O Estado Verde - Edição 22278 - 17 de junho de 2014

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Verde

ANO VI - EDIÇÃO No 342 FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 17 de junho de 2014

AÇUDES

FOTO: BANCO DE DADOS

Espelhos d’água no Semiárido

SEM ESTRELA

PERIGO

Brasil perderia a Copa do Mundo de Saneamento

Pesquisas associam o material a substâncias tóxicas cancerígenas e que podem contaminar os alimentos. Saiba que cuidados tomar para se proteger. Págs. 9 e 10

FOTO: TIAGO STILLE

Você usa plástico na cozinha?

Se a disputa no Mundial da Fifa fosse um ranking de condição sanitárias, não passaríamos da fase de grupos. Pág. 11

Conheça um pouco da história desses reser vatórios que marcaram o Ceará na luta contra a seca. Págs. 6, 7 e 8


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FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 17 de junho de 2014

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Coluna Verde TARCILIA REGO

tarcilia_rego@terra.com.br

ITAQUERÃO, NOSSA ÁGORA

O espetáculo de abertura da Copa do Mundo não representou, em nada, a exuberância da cultura do povo brasileiro e muito menos, a exuberante natureza que detém o País. Ao contrário das aberturas dos mundiais anteriores, o gramado repleto de vazios, mais lembrava uma floresta derrubada. Mas, o que uma belga entende de ritmo brasileiro, de Brasil? Esse é o tal do “Padrão Fifa”, o que sabe de natureza? O Fuleco que o diga... Nem de longe, a nossa Amazônia um dos lugares mais ricos do planeta em relação à diversidade da flora e da fauna e que abriga mais de 40 mil espécies de plantas; 427 mamíferos; 1.294 aves; 378 répteis; 426 anfíbios e 3 mil espécies de peixes, foi representada naquela apresentação. Um fiasco... E sobre as vais e xingamentos dirigidos a Presidente da República e ao mandatário da Fifa, Joseph Blatter, normal, foi uma atitude democrática de uma sociedade nada satisfeita. Por um momento o Itaquerão, foi a nossa Ágora, bem diferente do “Padrão Fifa”. MUDANÇAS CLIMÁTICAS Após duas semanas, chegam ao fim (15/06), às negociações intersecionais em Bonn e as discussões sobre os fundos de investimento, por meio dos quais os países ricos podem apoiar financeiramente os emergentes na transição para uma economia de baixo carbono, não foram animadoras. Os Estados Unidos e a Europa deram um banho de água fria nas nações que continuam defendendo fundos públicos, como a proposta que destinaria 1% ou mais da riqueza nacional para esse fim. O negociador americano, Jonathan Pershing, defende que “os mercados de carbono poderiam desempenhar um grande papel nesse sentido”, assim como representantes da União Europeia também ressaltaram que o financiamento privado deve ter papel decisivo no combate às Mudanças Climáticas. Defendem, principalmente, os Estados Unidos, que o contribuinte não tem que arcar com o ônus da emissão e sim as empresas e por isso acreditam que essa posição será mantida. Eles querem mesmo é levar as alterações do clima para o mercado. 1 MILHÃO De assinatura! É a marca que a sociedade civil brasileira alcançou pedin-

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do o fim do desmatamento no Brasil, segundo informa o Greenpeace. O objetivo da proposta, que visa proibir o corte de floresta nativa no Brasil e a emissão de novas autorizações para desmatamento, é encaminhar o projeto de lei ao Congresso Nacional. É a busca pelo Desmatamento Zero nas florestas brasileiras. Quer participar? Junte-se ao greenpeace.org.br. EÓLICA O Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) aprovou, dia 10, resolução que estabelece critérios e procedimentos para o licenciamento de parques eólicos instalados em terra. O texto base, aprovado na última reunião ordinária, em 28 de maio, sofreu pequenas alterações e foi submetido a uma votação de destaques. O novo marco jurídico define o papel dos estados, do governo federal e dos municípios nos procedimentos de licenciamento. REFLEXÃO Perguntaram a um sábio chinês: “O que é ciência?”. Ele respondeu: “Ciência é conhecer as pessoas”. Então lhe perguntaram: “E a virtude?”. Esta foi a resposta: “Virtude é amar as pessoas”.

AGENDA VERDE 17 DE JUNHO DIA MUNDIAL DE COMBATE À DESERTIFICAÇÃO

• O dia é celebrado anualmente desde 1995 quando o dia foi proclamado pela Organização das Nações Unidas (ONU). O objetivo é chamar atenção sobre o problema mundial da degradação de terras férteis que cresce mais e mais a cada ano, e promover a sensibilização pública relativa à cooperação internacional no combate à desertificação e os efeitos da seca. De acordo com a Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação (UNCCD), a desertificação corresponde à degradação da terra nas zonas áridas, semiáridas e sub-húmidas secas, devido a vários fatores, como por exemplo, variações climáticas ou atividades humanas. Junto com outros 192 países, o Brasil é signatário da UNCCD.

18 DE JUNHO DIA DO QUÍMICO

• O profissional de Química é comemorado em 18 de junho. Nesse dia, no ano de 1956, o então presidente, Juscelino Kubitschek assinou a Lei NO 2.800, conhecida por “Lei Mater dos Químicos”, criando os Conselhos Federais e Regionais de Química. É um ramo da ciência que estuda as alterações e transformações sofridas pela matéria, incluindo solo, água, ar, poluentes, minerais e metais, bem como sua composição e propriedades. Desde a pré-história, o homem já acumulava conhecimentos práticos de química. Na área ambiental, o químico pode elaborar projetos de preservação do meio ambiente, bem como detectar substâncias e analisar possíveis danos à natureza causados por agentes poluentes.

DIA 21 DE JUNHO INÍCIO DO INVERNO

• Segundo o Centro de Prevenção do Tempo e Estudos Climáticos (Ceptec), o Inverno no Hemisfério Sul começa às 07h51 do dia 21 de junho. Nesta estação, que compreende os meses de junho, julho e agosto, as temperaturas são climatologicamente amenas. Nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste do País, este trimestre é considerado o menos chuvoso do ano no que se refere à distribuição de chuvas, e o principal sistema meteorológico é a frente fria.

EDITAL SÃO JOÃO DE MARACANAÚ 2014

• Termina, hoje, o período de inscrição para os empreendedores que desejam montar barraca de comidas e bebidas, durante o São João de Maracanaú 2014. Os interessados devem se dirigir a Secretaria de Trabalho, Emprego e Empreendedorismo, Avenida 1 – n° 17, Jereissati I, no Feira Center, para fazer o cadastro portando os seguintes documentos: Cópia de Documento de Identificação (RG ou Carteira Nacional de Habilitação ou Carteira de Categoria Profissional); Cópia do CPF; Cópia do Comprovante de Endereço Atualizado; Certidão Negativa de Tributos Municipais, emitida pela Prefeitura de Maracanaú; Ficha de Inscrição devidamente preenchida; e Atestado de antecedentes criminais. As inscrições são gratuitas.

GESTORA E EDUCADORA AMBIENTAL

O “Verde” é uma iniciativa para fomentar o desenvolvimento sustentável do Instituto Venelouis Xavier Pereira com o apoio do jornal O Estado. EDITORA: Tarcília Rego. CONTEÚDO: Equipe “Verde”. DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Wevertghom B. Bastos. MARKETING: Pedro Paulo Rego. JORNALISTA: Sheryda Lopes. TELEFONE: 3033.7500 / 8844.6873


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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Chegam ao fim negociações

de clima em Bonn

Tudo indica que as negociações estão progredindo e um novo tratado está sendo guardado em 2015

POR TARCILIA REGO tarciliarego@oestadoce.com.br

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Conferência de Mudanças Climáticas de Bonn - 3a Sessão do ADP/Grupo de Trabalho sobre a Plataforma de Durban (negociação do novo acordo climático global), após duas semanas, chega ao fim. As negociações intersecionais (como são conhecidas essas rodadas do meio do ano) da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o clima, que tiveram um pequeno progresso dia 14, sábado, em direção a um texto para um acordo em 2015 e une todos os países com o objetivo de reduzir as emissões dos gases do efeito estufa, avançaram. As boas notícias são que as negociações estão progredindo e ao que tudo indica, o caminho está sendo traçado para a assinatura de um novo tratado em 2015. Os coordenadores, conhecidos como chairs , responsáveis pela construção de um novo documento, prometeram fazer um esboço para apresentar aos países até 15 de julho e discuti-lo na próxima sessão, em outubro, e mais de 60 países anunciaram que vão reduzir a pegada de carbono nos próximos anos. As conver-

sações da última sexta, 13, foram concentradas no conteúdo do futuro acordo mundial, previsto para ser concluído em 2015, em Paris. O novo acordo influenciará os compromissos estabelecidos de cada país para tentar conter o aquecimento global ao máximo de 2ºC, quando as atuais emissões de gases do efeito estufa elevam o aquecimento a quase 4ºC. E enquanto a conferência acontecia em Bonn Estados Unidos e China - os dois maiores emissores do mundo - anunciaram medidas que demonstraram fortes sinais de boa vontade. Anunciaram planos de redução de emissões e introdução de energias renováveis. “Fico muito feliz que praticamente todos os países em desenvolvimento declararam que precisamos mudar de combustíveis fósseis para energia limpa no tempo de uma geração”, disse o diretor de política climática internacional do Greenpeace, Martin Kaiser, durante conferência de imprensa realizada pela Climate Action Network – Rede de Ação Climática (Can). As grandes ONGs de defesa do meio ambiente, que abandonaram as negociações internacionais sobre o clima em novembro do ano passado, para denunciar a lentidão do processo, “oficializaram” o retorno a

Bonn na sexta, dia 13. Dezenas de militantes que representaram 70 organizações, incluindo Greenpeace, Oxfam e WWF, e receberam os delegados de 195 países que negociavam, sob a mediação da ONU, aos gritos de “Climate Justice” [Justiça Climática], antes do início das reuniões em um hotel de Bonn, onde aconteceu, desde o dia 11, uma sessão de negociações que prosseguiu até 15 de junho. PERU 2014 A 20a Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudanças do Clima (COP20) acontece em dezembro, em Lima, no Peru, onde a grande expectativa é a aprovação do primeiro rascunho do texto que servirá de base para se chegar a um novo acordo climático em dezembro de 2015 na COP21, em Paris.

SAIBA MAIS Em 11 de abril, foi divulgado a 3A parte do o 5 relatório do IPCC que trata da mitigação das mudanças do clima e que deve apontar que a janela de possibilidade para redução de emissões suficiente para limitar o aumento da temperatura média global em 2ºC está se fechando rapidamente e, se não revertemos o crescimento das emissões até o final da década, as chances do limite de 2ºC tenderão a zero. Os relatórios do IPCC devem chacoalhar a agenda de negociações do novo acordo climático global.

AGENDA DO CLIMA 2014

Setembro: Cúpula de Clima da ONU 2014 (Nova York, EUA) Outubro (27 a 31 de): IPCC 5o Relatório sobre Mudanças Climáticas - Synthesis Report (Copenhague, Dinamarca). Dezembro (1ª a 12): Conferência das Partes da Convenção da ONU sobre Mudanças do Clima/COP20 (Lima, Peru).


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ARTIGO

RECONHECIMENTO

No Clima da Caatinga Nossos maus costumes conquista prêmio Dryland Champions PEDRO CARDOSO DA COSTA*

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secretário executivo da ONG Associação Caatinga (AC) Rodrigo de Castro, recebeu das mãos da ministra do Meio Ambiente Isabela Teixeira, em Brasília, o prêmio Dryland Champions, da Convenção das Nações Unidas de Combate a Desertificação (UNCCD). O reconhecimento é pela ações do projeto No Clima da Caatinga, realizado na Reserva Nacional Serra das Almas, na região de Crateús, desde 2011. Na ocasião, Rodrigo aproveitou para pressionar o Governo pela aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 504/2010, conhecida como PEC da Caatinga e do Cerrado, que eleva os dois biomas a patrimônio nacional brasileiro. Segundo o representante da ONG, o reconhecimento é importante para a organização e para bioma. “Nós estamos honrados. Entendemos essa premiação como um sinal de que estamos no caminho certo e que devemos continuar nossa missão”, afirma. Quanto ao bioma, Rodrigo afirma que ganha visibilidade internacional, embora o ambientalista não julgue suficiente para sensibilizar a Câmara Federal. “O Legislativo está fechado para pautas de cunho ambiental. Não tem interesse, prioridade nem sensibilidade para a isso”, criticou, referindose à PEC 504/2010, que tramita no Congresso há quase 20 anos e já foi aprovada pelo Senado. O PROJETO Patrocinado pela Petrobras, o NCC atua na manutenção da Reserva Natural Serra das Almas e de áreas no seu entorno, desde 2011. Entre seus 12 objetivos, desenvolve as ações para a recuperação de áreas degradadas, educação ambiental para a conservação de recursos naturais, conservação das nascentes das microbacias hidrográficas do entorno da Reserva Natural Serra das Almas, criação de banco de germoplasma de espécies nativas através da capacitação de agricultores e difusão

ASSOCIAÇÃO CAATINGA

Ações incluem recuperação de áreas degradadas e conservação das nascentes das microbacias

de tecnologias sustentáveis - atividades diretamente ligadas à degradação e combate a desertificação. O Programa Dryland Champions proporciona o conhecimento de ações que contribuem significativamente para evitar a degradação do solo e restaurar terras degradadas. Implementado pela Convenção das Nações Unidas de Combate a Desertificação (UNCCD), contribui para alcançar uma Neutralidade da Degradação de Terras no Mundo (LDNW), cujo principal efeito negativo é a perda de capacidade produtiva do solo, o que afeta diretamente a qualidade de vida, informa a Associação Caatinga (AC), por meio de sua assessoria de imprensa. Prêmio Recente 5o Edição ODM Brasil (23/05/2014) O projeto No Clima da Caatinga também recebeu o prêmio ODM Brasil, uma iniciativa pioneira no mundo criada em 2004 com a finalidade de incentivar ações, programas e projetos que contribuem efetivamente para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), melhoria da qualidade de vida da população e as transformações sociais do país. (Com informações da Associação Caatinga) SERVIÇO: No Clima da Caatinga: www.noclimadacaatinga.org.br www.facebook.com/noclimadacaatinga

Falar de hábitos reprováveis não é nada muito fácil. Ao contrário, é bastante complicado. Ninguém assume suas más condutas. Todo mundo gosta de enaltecer as suas boas práticas. Definitivamente, ninguém deve mesmo se regozijar de erros, pois se já são considerados assim é porque têm a reprovação social. E variam de época e de lugares. Seria inimaginável um cumprimento com beijo no rosto de uma muçulmana em um homem, tão comum aqui no Ocidente. Esses exemplos ficam no campo individual, mas algumas condutas coletivas precisam ser tratadas com mais delicadeza ou urbanidade. Na disputa por espaço a gentileza passa longe. Quando se vai entrar num ônibus, metrô ou trem, as pessoas agem com selvageria. Quem é mais fraco é esmagado. Em muitos casos a culpa não fica bem definida. Uns aproveitam do aperto para empurrar os demais; outros não têm condições de evitar o esbarrão; e alguns reclamam achando que aquela vítima, que está prensando, também é um aproveitador. A barbárie é tão sem limite que as pessoas não conseguem descer, em função de disputa por lugares de pé. Os espaços reservados aos deficientes em garagens e em transporte público são desrespeitados permanentemente. Já virou até brincadeira nas redes sociais que o melhor remédio para dormir é sentar num espaço reservado, pois a maioria finge dormir para não ceder a uma pessoa que teria direito. Outra face desse problema se verifica quando o lugar deve ser cedido a homem, pois a maioria das pessoas tem resistência, devido a uma percepção enviesada de que se trata de um aproveitador, de um esperto. O entendimento errôneo inverso também é verdadeiro. Da mesma forma que os lugares sem demarcação devem ser cedidos sem limitação a quem precisa, também, as pessoas sem necessidades especiais podem ocupar os lugares demarcados quando estiverem livres. Muita gente fica de pé por entender que esses espa-

ços nunca podem ser ocupados. O forte do brasileiro definitivamente é a transgressão. Por isso, o sinal amarelo de trânsito em qualquer lugar do mundo significa diminuir a velocidade para parar, menos no Brasil. Amarelou, é hora de avançar. Todo pedestre esperto já sabe que deve dar um pouco do seu tempo para os espertinhos. O metrô é o exemplo acabado dessa desobediência civil. Já trocaram “n” vezes as setas para orientar que as pessoas permitam o desembarque antes de entrar. A atual é uma seta no centro das portas com indicação de saída. As que vão entrar devem ficar nas laterais para o desembarque pelo centro. Quando alguns obedecem e deixam o centro livre, os espertinhos ocupam aquele lugar, roubando o direito de quem vai descer e de quem aguarda para entrar. Isso já teve nome de jeitinho brasileiro, de malandro do morro, de “bon vivant” e até garoto esperto. Romantizar erros fez e faz parte da nossa cultura. E isso vai arraigando o mal de ser tolerante com as transgressões e achar que elas podem ocorrer em todas as ocasiões. O exemplo mais recente foi a invasão da tribuna da Suprema Corte de Justiça do país pelo advogado de José Genoíno, devidamente retirado por ordem do presidente Joaquim Barbosa, criticado por muitos e até por colegas, por ter feito o que devia. Passou da hora de quebrar, ao menos, a glamourização do erro. *Bacharel em direito, São Paulo, Capital.


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VERDE

FUNCEME

Órgão divulga avaliação da quadra chuvosa A quadra chuvosa apresentou mais chuva do que as de 2013 e 2014. Embora nos anos anteriores os índices tenham sido piores, a situação ainda preocupa

POR TARCILIA REGO tarciliarego@oestadoce.com.br

BETH DREHER

ção maior dos aparelhos de Estado para respostas a esses fenômenos”. O presidente da Funceme fez referência com a necessidade de ações de adaptação às Mudanças Climáticas. “Adaptação não ocorre daqui a 100 anos, adaptação ocorre agora, então temos que preparar as instituições, hoje para responder estes eventos extremos e prestar efetivamente um serviço útil à sociedade. Criar mecanismos de convivência com a seca, pois ela sempre vai ocorrer”. Explica Sávio, alertando que precisamos nos preparar para um cenário que é menos favorável a convivência com o Semiárido.

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hoveu, ainda abaixo da média, mas foi melhor que 2012 e 2013. Durante coletiva realizada na manhã de sexta-feira, 13, a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) apresentou o balanço da quadra chuvosa em 2014 e as chuvas entre fevereiro e maio de 2014 ficaram 24% abaixo da média histórica, no Ceará, pelo terceiro ano consecutivo. De acordo com o presidente da Funceme, Eduardo Sávio Martins, a média dos quatro meses é de 607,4mm e as precipitações acumuladas no Estado no período foram de 461,9mm. “Desde dezembro do ano passado emitimos previsões mostrando maiores probabilidades de chuvas abaixo da média para meses da quadra chuvosa. Foi assim também no prognóstico oficial, divulgado em janeiro, e na previsão climática feita em fevereiro”, disse Martins. A avaliação da precipitação observada durante a quadra chuvosa (fevereiro a maio) de 2014 indica que as chuvas no Estado do Ceará ficaram abaixo da média, com desvio percentual de -24,0% em relação à normal climatológica (1980 – 2009). Abril foi o mês mais crítico, com -32,2% de desvio, seguido de fevereiro (-27,7%) e março (-23,3%). As informações foram colhidas em todos os postos pluviométricos do Ceará (cerca de 570, distribuídos nos 184 municípios). A quadra chuvosa apresentou mais chuva do que as de 2013 e 2014. Enquanto a estação chuvosa de 2014 ficou 24% abaixo da média, nos anos anteriores os índices foram piores. Em 2013, as precipitações entre fevereiro e maio ficaram 37,7% abaixo da média em, em

“Adaptação não ocorre daqui a 100 anos, então temos que preparar as instituições”, afirmou o presidente da Funceme 2012, 50,7%. “Estamos no terceiro ano de estiagem e devemos focar nos impactos que isso traz para o Ceará”, alerta. Uma característica da nossa região é a irregularidade espacial na distribuição das chuvas, o ano de 2014, em sua quadra chuvosa, também foi marcada pela irregularidade temporal, com ocorrência de veranicos longos, tais como o registrado no posto pluviométrico Rafael Arruda em sobral, que alcançou 73 dias seguidos sem precipitação. O veranico é um fenômeno meteorológico comum nas regiões meridionais do Brasil. Consiste em um período de estiagem, acompanhado por calor intenso (25-35 °C),

forte insolação, e baixa umidade relativa em plena estação chuvosa. MUDANÇAS CLIMÁTICAS Perguntado sobre a relação da baixa ocorrência de chuvas com o fenômeno das Mudanças Climáticas, Sávio Martins disse que “o clima do planeta está sempre mudando”, mas segundo alguns estudos, principalmente no setor de impactos, apontam a intensificação de eventos extremos tanto de cheia como de seca. “Isto nos remete a uma preocupação tanto em termos de intensificação e aumento de frequência desses eventos externos, e o que requer uma preocupa-

AÇUDAGEM Mas, o Ceará vem fazendo o dever de casa há algum tempo, desde 1987, como informa o representante da Funceme. “O Ceará sempre fez o seu dever de casa e o faz até hoje, no que diz respeito aos recursos hídricos. Investiu fortemente em infraestrutura e, hoje, a Cogerh monitora 142 reservatórios para garantir abastecimento de várias regiões, tem o Cinturão das Águas que o Governo vem investindo fortemente para garantir a circulação dessas águas para as várias bacias do Estado”. O trabalho que vem sendo feito ao longo dos anos garante que atualmente o Ceará esteja com 32% de capacidade máxima dos reservatórios, cerca de 18 bilhões de metros cúbicos, apesar do período de seca, e ainda é o Estado com a maior capacidade de armazenamento de recursos hídricos, do Nordeste. “É um volume alto, mas ainda preocupante quando olhamos a distribuição em todo o território cearense. Temos regiões com percentual muito baixo, como é o caso de Crateús (3%) e o Rio Curu (6%)”, alerta.


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AÇUDAGEM

DIVULGAÇÃO/DNOCS

Espelhos d’água artificiais que brilham no Ceará

Com mais de 100 anos de experiência na construção de açudes, o Estado conta com esses reservatórios para enfrentar a pior seca dos últimos anos POR: SHERYDA LOPES oev@oestadoce.com.br

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seca faz parte da história e da literatura cearense, assim como a imagem de milhares de sertanejos fugindo das terras castigadas pela falta de chuvas. Uma das formas buscadas para resolver esse problema foram os açudes, reservatórios artificiais construídos pelo homem por meio de barragens. A construção desses espelhos d’água, no Ceará, teve início há mais de um século e é anterior ao Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), órgão

federal que tem 105 anos de existência e construiu mais de 500 desses reservatórios no Estado. Muitos açudes cearenses secaram com o tempo ou foram esquecidos. Entretanto, pelo menos 149, entre estaduais e federais, são monitorados atualmente e constam no Portal Hidrológico do Ceará. Eles cumprem um papel importante no abastecimento do Estado: Segundo o Dnocs, entre as principais fontes de abastecimento de Fortaleza, por exemplo, estão as águas do Açude Castanhão, o maior do Estado, e o de Orós, segundo maior. Por causa deles, se em 2015 não houver

chuvas, o Ceará não terá problemas de abastecimento, garante o órgão. “Eu não tenho a menor dúvida de que se não tivesse ocorrido esse trabalho de implementação dos açudes no Semiárido dificilmente haveria vida na região”, comenta o coordenador geral de planejamento e gestão estratégica do Dnocs, José Alberto de Almeida. Segundo os registros históricos e até literários, morreram 500 mil pessoas na seca de 1915. “A população da época era muito pequena, então, pode-se dizer que morreu quase todo mundo! Como iríamos sustentar as pessoas que sobraram sem água?”, questiona.

Segundo o Dnocs açudes foram construídos com o objetivo de abastecimento humano, matar a sede dos animais, irrigação, geração de energia, lazer e piscicultura. Além da construção das próprias barragens, o Departamento também foi responsável por outras obras como ferrovias e estradas para o acesso à açudagem, e por implementar áreas de produção agrícola ligadas às obras. Atualmente, apenas três açudes estão com o volume de 90% da capacidade, sendo a média geral de 325, segundo o Portal Hidrológico do Ceará. Os baixos índices fazem parte de mais uma seca severa, a pior dos últimos 30 anos.


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VERDE PISCICULTURA Além da função principal de armazenar água para o período de seca, os açudes também são utilizados para a piscicultura. “É uma atividade importante, pois para produzir alimentos por meio da agricultura consome-se água, mas para criar peixes, não”, explica Almeida. Atualmente há quatro estações de piscicultura do Dnocs, no Ceará. Piscicultura refere-se ao cultivo de peixes, principalmente de água doce. Os açudes também abastecem perímetros irrigados e proporcionam áreas de vazante: Com a baixa do nível da água, as margens ficam com terra fértil e podem ser utilizadas na agricultura. A lógica é a mesma dos egípcios, que plantavam as margens do Nilo aproveitando os fertilizantes naturais. O plantio nas áreas de vazante requer autorização, ocorre sem agrotóxicos e sob fiscalização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), informa o Dnocs. ASPECTOS AMBIENTAIS Mesmo sendo recursos hídricos artificiais, os açudes estão inseridos no meio ambiente e cumprem funções ecossistêmicas, além de também so-

frer ameaças. Eles contribuem para amenizar o calor e umidificar o ar, por exemplo. Segundo a chefe de Gabinete do Dnocs Raquel Pontes, açudes maiores influenciam até mesmo no regime de chuvas de uma região. Já as principais ameaças vêm do assoreamento, da contaminação por agrotóxicos e do lançamento de esgotos urbanos ou industriais. “Tivemos o caso do Açude Forquilha, que atingiu nível crítico de contaminação por cianobactérias com a água imprópria para consumo humano”, comenta Raquel. As cianobactérias podem produzir gosto e odor desagradável na água e desequilibrar os ecossistemas aquáticos. Para evitar a degradação dos reservatórios, Raquel explica que o trabalho de educação ambiental começa ainda no canteiro de obras e precisa ser permanente, pois os agrotóxicos são muito baratos, o que potencializa o risco de contaminação. Além disso, os aglomerados urbanos no entorno e a ausência de saneamento, tornam não apenas os açudes, mas todos os recursos hídricos vulneráveis à poluição. Já a mata ciliar é importante para evitar a erosão e manter a riqueza e biodiversidade do solo, fauna e flora.

FOTO: BETH DREHER

Para o coordenador geral de planejamento e gestão estratégica do Dnocs, José Alberto de Almeida, se não fossem os açudes não haveria vida no semiárido

CEDRO, O PRIMEIRO AÇUDE DO CEARÁ

- Dois dos maiores cartões postais cearenses fazem parte da mesma paisagem. Abaixo da Pedra da Galinha Choca um imenso espelho d’água - hoje arranhado pela falta de chuvas - dá brilho ao cenário. Trata-se do Cedro, em Quixadá, o primeiro açude do Ceará e mais antiga obra do Dnocs. A primeira barragem do açude, concluída em 1906, é anterior ao próprio órgão, que foi criado em 1909 com o nome de Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS). Os primeiros estudos e projetos para a realização do Cedro iniciaram-se, ainda, no Governo Imperial, em 1890, motivados pelos impactos da seca que ocorreu de 1877 a 1879. “Devido às limitações técnicas da época, o Cedro tem muitos erros e o principal deles é o superdimensionamento. Mas se compararmos com o que evoluímos em relação à tecnologia, veremos que é compreensível”, analisa José Alberto. Mesmo com falhas, a barragem principal do projeto é considerada uma obra de arte da arquitetura e, além de se tornar atração turística, foi incorporada ao Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Hoje, o Cedro é composto por quatro barramentos e está com apenas 5,48% de sua capacidade.


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VERDE

O ORÓS – QUANDO A BARRAGEM ROMPEU

DIVULGAÇÃO

NOVAS CIDADES Durante as secas que castigaram o Ceará no século XX, milhares de sertanejos migraram com suas famílias para as Capitais procurando trabalho. Muitos, porém, permaneceram no interior para serem operários em obras contra as secas, entre elas os açudes. Ao chegar nesses locais, firmaram acampamento e se desenvolveram, ainda que em condições difíceis. Em 1915, segundo levantamento histórico realizado na Universidade Federal do Ceará (UFC), os campos de concentração que se formaram em torno das obras contra a seca eram de baixa salubridade. Pouca e má distribuída alimentação, surtos de doenças, entre elas a varíola, além da falta de higiene eram alguns dos obstáculos enfrentados pelos sertanejos. Ainda assim, muitos dos acampamentos que se formaram no entorno da construção de açudes, cresceram e deram origem a alguns municípios. General Sampaio, Pentecostes, Forquilha e Orós são algumas das cidades cearenses que tiveram como primeiros moradores aqueles que suaram nas obras de seus reservatórios.

Os açudes foram construídos para solucionar o problema da seca, mas, no caso do Orós, foi justamente o excesso de chuvas que surpreendeu. Em 1960, quando as obras ainda estavam em andamento, chuvas torrenciais inundaram vários municípios da região do Jaguaribe e encheram o açude, mesmo com a barragem não concluída. A estrutura não suportou e, às 00:17 horas do dia 26 de março daquele ano, o vale foi inundado, deixando mais de 100 mil pessoas desabrigadas. Segundo o Dnocs, a tragédia só não foi maior devido aos avisos do órgão pelo rádio e ao apito da termoelétrica (conhecida na época como Casa de Força), que alertaram a população a tempo de procurar abrigo nos pontos mais altos da serra. Assim, as perdas foram apenas materiais. O caso despertou a solidariedade de milhares de brasileiros que enviaram doações aos desabrigados, e também chamou a atenção do então, Presidente Juscelino Kubitscheck, que visitou o local e assumiu o compromisso de recomeçar a obra e entregá-la antes do final de seu Governo. Os trabalhos começaram logo após as chuvas e no ano seguinte (1961), totalmente reconstruída, a Barragem Orós que recebeu o nome de Kubitscheck, foi inaugurada por ele. O mandatário, também foi homenageado com a colocação de uma estátua de bronze no alto da barragem e com os braços abertos para o vale. Até a inauguração do Castanhão, em 2002, o Orós era o maior açude do Ceará.

Uma cidade inteira debaixo d’água. O que já aconteceu inúmeras vezes em tragédias no mundo inteiro, no Ceará, foi feito de propósito. O município de Jaguaribara foi alagado pelas águas represadas do Médio Jaguaribe para a realização do maior açude do Estado, o Castanhão. Foram mais de 15 mil pessoas deslocadas para Nova Jaguaribara, cidade projetada a mais de 50 quilômetros do município. As obras do polêmico projeto foram iniciadas em 1995 e concluídas em 2002, após anos de resistência comunitária e cobrança de cumprimento das promessas de Governo. A emoção do povo durante a remoção para o novo município foi registrada no livro “Historinhas que poderão virar história”, de Pardaillan Lima. O técnico envolvido no projeto conta que a mudança começou com a realização de uma missa. Durante a consagração, moradores emocionados seguravam fotos de parentes mortos para uma “última despedida”. Os primeiros a sair da cidade foram imagens sacras dos santos padroeiros que, carregados nos ombros de fiéis, foram levados ao carro do Corpo de Bombeiros. “Havia, na frente de tudo, uma faixa feita pela população que dizia: ‘São Gonçalo e Santa Rita, rumo à terra prometida’. Dava pra sentir nas costas o peso da responsabilidade”, conta no livro.

DIVULGAÇÃO

A ATLÂNTIDA CEARENSE


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FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 17 de junho de 2014

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SAÚDE E MEIO AMBIENTE

Cuidado, você pode se contaminar

Além de impactar o meio ambiente devido ao tempo que demora para se decompor, o plástico também pode liberar substâncias tóxicas, principalmente quando aquecido FOTOS: TIAGO STILLE

POR SHERYDA LOPES oev@oestadoce.com.br

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asta dar uma volta em uma loja de utensílios de cozinha ou ainda, na seção adequada no supermercado para encontrar uma infinidade de opções de vasilhames e outros objetos de plástico. Versáteis, eles podem ser utilizados para diversos fins e talvez o principal deles seja armazenar alimentos. Esse uso aparentemente tão comum pode não ser tão seguro, pois além de causar impactos ao meio ambiente, o plástico também pode ser perigoso para a saúde. Há evidências científicas de que, quando aquecido ou em contato durante muito tempo com alimentos que contenham água, o plástico libera substâncias tóxicas perigosas, como as dioxinas e o Bisfenol A (BPA). Por isso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proíbe, desde 2012, a comercialização de mamadeiras e copos infantis de policarbonato, um tipo de plástico resistente que contém BPA. Segundo informações da assessoria de imprensa da Anvisa, os debates sobre o tema são recentes e os efeitos do Bisfenol ainda são associados a altas doses. Mesmo assim, outros países, também, não permitem o uso em mamadeiras por precaução. A coordenadora do Laboratório de Polímeros da Universidade Federal do Ceará (UFC), Judith Feitosa, explica que o BPA está associado a alterações no sistema endócrino e aumenta a probabilidade de câncer, infertilidade, problemas cardíacos, puberdade precoce, entre outros. A substância é transferida pelo policarbonato para água ou alimentos que a contenham. Isso ocorre

Micro-ondas e calor podem ser associados ao aumento da taxa de transferência de Dioxinas e Bisfenol A por plástico aos alimentos em pequenas doses e lentamente, mas o processo pode ser acelerado pelo aquecimento e micro-ondas. Quanto mais quente estiver a embalagem e quanto maior for o tempo de contato entre o recipiente e o alimento, maiores as taxas de transferência do BPA. Quando esse plástico é descartado de forma indevida no meio ambiente, também pode causar a contaminação de recursos hídricos.

GARRAFÕES DE ÁGUA Garrafões de água feitos de policarbonato serviram de objeto de uma pesquisa orientada por Judith em 2012 na UFC. Os resultados foram alarmantes: “Constatou-se que quando os garrafões armazenaram um litro de água por um período de dois meses, a migração de BPA ocorreu independente da idade do garrafão, e sua concentração foi maior do que a permitida. Em termos práticos, não se deve armaze-

nar água, especialmente, volume pequeno, nesses recipientes durante muito tempo”, alerta. Garrafões com mais de sete anos de fabricação, ou ainda, que já estejam desgastados com o uso também devem ser evitados, já que a degradação desses recipientes também está associada ao seu tempo de vida útil. A professora ressalta que essas considerações são a respeito especificamente do policarbonato e não aponta problemas com o PET, por exemplo.


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VERDE FOTOS: TIAGO STILLE

DIOXINAS A queima de plástico deve ser evitada, pois, ao ser aquecido, ele libera dioxinas, as substâncias que mais induzem cobaias de laboratório ao desenvolvimento de tumores cancerígenos, segundo o professor titular de mastologia da UFC, o médico Luiz Porto. Para evitar que o plástico descartado seja incinerado e sua fumaça tóxica chegue à atmosfera, a reciclagem é uma saída. Em relação à contaminação de alimentos por embalagens plásticas, Porto não acredita que elas ofereçam quantidades realmente perigosas de dioxinas. Para evitar riscos ao utilizar vasilhas e copos desse material, o médico orienta que a população tome alguns cuidados quanto ao seu uso, entre elas só levar ao micro-ondas embalagens apropriadas para esse fim e evitar o uso prolongado de plásticos velhos ou danificados. Judith também recomenda esse cuidado. “Na minha casa, por exemplo, utilizamos pratos e travessas de plástico duro no dia a dia, mas são de boa procedência e seguros”, afirma a pesquisadora. PRECAVIDAS A professora Yvanna Guimarães evita qualquer utensílio de plástico para aquecer alimentos e dá preferência a materiais como cerâmica e vidro. A preocupação, segundo ela, é com o futuro. “Somos jovens, achamos que nada vai acontecer, mas uma doença na velhice pode ter algo a ver com um cuidado que não tomamos

Segundo médico Luiz Porto, o papel da Anvisa é importante para aprovar materiais seguros e educar a população quanto à forma correta de utilizá-los na juventude”, opina. Outra razão para a escolha é diminuir o volume de plástico descartado no meio ambiente. Quem também toma vários cuidados é a arteterapeuta Helena Gandra. “Se eu pudesse, andaria com minha própria xícara só para nunca tomar café em copinhos de plástico”, afirma. Em sua casa, alimentos quentes só em recipientes de vidro e, para congelar, plástico Livre de Bisfenol A (BPA Free). Outro hábito que evita é o de deixar garrafinhas de água no carro ou ainda, expostas ao sol. “Muita gente diz que é frescura, mas acho que muitos dos nossos hábitos são

FUMAÇA TÓXICA

Um levantamento histórico da Universidade de Lisboa mostra que as dioxinas são subproduto da combustão do plástico e são conhecidas desde a década de 30, quando foram associadas à intoxicação de trabalhadores da indústria de agrotóxicos. Também estavam presentes no Agente Laranja, herbicida usado pelos Estados Unidos na Guerra do Vietnã, e que deixou sequelas na população vietnamita e nos próprios soldados estadunidenses.

pensados por dinheiro e praticidade, e não pela saúde”, analisa. Mesmo afirmando que existem plásticos apropriados para o uso junto a alimentos e ao calor, Luiz Porto não critica quem os evita por precaução. “O câncer é causado por muitos fatores e é muito difícil definir qual deles teve maior peso no desenvolvimento da doença. Evitar todos faz parte do que chamamos de ‘comportamento defensivo’, por isso, acho que tudo o que for feito pela saúde é benéfico”, avalia. Para ele, o papel da Anvisa é fundamental para aprovar a venda de materiais seguros e orientar os

consumidores quanto à forma correta de utilizar cada vasilhame. O professor lembra ainda que o plástico é um material barato, versátil e útil para a humanidade e defende que seja aperfeiçoado por cientistas. “Abolir completamente o plástico do mundo seria inviável”, frisa. ORIENTAÇÕES DA ANVISA Segundo assessoria de imprensa da Anvisa, as informações referentes ao uso de embalagens plásticas devem constar nos produtos ou nos rótulos, e quanto ao consumidor, deve seguir às instruções dos fabricantes.

ANVISA

As regras descritas na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) no 56/2012 são válidas para todas as embalagens que entrem em contato com alimentos. A norma estabelece limite de Bisfenol A (BPA) nos produtos e não permite o uso dessa substância em mamadeiras e copos infantis.


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CURIOSIDADE

Copa do Mundo x Saneamento Básico

Se o critério de classificação do mundial fosse as condições sanitárias, o Brasil seria eliminado na fase de grupos. Alemanha levantaria a taça

DIVULGAÇÃO

FOTO: TIAGO STILLE

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evantamento realizado pela Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (Abes) compara os índices de saneamento entre todos os países que participam da Copa 2014. Se o torneio mundial fosse uma competição que levasse em consideração as condições de saneamento básico, o Brasil não passaria da fase de grupos. Esta é a constatação do levantamento que compara as condições sanitárias entre todos os países que participam do certame, tal qual estão dispostos na tabela da Copa. O estudo foi feito com base em dados do Programa de Monitoramento Conjunto para o abastecimento de água e saneamento da Unicef, da Organização Mundial da Saúde (OMS) - (Joint Monitoring Programme – JMP - (http:// www.wssinfo.org/), dos Objetivos do Milênio (http://www.un.org/millenniumgoals/) e da Organização Mundial da Saúde (http://www.who.int/water_sanitation_health/mdg1/en/).

O Brasil, apesar de obter um índice de 81,3% na combinação de fatores que classificam como satisfatórias as condições sanitárias de um país, de acordo com estes órgãos, fica abaixo de dois países do grupo A: Croácia (98,2%) e México (85,3%), só ganhando de Camarões (45,2%.). Por isso, não avança para as oitavas de final. Na Copa do Saneamento, Alemanha levantaria a taça. Em segundo lugar viria a França, em terceiro, a Holanda e em quarto, a Austrália. No Brasil, 93% da população urbana têm acesso à água tratada, mas apenas 56% têm acesso à rede coletora de esgoto. No que se refere ao tratamento de esgoto, apenas 69% do esgoto coletado recebe tratamento (dados do SNIS-2012). De outra perspectiva dessa situação: 32 milhões de brasileiros não têm acesso adequado ao abastecimento de água (rede geral de abastecimento), 85 milhões de brasileiros não têm acesso adequado ao esgotamento sanitário (rede coletora nas zonas urbanas e rede coletora ou fossa

séptica nas zonas rurais), 134 milhões não têm os esgotos de suas casas tratados e 6,6 milhões não têm nem sequer banheiro. Além disso, a cobertura de saneamento é muito heterogênea no País. De acordo com os dados do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS, 2012), as únicas unidades da federação com mais de 70% dos domicílios urbanos atendidos em coleta de esgotos são Distrito Federal, São Paulo e Minas Gerais. As menores coberturas são: Amapá, Pará Rondônia e Piauí. “Temos que ressaltar que houve avanços no setor, como a Lei de Saneamento,

a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) e o Plano Nacional de Saneamento Básico (Plansab), que deixam mais claros os desafios da universalização. Mas há metas estabelecidas difíceis de alcançar e dificuldade dos municípios e estados brasileiros em avançar no saneamento. Por isso é muito importante que estados e municípios reconheçam que têm participação fundamental no avanço do setor no Brasil, tanto quanto o Governo Federal, ou seja, temos que jogar como um time”, afirma o presidente da Abes, Dante Ragazzi Pauli. Fonte: Abes

O JMP considera satisfatórias as condições de saneamento a partir de um conjunto de itens, como: Água: ligações domiciliares, Poços Artesianos, Captação, armazenamento e utilização de água da chuva, dentre outros; E para o Saneamento: a existência de vaso sanitário, sistema de coleta de esgoto (coleta, bombeamento, tratamento e disposição final adequada) e fossa séptica, entre outros.


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RESÍDUOS

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m evento na sede da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), tomou posse, na noite de ontem (16), a nova diretoria do Sindicato das Empresas de Reciclagem de Resíduos Sólidos Domésticos e Industriais do Estado do Ceará (Sindiverde). Encabeçada pelo empresário, Marcos Roberto dos Santos Bonanzini, da empresa Ecoletas, a equipe empossada assume o Sindiverde para o período de 2014 a 2018. DESAFIO O grande desafio é agregar associados, segundo Bonanzini. “O objetivo maior da diretoria que está chegando, é, juntamente com todos os associados, fortalecer a cadeia produtiva, valorizar a imagem da indústria de reciclagem de resíduos sólidos, trazer mais associados e ampliar os negócios do setor, contando com empresas cada vez mais fortes e competitivas”, disse o presidente em conversa exclusiva com a editora do Caderno O estado Verde. Trazer mais associados pode ser considerado um grande desafio para um setor tradicionalmente informal. Pesquisa de 2012 da LCA Consultores a pedido do Compromisso Empresarial para a Reciclagem (Cempre), mostra que o mercado informal reciclou 65% das embalagens produzidas no Brasil. “Mas, o avanço da cadeia produtiva da reciclagem no nosso Estado, passa pela formalização do setor, a expectativa é ir além de dobrar, quem sabe, triplicar”, afirma, otimista, o novo presidente. Atualmente, no Ceará, existem mais de 100 em-

Novo presidente Marcos Bonanzini: “O avanço da cadeia produtiva da reciclagem passa pela formalização do setor” presas de reciclagem formalizadas, 41 estão associadas ao Sindiverde. LEGADOS As perspectivas para o Sindiverde também são otimistas por parte do ex-presidente Marcos Augusto Nogueira de Albuquerque, atualmente diretor vice-presidente e deixou como grande legado, segundo Bonanzini, a Recicla Nordeste. Albuquerque presidiu o sindicato por um mandato e meio, e afirma que além da Feira Recicla, deixa o legado das missões internacionais. Ele agradeceu ao presidente Roberto Macedo pelo apoio que sempre deu ao Sindiverde e destacou cinco pontos que considera primordiais para o desenvolvimento do setor.

PARQUE TECNOLÓGICO “Considero as missões, fundamentais para abrir novos caminhos. O maior benefício que elas trazem, consiste nos contatos, possibilita conhecimentos e relações que dificilmente seriam possíveis em viagens individuais. As missões comerciais, internacionais e nacionais, permitem ainda, divulgar a cadeia, divulgar as empresas, observar mais de perto, a realidade do mercado global, obter informações comerciais, visitar centros tecnológicos e empresas de ponta. Significa investir em tecnologia e inovação, abrir horizontes”. Durante a gestão de Albuquerque aconteceram três missões internacionais. Os demais pontos destacados pelo ex-presidente foram: implantação da coleta seletiva nas escolas, pelo Sindiverde; visitação às feiras nacionais em busca de novos contatos, materiais e mercados, “muito importante para o setor”; a Recicla Nordeste – 2015 e a criação de um parque tecnológico para abrigar empresas no modelo “condomínio sustentável”. “A ideia nasceu da necessidade de

redução de custos, atrelado ao parque, vamos trabalhar a inovação”, encerra. O terreno para o empreendimento fica no município de Horizonte. FIEC/DIVULGAÇÃO

POR TARCILIA REGO tarciliarego@oestadoce.com.br

DIVULGAÇÃO

Empresas de reciclagem, sob nova gestão, no Ceará

Ex-presidente Marcos Albuquerque: “As missões permitem observar mais de perto, a realidade do mercado global”

DIRETORIA EXECUTIVA – QUADRIÊNIO 2014-2018 Diretor Presidente – Marcos Roberto dos Santos Bonanzini Diretor Vice-Presidente – Marcos Augusto Nogueira de Albuquerque Diretor Administrativo – Lyvia Kirov Goes Ferreira Diretor Financeiro – Gianna Marques Gurgel Diretor de Rel. Trabalhista e Sindicais – Fernando Antonio Oliveira Silva Diretor de Eventos – Jeanine Marques Gurgel Diretor Técnico – Renata Mourão Bakker


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