O Estado Verde - Edição 22283 - 24 de junho de 2014

Page 1

ANO VI - EDIÇÃO No 343 FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 24 de junho de 2014

ACESSIBILIDADE

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

As calçadas de Fortaleza não estão nada boas

Um dos poucos espaços destinados ao trânsito de pedestres e considerado propriedade do povo, não está livre de buracos, desníveis e obstáculos. Turistas se ressentem, mas se surpreendem Págs. 5, 6 e 7 com os belos passeios da Avenida Monsenhor Tabosa.

Ainda jogamos lixo no chão… Embora haja a visão de que os brasileiros não têm consciência ambiental, alguns exemplos mostram que isso não é verdade. Na Arena Fan Fest, o Estado Verde chegou a flagrar bons exemplos. Pág. 8

RANKING

FOTO: ANDERSON SANTIAGO

A sustentabilidade é uma exigência da Fifa

Mas nem todos os estádios foram cer tificados. Quase empatou, cinco obtiveram o selo internacional LEED, nenhum o Ouro, o destaque é a Prata do Maracanã que ousou com a utilização de energia renovável. O Castelão recebeu a certificação básica. Págs. 9 e 10


2

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 24 de junho de 2014

VERDE

Coluna Verde TARCILIA REGO

tarcilia_rego@terra.com.br

ACESSIBILIDADE... PARA CADEIRANTES E IDOSOS A Comissão de Viação e Transportes da Câmara dos Deputados aprovou o Projeto de Lei (PL 4124/98) que considera infração de trânsito grave o estacionamento irregular em vagas destinadas a pessoas com deficiência e idosos. Os veículos que estacionarem nesses locais estarão sujeitos, além da multa, à remoção ao depósito de automóveis apreendidos. Boa! O cidadão que não respeita o espaço daqueles em condições especiais, pela conscientização, agora vai ter que respeitar pelo bolso. Só espero que o PL de autoria do ex-deputado Paulo Rocha (PA) que tramitou por quase seis anos no Senado e segue, agora, para análise da Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania não fique mais meia dúzia de anos naquela Casa. AOS CUSTOS De certa forma, resultado das manifestações de junho de 2013 quando a população demonstrou insatisfação com os transportes coletivos, tramita na Câmara Federal, o PL do deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), que altera a Política Nacional de Mobilidade Urbana, para garantir que os usuários do transporte coletivo urbano de passageiros, tenham acesso à planilha de composição dos preços dos serviços. Aprovado, o texto obriga as empresas a afixar, em local visível nos veículos, cartaz informando sobre os itens que compõem a tarifa, com os respectivos valores. O PL ainda vai ser analisado conclusivamente pelas comissões de Viação e Transportes; de Defesa do Consumidor; e de Constituição e Justiça e de Cidadania. Espero que seja aprovado, mas não sei, não... Se o projeto que pune quem ocupa indevidamente vaga de cadeirante e idoso, tramita há 16 anos no Congresso, pense neste projeto que propõe abrir custos... “É mais fácil o Fred fazer um gol” As manifestações do ano passado mostraram o quanto a população está insatisfeita com os serviços de transporte coletivo, mas ao que tudo indica,

Verde

pouca coisa mudou de lá pra cá. Sábado (21), fiquei surpresa com o grande número de usuários a espera de ônibus na região da Praia de Iracema e Meireles. Após o encerramento da Fan Fest, eu vi centenas de pessoas que se aglomeravam em pontos de ônibus na Costa Barros e Tenente Benévolo, bem como os da Avenida Raimundo Girão, a espera de um coletivo. Não resisti, parei o carro e perguntei a um senhor se fazia muito tempo que aguardava o transporte. Resposta: “Minha senhora, é mais fácil o Fred fazer um gol do que passar um ônibus por aqui, depois da Fan Fest. A espera é longa”. Ele não quis se identificar, por se tratar de um ambulante cadastrado na Prefeitura para comercializar alimentos. Tratei logo de voltar para o meu carro, havia muita gente, muito barulho e muita confusão naquela parada lotada ao lado da Igreja de Santa Luzia. É isso, faltou o Padrão Fifa no transporte da população fortalezense. Reflexão: “A única moeda verdadeiramente boa e pela qual convém trocar todas as restantes é a sabedoria.” (Platão)

AGENDA VERDE 26 DE JUNHO DIA INTERNACIONAL DO COMBATE ÀS DROGAS • Dia 26 de junho é o Dia Internacional do Combate às Drogas, dia em que muitos setores realizam campanhas contra as drogas para conscientização deste perigo. Combater o consumo das drogas é um desafio para os órgãos públicos responsáveis pela saúde, educação e segurança do nosso país. Pois, as drogas viciam e podem transformar o indivíduo em protagonista de cenas de violência domiciliar, crimes, roubos e acidentes.

28 DE JUNHO DIA DO IPÊ AMARELO

• Nativa do Brasil, o ipê amarelo (Tabebuia alba) é a nossa mais conhecida árvore, a mais cultivada e, sem dúvida uma das mais belas. Com flores brancas, amarelas ou roxas, não há região do país onde não exista pelo menos um tipo de Ipê, porém, por conta do desmatamento, é raro encontrar a espécie em habitat natural. Fonte: http://www.ipef.br

29 DE JUNHO DIA DO PESCADOR

• A data é uma alusão a São Pedro, o apóstolo padroeiro dos pescadores. Pescador é aquele “que conhece a natureza, entende o mar, sabe olhar para a lua e ver a maré que vem”. Ele sabe quando o dia é bom e onde e quando tem peixe para pescar. Basicamente, são três os tipos de pescadores: profissionais, amadores e ribeirinhos. Os profissionais dependem do pescado como fonte de renda. Amadores precisam ter a licença de pesca para praticar a atividade tanto embarcada como desembarcada, também respeitando cotas e o período de reprodução dos peixes. E os ribeirinhos, aqueles que vivem próximos de rios e precisam cadastrar-se para ter o direito de pescar durante o período da piracema – na maioria das bacias brasileiras vai de novembro a março.

MOSTRA NO CLIMA DA CAATINGA

• De 20 de junho até o dia 13 de julho o Projeto No Clima da Caatinga, fica em cartaz, no 1O piso do Shopping Benfica. A iniciativa da Associação Caatinga visa promover a divulgação da biodiversidade, riqueza e belezas do principal bioma do Nordeste brasileiro. Através da mostra, o público poderá se familiarizar com a fauna, flora e paisagens da rica e bela, assim como poderá conhecer as tecnologias sustentáveis desenvolvidas que facilitam o convívio harmônico com o Semiárido. O evento é gratuito.

GESTORA E EDUCADORA AMBIENTAL

O “Verde” é uma iniciativa para fomentar o desenvolvimento sustentável do Instituto Venelouis Xavier Pereira com o apoio do jornal O Estado. EDITORA: Tarcília Rego. CONTEÚDO: Equipe “Verde”. DIAGRAMAÇÃO E DESIGN: Wevertghom B. Bastos. MARKETING: Pedro Paulo Rego. JORNALISTA: Sheryda Lopes. TELEFONE: 3033.7500 / 8844.6873


3

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 24 de junho de 2014

VERDE

BIODIVERSIDADE GLOBAL

Estado das florestas é destaque em reunião da FAO Principal órgão estatutário sobre os bosques na ONU reúne-se, na Itália, para falar sobre o estado dos bosques do mundo. Metade das espécies florestais está ameaçada

O

Comitê Florestal da Organização da FAO (COFO) está reunido desde ontem (23) em Roma, Itália, para analisar as medidas de política florestal que promovem a produção e o consumo sustentáveis; os direitos de propriedade e de gestão; o acesso aos recursos, aos mercados e ao financiamento; a distribuição equitativa de benefícios e a valorização dos produtos e serviços florestais. A edição desse ano, que acontece até o dia 27, está centrada no papel dos benefícios socioeconômicos que oferecem os bosques (e valorização de produtos e serviços florestais), incluindo a renda e o emprego, a energia da madeira e os produtos florestais na moradia, assim como a necessidade de mudar o foco de atenção das árvores para as pessoas, além da coleta de dados e da elaboração de políticas. O COFO é o principal órgão estatutário sobre os bosques na Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura – FAO e a cada dois anos reúne mais de cem responsáveis pelos serviços florestais de todo o mundo e outros altos funcionários governamentais para identificar políticas emergentes e questões técnicas para buscar soluções e aconse-

Príncipe Laurent da Bélgica, o novo embaixador especial para os Bosques e o Meio Ambiente lhar FAO e outras medidas adequadas. Outras entidades internacionais, também participam da reunião. Nos últimos anos tem aumentado a participação de organizações não governamentais. Ontem (23), a FAO apresentou as principais conclusões da publicação: “O estado dos bosques do mundo” (SOFO). No mesmo dia nomeou o prín-

cipe Laurent da Bélgica como embaixador especial para os Bosques e o Meio Ambiente, em reconhecimento aos esforços que ele realiza há muitos anos para promover o desenvolvimento mundial e as tecnologias sustentáveis. O relatório diz que metade das espécies florestais regularmente utilizadas por países estão ameaçadas pela conversão das florestas em pastagens e terras agrícolas, pela exploração excessiva e os impactos das mudanças climáticas. Entre as principais ações solicitadas pelo relatório estão a gestão e coleta de dados sobre recursos florestais mais intensificadas. Enquanto as espécies de árvores existentes no mundo são estimadas entre 80 mil a 100 mil, apenas 2.400 – cerca de 3% – são ativamente gerenciadas para os produtos e serviços que prestam. Na quinta-feira, 26 de junho, serão apresentadas duas publicações dedicadas à silvicultura familiar: “Uma hora de rota sobre o caminho a seguir para as organizações de produtores florestais” e “Conseguir que se produza a mudança: O que podem fazer os governos para fortalecer as organizações de produtores florestais”.

EVENTO PARALELO Os pesquisadores internacionais da biodiversidade vão participar do COFO e compartilhar suas últimas conquistas em um evento paralelo em 26 de junho, intitulado: Implementação do Plano de Ação Mundial para a Conservação, Uso Sustentável e Desenvolvimento da Floresta Recursos Genéticos: Exemplos de atividades nacionais, regionais e internacionais. O evento paralelo, organizado em colaboração com a Noruega e a FAO, apresentará exemplos de atividades em curso nos planos nacional, regional e internacional que contribuam para a implementação do Plano de Ação Mundial para a Conservação, Uso Sustentável e Desenvolvimento de Recursos Genéticos Florestais (GPA-FGR). Com informações da ONU Brasil.


4

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 24 de junho de 2014

VERDE

ARTIGO

A responsabilidade social corporativa e o negócio

POR PEDRO SIRGADO*

N

os dias de hoje, poucas organizações não têm iniciativas ou projetos de cunho social, embora com motivações bem diversas. Certas empresas fazem por convicção, outras por marketing, algumas por modismo e há aquelas que não podem deixar de fazer, sob pena de ferozes críticas ou represálias de stakeholders. Gostaria de destacar algo que tem mudado – e pode modificar ainda mais – a atuação das companhias na área social: a crise financeira e econômica internacional. De fato, companhias têm objetivos específicos, acionistas e determinados contextos de atuação. Parece uma observação evidente, mas nem sempre nos lembramos disso quando cobramos das corporações que “resolvam todos os problemas da sociedade”. Das empresas exige-se hoje uma atuação muito focada no negócio. Resultados são cada vez cobrados com maior exigência e orçamentos elaborados e acompanhados com extremo rigor. Não é de estranhar que, quando a atuação social não está verdadeiramente enraizada, se torne um alvo imediato de cortes de despesas e, consequentemente, redução da atividade. Compreendida esta realidade, empresas que acreditam que a Responsabilidade Social Corporativa é importante para o negócio começam a revisitar suas iniciativas e a repensar sua forma de atuação na área social. Neste ponto, várias opções se apresentam, entre elas uma atuação social que traga resultados para o negócio, seja sob a ótica de

aumento de vendas, redução de custos ou gestão de riscos. A questão que se coloca é: por que um projeto social desenvolvido por uma empresa não pode trazer retorno financeiro naturalmente, desde que proporcione um real benefício social? Por que não encarar a responsabilidade social corporativa como um jogo de “ganha-ganha”? E se uma determinada linha de negócio de uma companhia, desejavelmente lucrativa, trouxer benefícios sociais? Trata-se de um tema polêmico? Talvez, mas acredito que seja um caminho neste novo mundo a cada dia mais exigente. O desafio seria, então, pensar em soluções para problemas sociais que sejam, simultaneamente, possíveis linhas de negócio. As empresas têm seus donos e existem para dar lucro, disso não se pode haver dúvidas. Naturalmente, o lucro deve ocorrer respeitando todos os agentes, dentro dos mais elevados padrões éticos e totalmente dentro do quadro legal em vigor. A grande novidade, e porque não dizer modernidade, é que uma atuação socialmente responsável das empresas pode trazer benefícios para todas as partes interessadas no negócio: colaboradores mais comprometidos, fidelização de clientes, proteção da cadeia de fornecedores, comunidades do entorno mais integradas e, não podemos esquecer, acionistas com retornos maiores e mais estáveis. Não se ambiciona com esta breve reflexão sugerir que apoiar projetos sociais não alinhados ao negócio seja um erro, ou mesmo que a pura filantropia deve terminar. Sempre existe espaço para boas iniciativas. Pretende-se, antes, destacar uma nova oportunidade de atuação social das empresas que pode reforçar as anteriores e, principalmente, nos tempos atribulados em que vivemos, ser uma ótima solução para o dilema de cortar custos em projetos sociais, exatamente quando estes se tornam mais relevantes: em situações de crise. *Pedro Miguel Sirgado é diretor Executivo do Instituto EDP, entidade que coordena as ações socioambientais do Grupo EDP.

CUIDADO AMBIENTAL NA HISTÓRIA DO DIREITO

Seria tão instigante quão de certa forma fastidioso, discorrer com detalhes sobre as preocupações dos legisladores de todos os tempos, bem como das atitudes de lideranças várias, no que diz respeito ao cuidado com o meio ambiente. O homem, de forma paradoxal, assim como é identificado como o grande predador da natureza, assim também tem-se detido na elaboração de normas que evitem as catástrofes ambientais. O esforço não tem obtido grande sucesso, mas se nada houvesse sido feito no sentido de preservar o ecossistema ambiental em que vivemos, o fim do planeta já estaria bem mais próximo, em hipótese das mais otimistas.

Cacique ambientalista Os silvícolas são naturalmente, por institnto de sobrevivência, preservacionistas. Assim é que a história registra atitudes como a do cacique Seattle, da etnia Duwamisk, escreve ao presidente dos Estados Unidos em 1855, com inaudita sabedoria: “De uma coisa sabemos: a terra não pertence ao homem; é o homem que pertence à terra, disso temos certeza. Todas as coisas estão interligadas, como o sangue que une uma família. Tudo está relacionado entre si. Tudo quanto agride a terra, agride os filhos da terra; não foi o homem que teceu a trama da vida. Ele é meramente um fio da mesma. Tudo que ele fizer à terra, a si próprio o fará.” Carga filosófica A carga filosófica do pensamento do sílvicola norte-americana pode dar sustentação a qualquer iniciativa normativa do ordenamento jurídico internacional no tocante aos valores ecológicos que devem ser tutelados pelo Estado, assim como à consciência urgente e necessária ao homem do século XXI no que diz respeito ao compromisso inalienável que deve manter para com a guarda do ecossistema planetário. Leis do Reino No que se refere às normas do Direito que nos orientam os rumos como sociedade, o cuidado com o meio ambiente data das Ordenações e Leis do Reino de Portugal, recopiladas a mando do Rei Filipe I, nos inícios de 1603. Aqui registramos o dispositivo que segue: “E mandamos que pessoa alguma não JORNALISTA E ESCRITOR

corte nem mande cortar sovereiro, carvalho, ensinho, machieiro pelo pé, nem mande fazer dele carvão nem cinza; nem encasque nem mande encascar, nem cerrar alguma das ditas árvores...” Degredo, multa e açoite Em face do que está assentado nas “Ordenações”, de logo se vê que ao legislador não agradava o dano ambiental. Ao que descumprisse a legislação pertinente, a condenação previa uma pena de degredo de quatro anos para a África e, concomitantemente, “o pagamento de cem cruzados e a perda do carvão e cinza, a metade para quem o acusar e a outra para os cativos; e se for peão seja além disso, açoitado.” A dureza da pena, se aplicada hoje, teria sem dúvida a crítica dos penalistas sob a alegativa da disparidade entre a o delito e a pena. Valiosas abelhas A cuidadosa legislação filipina é de fazer inveja aos códigos ambientais hodiernos. Senão vejamos, quando trata de abelhas. Se alguém comprasse colmeias apenas para se aproveitar da cera, matando as abelhas, em sendo peão, deveria ser açoitado. Não sendo peão, a pena seria o degredo de dois anos para a África mais açoites e ainda o pagamento em dobro de tudo “o que valiam as colmeias”. Imagine o que assentaria o legislador das “Ordenações” em relação aos caçadores de marfim que nos dias de hoje matam os elefantes apenas para retirar-lhes os dentes?! E os matadores de golfinhos e baleias?! Receberiam prisão perpétua, no mínimo.


5

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 24 de junho de 2014

VERDE

FORTALEZA

Para moradores e turistas, caminhar ainda é um desafio Embora o direito de ir e vir seja garantido por lei, na Capital, o pedestre não tem vez diante dos obstáculos nos passeios. A Prefeitura garante melhorias e pede conscientização ANDERSON SANTIAGO

POR: SHERYDA LOPES EDIÇÃO: TARCILIA REGO oev@oestadoce.com.br

E

m tempos de Copa do Mundo, mais do que nunca, assim como os cidadãos fortalezenses, os turistas, também, precisam das calçadas. Mas, um dos poucos espaços destinado ao trânsito de pedestres e considerado propriedade do povo, não está livre de buracos, desníveis e obstáculos. Em Fortaleza, mesmo quem tem boas condições físicas encontra dificuldade de circular pelas nossas calçadas. A situação piora para quem tem algum tipo de limitação, como no caso de cadeirantes, deficientes visuais e idosos. Na Praia de Iracema encontramos o turista Rory Chen, que veio de Taiwan, ele elogia a capital cearense, mas afirma que a Cidade precisa realizar mudanças nesta parte do logradouro. “O pior, é que as alturas são muito irregulares, e o tempo todo é preciso passar por degraus e rampas”, disse o visitante e administrador de empresas. Integrante do bloco de países que ficaram conhecidos como “tigres asiáticos”, a ilha de Taiwan têm padrões de vida bem próximos aos dos países desenvolvidos. Diferente do asiático que está de passagem por Fortaleza, a aposentada Aurineide Santos, 84, moradora da Praia de Iracema, convive diariamente com o problema e queixa-se de ter que caminhar no asfalto, pois não tem condições de fazer a escalada no cotidiano. “A altura varia e há rampas que interrompem o trajeto o tempo todo”, reclama. Outra queixa é relativa aos bares e lanchonetes que colocam mesas e cadeiras no meio dos passeios. Ela conta que já chegou a tropeçar e cair na calçada da rua, cortando o lábio. “Ainda bem que não foi nada tão sério”, comenta aliviada.

O vereador Deodato Ramalho comenta irregularidades nas calçadas MAIS PERTENCIMENTO, MENOS FISCALIZAÇÃO A equipe do “Caderno O estado Verde” convidou o vereador e suplente da Comissão de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio Ambiente Deodato Ramalho (PT), para um passeio nas imediações da Rua João Cordeiro com a Avenida Monsenhor Tabosa, região cen-

tral na Praia de Iracema e com relevante concentração turística. Durante a caminhada, foram encontrados degraus de residências ocupando o passeio, alturas irregulares, mesas e cadeiras de lanchonetes na calçada e diversos casos em que o imóvel avançou o espaço, resultando em trechos sem a área para os pedestres. Em um desses casos, o dono do imóvel,

o professor Jorge de Oliveira, 49, chegou a colocar muros com grades, restringindo o acesso. Ele afirma que a prática é antiga no bairro. “Quando chegamos aqui, em 1976, não havia nem asfalto, era só areia e esgoto a céu aberto, só depois abriram essa rua. Cada um sempre fez a calçada a seu modo”, lembra. Jorge afirma que soube, recentemente, que o avanço é errado, mas só vai resolver o problema se “a fiscalização bater”. Embora reconheça que há questões culturais envolvidas e que elas precisam ser levadas em consideração, a fiscalização é um instrumento importante para resolver o problema, afirma o vereador. “É preciso aumentar a quantidade de fiscais e promover rondas com frequência”, defende Ramalho que já ocupou o cargo de secretário de Meio Ambiente do município na gestão anterior, ele dirigiu a então Secretaria de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam). A atual titular da Secretaria de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma), antiga Semam, Águeda Muniz, tem outro olhar para a questão. Por meio da assessoria de imprensa, a representante da Seuma afirma que o problema pede mais do que fiscalização e punição, trata-se de estimular o sentimento de pertencimento na população em relação aos espaços públicos. “A sociedade tem que entender que tem direito à Cidade, mas também tem deveres para com ela. Um deles é manter a calçada em boas condições”. Procurada por nossa equipe, a Secretaria Regional II (SER II) afirmou que a região visitada em companhia do vereador, pertence a SER Centro. As duas secretarias informaram que a Prefeitura Municipal de Fortaleza realiza periodicamente a fiscalização e que no caso da SER Centro, há 30 fiscais disponíveis e uma equipe que percorre a área diariamente. Quem desobedece às normas pode ser multado.


6

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 24 de junho de 2014

ANDERSON SANTIAGO

VERDE

ATÉ NA CALÇADA DO SEBRAE Entre calçadas visitadas em companhia do vereador Cartaxo, estão as do Centro de Negócios do Sebrae, na Avenida Monsenhor Tabosa. Em um primeiro momento, o largo passeio, na frente e na lateral do imóvel, parece regular e bem pavimentado com pedra portuguesa, mas a situação é diferente na parte de trás do prédio, onde, sequer, existe calçada. “Aqui fica explícito que houve avanço da obra, é preciso recuar esse muro e construir o passeio”, destaca o parlamentar que ressalta, também, que a pedra portuguesa se não for muito bem assentada forma buracos e desníveis, oferecendo risco aos pedestres, além de resistência às cadeiras de rodas. A assessoria de imprensa do Sebrae esclareceu, via e.mail, que o “próximo passo é a calçada”. O órgão está realizando uma reforma naquela sede e que, terminadas as intervenções internas, a calçada será contemplada. Além de trocar o pavimento, o muro nos fundos será recuado para a construção do passeio. As intervenções externas ainda vão incluir a colocação de piso tátil e rampas para cadeirantes em toda a extensão do passeio. A abertura da rua

ANDERSON SANTIAGO

Muro por trás do Sebrae toma o espaço do passeio e do pedestre previlegiando veículos

atrás do prédio ocorreu após a compra do imóvel, consta na mensagem. CÓDIGO Mas o que diz a lei? Segundo a professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Ceará (UFC) Zilsa Santiago, as leis que falam em urbanismo na Capital surgiram há, relativamente, pouco tempo, como no caso da Lei N.o 5.530 de 17/12/1981 ou Código de Obras e Posturas (Cop) que define a calçada ou passeio como “parte do logradouro, destinada ao trânsito de pedestres” e de responsabilidade do proprietário da residência ou estabelecimento. O artigo 605 do capítulo nono do Cop é claro: “Todos os proprietários de imóveis edificados ou não, com frente para vias públicas, onde já se encontrem implantados os meios-fios, são obrigados a construir ou reconstruir os respectivos passeios e mantê-los em perfeito estado de conservação e limpeza, independentemente de qualquer intimação”. Determina ainda que a calçada deverá ter, a partir do meio-fio, no mínimo 1,5 m e, no máximo, cinco metros de largura. Os recuos para estacionamento não são propriedades particulares de quem faz a obra e sim, de domínio público. Segundo a titular da Seuma, o Código de Obras e Posturas de Fortaleza está sendo atualizado e a atualização acontece devido surgimento de novas tecnologias e empreendimentos, após a criação da norma. Até o fim do ano a minuta será encaminhada à Câmara Municipal.

Segundo legislação municipal, não é permitido obstruir a calçada com degraus ou rampas. O proprietário do imóvel é responsabilizado pela infração


7

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 24 de junho de 2014

VERDE das possuem largura padrão de 2,50m e rampas de acesso a cada quarteirão, garantindo assim, livre circulação e segurança ao pedestre”, destaca a nota.

FOTOS: NAYANA MELO

MELHORIAS À VISTA A Secretaria de Turismo de Fortaleza (Setfor) informa que o Programa de Valorização e Ampliação da Infraestrutura e Atividade Turística de Fortaleza (Provatur), detém recursos de R$ 1,1 bilhão para a requalificação do Centro, Praia de Iracema, Moura Brasil e Jacarecanga, por meio de 41 quilômetros de padronização de calçadas, além de outras melhorias. Outros projetos da Setfor devem beneficiar as ruas Vicente de Castro, Alberto Nepomuceno, João Moreira e Adolfo Caminha, aplicando o mesmo padrão recebido pela Monsenhor Tabosa. O calçamento da Avenida Beira Mar será alargado. Já a Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf) informou que foram implantados aproximadamente 300.000 m² de calçadas padronizadas com tijolos intertravados, o equivalente a 140km de extensão nas obras do Programa de Transporte Urbano de Fortaleza (Transfor). “As novas calça-

MELHOR E PIOR Segundo a Setfor “as novas calçadas das avenidas Bezerra de Menezes e Domingos Olímpio, padronizadas pelo Transfor, estão entre as 10 melhores do país, de acordo com o Levantamento Calçadas do Brasil, feito pelo portal Mobilize Brasil em 2012”. No mesmo levantamento, o Centro foi considerado o bairro com as piores calçadas da Cidade. UTILIDADE PÚBLICA Ao se deparar com irregularidades, o cidadão deve entrar em contato com a Secretaria Executiva Regional correspondente a seu bairro e também com a Seuma, por meio do telefone (85) 3452.6923 ou pelo site da Secretaria (www.fortaleza.ce.gov.br/seuma).

BOM EXEMPLO DA MONSENHOR TABOSA - Para a professora Zilsa Santiago, da UFC, a reforma da Avenida Monsenhor Tabosa resultou em uma das melhores calçadas de Fortaleza. “Ela é adequada tanto em relação à largura quanto em relação à acessibilidade, pois tem piso tátil para os deficientes visuais e condições para que cadeirantes percorram a via sem problemas”, afirma. Quanto aos problemas apontados após a reforma, como lixeiras e outros obstáculos colocados sobre o piso tátil para deficientes visuais, Zilsa considera que são questões simples de resolver e que não tiram o valor da intervenção. “No caso das esferas nas esquinas e locais de travessia, por exemplo, são elementos contornáveis e podem facilmente ser substituídos”, confirma. A advogada Anucha Costa, 49, ficou surpresa com a reforma da “Monsenhor”, na opinião da turista maranhense [ela veio para a Copa], “agora está maravilhoso e tenho prazer de caminhar por ela”. No entanto demonstra surpresa com as “péssimas condições das calçadas da Rua João Cordeiro, não melhorou nada”. A turista utiliza a via para dirigir-se ao “hotel na Avenida da Praia”. A Avenida Monsenhor Tabosa foi reformada pela Prefeitura e entregue em março. Após a reinauguração, recebeu críticas de movimentos de pessoas com deficiência. A reforma custou R$ 5,3 milhões e sofreu intervenções após as queixas. Thauzer Fonteles, Coordenador de Pessoas com Deficiência da Secretaria de Direitos Humanos (SDH) afirma que foram necessárias poucas intervenções após a reforma.

Passeio da Avenida Monsenhor Tabosa é considerado um bom exemplo de calçada


8

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 24 de junho de 2014

VERDE

EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Sim, ainda jogamos lixo no chão…

…mas nem tudo está perdido. Durante a exibição da partida entre Brasil e México, na Arena Fan Fest, o Estado Verde ouviu a opinião de torcedores e chegou a flagrar bons exemplos FOTOS: ANDERSON SANTIAGO

POR SHERYDA LOPES oev@oestadoce.com.br

A

notícia de que após uma das partidas da Copa do Mundo no Brasil, torcedores japoneses recolheram o lixo das arquibancadas antes de sair do estádio, surpreendeu aos brasileiros. Nas redes sociais, comentários elogiavam a atitude e ao mesmo tempo apontavam que essa realidade está distante da nossa. Muitos se mostraram espantados com a imagem dos asiáticos com sacolas na mão recolhendo latinhas e guardanapos. A surpresa pode indicar que jamais aprenderemos algo tão simples quanto limpar a nossa própria sujeira? Para a estudante Natasha de Castro, 20, que foi à Arena Fifa Fan Fest no aterro da Praia de Iracema, para ver a partida entre Brasil e México na última terça-feira, 17, o diferencial no comportamento dos torcedores japoneses deve-se à educação do País. “Lá os próprios colégios ensinam, há cooperação na limpeza do ambiente escolar. Aqui a gente sempre tende a deixar o serviço que é considerado ‘pior’ para o outro, infelizmente”, analisa. Segundo ela, na própria Fan Fest viu latinhas e pessoas jogando lixo no chão, e atribui isso ao fato de que as pessoas não levam uma sacola consigo para guardar os resíduos até encontrar uma lixeira. VISÃO DE FORA O engenheiro uruguaio Fernando Suzarcq, 24, veio a Fortaleza para assistir aos jogos da Copa e elogia a Cidade, porém, aponta problemas relacionados ao meio ambiente. “Vocês tem muitas coisas bonitas, mas outras são feias”, declara. Ele lamenta a quantidade de picha-

Ambulantes separam o lixo seco do úmido e entregam os recicláveis aos catadores ções nas paredes, manchas escuras na água do mar (línguas negras) e também o costume de jogar lixo pelas janelas dos carros. “Ainda assim é um lindo país”, pondera, afirmando que embora no Uruguai a situação seja um pouco melhor, o país também tem esse tipo de problema. Já a consultora de engenharia de processos, a mexicana Sofia Carrera, 25, vai além: “Esse problema existe por toda a América Latina, o que é uma pena”. Segundo ela, das três cidades em que esteve para ver os jogos, Natal, São Paulo e Fortaleza, a capital cearense tem a Fan Fest mais limpa e organizada. NEM TUDO ESTÁ PERDIDO Embora haja a visão de que todos os brasileiros são isentos de consciência ambiental, alguns exemplos mostram que

isso não é verdade. A ambulante Francilene Marçal, 39, por exemplo, aproveitou a movimentação no aterro para vender quitutes. Mas o resíduo gerado em sua barraca não vai para o chão. “Faço questão de juntar latinhas e outros lixos secos nesta sacola, aí quando passam os catadores eu entrego para eles”, conta. Quem também toma cuidado com os resíduos é Lucilene do Nascimento, 52, que vende pastéis e outras guloseimas durante a Copa. Por dia, dois litros de óleo de fritura são separados e vai para uma garrafinha pet. “Conheço uma pessoa que recolhe para a reciclagem, aí ela passa lá em casa e leva”, explica. A razão para não mandar a gordura pelo ralo está na ponta da língua: “Se eu fizer isso vai cair no esgoto e pode parar no mar ou em rios”. É, Japão, um dia a gente chega lá.

MAIS DE 10 MIL TONELADAS DE RECICLÁVEIS FORAM RECOLHIDAS Em nota enviada ao Caderno Verde, a Emlurb informou que, durante a Copa, 150 profissionais garantem a limpeza nas proximidades do Castelão. Já no entorno da Fifa Fan Fest, 58 garis realizam a limpeza, com o reforço de mais 50 profissionais antes e depois do evento. A operação distribuiu ainda nos corredores de acesso ao Aterro, 360 lixeiras de cimento (verde/seco e cinza/úmido), além de 12 contêineres de 1,6m³ e dois de 5m³, informa a nota. Até a semana passada, mais de seis mil toneladas de resíduos recicláveis foram recolhidas em Fortaleza em virtude do Mundial. Dentro da Arena Fan Fest, uma parceria entre a Ecofor, empresa responsável pela limpeza do local e catadores cadastrados resultou em 4,7 toneladas de resíduos recolhidos, até o último dia 17, segundo informações da Secretaria da Copa (Secopa).

As lixeiras espalhadas no evento ajudam, mas não impedem que ainda se jogue lixo no chão


9

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 24 de junho de 2014

VERDE

RANKING

Copa da Fifa anuncia estádios mais sustentáveis

Nem todos conseguiram o Selo LEED, nenhum o Ouro. Quase empatou, cinco estão certificados e, o destaque é a Prata do Maracanã tário. A Arena Fonte Nova, por sua vez, superou os requisitos básicos e acumulou 53 pontos: possui 20% de seus materiais de construção feitos de material reciclado, 75 % dos resíduos do projeto de construção desviados do aterro sanitário e 35 % de sua energia proveniente de fontes renováveis como solar e eólica.

POR TARCILIA REGO

tarciliarego@oestadoce.com.br

E

m tempo de Copa do Mundo, não rola outro assunto a não ser a bola. Mas os milhares de visitantes estrangeiros, os milhões de brasileiros, além dos jogadores que estão no país para o evento da Fifa e os telespectadores, estão vendo a bola rolar em campos mais verdes. Dos 12 estádios brasileiros que estão recebendo os jogos do certame futebolístico, seis tiveram projetos certificados, por atenderem à tendência mundial de seguir os princípios da construção civil sustentável. A sustentabilidade, aliás, é uma exigência da Fifa. O conceito surgiu na Copa da Alemanha de 2006, quando a entidade que rege o futebol mundial estabeleceu o “Green Goal”, uma política que prevê medidas como compensação de Gases do Efeito Estufa (GEE), utilizando, por exemplo, água da chuva, coleta seletiva de lixo e equipamentos movidos a energias limpas, nos espaços onde acontecem as partidas, agora, também chamados, por aqui, de arenas. Dentro desse contexto, o Caderno O estado Verde, resolveu ranquear as arenas mais sustentáveis da Copa do Brasil, a partir da certificação LEED – Leadership in Energy and Environmental Design ou Liderança em Energia e Projeto Ambiental, do USGBC – U.S. Green Building Council ou Conselho Americano de Edifícios Verdes, considerado “o programa mais importante do mundo para o projeto, construção, manutenção e operação de prédios verdes”. Atendendo nossa solicitação em busca de informações para definir o ranking, recebemos um comunicado do USGBC, dia 18 de junho, através do qual informa que em conjunto com a Copa do Mundo da FIFA de 2014, no Brasil, anuncia que

cinco estádios das cidades sede, obtiveram a certificação LEED. Segundo o CEO e presidente fundador da USGBC, Rick Fedrizzi, “a Fifa e o governo brasileiro têm mostrado grande liderança e comprometimento para a redução do impacto ambiental dessas instalações da Copa do Mundo e para torná-las uma vitrine de construção sustentável para a comunidade internacional”, conforme o comunicado. “À medida que os olhos do mundo caem sobre o Brasil, estes projetos estão demonstrando não só a aplicabilidade e a adaptabilidade do sistema de classificação do LEED green building no mundo inteiro, mas também a posição de liderança do Brasil na vanguarda do movimento para construções sustentáveis de alta performance”. NEM TODOS CERTIFICADOS Dos 12 estádios onde acontecem os jogos, nem todos obtiveram a certificação internacional. Na lista, o maior estádio da América do Sul, o Maracanã, no Rio de Janeiro, certificado com o selo Prata. Os outros estádios incluem a Arena Cas-

telão, em Fortaleza (certificado LEED), a Arena Fonte Nova, em Salvador (LEED Prata), o Mineirão, em Belo Horizonte (LEED Prata) e a Arena da Amazônia, em Manaus (LEED Prata). O selo LEED possui sete dimensões a serem avaliadas nas edificações. Todas elas com pré-requisitos (práticas obrigatórias) e créditos, recomendações que quando atendidas, garantem pontos a edificação. O nível da certificação é definido, conforme a quantidade de pontos adquiridos, podendo variar de 40 pontos, nível certificado até acima de 80 pontos, nível platina. Os quatro níveis e pontuação correspondentes são: Certificado (40-49 créditos); Prata (50-59 créditos); Ouro (60-79 créditos) e Platina (80-mais créditos). A USGBC avalia que “cada estádio incorporou vários recursos sustentáveis que contribuíram para a obtenção da norma”. A Arena Castelão, por exemplo, somou 47 pontos em sua avaliação e ficou com a certificação básica, mas apresenta uma redução de 12,7% no consumo anual de energia e 97 % dos resíduos do projeto foram desviados do aterro sani-

DESTAQUE Mas o destaque, vai mesmo para o Maracanã. De acordo com o diretor executivo do Green Building Council Brasil (GBC Brasil), Felipe Faria, a empresa de construção brasileira responsável pela certificação do Maracanã, a Odebrecht, “superou os limites de inovação sustentável” com a arena carioca, que “possui recursos como painéis fotovoltaicos no telhado, reservatórios de água da chuva e coleta seletiva de resíduos”. A energia solar é utilizada no aquecimento da água dos vestiários e os painéis fotovoltaicos instalados na cobertura do estádio, são capazes de gerar 400 mil kW/h por ano. ALÉM DE 2014 A certificação ambiental dos estádios para a Copa do Mundo, atendendo padrões internacionais, foi uma condição exigida pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a aprovação dos empréstimos que financiaram as obras de todas as 12 arenas. Mas o desafio está em pensar a sustentabilidade para além de 2014. De acordo com diretrizes da Fifa, a partir da Copa do Mundo de 2018, na Rússia, todos os estádios deverão ser certificados no quesito sustentabilidade. Para o diretor de Sustentabilidade e Responsabilidade Social da entidade, Federico Addiechi, só estádios que tiverem mais de 49 pontos na certificação Leed ou equivalente poderão receber jogos do torneio.


10

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 24 de junho de 2014

VERDE

SELO LEED Os quatro níveis e pontuação cor-

respondentes ao Selo LEED são: Certificado (40-49 créditos); Prata (50-59 créditos); Ouro (60-79 créditos) e Platina (80-mais créditos).

Maracanã, Rio de Janeiro: Selo Prata

Arena da Amazônia, Manaus: Selo Prata

Arena Fonte Nova, Salvador: Selo Prata

Mineirão, Belo Horizonte: Selo Prata

Arena Castelão, Fortaleza: Selo LEED (certificado)

Nem todos os estadios, onde acontecem os jogos foram certificados. Dos doze, cinco obtiverão a certificação internacional. Na lista, o maior estádio da América do Sul, o Maracanã, no Rio de Janeiro, certificado com o selo Prata. Os outros estádios incluem a Arena Castelão, em Fortaleza (certificado LEED), a Arena Fonte Nova, em Salvador (LEED Prata), o Mineirão, em Belo Horizonte (LEED Prata) e a Arena da Amazônia, em Manaus (LEED Prata).


11

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 24 de junho de 2014

VERDE

BIODIVERSIDADE

Espécies descobertas em 2014

N

a Copa da Natureza quem marca ponto são as novas espécies que aos poucos vão sendo descobertas. A seleção que você vai conferir agora – espécies da fauna e da flora – é um exemplo disso. Em Tandayapa Bird Lodge, no Equador, o olinguito acaba de ser descoberto e nas cavernas do mar na ilha de Santa Catalina – na Califórnia (Estados Unidos), vive, agora para o conhecimento de todos, o Liropus minusculus, camarão translúcido que mede apenas alguns milímetros (0,05mm) de comprimento. Na Tailândia foi descoberta a Dracaena kaweesakii uma espécie vegetal popularmente conhecida como “Dragon Tree” e a sua flor, além de incrivelmente linda, conta com pétalas brancas e filamentos cor de laranja.

INDICAÇÃO DE LEITURA Livro escrito por dois caminhantes habituais “Em uma cidade onde as calçadas não são respeitadas, não se pode esperar respeito por mais nada”

A camuflada “rabo de folha” é uma nova e interessante espécie de lagartixa que pode ser encontrada em florestas remotas do norte da Austrália, é Saltuarius eximius e como se pode observar na foto, tem cauda tem formato de folha e toda sua pele é adaptada para se camuflar em cenários de natureza selvagem. Fonte: http://www.livescience.com

ONU

Bolsas para pesquisadores em assuntos oceânicos e direito do mar

O Programa de Bolsas da Fundação Nippon do Japão, em parceria com a Organização das Nações Unidas (ONU), abriu processo de seleção para interessados em assuntos oceânicos e direito do mar. O objetivo principal do Programa é fornecer educação e formação avançada no domínio dos assuntos oceânicos e direito do mar, bem como em disciplinas relacionadas, a funcionários de governos e outros profissionais dos Estados em desenvolvimento. O prazo de inscrição é 12 de setembro de 2014. Nos últimos dez anos, cem pessoas de 60 pa-

íses já participaram do Programa. Os estudos serão conduzidos em dois momentos: o primeiro em uma instituição parceira que acolherá o (a) candidato (a) e o segundo na Divisão da ONU para Assuntos do Oceano e Direito do Mar (Doalos, sigla em inglês), no escritório das Nações Unidas para Assuntos Jurídicos ou em outra instituição parceira. O Programa dura nove meses e os candidatos da bolsa 2015-2016 já começam no ano que vem. As propostas deverão ser enviadas diretamente através do site: www. un.org/depts/los/nippon

A degradação das calcadas de Recife motivou o engenheiro Luiz Helvécio e o consultor Francisco Cunha a escreverem o livro “Calçada: o primeiro degrau da cidadania urbana”. Em 64 páginas, os autores, caminhantes habituais, defendem a ideia de que o desrespeito à calçada é também um desrespeito a um dos direitos fundamentais de todo cidadão: o de ir e vir. O livro, com linguagem clara e documentada por um grande número de imagens de calçadas do Recife e cidades da América do Sul, traz uma análise da importância das calçadas para a mobilidade urbana e para a cidadania além de fazer um resgate histórico dos motivos que levaram à degradação desses espaços públicos. Também, traz levantamento minucioso das calçadas da Capital pernambucana, aponta exemplos de calçadas civilizadas em outros países, resgata a legislação vigente sobre o tema e propõe um roteiro, com sugestões concretas, para a instalação de calçadas cidadãs. Título: Calçada: o primeiro degrau da cidadania urbana Autores: Francisco Cunha e Luiz Helvécio Editora: INTG Páginas: 64 páginas Ano: 2013 Preço: R$ 40,00


12

FORTALEZA - CEARÁ - BRASIL Terça-feira, 24 de junho de 2014

VERDE

Construtores de ruínas POR JÚLIA MANTA* “Fez, talvez, o deserto. Mas pode extingui-lo ainda, corrigindo o passado. E a tarefa não é insuperável.” Euclides da Cunha, Os Sertões

O

s ipês roxos (Handroanthus impetiginosus), há tempos plantados e agora cortados para atender às obras do binário, este mês estariam possivelmente floridos, como os da BR-116. Quando poderemos contemplar agora, nas avenidas Santos Dumont e Dom Luís, uma copa coberta de flores roxas, passando de carro, ônibus, bicicleta ou mesmo à pé, como o cristão da música de Luiz Gonzaga? Árvores levam anos, décadas para exibir grandes copas floridas, necessitam de cuidado e, sim, amor da população e dos gestores da cidade. Mas ao invés da preservação de nossas árvores, como legado às futuras gerações, bem como do patrimônio coletivo e histórico de Fortaleza, o prefeito Roberto Cláudio vai fustigando a cidade, apagando nossa memória e degradando nossas áreas verdes. Enquanto isso, em Campina Grande tem a Avenida Brasília, com sua alameda de ipês roxos, ainda floridos nesta época. Euclides da Cunha, em Os Sertões, cunhou a figura de linguagem “construtores de ruínas”, referindo-se à destruição advinda da exploração do látex, nas seringueiras e cauchos, no alto Purus, Amazônia. Assim como no ciclo da borracha, antes, em toda a “obra civilizatória” esteve implícita a batalha anti-natureza e o apagamento dos rastros das culturas indígenas. Ordem e progresso estiveram muitas vezes de mãos dadas com o arruinamento dos primeiros habitantes dessas terras, da flora e da fauna nativas. Das catequeses ao desmatamento das florestas, dos aldeamentos à expansão das cidades, tece-se a história tradicio-

nal, calando as vozes resistentes sob o fio da violência. Assim como no passado as florestas ou os povos de língua tupi, jê, aruak não foram assimilados à nova dinâmica “civilizatória”, na Fortaleza dos dias de hoje os ipês roxos, o manguezal do Cocó ou os moradores do Alto da Paz não podem ser integrados ao novo “projeto de cidade”, mas devem sim ser amputados pela ditadura da intolerância e do asfalto. Vivemos numa constante situação de ameaça. Roberto Cláudio, em peça publicitária enviada pelos correios aos fortalezenses, afirma que as obras do binário foram

realizadas “para melhorar o trânsito da nossa cidade e levar mais qualidade de vida ao nosso povo”. Esse e outros aparatos publicitários que o envolvem se afinam com toda a falsidade do discurso oficial ao longo dos tempos, coisas de quem se acha com o poder de legitimar a sua versão, sempre parcial, dos fatos. O “povo” citado na peça publicitária “Saiba tudo sobre as obras do binário na sua região” assistiu ao desastroso transplante das árvores, a agonia e morte destas árvores no Horto Municipal, bem como das mudas que foram plantadas em substituição nos passeios

do binário. Viu também na prática que aumentar o espaço para carros sem dar alternativas de transportes coletivos só piora o trânsito. E assim vai Roberto Cláudio, deixando seus rastros nos capítulos da história fortalezense, como diria Euclides da Cunha, como “um terrível fazedor de desertos”, seguindo na tradição dos construtores de ruínas dos territórios desta nação - construindo para arruinar, destruindo para construir. *INTEGRANTE DO MOVIMENTO PRÓ-ÁRVORE


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.