Tom Cabral
ONDA JOVEM interdisciplinaridade NATIVOS DIGITAIS
Em encontros presenciais ou no ambiente virtual, professores, alunos, gestores públicos, famílias e comunicadores reconhecem a educação como valor e pensam em ações para fazer parte desse esforço. O Instituto Votorantim, por meio do Parceria Votorantim pela Educação, oferece as ferramentas para a mobilização. Visite www.blogeducacao.org.br
Educar jovens nascidos na era da Internet é desafio para a escola
ano 5 – número 16 – setembro/novembro 2009
O Instituto Votorantim convida as comunidades a participarem de redes em prol da melhoria da qualidade da educação.
NATIVOS DIGITAIS
número 16 – setembro/novembro 2009 – www.ondajovem.com.br
Parceria Votorantim pela Educação: criando redes para fortalecer a escola pública
www.ondajovem.com.br
sonar
58% dos adolescentes paulistas acessam a internet em casa
76% dos domicílios do Brasil têm
telefone celular
20% Dos jovens internautas brasileiros têm blog ou página na web
45 MILHÕES DE BRASILEIROS ESTÃO ON-LINE
Estudantes
ainda veem pouco uso das tecnologias nas escolas pág. 8
Professores criam projetos pedagógicos digitais pág. 16
Jogos educacionais on-line atraem jovens pernambucanos pág. 20
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ISTOCKPHOTO
A era digital estimula novas formas de atenção e raciocínio pág. 40
âncoras
“Aprender a aprender coletivamente com certeza é uma outra tarefa para o ensino presencial.”
Rogério da Costa
é filósofo, professor do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC de São Paulo
“Se toda a sociedade está evoluindo e sendo informatizada, a escola e os estudantes não podem ficar à margem nem excluídos dos avanços tecnológicos.”
Bianca Martins Maldonado,
arquivo pessoal
17 anos, estudante do ensino médio em Baixo Guandu (ES)
“A falta de um laboratório de informática na minha escola é uma desvantagem para nós.”
Raquel Lima de Almeida,
16 anos, aluna do ensino médio na Bahia
“O professor do futuro necessariamente irá formar comunidades que aprendem cooperativamente, zelando pela relação afetiva em sala de aula.”
Andrea Ramal,
diretora da consultoria ID Projetos Educacionais
“Acredito que provocar o interesse do aluno por meio da tecnologia seja ideal para o aprendizado.”
Marcos de Freitas Mortara,
15 anos, estudante de ensino médio em São Paulo
“Não tínhamos Internet, mas os alunos, que sabem mais do que nós em matéria de informática, sempre achavam soluções, trabalhando em lan houses, usando suas câmeras.”
Nilourdes Lauriano,
andrea graiz
coordenadora pedagógica cearense, sobre o projeto internacional River Walk
“Gosto de usar a Internet porque as informações são apresentadas de maneira diferente. São mais objetivas, rápidas e espontâneas do que as dos livros.”
Pilar Souza,
16 anos, é aluna do ensino médio no Rio de Janeiro
“No caso do Brasil, a inclusão digital deixou de ser um fenômeno da classe média. Acontece também na periferia, nas favelas, nas cidades pobres.”
Marcelo Branco,
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Cristino martins
dirigente da Campus Party e do Projeto Software Livre Brasil
“Saber utilizar toda essa tecnologia é também um fator profissional seletivo no futuro.”
Brenda Ferreira Cavalcante,
15 anos, estudante de Macapá (AP)
“Rapidez e diversidade de informação acabam exigindo do internauta maior assimilação e discernimento sobre o que ele lê de fato.”
Matheus Amorim Ferreira,
15 anos, de Catalão (GO)
ONDA JOVEM 16 ano 5 número 16 setembro/novembro 2009
Grilo deise lane lima
expediente
Um projeto de comunicação apoiado pelo Instituto Votorantim Projeto editorial e realização Fátima Falcão e Marcelo Nonato Olhar Cidadão – Estratégias para o Desenvolvimento Humano www.olharcidadao.com.br
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Secretaria editorial Lélia Chacon Projeto gráfico Artur Lescher e Ricardo van Steen (Tempo Design)
Beatriz Assumpção
Direção editorial Josiane Lopes
Colaboradores texto: Cristiane Ballerini, Frances Jones, Lélia Chacon, Liliane Oraggio, Paulo André da Silva, Roberto Amado, Rogério da Costa, Thais Costa, Yuri Vasconcelos foto: Andréa Graiz, Augusto Pessoa, Beatriz Assumpção, Bruno Garcia, Cid Barbosa, Cristino Martins, Deise Lane Lima, Fred Veras, Ivan Ribeiro da Silva, Marcelo Mendonça, Márcia Zoet, Marcio James
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Capa: Raquel Lima de Almeida fotografada por Marcelo Mendonça. Detalhes da ilustração de Anna Anjos revisão: Moira de Andrade
DIVULGAÇÃO
ilustração: Anna Anjos, Grilo
Diagramação D´Lippi Editorial Impressão Ipsis
Um projeto de comunicação apoiado pelo
Onda jovem é um dos 50 jeitos brasileiros de mudar o mundo – Programa de Voluntários das Nações Unidas no Brasil – 2007
20 bruno garcia
Como entrar em contato com Onda Jovem: E-mail ondajovem@olharcidadao.com.br Endereço: R. Dr. Neto de Araújo, 320 – conj. 403, São Paulo, CEP 04111 001 Tel. 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464 www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude
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8 – NAVEGANTES Alunos do ensino médio contam como se relacionam com as tecnologias de comunicação e informação e sua presença heterogênea nas escolas 16 – EDUCADORES Professores de Fortaleza, São Paulo e Rio de Janeiro explicam como encararam o desafio de usar as novas tecnologias em sala de aula 20 – BANCO DE PRÁTICAS Educação a distância, formação em novas mídias, olimpíadas on-line e celular: quatro iniciativas para levar tecnologia às escolas 24 – ÂNGULO 1 O filósofo Rogério da Costa escreve sobre algumas questões do ensino e da aprendizagem na era do ciberespaço
Assista ao quadro Onda Jovem no Jornal Futura, que estará no ar nos dias 2, 9, 16 e 23 de outubro, sempre às sextas-feiras, ao meio-dia, com reprise às 17 horas.
7 28 – ÂNGULO 2 O professor Paulo André da Silva analisa o uso dos games no contexto da educação juvenil 32 – O SUJEITO DA FRASE O ativista digital Marcelo Branco, coordenador da Campus Party e do Fórum de Software Livre, diz que vê, no século 21, todos os alunos conectados 36 – LUNETA Um dos fatores que inibem o uso das tecnologias na escola é o fato de parte dos professores se sentir intimidada pelo maior conhecimento dos alunos 40 – CIÊNCIA A revolução cultural gerada pelas tecnologias de comunicação e informação envolve os jovens, estimulando novas formas de atenção e raciocínio 44 – CHAT DE REVISTA Quatro jovens contam como ocupam seu tempo no mundo digital, dentro e fora da escola
SONAR 2
Dados sobre jovens e tecnologia
ÂNCORAS
4 Comentários sobre tecnologias
CARTAS
48 As mensagens dos leitores
NAVEGANDO
50 A ilustradora Anna Anjos mostra como vê o mundo das conexões
navegantes
Luis Philipe de Morais, 17 anos, de Mossor贸 (RN), se comunica por e-mail com os professores
FRED VERAS
Por _ Yuri Vasconcelos
novas
CONEXÕES 9
Alunos do ensino médio contam como eles e suas escolas, se relacionam com as tecnologias de informação e comunicação
Márcia Zoet
O paulista Kaio de Carvalho,
17 anos, estuda com poucos recursos tecnológicos
Aluna do 2º ano do ensino médio do Colégio Sion, no bairro de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, a carioca Pilar Souza, 16 anos, é uma garota conectada. Ela participa de 91 comunidades virtuais, tem perfil no Orkut com 466 amigos, comunica-se diariamente com as colegas pelo MSN e não sai de casa sem o iPod e o celular. Sua família tem dois computadores, ambos conectados à Internet – um instalado no seu quarto, e outro no do irmão –, e ela frequentemente recorre ao Google e à Wikipedia para realizar as tarefas escolares. No colégio, costuma usar a estrutura do laboratório de informática para fazer trabalhos de pesquisa de várias disciplinas, mas confessa que não tem muita paciência com os computadores de lá. “O programa operacional é antigo e, por isso, eles são hiperlentos. A
As tecnologias têm dupla importância na educação juvenil: pelo seu próprio potencial educacional e pedagógico, e pelo fato de serem muito usadas pelos jovens gente tem de reiniciar o computador toda hora, ou trocar de máquina”, conta. Para ela, seu colégio deveria melhorar a infraestrutura tecnológica e usar mais as ferramentas virtuais, como e-mail, Internet, blogs, redes de relacionamento, Twitter e fóruns, para dinamizar o ensino. “As aulas com vídeo ou computador são sempre mais interessantes e prendem mais a atenção”, diz ela. “Gosto de usar a Internet porque as informações são apresentadas de maneira diferente. São mais objetivas, rápidas e espontâneas do que as dos livros.” O sentimento da jovem Pilar em relação às tecnologias de informação e comunicação coincide com o da maioria dos especialistas que estuda a interação entre essas ferramentas e o ambiente escolar. “As tecnolo-
Deise Lane lima
A carioca Pilar Souza,
16 anos, vive e estuda conectada
gias são de extrema importância na educação, pois abrem várias possibilidades de uso em trabalhos pedagógicos e educacionais. Além disso, por serem muito usadas pelos jovens no seu dia a dia, essas ferramentas devem ser aproveitadas no processo educativo”, afirma a pedagoga Regina Viegas, coordenadora do Núcleo de Utilização de Novas Tecnologias Virtuais na Educação (NTEC), do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet-Rio), no Rio de Janeiro. Na opinião dela,
as escolas brasileiras, em especial as da rede pública, ainda não fazem bom uso desses recursos, principalmente por falta de capacitação dos professores. “Mesmo quando existem computadores, programas e Internet, os professores muitas vezes não sabem como utilizar essas ferramentas. Em alguns casos, eles têm verdadeiro medo de utilizá-las. É preciso desmitificar o uso do computador e desses recursos virtuais. Os professores precisam ter coragem de experimentar junto com os alunos”, diz. Opinião semelhante tem Márcia Padilha Lotito, mestre em História Social e coordenadora do Instituto para o Desenvolvimento e Inovação Educativa (Idie), especializado no estudo das Tecnologias de Informação e Comunicação e sua inserção social. “Um dos gargalos do uso das tecnologias no ambiente educacional é a diferença geracional. De um lado, temos um professor que precisa se predispor a dominar e usar essas tecnologias, dedicando parte de seu tempo e energia. Do outro, existe um aluno que já vem com isso dado. Esse problema advém da postura vista no ensino formal, onde o papel do professor é o de entregar o
conhecimento pronto para o aluno. A barreira seria menor se o professor e o aluno estivessem acostumados a fazer a construção do conhecimento em parceria”, afirma. Fonte de conhecimento A jovem cearense Glaciany Magalhães Rodrigues, 16 anos, aluna do 2º ano do ensino médio da Escola Profissional Paulo Petrola, em Fortaleza (CE), concorda com a observação da coordenadora do Idie sobre a falta de familiaridade dos docentes com recursos da revolução digital, mas diz que na sua escola isso está mudando. “A maioria dos meus professores tem Orkut e MSN. Mas eles ainda não usam muito essas ferramentas na sala de aula”, conta. O laboratório de informática do colégio conta com pouco mais de
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Marcelo Mendonça
30 computadores, que, segundo ela, são utilizados com frequência pelos alunos. “A sala fica à nossa disposição e nós costumamos usar os computadores na hora da merenda ou do almoço. Também utilizamos o data show para apresentação de trabalhos”, afirma Glaciany, que faz o curso profissionalizante de Turismo. Como ela não tem Internet em casa, quando precisa fazer pesquisas escolares na rede utiliza o computador da casa das primas ou vai a uma lan house. Ela acha que instrumentos como e-mail, sites e comunidades virtuais podem ser muito úteis no processo ensino-aprendizagem e que dominálos também será útil para o exercício de sua profissão. Acessar sites de busca para saber mais sobre determinado tema que está sendo estudado em sala de aula é o uso mais frequente da web no ambiente escolar. Mas, segundo os especialistas, muito mais pode ser feito com auxílio da informática e da Internet. Computadores de apoio nas salas de aula promovem a diversificação de tarefas e trabalhos dos estudantes em grupos, enquanto aulas informatizadas com um computador para cada aluno facilitam o trabalho autônomo e a alfabetização digital dos estudantes. As redes sociais, como Orkut e Facebook, podem servir de apoio a um projeto pedagógico, por exemplo, sobre a história do bairro. Nelas, o professor pode criar uma comunidade e encarregar os alunos de postar entrevistas com os moradores, ou compartilhar curiosidades sobre o lugar onde vivem. Desenvolver blogs da sala de aula, por sua vez, pode intensificar a relação entre o professor e os alunos, e entre estes. “Esse recurso também dá mais chances àqueles alunos mais tímidos de se manifestarem”, diz Márcia Lotito. Os estudantes podem, ainda, fazer sites de temas tratados em aula e usar os fóruns, encontrados em profusão na web, como instrumento de pesquisa e troca de informações com outras pessoas.
Raquel Lima de Almeida, 16 anos, não estuda com computadores na escola
Grupos de e-mails, como o criado pelos alunos do 3º ano do ensino médio do Cefet de Mossoró, no Rio Grande do Norte, são outro uso criativo da Internet. “Os professores enviam trabalhos e temas de estudo pelo correio eletrônico. Isso agiliza as aulas porque a gente não perde tempo copiando as informações do quadronegro”, diz o estudante potiguar Luis Philipe Antônio de Morais, de 17 anos. Ele conta que alguns trabalhos já trazem indicações de sites de leitura e que certos professores têm blogs onde postam textos sobre assuntos diversos e divulgam o trabalho de alguns alunos. “Minha escola é muito aberta a novas tecnologias e tem site na Internet. Com a Internet, aprendemos mais rápido por causa da linguagem, mais acessível e objetiva e sem tantos termos técnicos”, conta. Carências Além da falta de intimidade dos professores com esses recursos tecnológicos, um importante obstáculo a ser superado a fim de trazê-los para a sala de aula ainda é a falta de infraestrutura adequada em muitas escolas. Embora a instalação de equipamentos
nas escolas venha se acelerando nos últimos anos, e o governo federal tenha um programa para levar Internet de alta velocidade a toda a rede pública até o final de 2010, muitas instituições de ensino carecem de equipamentos básicos, como computadores. “A sala de informática do meu colégio ainda está em construção. Prometeram que fica pronta este ano. Enquanto isso, só contamos com uma sala com
Cid Barbosa Augusto Pessoa
O paraibano Rafael Soares da Silva,
17 anos, usa computadores somente em lan houses
notebook e data show para apresentação de trabalhos e projeção de filmes. Mas não é toda semana que temos atividade nela”, diz o paulista Kaio de Carvalho, 17 anos, aluno do terceiro ano do ensino médio e que usa o computador de casa para se comunicar com os amigos pelo MSN e Orkut. Kaio faz parte da legião de jovens brasileiros que dispõem de Internet em casa. Segundo a pesquisa A Geração Interativa na Ibero-América, coordenada pela Fundação Telefonica e Universidade de Navarra, da Espanha, 58% dos adolescentes paulistas contam com esse recurso em seus domicílios. O estudo, realizado em outros seis países latino-americanos (Argentina, Chile, Colômbia, Venezuela, México e Peru), apontou que o Brasil é o país onde a localização do
A cearense Glaciany Magalhães Rodrigues,
16 anos, navega na escola
Os jovens brasileiros estão entre os que mais produzem páginas e blogs na Internet. Eles lamentam o pouco uso educacional dos recursos tecnológicos computador no quarto dos filhos é mais frequente. O país também se destaca pelo alto número de “usuários experientes”: dois em cada dez jovens internautas brasileiros pesquisados disseram possuir página na web e blog. A falta de computadores também é realidade em algumas escolas, em João Pessoa, na Paraíba, e em Salvador. “Faz muita falta. Quando precisamos fazer um trabalho, temos que ir para uma lan house. Mas não é todo mundo que pode”, afirma o jovem paraibano Rafael Soares da Silva, 17 anos, que cursa o 1º ano
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do ensino médio. Segundo ele, os professores não orientam a usar a Internet para estudar, ou fazer tarefas. “Mas eu sempre navego na web para fazer pesquisa. E também uso o Orkut, e-mail e MSN para conversar com os amigos”, diz Rafael, que, sem computador em casa, vai à noite a uma lan house do bairro. A estudante baiana Raquel Lima de Almeida, 16 anos e aluna do 1º ano do ensino médio, faz coro com o colega paraibano. “Não ter Internet na escola nos prejudica muito. A web é uma fonte de inovação e criatividade. Ela traz informações atualizadas e permite compartilhar idéias entre as pessoas. É uma forma importante de autoaprendizado”, destaca. Para ela, a falta de recursos digitais no dia a dia escolar pode atrapalhar sua formação. “Hoje, as pessoas são movidas pela informação. O jornal e a televisão não são suficientes para nos colocar a par do que acontece no mundo. Eu tenho Internet em casa e navego todos os dias, mas alguns colegas que não têm computador ficam prejudicados. A falta de um laboratório de informática na minha escola é uma desvantagem para nós.” Ela tem razão. No mundo atual, a informação tem um valor inestimável – e a escola não pode negligenciar esse fato. “As instituições de ensino precisam se abrir para a revolução tecnológica, se equipar e dar formação adequada a seus professores. Mas, fundamentalmente, têm de entender que hoje vivemos na sociedade da informação, onde o principal capital é o conhecimento”, ressalta Márcia Lotito, para quem a escola é o único canal para desenvolver o uso crítico e criativo da Internet em massa: “As tecnologias ampliam a capacidade de se comunicar e informar. Elas dinamizam o aprendizado, valorizam o conhecimento de cada aluno e colocam em evidência o trabalho colaborativo, onde cada um tem algo para ensinar e aprender. Por isso, não podem ser esquecidas pela escola”.
FERRAMENTAS UTILIDADE DOS RECURSOS DIGITAIS é AMPLIADa NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Não é apenas em escolas de ensino fundamental e médio que as tecnologias de informação e comunicação podem ser usadas para facilitar o processo de aprendizagem. Algumas experiências pelo país revelam que esses recursos também são muito efetivos nas salas de aula dos cursos de Educação de Jovens e Adultos (EJA), cujos alunos geralmente têm condições econômicas muito restritas e a maioria já trabalha, o que diminui seu tempo livre para buscar outras formas de contato com as tecnologias. Uma experiência positiva é a Sala Informatizada do Núcleo Centro da Educação de Jovens e Adultos de Florianópolis, em Santa Catarina. Os alunos do curso noturno da EJA usam diariamente o computador para fazer trabalhos sobre temas diversos. “Na aula de leitura, eles criaram um blog para indicar os livros que estão lendo e dar suas opiniões sobre as obras. É uma forma de compartilhar o conhecimento”, diz a pedagoga Paula Cortinhas Carvalho, coordenadora do projeto. A informática também foi usada numa pesquisa
sobre o Mercado Municipal de Florianópolis. Além de pesquisarem na Internet sobre sua história, os alunos fizeram uma apresentação em PowerPoint, com uso de fotografias que eles tiraram do lugar e postaram no blog. Como a maior parte dos alunos não tem acesso ao computador em casa, eles também têm aulas sobre como usar a Internet. “De início, eles ficam assustados, com medo de quebrar o computador e envergonhados de mostrar que não têm familiaridade com ele. Mas, depois que se acostumam, é uma briga para ver quem usa primeiro”, diz Paula Carvalho. A estudante Adriana Sandra de Oliveira, de 26 anos, concorda com Paula. “Quando aprendemos a usar o computador, temos o mundo à nossa disposição. Com a Internet, podemos aprender sobre muita coisa, mas eu sei que ela também tem muitas informações descartáveis”, diz Sandra, apontando outra vantagem da rede mundial de computadores: “Com a vida corrida, a gente nem sempre tem tempo de ir a campo, ou a uma biblioteca atrás de uma informação para o trabalho da escola. Nesse sentido, a Internet é uma ferramenta que facilita muito”. Outro aspecto positivo do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na EJA de Florianópolis é a elevação da autoestima dos alunos. Segundo a coordenadora da Sala Informatizada da EJA
MÚLTIPLAS
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ISTOKPHOTOS
de Florianópolis, os estudantes se sentem envaidecidos e valorizados por poderem mostrar sua produção. Essa, segundo Paula Carvalho, é mais uma característica importante do uso das ferramentas digitais no ambiente escolar. “Fico muito orgulhoso de expor meu trabalho no blog. Muita gente que não conhecia a história do Mercado Municipal pode aprender com ele”, conta o estudante Gilmar Soares, de 25 anos. “A troca de informações pela Internet é mais efetiva. Sem falar que coisas que você não encontra nos livros estão mais à mão na web”, diz Gilmar, que soube da existência e navegou pela primeira vez num blog nas aulas da Sala Informatizada do curso de EJA.
educadores
RESPOSTAS AO DESAFIO A era em que os laboratórios de informática são usados somente para que os estudantes façam pesquisas na Internet podem estar com os dias contados. Em várias escolas públicas brasileiras, professores do ensino fundamental e médio estão dominando algumas ferramentas tecnológicas que, além de multiplicarem o interesse dos alunos, resultam em vídeos, pesquisas, blogs de boa qualidade técnica e com muita visibilidade na rede. Os mestres que aceitaram o desafio tiveram surpresas e colheram frutos. “Os alunos mesmos sugeriram usar mais os recursos de informática”, diz Paulo Roberto de Araújo, professor de Química do 3º ano do ensino médio da Fundação Bradesco, no Rio de Janeiro. “Esse foi o ponto de partida para a produção de vídeos que nos renderam um prêmio e a projeção da escola. A parceria com as classes ficou muito mais intensa e construtiva, e a compreensão dos conteúdos de Física e Química deixou de ser um bicho-papão”. Nem mesmo a falta de recursos técnicos intimidou educadores de regiões mais carentes. Em Fortaleza, um grupo de escolas participa, há seis anos, do projeto internacional River Walk, em que os estudantes documentam a história de vários rios. “No começo, não tínhamos Internet, mas os alunos, que sabem mais do que nós em matéria de informática, sempre achavam soluções, trabalhando em
lan houses, usando suas câmeras digitais ou de celulares nas pesquisas de campo”, diz Nilourdes Lauriano, coordenadora pedagógica que iniciou o trabalho em 2003. Em São Paulo, outro projeto tem despertado jovens para a realidade do mercado de trabalho. “O objetivo não é profissionalizante, mas quando o aluno é motivado a fazer um trabalho que será assinado por ele, visto por outras turmas e por muita gente fora da escola, naturalmente isso cria um senso de responsabilidade pelo que está sendo produzido”, diz Carlos Eduardo Fernandes, professor de Artes da EMFM Vereador Antonio Sampaio, criador do projeto Cinema e Vídeo, que estimula a realização de animações e documentários, integrando o conteúdo de várias disciplinas. Nas três experiências, sobressaem os esforços de educadores para atingir de forma eficaz o objetivo mais básico de seu ofício: ensinar. Parceria produtiva Há quatro anos, Paulo Roberto de Araújo, professor de Química, e Armando Gil dos Santos, professor de Física, ambos da Fundação Bradesco do Rio de Janeiro, resolveram aceitar o desafio de fazer um curso de capacitação e aprenderam a usar um programa de trabalho em dupla, aproveitando as ferramentas das tecnologias da informação. “Incluir esses recursos tecnológicos nos ajudou a mostrar aos alunos que aprender Física e Química pode ser muito divertido. Nessa nova proposta, para estudar os princípios do consumo consciente com as turmas da 3ª série do ensino médio, propusemos que as equipes fizessem comerciais de apenas um minuto, com mensagens contundentes que levassem qualquer cidadão a refletir sobre o tema”, conta o professor Paulo Roberto. “Para isso, os alunos fundaram uma miniagência de publicidade que foi batizada de PISA e ficou conhecida em toda a escola. Eles se dividiram em grupos e começaram a produzir os vídeos do projeto Ponto de Idéias e Soluções Ambientais em 4R (Reduzir, Reutilizar, Reciclar
CID BARBOSA
Por _ Liliane Oraggio
A coordenadora pedagógica Nilourdes Lauriano,
de Fortaleza: aposta na Internet sem Internet nas escolas deu certo
PROFESSORES DE TRÊS ESTADOS CONTAM COMO CONSEGUIRAM TRANSFORMAR OS RECURSOS TECNOLÓGICOS EM ALIADOS DIDÁTICOS
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O professor Carlos Eduardo Fernandes, de São Paulo: projeto de Cinema e Vídeo transforma alunos em autores
efetivamente, aprenderam a trabalhar em parceria e a serem avaliados como profissionais”, diz Armando Gil. Este ano, os alunos da 2ª série estão trabalhando em parceria com estudantes da Escola Edison, da Argentina, e das Faculdades de Economia e Finanças da Universidade de El Salvador, em São Salvador. Os do 1º ano se animaram a mexer com computação gráfica e estão criando animações. “Para isso, usamos softwares gratuitos baixados da Internet. O 3º ano está produzindo videoaulas com o tema “A Grande Revolução Científica”, que poderão ser usadas em aulas de qualquer disciplina”, diz o professor Paulo. Luzes, câmeras, ação “Estresse no Trânsito”, “O que os Jovens querem para o Futuro”, “Prós e Contras da Lei Seca” foram os assuntos escolhidos pelos alunos para produzirem seus próprios documentários, no projeto Cinema e Vídeo, idealizado e posto em prática pelo professor Carlos Eduardo Fernandes, na EMFM Vereador Antonio Sampaio, na Zona Norte da capital paulista. Há quatro anos, ele resolveu levar sua paixão por fotografia e cinema para o ambiente escolar, sem deixar de lado o conteúdo oficial das aulas: “Os filmes são muito presentes na vida dos estudantes, e incentivá-los a trabalhar com imagens é uma forma muito envolvente de experimentar as várias linguagens e formas de expressão, do documentário à publicidade”, diz o professor Carlos. A escola não tem câmeras para captar as imagens nem computadores com memória suficiente para armazenar toda a produção das classes, e não há verba destinada ao projeto. Mas nada disso tem sido empecilho para fazer o trabalho. “A configuração ideal para trabalhar com vídeos e fotos é ter 80 giga de HD e 1 giga de memória. A memória das máquinas que temos corresponde apenas a um quarto disso. Para driblar essa limitação, os Beatriz Assumpção
e Repensar). Usando vários recursos de linguagem e um programa de edição, produziram cerca de 30 filmes, propondo maneiras de transformar nossos hábitos de consumo”, diz o professor Armando. “Percebemos que muitos estudantes tinham habilidade com o computador e logo passamos a aprender com eles, sem ter medo de inverter esses papéis. Isso intensificou muito a parceria com as classes, e o interesse pelas matérias foi crescendo. Os vídeos foram exibidos em toda a escola, nas 40 unidades da Fundação Bradesco, em todo o Brasil, e 10 filmes estão no YouTube”, completa Paulo. O projeto ainda provou o quanto é produtivo o trabalho integrado entre os mestres. Os roteiros foram escritos pelos jovens com assessoria da professora de Português. Esse trabalho rendeu aos professores o prêmio Microsoft Educadores Inovadores, na categoria Educador Inovador, em 2007. Por conta disso, a dupla foi convidada a fazer um giro por escolas da Espanha, berço da utilização da tecnologia no ensino. “Hoje, nós somos convidados a fazer palestras sobre esse tipo de aula, que pode ser adaptada para qualquer matéria do currículo oficial. Além disso, formaram-se muitas outras duplas na Fundação Bradesco que já superaram o medo da tecnologia na aprendizagem”, afirma Paulo. E a principal dificuldade dos estudantes foi mesmo passar no controle de qualidade dos professores: “Nós ficamos muito exigentes também em termos técnicos. Pedíamos para trocar imagens, para melhorar o som até chegar a um nível de excelência dos filmes. Esse também é um treino para o mercado de trabalho, pois acabamos unindo duas áreas chave, a de Meio Ambiente e a de Informática, que abrem muitas perspectivas profissionais concretas para esses jovens que,
alunos que têm computador editam o material em casa, com seus grupos, e baixam o vídeo pronto no computador da escola. Sempre faço uma cópia e guardo comigo, pois muita gente mexe nas máquinas, e os filmes correm o risco de ser deletados”, explica o professor. A maioria dos alunos tem celulares e câmeras digitais que captam imagens. A edição e os efeitos ficam por conta dos softwares de edição de imagens, de manejo simples. Um aparelho de DVD e uma TV garantem a exibição dos filmes feitos pelos alunos e de outros escolhidos a dedo para ampliar o repertório da turma. “Para falar da linguagem do documentário, assistimos ao clássico ‘Cabra Marcado para Morrer’, de 1984, dirigido por Eduardo Coutinho. Eles não veriam normalmente, mas é um filme que dá referências para além do cinema comercial”, exemplifica Carlos.
Os professores Gil Armando dos Santos e Paulo Roberto de Araújo, à frente dos Alunos: projeto premiado no Rio de Janeiro
cada projeto marque presença no cyberspace. “Os alunos vão sair da escola, mas a produção deles vai permanecer no ar nesses espaços virtuais. Esse é mais um incentivo para todos nós”, diz o mestre. O curso dos rios O Projeto River Walk foi criado pelo Instituto de Comunicações e Simulações da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, é financiado pelo governo japonês e fincou raízes em Fortaleza, capital do Ceará. Essa “volta ao mundo” e todos os desdobramentos que surgiram a partir dessa prática de ensino são possíveis por causa das tecnologias da informação e comunicação. “Há seis anos, eu soube dessa possibilidade numa reunião de gestores do ProInfo, do Ministério da Educação. Mesmo sem ter Internet na escola, me interessei em incluir a informática no processo de aprendizagem, inicialmente como algo opcional. Com o apoio do professor Eduardo Junqueira, coordenador do projeto no Brasil e professor do Instituto Universidade Virtual, percebi que não era impossível levar isso para as escolas de Fortaleza”, conta Nilourdes Lauriano, coordenadora pedagógica. A proposta original é que jovens do mundo todo façam um reconhecimento completo dos rios de suas cidades e publiquem suas pesquisas num site multilíngue. Eles também têm acesso a um chat, para trocar informações e experiências. Logo Nilourdes convidou professores de Geografia, Biologia e Português para aprender a usar as ferramentas de informática relativas ao projeto. Em seguida, fizeram juntos uma pesquisa de campo levantando aspectos interessantes do rio Cocó que podiam integrar ao currículo. O projeto teve início de fato na EEFM Professor Paulo Ayrton Araújo, no bairro de Cajazeiras. De 2005 a 2008, foi a vez do River Walk conquistar alunos na EEFM Maria Gonçalves, em Boa Vista. Ambas as escolas ficam Arquivo pessoal
A professora de Filosofia e Sociologia, Beatriz Ferreira Rabello, integrou-se ao projeto, estimulando as classes a discutir os temas que serão transformados em filmes. Isso deu um novo brilho às aulas, que deixaram de ser apenas teóricas. “Além disso, a produção dos filmes contribui para integrar oito alunos com necessidades especiais (alguns são surdos e outros têm dificuldades de locomoção). Eles participam de todas as etapas, desde a filmagem até a finalização, e isso é possível por que trabalham em grupo”, diz Carlos Eduardo. “Procuro estimular a autonomia de todos. Quero que eles se sintam autores, donos dos filmes. Isso tem integrado mais as turmas e mantido o foco nos temas durante toda a semana. Nunca tenho que lembrar a eles o que discutimos na aula passada”, afirma o professor. E o sentido de continuidade e permanência não para por aí. No século 21, o ponto de encontro e de discussão da moçada são os blogs de estudos, mais uma forma para que
bem próximas ao rio Cocó. “O jovem estuda o que está em seu entorno. Este também é um ponto forte para manter a motivação dos jovens. A informática e a pesquisa de campo nos ajudaram, inclusive, a resgatar classes com dificuldade de aprendizagem, com vários repetentes. As notas e comportamento melhoraram muito, pois eles se sentiram integrados ao processo”, diz Nilourdes. Este ano, o River Walk segue seu curso com conteúdo produzido na EEFM Virgílio Távora, no Parque Iracema. A meta da pesquisa é detalhar tudo o que acontece na lagoa Messejana. Além disso, o River Walk Brasil foi integrado como projeto de extensão na Universidade Federal do Ceará. A interdisciplinaridade é um ponto forte do programa. “A professora de Português foi buscar nas margens do Cocó a inspiração para que os alunos produzissem poemas, crônicas e charges. Em Biologia, foram estudadas as plantas próximas às águas, o processo de descarte do lixo e reciclagem. Em Geografia, o desafio foi colher dados para fazer mapas e gráficos estudando a população do entorno, as diferenças ao longo do curso do rio, as áreas degradadas e preservadas”, diz Nilourdes. De volta à escola, os textos, fotos e imagens são levados para o laboratório de informática. Juntos, docentes e estudantes formatam as páginas, que são enviadas ao site, que se encarrega de pôr no ar essas “excursões virtuais”, com visibilidade pelo mundo afora. “Nos três primeiros anos, as escolas não tinham Internet, o que dificultava muito o acesso ao site e aos chats, mas persistimos. Hoje, há 20 computadores para que os alunos trabalhem em grupos, e o professor do laboratório de informática participa das atividades multidisciplinares. Todo o processo valoriza alunos e professores”, diz a coordenadora. “Valeu a pena persistir.”
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Contatos www.proyecto4r.blogspot.com www.granderevolucaocientifica.blogspot.com www.riversproject.org Cinema e Vídeo: cefjunior@yahoo.com.br
ENCONTROS AMIGÁVEIS
Divulgação
banco de práticas
Divulgação
As facilidades da tecnologia da informação e da comunicação estão encontrando a educação. Parece ser chegada a hora de o professor deixar de exercer o poder impeditivo das mídias em sala de aula para se transformar em intermediário amigável entre os alunos e as contribuições que essas mídias oferecem. Na Amazônia, 25 mil adolescentes e jovens estão cursando o ciclo médio regular, mas a distância. Os professores dão aulas em um estúdio sediado em Manaus, e um aparato sofisticado de 400 antenas satelitais ligadas à Internet integra-se a televisores e microfones para levar imagem e áudio
a salas de aula nos mais distantes rincões da floresta. Alguns desses locais estão a sete dias de barco de um centro urbano. Este ano, os primeiros formandos vão participar do ENEM e poderão validar a eficiência do ensino remoto interativo. Enquanto isso, na Zona Leste de São Paulo, Capital, a fundação Tide Setúbal equipa jovens do Jardim Lapenna com câmeras e mídias para que fomentem a comunicação dos membros da comunidade entre si e também com os órgãos públicos, valorizando o espaço de convivência e a vida de cada morador. Há rádio de rua, jornal, fanzine e, em breve, haverá um blog a serviço dos cidadãos, tudo executado pelos próprios estudantes. Em Minas, com a ambição de se espalhar para o Norte e para o Sul, o Instituto Vivo percebeu a grande oportunidade de retirar do celular o papel de vilão da sala de aula, ensinando os garotos a filmar conteúdos e construir apresentações interessantes de Português, Matemática, História, etc., que são postadas em um blog para ser acessadas depois. “Os meninos adoram tecnologia e ficaram entusiasmados com o aprendizado”, diz o professor de Química, Marcio Costa, em Nova Lima. Com resultados igualmente animadores, Pernambuco realiza a Olimpíada de Jogos Educacionais (OJE), envolvendo 18 mil alunos na perseguição de 1,5 mil enigmas criados pelo Porto Digital. “Eles aprendem brincando”, atestou a coordenadora pedagógica da OJE, Ana Selva. Se aprendem, por que não?
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Por _ Thais Costa
MÁRCIO JAMES
QUATRO PROJETOS EVIDENCIAM O POTENCIAL EDUCACIONAL DAS TECNOLOGIAS
Pernambuco
Olimpíada de Jogos Educacionais – OJE
Amazonas
Centro de Mídias de Educação
Foi tão positivo o resultado da primeira experiência, no ano passado, que o governo de Pernambuco está ampliando a Olimpíada de Jogos Educacionais, a OJE. Em 2008, havia somente 20 escolas envolvidas no projeto-piloto e, dessa vez, há 368, reunindo 18.230 alunos e contando com o apoio de 940 professores-aliados, de todas as disciplinas. Os estudantes compuseram 2.228 equipes de 6 a 10 jogadores, das últimas séries do ensino fundamental e de todo o ensino médio. A OJE, que se estende de abril a setembro, é uma maratona de jogos digitais >>
O problema de dispersão geográfica no estado do Amazonas, que tem parte de sua vasta área mergulhada em floresta, está sendo há três anos solucionado no âmbito do ensino médio com educação a distância. Como a Secretaria de Educação do Estado não poderia manter uma escola média em todas as 6,3 mil pequenas localidades distribuídas pela área rural, foi instalada uma plataforma satelital conectada à Internet, contendo 406 antenas bidirecionais. Isso possibilitou aos professores darem aula sediados em Manaus, alcançando, em tempo >>
21 São Paulo (SP)
Projeto São Miguel no Ar
Nacional, a partir de MG
Projeto Minha Vida Mobile do Instituto Vivo
A produção da rádio de rua, do jornal impresso, da fotografia, do fanzine e da Internet serve de canal para os jovens envolvidos no projeto estimularem a comunicação entre os integrantes da comunidade do Jardim Lapenna, na Zona Leste de São Paulo, ao mesmo tempo em que se formam como técnicos e autores. Há 110 jovens envolvidos, dos quais 30 em formação intensiva no manejo das várias tecnologias de mídia – rádio, jornal, televisão e Internet. “A central de produção audiovisual tem a finalidade de produzir documentação que identifica os lugares >>
Com dinâmicas de oficina de quatro horas, iniciadas com conceituação teórica de cinema e de como utilizá-lo nos trabalhos pedagógicos, o projeto Minha Vida Mobile iniciou experiências em Minas Gerais com o objetivo de mostrar como o telefone celular pode ser uma ferramenta útil de produção de trabalhos escolares. As câmeras fotográficas e filmadoras dos celulares captam imagens, construindo apresentações mais ricas nas diferentes disciplinas escolares. Depois de filmados, os arquivos digitais são transfe- >>
>> criados em parceria pela Secretaria de Educação do governo de Pernambuco e o Porto Digital, ONG sediada em Recife. Segundo a coordenadora pedagógica da Secretaria, Ana Selva, o objetivo é aliar a habilidade tecnológica dos jovens a conhecimentos pedagógicos. “Os jogos conduzem a pesquisas em sala de aula, junto a professores, além de
>> real, mil salas de aula nesses lugarejos. Os alunos – que chegam a 25 mil – reúnem-se num espaço mantido em geral pelas prefeituras mais próximas e interagem em tempo real, uma vez que esses ambientes estão equipados com uma TV de 42 polegadas, câmeras de vídeo e microfones, fazendo com que essas aulas, que mostram professores
>> e os valores e reflete as conquistas da comunidade”, diz o coordenador do Núcleo de Comunicação Comunitária, José Luiz Adeve. No âmbito escolar, a programação noturna da rádio da escola de Cinquichi Agari é feita pelos alunos do ensino médio, sempre com o objetivo de aproximar comunidade e escola, pais e professores, alunos e
>> ridos para o computador e postados num portal (www.mvmob.com.br), para divulgar o resultado à comunidade escolar. O coordenador da Rede Vivo de Educação, Luis Fernando Guggenberger, diz que especialistas apontam que o modo de aprendizado atual tem gerado grande incômodo porque, enquanto o jovem é bombardeado por conteúdos de TV e In-
rua vai ao ar por meio de alto-falantes instalados na feira do Jardim Lapenna. O jornal é distribuído nas escolas e reflete os problemas enfrentados nesse bairro. Para Adeve, o importante é priorizar a descoberta em relação à conceituação teórica de todas as ações do núcleo. A experiência já começou a ser multiplicada em outras localidades.
ternet, muitos professores insistem em exercer o seu controle de forma a impedir a integração desses novos meios. São aqueles que hesitam em fazer o papel de mediadores entre os alunos e o conhecimento disponível nas novas mídias. Em Minas, o projeto já atendeu mais de 300 jovens em dez cidades, se estendendo também para outros
estados. Para o professor de Química Marcio Costa, do Centro Educacional São Tomás de Aquino, em Nova Lima, “esses meninos amam tecnologia, aprendem rapidíssimo a filmar e postar os filmes no site. Usar o celular motiva quem faz o trabalho e quem o assiste. Dou aula também em escola pública e vejo que os alunos não vivem sem o celular”.
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pais. Na comunidade, a “Voz da Lapenna” é o jornal que registra notícias e demandas locais. Os fanzines tratam de problemas como a gravidez precoce, esclarecendo a população jovem. Estão sendo criados também um blog e um audiovisual para estimular o diálogo jovem-família, família-comunidade e comunidade-poder público. A rádio de
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provas e a avaliação dos trabalhos, bem como a carga horária de cada ano do ciclo médio. “Este ano, os alunos vão participar do ENEM, que servirá para validar a eficiência do sistema remoto”, diz. “A plataforma satelital pode ser útil no Brasil inteiro, onde somente 48% dos jovens frequentam o ensino médio, contra 97% do ensino fundamental”, afirma.
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nas telas, sejam muito semelhantes às ministradas presencialmente nas 540 escolas públicas convencionais dos 62 municípios do estado. O coordenador geral do Centro de Mídias de Educação do Amazonas, responsável pelo projeto, José Augusto de Melo Neto, garante que são idênticos os conteúdos das matérias, o nível de exigência das
gordura, sofre de bronquite, é sedentário e tem risco de ataque cardíaco”. Outro jogo lida com o meio ambiente (“Rio Limpo”), e um terceiro une cultura regional e folclore (“Chave dos Mundos”). São 1500 enigmas, que somam pontos até levar as equipes à final, com notebooks de prêmio. Professores e escolas também são premiados.
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estudos e discussões para desvendar os enigmas que são propostos”, explica. Há minijogos no princípio e, aos poucos, os desafios são inseridos com conteúdos temáticos, a exemplo do “Imuno”, um dos seis jogos deste ano, que trata da biologia e do sistema orgânico. “Uma nave tenta salvar Oswaldyr Pontes, o anti-herói fumante que come muita
OJE – Olimpíada de Jogos Educacionais ORGANIZAÇÃO Secretaria de Educação do Governo de Pernambuco ÁREA DE ATUAÇÃO 368 escolas públicas distribuídas em todo o estado PROPOSTA Transmitir conhecimento pedagógico por meio da resolução de enigmas propostos pelos jogos eletrônicos, numa disputa que alcança cerca de 70% das escolas estaduais. JOVENS ATENDIDOs 18.230 alunos de 368 escolas públicas de ensino fundamental e médio de Pernambuco. A participação dos estudantes é voluntária. CONTATO Ana Selva, coordenadora pedagógica da OJE, anaselva@educacao.pe.gov.br
Centro de Mídias de Educação do Amazonas ORGANIZAÇÃO Secretaria de Educação do Amazonas (Seduc/AM) ÁREA DE ATUAÇÃO Mil pequenos lugarejos em todo o estado do Amazonas distantes dos centros maiores. Novos 500 serão incorporados no ano que vem, totalizando 1500 locais remotos. PROPOSTA Ampliar e diversificar o atendimento da rede pública de ensino do Estado do Amazonas JOVENS ATENDIDOS 25 mil em 2009, ou 2,5 mil por localidade atendida, no terceiro ano do projeto, e agora abrangendo 1º, 2º e 3º anos do ensino médio CONTATO Seduc/AM 92-3613
Projeto São Miguel no Ar ORGANIZAÇÃO Projeto de Comunicação Comunitária da Fundação Tide Setúbal ÁREA DE ATUAÇÃO PROJETO GRAEL Jardim Lapenna em São Miguel Paulista, Zona Leste de JANEIRO São Paulo ÁREA DE ATUAÇÃO RIO DE (RJ) PROPOSTA a 20 anos RESUMO DAEstimular PROPOSTAjovens Projeto de que16pretende, apelo construir de formar comunicação ensino docanais iatismo, o jovemcom tantoa de comunidade que vivem, rádio, forma técnicaem quanto cidadã.utilizando Há formação paraTV, jornal e Internet. o mercado náutico e aulas complementares de JOVENS ATENDIDOS O projeto envolve 110 geografia e marcenaria, além de apoio psicológico. jovens, 30 em formação intensiva, 35 NÚMERO sendo DE JOVENS ATENDIDOS 350 por semestre na Rádio deAPOIADORES Cinquichi Agari e 45 no Jovem PRINCIPAIS Criança Esperança, Comunica, dos alunos das Wal-Mart, seis escolas Instituto Oi além Futuro, supermercado que integram a região Companhia de Gás CEG. CONTATO José Luis Adeve, Coordenador do www.projetograel.com.br, Núcleo Comunicação tel.: (21)de 2711-9875 E-mail cometa@ftas.org.br e Galpão de Cultura e Cidadania, tel.: 11/2956 0091 e 11/7233 8391; www.fundaçãotidesetubal.com.br
Projeto Minha Vida Mobile ORGANIZAÇÃO Instituto Vivo ÁREA DE ATUAÇÃO Minas Gerais, São Paulo PROPOSTA Ensinar o aluno de nível médio a utilizar o celular como ferramenta pedagógica, colocando sua criatividade em filmagens e fotografias que serão postadas na Internet, no site www.mvmob.com.br, com conteúdos de Português, Matemática, História ou Geografia. JOVENS ATENDIDOS Mais de 300 em dez cidades de Minas Gerais,de escolas privadas e públicas CONTATO Wagner Merije, gestor de Minha Vida Mobile, e Luis Fernando Guggenberger, coordenador de projetos da Rede Vivo de Educação no Instituto Vivo Endereço www.mvmob.com.br
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Ângulo 1
Educação e Internet
A EXPLORAÇÃO DOS MUNDOS VIRTUAIS
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NA ERA DO CIBERESPAÇO, O ENSINO TRADICIONAL TEM O PAPEL DE LEVAR O ALUNO A SER O EXPLORADOR DO SEU UNIVERSO DE INTERESSES
mundos virtuais requer um aprendizado! Isso nos leva a crer que o ensino tradicional, por sua vez, terá um papel importante a desempenhar nesse aspecto: ensinar o aluno a ser, ele próprio, o explorador de seu universo de interesses. As comunidades virtuais e o aprendizado coletivo que elas implicam constituem outro aspecto fundamental da navegação em rede. Aprender a aprender coletivamente com certeza é uma outra tarefa para o ensino presencial, sendo que não é produtivo, nesse caso, estabelecermos uma concorrência entre o ensino por meio de ambientes virtuais e o ensino presencial. Ao contrário, eles podem ser vistos como perfeitamente complementares. Cabe lembrar, no entanto, que o fato de estarmos sendo provocados a pensar o ensino via Internet, com todo o desafio que isso significa e com toda a riqueza que ele nos promete, nos faz refletir sobre a própria arquitetura do ensino tradicional que temos hoje. Isso nos leva a crer que nossa relação com o ensino presencial se tornará cada vez mais complexa, mais crítica e, esperamos, mais rica em mudanças e inovações.
Levando-se em conta as características do ciberespaço, fica claro que os indivíduos podem aprender de modo diverso do que é proposto pelo sistema professor-aluno, que é possível aprender quando trocamos idéias com outras pessoas e que, ao relacionarmos informações dispersas, estamos, de alguma forma, produzindo conhecimento. Cabe lembrar que a navegação em rede significa, basicamente, a possibilidade de se explorar, de um modo não-linear, universos distintos de informação e conhecimento. Ora, a idéia de exploração, por si só, já nos convida a refletir sobre a aprendizagem de uma maneira distinta daquela que comumente entendemos: a recepção do conhecimento apenas por intermédio do professor. Porém a própria atividade de exploração dos
O processo de aprendizagem no ambiente virtual Os desafios da aprendizagem em ambientes virtuais promoveram inúmeros debates já nos primeiros anos do surgimento da web. Essas discussões lembravam, acertadamente, que na sala de aula os alunos estão sob a influência direta do professor, ou instrutor. Há expectativas sociais sobre, por exemplo, o que o professor fará, se perguntará algo, como avaliará uma pergunta, o que os outros comentarão etc. O ambiente é social. Há pessoas de quem gosto, que me olham, ou, ao contrário, de quem não gosto etc. Há também um comportamento de aprendizagem, pois posso levantar a mão para fazer uma pergunta, resolver uma dúvida em segundos perguntando ao colega ao lado, há silêncio durante os exames etc. Na sala, sobretudo, o controle pertence ao professor. Isso significa que ele pode exigir dos alunos determinado comportamento: “olhem para cá”, “prestem atenção neste ponto”, “comecem a prova agora” etc. Em casa, diante de seu computador, não há expectativas sociais, pois o estudante está em seu próprio ambiente, e o professor chega ao ambiente do estudante quando este assim o deseja. Ele não está preocupado com o que o professor dirá, ou não, sobre seu comportamento. E o modo como ele se comporta com o computador só ao próprio estudante interessa. Neste caso, o controle pertence ao estudante. A pergunta que se faria nesse momento é: se não podemos fazer com que as pessoas façam o que queremos que elas façam, como podemos ensiná-las? Resposta: nós ensinamos de um modo que se alinhe
com o que as pessoas já desejam fazer. E isso começa por compreender que cada um tem um estilo de aprendizagem distinto. Há pessoas que possuem uma capacidade enorme de lembrar do que viram; outras são excelentes em recordar o que ouviram. E há ainda as que são boas nas duas capacidades cognitivas. Mas também há os que precisam fazer, ou exercitar, uma atividade para sedimentar conteúdos na memória, ou os que precisam da repetição para pensar e refletir sobre um assunto e, assim, consolidar um conhecimento. O desafio de cursos virtuais seria o de fornecer informações às pessoas em seu próprio estilo de aprendizagem. É difícil para as pessoas mudarem esse estilo, seja em sala de aula, conferências, seja via computador. O importante, então, seria dar oportunidade para que cada estilo de aprendizagem encontrasse na ferramenta apoio e estímulo. É preciso desenvolver instrumentos para quem aprende de forma sequencial, global, colaborativa, ou de modo autônomo. Quem aprende é um indivíduo, e apesar de termos métodos diferentes de ensino, cada indivíduo aprende da mesma maneira estando em sala de aula ou na web,
Por _ Rogério da Costa
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A REDE PESSOAL DE CADA ALUNO É O QUE MAIS MOBILIZA SUA ATENÇÃO VOLUNTÁRIA, ESPÉCIE DE ENERGIA PRECIOSA QUE NÃO PODEMOS DESPERDIÇAR E, SIM, CAPITALIZAR PARA A PRODUÇÃO DE CONHECIMENTO Bruno garcia
“Na minha escola, quem sabe de tecnologia digital não aprendeu lá. São uns 800 alunos para uns 15 computadores, e a gente só pode usar o laboratório de informática fora do período de aula. Se o aluno estuda à noite, nunca foi ao laboratório, pois só poderia ir no período em que está no trabalho, de manhã ou à tarde. Os professores só estão focados na sua matéria. Não usam nem estimulam muito os alunos a explorarem essas tecnologias. Quando tem uma tarefa, a maioria vai naquela de copiar e colar: Ctrl C e Ctrl V. Nada de muita pesquisa, exploração. Eles poderiam promover oficinas de informática nos fins de semana, por exemplo. Eu tenho mais contato com tudo isso porque sou monitor no programa Acessa Escola, do governo de São Paulo, que funciona numa lan house. Lá, a gente apresenta as tecnologias para os jovens que aparecem. Isso também podia ser mais divulgado. Em casa, no meu tempo livre, estou sempre na Internet, usando Orkut, MSN e agora o Twitter. Mas na minha escola, acho que o pessoal não se dá conta do quanto é importante a informática, essas redes sociais que estão no mundo, na vida e no trabalho das pessoas e tinham de estar lá também. Com as ferramentas digitais, o ensino pode ficar mais atraente, mais coletivo também, e aí o estudante já estaria aprendendo a trabalhar em conjunto, o que vai ser útil para o seu trabalho no futuro. “
pois o modo como ele fixa a informação em seu cérebro é basicamente o mesmo. O que muda é o controle das ações.
Emanuel Oliveira Lopes da Silva, 17 anos,
cursa o 3º ano do ensino médio na Escola Estadual Said Murad e faz também um curso de logística no Centro Tecnológico da Zona Leste, na capital paulista
Redes sociais e aprendizagem Qual seria o papel das redes sociais nas escolas? Essa pergunta ainda é colocada por inúmeros gestores, que mostram preocupação, ou insegurança, em relação ao uso de ferramentas colaborativas em seus programas pedagógicos. Acontece que o foco das redes sociais e das comunidades virtuais que elas promovem está tanto no conteúdo quanto nas pessoas, tanto no que alguém disse como em quem disse o quê. Afinal, são as pessoas que levam consigo as informações sobre os conteúdos, ou sobre como se chegar até eles. São elas que incentivam, sugerem, inclinam, influenciam os alunos na investigação sobre conteúdos. Mas no caso dos alunos, quem são essas pessoas? São os professores, os amigos de classe, os professores de outra classe indicados por colegas que assistiram e gostaram de seu curso, os amigos dos amigos, os pais e parentes, os colegas de clube etc. Essas pessoas constituem a rede pessoal de cada aluno e, acreditem, elas são a coisa mais interessante na vida de cada um, aquilo que mais mobiliza sua atenção voluntária. Essa atenção voluntária é uma espécie de energia preciosa que não podemos desperdiçar, ao contrário, devemos estimular e alimentar de forma a capitalizá-la para a produção de conhecimento. As redes sociais, formadas com o auxílio da rede de computadores e celulares, é uma das experiências atuais mais consistentes de consolidação, expansão e capitalização das redes pessoais. E as comunidades virtuais, que as precederam, existem há mais de 20 anos! Mas apenas recentemente elas
tornaram-se um fenômeno que chamou a atenção da investigação científica e, também, do mundo empresarial. Esse fenômeno nos revela que é essencial organizar a possibilidade de relação entre as pessoas, as diversas formas pelas quais elas entrarão em sinergia e, como consequência, transmitirão informações e construirão conhecimentos. A produção e a organização de conteúdos, desse ponto de vista, deveriam depender fundamentalmente da forma como a relação entre as pessoas é estabelecida. As redes sociais organizam de forma transversal a comunicação entre usuários e conseguem fazer com que os conteúdos circulem. Circular significa estar vivo. Conteúdo organizado que não circula é conteúdo desvitalizado! O fato é que, de alguma maneira, estamos começando a perceber que as pessoas desempenham, em boa parte de seu tempo, o papel de índices de informação para outras pessoas, e isso não é diferente no âmbito da escola. Convergência cultural na Internet O uso da rede mundial de computadores já está integrado a todas as formas e a todos os níveis de ensino. A expansão inigualável desse meio de comunicação marca uma mutação
profunda vivenciada em relação à pesquisa, que se afirma cada vez mais como diagonal, transdisciplinar, coletiva, colaborativa, desenvolvida para além das fronteiras das instituições. Já é evidente o papel e a importância da Internet na promoção de grandes redes de ensino, aprendizagem e pesquisa. As funções de produção de conhecimentos e de difusão de informações encontram-se cada vez mais distribuídas entre inúmeros agentes através da web. Atualmente, não apenas as instituições de ensino superior contribuem com a disponibilização de conteúdo educativo e informativo na rede, mas também as bibliotecas, museus, editoras, jornais, rádios, televisões, revistas, empresas e as mais diversas organizações. As empresas, não nos esqueçamos, têm sido, nos últimos tempos, grandes promotoras de encontros, colóquios, congressos e debates por todo o mundo. Cabe lembrar que desde cedo, com o advento da web, muitos foram os atores e várias as iniciativas de se construírem redes de conhecimento autenticado através da Internet. Sites de grandes museus, destacadamente, puseram-se a oferecer um número significativo de cursos virtuais, além de fóruns de discussão, artigos e links para sites com temas relacionados, entre outros recursos. Vemos que todo esse processo de multiplicação dos agentes produtores e difusores de conhecimento, e de consórcios entre instituições culturais na Internet traduziu um grande desafio: a democratização do acesso aos conteúdos autenticados. Ora, foi exatamente em 2004 e 2005 que surgiram duas iniciativas que mudariam o quadro da produção virtual de informações e conhecimentos na web: Wikipedia e YouTube. Ao lado da consolidação global do Google como mecanismo de busca, a Wikipedia se consolidou como uma efetiva inteligência coletiva que produz incessantemente um espaço de referência de conhecimentos e informações, uma enciclopédia universal virtual feita por colaboradores de todo o mundo. Na esteira dessa inovação, por si só tão evidente, deu-se a iniciativa do You Tube, uma enciclopédia de outra natureza, audiovisual. Agora todo tipo de pesquisa acaba ganhando uma direção privilegiada, Wikipedia e YouTube, que por sua vez redistribui o sentido das pesquisas para outros sites, onde se pode aprofundar aquilo que se procura. Atualmente, Wikipedia e You Tube são incontornáveis em qualquer processo de ensino e aprendizagem, não porque não possamos escapar deles, mas porque é sempre muito interessante consultá-los sobre qualquer assunto.
Já são evidentes o papel e a importância da Internet na promoção de grandes redes de ensino, aprendizagem e pesquisa. As funções de produção de conhecimentos e de difusão de informações encontram-se cada vez mais distribuídas entre inúmeros agentes da web
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Rogério da Costa é filósofo, professor do Programa de Pós-graduação em Comunicação e Semiótica da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
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educação e Tecnologia
JOGOS DE APRENDER
Por _ Paulo André da Silva
O poder de controlar uma nave, travar batalhas históricas, pilotar carros de Fórmula 1, disputar campeonatos esportivos com as maiores estrelas da área, lutar contra inimigos espaciais, disputar partidas de jogos de tabuleiro contra pessoas de diversas partes do mundo, criar histórias míticas, construir civilizações e ser responsável pelo seu desenvolvimento. Enfim, uma série
imensa de possibilidades e variedades de ações que podem ser feitas no conforto do seu lar, contando com alto grau de definição de som e imagem. Em suma, uma proposta de elevado grau de entretenimento, diversão e aprendizagem, associada a diferentes espaços como a própria casa, ou a casa de amigos, lan houses, “game station”, shopping centers, bares, cibercafés, lanchonetes e até restaurantes. Em contraposição a esse universo de variedades, temos a escola. Um ambiente modular, com poucas cores e som predominante de uma campainha que soa a cada 50 minutos, indicando a troca de uma área do conhecimento por outra. Regras fixas, horários, provas, conversa sobre assuntos que não aguçam muito a curiosidade do adolescente, atividades feitas de forma isolada dos grupos de amigos, imagem monocromática marcada com um giz num quadro-negro ou verde. Ou seja, um ambiente distinto da proposta dos games, mas que ocupa pelo menos quatro horas diárias dos jovens estudantes e é promotora de aprendizagens. Em suma, uma proposta que parece estar um pouco aquém da atualidade no que tange ao círculo de interesse dos jovens que vivem e fazem a sociedade da comunicação. Neste artigo, iremos discutir formas de aproximação do universo dos games com a escola, revelando possibilidades didáticas que não demandariam profundo conhecimento dos games por parte dos professores, mas certamente demandam um profundo compromisso com a construção de saberes dos adolescentes que enchem os muros das escolas. Os games Desde 1961, os games transitam no mundo adolescente e adulto criando fascínio sobre sua mecânica e capacidade de entretenimento. Hoje, o volume empregado de técnicas específicas para o desenvolvimento de games abre espaço para uma
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ENTRE OS RECURSOS COMPUTACIONAIS QUE A EDUCAÇÃO POUCO USA, OS GAMES OCUPAM UMA POSIÇÃO PRIVILEGIADA NA PREFERÊNCIA JUVENIL
multiplicidade de ações que os tornam cada vez mais fascinantes. Por exemplo, a possibilidade de jogar isoladamente em um aparelho celular, ou jogar com um grupo de pessoas, em cidades diferentes e ao mesmo tempo, por meio da rede virtual de comunicação. O fascínio pelo desenvolvimento dos games atinge as mais variadas idades, sendo que, a despeito do que aparenta, a maior penetração é entre o público adulto – entre 18 e 49 anos (49%). Já o público adolescente – menor de 18 anos – abocanha 25% deste espaço, como mostra pesquisa da “Entertainment Software Association – ESA” nos EUA, no ano de 2008. Apesar do percentual muito maior de jovens e adultos, é preciso levar em consideração que esta pesquisa tomou como base o universo de consumidores de games, ou seja, pessoas que compram jogos eletrônicos. De qualquer forma, o fascínio por eles gerado facilmente conquista os adolescentes e abre possibilidades de aprendizagem em diferentes áreas da vida. Mas como conciliar este ambiente de games com o ambiente escolar?
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Ângulo 2
A escola A escola tem se apresentado ao longo dos séculos como um ambiente formal de transmissão de conhecimentos científicos gerais, oferecidos de forma sistematizada e, muitas vezes, descontextualizada. Além disso, se apresenta como modeladora social, agindo por meios coercitivos para a reprodução de papéis sociais que se manifestam no cotidiano. As funções social e socializadora da escola são vistas e tidas como elementos positivos quando aplicadas de forma significativa para a vida dos alunos. No entanto também se pode exercer essa função social negativamente, quando observamos que alguns elementos que têm forte presença na sociedade são deixados de lado pela da escola. No caso, os diferentes recursos computacionais. Vejamos aqui, para não dispersar sobre diversas formas de se promover a educação, o contexto dos games neste universo. A maioria dos discursos pedagógicos sobre as tecnologias computacionais considera que estas irão melhorar a qualidade da escola. Entretanto há de se considerar a forma como tal inserção tem sido feita e o discurso de governantes, pesquisadores e interessados pela entrada dos computadores na escola, em comparação ao discurso de gestores, professores e principalmente dos alunos.
Tratar o computador como um elemento inovador na escola é muito superficial. Acredito que o computador só se tornará efetivo na rotina escolar quando se tornar “invisível”, como afirma Begoña Gros Salvat (2000). A invisibilidade do computador compreende uma perspectiva de adaptação da tecnologia à pedagogia e vice-versa. Mas como fazê-lo? Uma das formas de responder esta pergunta está o modo de se compreender o papel do planejamento das atividades didáticas com foco no método e não, no meio. Focar na aprendizagem e não, no ensino. O computador é um meio, assim como o são o quadro e o giz, o livro didático, uma música, um vídeo, um programa de TV etc. Enfim, há uma necessidade de mudar o foco de entendimento do papel do computador na escola, tratando-o como algo integrado à rotina curricular. Uma das ações didáticas que pode resultar nessa mudança de centro de preocupação é aproximar o computador das atividades escolares que são pertinentes ao universo dos alunos e dos professores ao mesmo tempo. Os games podem ser enquadrados neste contexto. Pesquisas indicam que cerca de 80% dos professores não usam jogos educativos com seus alunos, quiçá jogos convencionais, que não foram desenvolvidos para uma finalidade educacional específica. No entanto os games estimulam o imaginário adolescente e proporcionam um momento de descontração que, adequadamente trabalhado, pode contribuir para a compreensão de processos de aprendizagem que não estão aparentes na estrutura dos games em si. Mediação games-educação Uma das coisas que muito nos incomoda é saber que os motivos que levam à subutilização dos recursos computacionais dentro da escola pública não estão diretamente relacionados com os investimentos feitos na direção de equipar as escolas no Brasil. Esses investimentos não têm proporcionado um impacto que transforme o status da educação em melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem nas escolas. Se há um contexto técnico e político favorável, o que falta para que os recursos computacionais sejam incorporados na prática docente a fim de favorecer o processo de aprendizagem? Nossa resposta recai no valor da mediação pedagógica como uma ação que possa dar sentido ao processo pedagógico na escola e, mais ainda, aos recursos computacionais disponíveis. Para que isso ocorra, entendemos que o papel do professor ocupa um lugar central e fundamental. Grosso modo, podemos dizer que as tecnologias de informação conferem o passaporte ao conhecimento, mas o uso adequado, eficiente e crítico destas tecnologias é que pode garantir o visto de entrada e o acesso qualificado a este saber.
O USO DOS GAMES NA ESCOLA ATRAI OS ALUNOS, MAS EXIGE ENGAJAMENTO DOS PROFESSORES Segundo José Manuel Moran (2006), “as mudanças na educação dependem, em primeiro lugar, de termos educadores maduros intelectual e emocionalmente, pessoas curiosas, entusiasmadas, abertas, que saibam motivar e dialogar”. Neste mesmo sentido, o professor Milton Santos (1998), diz que “o trabalho do professor é arriscado. Quem teme perigos deve renunciar à tarefa do ensino”. Aqueles professores que estão seriamente envolvidos no trabalho docente e assumem os riscos da profissão enquadram-se nas características apresentadas por Moran, os quais, de forma humilde e confiante, saem do seu estado de conforto e arriscam-se na tarefa de ensinar e produzir conhecimento. Valorizam o ato de educar e colaboram para promover mudanças significativas no campo educacional. Modelos integradores Hoje contamos com modelos que usam games para trabalho de conteúdos específicos, voltados para o ambiente escolar, como por exemplo, o uso do Toth, jogo educativo de matemática desenvolvido por estudantes do curso de engenharia de computação da USP. Outro exemplo vem do outro lado do mundo. Em Kioto – Japão –, o governo adota o Nintendo DS, um videogame portátil, para as aulas de inglês. Aqui no Brasil contamos com um repositório de pequenos jogos e softwares educativos – RIVED – que,
Inserção nas escolas É mais que discutido e sabido que os jogos ou os softwares educativos, isto é, aqueles softwares desenvolvidos para uma área curricular específica, trazem consigo uma série de problemas que dificultam seu uso nas escolas. Por parte dos professores, o problema esbarra na falta de uma pessoa, um técnico responsável nos laboratórios, que possa baixar e instalar esses softwares em todos os computadores. Por parte dos alunos, muitos deles acham estes jogos chatos. Acredito que este é um grande impeditivo para aqueles professores que assumem uma postura mais ativa e mais motivadora de dar sequência aos seus bons planos de uso dos recursos computacionais. Se seus alunos não gostam, não há software que dê jeito. Uma proposta que vem se desenvolvendo no estado de Pernambuco é o uso de jogos não educacionais em um modelo de competição que envolve conteúdos educacionais de todas as disciplinas. Estes jogos, produzidos basicamente para a diversão dos usuários, trazem um contexto que abrange uma ou mais áreas curriculares específicas, porém os alunos não dependem de conhecimentos específicos dessas
áreas para poder jogá-los. Estamos falando da Olimpíada de Jogos Digitais e Educação – OjE. Aqui se trabalha sob as premissas do lúdico, da colaboração, competição, presença do professor, ações cíclicas e incrementais, apoiadas no currículo da educação básica (7ª série ao 3º ano do ensino médio) e com a devida adequação à realidade estrutural dos laboratórios de informática das escolas estaduais. A oferta de um ambiente que propicie a diversão em jogos com mecânicas diferentes e inseridos em um contexto educacional que estimule os jogadores a responderem perguntas de todos os conteúdos curriculares é uma solução que está sendo trabalhada na OjE. Ainda é cedo para vermos os impactos educacionais desse projeto, mas certamente ele abre a porta para uma discussão mais ampla que envolve a utilidade de jogos no meio escolar. Uma coisa pode-se afirmar: quanto mais os professores se aproximarem do universo dos seus alunos, mais facilmente poderão potencializar suas aprendizagens sobre os conceitos formais. A abertura para o mundo dos games em ambiente escolar pode promover novas experiências para os alunos, ajudando-os no seu engajamento com as atividades tipicamente escolares, mas reforçamos a necessidade do engajamento do professor neste contexto, buscando aprender junto com seus alunos sobre as potencialidades educacionais dos games.
Arquivo pessoal
acompanhados de dicas sobre como usá-los e tutoriais, estão à disposição dos professores para uso gratuito. Outras propostas interessantes que agregam não só o uso de jogos, mas também a preparação profissional dos alunos é o Projeto Fábrica de Jogos, desenvolvido por alunos do ensino médio na Escola de Referência Cícero Dias, em Recife, em parceria com a OI Futuro e o Centro de Estudos e Sistemas Avançados de Recife – CESAR. Na mesma linha, temos o Projeto do Polo de Games – SC que visa o desenvolvimento de aplicações colaborativas e cooperativas, por meio da construção de blogs e uso de redes sociais de relacionamento. Projeto também desenvolvido por e para alunos de Santa Catarina e que inclui o desenvolvimento de games.
Daiane Anselmo Lira, 17 anos, cursa o 3º ano do ensino médio da Escola Estadual Benedito de Rezende, em São Paulo, e trabalha como monitora na Associação Profissionalizante BM&FBovespa (www.asspro.bmf.com.br)
Sabemos que não é fácil encontrar pessoas dispostas a, como diz o professor Milton Santos, se arriscar em um cenário cheio de amarras e visíveis limitações estruturais e de gestão, além de terem tido uma formação não condizente com todo o discurso até aqui proferido. De qualquer forma, este é o desafio do professor ante um momento histórico diferenciado, no qual o acesso às informações está ficando cada dia mais facilitado a um número maior de pessoas, tornando a tarefa docente um desafio em aprender e ensinar como selecionar as melhores informações, sistematizá-las e transformá-las em conhecimento, num processo dialógico com os alunos, tirando o máximo proveito dos recursos computacionais, presentes ou não na escola. Paulo André da Silva é mestre em Educação pela UFPE, professor de Didática do Ensino Superior do Programa de Pós-graduação da FAFIRE e Coordenador Pedagógico e Operacional da Olimpíada de Jogos Digitais e Educação – OjE
“Se a gente não aprende a explorar o computador e seus recursos na escola, aprende fora, fazendo cursos ou sozinho, mas talvez não da melhor maneira. No colégio em que estudo, o laboratório de informática foi liberado para os alunos este ano. Os computadores já estavam lá, mas faltava infraestrutura, monitores e outros recursos. O uso, porém, só é permitido fora do horário das aulas. Ainda não é o ideal, porque essa situação não estimula muito o aluno a explorar as ferramentas digitais, e a atividade não fica tão integrada às aulas. O mais comum é os professores darem dicas sobre onde pesquisar na Internet. Mas podia haver atividades como criar um jornal para a escola, um blog, um site dos estudantes. Isso seria interessante, e sairíamos da escola com um conhecimento básico de informática, um aprendizado imprescindível no mundo conectado em que vivemos.”
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o sujeito da frase
“VEJO UMA AULA DO SÉCULO 21 COM TODOS OS ALUNOS CONECTADOS” Por _ Cristiane Ballerini Fotos _ Andrea Graiz
Marcelo Branco, que dirige também o projeto Software Livre Brasil, diz que as organizações, incluindo-se a escola, estão desorientadas diante do cenário mais colaborativo gerado pela sociedade em rede
Aos 48 anos, Marcelo Branco se orgulha de manter os ideais da juventude. Gaúcho de Porto Alegre, ele é um dos principais ativistas brasileiros na luta pela democratização das novas tecnologias de informação. Coordenador do projeto “Software Livre Brasil”, está à frente de várias iniciativas que colaboram para expandir ainda mais as fronteiras da cultura digital. Tem, entre outras atividades, a missão de organizar no Brasil o maior evento de entretenimento eletrônico e inovação tecnológica do mundo – o Campus Party. A última “festa” realizada em São Paulo, em janeiro deste ano, atraiu 6.655 participantes de vários países, a maioria jovens de até 29 anos que se mudaram com computadores, malas e barracas para as instalações do evento. A idéia é possibilitar a troca livre de conteúdos, debates e todo o tipo de experiência com games, design, robótica e outras áreas do mundo digital. Interessado em trazer para o campo político e social os debates em torno da liberdade na Internet, Marcelo começou cedo a vida de ativista. Aos 16 anos, para preocupação do pai – um militar contrário ao golpe de 1964 que chegou a ser preso –, já participava de
passeatas contra a ditadura. Quando fazia o segundo grau, foi trabalhar na Embratel. Lá se especializou em telecomunicação, em redes analógicas e redes de alta velocidade, a tecnologia que antecedeu a Internet. Já era um profissional experiente quando recebeu o convite para trabalhar por três anos na Espanha, onde realizou projetos para o governo da Catalunha, como a criação da rede internacional de software livre. No Brasil, ocupou diversos cargos de direção na prefeitura de Porto Alegre e no governo do Rio Grande do Sul. Estudante inquieto, que iniciou as faculdades de Engenharia Mecânica, Direito e Engenharia Elétrica, ele acha que a escola precisa ser reorientada. A mais recente atividade intensa de Marcelo foi a organização, ao lado de outras instituições, do 10º Fórum Internacional do Software Livre, em junho deste ano. Logo após o encerramento, ele conversou com Onda Jovem. A seguir, trechos de sua entrevista.
Para Marcelo Branco, organizador da Campus Party, com os computadores na escola, o mais importante ĂŠ ensinar como trabalhar em grupo
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Onda Jovem: Com o uso intenso das novas tecnologias de informação vieram também algumas mudanças de paradigma. O conhecimento, por exemplo, já não é apreendido de uma única fonte, mas construído coletivamente a partir de várias fontes. Como você percebe a atuação das escolas diante dessas mudanças? Estamos vivendo em um cenário totalmente novo. As corporações que ainda se comportam como se estivessem na era industrial, por exemplo, estão desorientadas porque não sabem como conviver e atuar nesse novo cenário, mais colaborativo. O mesmo acontece com partidos políticos, governos e também as escolas. A sociedade conectada em rede dá mais poder ao indivíduo e, ao mesmo tempo, fortalece o trabalho coletivo. Comparando com minha geração, os jovens hoje têm mais consciência de seus direitos, cresceram junto com a Internet, portanto, é uma turma criada na lógica da liberdade. Hoje, as pessoas não precisam mais de organizações intermediárias para criar grandes mobilizações: basta usar a rede. No caso das escolas, acho que elas precisam de uma nova orientação, uma nova fundação. No passado, nós aprendemos que não podíamos olhar para o trabalho ou a prova do colega. Isso era “colar”. Hoje, com a Internet e os computadores em sala de aula, é mais importante ensinar como trabalhar em grupo. O próprio conceito de “prova”, que ainda vale, é estranho porque na vida real ninguém resolve problemas de forma isolada. O conhecimento é coletivo, compartilhado, descentralizado, e aprender a gerir bem esse conhecimento é que vai fazer de alguém um bom estudante e um profissional de sucesso.
“o papel do professor é estimular a busca por conhecimento” Com os alunos com mais autonomia na busca pelo conhecimento, como fica, então, o papel do professor? Sou fã do Paulo Freire. Então, acho que tem uma coisa que não muda: o professor tem que ensinar aprendendo e aprender ensinando. É óbvio que a maioria dos jovens e adolescentes sabe lidar com tecnologia e usar o computador melhor do que seus professores ou pais. Então, o professor tem que orientar o aprendizado de sua disciplina, usando todas as possibilidades dessas tecnologias. Há vários softwares educativos no mercado, voltados para o ensino de conteúdos específicos nas diversas matérias. Qual sua opinião sobre esses produtos? Durante anos houve uma luta para abolir o livro didático obrigatório. Os professores e os alunos conquistaram o direito de aprender a partir de uma pluralidade de livros. Então, ter um software desenvolvido por uma empresa como única fonte de informação seria uma incoerência, um retrocesso. Como diz a professora Léa Fagundes (coordenadora do Laboratório de Estudos Cognitivos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul), as melhores ferramentas educacionais são as ferramentas da Internet. O papel do professor, então, é estimular a busca por conhecimento por intermédio de pesquisas, desenvolvendo inclusive a visão crítica dos alunos a respeito de tudo o que leem e veem na tela. Vejo uma aula do século 21 com todos os alunos conectados e o professor propondo desafios ao grupo. Encontrar respostas nas diversas fontes disponíveis na rede é muito mais enriquecedor do que buscar a resposta pronta em um único site, ou mesmo em um único software.
Como o interesse dos jovens pelas tecnologias de informação e comunicação pode fortalecer o valor da educação? O escritor José Saramago, por exemplo, diz que “a Internet faz as pessoas escreverem mais e pior”... Acho que é verdade, pelo menos se considerarmos apenas o aspecto gramatical. Eu mesmo uso códigos, símbolos para ser mais rápido. Não é exatamente o português correto. Também tenho uma sobrinha que usa bastante a rede para se comunicar. O português dela é horrível. Mas não sei se por conta da Internet. Talvez a própria escola não dê conta de olhar esse tipo de coisa, de acompanhar as necessidades dela de se expressar e aproveitar para melhorar o português. Mas não sei ao certo. Como não sou especialista, não tenho a solução. Por outro lado, a capacidade desses jovens de elaborar narrativas, contar histórias e narrar a própria vida é superior à de outras gerações. Eu, por exemplo, quando tinha sete anos escrevia uma carta por mês.
Segundo Marcelo Branco, a sociedade conectada em rede dá mais poder ao indivíduo e, ao mesmo tempo, fortalece o trabalho coletivo
E como você era como estudante? Fui um estudante rebelde. Incomodei muitos professores. Era daquele tipo que sentava no fundo, fazia bagunça, conversava. Volta e meia estava na sala da disciplina. Mas minhas notas eram boas, acima de sete, oito, então nunca perdi um ano. E alguns professores, principalmente das matérias que mais me atraíam, como Física, Matemática e Literatura, me incentivaram, me inspiraram. No segundo grau, fiz escola técnica de eletrônica e comecei a trabalhar. Então, devo minha formação à escola pública.
Vários especialistas afirmam que essa nova forma de criar e trocar informação favorece o surgimento de uma sociedade com mais oportunidades de desenvolvimento. Por outro lado, o abismo social e tecnológico exclui milhões de pessoas dessa “nova era”. Como a própria cultura digital pode ajudar a superar isso? Acho que já está ajudando. No caso do Brasil, a inclusão digital deixou de ser um fenômeno da classe média. Acontece também na periferia, nas favelas, nas cidades pobres. As lan houses, por exemplo, são responsáveis por 39% das conexões com Internet no Brasil. Nas comunidades, há botecos e até salões de cabeleireiros, além das lan houses, que oferecem conexão como forma de atrair mais gente para o negócio. Existem cidades do nordeste com péssimo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), mas a população faz fila na praça para acessar a Internet; tem uma lan house ao lado da igreja. Então, diferentemente do que acontecia há dez ou cinco anos, não existe mais aquele enorme abismo digital – os pobres não estão fora da rede. São 65 milhões de brasileiros on-line, um terço da população. A dificuldade está em chegar até a casa das pessoas. Em 2003, tínhamos apenas 8% de conexões em casa; hoje, são 25%. Então, podemos dizer que parte da população brasileira está excluída da Internet. Mas não é tanta gente como já foi.
O que as pessoas ganham ao estar em rede? Elas ganham um mundo novo com a possibilidade de exercer plenamente sua cidadania. Mas é preciso estar atento ao que está acontecendo hoje. As sociedades em rede não vão ser necessariamente mais democráticas. As disputas que estão sendo travadas hoje nos planos político e institucional, e no próprio ambiente tecnológico da rede é que vão determinar o futuro das sociedades em rede e seus perfis. Na era industrial, por exemplo, nós tivemos sociedades evoluídas tecnologicamente, mas que reproduziram modelos sociais não democráticos, como o nazista, no caso da Alemanha, e o fascista, no caso da Itália. Então, o que quero dizer? A tecnologia não vai determinar o grau de democracia e liberdade de um país. Ela pode, sim, ser utilizada para ampliar esses estados de direito. Ou não. Imagine as possibilidades de controle e vigilância que um regime autoritário pode ter usando as modernas tecnologias...
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luneta
Nascidos antes da explosão digital, grande parte dos professores têm dificuldades com o uso das novas tecnologias
GERAÇÕES DESPLUGADAS
ISTOCKPHOTO
Por _ Roberto Amado
A professora está diante de um sofisticado computador conectado a um datashow com o qual pretende fazer uma exposição dinâmica da sua aula. Em vez de iniciar a apresentação, no entanto, ela procura, num grosso manual de instruções, como deve fazer para usar as máquinas, bem diferentes do equipamento que usava anteriormente. A situação poderia chegar num impasse se os alunos prontamente não tomassem a iniciativa não só de ligar os aparelhos, como também, de dar as instruções fundamentais para que o arquivo da aula fosse adequadamente utilizado.
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PARA ESPECIALISTAS, O MAIOR CONHECIMENTO OPERACIONAL DOS JOVENS INTIMIDA MUITOS PROFESSORES, MAS O FOCO NÃO DEVE ESTAR NAS TECNOLOGIAS E, SIM, NA METODOLOGIA
A cena aconteceu, de fato, numa escola pública do ensino médio de Curitiba. A professora de Física e Química, Jociele Aparecida Teixeira, não é exatamente uma excluída digital, pois tem computador em casa e faz uso pessoal dele. Mas o equipamento, fornecido pelo Estado para a escola, é bem mais complexo. “Havia um manual de 180 páginas que não tive tempo de ler”, diz Jociele. “Eu já tinha perdido metade da aula sem ter feito nada. Se não fossem os alunos, eu nunca teria conseguido. Mas eles ficaram com uma cara de ‘como é que você não sabe? Você é a professora’. Ora, eu não sei. Eles é que sabem, mexem no equipamento e de alguma maneira o fazem funcionar”. Ela lembra que, uma vez por semana, um funcionário do Estado visita a escola para fazer manutenção dos equipamentos e que, eventualmente, pode dar também explicações sobre como operá-los. “Mas quando ele aparece, eu sempre estou em aula”, diz ela. O “drama” de Jociele não é exclusivo dela. É, na verdade, de toda uma geração. Os professores do ensino médio, em geral, nasceram e se formaram numa época em que não havia um uso tão disseminado de recursos tecnológicos, mais especificamente do computador, e não têm a mesma naturalidade de seus alunos para lidar com essa linguagem. O que exige investimento também em formação. “É preciso preparar o professor para a nossa nova realidade. A grande presença das tecnologias na nossa sociedade é um fato muito recente”, diz Juliana Siqueira, que conduz o projeto Pedagogia da Imagem, do Museu da Imagem e do Som de Campinas e recentemente defendeu tese de mestrado na Escola de Comunicação e Artes da USP, na área de Educomunicação. Tecnologia e conteúdo Em seu projeto, que está em operação desde 2003, Juliana Siqueira abriu um espaço para que os professores do ensino público tivessem a oportunidade de se atualizar com as novas linguagens, até mesmo, as audiovisuais. “Se antes era importante você saber ler e escrever para ser um cidadão, hoje você precisa também dominar essas linguagens e saber produzir com elas”. Os professores que se beneficiam do
projeto de Juliana participam de cursos contínuos envolvendo todo o processo de execução de propostas audiovisuais. Se o projeto é, por exemplo, produzir uma aula com vídeo, eles não apenas aprendem a operar uma câmera, mas também “princípios de enquadramento, luz, ângulos, recursos tecnológicos, técnicas de roteiro e de pesquisa, dinâmica da aula. E também como publicar o resultado final num blog, por exemplo”, diz Juliana. É bem diferente dos cursos que se costuma oferecer aos professores – em geral, básicos demais. “O curso que me ofereceram era para aprender operações do Excel, Power Point e Word”, diz a professora Jociele. E se as escolas públicas vêm recebendo cada vez mais equipamentos do Estado – computadores, impressoras, datashows e periféricos –, o problema é que boa parte disso acaba confinada em laboratórios trancados, praticamente sem uso. “Existe uma simplificação de que basta colocar tecnologia nas escolas
A formação dos professores nas novas tecnologias ainda é um universo pouco explorado, até mesmo no âmbito acadêmico para que tudo corra bem”, diz Raquel Goulart Barreto, doutora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e pesquisadora do uso da tecnologia na metodologia de ensino. “Mas a questão que não se discute nas políticas de ensino é como o professor deve usar essa tecnologia”, diz ela. E compara com o antigo costume dos pais de comprarem enciclopédia para o filho poder pesquisar e estudar. “Naquela época, o aluno pelo menos copiava o conteúdo da enciclopédia. Ainda que fosse uma tarefa pobre, era melhor do que simplesmente copiar e colar um texto encontrado na Internet”, diz.
Ferramenta a favor “O papel do educador ainda é o mesmo: ser o responsável pelo conteúdo e pela linguagem. A forma, o domínio da ferramenta será sempre dos alunos. Não adianta lutar contra isso. O que adianta é saber aproveitar essa ferramenta para ensinar”, diz Glaucia da Silva Brito, diretora do Gepete, Grupo de Estudos Professor, Escola e Tecnologias Educacionais, ligado à Universidade Federal do Paraná. Segundo apurou em suas pesquisas, desde o início desta década os professores manifestam o desejo de uma formação no uso de tecnologias novas, especificamente do computador, não só para desenvolver habilidades operacionais, como também para elaborar aulas, pesquisar conteúdos e conduzir seus alunos nesse universo. E embora o Gepete ofereça cursos que ensinam desde a utilização de um processador de texto até a construção de sites, a situação, segundo Gláucia, ainda é crítica. “O professor precisa olhar para a realidade do aluno, para o universo em que esse jovem vive, e desenvolver seu ensino a partir dessa informação”. Seja como for, diz Gláucia, “o foco não deve estar no uso da tecnologia, mas, sim, na metodologia do professor”. A procura dessa metodologia deve preponderar sobre a preocupação operacional dos equipamentos e sobre o maior conhecimento da tecnologia por parte dos alunos. “Os professores nunca vão saber mais do que esses jovens. E nem devem se preocupar demais com isso”, diz Aparecida Paiva, professora de Língua Portuguesa e Literatura da Escola Albert Einstein, em São Paulo. Ciente das suas limitações, ela desenvolveu junto com os alunos uma dinâmica muito particular para enfrentar os problemas: “Uma verdadeira parceria. Eu proponho os projetos, embaso o conteúdo, oriento a pesquisa e eles fazem a formatação final. Isso é com eles. Já fizeram trabalhos incríveis com as minhas propostas e nem me pergunte o programa que usaram porque eu não sei. Mas o resultado foi muito bom”. Há mais de 20 anos dando aulas no ensino médio, Aparecida reconhece que só pôde evoluir na sua metodologia com a ajuda desses novos recursos – e com a participação decisiva dos alunos. “Eu fiz alguns cursos oferecidos pelo Estado mas, de fato, não aprendi muito. Porque não adianta a gente aprender a operar um programa. O importante é descobrir como utilizar esses recursos no seu método de ensino”, diz ela.
Não que faltem iniciativas na área. O Ministério da Educação, por exemplo, oferece aos professores oportunidades de formação como o ProInfo Integrado, ou Programa Nacional de Informação Continuada em Tecnologia Educacional que, no ano passado, capacitou 118 mil professores do ensino público “a utilizar as tecnologias de informação e comunicação em sala de aula”. Há ainda o programa do governo batizado de UCA – Um Computador por Aluno – que tem como objetivo dar equipamento a professores e alunos. Para Gláucia da Silva Brito, a preocupação com a formação do professor nas novas tecnologias já deveria existir desde a faculdade, para que os professores se formassem já com essa base. Mas isso não ocorre. Na verdade, trata-se de um campo ainda muito pouco explorado no universo acadêmico. “Há um grande vazio de pesquisadores na área de tecnologia e educação. E quando há pesquisadores, não há orientadores”, conclui ela.
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ciência
REVOLUÇÃO DIGITAL Por _ Frances Jones Ilustração _ Grilo
OS JOVENS ESTÃO NO OLHO DO FURACÃO CULTURAL GERADO PELAS TECNOLOGIAS, QUE ESTIMULAM NOVAS FORMAS DE ATENÇÃO E DE RACIOCÍNIO
Imagine a seguinte cena: um jovem sentado dentro de um ônibus está lendo este artigo em um notebook, quando o aviso do MSN – Messenger começa a piscar na parte inferior da tela – é um amigo sugerindo que ele veja no YouTube imagens da festa de ontem. Ao mesmo tempo, ele conversa com a mãe pelo celular, usando o ouvido esquerdo, pois o direito está ocupado pelo fone do MP com o qual escuta suas músicas preferidas, que baixou pela Internet. A um adulto a situação pode parecer confusa, ou mesmo excessiva, mas entre uma
significativa parcela dos jovens ela se torna cada vez mais corriqueira e expõe algumas das características marcantes dos novos padrões de sociabilidade que vêm sendo estabelecidos pelas tecnologias de informação e comunicação contemporâneas. Se, em meados dos anos 1990, a Internet representou um divisor de águas para a comunicação (com os e-mails, salas de batepapo e listas de discussão), nos anos 2000 ela adquiriu uma cara totalmente nova. Agora, aparelhos multifuncionais e portáteis, como os laptops e celulares mais modernos, por exemplo, permitem o extenso compartilhamento de informações, textos, músicas e imagens de uma pessoa para outra, ou para várias ao mesmo tempo, e ainda numa situação de mobilidade. Se antes se falava que as pessoas eram “bombardeadas” pela grande quantidade de informação, agora os estudiosos assinalam que, além de serem receptores das informações, as pessoas têm instrumentos para escolher mais o que vão receber e, ainda, para “produzir” conteúdo. “São ‘produsadores’, que produzem e usam o conteúdo”, diz a artista multimídia Giselle Beiguelman, professora do curso de pós-graduação em Comunicação e Semiótica da PUC-SP. Entre a construção de páginas pessoais do Orkut, a produção de fotos para o Flickr, imagens para o YouTube e textos para blogs e mensagens dos celulares, as pessoas aprendem a usar as ferramentas da tecnologia, informam-se, criam e expõem-se. E a evolução é cada vez mais rápida. A primeira grande plataforma de compartilhamento de música veio com o programa Napster, criado por um estudante de 18 anos em 1999. Com ele, os usuários passaram a baixar as músicas de outros usuários e criou-se uma grande comunidade de compartilhamento. A partir daí, popularizou-se a troca de arquivos “peer-to-peer” (P2P), de um computador para outro, entre pessoas desconhecidas. Isso tudo há apenas 10 anos. “A relação emissor-receptor é hoje totalmente diferente do conceito tradicional determinado pela indústria cultural, com a produção de poucos direcionada para muitos substituída pela produção de muitos para muitos, não mais na linha vetorial reta, mas no círculo virtuoso, onde todos produzem, consomem e interagem”, diz Luiz Carlos Lucena, professor de Produção de Conteúdo para Novas Mídias na Universidade São Marcos, em São Paulo. A academia volta seus olhos para as novas mídias e seus impactos sobre a vida das pessoas, mas a
produção acadêmica “ainda é muito modesta”, afirma Lucena. Também é difícil analisar as consequências dessas mudanças, porque as transformações trazidas pelas tecnologias de informação e comunicação ao cotidiano do trabalho, da convivência social e da educação estão acontecendo. “Nós ainda estamos no olho do furacão para saber”, diz a psicóloga Carla Faria Leitão, pesquisadora associada do Departamento de Informática da PUC-RJ, ela própria autora de uma tese de doutorado sobre os “impactos subjetivos da Internet”. Ligados 24h Embora as tecnologias e as novas formas de convivência social não sejam de uso exclusivo da juventude, os jovens de hoje já nasceram em meio a essa nova sociabilidade, enquanto os adultos a constroem aos poucos. Uma das questões que intrigam e causam resistência aos adultos é
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A CONVERGÊNCIA TECNOLÓGICA, QUE potencializa AS FUNÇÕES DOS EQUIPAMENTOS, TORNA OS JOVENS USUÁRIOS TAMBÉM PRODUTORES DE CONTEÚDOS, GERANDO OS “PRODUSADORES”
A pesquisa Ponline 2007, realizada com os usuários do Programa de Inclusão Digital do Estado de São Paulo – Acessa São Paulo (dos quais 75,4% estão na faixa etária entre 11 e 24 anos), indicou que 82,2% dos frequentadores desse programa participavam de sites de relacionamento e comunidades virtuais da web. Outros fenômenos detectados pela pesquisa foram a alta participação no Orkut e o hábito do brasileiro de frequentar as lan houses (estabelecimentos comerciais com equipamentos multimídia adequados à participação em jogos on-line dentro de comunidades virtuais). Cerca de 86% dos usuários disseram participar dos sites de relacionamento para fazer novos amigos e 84% para conversar com amigos. Já as lan houses eram frequentadas principalmente para se ter acesso à Internet (pelo menos entre os usuários do AcessaSP).
a aparente alta exposição da vida privada em sites de relacionamento como Orkut e Facebook. “É um circuito totalmente diferente”, diz Giselle Beiguelman. “São outros os regimes de fronteira entre público e privado”, afirma. Um amplo estudo etnográfico da juventude digital nos Estados Unidos, desenvolvido entre 2005 e 2008 e financiado pela instituição The John and Catherine T. MacArthur Foundation, detectou que a maioria dos jovens usa as redes on-line para expandir suas amizades. Nesses espaços, eles se conectam com seus iguais, em formas diferentes. Por meio dos textos, mensagens instantâneas, telefones celulares e conexões de Internet, eles têm a possibilidade de estar “sempre ligados”, conectados 24 horas por dia. E há estratégias para lidar com isso. “Esta presença contínua requer
Impacto na aprendizagem Além do incremento na sociabilidade, os estudiosos também avaliam o impacto das novas tecnologias na aprendizagem e suas implicações. Entre os usuários do Acessa São Paulo, os pesquisadores já detectaram mudanças. “Não dá para medir se a nota de Português ou de Matemática aumentou com os usos da tecnologia”, diz Drica Guzzi, coordenadora do Programa Acessa SP pela Escola do Futuro da Universidade de São Paulo (USP). “O que conseguimos pegar nas pesquisas e nas histórias contadas pelos usuários é que eles avaliam que a vontade de aprender aumentou depois do uso da Internet, que eles têm mais facilidade em aprender e que isso influencia para melhor a vida educacional deles”, afirma. A questão é que nem sempre isso se reflete no desempenho escolar. “A escola ainda não sabe o que fazer com essa nova cultura de aprendizagem em rede, entre iguais e por interesse”, diz Drica. Há quem avalie que as hipermídias e o hipertexto (a base do texto da Internet, com links que permitem a abertura para outros textos) representem uma transformação tão
manutenção ininterrupta e negociação, por meio de comunicações particulares, como mensagens instantâneas, ou telefones celulares, bem como de formas públicas, por intermédio de sites sociais de rede, como MySpace e Facebook”, diz o estudo, intitulado “Vivendo e Aprendendo com os Novos Meios de Comunicação: Resumo das Descobertas do Projeto Juventude Digital”. “Com estas práticas ‘conduzidas pela amizade’, os jovens estão quase sempre se associando a pessoas que já conhecem em suas vidas off-line”, constata o estudo. Durante a adolescência, o período da vida em que o indivíduo amplia seus interesses e vínculos para além do círculo familiar, os novos meios de comunicação caem como uma luva para o incremento da vida social. O jovem chega da escola e fica no celular, ou no Messenger, em geral em contato com os mesmos amigos. “Quando se aumenta a sociabilidade, também se está mais exposto”, afirma a psicóloga Carla Leitão. Ela nota, porém, que há uma certa hierarquia dos meios, com espaços para se expor mais ou menos. “Dificilmente os jovens põem seus medos e vergonhas no Orkut, onde ele mostra apenas o que quer colocar na vitrine.”
radical na história do homem como a que foi promovida pela escrita na civilização. “As hipermídias mudam as nossas formas de ver o mundo, de nos relacionar com o tempo, com os saberes, com a autoria, com a situação comunicativa”, diz Andrea Ramal, diretora da empresa de consultoria ID Projetos Educacionais. O hipertexto, afirma ela, torna o pensamento menos linear e mais reticular. “Escrevendo linearmente, as pessoas desenvolvem um determinado tipo de estrutura mental. Mas por causa da navegação em hipertexto, elas estão, hoje em dia, desenvolvendo outro tipo de estrutura mental capaz de fazer links, relacionar conhecimentos, de promover a própria autoria”, afirma Andréa. “Quando um indivíduo navega, ele é o autor de seu próprio percurso.” Deixando o conhecimento mais fluido, móvel e dinâmico, as novas tecnologias colocam em xeque a escola tradicional, estruturada linearmente sobre um currículo que se forma por degraus. “A escola não será mais a mesma depois da relação das pessoas com o conhecimento por intermédio de meios digitais. Mas nada
substituirá a sensibilidade do mestre, nesse novo perfil de dinamizador da inteligência coletiva. O professor do futuro necessariamente irá formar comunidades que aprendem cooperativamente, zelando pela relação afetiva em sala de aula”, afirma Andrea. Para Giselle Beiguelman, o excesso de informações obriga o aluno a ter um embasamento maior que o de antigamente, e o jovem precisa ser educado para conseguir estabelecer hierarquias, tanto do que é prioritário no momento quanto dos critérios de diferenciação das informações. “O maior desafio, para o educador, é lidar com um tipo de leitor que não se encaixa no padrão tradicional e tem uma atenção distribuída, com capacidade de navegar em vários ambientes ao mesmo tempo”, afirma. “Ele não é necessariamente disperso, mas tem uma atenção diferente”, diz ela. Como no caso imaginado no primeiro parágrafo deste texto.
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Arquivo Pessoal
Beatriz Assumpção
chat de revista
Bianca Martins Maldonado, 17 anos, de Baixo Guandu (ES)
Marcos de Freitas Mortara, 15 anos, de São Paulo (SP)
OCUPAÇÕES QUATRO ESTUDANTES COMENTAM COMO USAM AS TECNOLOGIAS DIGITAIS DENTRO E FORA DA ESCOLA
Ivan Ribeiro da Silva
Cristino Martins
Brenda Ferreira Cavalcante, 15 anos, de Macapá (AP)
Matheus Amorim Ferreira, 15 anos, de Catalão (GO)
VIRTUAIS As tecnologias digitais seduzem os jovens, que passam boa parte de seu tempo conectados a diferentes aparelhos, seja o computador, o celular, seja o MP, ou o videogame. No mundo virtual, fazem amigos, divertem-se em jogos, participam de comunidades, trilham caminhos próprios na aquisição de conhecimento. Na escola, o fenômeno ainda desafia muitos professores a dinamizar seus cursos tirando o melhor proveito dessa maré digital. Nela está uma possibilidade de trazer a realidade do estudante para dentro da sala de aula e levar o conhecimento disciplinar para fora dos muros da escola. Um bom começo para se apropriar dessa dinâmica é saber mais sobre como usam o tempo que dedicam às ocupações digitais
estudantes como Matheus Amorim Miranda Ferreira, 15 anos, aluno do 2º ano do ensino médio no Colégio Nacional, na cidade de Catalão (GO), que está sempre conectado à web nos intervalos de suas atividades. Marcos de Freitas Mortara, 15 anos, estudante do 1º ano do ensino médio da Escola Nossa Senhora das Graças, em São Paulo (SP), também passa grande parte do seu tempo livre na Internet. “Uma média de quatro horas por dia”, conta. Brenda Ferreira Lima Cavalcante, 15 anos, é da capital do Amapá, Macapá, mas cursa o 2º grau no Rio de Janeiro, num programa de residência estudantil da Escola Sesc de Ensino Médio. Ela adora a Internet para ver vídeos, ler reportagens, ou trocar informações com amigos. Bianca Martins Maldonado, 17 anos, está concluindo o ensino médio na EEEFM Dr. Jones dos Santos Neves, de Baixo Guandu, no Espírito Santo, e é participante do projeto “Nosso Orkontro”, desenvolvido na sua escola para incentivar o contato de alunos com a Internet de uma forma educativa. A seguir, o principal do batepapo entre os jovens.
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ONDA JOVEM: As tecnologias digitais ocupam quanto do seu dia? Matheus: Navego na Internet, em média, umas três horas por dia. Se não há um compromisso escolar, fico mais. No celular, entre ligações e torpedos, cerca de uma hora, se estou em casa. Fora de casa, o tempo aumenta umas duas horas. Já o MP não utilizo tanto, não tenho um. Mas escutando ‘emprestado’ de amigos, gasto pelo menos 20 minutos por dia. Marcos: Passo grande parte do meu tempo livre na Internet, MATHEUS acredito que uma média de quatro horas por dia, ou mais. Envio bastante SMS por ser mais barato do que falar diretamente com meus contatos, mas não costumo escrever mensagens longas, apenas avisos, lembretes. Meu aparelho de MP3 foi roubado recentemente, então tenho escutado bastante rádio e as músicas dos MP3 dos meus amigos. Brenda: Eu fico de quatro a cinco horas por dia na Internet. Celular, para conversas, ou para mandar torpedos, uso pouco. O mesmo com o MP4, porque escuto música mais no celular e no computador. Bianca: Meu tempo livre é curto para navegar na Internet, cerca de uma hora por dia. Mas no tempo de trabalho – um estágio que faço na escola no período noturno –, a Internet é minha parceira. Conto com ela para pesquisar e sugerir atividades que interessem aos estudantes no nosso laboratório de informática. Quanto ao celular e ao MP, gosto de ambos, utilizo quando necessário. Usaria mais se o tempo permitisse. Quais ferramentas e redes sociais você usa com mais frequência? Matheus: Uso muito, todas. Acessar o MSN logo ao ligar a máquina já se tornou um hábito. O MSN conecta as pessoas instantaneamente, é extremamente ágil e prático. O Orkut não fica atrás, mas abrangendo mais informações, como fotos, perfil, pensamentos, comunidades. O Twitter, recém-descoberto pelos brasileiros, envolve de uma forma bem direta e fácil as pessoas ‘comuns’ e os seus ídolos, que antes pareciam tão distantes. É como se fosse um miniblog, com espaço de apenas 140 caracteres para você comentar algo, mas dá até para fazer um debate. O Twitter acaba mesclando o MSN e o Orkut e, inclusive, ao mais arcaico blog, e por isso é o meu preferido. O e-mail é sem dúvida a ferramenta base de todas as outras, mas não utilizo muito, somente em situações mais formais. Já o YouTube envolve vários interesses: compartilhar vídeos ou músicas, divulgar algum trabalho pela web. A alternativa de ter acesso a obras já consagradas e outras nem tanto, sem o risco de estar consumindo pirataria, é o que mais me atrai no YouTube. Bianca: Eu uso mais o e-mail, o MSN, o Orkut e o YouTube. O enviar e receber mensagens com rapidez trouxe muita agilidade para o nosso dia a dia, e nós, jovens, gostamos disso. Com o MSN, tornou-se mais fácil a comunicação, em tempo real. Já o Orkut, que é uma rede de relacionamentos muito moderna, torna o mundo muito menor. No YouTube é possível assistir, divulgar e compartilhar vídeos, músicas, mensagens, um mundo digital de entretenimento muito interessante e que ajuda a gente a ficar “antenado” com tudo, em vários temas. Brenda: Como eu moro na escola, longe da minha família, os meios mais práticos de me comunicar com ela são o MSN e o Orkut. O primeiro porque é instantâneo; o segundo exatamente porque não depende de as duas partes acessarem a Internet ao mesmo tempo. Também acesso o YouTube sempre, para me distrair, ou para pesquisar vídeos de fatos importantes.
Marcos: Uso o e-mail para correspondências com menos urgência e para enviar arquivos e trabalhos da escola. Uso o MSN sempre que ligo o computador para conversar com amigos e com minha namorada. Acho que é uma forma muito rápida e eficiente de comunicação. Entro no Orkut todo dia, pelo menos uma vez, para checar recados e ver as atualizações dos amigos. Gosto do Orkut porque me ajuda a encontrar e manter o contato com pessoas e amigos mais distantes, sem falar nos amigos que fiz por meio das comunidades. Entro no YouTube quando algum filme é indicado por alguém, mas não costumo navegar pelo site. Que benefícios lhe traz o contato com as ferramentas digitais? Você percebe algum ganho em habilidades, competências? Matheus: Rapidez e diversidade de informação acabam exigindo do internauta maior assimilação e discernimento sobre o que ele lê de fato. Essas habilidades são importantíssimas para a realidade em que vivemos, não se trata apenas de uma escolha, tem sido uma mudança real, da sociedade. Brenda: Trocar informações e discutir sobre diversos assuntos com outras pessoas dão agilidade à escrita e à organização de ideias. Saber utilizar toda essa tecnologia é também um fator profissional seletivo no futuro. Marcos: Acho que me ajuda a processar e organizar as informações que recebo e funciona como BRENDA facilitador de atividades como criar textos, pesquisas, apresentações e outras atividades. Não sei se o ganho com as ferramentas digitais seria uma habilidade, ou competência, mas sinto que, quanto mais aprendo sobre elas, mais fácil fica administrar e resolver problemas no cotidiano, como restaurar e melhorar imagens no Photoshop, ou para combinar com amigos de várias escolas de nos encontrarmos, sem nem tocar no telefone.
“Com a tecnologia, diversão e estudo podem caminhar juntos.”
Brenda
Bianca: Essas ferramentas trazem rapidez e eficiência na resolução de trabalhos e problemas do dia a dia, promovem a comunicação e a interatividade. É possível adquirir e desenvolver habilidades como aperfeiçoamento da leitura e interpretação, raciocínio lógico, pois a viagem BIANCA virtual traz conhecimentos que nos levam a compreender aspectos geográficos, sociais, filosóficos e outros da realidade que nos rodeia. A facilidade de acesso a inúmeras fontes de pesquisa é um grande benefício. Você acha que a escola restringe ou estimula o uso das tecnologias? Marcos: Minha escola apoia o uso da tecnologia, tanto que possui sua própria comunidade virtual para fins educativos, o que nos ajuda em praticamente todas as matérias. Matheus: Minha escola permite o acesso à Internet, mas exclusivamente a sites de pesquisa; não usamos Orkut, MSN, mas estas seriam também boas ferramentas para atividades escolares. Brenda: Na minha escola, você já entra com um notebook, utilizado dentro e fora de aula para fazer anotações, trabalhos e vídeos. E o colégio oferece uma oficina de Arte e Tecnologia na qual realizamos trabalhos com ferramentas digitais, como curtas, animações, manutenção de blogs etc. Bianca: Muitos alunos têm o primeiro contato com o computador na minha escola. O colégio incentiva o uso das diversas tecnologias, possibilitando a interação entre as diferentes áreas do conhecimento. Seria ainda melhor se a escola tivesse mais softwares educativos específicos para trabalhar os conteúdos das diversas disciplinas. As ferramentas que você prefere podem ser usadas na educação? Como? Matheus: Podem, sim. No meu antigo colégio, usamos o Orkut para a criação de poesias livres, e o trabalho saiu dos limites da escola e ainda hoje é uma realidade para os moradores da cidade, que podem ter acesso às obras. Considero esse projeto extremamente importante no desenvolvimento do aluno mais introvertido, pois quebra a relação arcaica entre professor e aluno, quadro e carteira, influenciando inclusive no seu futuro como profissional. Bianca: Essas ferramentas não só poderiam como já são usadas na educação, como o Orkut, que é o principal elemento facilitador do projeto “Nosso Orkontro”, realizado em minha escola. Brenda: Todas elas podem ser usadas na educação, e caminhamos para isso cada vez mais com a criação de sites, jogos e programas pedagógicos.
Marcos: Acho que dividir lazer e estudo no caso dessas ferramentas seja o mais importante. Acho que um site de relacionamento como o Orkut pode ajudar no aspecto educativo, mas como expõe seus usuários e as informações ali trocadas, acredito que algo como o programa Teleduc da minha escola seja mais aconselhável. No caso do MSN, acho que sua agilidade possa, sim, ser usada para um contato direto entre alunos e professores, otimizando o aprendizado. Facilitar o acesso à tecnologia na escola pública é um investimento necessário? Por quê? Bianca: Com certeza. Se toda a sociedade está evoluindo e sendo informatizada, a escola e os estudantes não podem ficar à margem nem excluídos dos avanços tecnológicos. Marcos: Tenho total convicção que sim. Investir em tecnologia na educação é investir na desalienação e na diminuição da ignorância da população. Com uma população mais bem instruída, inclusive no uso dos recursos tecnológicos, as escolhas de nosso povo para com a política e o dia a dia se tornariam mais fundamentadas, melhorando a qualidade do governo e da vida como um todo no País. Então, acho que todo investimento nessa área é bem-vindo. Matheus: Acho que quando envolvemos gastos públicos, temos que ser muito cautelosos. No Brasil, a corrupção existe de fato. E tratando de gastos elevados, acho que, para chegarmos a este patamar de investimento, devemos criar uma base, com outras preocupações, mais simples, porém mais básicas na formação do estudante, como os gastos em qualidade escolar, preparo de professores, para que posteriormente possamos pensar em investimentos tecnológicos. Portanto acredito que este investimento, hoje, não seja realmente prioritário. Você acha possível adolescentes levarem com a seriedade necessária o uso das ferramentas tecnológicas na escola? Marcos: Tenho certeza que sim. Acho que é uma questão do adolescente separar lazer e estudo, mas acredito também que provocar o interesse do aluno por meio da tecnologia seja ideal para o aprendizado, não de forma séria, mas utilizando da diversidade tecnológica para tornar o estudo mais divertido e descontraído e, assim, aumentar o interesse do estudante pelas disciplinas. MARCOS Bianca: Sim, a seriedade com os compromissos escolares não depende do uso ou não das ferramentas tecnológicas, pois quem é comprometido com o que faz vai fazer da tecnologia uma companheira para aperfeiçoar, ou complementar os trabalhos e tarefas escolares. Brenda: Com seriedade, sim, mas é pouco provável que um adolescente se desligue totalmente das outras funções fornecidas pelas ferramentas tecnológicas. É então que chego à conclusão que diversão e estudo podem caminhar juntos.
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Cartas
Na rede pública Sou professora, tive contato com a revista e acho que ela seria um ótimo instrumento para o meu trabalho. Alessandra do Carmo Alonso, Miraí, MG Tive contato recentemente com a revista por meio de algumas coordenadoras do grupo Votorantim e gostaria de receber a revista Onda Jovem. Professor Lucas da Costa Miraí, MG Sou coordenadora pedagógica na rede estadual de ensino da Bahia e gostaria de receber exemplares da revista Onda Jovem. Valuza Saraiva, Cabula, Salvador, BA Sou professora e gostaria de receber a edição impressa da revista Onda Jovem. É possível? Valdivânia P. Barbosa, Profa. Geografia/Pedagogia Guarapuava – PR
Trabalhei por um período no Instituto RPC, e lá recebíamos o boletim Onda Jovem. Agora trabalho em uma escola estadual e gostaria de continuar recebendo o boletim em meu e-mail. Gilmara de Camargo Nogueira, por e-mail
Ferramenta de trabalho Sou coordenador do programa do governo federal Projovem Adolescente e achei muito bom o conteúdo e apresentação da revista de vcs, gostaria de saber como faço para receber exemplares para compartilhar com os orientadores e jovens do programa. até. Gilberto Dantas, por e-mail Trabalho na REAJAN com grupos de jovens, desenvolvendo formações e estudos. Temos utilizado muito os textos da revista Onda Jovem nos estudos e debates. Com frequência temos trabalhado com cópias de outras pessoas e entidades que recebem exemplares da revista. Gostaria de saber se é possível recebermos os exemplares para nosso trabalho com as comunidades em Fortaleza. Aproveito a oportunidade para parabenizá-los pela revista, discussões atuais, linguagem acessível e visibilidade de experiências diversas nessa área. Tem sido de muita valia para nós, profissionais e instituições da área da adolescência e juventude. Alessandra Masullo Fortaleza, CE Estou solicitando exemplares de Onda Jovem! Eu trabalho muito com a revista, pois coordeno um grupo de adolescentes e jovens, em um projeto de adoção escolar a distância. Cristiane Luz, Boca do Rio, Salvador, BA
Faça contato Envie cartas ou e-mails para esta seção com nome completo, endereço e telefone. Onda Jovem se reserva o direito de resumir os textos. Endereço: Rua Dr. Neto de Araújo, 320, conjunto 403, CEP 04111-001, São Paulo, SP. E-mail:
ondajovem@olharcidadao.com.br.
Tenho acesso à revista pelo site e a utilizo como meio de comunicação e informação para os jovens com quem desenvolvo um trabalho de incentivo à leitura. Eles atuam como mediadores e realizam sessões de leitura para diversas pessoas em diversos locais e instituições. Levo a revista para eles conhecerem outras iniciativas e jovens de todo Brasil e o que estes andam pensando sobre temáticas em que eles têm dúvidas, ou já passaram por situações parecidas. José Roberto da Silva, Jardim Iguatemi, São Paulo, SP
Trabalhamos na ONG Fábrica Cultural situada na Cidade Baixa, em Salvador, e presidida pela cantora Margareth Menezes. Estamos começando esse ano um projeto de inclusão socioprodutiva e mobilização comunitária com jovens de 16 a 24 anos, de baixa condição socioeconômica e oriundos de escolas públicas. Na pesquisa sobre possíveis parceiros para trocas de experiências, encontramos a revista com a qual acreditamos poder travar um diálogo sadio e produtivo! No trabalho de capacitação de professores. E seria interessante termos os exemplares para inserirmos matérias e discussões em nossos planos de trabalho. Teresa Fernanandes, Fábrica Cultural Salvador, BA Sou professora-adjunta de sociologia da educação na Faculdade de Educação na UFMG e gostaria de saber como posso ter acesso à revista impressa, não somente para trabalhá-la com meus alunos, mas também como material de interesse para o grupo de pesquisa do qual faço parte: OSFE (Observatório Sociológico Família-Escola). Maria Amália de Almeida Cunha, Profa.-Adjunta do Dpto. de Ciências Aplicadas à Educação FaE/UFMG
Incentivo à leitura Participo de uma instituição setorial do movimento negro “Círculo Palmarino”, que tem como objetivo aglutinar diversas pautas, sendo uma delas a Juventude negra. Levei a revista para os jovens do Círculo utilizarem o material como um instrumento de estudo e de incentivo à leitura e a outros temas que não fazem parte do meio educacional onde estão inseridos. Mauro Sérgio por e-mail
O Centro de Referência em Saneamento Ambiental de Santo André é um espaço que abriga publicações na área do saneamento integrado. Atualmente o Centro de Referência busca parcerias visando à ampliação do seu acervo no sentido de enriquecê-lo e poder oferecer à comunidade usuária mais opções de pesquisas com materiais bibliográficos atualizados. Desta forma, gostaria de solicitar a doação de assinaturas da revista Onda Jovem. Silvana Aparecida Gabriel Bibliotecária
Gostaria muito de adquirir o exemplar de Onda Jovem com o tema Interdisciplinaridade. Sou professora e li a revista na biblioteca da instituição em que trabalho. Chamou minha atenção, pois estou fazendo um trabalho com professores sobre interdisciplinaridade. Áurea Aparecida Siqueira Bahls Por e-mail
Somos gratos pelo envio da excelente publicação Onda Jovem, que temos disponibilizado ao acesso público em nossa biblioteca comunitária. Fidelis Paixão Coordenador do Ponto de Cultura COMVIDA – Associação Rondon do Pará – PA
Recebemos e agradecemos a edição de Onda Jovem de maio de 2009. Desejamos receber números anteriores e posteriores. A publicação é de suma importância para o acervo do SBI PUC-Campinas. Ana Domingas Fullin Timporim, Sistema de Bibliotecas e Informação – SBI PUC– Campinas
Assinaturas Gostaria de receber os exemplares da revista Onda Jovem. Tenho dois exemplares que ganhei e gostei muito do material publicado. Sou assistente social e trabalho com adolescentes e jovens, trabalho também na formulação de projetos sociais. Vejo que esse material contribuirá muito para os trabalhos que desenvolvo. Muito obrigada e parabéns pela revista! Patricia Manica , de Curitiba, PR Gostaria de saber da possibilidade de receber o boletim Onda Jovem. Somos parceiros do Instituto Votorantim e temos o seu contato através deles. Fernanda Lanza, Instituto Oficinas Querô Gostaria de fazer minha assinatura, como devo proceder? Marialice Thomaz Soares, Coordenadora Executiva – Projovem Urbano Prefeitura de Palmas, TO Gostaria de saber como ter acesso, ou fazer assinatura desta ótima revista. Adriano Borges
Gostaria nessa oportunidade de elogiar essa revista pelos seus trabalhos em favor da juventude brasileira. Na oportunidade, gostaria de solicitar que me inclua na lista de assinantes dessa revista. Eduardo Amorim Silva Teófilo Otoni, MG
Tenho enorme apreço por essa publicação. Não apenas por ser um educador social e estudante de Psicologia. Mas pelo simples fato dela ser uma grande maneira de manter-me atualizado quanto às coisas que os jovens estão fazendo em diversas partes do Brasil. Vejo que é de suma importância para a juventude ter uma referência dessa qualidade. Ainda mais por saber que esse é um veículo de comunicação que se preocupa em demonstrar uma imagem positiva dos jovens. Ou seja, tornar visível grandes mobilizações juvenis. Receber a revista vai ajudar a dar mais qualidade ao meu trabalho na Cidade Escola Aprendiz, como estagiário da Escola na Praça. Jean de Mello, Cidade Satélite, São Paulo, SP. Trabalho no Instituto Ilhas do Brasil, em Florianópolis. Ouvi sobre a revista Onda Jovem. Achei muito interessante e gostei bastante da proposta. Gostaria de saber como fazemos para receber a revista. Ana Cristina Franco, Florinanópolis, SC
Parcerias Recebemos regularmente a revista Onda Jovem com projetos sociais que nos têm emocionado e deixado satisfeitos. Gostaríamos de parabenizar a iniciativa da criação da revista e convidar vocês para conhecer o Projeto: “Música no Museu do Mar” no blog: http://musicanomuseudomar.blogspot.com/ Cleonisse Inês Schmitt – CRB 14/733 Bibliotecária do Museu Nacional do Mar e coordenadora do Projeto “Música no Museu do Mar”
Estou escrevendo para informar que colocamos o link para o sítio da Onda Jovem em nosso portal www.emdialogo.com.br. Na seção Na Rede, colocamos os links de páginas eletrônicas que tratam também da questão do ensino médio de forma responsável e consciente. O EMdiálogo é uma iniciativa do Observatório Jovem da UFF e Observatório da Juventude da UFMG. Raquel Junia, Jornalista EMdiálogo – A revista Onda Jovem é importante para que a juventude do nosso município, e principalmente os frequentadores da Casa da Juventude, possam ter uma visão mais ampla do trabalho de outras juventudes e possam se interessar também por fortalecer a articulação da juventude em nossa realidade. Nós, grupo de jovens Plantando para Colher, juntamente com o Fórum de Juventude de Pilões, através do projeto ATORES, implantamos, em nosso município, uma casa da juventude, espaço que visa fortalecer o protagonismo juvenil. Queremos mostrar aos jovens e demais frequentadores da casa outras ações inovadoras que visam o desenvolvimento da população. Isaac Cirilo de Souza, Pilões, PB
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Navegando
Um mundo para
conectar
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As conexões que acontecem na sociedade contemporânea, principalmente nos centros urbanos, e que envolvem também a escola, mas vão muito além dela, são fonte de inspiração da ilustradora Anna Anjos, paulista de 24 anos. Desenhista desde criança, Anna é formada em Design Gráfico, mas em 2007 decidiu se dedicar à ilustração. Interessada em mídias audiovisuais, como cinema e quadrinhos, ela cria sua obras também a partir dos recursos tecnológicos. Para ilustrar esta seção, Anna criou linhas e paralelismos que lembram o tema das conexões urbanas, às quais se mesclam as conexões feita nas escolas. O trabalho dá continuidade também a referências anteriores, inseridas em sua linguagem pessoal, que inclui ainda personagens e figuras mais realistas. O conjunto da produção de Anna Anjos pode ser visto no site www.annaanjos.com.
Tom Cabral
ONDA JOVEM interdisciplinaridade NATIVOS DIGITAIS
Em encontros presenciais ou no ambiente virtual, professores, alunos, gestores públicos, famílias e comunicadores reconhecem a educação como valor e pensam em ações para fazer parte desse esforço. O Instituto Votorantim, por meio do Parceria Votorantim pela Educação, oferece as ferramentas para a mobilização. Visite www.blogeducacao.org.br
Educar jovens nascidos na era da Internet é desafio para a escola
ano 5 – número 16 – setembro/novembro 2009
O Instituto Votorantim convida as comunidades a participarem de redes em prol da melhoria da qualidade da educação.
NATIVOS DIGITAIS
número 16 – setembro/novembro 2009 – www.ondajovem.com.br
Parceria Votorantim pela Educação: criando redes para fortalecer a escola pública
www.ondajovem.com.br