Epistemologia da Comunicação

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Teorias e Modelos de Comunicação

Epistemologia da Comunicação

INSTITUTO PIAGET PÓS GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E DA COMUNICAÇÃO OLGA ISABEL GONÇALVES LIMA TAVARES 4 de Dezembro de 2009


EPISTEMOLOGIA O que é a epistemologia e qual o seu estatuto como disciplina é um tema muito debatido e que tem sido objecto de diferentes perspectivas defendidas por diversos autores. Tradicionalmente é uma disciplina filosófica que estuda o conhecimento humano em seus aspectos puramente lógicos, por exemplo, esquematizando a relação entre uma afirmação feita e as evidências que a apóiam e, colcando de lado os aspectos psicológicos envolvidos nos processos cognitivos, entre eles, a aprendizagem. No seu estatuto como disciplina, a epistemologia pode dividir-se em três categorias: 1º Epistemologia como ramo da filosofia – É entendida como uma reflexão filosófica sobre o conhecimento científico, sendo assim, é uma tarefa de que deve ser desempenhada pelos filósofos. 2º Epistemologia como actividade emergente da própria actividade científica – É uma tarefa que só os cientistas podem realizar, pois analisam, reflectem e explicam a sua actividade científica. Neste caso o cientista assume também o papel de um filósofo, exemplo disso são os cientistas, Einstein, Heinsenberg ou Monod. 3º Epistemologia como disciplina autónoma - É considerada como uma investigação meta científica e os epistemológicos tem aqui o seu domínio. Passa a ter o seu próprio tema e o seu próprio método.

Podemos resumir o conceito com o seguinte esquema:

Epistemologia

- Ramo da filosofia; Disciplina

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- Actividade emergente da própria actividade científica; - Disciplina autónoma.

Como podemos ver na primeira categoria, a ciência constituiu, desde sempre, um dos pontos centrais de reflexão da filosofia. Questões como as seguintes foram colocadas:

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- Como se constrói o “saber”? - Como nasce o “conhecimento”? - A partir de que imperativo epistemológico pode-se pensar fundar uma ciência do conhecimento?

A partir daqui, podemos dividir em três grandes períodos o tipo de questões que a filosofia tem colocado à ciência:

Primeiro período – A pergunta central consiste em saber se a ciência é ou não possível. No mundo antigo, encontramos duas posições: a dos cépticos que recusavam a possibilidade da ciência, justificando-se que não era possível chegar a um conhecimento universal, pois todo e qualquer conhecimento é subjectivo; e os sistemas filosóficos de Aristóteles e de Platão que defendiam a ciência e a sua possibilidade. Posteriormente, no Renascimento, assiste-se a uma nova crise céptica, por exemplo, com Montaigne (escritor e ensaísta francês), considerado por muitos como o inventor do ensaio pessoal. Nas suas obras e, mais especificamente nos seus "Ensaios", analisou as instituições, as opiniões e os costumes, debruçando-se sobre os dogmas da sua época e tomando a generalidade da humanidade como objecto de estudo. Em pleno século XVI, afirmava nada saber nem nada ser possível saber de modo verdadeiro. Mas outros cépticos afirmavam que “há muito mais coisas que não sabemos do que aquelas que sabemos e praticamente nada de verdadeiro nos é possível conhecer”. É neste ambiente de profundo negativismo que ressurge movimentos filosóficos liderados por Descartes (… Eu penso logo existo, este filósofo defendia que só a existência do pensamento é que o fazia existir como ser) ou

Segundo período - Este período é estabelecido a partir de Kant, que tem como pano de fundo a física de Newton (Isaac Newton demonstrou que o movimento de objectos, tanto na Terra como em outros corpos celestes, são governados pelo mesmo conjunto de leis naturais). A pergunta central passa a ser Como é que a ciência é possível, ou seja, quais são as condições que permitem passar de um conhecimento teoricamente decidido a um conhecimento universal.

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Leibniz que vão ter como pano de fundo a ciência experimental de Copérnico e Galileu.

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Terceiro período (que se prolonga até aos nossos dias), a filosofia centra-se na questão de saber o que é a ciência. Aqui distingue-se dois modos fundamentais: Normativo Descritivo

O modo normativo questiona-se em quais as condições que permitem distinguir um enunciado científico de um não científico.

Modo descritivo coloca as seguintes questões: Como é que a ciência funciona? Quais os seus métodos? Qual a natureza dos processos em jogo? Quais as relações que estabelece com outros tipos de conhecimento? Ao longo de milénios, os conhecimentos se multiplicaram e se diversificaram. Com eles, surgiram centenas de epistemologias regionais (considera-se uma ciência em particular, por exemplo a matemática, biologia, física, etc.) que, cruzam-se através das suas inter-relações. É através destas inter-relações de comunicação com outras disciplinas que surge o conhecimento (sem comunicação não existiria conhecimento). A comunicação encontra-se no coração da elaboração de toda e de qualquer epistemologia.

Mas afinal o que é “Comunicação”?

Thayer, define comunicação como “processo vital através do qual indivíduos e organizações se relacionam uns com os outros, influenciando-se mutuamente”. Para que haja comunicação é necessário que exista um emissor e, pelo menos um receptor, e que estes A Epistemologia da Comunicação

entendam a mesma linguagem. No wikipédia pode-se encontrar a seguinte definição “um processo que envolve a troca de informações e, utiliza os sistemas simbólicos como suporte para este fim”.

Quanto à forma, a Comunicação pode ser verbal, não - verbal e mediada. A comunicação Verbal é composta pela Fonética e pela Escrita; A comunicação Não Verbal é a comunicação que não é feita com sinais verbais (escrita e verbal).

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O que é a informação?

É o resultado do tratamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que representa uma modificação (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema (pessoa, animal ou máquina) que a recebe.

A informação corresponde assim: - Ao processo de diminuição de incerteza; - A uma notícia (novidade); - A dados que permitam orientar a acção; - A um enunciado que trata da realidade seja esta duradoura (estável/estado orgânico) ou transitória (passageiro/possui valor de verdade).

A Informação, regra geral não produz Comunicação (no sentido relacional). Dar uma informação é considerado um acto unilateral, uma vez que o emissor não espera uma retroacção por parte do receptor.

A comunicação e a informação originam a educação

Ao falar em comunicação e informação implicitamente aborda-se o termo educação “designa e engloba todos aqueles factores humanos nos quais se dão o processo de criação

Comunicação e educação estão ambas ligadas uma à outra, uma vez que educação não tem sentido se não houver comunicação; assim como a comunicação não pode dispensar a educação, pois o ser humano precisa de estar apetrechado da capacidade de desenvolver e criar símbolos, para comunicar e deste modo colaborar na construção dos alicerces culturais da sociedade.

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ou transmissão de informação e cujo protagonista é o homem que assimila tal informação”.

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A Comunicação educacional e os seus elementos

Dentro dos esquemas dos modelos de Comunicação Educacional, gostaria de destacar o modelo de dois investigadores norte-americanos, Claude Shannon e Warren Weaver, que publicaram a “Teoria Matemática da Comunicação” em 1949. Esta teoria tem como objectivo medir a quantidade da informação que está contida numa mensagem bem como a capacidade de informação de um dado canal, quer a comunicação se efectua entre duas máquinas, dois seres humanos ou entre uma máquina e um ser humano.

Surge assim os conceitos: fonte decide qual a mensagem a enviar, seleccionando uma de entre um conjunto de mensagens possíveis; o transmissor por sua vez transforma esta mensagem num sinal, que depois envia ao receptor (aquele a quem se dirige a mensagem, quem recebe a informação e a descodifica, isto é, transforma os impulsos físicos (sinais) em mensagem recuperada) através do canal (meio usado para transportar uma mensagem do emissor ao receptor). O meio “é constituído pelos recursos técnicos ou físicos para converter a mensagem num sinal capaz de ser transmitido ao longo do canal”,

Com estes autores, aparece um novo termo: o ruído. O ruído é algo que é acrescentado ao sinal, entre a sua transmissão e a sua recepção e que não é pretendido pela fonte. Inicialmente situado no quadro técnico do canal (pode ser uma distorção do som, interferências nas linhas telefónicas, etc.), foi alargado por Weaver ao nível semântico pelos problemas da interpretação do significado pretendido numa mensagem. Exemplo disso é quando um professor está a dar uma aula e verifica que existem alunos distraídos e a conversarem entre si, “estes sons” vão perturbar a transmissão da informação

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aos seus discentes. Outro exemplo e muito habitual é quando estamos ao telefone numa estação de comboios e devido á proximidade do comboio deixamos de ouvir o que a outra pessoa nos está a dizer, implica que teremos que repetir a conversa.

Outra inovação deste modelo trata-se da tentativa de medir o conteúdo ou novidade informática. Essa quantidade mensurável que caracteriza a mensagem está ligada à sua extensão, às dimensões no espaço e no tempo, do seu suporte ou do seu canal de transferência mas sobretudo à imprevisibilidade da sua ocorrência. Esta medição da

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informação é útil no desenvolvimento do computador moderno e que dá uma grande ajuda aos media pois facilita bastante na transmissão de informação. A partir desta teoria, vão surgir dois conceitos: a entropia e a redundância.

A entropia define-se como a medida do grau de desordem de um dado sistema de comunicação, a falta de previsibilidade numa situação, resultando em incerteza. O surgimento da música atonal (música composta fora dos padrões do sistema tonal, este sistema dominou a música ocidental desde aproximadamente o fim da Idade Média até meados do século XIX) é um bom exemplo da aplicação da entropia. Embora a influência das sonoridades atonais sobre a música popular não tenha sido tão dominadora quanto a que foi exercida sobre a música erudita, ela não pode ser desprezada: no jazz, podemos citar as improvisações coletivas de Ornette Coleman nos anos sessenta (no chamado free jazz), o piano inesquecível de Cecil Taylor e as fases finais de John Coltrane.

A redundância é o oposto da entropia, resulta de uma previsibilidade elevada. Assim, numa mensagem de baixa previsibilidade é entrópica e com muita informação, inversamente, uma mensagem de elevada previsibilidade é redundante e com pouca informação. É um acto repetir várias vezes a mesma ideia. O dizer “vou subir para cima” ou “vou descer para baixo” é na realidade um acto de redundância, pois estamos a repetir duas vezes a mesma ideia subir implica ir para cima, o descer implica ir para baixo. Quantos de nós já não disseram uma destas duas frases pelo menos uma vez na vida? Daqui concluí-se que a redundância vai desempenhar um papel vital na comunicação, uma vez que vai organizar e manter a compreensibilidade da mensagem, ajudando a estabelecer um valor optimum para a compreensão da mensagem, apresentado como um jogo

Para finalizar gostaria ainda de falar em dois termos que fazem parte do processo de comunicação:

- O acto sémico “Conjunto de factores e condições que constituem a realização da transmissão de uma mensagem”. O receptor tem de ter o conhecimento suficiente do código utilizado, para poder identificar e descodificar correctamente o sinal. Os ruídos, a

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dialéctico entre a originalidade (imprevisibilidade) e a inteligibilidade.

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ambiguidade do sinal ou a má descodificação e interpretação por parte do receptor podem deteriorar o acto sémico.

- O Feedback é a transmissão da reacção do receptor de volta ao emissor. Na síntese tem uma função reguladora que ajuda o emissor a ajustar a sua mensagem às necessidades e reacções do receptor.

Fontes Sites consultados: http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/opombo/investigacao/cat_epist.htm http://www.uff.br/mestcii/samain1.htm http://www.infopedia.pt/$acto-semico http://recantodasletras.uol.com.br/artigos/1708147 http://elisetemartins.blogia.com/temas/a-comunicc-o-organizacional.php http://pt.wikipedia.org/wiki/Canal_(comunica%C3%A7%C3%A3o)

Bibliografia Documento Conceitos (página 3, 5 e 6) elaborado pelo Instituto Piaget e disponibilizado na plataforma Moodle da mesma instituição.

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Manuel João Freixo, Teorias e Modelos de Comunicação (página 144)

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