Revista Graffite

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Graffite Revista

Revista Graffite • Ano 1 • nº 001

AINDA HÁ LAMA

ANALISAMOS O ROMPIMENTO DA BARRAGEM DA SAMARCO

ENTENDA A OPERAÇÃO

QUE CRISE?

NACIONAL DE GRAFITE SE MANTÉM LIDER NO MERCADO

DE RESGATE DOS MINEIROS SOTERRADOS VIVOS


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Reitor: Dijon Moraes Júnior. Vice-reitor: José Eustáquio de Brito. Diretora Acadêmica da Unidade Divinópolis - UEMG: Profª Ana Cristina Franco da Rocha Fernandes.

COORDENAÇÃO DE FOTOGRAFIA: Profª Daniela Martins Barbosa Couto. DIAGRAMAÇÃO: Junio Kemil, Luana Carvalho, Rafael Lasmar, Vinícius Xavier. FOTÓGRAFOS: Junio Kemil, Luana Carvalho, Rafael Lasmar, Vinícius Xavier. COORDENAÇÃO GERAL: Profª Daniela Martins Barbosa Couto. PESQUISA: Luana Carvalho. PRODUÇÃO: Junio Kemil, Luana Carvalho, Rafael Lasmar, Vinícius Xavier. PROJETO GRÁFICO: Junio Kemil. REPORTAGENS: Junio Kemil, Luana Carvalho, Rafael Lasmar, Vinícius Xavier. REVISÃO: Rafael Lasmar, Vinícius Xavier.

Graffite Revista

Revista Graffite é uma publicação interna e experimental dos alunos do 3° Período de Jornalismo da UEMG - Unidade Divinópolis, como parte do conteúdo aprendido na disciplina de Técnicas Gráficas e Oficina de Jornalismo I, ambas lecionadas pela Profª Daniela Martins Barbosa Couto.

Divinópolis, Junho de 2016


fite Graffite EDITORIAL

QUEM SOMOS?

Conteúdo

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lançamento da revista Graffite já é anunciado com grande alegria e entusiasmo. Em julho de 2016 a revista entra em circulação abordando a atividade extrativista da mineração. Os repórteres Vinícius Xavier, Luana Carvalho, Junio Kemil e Rafael Lasmar buscaram diversas informações para criar textos em vários formatos e gêneros, tornando a revista agradável e versátil. Nos textos, há bastante foco na empresa Nacional de Grafite, onde uma de suas unidades situa-se na cidade de Itapecerica, interior mineiro e próxima à cidade de Divinópolis, de onde sairá nossa revista. Assim sendo, alguns textos trazem informações dessa unidade mineira, juntamente com uma crítica a respeito do investimento na mineração da cidade juntamente com o Governo do Estado. Diante do fato de uma das maiores empresas de extrativismo do mundo contar com uma unidade em Minas Gerais, há também um enfoque em notícias recentes sobre mineração no estado. Tentar compreender o acidente na cidade de Mariana e seus impactos ambientais em busca de uma ideologia de sustentabilidade nas mineradoras é mais um exemplo do conteúdo da revista. Há também uma crônica muito interessante contando a história de Geremias. Um funcionário da empresa Nacional de Grafite de Itapecerica – MG. Brevemente relatando seu cotidiano, sua vida pessoal, sua família e seu trabalho, a crônica encerra com o pensamento e uma visão de futuro do minerador. Entre as informações de cunho internacional, há uma menção a respeito do acidente registrado no Chile, onde 33 mineradores ficaram 17 dias em um buraco após o desabamento de uma rocha que impedia a saída dos trabalhadores. Para conferir cada detalhe, cada reportagem e cada entrevista da revista, acompanhe a primeira edição da Graffite. Uma revista pra quem gosta e entende do assunto.

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Conteúdo

14 • Capa

A história dos trinta e três mineiros do Chile 06 • Reportagem

Nacional dribla a crise e se consolida no mercado

08 • Entenda

Os processos são necessários para a produção do grafite

10 • Investimentos

Mercado será aquecido com os novos recursos do governo

12 • Não esqueça

Ainda há lama. A Graffite analisa a tragédia em Mariana

22 • Crônica

Refletimos o trabalhador.

cotidiano

do


Economia

NACIONAL SE CONSOLIDA EM MEIO À CRISE NO SETOR DE MINERAÇÃO EM MINAS LUANA CARVALHO

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Nacional de Grafite é uma empresa privada que centra-se na mineração e refinação de alta qualidade de grafite cristalina natural. Fundada em 1939 na cidade de Pindamonhangaba, estado de São Paulo, surgiu pela grande evidência de grafite de uma forma natural. Inclusive as pessoas achavam que a grafite era um remédio para quem tinha doença de pele. Hoje, existem três polos de extração, sendo uma em São Paulo, outra em Pedra Azul e em Itapecerica-MG. Em Itapecerica, a Nacional de Grafite tem um moderno centro de pesquisas e desenvolvimento, operado por uma equipe de profissionais altamente qualificada. Nesse centro, novos produtos e processos são desenvolvidos, sempre em sintonia com as necessidades do mercado. Hoje, a empresa é formada no total por 1200 funcionários. Sendo cada um com sua determinada função como, Operador de Produção, Mecânico, Analista entre outras. Tendo 40% de seus produtos exportados para diversos países do mundo como, Estado Unidos, Alemanha, Rússia, Japão. Além disso, a empresa não tem nenhum tipo de boletim informativo, por já ter seus clientes certos. O que ela faz geralmente é palestras para a comunidade local, dando esclarecimentos sobre a parte de meio ambiente. No meio à crise econômica, algumas mineradoras são obrigadas a pararem seu serviço. Em Minas Gerais, as mineradoras são geradoras de empregos e estão em ritmo de contenção de gastos, dispensando funcionários, assim, acabam prejudicando empresas de outros setores. Alguns funcionários da Nacional de Grafite, relataram sobre a crise econômica e a estabilidade da empresa. “Como 48% do mercado atual da empresa e com o mercado externo (exportação), é com o valor

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ro. Desde 1975 ela vem buscando novos mercados, aplicações, produtos, políticas de qualidade e processos. Hoje ela atende vários países, o que lhe garante boa estabilidade nos períodos de crise nacionais e internacionais”. Apresentar soluções inovadoras a seus clientes, com uma excelente relação custo-benefício, é o caminho que a empresa vislumbra para manter-se líder mundial em sua atividade.

NACIONAL DE GRAFITE/ DIVULGAÇÃO

médio do dólar a 3,60; posso dizer, que a crise parece não afetar a empresa. Mas em contrapartida as vendas no mercado interno caíram 20% em relação ao ano passado. Outro fator para “driblar” a crise é o planejamento em redução de estoques e produzir somente o que está planejado para vendas, obedecendo o estoque de segurança de cada cliente”, calculou o analista de processo produção, Walter Reis Souza. O supervisor de produção e expedição, Darci Mendes disse, “a empresa tem uma visão de futu-

Vista parcial da Nacional de Grafite em Itapecerica a noite.

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Entenda

A PRODUÇÃO DE GRAFITE DA NACIONAL RAFAEL LASMAR

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planeta Terra é composto por rochas que, por sua vez, são compostas por minerais. Alguns desses minerais são considerados valiosos. A mineração é a prática responsável por extrair esses minérios da natureza para uso comercial. Pelo fato de retirar recursos naturais de seu ambiente, a atividade é considerada extrativista. Devido a demanda, grandes estruturas são necessárias para a extração e, por isto a os profissionais da mineração estão sujeitos a muitos acidentes. O pesquisador Celso Salim, da Fundacentro – entidade de pesquisa ligada ao Ministério do Trabalho e Emprego –, afirmou em 2014 que a mineração já era o quarto setor da economia com mais acidentes de trabalho no país e o segundo em taxa de mortalidade por acidente de trabalho. Segundo Salim, os altos índices de acidentes de trabalho na mineração têm reflexo forte na vida das famílias, além de causarem depressão e traumas para os trabalhadores. Os riscos a que os trabalhadores da mineração são submetidos, conforme o pesquisador, incluem exposição à poeira, o manejo de equipamentos sem proteção, carga de trabalho excessiva, movimentos repetitivos, entre outros. Por ser uma atividade do setor primário da economia, a mineração é muito importante para o comércio. O estado de Minas Gerais, como o próprio nome diz, é rico em minerais valiosos e, por esse motivo, conta com várias empresas mineradoras. Uma delas é a gigante Nacional de Grafite. A Nacional de Grafite, cuja uma das unidades é situada em Itapecerica, interior mineiro, há mais de sete décadas, é responsável pela comercialização de grafite de diferentes características,

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nos cinco continentes. A empresa é líder mundial no comércio de grafite natural cristalino, os chamados flakes. Fundada em 1939, a Nacional conta com aproximadamente 1200 funcionários, destes cerca de 390 postos de trabalho estão em Itapecerica. A empresa conta com um moderno centro de pesquisa e desenvolvimento no interior de Minas Gerais.


A deposição desse minério no pátio de alimentação é sistematizada para formar pilhas de alimentação em camadas. O objetivo é reduzir a variabilidade natural do minério. O minério é submetido a sucessivas moagens e processo de separação mecânica das impurezas presentes no grafite. A concentração mecânica objetiva a máxima recuperação do grafite presente no minério, preservando suas características físicas. A concentração com uso de químicas é utilizada na remoção das impurezas remanescentes Trabalhando o grafite no grafite previamente concentrado mecanicaO minério de grafite é extraído das minas mente. A Nacional de Grafite emprega e trata com o uso de máquinas escavadeiras que carre- os resíduos de concentração química de forma a gam caminhões basculantes com o minério bru- não poluir o meio ambiente. to. Todo o processo de extração segue um plano Após a concentração química, o grafite é lade lavra, facilitando a seleção do minério mais vado intensamente com água desmineralizada, adequado a produtos finais. atingindo pH neutro. Em filtros tipo prensa e secadores rotativos, a umidade restante é removida. O grafite é então classificado através de técnicas de peneiramento das partículas do grafite concentrado. Moinhos de jato e martelo trituram o grafite concentrado até que ele atinja o tamanho desejado. A grafite é o material usado em lapiseiras e lápis para escrever ou desenhar. Além disso, o material possui propriedade lubrificante, devido sua forma molecular. O grafite é ainda um ótimo condutor elétrico. Por isso possui aplicações em eletrônica, como em eletrodos e baterias. As partículas moídas são classificadas possibilitando controlar a distribuição granulométrica do produto gerado. Os diferentes métodos de moagem e classificação permitem formatar a partícula, dando ao grafite características distintas de densidade e de superfície específicas para usos relacionados a diversos ramos da indústria. NACIONAL DE GRAFITE/ DIVULGAÇÃO

A cidade de Itapecerica conta com essa identidade cultural e industrial. Por ser uma cidade do interior, a população tem grande conhecimento a respeito da Nacional de Grafite. Atualmente, essa relação entre a mineradora e a população é obtida através de palestras dadas pela empresa destinadas à comunidade local. A empresa não depende de aparições em jornais, informativos ou quaisquer meios de comunicação, pois já há clientes certos para a comercialização de seus produtos.

Vista aérea da extração do minério em Itapecerica.

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Centro-oeste

NOVOS INVESTIMENTOS NA MINERAÇÃO DE ITAPECERICA Mesmo com indústria em deficit há manutenção e repasse de fundos do Governo prometem fomentar economia VINÍCIUS VAVIER

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m menos de um ano, o Governo do Estado e a Prefeitura de Itapecerica além de investimentos terceiros por órgãos dos mesmos, trabalharam juntos para tentarem melhorar a economia da região, através da mineração. Uma das beneficiadas foi a Nacional de Grafite LTDA. Mais de 22 mil pessoas foram direta e indiretamente beneficiadas com isso. Não só os moradores das cidades, mas também a população de cidades próximas da Região Centro-Oeste. O valor do convênio assinado é de R$ 13,6 milhões. O prazo de execução dos serviços é até dezembro de 2016. A iniciativa integra o Programa Estruturador Caminhos de Minas, que tem o objetivo de promover o desenvolvimento e reduzir as desigualdades socioeconômicas em todas as regiões do estado, encurtando distâncias, diminuindo o tempo das viagens e aumentando a capacidade de rodovias que exercem o papel integrador entre os municípios mineiros. O Brasil é um importante produtor mundial, com destaque para Minas Gerais, onde a Magnesita desenvolve um projeto da ordem de R$ 80 milhões, com geração de 200 empregos só na cidade de Almanara no norte do estado, e produção prevista de 40 mil toneladas por ano, a ser iniciada em 2014. Outra empresa importante é a Companhia Nacional de Grafite, que produz na região de Itapecerica/MG. Existem potencialidades de produção no Espírito Santo, Ceará, Pernambuco, Goiás e Tocantins, segundo diversas fontes. No total, o Caminho de Minas prevê a pavimentação de mais de 8.131,13 quilômetros de

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rodovias, beneficiando 309 municípios do Estado, segundo informações do DER. A assinatura do documento ocorreu na sede da Codemig. Participam do evento o secretário de Estado de Transportes e Obras Públicas, Murilo de Campos Valadares, o presidente da Codemig, Marco Antônio Castello Branco, o diretor-geral do DER-MG, Célio Dantas de Brito, e o prefeito de Itapecerica, Antonio Dianese, além do deputado estadual Tiago Ulisses.

Codemig Empresa pública controlada pelo Estado, a Codemig integra o sistema liderado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico. A Companhia investe em múltiplos segmentos, como mineração, pesquisa de óleo e gás natural, hotelaria, parques e balneários, distritos industriais e centros de feiras e exposições, os Expominas. Essa diversidade de atuação reforça a missão da companhia e projeta a empresa como referência em desenvolvimento regional. Conectada com o presente e de olho no futuro, a Codemig vive hoje um novo tempo. Em consonância com as diretrizes inovadoras do Governo Estadual, a empresa vem pautando suas ações de maneira arrojada e moderna, pautada em três grandes eixos estratégicos: Indústria de Energia, Mineração e Metalurgia; Indústria de Alta Tecnologia; e Indústria Criativa. Todas essas frentes evidenciam o forte compromisso da empresa com o desenvolvimento econômico de Minas Gerais e o bem-estar social dos mineiros.


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ff Graffite. Escreve para nรฃo esquecer.


Análise

a m a l á h a d n Ai

VINÍCIUS XAVIER

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o início de novembro do ano passado, ocorreu o pior acidente da mineração brasileira no município de Mariana, em Minas Gerais. A tragédia ocorreu após o rompimento da barragem do Fundão, propriedade da mineradora Samarco, empresa controlada pela Vale e pela BHP Billinton, maior mineradora do mundo. Era de se esperar de uma mineradora a preocupação constante com o meio-ambiente e sustentabilidade. Palavras não são tudo. Compreender o acidente em Mariana e seus impactos ambientais serve como um alerta para a criação de medidas mais eficazes de segurança para as mineradoras. Conhecer a história das pessoas que lá deixam seus esforços, suas histórias e sua vida não só traz empatia da comunidade e a valorização da empresa, como ajudaria a projetar um futuro melhor e mais limpo para a sociedade que complementam os arredores dos negócios. O rompimento da barragem provocou uma enxurrada de lama que devastou o distrito de

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Bento Rodrigues, deixando um rastro de destruição à medida que avança pelo Rio Doce. Várias pessoas ficaram desabrigadas desde então, com pouca água disponível, sem contar aqueles que perderam a vida na tragédia. Além disso, há os impactos ambientais, que são incalculáveis e, provavelmente, irreversíveis. O acidente em Mariana liberou cerca de 62 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração, que eram formados, principalmente, por óxido de ferro, água e lama. Apesar de não possuir, segundo a Samarco, nenhum produto que causa intoxicação no homem, esses rejeitos podem devastar grandes ecossistemas. A lama que atingiu as regiões próximas à barragem formou uma espécie de “onda” no local. Essa cobertura, quando secar, formará uma espécie de cimento, que impedirá o desenvolvimento de muitas espécies. Essa pavimentação, no entanto, demorará certo tempo, pois, em virtude da quantidade de rejeitos, especialistas acreditam que a lama demorará anos para secar. Enquan-


THIAGO FERNANDES/ EMATER

Conteúdo

to o solo não seca também é impossível realizar qualquer construção no local. A cobertura de lama também impedirá o desenvolvimento de espécies vegetais, uma vez que é pobre em matéria orgânica, o que tornará, portanto, a região infértil. Além disso, em virtude da composição dos rejeitos, ao passar por um local, afetarão o pH da terra e causarão a desestruturação química do solo. Todos esses fatores levarão à extinção total do ambiente presente antes do acidente. O rompimento da barragem afetou o Rio Gualaxo, um importante afluente do rio Carmo, o qual deságua no Rio Doce, caminho pelo qual a lama encontrou 230 municípios da bacia, em Minas Gerais e Espírito Santo até desaguar no Atlântico. À medida que a lama atingia os ambientes aquáticos, causa a morte de todos os organismos ali encontrados, como algas e peixes. Após o acidente, vários cardumes morreram em razão da falta de oxigênio dissolvido na água e também em consequência da obstrução das brânquias. O

ecossistema aquático desses rios foi afetado e, consequentemente, os moradores que se beneficiavam da pesca. A grande quantidade de lama lançada no ambiente afeta os rios não apenas no que diz respeito à vida aquática. Muitos desses rios sofrerão com assoreamento, mudanças nos cursos, diminuição da profundidade e até mesmo soterramento de nascentes. A lama, além de causar a morte dos rios, destruiu uma grande região ao redor desses locais. A força dos rejeitos arrancou a mata ciliar e o que restou foi coberto pelo material. Por fim, espera-se que a lama, ao atingir o mar, tenha afetado diretamente a vida marinha na região do Espírito Santo onde o Rio Doce encontra o oceano. Biólogos temem os efeitos dos rejeitos nos recifes de corais de Abrolhos, um local com grande variedade de espécies marinhas.

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a s ê r t e a t n s vo i r l a t s s O Capa

Quase seis anos após o acidente que mobilizou o mundo, recontamos as história do resgate dos mineiros de San José JUNIO KEMIL

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ntonando gritos de “Chi, Chi, Chi, Chile”, Mario Sepúlveda, de 40 anos, foi um dos primeiros mineiros a ser resgatado após passar 69 dias preso a 688 metros da superfície, naquela que ficou conhecida como a mais difícil operação de resgate a vítimas de um acidente envolvendo uma mineradora da história do Chile. O eletricista ficou conhecido como o porta voz da equipe composta por 33 mineiros soterrados vivos dentro da mina de San José. No dia 05 de agosto de 2010, o desabamento de uma rocha basáltica, com peso estimado em 800 mil toneladas, impediu que 33 mineiros saíssem pela única rampa de acesso à mina. Somente depois de 17 dias em meio a completa escuridão, uma das escavações feita pela equipe de resgate, atingiu o local exato onde os mineradores aguardavam um milagre. Luiz Urzúa surge na imagem que rodou o mundo, visivelmente esperançoso.

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No bilhete enviado buraco acima através da sonda estava escrito a mensagem em forma de alívio, “estamos bem no refúgio, os 33”. O recado chamou a atenção do mundo. A partir da descoberta, no dia 22 de agosto, o clima de tristeza se transformou em euforia e, ao mesmo tempo, tensão. Resgatar aqueles homens se tornou um projeto nacional. Especialistas de todo o mundo foram levados ao Chile com o objetivo de encontrar a melhor maneira de retirar os trabalhadores ainda com vida daquela mina de cobre. Cada minuto contava. As condições dentro da mina eram completamente insalubres a longo prazo. Não havia água e nem comida suficiente. A atmosfera subterrânea onde estiveram os 33 mineiros rondava 36°C e a umidade relativa variava entre 85 a 94%. Uma verdadeira sauna às escuras. Um dos mineiros mais velhos, Omar Reygadas, relatou à televisão


DAVID BAKER

Detalhes do acampamento Esperanza, montado ao lado da mina San José.

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DAVID BAKER

alemã DW, as grandes dificuldades que eles enfrentaram. “Fomos encontrados 17 dias depois do acidente. Estávamos sobrevivendo com uma colher de chá de atum em conserva cada um, a cada 72 horas. A única água que havia era aquela suja e oleosa que normalmente usávamos para limpar as máquinas de mineração”, conta Reygadas. Ao saber do acidente, o presidente chileno, Sebastián Piñera interrompeu uma visita à Colômbia e disse que o governo faria tudo humanamente possível para resgatar os trabalhadores. Desde então, o presidente passou a acompanhar pessoalmente o resgate e os esforços se multiplicaram. A mina San José é um local de exploração de cobre e ouro. Está localizada a noroeste de Copiapó, 850 quilômetros ao norte de Santiago. A jazida de San José é de origem vulcânica e está relacionada com a falha tectônica presente em toda a costa chilena. Os filões magmáticos da mina de San José são de forma tabulares, resultantes do preenchimento de fraturas pré-existentes nas rochas dioríticas, comuns na região. A pedra que soterrou os mineiros se forma porque uma grande parte do manto superior da crosta terrestre é constituída por peridotitos, uma rocha holomelanocrata, muito escura, é constituída exclusivamente por minerais máficos. Quando esses peridotitos ascendem na astenosfera a pressão diminui, provocando a fusão de minerais formando magmas


Entrada da mina San José 8 meses depois dos resgate.

de composição basáltica. Esses magmas quando consolidados à superfície dão origem aos basaltos propriamente ditos. A sua movimentação e dimensões são variáveis, com algumas ramificações e variações de texturas e mineralógicas. A mina de San José tinha capacidade de produzir cerca de 1200 t/dia de minério, com um total de 140 a 150 trabalhadores por turno. Porém, neste dia, o número estava reduzido em 33. As fragilidades estruturais na zona mineralizada, quando realizadas as aberturas subterrâneas, explicam a instabilidade do maciço rochoso no interior da mina, podendo provocar a rotura e deslizamento e causar consequentemente acidentes. A mina já possuía antecedentes antes mesmo da queda da gigantesca pedra de basalto. Entre 2003 e 2010, sucessivos acidentes no local mataram três mineiros e deixaram outros dois feridos. Em 2007, a morte de um geólogo provocou o fechamento da mina, mas em maio de 2008, o SERNAGEOMIN, Serviço Nacional de Geologia e Mineração, autorizou a reabertura completa após uma revisão e compromisso com melhorias de segurança. À época do acidente, o Ministro de Mineração Laurence Golborne revelou a intenção de criar de uma Superintendência de mineração para evitar futuros acidentes. “Paralelamente com o processo de resgate dos mineiros, temos trabalhado nas instituições do SERNAGEOMIN e análise de controle de mineração (…) As tarefas visam

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reorientar o papel do Estado para o controle da indústria, avaliação licenças e processo de inspeção, incluindo sanções”, revelou em entrevista ao diário La Terceira. As principais causas do acidente de 2010 estão relacionadas com as altas tensões, os esforços de compressão e tração no maciço rochoso, além do inadequado dimensionamento dos pilares que sustentavam a estrutura acima da jazida. Porém, de acordo com informações da TV Globo, exibidas no Fantástico em 2015, uma decisão do Ministério Público Criminal, encerrou as investigações sobre o desmoronamento sem culpar ninguém. Diante da tragédia, foi iniciada uma tentativa de resgate através das chaminés de ventilação espalhados pela mina. Mas em 7 de agosto, a equipe de salvamento não conseguiu avançar após ter verificado o deslizamento de rochas, também na zona das chaminés. Foi necessário como alternativa, utilizar tecnologia de ponta para a localização dos mineiros no subsolo e para o posterior processo de resgate. Foi inegável a excelência do papel desempenhado pela engenharia nas duas etapas de salvamento dos 33 mineiros no Chile. A primeira etapa, compreendida entre o momento que começou o drama do acidente e o momento de localizar os mineiros com vida foi determinante a contribuição da topografia, a prospecção, a geologia, os métodos de exploração subterrânea, além do planejamento e controle das operações. Para resgatar os 33 mineiros do subsolo, diversos especialistas contribuíram com a aplicação de

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OS EQUIPAMENTOS NAS CÁPSULAS DE RESGATE Para o resgate dos mineiros foram preparadas as cápsula Fênix I e II, que tinham as mesmas características e poderiam ser utilizadas alternadamente para realizar manutenção contínua. O cabo que prende a cápsula pode suportar 54 toneladas.

A ventilação foi feita através da parte superior da cápsula.

Os mineiros tinham 4 tanques de oxigênio, que seria usado apenas em caso de emergência. Capacidade suficiente para três viagens completas.

450 Kg Peso da cápsula

As rodas tinham amortecedores que variavam no interior da cápsula e impediam qualquer movimento de trepidação na cabine.

A cápsula Fênix III era menor e contava com rodas em sua base. O seu uso estava cogitado apenas para emergências. Fênix II Fênix III

Manobra de emergência Precavidos da possibilidade dos mineiros ficar preso em algum lugar do caminho, havia um mecanismo de emergência que lhes permitiria soltar o nível superior da cápsula. No topo existiam alças que, quando pressionadas, soltariam o cone superior da cápsula.

O cabo que prende a cápsula permitiria que a cápsula, mesmo desprendida do cone, continuaria enganchada com o restante da Fênix.

O resto da cápsula seria devolvido para a mina em uma velocidade segura.

Equipamentos A comunicação dos mineiros com o exterior foi feita através do capacete, especialmente adaptado para o resgate, o qual possuía um microfone e um fone de ouvido.

Através das vias nasais foi colocado o tubo de oxigênio.

Cintos de segurança sustentariam os mineiros na parte superior do cilindro. Levantamento: Carolina Araya, H. Fleming/Infográficos: M. Cáceres, I Muñoz/ Adaptação: Junio Kemil


EDUARDO BERTRAN

alta tecnologia em curto prazo. Na segunda etapa, a escavação da chaminé e o resgate propriamente dito, foi imprescindível utilizar a alta engenharia geológica e mineira, apoiada pela topografia, pela engenharia mecânica, hidráulica, informática, o planeamento estratégico e da política. Dos US$ 22 milhões do custo do resgate, a mineradora San Esteban, proprietária da jazida, ficou responsável por reembolsar 25% ao Estado chileno. A cápsula batizada de Fênix II foi colocada em ação. A ideia era transformar a cabine em uma espécie de elevador desenhado pela Nasa. Os 60 centímetros de diâmetro foram colocados no furo cavado a partir da perfuradora modelo Raise Borer Strata 950. A tecnologia australiana foi intercalada com outra máquina e o túnel foi alargado com um instrumento conhecido como scaler, numa velocidade de penetração variando entre 10 e 15 metros por dia. Durante a perfuração já era esperado alguns percalços que atrapalhariam a operação. Sob condições normais, a broca formada por carboneto de tungstênio, era substituída a cada 20 ou 40 metros devido ao desgaste por atrito e a ausência de qualquer sistema de refrigeração. O lento avanço se deve a falhas geológicas encontradas na mina que obrigaram a tapar, por várias vezes, o túnel com cimento e perfurar uma segunda vez. Sob responsabilidade do engenheiro André Sougarret, a máquina que utiliza 36 litros dágua por segundo, levou 42 dias para cavar os metros 622 de profundidade. A retirada dos mineiros foi

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Conteúdo transmitida, ao vivo, para o mundo todo. Mais de 200 jornalistas estavam credenciados. Em 17 minutos junto da Fênix II um socorrista desceu para dar instruções aos 33 homens. Florencio Ávalos, de 31 anos, foi o primeiro a embarcar morro à cima. No acampamento Esperanza, montado em volta da mina, o filho Byron Ávalos de 7 anos mal suportava os 16 minutos da viagem. Foi quando aos 11 minutos do dia 13 de outubro o primeiro mineiro pisava em terra firme. 22 horas depois, Luis Urzúa, o último dos mineiros estava a salvo na superfície. Euforia. Seis anos após a tragédia muita coisa mudou na vida de quem viu o mundo por imaginando que jamais iria reencontrar a luz do sol. “Afinal de contas, esses meses encurralados na mina não foram maus, nem bons. Mas me ajudaram a dar valor a coisas de que me tinha esquecido”, disse Daniel Herrera, 32 anos, ao jornal português O Observador, explicando que nunca na sua vida deu tanto valor a uma “simples brisa na cara” ou ao tempo que passa “com a família”. “Senti que precisava de voltar a trabalhar, a licença de baixa estava a destruir-me”.

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ESTEBAN GONZÁLEZ

Conteúdo

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Crônica

Onde está o ? o ã e p o d o d a g le

Pela casa e pelo povo. A labuta cotidiana de deixar algo pra família e para cidade.

LUANA CARVALHO E VINÍCIUS XAVIER

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eremias. 40 e poucos anos. Cabelo curto e grisalho. Dois dias sim e um não, acorda para se preparar pro trabalho.Vai à varanda dar comida para o cão – não menos membro da família. Alícia, esposa de Geremias, já acordada e sintonizada no radinho. No aparelho, um programa religioso ecumênico. Sucesso no estado, quiçá país. Geremias não é só o homem da casa. Ele e mais tantos outros fazem a mesma trajetória em Itapecerica. Na cidade histórica do Centro-Oeste de Minas Gerais. Percorrem as ruas de pedra-sabão, andando depressa em suas botinas de peão. Não de rodeio. De garimpo mesmo. Mineração. A tarefa diária é escavar grafite em uma das maiores reservas mundiais. A Nacional de Grafite LTDA. É dali que sai a matéria-prima da lapiseira de muito estudante. De lá também vai à substância que acaba num piche bonito muro à fora, mundo à fora. “Não existe amor em Itapê”. Em menção ao Criolo, uma pichação na Praça da Matriz. Um dos pontos tombados pelo patrimônio do Estado. Mas existe amor sim. A gente é que não pergunta. Que gente? A gente, ora! Todos. A começar da Dona Maria na avenida principal, varrendo a porta de casa. Vendo o Geremias e mais tarde a

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banda passar. Lohanne, filha de Geremias, irmã mais nova de Thaíse, tem bastante orgulho do pai e da mãe que tem. Cresceram vendo os esforços dos dois. A mãe suja com cheiro e mancha de comida e os afazeres domésticos – como muitas “mulheres tradicionais de famílias do bem” pelo Brasil à fora. O pai não menos cansado e imundo, na mente e no físico, com a batida da lata. Lata não. Picareta. Retroescavadeira. Barulho. Insalubridade. Pouco retorno para casa. Pouco volta pra cidade. O ambiente então? Poluído sim, tanto quanto as margens do Ribeirão da Gama. SOS Geremias! Não tinha intuito de ser herói ou deixar um legado. Só queria o pão deles sem heresia. As contas todas em dia. No final da noite, se tivesse disposição, teria alguma alegria. Mas não tinha tantas. Só o orgulho e contemplação do que tinha. Era virar pro lado, fechar a janela ao pé da montanha. Não sentir frio e tentar descansar. Amanhã tem capitalismo opressor outra vez. Patrão lucrando mesmo “em crise”, peão suando mesmo com fadiga. O que resta ali e é imortal é só mesmo as ruas de pedra-sabão e a fé. Apontar pra ela e remar.

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fite Graffite Conteúdo

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Conteúdo

UEMG UNIDADE DIVINÓPOLIS

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