ser humano em filósofo. Para quem mora em regiões onde o cajueiro frutifica, geralmente, o que prevalece é a alegria. Por aqui, se Baco tivesse descoberto este recanto do mundo em seu tempo, teria abandonado Roma e a Grécia e partido para estes lados em Os cajus, mais do que as uvas, produzem vinho no Ceará busca de cajueiros frondosos para na Inglaterra, estava sentado em bai- terra, descobriu a Lei da Gravidade. fazer guirlandas com seus ramos e xo de um pé de cajueiro no Ceará e No Ceará, o Newton brasileiro desco- dançar e cantar em torno deles tennão de uma macieira e, de repente, briu algo tão fantástico quanto aque- do, ao seu lado, as belas bacantes foi atingido por um caju que lhe caiu le: a fórmula mágica de tirar vinho filhas dos morubixabas e não as louem cima da cabeça. Newton, quan- do caju transformando a sociedade ras de olhos verdes ou azuis filhas do isso aconteceu com ele, na Ingla- da aguardente e da cana-de-açucar dos reis sangrentos da Europa.
Era o Que Faltava
PRAÇAS SÃO REFORMADAS E ENTREGUES AO POVO
Com o Programa de Adoção de Praças e Áreas Verdes da Prefeitura, as praças da cidade começam a ser ocupadas por grupos de capoeira, jogadores de basquete e futevôlei
A
s praças de Fortaleza têm muitas histórias. A do Ferreira, no centro da cidade, tem este nome em homenagem ao boticário Ferreira que, no século XIX,foi prefeitoe presidente da Câmara dos Vereadores até morrer em 1859. A Marquês de Herval, atual José de Alencar, foi campo de futebol, e a da Lagoinha, entre a Av. do Imperador e Tristão Gonçalves à altura da Guilherme Rocha, tem este nome por causa de uma lagoa que ali existia antes de se tornar espaço público. A Praça da Bandeira, por outro lado, se chamava Pelotas, e era o lugar para onde os circos se dirigiam quando vinham para Fortaleza. A Praça dos Leões só tem este nome por causa de três leões que foram esculpidos na França e colocados ali em 1915. Naverdade se chama General Tibúrcio, em homenagem a este oficial cearense que participou da Guerra do Paraguai de 1864 a 1870. As praças também têm suas particularidades. A General Tibúrcio, por exemplo, possui uma estátua do general que, em 1892 foi atingida por um bombardeio, desferido pelos estudantes do Colégio Militar e, quando caiu, manteve-se de pé. Possui, também, a estátua de Rachel de Queiroz, a autora do “O Quinze”, romance publicado por ela em 1930, quando estava com apenas dezenove anos, e serve depersonagem para muitos que querem tirar uma foto com a escritora cearense no banco onde se encontra. O Passeio Público, nas imediações, possuía distinção de bancos. Um deles era destinadoaos frequentadores demais idade e um outro, usado pelos mais novos. Todos os dias, no final da tarde, os dois grupos se encontravam sem que nenhum dos dois invadisse o espaço do outro. Transferindo-se para a Praça do
Felipe Borges porque, como morava perto, não podia ser diferente. A única reclamação que fazia era quanto à educação do povo que, no lugar de se servir dos muitos depósitos de lixo que havia no local, costumava jogar copos plásticos e garrafas pets no chão. Felizmente, diz ela, a administração da praça, mantida pela Manhattan, com o apoio da Prefeitura, estava presente para cuidar deste deslize e tornar aquele sonho antigo, a reforma da Pedro Felipe Borges, em uma realidade.
FOTOS: BETH DREHER
Engenheira civil, Conceição Ramalho, trocou o Parque do Cocó pela praça depois da reforma
Ferreira, posteriormente, o “banco dos idosos” – também chamado de “O Banco” – existiu até 1968, quando foi derrubado pelo prefeito José Walter para, em seu lugar, levantar os famosos “Jardins Suspensos”. ADOÇÃO DE PRAÇAS Quantas praças Fortaleza possui? Inúmeras. Cento e vinte e quatro delas, porém, foram adotadas por algumas empresas que, em convênio com a prefeitura municipal, se tornaram responsáveis por sua reforma e manutenção. Dentre elas a Engenheiro Pedro Felipe Borges, no Cocó, que agora abriga a população de seu entorno com espaço reformulado e adequado para uso público. Segundo a estudante Fernanda Holanda, de 31 anos, que fazia cooper no local quando a reportagem do Jornal o Estado chegou, a reforma da praça foi um incentivo para seguir com suas atividades físicas. Desde que a Construtora Manhattan assumiu a responsabilidade de cuidar da praça, FOTOS: BETH DREHER
no entanto, muita coisa mudou em sua vida e uma delas era aquilo: fazer cooper todos os dias, participar de roda de capoeira terças e quintas-feiras, a partir das 19h30min, e levar os três filhos para se divertir na praça de vez em quando sem medo de ser agredida porque, além da iluminação pública, que melhorou bastante, havia, também, segurança permanente. E mostrou a Guarda Municipal que se encontrava a postos nas imediações. Denilson da Silva, 17 anos, reforça o depoimento de Fernanda Holanda. Para ele a praça mudou muito. Como ainda é muito novo, frequentava o local mesmo antes da reforma. Mas foi a partir dela que se tornou mais assíduo. Gonçalo Evangelista, 75 anos, reformado e não aposentado, também se encontrava na praça. Demonstrando apego às Forças Armadas com um boné que lembrava o do exército, disse, sentando em um dos bancos da Pedro Felipe Borges, que se sentia um homem privilegiado depois que reformaram a praça. A frequentadora mais animada, no entanto, foi a engenheira civil Conceição Ramalho. Sorrindo sempre, disse, durante a entrevista, que antes da reforma, tinha o hábito de frequentar o Parque do Cocó. Depois dela passou a frequentar a Pedro
EM BOAS MÃOS Gerente de Sala Técnica e Incorporação da Construtora Manhattan, Kildary Rios falou, por telefone, que o Programa de Adoção das Praças e Áreas Verdes da Prefeitura de Fortaleza, por intermédio de suas regionais, é uma grande proposta. Afirmando que a Manhattan havia recebido uma praça da qual todos se afastavam, quando passavam por perto, e entregaram outra, da qual todos se aproximavam, Kildary explica o motivo. A primeira medida tomada pela empresa para acabar com aquela situação de abandono, foi a de mudar o piso que era de pedrinhas portuguesas, por outro, mais adequado para quem costuma correr ou fazer exercícios. Assim, resolveu um problema básico e primordial naquela praça. Depois, acrescentou equipamentos novos logo após reformar os já existentes, e plantou algumas árvores para, assim, melhorar ainda mais o ambiente com novos caminhos para quem gosta de passear tendo, em torno, a natureza. Os novos equipamentos foram os seguintes: pista de skate, um anfiteatro, pelo menos na configuração atual, quadra de futevôlei e algo com o qual somente os que têm compromisso com o que existe de melhor no ser humano, se preocupam: espaço para leitura. Custando um milhão de reais, todo este trabalho, o investimento, segundo Kildary, saiu até pequeno quando se pensa que um projeto como este melhora a situação do bairro e valoriza o metro quadrado no local.
Árvores famosas
CAJUEIROS E OITIS DE FORTALEZA Dois cajueiros e um oiti fazem parte da história do Ceará. O primeiro deles, o Cajueiro da Mentira, e o segundo, o do Fagundes. O oiti do Instituto tinha este nome por causa do Instituto do Ceará
C
ajueiro da Mentira e Cajueiro do Fagundes, são duas árvores famosas em Fortaleza. A primeira tinha este nome, “da Mentira”, porque, todo primeiro de abril, Dia da Mentira, a população de Fortaleza se reunia e elegia, de baixo dele, o maior mentiroso do Ceará. O Cajueiro do Fagundes tem outra história. Nela, o governador Féo e Torres passeava a cavalo nas imediações deste cajueiro quando um de seus galhos derrubou o chapéu que levava na cabeça. Revoltado com isso, o governador pediu ao Fagundes, que estava perto, para que lhe devolvesse o chapéu. Fagundes, no entanto, que era açougueiro e tinha seu negócio em baixo do pé de cajueiro, não se mexeu. Féo e Torres, por sua vez, ficou mais irritado ainda e, em troca, disse para o Fagundes que a intenção dele, no início, era apenas a de derrubar o galho do cajueiro que havia tirado seu chapéu da cabeça mas, diante da atitude arrogante do açougueiro, iria derrubar a árvore toda.
Houve uma árvore em Fortaleza, no entanto, que não resistiu à chamada “sanha ou fúria do progresso”. Trata-se do famoso pé de oiti que havia atrás da Igreja do Rosário em baixo do qual funcionava o Instituto Histórico e Geográfico do Ceará quando ainda não tinha sede. Era para ali que os membros do Instituto se dirigiam e faziam suas reuniões. Por causa disso, passou a ser conhecido como “o oitizeiro do Instituto”. Derrubado em 1929 pelo prefeito Álvaro Weyne que, hoje, é nome de bairro em Fortaleza, conta Otacílio de Azevedo em “Fortaleza Descalça” que quando isso foi feito, o prefeito, para contentar um pouco a revolta do povo que queria manter a árvore de pé, mandou tirar uma foto dela. “Triste Cajueiro da Mentira, na Praça do Ferreira, animava Fortaleza no dia 1o de abril consolo”, escreve Otacílio. E continua. Diz ele, que estava presente No dia seguinte, quando os tra- logo voltaram. Desta vez acompa- à derrubada da árvore, que o povo balhadores do governador chega- nhados pela polícia e os dois gru- chorava toda vez em que os garam para derrubar a árvore, encon- pos entraram em ação. O grupo lhos do oiti eram cortados e caítraram o Fagundes armado de faca do açougueiro, felizmente, se saiu am no chão com suas folhas ainda ao lado de outros açougueiros. vitorioso e o cajueiro em baixo do verdes e viçosas. Era um dilúvio de Assustados, foram embora. Mas qual trabalhava permaneceu de pé. folhas, conclui ele, emocionado. DIVULGAÇÃO
Descalça e pavimentada
HISTÓRIAS E CURIOSIDADES SOBRE AS RUAS DE FORTALEZA
DIVULGAÇÃO
Rua das Belas, das Flores ou da Aurora são nomes de ruas que foram substituídos por Floriano Peixoto, Costa Barros ou Castro e Silva. Aqui, um pouco desta história
Rua Castro e Silva, antiga Rua das Flores, em um fim de semana
PELEJANDO, GRAÇAS A DEUS Presa em junho de 1817 no Crato, Bárbara de Alencar foi acorrentada e enviada a pé para Fortaleza. Aqui foi trancafiada em um calabouço da 10a Região Militar e mantida sob severa vigilância. Tristão de Alencar, tal como ela, também foi preso na mesma Fortaleza, ainda que em outro lugar. Contam que, como não possuía tinta nem pena para escrever, fez, na prisão, o mesmo que o Marquês de Sade, na Bastilha, um pouco antes da Revolução Francesa em 1789: cortou os pulsos e mandou um recado para a mãe redigido com o próprio sangue. Disposto a tudo fazer para fugir porque o tratamento, na prisão, era muito cruel, o revolucionário escreveu o seguinte: “Hoje ou amanhã na ocasião da comida, fugiremos. Dê no que der”. Preocupada, a mãe, que conhecia o filho, mandou o bi-
lhete para o governador que, segundo a lenda, abrandou um pouco mais a situação. Melhorou a comida e deu celas novas e arejadas para os prisioneiros. Morto em combate durante a Confederação do Equador, em 1824, Tristão Gonçalves tornou-se nome de rua, em Fortaleza, após a proclamação da República em 1889. Morreu como queria: “Pelejando, Graças a Deus”. DE REVOLUCIONÁRIO A GOVERNADOR José Martiniano de Alencar, o irmão, teve sorte diferente. De revolucionário como a mãe e o irmão, se tornou governador do Ceará e sobreviveu normalmente até morrer como senador do Império em 1860. Pereira Filgueiras foi outro que participou da Revolução Pernambucana, no Ceará. Mas não ao lado da família Alencar. Tomou o partido do Rei (Dom João VI estava no Brasil nesta época). Combateu a família Alencar e seus partidários no Crato e em outras regiões do Ceará e se saiu vitorioso nesta empreitada. Em 1824, durante a Confederação do Equador, tomou o partido dos revolucionários e não do Império e foi derrotado depois de empreender batalhas memoráveis contra as
forças de Dom Pedro I. Morto em 1825 na prisão, passou a nome de rua, tal como Tristão Gonçalves e Bárbara de Alencar, depois da proclamação da República. O PADRE BENZE CACETE Pinto Madeira tem quase a mesma história. A luta empreendida por ele, no entanto, se deve à partida de D. Pedro I do Brasil, em 1831. Morador de Jardim, nas imediações de Juazeiro, Pinto Madeira se aliou ao padre Antônio Manuel de Souza e aliciou um grande contingente de matutos para formar um pequeno exército. Chegou a reunir duas mil pessoas. Como o pequeno exército não dispunha de armas adequadas para se defender ou atacar, os “cabras” de Pinto Madeira recorreram ao que tinham em quantidade: o cacete que, por sua vez, foi abençoado pelo padre Antônio Manuel que, a partir desse dia, passou a se chamar de “padre benze cacete”. Iniciada a refrega, Pinto Madeira pôs em polvorosa o sertão do Ceará. Derrotado pelo general francês, Pedro Labatut, que participou de outras batalhas no interior do Brasil, foi morto em 1834 depois de lhe ter sido garantida a vida se, por acaso, se rendesse. Outros nomes de
rua de Fortaleza também têm relação direta com este período. Padre Mororó, fuzilado em praça pública por ter participado da Confederação do Equador; Pessoa Anta, outro integrante do movimento, também teve o mesmo destino assim como Feliciano José da Silva Carapinima e Bezerra de Menezes. Este último, felizmente, teve a pena capital comutada em degredo. Aí está um pouco da história do Ceará estampada nas ruas de Fortaleza. Os primeiros nomes dados pelo povo se devem a um acaso feliz. A antiga rua do Cajueiro, por exemplo, tinha esta denominação porque ali existia um açougueiro que entrou em choque com o governador da época, Féo e Torres porque o governador queria derrubar a árvore cujo galho teve a ousadia de tirar o chapéu de Sua Excelência de sua cabeça. Como o negócio do açougueiro funcionava em baixo do pé de cajueiro, o magarefe, acompanhado de alguns colegas, enfrentou a polícia armado de faca e pôs a correr os homens do governador que tinham chegado para derrubar a árvore. Como resultado desta peleja, a rua passou a se chamar “do Cajueiro”. Hoje se chama Pedro Borges. DIVULGAÇÃO
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e um lado, a história de Fortaleza. Do outro, a poesia de seu povo. Na história, nomes como Costa Barros, José Martiniano de Alencar e Major Facundo. Na poesia, os seguintes: Rua da Alegria, do Sol e das Flores. Qual dos dois o leitor prefere para nominar as ruas de sua cidade? Aqueles que foram escolhidos pelo povo ou aqueles que foram dados pela Câmara Municipal? Há nomes de ruas insignificantes. Canuto de Aguiar, quem foi? Ninguém sabe. Mas há outros que fazem parte, de fato, da história do Ceará. José Martiniano de Alencar, já citado, Tristão Gonçalves, irmão dele, e Bárbara de Alencar, mãe dos dois e avó do romancista José de Alencar são alguns deles. A biografia dos três está ligada à Revolução de 1817, que começou em Pernambuco, e à Confederação do Equador que data de 1824.
Hábitos medievais
O CEARÁ DAS MUCAMAS, DO TRABUCO E DAS GARRAFADAS
O noivo que se cuide. Se romper com a filha do coronel, pode receber uma bala de cera como aviso. O hóspede indesejado acordar e dar com dois cacetes cruzados diante da porta
SAÚDE A medicina era uma pequena tragédia. O doente tinha que ficar nove dias recolhido em uma camarinha escura com os ouvidos tapados por algodão. E por que isso? Para que o vento não entrasse por eles. Para as pisaduras, quedas e surras de pau, a receita era uma certa beberagem tirada d e entre a casca do jucá e para as moléstias do mundo, um “drástico horrível” que, “por pouco”, dizem certos entendidos nisso, “não deixavam o paciente completamente morto”. “Remédio que dói”, diziam os sertanejos deste tempo, “é o que cura”. Assim, para gente forte, meizinha “braba” nele. Havia remédios imaginários também. E a oração era uma delas. Para curar “isipa” (erisipela) nada como a Ave Maria e se alguém ficar com a boca torta por causa de uma congestão cerebral, o jeito era rezar a Ave Maria e dar, ao paciente, a famosa garrafada que, segundo alguns médicos, hoje, foram mais danosas do que medicinais para muita gente. Mas nem só para isso
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ilberto Freyre escreve, em algum lugar de “Sobrados e Mocambos”, que as mulheres, no Brasil colonial, não tinham o hábito de receber ninguém dentro de casa. Se, por acaso, surgia uma visita e esta visita fosse um homem, entravam correndo para um quarto enquanto o pai e os filhos homens iam para fora. No Ceará, pelo menos no interior, esta prática continuou até tarde. A coisa era tão séria que a noiva chegava ao cúmulo de só conhecer o noivo no dia do casamento e se, por acaso, houvesse algum tipo de transgressão da parte dele, a reação era imediata. A família mandava um ultimato para o noivo: casava ou morria e tal aviso nem sempre era acompanhado de palavras. O pai da noiva, simplesmente mandava uma bala de cera para o noivo e ele entendia tudo. As mulheres, por sua vez, também não sabiam ler ou escrever. E a razão disso também era moral. Os pais não queriam que as filhas mandassem ou recebessem bilhetinhos de seus namorados. Assim, impediam qualquer tipo de formação intelectual da parte delas. Montar a cavalo como os homens, no entanto, era permitido. A prática de montar em selins é bem mais recente, por incrível que pareça. O casamento era motivo para uma festa que durava de dois a três dias. Principalmente se a família do casal fosse rica. Neste caso, se punha abaixo a “criação” quase toda praticando, no Ceará, o que, na Grécia, se chamava “hecatombe”. E quando nascia uma criança a festa também era grande. Desde que o renascido fosse menino porque, se fosse menina, os fogos de artifício e as bebidas continuavam guardados esperando o próximo rebento. As mucamas (escravas domésticas), por sua vez, tinham várias serventias dentro de casa. Uma delas era a de lavar os pés da mãe e de suas filhas antes de se deitar. Outra era a de acompanhar as mesmas nas viagens que faziam de rede ou em liteiras. As mucamas a pé, naturalmente, e suas senhoras devidamente acomodadas.
Trabucos e garrafadas faziam parte da cultura cearense no tempo dos coronéis
serviam as orações. A “Oração da Estrela do Céu”, por exemplo, livrava as plantações de todo tipo de bicho e insetos daninhos e se alguém queria curar o rebanho de algum mal, o rezador não precisava, sequer, estar presente. Bastava saber a direção do gado para se posicionar naquele rumo com um ramo qualquer nas mãos e rezar. Pronto. Estava tudo resolvido. Os tapurus caiam do pelo dos animais. “Animal”, aliás, era uma palavra que se destinava, normalmente, ao cavalo. As outras alimárias eram chamadas de criação. Os curadores de mordida de cobra agiam de maneira diferente. Não rezavam. Mas mandavam, para o doente, uma jaqueta, por exemplo, que usavam que,
se o doente não tivesse morrido ainda, era capaz de se curar imediatamente. Pelo menos era o que fazia um certo Saldanha, natural de Sobral, que se tornou famoso com suas curas milagrosas à distância. ESTÉTICA E o que dizer da beleza cultivada pelos homens e mulheres do sertão cearense? Haverá algo mais esquisito do que aquilo, na África, no qual as mulheres alongam o pescoço pondo, em volta dele, uma série quase interminável de argolas que, com o tempo, se forem retiradas, é bem capaz de o pescoço se partir só com o peso da cabeça? E na China, onde as mulheres encolhem os pés o máximo que podem a ponto de se tornar redondos e não compridos como no resto do mundo? Pois no sertão cea-
rense a prática também não era diferente. Baseados, sabe-se lá em que, o hábito era limar os dentes para que se tornassem pontudos. E isso valia para homens e mulheres. Agora imaginem uma sociedade na qual todos os membros tivessem os dentes assim, limados em ponta como dos tubarões? Seria horrível. Mas não para o sertanejo dos século XVII e XVIII. E se, por acaso, alguém reclamasse, corria o risco de ser mandado embora tal como certo bacharel que não fez, pelo manda-chuva do lugar, o que queria. Recebia dois cacetes cruzados diante da porta onde dormia. O próximo aviso, se não fosse
embora, era o de receber a visita de um homem com barbante nas mãos medindo a altura e a largura do cidadão para, em seguida, dar início ao caixão. Os filhos também não podiam fazer a primeira barba sem, antes, avisar ao pai. Se este consentisse, a barba seria feita. Também, se não consentisse, teria que ficar com ela até a mãe ou uma das irmãs interceder a seu favor. Não podiam passar em frente à casa do pai sem descer do cavalo e pedir à bênção. Só então, podiam seguir viagem. Digamos que um dos filhos fosse agredido física ou moralmente por alguém. Não podia voltar para casa dos pais antes de se vingar da afronta. Mascar fumo e cuspir nas paredes, em seguida, era considerado um ato elegante e não uma falta de educação como seria hoje. A CAPITAL Em Fortaleza, os costumes eram diferentes. Como se tratava da ca-
pital do estado, ainda que o município fosse menor do que Aracati, Sobral e Icó, era aqui, afinal, que ficava o presidente da província e rezava a tradição que ninguém podia ter uma casa mais alta do que a dele. Assim as casas podiam até ser ricas e ter candeias e arandelas suspensas sobre as portas, mas não podiam ser mais altas do que a do presidente da província. A primeira casa de dois andares levantada em Fortaleza, aliás, data de 1825 quando um engenheiro, chamado Conrado Jacó de Niemeyer teve a coragem de romper com uma superstição antiga da cidade. Dizia ela que, como a capital cearense ficava em cima de um terreno
muito arenoso, não estava apta a ter prédios de dois andares. Niemeyer mostrou o contrário. Ergueu a casa do coronel Machado no lugar onde, no futuro, funcionou o Excelsior Hotel. Todo mundo, nesta época, dormia de rede. As camas, quando existiam, ficavam em lugar alto. Era preciso subir uma escadinha de três ou quatro degraus para chegar até ela. As crianças, quando nasciam, passavam por um ritual. Em Roma, o recém-nascido tinha que ser levantado do chão pelo pai para, assim, ser aceito por ele e reconhecido pela família. Caso o pai não fizesse isso, o filho ou a filha era enjeitado e abandonado em algum lugar. No Ceará a prática era diferente. O menino, desde que bonito, era colocado em uma bandeja e levado de casa em casa para ser mostrado para os vizinhos. Mais tarde, quando crescia, o pai dizia, para quem não conheceu o filho na infância, que tinha sido “menino de bandeja”.
A árvore da vida
CERAS, CASAS E SOMBRAS EXTRAÍDAS DA CARNAUBEIRA Símbolo do Nordeste brasileiro, as carnaubeiras são mais vistas no Ceará e no Piauí. Consideradas a “árvore da vida”, pelo naturalista alemão Humboldt, dela se extrai a cera e se constrói casa no sertão
As carnaúbas dão sombra, alimento e moradia aos cearenses
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s carnaubeiras, para quem adentra os sertões do Ceará, sempre chamam a atenção de longe. Ali estão elas, às margens de um rio ou no meio de um descampado mostrando a sua copa que mais parece um cocar de índio do que qualquer outra coisa. Natural do Nordeste, mais do que do Brasil, as carnaubeiras são vistas, principalmente, no Ceará e no Piauí. Duas regiões secas que rivalizam uma com a outra neste sentido. Resistentes à falta d’água, portanto, são elas que, muitas vezes, servem de alimento para o nordestino faminto e, claro, para o gado que o acompanha. Neste momento ela lhe serve, inclusive, de sombra se, por acaso, se embrenha no desconhecido em busca de proteção em algum lugar. Chamada de “árvore da vida” pelo naturalista alemão Humboldt, esta expressão se deve pelo
fato de ela ser totalmente usada pelo nordestino ao longo de sua vida. O tronco, muitas vezes, vira linha, caibro e ripas nas famosas casas de taipa ou de alvenaria. Os talos, ou percíolos, se transformam em portas e janelas, tipo veneziana, ou em cercas, jiraus e lastro de cama. A cabeça do talo, muitas vezes, é aproveitada como rolha para fechar garrafas, tal como se faz com a cortiça enquanto as folhas, muitas vezes, são aproveitadas no fabrico de chapéus, bolsas, surrões ou cobertas de casa. E não é só. As folhas verdes também servem de alimento ao gado bovino assim como o fruto. O palmito, por sua vez, extraído, normalmente, das palmeiras mais novas, também é consumido pelo homem, principalmente nos tempos de seca. Como se isso não bastasse, a carnaubeira tem outra função: a ornamentação. Há algo mais belo do que um carnaubal em torno
de uma piscina ou de um lago? CERA O produto mais cobiçado da carnaubeira, no entanto, é a cera. Extraída principalmente de setembro a dezembro, é neste período que suas folhas são colhidas e postas a secar ao sol durante três a quatro dias. Terminado o prazo, elas são levadas para lugar fechado e aí são batidas para que o pó se desprenda delas. Feito isso, o pó é levado ao fogo com um pouco de água e sal de azedas. Esse, pelo menos, era o processo antigo que tinha, como objetivo, retirar parte da poeira e dos detritos misturados à cera pelo vento quando da exposição das folhas da carnaubeira ao sol. Em seguida, a cera, aquecida em água, era coada com pano grosso ou em prensas de madeira. BRANCAS E VERMELHAS Dividida e subdividida em
várias espécies, há duas delas, no entanto, que se sobressaem: a carnaubeira “branca” e a “vermelha”. A primeira é chamada Direita, a segunda, Esquerda. O nome se deve ao crescimento das folhas. Dizem os entendidos que quando as folhas da carnaubeira branca, também chamada Direita, nascem, fazem isso da direita para a esquerda enquanto a outra, “vermelha” ou Esquerda, tomam o sentido inverso: vão da esquerda para a direita. Muitas, na verdade, são as particularidades que se conta sobre as carnaubeiras. Nenhuma delas, no entanto, se compara com esta que a consideram natural do Nordeste brasileiro e, em especial, do Ceará onde ela impera, absoluta, sobre os sertões acompanhada, talvez, do cajueiro e pitombeira. Estas duas, no entanto, ainda podem ser vistas em regiões altas como as serras. A carnaubeira, não.
COPA NA CAPITAL
A BOLA VAI ROLAR EM FORTALEZA
Cearenses terão quatro jogos na Arena Castelão, um dos estádios mais completos da Copa do Mundo. Conheça um pouco mais sobre cada seleção e os destaques que estarão em campo
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Clube: Manchester United (ING) É certo que o México vive tempos difíceis com relação ao futebol e que sua safra atual de jogadores é uma das mais fracas, no entanto, Javier Hernandez é um dos poucos que fazem jus à história do futebol mexicano. Dono de um poder finalização preciso, além de considerável qualidade técnica, Chicharito (que significa pequena JOEL CAMPBELL ervilha) não tem tido grande espa(ATACANTE) ço nos Red Devils, mas atuando IDADE: 21 com a camisa de seu país o ataCLUBE: OLYMPIACOS (GRE) A juventude deste artilheiro po- cante é sempre perigoso e se desdem ser o diferencial para, pelo taca. Resta saber se Hernandez menos, uma campanha honrosa terá forças, praticamente sozinho, da Costa Rica na Copa do Mundo de levar o México às fases seguindo Brasil. Logicamente que uma tes da Copa do Mundo, o que já classificação para as oitavas de fi- seria, no mínimo, uma surpresa. nal, em um grupo que possui três campeões mundiais como Itália, MANUEL NEUER (GOLEIRO) Inglaterra e Uruguai, é algo que IDADE: 28 transcende a barreira do imaginá- CLUBE: BAYERN DE vel. No entanto, se os costarrique- MUNIQUE (ALE) A Alemanha chega ao Brasil nhos possuem alguma esperança de fazer um bom Mundial, todas credenciada a ser uma das granelas estão depositadas em Joel des favoritas ao título mundial, reCampbell, artilheiro do país nas cheada de nomes de peso, jogaEliminatórias, um atacante que flu- dores que foram multicampeões tua por todo o setor ofensivo, sai nos últimos anos. Mas ninguém para buscar jogo e se apresenta chama mais a atenção que justacom muita qualidade dentro da mente o camisa 1. Manuel Neuer grande área. A seleção da Cos- é considerado o melhor goleiro do ta Rica pode até não apresentar mundo e uma das peças fundagrande coisa no torneio, mas com mentais para que a seleção de Jocerteza a torcida verá um bom de- achim Löw não decepcione e chesempenho do garoto de 21 anos gue, pelo menos, a grande final. Neuer tem uma qualidade invejáque atua no futebol grego. vel na meta. Dono de um reflexo invejável, o goleiro do Bayern de NEYMAR (ATACANTE) Munique chama a atenção com IDADE: 22 suas defesas fantásticas e saídas CLUBE: BARCELONA (ESP) Um talento indiscutível. Neymar arrojadas, que complicam a vida surgiu no Santos e logo foi reco- de qualquer atacante. A grande innhecido como o protótipo de cra- cógnita é que o goleiro de 28 anos que. Os anos passaram e a pro- não chega 100% ao torneio, mas jeção se confirmou. Hoje, a Joia, torcemos para que o problema no como ficou conhecido quando ain- braço não lhe atrapalhe. da era um moleque no Peixe, veste a camisa do Barcelona e, aos KEVIN-PRINCE BOATENG poucos, foi conquistando seu es- (MEIO-CAMPISTA) paço na Catalunha. Tudo bem que IDADE: 27 LUIS SUÁREZ (ATACANTE) a temporada barcelonista não foi CLUBE: SCHALKE 04 (ALE) IDADE: 27 Um meio-campista de muita lá grande coisa, mas o camisa 10 CLUBE: LIVERPOOL (ING) Sem dúvidas, ‘Luizito’ Suárez da Seleção ganhou reconhecimen- habilidade, toques refinados, drifez uma temporada estupenda to, experiência e moral para assu- bles fáceis e grande poder de fie quase comandou o Liverpool mir o posto de estrela da principal nalização. A descrição pode até ao título inglês. Mas, apesar de a seleção do mundo. Neymar levou parecer exagerada, mas não é. conquista ter ficado com o Man- o Brasil a conquista da Copa das Kevin-Prince Boateng é o princichester City, o camisa 9 celeste Confederações e é a grande espe- pal nome da seleção de Gana no foi considerado um dos principais rança verde-amarela de levantar a Mundial e nele estão as esperanças da torcida de ver as Estrelas jogadores na Europa, o que lhe taça de campeão pela sexta vez. Negras avançarem na competicredencia a vir ao Brasil disposto ção. Boateng é alemão de nascia levar o Uruguai bem mais longe JAVIER “CHICHARITO” mento, mas optou por defender do que se espera. Suárez operou HERNANDEZ (ATACANTE) os ganeses por ser o país-Natal o joelho semanas antes do Mun- IDADE: 26 Arena Castelão foi um dos estádios que mais chamaram a atenção do grande público que esteve em Fortaleza para prestigiar a Copa das Confederações, além de quem já teve a oportunidade de assistir a alguma partida na principal praça esportiva cearense. A imponência da arena, total visibilidade de qualquer ponto ou lugar do estádio, o conforto e toda a atmosfera que se cria no lugar em dias de jogos fazem com que o Castelão se transforme em um verdadeiro caldeirão fervente e pulsante, estabelecendo uma sintonia ímpar entre campo e arquibancadas, é como se o torcedor presente jogasse junto e sentisse a emoção de quem está no gramado. Mas não é só a torcida que estará no estádio torcendo pelo escrete pentacampeão não, já que Fortaleza sediará, pelo menos na fase inicial da Copa do Mundo, quatro partidas e, logicamente, que a Arena Castelão receberá milhares de fanáticos torcedores das demais seleções. No entanto, os brasileiros também prestigiarão os confrontos das demais equipes e O Estado, pensando em quem irá ao Castelão, independente de qual partida assistirá, preocupou-se em trazer dicas, informações e um perfil completo das oito seleções que desfilarão seus talentos no gramado cearense. Na segunda fase, a Terra da Luz terá mais dois jogos do torneio, e os comandados de Felipão, caso se classifiquem em segundo lugar do grupo A, poderão voltar nas oitavas de final.
dial, mas sua presença em campo está garantida pelos médicos de sua seleção. O atacante, baixinho e polêmico, forma um trio de ataque poderoso com Diego Forlán e Edinson Cavani, que está entre os melhores da Copa, agora não se sabe até aonde o Uruguai pode chegar.
de seu pai, diferentemente de seu irmão, Jeróme, que escolheu atuar pela Alemanha. A dupla estará frente a frente na Copa, já que as seleções caíram na mesma chave. Kevin-Prince tem boa experiência, passou por grandes clubes e hoje é a estrela do Schalke 04. Polêmico, o meia-armador já sofreu com racismo e tem um temperamento pra lá de forte. MITROGLOU (ATACANTE) IDADE: 26 CLUBE: FULHAM (ING) O avante grego tem cheiro de gol e uma qualidade incrível para fazê-los. Kostas Mitroglou tem cara de mau e dentro de campo, de fato, não costuma perdoar seus adversários, aliando velocidade e qualidade técnica, tudo isso em benefício da contestada seleção da Grécia. Mas o atual momento é um dos piores na carreira do atacante. Mitroglou passou boa parte da temporada com uma lesão no joelho e isso o fez entrar em campo pelo Fulham, seu clube, apenas três vezes na temporada. O problema físico gerou rumores de que não estaria no Brasil, mas o treinador português Fernando Santos, que comanda os gregos, sabe do potencial de Mitroglou e preferiu contar com o matador em sua lista de convocados. Ao lado de Salpingidis e Samaras, Mitroglou pode desequilibrar e levar sua seleção a uma segunda fase. YAYA TOURÉ (MEIO-CAMPISTA) IDADE: 31 CLUBE: MANCHESTER CITY (ING) O principal nome da seleção marfinense é dono de uma qualidade como poucas vezes se viu em um jogador que tem como função primordial desarmar e destruir jogadas. Yaya Touré foi o grande destaque do Manchester City campeão inglês da temporada e chega credenciado a ser um dos grandes jogadores da Copa do Mundo. Yaya joga um pouco mais avançado na seleção que em seu clube, com mais liberdade para encostar no trio de ataque e arrematar a gol, o que é uma de suas grandes virtudes. Ao lado de Drogba, o meio-campista tenta levar Costa do Marfim as oitavas de final, pelo menos, mas terá de superar Brasil, México e Croácia.
Confiança UMA CAPITAL VERDE E AMARELA... Sede de uma partida da seleção brasileira, Fortaleza já está devidamente preparada para receber a Copa do Mundo e tingida pelas cores da alegria e da vitória. O cearense já respira Brasil
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ortaleza foi uma das sedes que mais se destacou durante as disputas da Copa das Confederações, em 2013, tanto pelas belezas naturais da capital alencarina quanto pela festa protagonizada pela torcida cearense na moderníssima Arena Castelão, em todos os jogos realizados em nossa terra, mas principalmente na vitória da seleção brasileira sobre o México - partida em que voltará a se repetir também na Copa do Mundo. Os quase 60 mil espectadores torceram, vibraram e ainda entoaram, a plenos pulmões, boa parte do hino nacional, eternizando uma das cenas mais emocionantes da competição. Até Luiz Felipe Scolari, técnico canarinho, se rendeu à energia do povo cearense. “O que se viu em Fortaleza foi algo fantástico, tirou lágrimas dos jogadores, arrepiou, tomara que seja assim em todos os jogos como foi em Fortaleza”, disse Felipão. Ao contrário do que muitos pensam, a Copa do Mundo em solo fortalezense despertou sim o espírito patriota na grande maioria dos cearenses, a bandeira, guardada há tempos, saiu da gaveta, foi desfraldada e pendurada com todo orgulho nas sacadas dos apartamentos, nos portões das casas, nos comércios, nos carros, enfim. O Mundial mexe com a emoção, traz consigo uma energia especial e o sentimento de querer mais uma estrela
no peito é compartilhado pela cidade, pelo Estado, por toda a nação. O verde-amarelo dá o tom das ruas e avenidas, várias delas já devidamente caracterizadas por bandeirinhas e faixas, desenhos em paredes, calçadas e asfaltos, pinturas que colorem até as árvores. Isso sem falar nos automóveis que já desfilam por todos os lugares ostentando adereços alusivos à Seleção. Fortaleza está vestida de Brasil. Incontáveis as vias decoradas com as cores brasileiras e o orgulho estampado no rosto do cearense. “Copa do Mundo é algo especial, um momento que só podemos prestigiar de quatro em quatro anos, então tem de enfeitar a casa, a rua, o bairro. É chamar a vizinhança e torcer junto”, explicou Francisca Ribeiro, que relata contar os dias pra ver o Brasil em campo. “O cearense torce mes-
mo, os protestos não precisam ser agora, na Copa, agora é hora de assistir a seleção brasileira. É hora de Copa”, completou. Os moradores da Rua Antônio Augusto, no bairro Joaquim Távora, fizeram bonito e trataram de iniciar cedo a ornamentação da rua. “Ficou bonito, o asfalto pintado, as paredes, as bandeiras lá no alto, e olha que todos os dias a gente faz um pouquinho mais. “De tarde, de noite, vamos enfeitando mais e mais. Tudo pelo Brasil”, revelou Antônio dos Santos, morador e torcedor fanático pela seleção de Felipão. E DIGA O VERDE-LOURO DESTA FLÂMULA... Não são só as ruas e avenidas de Fortaleza que traduzem o real sentimento patriota com relação ao Brasil e à Copa do Mundo. Estabelecimentos comerciais, como
COPA DO MUNDO FIFA 2014
bares e restaurantes, por exemplo, também apostaram na ornamentação dos espaços para atrair a clientela e fazer com que o fortalezense, assim como também o turista, já sinta o clima que envolve todo o País. “A gente percebe que o consumidor faz questão de sentir o ambiente de Copa do Mundo, ele quer entrar no embalo do Mundial e para isso temos de dar o que ele quer e merece: uma overdose de Brasil. O cearense é patriota sim e tem de ser mesmo, vamos torcer juntos, receber bem os turistas e vibrar com os gols do Neymar”, disse Helano Moreira, proprietário do tradicional Bar do Helano, também localizado no bairro Joaquim Távora. A verdade precisa ser dita: o cearense é um verdadeiro alucinado pela seleção brasileira, um fanático pela camisa verde-amarela, e por isso fará uma grande festa quando os comandados de Luiz Felipe Scolari entrarem em campo, seja em São Paulo, em Belo Horizonte ou aqui, na Arena Castelão, diante de mais de 60 mil espectadores, que certamente farão uma festa igual ou melhor do que a vista na Copa das Confederações. Que venham os alemães, os espanhóis, os italianos, até mesmo os argentinos, porque já nossa seleção jamais estará sozinha, jamais, pois aqui encontrarão quase 200 milhões de corações pulsando juntos, unidos por um só sentimento: o de ser hexacampeão!
Theatro José de Alencar
MISTÉRIOS E SINGULARIDADES DE UM EDIFÍCIO SECULAR F
Inaugurado em 1910, o Theatro José de Alencar possui uma bailarina misteriosa em seu interior e uma estrutura de ferro que o torna único em todo o Brasil
ortaleza precisava, urgentemente, de um teatro capaz de atender às exigências daqueles que moravam na Capital cearense em fins do século XIX. Assim, surgiu o Theatro José de Alencar. Iniciado em 1894 com o lançamento da pedra fundamental, a autorização para que as obras tivessem início, no entanto, só aconteceu em 1908. Em 1910, finalmente, o Theatro foi inaugurado ao som da Banda Sinfônica do Batalhão de Segurança do Estado, regidas pelos maestros Luigi Maria Smido e Henrique Jorge. Na Praça Marquês de Herval que, no futuro, também se chamaria José de Alencar, Fachada do Theatro José de Alencar o povo acompanhava a cearense que nasceu em 1871 e inauguração com fogos tinha este nome porque lhe faltade artifício. Ocupando um espaço que, va parte do braço direito) exibem, no passado, foi do Batalhão da para o público que fica na plateia Segurança (Polícia) e da Escola de baixo, o título dos romances Normal Pedro II, a estrutura de do autor de Iracema. Na lateral esquerda do edifício, ferro, com a qual foi montado, para onde o sol nasce, o paisaveio toda ela de Glascow, Escógista Burle Marx projetou, na décia. Considerado um dos únicos teatros do Brasil que possui esta cada de 1973 (com reforma em arquitetura de ferro (o outro seria 1991) um jardim no qual se pode o de Belém) o Theatro José de ver carnaubeiras, pleomelas, ipês Alencar não homenageia o escri- e outras árvores resistentes ao tor cearense apenas no nome. As sol e ao calor. No fundo do jarfrisas do segundo andar do pré- dim, para o norte, fica um palco dio, que foram pintadas por Ra- aberto com um ciclorama (supermos Cotoco (um artista plástico fície para cenário) de 12 metros
de que era um fantasma que tinha o hábito de dançar até de madrugada no palco. Pensam os funcionários do Theatro que a bailarina do José de Alencar quer contar uma história, mas como ninguém tem coragem de se aproximar dela, ela não consegue, sequer, abrir a boca para começar a falar. Verdade ou não, o certo é que o Theatro José de Alencar possui, hoje, tudo aquilo que todo teatro de grande porte, no mundo, tem que ter: um jardim projetado por um paisagista conhecido do lado esquerdo de quem entra no prédio um anexo com dois mil metros quadrados no qual se de altura formado, todo ele, por encontra uma biblioteca uma trepadeira e não por uma um centro de artes cênicas; e saparede ou uma cortina. Para a di- las de ensaios. Para coroar tudo reção do Theatro, este é o único isso, um fantasma que, como ciclorama vivo no mundo por se dizem os ingleses, é indispensátratar de um vegetal. vel em todo prédio antigo que se Inaugurado em 1910, em 2010 preza como é o caso do Theatro o Theatro José de Alencar com- José de Alencar. pletou cem anos. Contam seus Aberto para visitação pública funcionários que houve uma épo- de terça a sexta-feira das 9h às ca em que uma bailarina misterio- 17h e sábados e domingos das sa começou a ser vista pelo inte- 14h às 17h. Entrada pela Rua Lirior do edifício sem que ninguém berato Barroso, s/n. Oferece guia soubesse de quem se tratava. turístico em inglês e francês desComo era surpreendida pelos de que agendado antecipadacorredores quase sempre de ma- mente. Informações: 3101.2568 drugada, chegaram à conclusão ou 3101.2567.
Mercado Central
DISCO VOADOR, COMIDA TÍPICA E ARTESANATO CEARENSE NO CENTRO DE FORTALEZA
Existindo desde 1809, o Mercado Central, reformado em 1998, adquiriu a estrutura que tem hoje: a de um disco voador que vende artesanato e comidas típicas do Ceará No início, por volta de 1809, o Mercado Central, que hoje se estende por um espaço de 9.690 metros quadrados de área construída com cinco pavimentos e 553 lojas, não passava de uma construção de madeira na qual vendiam-se carnes, frutas e verduras. Na reforma de 1931, deixou de vender produtos perecíveis para vender produtos artesanais. Mas foi na reforma de 1975 que adquiriu quase o tamanho que tem hoje. Nela foram ampliadas as suas dimensões e acrescentados os seus corredores. Com a transformação de Fortaleza em um ponto turístico, o velho Mercado passou por uma nova reforma, em 1998, quando o arquiteto Luiz Fiúza deu a ele a aparência de um disco voador que pousou em Fortaleza e trouxe, para a Capital do Estado, vários turistas interessados em conhecer as artes, o artesanato e a culinária cearense. Localizado à Av. Alberto Nepomuceno, 199, o Mercado Central fica aberto de segunda a domingo. Das 8h às 18h, de segunda a sexta-feira; das 8h às 17h, sábado; e das 8h às 14h, domingo. Informações: (85) 3454.8586.
O Palácio e a Aguardente
SUBSÍDIOS DA CACHAÇA PAGAM PALÁCIO DA LUZ Levantado no século XVIII e adquirido pela Fazenda Pública, o Palácio da Luz, antiga sede do governo estadual, foi pago com imposto da cachaça
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ada se assemelha mais ao Ceará do que a luz do sol. Por isso mesmo, quando os escravos foram libertados em 1884, quatro anos antes de a princesa Isabel assinar a Lei Áurea no Rio de Janeiro, José do Patrocínio disse, de uma tribuna, que o Ceará era a “terra da luz”. Palácio da Luz, portanto, é o nome do prédio onde o governo do Estado do Ceará residiu por muitos anos, em Fortaleza. Atualmente, se chama Palácio da Abolição em homenagem, mais uma vez, à libertação dos escravos e aos abolicionistas cearenses. O prédio foi construído no século XVIII pelo Capitão-Mor Antônio de Castro Viana que se serviu, para isso, de tijolos do Cocó e telhas de Aracati. Morto o capitão, em 1801, deixando uma dívida fabulosa com a Fazenda Pública, o palácio foi penhorado e quem o adquiriu foi a Câmara em 1802. Para pagar o débito adquirido, no entanto, a Câmara promulgou um novo im-
menos três vezes. A primeira em 1892, quando da deposição do general Clarindo de Queiroz; depois, em 1912, com a queda de Nogueira Acióli e, em 1914, em um tiroteio no qual as paredes do edifício foram praticamente bordadas a bala. Restaurado várias vezes, o palácio fica ao lado da Praça General Tibúrcio, também conhecida como dos Leões e abriga, hoje, a Academia Cearense de Letras, a mais antiga do Brasil já que foi fundada em 1894, três anos antes da Brasileira que data de 1897. Aberta posto: o subsídio da aguardente da cachaça. A história do Palácio da Luz, a ao público de segunda a sextaque consistia em quatro mil réis sobre as pipas importadas de partir de então, tomou um rumo -feira das 8h às 16h não possui Pernambuco. No Ceará, escreve novo. Como tinha sido apenas guia turístico especializado. LoGustavo Barroso em “À Margem residência de Antônio Castro calizada na Rua do Rosário, 01, da História do Ceará” as coisas Viana não havia sofrido nenhum Centro de Fortaleza, as informasão assim: consegue-se um pa- atentado. Mas, como sede do ções podem ser obtidas pelo telácio, muitas vezes, às custas governo, foi bombardeado pelo lefone (85) 32260326.
O bode do museu
MUSEU ANTROPOLÓGICO EXIBE UM BODE EM SEU ACERVO
Exposto ao lado de Pe. Cícero, beato Zé Lourenço e boticário Ferreira, o Bode Ioiô, que encantou Fortaleza no início do século XX, chama a atenção dos turistas A história do bode Ioiô tornou-se lenda. Vindo do interior do Estado para a Capital cearense com um grupo de retirantes na seca de 1915, o bode foi vendido para a Rossbach Brazil Company. A intenção dos compradores, naturalmente, era a de matar o animal e curtir o couro. Mas algo muito estranho aconteceu. O representante da Rossbach Brazil Company, quando comprou o caprino dos flagelados, não estava na Companhia. Estava se divertindo com um grupo de amigos. Assim, um deles resolveu embriagar o bode. Embriagado, o bode Ioiô, que ainda não tinha este nome, demonstrou uma outra particularidade de sua personalidade. Chorar, toda vez que aquele grupo de amigos, para homenagear um companheiro morto, recentemente, cantava a música de que ele mais gostava. Os boêmios, quando perceberam isso, chegaram a uma conclusão: a alma do amigo, que havia morrido porque foi solenemente rejeitado por uma beldade local, tinha migrado para o corpo daquele animal e ali estava ele, novamente, bebendo e chorando por sua amada. Os amigos, diante disso, resolveram preservar
o invólucro daquele bicho dentro do qual, segundo eles, encontrava-se a alma do velho companheiro. Salvo por milagre, o bode Ioiô passou a residir, na Praia de Iracema, antiga Praia do Peixe, e todos os dias dirigia-se para o Centro de Fortaleza. Ali era recebido e homenageado por todos como se carregasse, de fato, a alma daquele que havia morrido por amor. Com a morte do bode, em 1931, o caprino foi empalhado e doado para o Museu Histórico do Ceará, atual Museu do Ceará, onde ainda hoje encontra-se com sua barbicha eriçada e seu olhar quase humano. Criado em 1932, o Museu do Ce-
ará não possui apenas o bode para mostrar a seus visitantes. Ali também se pode ver objetos que pertenceram aos povos indígenas que habitaram o Ceará antes de os portugueses chegarem por aqui; armas de fogo que foram usadas por cangaceiros e coronéis do interior do Estado; batina, chapéu e cajado do padre Cícero e, ao lado, as foices e machados do Caldeirão que serviram a Zé Lourenço e seus beatos de instrumento de guerra para enfrentar os aviões que, pela primeira vez, o Exército brasileiro usava para combater seus inimigos. A história de Fortaleza, naturalmente, também passa por ali
quando o Museu mostra o quadro “Fortaleza Liberta” no qual o artista plástico, José Irineu de Souza pintou, ainda no século XIX, a libertação dos escravos no Ceará e o livro de prata que os portugueses, que moravam em Fortaleza, deram para os abolicionistas redigir a primeira Ata da Libertação dos Escravos. Localizado na Rua São Paulo, o prédio no qual o Museu se encontra é uma verdadeira preciosidade arquitetônica no centro de Fortaleza. Levantado pelo engenheiro suíço Adolfo Herbster, em 1871, desde então tem servido de sede para várias instituições. Dentre elas, a Assembleia Legislativa, a Academia Cearense de Letras e, finalmente, o Museu do Ceará que ali está desde 1990 com suas doze mil peças divididas em várias coleções: numismática, mobiliário, indumentária, pintura, fotografia e arqueologia. Aberto de terça a sábado das 9h às 17h na Rua São Paulo, 51, o Museu do Ceará oferece guia turístico que se comunica em inglês. A visita, no entanto, para estrangeiros, tem que ser marcada com antecedência. Informações e agendamentos pelo telefone: (85) 3101.2610.
Culinária nordestina
O SABOR INCONFUNDÍVEL DE FORTALEZA
Baião de dois, carne de sol e o famoso peixe assado na telha da Beira Mar podem e devem ser aproveitados por turistas e cearenses em Fortaleza. As caranguejadas de quinta-feira e as tapioqueiras de Messejana são outras boas pedidas
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oda quinta-feira, boa parte da população de Fortaleza prepara-se para invadir a Praia do Futuro. São aquelas pessoas que saem de casa, à noite, e não durante o dia, e vão participar da caranguejada noturna. Diferentemente de qualquer outro lugar do mundo, a caranguejada está, para a população de Fortaleza, na mesma dimensão em que o sol e o mar estão para todos aqueles que pensam em ir à praia nos fins de semana. E não é para menos. Cozida normalmente com verduras, legumes e leite de coco, a caranguejada das quintas-feiras da Capital cearense ainda vem acompanhada com um saboroso caldo que, como se não bastasse, pode ser preparado de várias maneiras. O baião de dois, tão conhecido no Ceará, é um prato tradicional feito à base de arroz e feijão. Cozidos juntos e temperados com verduras, queijo coalho, nata de leite salgada e cheiro verde, também recebe outros ingredientes dependendo de quem o faz e procura adivinhar, dentre os clientes, o que mais convém a cada um. A paçoca, por sua vez, é uma farofa feita à base de farinha de mandioca, carnes de sol pisada no pilão e cebola roxa. A tapioca é uma iguaria tradicional feita com goma de mandioca, mas que já ganhou uma porção de inovações ao longo do tempo. Tem tapioca com coco ralado e outras que são feitas com camarão e catupiry. Muitas delas podem vir recheadas com carne de sol, por exemplo. A carne de sol, outra comida típica do Ceará, reúne, em sua feitura, a carne e um elemento mais típico do nordeste brasileiro do que de outros lugares do Brasil: o sol. Tirada a carne do boi, ela é exposta durante alguns dias
privilegiado. Trata-se do Centro das Tapioqueiras, que fica na Av. Washington Soares, 10.215, Messejana. Nele, o cliente não se restringe apenas à tapioca comum. Contando com 26 boxes e funcionando de segunda a segunda, as tapioqueiras oferecem aos clientes 70 sabores diferentes de tapioca preparadas por cozinheiras hábeis na profissão. Funcionando das 5h30min à meia-noite, as informações sobre o local podem ser obtidas pelo seguinte telefone: (85) 3274.7565/3274-7565.
à luz solar e, quando é retirada, seu aspecto muda de figura, tornando-se rústica e consistente. Normalmente, é acompanhada por outras iguarias nordestinas tal como paçoca, baião de dois, macaxeira e manteiga da terra, em garrafa. SABORES DA VARJOTA Na Varjota, um dos bairros de Fortaleza, fica um corredor ao qual se dá o nome de Corredor Gastronômico da Varjota. Com casas simples distribuídas ao longo de ruas estreitas, o Corredor Gastronômico da Varjota é porta de entrada para o que há de melhor na culinária cearense: peixes e frutos do mar são os pratos principais ainda que muito da comida típica do Ceará se espalhe por vários estabelecimentos especializados que oferecem pratos originários do sertão e do mar, além de comidas internacionais. As peixadas, no entanto, são a grande pedida. Principalmente para quem vai para a Beira Mar. Ali tem peixe de todo gosto e tamanho. Um deles é o famoso peixe assado na telha e a
caldeirada de mariscos. Também chamado de mariscada. Para quem prefere pratos oriundos do sertão, a opção é procurar os restaurantes que servem buchada, mão de vaca, cozido de carne de boi, cuscuz, rapadura, pamonha e bolos de macaxeira. As paneladas também não podem faltar em uma lista gastronômica como esta. Cozida à base de vísceras de boi, a panelada pode parecer estranha para alguns turistas, mas não para aqueles que já provaram dela e tornaram-se seus adeptos imediatos. RESTAURANTES Docentes e Decentes, que fica na Av. Santos Dumont, 6120 e Rua Ana Bilhar, 1445 também prepara um baião de dois com queijo coalho, feijão verde e creme de leite. O primeiro deles funciona de terça a domingo e o segundo de segunda a segunda das 10h às 24h. Informações pelos telefones: (85) 3265.3267/3267.4855.
BEACH PARK Localizado no Porto das Dunas, Aquiraz, que fica a 20 km de Fortaleza, o Beach Park possui uma estrutura de turismo e lazer digna de qualquer país de primeiro mundo. Recentemente, foi inaugurado um novo brinquedo: o Ramobrinká e o Ramonessa. Duas palavras tiradas do linguajar nordestino que costuma trocar o “v” pelo “r”. Composto de uma torre de 24 metros de altura, uma piscina de 500 mil litros e sete toboáguas, o Ramobrinká é uma das atrações do lugar junto com a piscina de ondas (o maremoto), considerada a maior da América Latina e o Insano, o toboágua mais alto do mundo. Infor¬mações: 4012.3000.
TAPIOQUEIRAS Desde 2002 que os apreciadores de tapioca têm um centro
Centro das atenções
PAPA E ARTISTAS FAMOSOS ESTIVERAM NO CASTELÃO
A intenção do governador Plácido Aderaldo Castelo, em 1968, quando pensou em construir um novo estádio para o Ceará, foi a de fazer esta obra para os lados do Alagadiço Novo. Mas como a região já era muito habitada na década de 1960, e se fizesse isso teria que pagar uma soma fabulosa para desapropriar as casas, o governador mudou de ideia. Ocupou uma área que pertencia à Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza e, depois de indenizar a Santa Casa, deu início às obras que terminaram em 1973 no governo de César Cals de Oliveira Filho. Com o passar dos anos, o Castelão, que tem este nome, justamente, por causa de Plácido Castelo, foi se ampliando. Em 2002, passou por uma primeira reforma no governo de Tasso Jereissati. A segunda inter-
venção ocorreu em 2012, visando à Copa das Confederações, em junho de 2013, e a da Mundo em 2014. Palco de eventos memoráveis, foi nele que, em 1980, João Paulo II abriu, em Fortaleza, o Congresso Eucarístico Nacional levando, para seu interior, 120 mil pessoas. Em 1995, a Igreja Católica, mais uma vez, reuniu 50 mil pessoas no mesmo local para se despedir de Dom Aloisio Lorscheider que se transferia de Fortaleza para o sul do País. Mas nem só para eventos religiosos e partidas de futebol tem servido o Castelão. Ali também estiveram os Mamonas Assassinas, também em 1995 e, em 1996, Xuxa. A última atração foi Paul McCartney no dia 9 de maio de 2013. A apresentação de Paul McCartney no Castelão, no entanto, não
ocorreu mais em um estádio apenas, mas em uma verdadeira arena que contém, além do campo de futebol, outras atrações dignas de serem vistas por torcedores e curiosos. Memória do Futebol Cearense, por exemplo, é uma delas. Ali se pode ver, por intermédio de troféus, fotos, camisas, vídeos e depoimentos a história do futebol cearense de 1896 até os dias de hoje. O Espaço Cultural, denominado Deputado Etevaldo Nogueira, é um outro ambiente importante destinado às artes plásticas. No anel inferior do estádio fica o restaurante que possui capacidade para 250 pessoas e que abre de segunda a sexta-feira das 8h às 17h com comidas típicas e uma decoração sofisticada na qual predominam peças de barro e folhagens do Nordeste.
Praias do Ceará
DESCONTRAÇÃO E DIVERSÃO ANIMAM O LITORAL CEARENSE Formado por dunas e falésias, as praias do Ceará são a última opção para turistas brasileiros e estrangeiros que queiram andar de buggy, jipe e praticar surf nas feiras e fins de semana
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onhecidas no mundo todo, as praias de Fortaleza chamam a atenção por sua beleza. A Praia de Iracema, a mais cantada e decantada, já foi chamada Praia do Peixe e ostenta, em sua orla, o prédio que foi levantado na década de vinte pelo pernambucano José Magalhães Porto e que serviu de reduto poético a boêmios e intelectuais de várias gerações do Ceará: o Estoril. O Mucuripe, um pouco mais adiante, foi cenário de um filme de Orson Welles. Indicado pelo governo norte-americano para vir para o Brasil em 1942, o cineas-ta de Cidadão Kane e MacBethe tomou conhecimento, em dezembro de 1941, da viagem que quatro pescadores cearenses fizeram de jangada do Ceará para o Rio de Janeiro naquele ano. Admirado, veio para Fortaleza no ano seguinte e escolheu a Praia do Mucuripe, e não a do Peixe, de onde os jangadeiros saíram, como cenário de sua epopeia. Loteada por volta de 1960, a Praia do Futuro, que ficava em uma região distante de Fortaleza, foi, pouco a pouco, sendo ocupada e hoje se tornou a mais visitada da Capital cearense.
CANOA QUEBRADA Com mais de 500 quilômetros de praias, o litoral do Nordeste brasileiro é generoso em dar aos seus visitantes a oportunidade de encontrar a sua porção ideal entre mar, diversão, tranquilidade e areia. Passaram por Fortaleza, em 2013, cerca três milhões de turistas, mas para muitos deles, as escarpas verticais de Canoa Quebrada soam como um dos principais atrativos além-capital. De buggy, de jipe, kite surf ou de carro alugado, a recompensa está a 164 quilômetros da Capital alencarina, no município de Aracati. A pequena aldeia, situada entre falésias e dunas foi descoberta, segundo a lenda nos anos 70 por hippies e hoje é habitat multicultural, reunindo residentes e comerciantes de diversas na-
Viário ou CE-090. Existem também transportes alternativos e ônibus a custo bem econômico saindo de Fortaleza, com partida da Beira Mar ou Centro. Com ventos de boa qualidade (entre 18 e 25 nós) e mar com pouca ondulação, Cumbuco é considerada umas das melhores regiões para a prática de Windsurf e Kitesurf. Privilegiado com cerca de sete meses de ventos por ano, o mar sem rochas e sem animais desta Costa é aclamado por esportistas do mundo todo, é o que explica o professor Alexandre Barth, há 11 anos no Cumbuco, ele ensina Wind e Kitesurf para turistas e residentes, em aulas que podem durar de um a quatro meses (para o Kitesurf ) ou de um a três anos (Windsurf ). Tanto Cumbuco, quanto o município vizinho de “Caucaia”, contam com um ótimo número de parques, estradas, agências bancárias, correio, comércio, transporte (ônibus, trem), hospitais, clubes, além de boa infraestrutura turística, hospedagem e alimentação. Através dos anos, a Praia de Cumbuco tem se adequado às exigências de quem visita, hoje, a macro região do Cumbuco. Conta com mais de 40 pousadas e hotéis além de uma gastronomia internacional com mais de 20 restaurantes, de especialidades diversas: italiana, francesa, alemã e regional entre outras. Nesta rede, ainda em expansão, destaca-se o Hotel Golfinho, tradicional e aconchegante hotel instalado há 16 anos na reJERICOACOARA gião que conta com 25 apartamenPrepare-se para incluir, em seu tos, onde dois são suítes master mapa cearense de visitas, um CUMBUCO Contando com excelente loca- e três apartamentos conjugados. destino que nem os desbravadores holandeses e portugueses so- lização no Nordeste brasileiro in- O intimista hotel também possui nharam em um dia descobrir. Esta serida na região Metropolitana de Jacuzzi, piscina infantil e adulta, praia, que era habitada somente Fortaleza, na Costa Oeste do Ceará salão de jogos, playground, sala por pescadores e isolada do resto - a apenas 30 quilômetros do Cen- de eventos e dois restaurantes. do mundo, foi descoberta pelo tu- tro da Capital, encontra-se o “Cum- Durante o jantar, é servida comida rismo em 1994, quando, também, buco”, recanto no litoral que conta mediterrânea aliada a um cardápio eleita pelo jornal The Washington com praias paradisíacas, lagos e recheado de frutos do mar com toques de comida típica. Post como uma das dez mais bo- lagoas formadas pelas marés. Manhãs de beleza natural iniO acesso a este retiro de paz nitas do globo. Na apaixonante “toca das tarta- e tranquilidade é através das ro- gualável e um pôr do sol deslumrugas-marinhas” (significado em dovias BR- 020, BR-222, 4o Anel brante regem uma inesquecível. cionalidades, refletindo essa pluralidade através da gastronomia e entretenimento local. A vila, encravada no alto de uma falésia, ainda mantém seu astral alternativo, embora aliada ao complexo de pousadas, restaurantes, com acesso asfaltado e eletricidade. Apesar das aparentes facilidades e mordomias urbanas, o alto astral de Canoa sustenta-se como um dos destinos cearenses mais cobiçados, porque esconde recantos fascinantes para casais, badalados para solteiros e diversas aventuras e atividades para pais e filhos. O povoado de pescadores tornou-se um polo turístico com excelente infraestrutura hoteleira. A paisagem deslumbrante insere o turista citadino longe de estacionamentos caóticos, carros e poluição, e, por este motivo, o lugar recebe fluxo constante de turistas, que se entregam à esfera natural do lugar e vão adequando, durante a temporada, até mesmo seus trajes ao clima leve e descontraído. Durante a noite, a Broadway complementa a esfera agitada da praia. A rua que virou calçadão e teve o piso de areia substituído por pedras portuguesas é formada por bares, boates de estilos e focos musicais variados e, claro, bons restaurantes de frutos do mar. Experimente também uma visita em noites de lua cheia, pois a pulsação energizante de Canoa transfere-se para a faixa de areia: cenário de luaus e festas temáticas.
tupi para Jericoaquara), o famoso prato, que leva camarão no abacaxi, anima as noites de Forró do Restaurante Dona Amélia, que esquentam as noites aconchegantes de Jeri e, que, só terminam quando a Padaria Santo Antônio anuncia, pelo cheirinho no ar, à fornada de seus pães de queijo quentinhos para quem o dia acabou de começar. A padaria tem ambiente rústico, vagamente iluminado, e foi inaugurada por um ex-pescador (Sr. Antônio Marques) em 1998, ano da chegada da luz elétrica na região e abre às 2h da madrugada, oferecendo também nozes de coco, mel e banana saindo diretamente do forno. Um arco rochoso, esculpido pela natureza via ondas do mar e pela ação da erosão do tempo, representa o maior ícone da Praia de Jericoacoara. A “Pedra Furada”, encravada na Praia da Malhada, é, também, um dos cartões postais do Ceará e está acessível via caminhada, de aproximadamente duas horas (ida e volta). Na maré alta, os guias indicam cortar o caminho pelo “Morro do Serrote”, passando por dentro das dunas ou optar pelo transporte via buggy, locomoção comum em toda a região. Mas lembre-se: é proibido subir na pedra e degradar o lugar. Jeri, que já foi cenário para o filme brasileiro “A Ostra e o Vento”, em 1997. Oficializado como Parque Nacional, a vila não possui postes de iluminação para preservar a luminosidade natural da lua e das estrelas.
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FORTALEZA MOBILIZADA PARA RECEBER TORCIDAS Não há Copa sem mobilidade urbana. Nesse sentido, a Prefeitura de Fortaleza preparou todo um esquema para facilitar a locomoção em massa dos torcedores que se dirigirem à Arena Castelão. O Plano Operacional de Mobilidade para o Mundial em Fortaleza seguirá o mesmo procedimento já testado e aprovado na Copa das Confederações, em 2013. Ao todo, serão sete bolsões de estacionamento nos quais os torcedores que optarem por fazer uso de veículo particular poderão, com segurança, deixar seus carros. Os bolsões ficarão no Shopping Iguatemi, Universidade de Fortaleza, Shopping Via Sul, Cambeba, Shopping Parangaba, North Shopping Jóquei e Campus do Pici, da Universidade Federal do Ceará. De lá, os fanáticos pela
Copa poderão embarcar em um dos 300 ônibus que irão operar, exclusivamente, em linhas expressas com destino à Arena Castelão. Todavia, é no sistema de transporte público que a Prefeitura dedica especial atenção durante os dias de jogo na Capital cearense. Em primeiro lugar, será criada uma linha especial de ônibus que ligará o Aeroporto Internacional Pinto Martins à Avenida Beira Mar, onde se concentra a zona hoteleira fortalezense. Haverá paradas de ônibus especiais também na avenida Abolição, entre a Avenida Barão de Studart e Via Expressa. A zona hoteleira da Praia do Futuro, outro ponto turístico bastante procurado por turistas, também será contemplada, no caso, com duas linhas especiais, que farão a ligação até o
bolsão do Shopping Iguatemi. Segundo a Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor), essas linhas especiais funcionarão entre os dias 10 de junho e 5 de julho, 24 horas por dia. As mesmas linhas também servirão aos torcedores que forem às Fan Fest – animadas concentrações de torcedores que, assim como na Copa das Confederações, reunirão, na Praia de Iracema, milhares de torcedores, mesclando em um mesmo coro turistas e cearenses. PISTAS LIVRES Outro ponto importante no que diz respeito ao transporte público é a iniciativa de deixar livres as principais avenidas que dão acesso ao principal palco dos jogos em Fortaleza, uma maneira de fazer
fluir o trânsito e, assim, dar agilidade a milhares de pessoas em sua locomoção. Essa operação terá início a partir da meia-noite dos dias de jogos, quando os agentes da Autarquia Municipal de Trânsito (AMC) começarão a remover veículos estacionados de forma irregular nessas vias. Paralelamente a essas ações, a AMC – que contará com um efetivo de 170 agentes de trânsito distribuídos em viaturas, motos e reboques – também instalará postos de triagem e bloqueios ao longo das principais vias na área da Arena Castelão, de modo a orientar os motoristas e auxiliar no fluxo do trânsito. Nesse sentido, a Etufor contribuirá com 220 agentes operacionais distribuídos ao longo dessas vias.