O MAL-EDUCADO luta e organização nas escolas
#2 - fev/2014 - gremiolivre.wordpress.com
Por uma escola sem muros, grades ou portões A construção de muros, portões e grades já são rotineiras nas escolas paulistas. A principal justificativa das direções tem sido a segurança dos alunos, funcionários e do patrimônio escolar. No entanto, a altura cada vez mais crescente dos muros e a quantidade cada vez maior de grades e portões provam a ineficácia desse tipo de solução. Além disso, os alunos e a comunidade escolar raramente são consultados sobre essas intervenções. E apesar das barreiras não impedirem a entrada de bandidos nas escolas, elas frequentemente têm impedido o acesso dos próprios alunos. Por essas e outras razões, tem sido cada vez mais frequentes as revoltas dos estudantes contra essas construções em suas escolas. Escolhemos alguns exemplos para ilustrar essa insatisfação dos alunos e como as direções tentam desmobilizá-los a todo custo. ETESP: “proibida a passagem de alunos” Na ETEC São Paulo, no Bom Retiro, o estopim para a revolta foi o fechamento de um dos portões de acesso à escola. Os alunos decidiram começar a mobilização coletando assinaturas para um abaixoassinado
e
enviando
uma
carta
pedindo
um
posicionamento da direção, que obviamente se negou
O muro da vergonha
Diante disso o movimento realizou reuniões abertas
a prestar qualquer esclarecimento, dizendo apenas
No final de novembro os alunos da EE Antônio
que se tratava de uma medida de segurança.
Manoel Alves da Silva, no Jd. São Luís, chegaram pela
Os alunos contestaram o argumento apresentado, dizendo que, na realidade, se tratava de mais uma medida de controle sobre quem acessa o campus, fazendo parte de uma política de elitização das ETECs, que inclui também a adoção de carteirinhas. Diante disso, os estudantes realizaram uma assembleia onde decidiram fazer um protesto pedindo a abertura do portão. A estratégia dos alunos se mostrou correta, pois, por meio do abaixo-assinado e da carta enviada à direção, eles conseguiram, de uma só vez, divulgar as suas reivindicações e legitimar qualquer ação mais radical que viessem tomar. E de fato, durante o ato o portão foi aberto pelos alunos, que se dirigiram à sede do Centro Paula Souza (entidade que administra todas
as
ETECs),
onde
realizaram
uma
nova
manhã e encontraram um muro sendo construído no meio do pátio. Segundo a direção, a construção do muro visava impedir o acesso de usuários de drogas que supostamente entravam pela Fundação Julita, uma ONG que fica atrás da escola. Logo na semana seguinte, no dia 2 de dezembro, os alunos realizaram uma manifestação contra o muro, que foi apelidado de “Muro da Vergonha”. Em resposta, a direção convoca uma reunião do Conselho que, em meio a diversas fraudes, aprovou a construção do muro assim mesmo. Os estudantes denunciaram a manobra da direção, afirmando que a reunião só tinha 2 alunos e nenhum pai ou mãe, sendo que o restante eram professores e funcionários escolhidos a dedo pela direção.
com toda a comunidade escolar, mas a direção, apesar de ter sido convidada, não compareceu e marcou reuniões no mesmo horário para impedir a participação dos professores. Os alunos também condenaram a decisão da escola de chamar a ONG “Sou da Paz” para formar o grêmio estudantil e passaram a se organizar independentemente. Esse ano, o movimento promete continuar lutando até que o muro caia definitivamente. Mais um portão, Vieira? Na EE José Vieira de Moraes, no Rio Bonito, os alunos foram surpreendidos no início do ano letivo com a instalação de mais um portão na escola. A direção diz que a medida foi tomada (adivinhem?) para a segurança dos alunos, pois moradores de rua estariam dormindo em frente ao antigo portão da escola. Ou seja, o problema não foi resolvido, está apenas 3
assembleia que elegeu uma comissão responsável por
Em
perseguir
metros mais distante. Mas a direção afirma também
entregar a lista de reivindicações à direção do Centro.
implacavelmente os estudantes. Além do zelador da
que se trata de um “teste”. Por que não "testam"
Nesta reunião, conseguiram a abertura imediata do
escola, que já havia sido denunciado por agressão a
consultar os alunos, antes de tomar tais decisões?
portão; a proibição da circulação de carros em frente
um aluno em setembro, professores e funcionários
à escola; a aprovação de um projeto (feito pelos
trabalharam conjuntamente para desmoralizar e
alunos) de iluminação do campus e uma reunião com
ameaçar os alunos que participavam do movimento.
a Diretora do Centro Paula Souza, Laura Laganá, para
Uma das táticas de que eles se utilizaram foi ligar para
tratar das pautas mais complexas. No entanto, sem
os pais deslegitimando o movimento. Alguns alunos
continuar com a mobilização por parte dos alunos, a
também relataram terem sofrido ameaças de morte
maioria das conquistas ficou no papel. Mas a abertura
por meio de ligações anônimas. E uma aluna foi
do portão, principal reivindicação do movimento, se
agredida por policiais dentro da escola.
manteve.
seguida,
a
direção
passa
a
Os alunos do Vieira já mostraram sua capacidade de luta ao derrubar a direção autoritária em 2009. Que agora mostrem o mesmo espírito e se inspirem nas palavras de uma aluna da EE Antonio Manoel: “Para a direção, queremos dizer que o muro vai cair,
mas não cairá só. Todos vocês cairão junto ao muro”.