Onda Jovem #20

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www.ondajovem.com.br

anoano 6 – número 6 – número 20 –19 setembro/novembro – junho/agosto 2010 2010

Aprender a trabalhar Com portas de entrada seguras, o mundo do trabalho é fonte de aprendizado


sonar

Dos jovens de

15 a 17 anos,

somente

48%

Concluintes do ciclo médio são

metade

18%

frequentam o ensino médio

do total de iniciantes

dos jovens entre 15 e 17 anos estão

fora da escola

Diminui o número de jovens de

18 24 a

anos

que estudam


ESTUDANTES BUSCAM FORMAS DE

ENTRAR NO MERCADO PÁG. 8

PROFESSORES ASSOCIAM ESTUDO E ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL PÁG. 16

LEI DA

aprendizagem

3

concilia ENSINO MÉDIO E PRÁTICA PROFISSIONAL PÁG. 28

FORMAÇÃO PROFISSIONAL

48%

AS CHANCES DE INGRESSO NO MERCADO

PÁG. 32 iStock

AUMENTA EM


âncoras

“A escola poderia melhorar a postura do aluno e orientar sobre as exigências e o comportamento adequado no mundo do trabalho.” Camila Martins Santana,

estudante do CEFET de Belo Horizonte

“É preciso ficar claro para o estudante que as coisas que ele fizer terão consequências. Isto não quer dizer profissionalizar, mas estabelecer nexo entre o que ele está fazendo na escola e suas perspectivas futuras.” Wanda Engel,

ARQUIVO PESSOAL

superintendente-executiva do Instituto Unibanco

“Ter uma profissão é gostar daquilo que se faz. Ter um trabalho é simplesmente lutar pelo dinheiro de cada dia.” Dérick Pacheco Caitano,

16 anos, faz ensino médio em Palhoça (SC)

“Tanto descobrir uma vocação quanto desenvolver habilidades são importantes, e experiências no mercado de trabalho estimulam as duas coisas.” Bruno Kruger,

17 anos, secundarista de Porto Alegre

“O aluno quer o novo, mas só o teórico não funciona com os jovens. Quando o aluno sai da sala de aula e vê a prática, o interesse cresce muito.”

Francisco Gomes Patriota,

professor de física e biologia no Colégio Estadual Stellanis Koparaks Pacheco, em Porangatu, Goiás


“Todos os dias penso sobre meu futuro profissional. No momento, esse é meu maior dilema, por estar concluindo o ensino médio.” Amanda Sampaio Falcão,

henk nieman

16 anos, cursa o 3º ano do ensino médio em Teresina

“A inserção no mundo do trabalho ajuda o jovem a se estruturar e a se organizar internamente, elaborando o seu papel no contexto social.” Mirlene Maria Matias Siqueira,

professora titular da Faculdade de Psicologia e Fonoaudiologia da Universidade Metodista de São Paulo

“Na minha casa todo mundo fala pra eu estudar se quiser ser alguém na vida.” Eric Botini de Deus, 16 anos,

cursa o ensino médio na Escola Maria Augusta de Ávila, em São Paulo (SP)

“A escola sinaliza dados e comportamentos da vida profissional. O aluno que termina o curso vai ser trabalhador como foi na escola.” Marcelo Néri,

economista-chefe do Centro de Políticas Sociais da FGV, coordenador da pesquisa “A Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho”

“Seria muito útil um acompanhamento psicológico para ajudar na definição da profissão que seguiremos.” Camila do Nascimento,

aluna do Centro de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional e Técnica, Gama (DF)

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ano 6 número 20 setembro / novembro 2010 Um projeto de comunicação apoiado pelo

Projeto editorial e realização Fátima Falcão e Marcelo Nonato Olhar Cidadão – Estratégias para o Desenvolvimento Humano www.olharcidadao.com.br Direção editorial Josiane Lopes Secretaria editorial Lélia Chacon

FABRÍCIA BATISTA MARCELO MENDONÇA

ONDA JOVEM 20

08 Stéfany Morais

expediente

Projeto gráfico Artur Lescher e Ricardo van Steen (Tempo Design)

texto: Aydano André Motta, Carmem Allende, Frances Jones, Joana Milliet, Liliane Oraggio, Mariana Veltri, Raí de Oliveira, Roberta Marques, Roberto Amado, Vera de Sá, Victor Barau foto: Ailton Santos, Bruno Tadeu Garcia, Cristiano Costa, Henk Nieman, Iha Comunicação, Marcia Zoet, Marcelo Mendonça, Marisa Piazarollo, Stéfany Morais ilustração: Danielle Jaimes e Fabrícia Batista Capa: Jovem da Escola Social do Varejo, do Instituto Walmart (foto: Paulo Mindlin)

16 PAULO MINDLIN

Colaboradores

Diagramação D´Lippi Editorial

Como entrar em contato com Onda Jovem E-mail: ondajovem@olharcidadao.com.br Endereço: R. Dona Brígida, 602, CEP 04111 081, São Paulo, SP Tel.: 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464 www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude

Onda jovem é um dos 50 Jeitos Brasileiros de Mudar o Mundo – Programa de Voluntários das Nações Unidas no Brasil – 2007

20 ARQUIVO PESSOAL

Impressão Ipsis

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8 – NAVEGANTES Jovens estudantes do ensino médio revelam suas expectativas com a formação profissional e o primeiro emprego 16 – EDUCADORES Professores e pais de São Paulo, Ceará e Mato Grosso do Sul atuam para encaminhar os jovens na vida profissional 20 – BANCO DE PRÁTICAS Escola e organizações desenvolvem projetos para jovens que aliam a formação cidadã à orientação para o mundo do trabalho 24 – ÂNGULO 1 Joana Milliet e Roberta Costa Marques apontam o gargalo da conclusão do ciclo fundamental no caminho dos jovens rumo ao mercado de trabalho 28 – ÂNGULO 2 Raí de Oliveira e Victor Barau comentam aspectos da Lei do Aprendiz, que concilia ensino médio e prática profissional remunerada 32 – O SUJEITO DA FRASE Marcelo Néri amplia pesquisas que confirmam que educação é a condição mais importante para vida profissional e remuneração 36 – LUNETA As transformações do mercado afetaram também suas portas de entrada e as trajetórias dos jovens no trabalho 40 – CIÊNCIA Trabalhar é uma atividade que afeta o jovem física, psicológica e socialmente, com reflexos diretos em seu desenvolvimento 44 – CHAT DA REVISTA Quatro alunos do ensino médio conversam sobre as estratégias para entrar no mercado de trabalho

Assista ao Quadro Onda Jovem no Jornal Futura que será exibido em setembro, sempre às sextas-feiras, ao meio-dia, com reprise às 17 horas. Sintonize o Canal Futura: Antena parabólica – Polarização Vertical 20 Net – Canal 32 Sky – Canal 8 Em 23 TVs universitárias em todo o Brasil.

SONAR 2

Dados sobre jovens e trabalho

ÂNCORAS 4

Comentários sobre trabalho e educação

CARTAS 48

As mensagens dos leitores

NAVEGANDO 50

As perspectivas globais do jovem ilustradas por Fabrícia Batista

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navegantes

PELA PORTA Jovens investem na escola e buscam formas de entrar no mercado de trabalho para realizar seus sonhos

Camila Martins Santana, estudante do CEFET de Belo Horizonte: perspectivas positivas

Por _足 Carmem Allende Liliane Oraggio


Marisa Piazzarolo

dA FRENTE 9


16 anos, paulista: trabalho informal e firme na escola

Independentemente de sexo, idade ou região do País, os estudantes do ensino médio concordam que sem estudo não têm chances de ingressar no mercado de trabalho pela porta da frente. Aos 16 anos, cursando o primeiro ano do ensino médio público, na Escola Maria Augusta de Ávila, na zona leste de São Paulo (SP), Eric Botini de Deus, que trabalha informalmente como distribuidor de folhetos, acha que vai precisar estudar mais, se quiser ter uma boa colocação. “Sem curso técnico ou faculdade, só vou conseguir emprego ruim. Com o inglês da escola não dá pra aprender a falar legal. A escola oferece também curso de espanhol, mas era fora do horário e não deu”, diz. A família tem papel de destaque no tema, assim como os amigos. “Queria fazer um curso de web design de arquitetura, que a minha mãe falou que é melhor pro meu futuro. Ela até me levou pra ver, mas ia ficar muito longe. Na minha casa todo mundo fala pra eu estudar, se quiser ser alguém na vida.

Henk Nieman

Eric Botini de Deus,

Eu tenho alguns amigos que trabalham de operador de telemarketing e em lojas no shopping.” O objetivo imediato de Eric é simples: “Eu queria ter um trabalho melhor pra poder ajudar a família, comprar meus ‘negocinhos’ e fazer uma poupança”. Questionado sobre a profissão que gostaria de exercer para atingir seus objetivos, ele ainda não sabe responder. Mas ainda tem tempo para descobrir. No outro extremo, acalentando a mesma dúvida, mas já correndo atrás do tempo perdido, Danielle Sartor, 22 anos, voltou à escola para cursar o ensino médio da Educação para Jovens e Adultos (EJA), do Colégio Horácio Ribeiro dos Reis, em Cascavel (PR). Trabalhando como diarista, casada e mãe de dois filhos – o mais velho com 3 anos –, ela também acha que

precisa ingressar na faculdade para conquistar um lugar ao sol: “Quando eu era menor, pensava em fazer enfermagem. Agora, não sei. Nunca fui registrada, não tenho curso de nada. Engravidei e parei de estudar. Mas eu aprendo as coisas muito rápido. Gosto de escrever, ler, acho que poderia me dar bem como secretária. Agora apareceu pra eu fazer um curso financeiro. Acho que tenho que fazer mais cursos. Corro atrás de emprego, peço oportunidade, mas é difícil, não tenho experiência.” Contando com sua força de vontade e o incentivo da família, Danielle segue lutando, sem orientação profissional. “Na escola só vou ter palestras no terceiro ano, mas como sabem da minha situação, tentam me ajudar. Meu marido me apoia pra eu continuar estudando, fazer um curso de informática. Minha sogra trabalha em um sindicato, me indica os cursos que aparecem. Eu vou fazendo tudo que dá. Sei que uma hora eu vou conseguir um emprego.”


Ailton Santos

Danielle Sartor,

22 anos, de Cascavel (PR): ensino médio na EJA para recuperar o tempo perdido

Conexão com o amanhã Para Wanda Engel, superintendente-executiva do Instituto Unibanco, discursos como os de Eric e Danielle refletem a distância existente entre a realidade destes estudantes e a escola: “O jovem está perdendo a perspectiva de futuro. Sabemos que ele é imediatista até por uma questão hormonal.” E circunstâncias como a pobreza e a violência aumentam essa urgência. “No cenário da vida real, a escola não tem sentido, pois o esforço necessário para que o jovem possa ter o que quer o desloca para um futuro muito distante. Assim, ter uma vida de consumo é uma impossibilidade para ele. A escola está totalmente desligada desta realidade.” Para a especialista, embora os parâmetros curriculares nacionais (PCN), construídos na década passada, já tratassem desta preparação para o mundo do trabalho, nada disso se vê na prática. “A grande maioria das escolas, cerca de 90%, continua preparando para a universidade, sendo que nem um terço dos alunos ingressa no ensino superior. Não chega a 10% a quantidade de estudantes ligados ao ensino profissionalizante. Não acredito que, de uma hora para outra, possamos chegar a 30%. É muito difícil, caro e requer um trabalho estruturado.” Wanda reconhece que, além das diretrizes já existentes, é necessário ter um ensino voltado para o

Mesmo alunos de cursos profissionalizantes enfrentam temores e dúvidas sobre o ingresso no mercado de trabalho

trabalho que contemple um plano de vida para o jovem. “É preciso ficar claro para o estudante que as coisas que ele fizer hoje vão ter consequências. Isto não quer dizer profissionalizar, mas estabelecer algum nexo entre o que ele está fazendo na escola e as suas perspectivas futuras.” Uma forma de estabelecer este vínculo seria buscar no ensino médio alunos que trabalhassem por quatro horas, dentro do esquema da Lei do Aprendiz. “Conciliando trabalho e estudos, em condições dignas e recebendo um salário, o jovem conhecerá modelos e referências que talvez não tenha em sua comunidade e vai perceber, na prática, por que é importante estudar”, diz Wanda. Um dos projetos que vem desenvolvendo – o Valor do Amanhã – tem motivado os jovens a conhecerem as noções de causa e efeito, ação e reação, atitudes e consequências, e do quanto tudo isso colabora para a

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realização de seus sonhos, sobretudo os que estão em situação de vulnerabilidade social. Dando os primeiros passos no mundo do trabalho, por intermédio do Programa Jovem Aprendiz, o estudante do 1º ano do ensino médio Lucas Costa, de 15 anos, afirma que o estágio na COELBA – Companhia de Energia da Bahia – está sendo muito importante para ele. Além do salário e carteira assinada, Lucas, que mora em Salvador, recebe vale-transporte, tíquete-refeição e todos os benefícios trabalhistas. Uma vez por mês participa de uma reunião de avaliação do programa, junto com os pais e supervisores. “Estou aprendendo como funciona uma empresa. Trabalho como auxiliar de protocolo, tiro xerox e levo os documentos pra assinatura. Além das horas do estágio, também tenho treinamento de informática, eletricidade e comportamento. Como os professores são muito experientes, aproveito bastante. Gosto de ficar perguntando, tenho curiosidade de aprender.” Mas seu sonho é ser biólogo e trabalhar em zoológicos. Lucas diz que, depois de concluir o ensino médio, pretende fazer vários cursos e faculdade. Ele acha que, para conseguir um bom emprego, é preciso saber mais sobre informática e ter experiência. “Quero ter a minha casa, uma boa situação financeira e criar uma família com alegria. Na minha família todo mundo é trabalhador, tenho esta herança. Vontade e garra a gente tem.”

Lucas Costa,

15 anos, de Salvador: estudo e aprendizagem profissional

Vanessa Daiane Delgado,

17 anos, de Bebedouro (SP): aprendizagem fora da escola

Camila do Nascimento,

14 anos, de Gama (DF): ensino médio integrado ao técnico

Marcelo Mendonça

Qualificação profissional Ter formação profissional aumenta em 48% as chances de um indivíduo em idade ativa ingressar em uma carreira. A conclusão é da pesquisa “A Educação

Profissional e Você no Mercado de Trabalho”, desenvolvida por iniciativa do Instituto Votorantim e coordenada pelo economista Marcelo Néri (leia entrevista à página 32). O levantamento também constatou que os salários daqueles que têm um curso profissionalizante são até 12,94% mais altos e a chance de se conseguir um posto com carteira assinada é 38% maior, em relação a candidatos que não tem essa formação. A pesquisa revelou ainda que a taxa de ocupação do mercado de trabalho para aqueles que têm qualificação profissional vem crescendo, com alguma flutuação, desde 2002. Apostando nesta tendência, alguns jovens como Camila Martins Santana, estudante do CEFET de Belo Horizonte, planejam a carreira usando os cursos técnicos como trampolim. Cursando o terceiro ano do curso técnico de Edificações, a estudante aposta que tem 100% de chances de conquistar um emprego assim que concluir os estudos. “Muitos colegas já estão fazendo estágios, antes da formatura. Como estou trabalhando num projeto de iniciação científica, ainda não me interessei, mas converso com os professores, principalmente os que também trabalham em em-


CRISTIANO COSTA

Iha Comunicação

presas, e visito os sites daquelas em que gostaria de trabalhar. O próprio CEFET disponibiliza constantemente uma lista de estágios e empregos. Sei que o mercado está aquecido.” Este é um dos dados apresentados pela pesquisa “A Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho”. Nas escolas de educação profissional, o número de estudantes matriculados não para de crescer. Nas escolas federais, por exemplo, as matrículas de cursos técnicos de nível médio saltaram de 79 mil em 2003 para 160 mil em 2009. Em breve, com as novas escolas que entrarão em funcionamento, serão cerca de 250 mil estudantes. Segundo o Secretário de Educação Profissional do Ministério da Educação (MEC), Eliezer Pacheco, muito tem sido investido, já que o Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) tem uma visão sistêmica da área: “O ensino médio é considerado o elo frágil desta corrente e, por isso, tem recebido atenção redobrada. Mudamos o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e criamos os institutos federais de educação, ciência e tecnologia, nos quais 50% das vagas devem ser de ensino médio integrado. Ao aliar o currículo tradicional a

um curso técnico, cria-se uma alternativa concreta para a juventude. Uma pesquisa feita pelo MEC com estudantes técnicos de nível médio, egressos dessas escolas, demonstrou a empregabilidade de 72% deles já no primeiro ano depois de formados.” Um mundo de desafios Buscando traçar seu próprio rumo, a futura técnica em edificações quer trabalhar numa empresa que valorize o crescimento profissional e invista no seu aprimoramento. “Meu principal interesse é aprender. Penso que posso seguir carreira, cursar a faculdade de Engenharia Civil e continuar pesquisando. Sei também que preciso suprir algumas deficiências que dificultam a conquista de um bom emprego nesta área, como inglês fluente e alguns cursos especiais de desenho em computador, mas acredito que reúna as qualidades necessárias para ter sucesso na profissão.” Sobre o papel da escola na orientação profissional, Camila tem sugestões: “A escola poderia melhorar a postura do aluno e orientar sobre as exigências e o comportamento adequado no mundo do trabalho, discutindo inclusive a possibilidade de frustração, pois muitas pessoas pensam que estão preparadas, mas não estão.” É por reconhecer a importância deste preparo profissional que Vanessa Daiane Delgado, 17 anos, está fazendo o curso de assistente administrativo na DCA – Desenvolvendo a Criança e o Adolescente, ONG de Bebedouro, em São Paulo: “Ainda não terminei o curso e já estou estagiando na recepção da Unimed. Estou muito satisfeita, pois vejo que estou amadurecendo como

A escolaridade é critério decisivo para o grau de empregabilidade do jovem

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pessoa e como profissional. Procuro me esforçar ao máximo para um dia ser efetivada”. Vanessa espera ainda conseguir ingressar numa faculdade. “Usando meus talentos e habilidades, quero atingir esta meta. Aprendi que oportunidade é a chance dada a quem se dedica e sempre está pronto para novos desafios. E eu estou.” Aos 14 anos, Camila Justino Ferreira do Nascimento está cursando o 2° ano no Centro de Ensino Médio Integrado à Educação Profissional e Técnica - CEMI - Gama (DF) e, embora tenha um preparo diferenciado, vê com certa apreensão as chances de ingresso no mercado de trabalho: “Apesar de os professores se dedicarem, faltam muitos materiais essenciais para as aulas práticas das matérias do curso.” Orientada pelos pais a buscar uma profissão que a satisfaça, Camila pensa em cursar a faculdade e acredita que a escola pode ajudar mais do que tem feito na hora da escolha do curso a fazer: “Deveriam ser promovidas palestras interativas, ou mesmo bate-papos com os alunos, como forma de despertar nosso interesse e ampliar o conhecimento sobre o assunto. Também seria muito útil um acompanhamento psicológico para ajudar na definição da profissão que seguiremos. Acredito que desta forma aumentariam as chances de fazermos escolhas acertadas.”

Conforme a mitologia grega, o jovem herói ateniense Teseu recebeu de Ariadne, filha do rei Minos, um novelo que deveria desenrolar ao entrar no labirinto, onde se encontrava o terrível Minotauro, para que fosse possível encontrar a saída. Para os jovens que buscam a inserção no mercado de trabalho e que precisam vencer uma série de obstáculos para encontrar a porta de acesso a ele, é fundamental ter um fio condutor, ou seja, uma orientação e um planejamento que garanta escolhas certeiras e evite becos sem saída. E o que é melhor: escolher uma profissão com vistas a um bom retorno financeiro, ou a partir de interesses e satisfação pessoal? É melhor investir num curso técnico, ou numa graduação? Que políticas públicas e programas sociais podem facilitar a continuidade dos estudos de jovens durante e/ou após a conclusão do ensino médio? Para responder a estas e outras tantas perguntas que ajudem os jovens a delinear seus projetos de vida, desde 2009, no âmbito do Projeto Jovens Agentes pelo Direito à Educação (JADE), a organização Ação Educativa vem desenvolvendo, em parceria com escolas públicas da zona leste de São Paulo, a oficina “Tô no Rumo: Jovens e Escolha Profissional”. A atividade, realizada

A saída do

ao longo de 24 horas, tem como objetivo construir um espaço de diálogo no qual os estudantes possam manifestar suas dúvidas e inquietações sobre o mundo do trabalho e também motiva a buscar oportunidades de formação e qualificação após a conclusão do ensino médio. Preparar contingente para o ingresso no mercado de trabalho, mais do que formação escolar, implica também o conhecimento da dinâmica e das características peculiares a este universo. Segundo a psicóloga Juliana Dutra, que trabalha em recrutamento e seleção, o jovem de hoje não tem problemas apenas para conseguir o primeiro emprego por falta de formação ou experiência. Falta também adequação de comportamento e atitude: “Durante o processo de recrutamento, percebo que muitos chegam para a entrevista completamente despreparados. Não procuraram se informar sobre a

labirinto


MAIS DO QUE PROFISSIONALIZAÇÃO, JOVENS PRECISAM DE ORIENTAÇÃO PARA O MUNDO DO TRABALHO

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SHUTTERSTOcK

empresa, ou as características da vaga que pretendem disputar. De modo geral, escrevem e se expressam mal. E aqueles que conseguem um emprego não tem visão de carreira ou foco em resultados”, afirma. “Outros jovens lidam com o trabalho como se fosse um fardo do qual têm de se livrar o mais rápido possível. Não existe a percepção e o desejo de aprendizagem, como forma de construir conhecimento e alicerçar uma carreira, mas, sim, o imediatismo de cumprir tarefas de forma burocrática e sem comprometimento”, diz a profissional. Inexperientes e imaturos, se não são bem orientados, os jovens deixam muito a desejar como trabalhadores. “Eles olham para a tarefa de forma superficial, sem compreender seu significado num contexto mais amplo, e procuram desvencilhar-se dela o mais rápido possível, muitas vezes ignorando as falhas. Assim, dizer que está terminado ganha mais importância do que fazer bem feito, ou entender o que foi feito e suas consequências.” Além da formação profissional propriamente dita, os jovens precisam perceber que cada tarefa é uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional, e que mesmo a realização de seus objetivos mais imediatos exige também dedicação e persistência, que, a longo prazo, podem levá-los à concretização de seus sonhos.


educadores O professor Francisco Patriota (GO):

Stéfany Morais

disciplina opcional de mecânica de veículos no ensino médio


A TEORIA DA PRÁTICA Professores e pais de Goiás, São Paulo e Ceará associam educação e orientação profissional para jovens

Por _ Vera de Sá

As regiões em que eles atuam são diferentes, o perfil dos jovens que atendem, díspares, os contextos socioeconômicos, diversos. Mas os professores Francisco Patriota, Regina Gabriele e Edson Ferreira têm muito em comum: todos tentam dar respostas a problemas que, com frequência, surgem da inadequação da escola às necessidades dos jovens e à realidade de um mundo globalizado. Cada um a seu modo, eles empreendem ações para superar este descompasso e orientar os jovens, inclusive no encaminhamento profissional. Via expressa Francisco Gomes Patriota, professor de física e biologia no colégio estadual Stellanis Koparaks Pacheco, em Porangatu, Goiás, inaugurou este ano um novo curso com a turma do ensino médio noturno: o de mecânica veicular. A matéria opcional, oferecida a duas turmas do primeiro ano, foi escolhida no semestre por 70 alunos, incluindo 30 atentas mulheres. Mas o total em classe é bem maior: um grande número de ouvintes (até mesmo outros professores) acompanha as aulas. Patriota, que também é mecânico profissional e tem uma oficina, considera que o sucesso do curso se deve a um equilíbrio entre a parte teórica e a prática. Ele leva os alunos, na faixa de 15 a 17 anos, para visitar oficinas, retíficas e incorpora aulas de tecnologia, já que a mecânica atual inclui eletrônica sofisticada. A disciplina também é relacionada à questão do meio ambiente, enfatizando a importância da diminuição de poluentes, que é possível com a correta regulagem de motores. “O aluno quer o novo, mas só o teórico não funciona com os jovens. Quando o aluno sai da sala de aula e vê a prática, o interesse cresce muito”, diz o professor. Cursos inéditos, como o criado por ele, já estão inseridos no programa de ensino médio inovador do MEC, que estimula a criação de matérias optativas que interessem mais ao jovem e ajudem a combater a evasão na escola pública. O programa começou a ser

implantado este ano e sua oportunidade foi confirmada pela pesquisa “Mapeando as Formas Alternativas de Não-Participação”, divulgada em julho. Realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), o trabalho apontou que 21,5% das faltas do ensino médio são causadas por este fator singular: o desinteresse. Os jovens não veem um reflexo prático nas suas vidas das disciplinas curriculares, que privilegiam um conteúdo que nem sempre tem relação com as necessidades e anseios deles. Daí deriva o alto índice de faltas, considerado uma modalidade informal de abandono da escola. O viés de qualificação profissional é um diferencial impresso por Patriota na sua iniciativa. Em si, o curso de mecânica veicular não é profissionalizante, mas cinco dos alunos já se colocaram como aprendizes em oficinas da cidade, que tem 50 mil habitantes. O professor, de 49 anos, acha que um efeito indireto do curso com relação à profissão é abrir o campo da engenharia mecânica nos planos de futuro dos jovens. E ele defende a inclusão no currículo do ensino médio

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Márcia Zoet

A professora Regina Gabriele (SP): família tem de estar na escola, do fundamental à universidade

de mais matérias técnicas profissionalizantes: “Trabalho tem, vaga tem, mas o pessoal não está preparado. Já teve algum avanço, mas precisa mais.” O professor considera que o ideal seria que estas novas matérias estivessem relacionadas com características econômicas regionais e, por consequência, com a realidade do mercado enfrentada pelos jovens. Na região em que atua, por exemplo, ele avalia que os alunos poderiam ser qualificados com cursos técnicos em agropecuária, tecnologia de mineração e agrimensura, que oferecem oportunidades de trabalho. O princípio, o fim e o meio Regina Azevedo Gabriele tem de lidar diariamente com questões que abrangem todos os níveis educacionais: dá aula no ensino fundamental, participa da Escola de Pais do Brasil, ONG dedicada a promover uma aproximação da família com a escola, e, mãe de três jovens, acompanha tanto os problemas de quem acabou de chegar à universidade, como os de quem

recentemente saiu. E Regina está em estado de alerta, porque avalia que os problemas contemporâneos estão sendo enfrentados pela educação “com uma agilidade de elefantes”. Professora do ensino fundamental em uma escola particular, ela constata a dificuldade em se educar hoje e aponta uma sequência que redunda em vários problemas conhecidos: falta de limites de crianças e jovens, indisciplina e consumismo, que mais à frente podem se traduzir em drogas, bullying, sexualidade desvinculada de afeto. Segundo Regina, um dos motivos de base é que os pais também são imediatistas e “terceirizam” o processo: delegam a outros a tarefa da educação. “Os pais esperam que a escola discipline seus filhos, mas a criança na escola é o reflexo do que ela é em casa. Urge a escola chamar os pais.” Os problemas detectados no ensino fundamental, quando não são atacados, aparecem multiplicados no nível médio. Por isso, Regina define como preventivo seu trabalho voluntário na Escola de Pais, onde ela divide com o marido a presidência da seccional São Paulo. Aos 54 anos, com formação no Magistério, Pedagogia e Direito, Regina não precisa sair de casa para identificar outro problema: a educação não está acompanhando as mudanças do mundo globalizado, e uma das consequências é um descasamento entre o ensino e a realidade do mercado de trabalho. “O jovem está sendo mal-orientado em relação à realidade. Muitos vivem uma situação de angústia: fizeram sacrifício, tiraram diploma e não conseguem colocação na própria área”, diz ela, que aponta o mercantilismo do ensino superior como uma das causas principais deste descompasso. Regina defende uma orientação mais básica da educação para as necessidades reais, dando oportunidades e abrindo frentes de trabalho. O curso técnico seria o primeiro degrau, a partir do nível médio que, hoje, ela considera estar se desqualificando. “Mas deve haver uma estratégia abrangente, do ensino fundamental ao superior”.


“A função da escola é criar cidadãos conscientes e qualificá-los para o mercado de trabalho. Aqui é enfatizada a importância da qualificação. No futuro, a idéia é desenvolver um projeto profissionalizante, como um curso de criação de sites, por exemplo”, diz Ferreira, que acredita ser necessária a oferta destes cursos nos currículos convencionais, especialmente nas localidades em que não existem escolas profissionalizantes. Um estágio mais avançado do projeto deve ter início em setembro, com a criação de blogs pelos alunos e discussões interativas em torno do tema “O homem e a natureza: todos no mesmo planeta”. Dividido em questões específicas, como poluição dos rios, efeito estufa, emissão de gases das indústrias, etc, procura combinar a questão ambiental com o aprendizado tecnológico. A expectativa é, no mínimo, de manutenção dos índices iniciais alcançados pelo curso: evasão praticamente zero e melhora do desempenho dos alunos nas disciplinas regulares.

O professor Edson Ferreira (CE):

EJA com informática para jovens do campo

ARQUIVO PESSOAL

Conexões imediatas Ao receber uma turma da Educação de Jovens e Adultos (EJA) para uma aula de pesquisa no laboratório de informática da escola onde trabalha, o professor Francisco Edson Pereira Ferreira notou um receio incomum dos alunos frente aos equipamentos. Ele não demorou a descobrir o motivo: 92% deles não tinham o mínimo domínio do uso do computador, ou dos princípios de navegação na Internet. A reação do professor foi criar o projeto Aprendizagem Contínua – Inclusão Digital na EJA, que, no primeiro semestre, atingiu 70 alunos que voltaram para a escola para completar o ensino fundamental, ou médio, na Escola Deputado Antonio Leite Tavares, cidade de Barro, Ceará. A escola atende ao distrito de Iara, e a economia local é baseada principalmente na agricultura, difusa em pequenas propriedades e no comércio. Grande parte dos estabelecimentos comerciais da cidade, que tem em torno de 22 mil habitantes e fica na região do Cariri, interior do estado, já utiliza computadores e programas de controle de entrada e saída de produtos. Resta pouca opção para boa parte dos trabalhadores sem qualificação, e um contingente significativo deixa a cidade na época do corte de cana, ou da colheita de café, em outras regiões. A maior parte dos alunos da EJA que frequenta o laboratório do professor Ferreira é da zona rural. Com licenciatura em história, mas dedicado à informática educativa, Ferreira, de 30 anos, trabalha no laboratório em sintonia com as disciplinas regulares das turmas da EJA. Ele conta com a colaboração do professor Oswaldo Barbosa de Almeida e dispõe de 20 computadores e conexão banda larga. Os alunos do fundamental, que estão se alfabetizando, aprendem a trabalhar com o editor de texto, digitalizando as redações que escrevem e analisando os erros apontados pelo corretor automático. Os do ensino médio aprendem gerenciamento de arquivos.

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Formação integral

PAULO MINDLIN

divulgação

banco de práticas

PROJETOS PROFISSIONALIZANTES VÃO ALÉM DA CAPACITAÇÃO TÉCNICA E VISAM AO DESENVOLVIMENTO JUVENIL

divulgação

O crescimento profissional não se dá apenas pela qualificação técnica, mas inclui uma série de outros requisitos. Assim, os jovens formados para o conjunto de responsabilidades da vida adulta conquistam mais facilmente seu espaço no mundo. Por isso, escolas e organizações preparadoras para o ingresso dos jovens no mercado se preocupam cada vez mais em trabalhar também com os aspectos culturais, os valores e a formação cidadã dos estudantes. É este o caso do Projeto Escola Família Agrícola de Orizona (EFAORI), dedicado à formação do jovem da área

rural. Na lida com o campo e a responsabilidade com a economia local desenvolvem o empreendedorismo e o respeito ao espaço onde atuam. O diferencial consiste em aprender na base familiar, a organizar e pesquisar na escola e, assim, transformar o meio social. Também a Juventude Cívica de Osasco (JUCO), responsável pelo Projeto Jovem Aprendiz, defende que estar pronto para o mercado não é saber apenas desempenhar funções na empresa, mas ser um cidadão participante, engajado inclusive em trabalhos voluntários. O Centro Profissionalizante Rio Branco (CEPRO), mantido pela Fundação de Rotarianos de São Paulo, adota a filosofia de servir por meio da educação, formando cidadãos com valores éticos e solidários. O objetivo é desenvolver jovens profissionais, conscientes e capacitados para participar do crescimento social e contribuir para a superação da pobreza. Para atender o mercado varejista, o Instituto Walmart implementou a Escola Social do Varejo. O programa foca no modo como o jovem se relaciona com sua comunidade e consigo mesmo, na maneira como planeja seu futuro e sua carreira. Com isso, os jovens estão mais qualificados para enfrentar os desafios do mercado. A seguir, conheça os projetos.

divulgação

Por _ Mariana Veltri


Osasco, SP

JUCO – Programa Estagiário e Jovem Aprendiz

Nacional

Escola Social do Varejo do Instituto Walmart

A Juventude Cívica de Osasco (JUCO) é um agente de integração empresa-escola que oferece aos jovens formação e capacitação profissional, preparando-os para a inserção no mercado de trabalho, por meio dos programas Estagiário e Jovem Aprendiz. Procuram a JUCO estudantes do ensino médio de escolas públicas ou privadas, interessados em ter no currículo algo mais que as matérias ensinadas nas escolas. Eles ambicionam não apenas seguir uma carreira, mas querem saber como atuar nela. Os aspirantes a estagiários passam por uma >>

O programa Escola Social do Varejo originou-se da união da experiência inicial do Instituto Walmart, em parceria com o Instituto Aliança, no trabalho com juventude e da percepção de que o setor varejista tem capacidade de oferecer aos jovens uma carreira de sucesso. Além do que acontece em sala de aula, o programa acompanha a inclusão no mercado de trabalho de jovens de baixa renda familiar, terminando o ensino médio, ou que já o concluíram e que querem trabalhar no varejo. “Mais do que simplesmente se candidatar a vagas disponíveis, >>

21 Orizona, GO

EFAORI – Escola Família Agrícola de Orizona

São Paulo, SP

CEPRO – Centro Profissionalizante Rio Branco

A meta da Escola Família Agrícola de Orizona (EFAORI) é promover a formação do jovem camponês da região na perspectiva do desenvolvimento local, preservando os valores culturais da população rural. Por meio do curso técnico em agropecuária de nível médio, pretende-se que o aluno aprenda a enxergar as oportunidades em seu meio e tirar dele seu sustento. A escola adota a pedagogia da alternância, com residência dos alunos na escola, alternada com períodos em casa. Por ser um curso de formação integral, logo cedo os jovens >>

Despertar o talento que existe em cada um, levando em conta o ambiente em que vive, é a proposta do Centro Profissionalizante Rio Branco (CEPRO). Iniciado na década de 1940, junto à Fundação de Rotarianos de SP, na Granja Viana, região que na época era rural, teve seus primeiros jovens orientados para as práticas de campo, como avicultura e plantio. As práticas profissionalizantes eram registradas em cada década de atuação do CEPRO. Com o objetivo de incluir o jovem >>


>> seleção. Os aprovados são treinados durante quatro meses para ingressar em empresas públicas e privadas como estagiários. Terminados os dois anos de ligação com o Programa Estagiário, o jovem se desvincula da JUCO, que pode encaminhá-lo como aprendiz às empresas, já como mão de obra mais qualificada. O bom desempenho do

>> os educadores estimulam os jovens a buscarem as empresas e a apresentarem o programa do qual participaram e os motivos pelos quais se consideram preparados para os novos desafios”, explica Paulo Mindlin, diretor de Responsabilidade Social do Walmart Brasil. O programa é desenvolvido nos estados de São Paulo, Bahia, Pernambuco,

>> aprendem a conviver. Os trabalhos são desenvolvidos em grupo, inclusive lavar pratos. Os alunos são avaliados pelo que aplicam na propriedade e pela participação social. Para participar, é preciso ter vínculo com o meio rural – a família (pai, tio ou avô) deve ter uma propriedade para que o jovem possa desenvolver a prática. Com

>> capacitado no perfil do mercado, nos anos de 1970 saíam do CEPRO jovens cabeleireiros e datilógrafos. Nos anos de 1980, recepcionistas, office-boys e técnicos eletricistas eram os jovens profissionais que o mercado demandava. A área de informática caracteriza os cursos na década de 1990. Já nos anos 2000 o jovem encontra no


isso, a família também faz parte da educação dos jovens. Paralelamente à avaliação escolar, os monitores visitam a casa dos estudantes, onde avaliam a prática e o comprometimento no planejamento, implantação e desenvolvimento de seus projetos agropecuários, com viabilidade econômica. São ministradas palestras

sobre gestão administrativa e políticas públicas. Para Gisele, secretária geral da EFAORI e formada na escola, “a lição maior que ficou foi a de respeito. Aprender a lidar com as diferenças e a trabalhar em grupo”. A escola planeja melhorar sua infraestrutura, com laboratório de informática, e ampliar para 100 o número de jovens atendidos.

CEPRO cursos de habilitação para o mundo do trabalho, de acordo com a Lei do Aprendiz. Com o apoio do Programa de Capacitação Profissional, os estudantes aprendizes (de escolas públicas de ensino médio) são desenvolvidos como cidadãos e profissionais. Além do currículo básico, que inclui administração e

informática, o diferencial do CEPRO é o comportamental. Susana Penteado, coordenadora do programa, explica que no CEPRO o jovem faz seu projeto de vida e reflete sobre o que quer. “Ele faz um mapa do tesouro. Trabalha gestão do comportamento e postura no meio de trabalho, com dinâmicas de grupo”, explica.

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e Alagoas permite que o programa aconteça dentro das escolas, em turno paralelo. A formação complementar ajuda a compreender que muitas vezes as dificuldades que os jovens encontram ao começar a trabalhar não estão no campo técnico, mas, na capacidade de cada um para lidar com as dificuldades e superar as frustrações.

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Alagoas, Rio Grande do Sul e Ceará. Há uma preocupação em observar a demanda existente em cada mercado. Em Salvador, por exemplo, desenvolvese a formação em perecíveis, em parceria com o Senai, que é uma área de grande demanda por profissionais na cidade. A parceria com as Secretarias de Educação de Pernambuco

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mais participativa é a família, melhor o rendimento escolar e profissional”, diz Rios. As empresas parceiras também se comprometem para que o aprendizado adquirido na entidade e no trabalho seja útil na vida prática do adolescente. A taxa de contratação chega a 35% ao ano, entre carreiras jurídicas, administrativas e comerciais.

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futuro profissional tem de se refletir também no boletim. “Por ser o Projeto Jovem Aprendiz um complemento extracurricular técnico para formação, o jovem não pode deixar de lado a responsabilidade escolar”, explica Marcelo Rios, gerente administrativo da JUCO. A instituição também traz os pais para dentro da escola. “Quanto

Programa Jovem Aprendiz Organização JUCO – Juventude Cívica de Osasco Atuação Osasco e região oeste da região metropolitana de São Paulo Proposta Por meio de estágios em empresas, capacitar o jovem para o mercado de trabalho e para a vida cidadã. Atendimento Em torno de 850 alunos Apoio Cerca de 130 empresas, Prefeitura Municipal de Osasco, Fórum de Osasco, Procuradoria da República e Defensoria Pública Contato www.juco.org.br

Escola Social do Varejo Organização Instituto Walmart Atuação Nacional Proposta Capacitar o jovem para atuar em diversas funções do mercado varejista. Atendimento Jovens entre 17 e 24 anos, que estejam cursando o 3º ano do ensino médio, ou já formados, com renda familiar de até 2 salários mínimos Apoio Secretarias de Educação de pernambuco e maceió, CDL, organização Fênix, Pão dos pobres e SENAI (Parceiro Técnico: instituto aliança) Contatos www.institutowalmart.com.bR

EFAORI (Escola Família Agrícola de Orizona) Organização Centro Social Rural de Orizona PROJETO GRAEL (com apoio de parceiros, famílias de estudantes DE ATUAÇÃO RIO DE JANEIRO (RJ) eÁREA amigos de Orizona) RESUMO PROPOSTA Projetodaque pretende, Atuação DA Orizona e regiões Estrada de pelo ensino Ferro - GO do iatismo, formar o jovem tanto de forma técnica quanto integral cidadã. Hádeformação para Proposta Formação nível médio náutico aulas complementares de ao mercado jovens filhos deeagricultores familiares, geografia e marcenaria, além dedo apoio psicológico. associação, desenvolvimento meio, NÚMERO DEda JOVENS ATENDIDOS 350 por semestre pedagogia alternância PRINCIPAIS APOIADORES Criançae Esperança, Atendimento 70 estudantes 174 técnicos Instituto Oi Futuro, supermercado Wal-Mart, Apoio Governo Municipal do Orizona, Governo Companhia de Goiás, Gás CEG. do Estado de COAPRO, Ministério do CONTATO www.projetograel.com.br, Desenvolvimento Agrário, Correios, SEBRAE, tel.: 2711-9875 CESE,(21) Furnas, União Brasiliense de Educação e Cultura, CPT – GO Contatos www.efaori.org.br

Programa de Capacitação Profissional Organização CEPRO (Centro Profissionalizante Rio Branco) - Fundação de Rotarianos de São Paulo Atuação Cotia e Região Oeste de São Paulo Proposta Proporcionar uma carreira ao jovem, por meio do desenvolvimento de competência comportamental, valorizando seu potencial Atendimento Aproximadamente 500 jovens por ano. Nas empresas, 150 jovens empregados Apoio 50 empresas privadas, que cumprem a Lei do ApreNdiz. Contatos Núcleo Oeste (nas dependências das Faculdades Integradas Rio Branco): Av, José Maria de Faria, 111 – Lapa – SP/SP Site www.cepro.org.br

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ISTOcK

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ENSINO FUNDAMEnTAL

CORRIDA DE OBSTÁCULOS Por _ Joana Milliet e Roberta Costa Marques


A CAMINHO DO MERCADO DE TRABALHO, O JOVEM PRECISA SUPERAR O GARGALO DA CONCLUSÃO DO FUNDAMENTAL, QUE TEM REFLEXOS DIRETOS NO ENSINO MÉDIO

Quem já passou pela escola sabe: sair do 5º ano (antiga 4ª série) para o 6º ano (antiga 5ª série) significa passar por uma experiência totalmente nova. A escola muda completamente: de unidocente passa para pluridocente, o número de matérias aumenta e os alunos, de uma hora para outra, deixam de ser tratados como crianças, pois já estão entrando na adolescência. Nesta fase, os alunos possuem especificidades que influenciam diretamente a sua forma de aprender, com necessidades de experimentação, sociabilidade, questionamento e reflexão. Além disso, vivem em uma sociedade marcada por conhecimen-

tos e aprendizados compartilhado com base no uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs). Os adolescentes que estão na escola hoje fazem parte de uma geração de “nativos digitais”, que já nasceu diante das telas da TV e do computador e têm uma grande empatia pela linguagem das novas tecnologias. Os professores, por sua vez, ainda são parte da geração de “imigrantes digitais” e muitos ainda não dominam bem essas novas tecnologias. Neste sentido, a distância entre a experiência cultural a partir da qual os professores falam e aquela a partir da qual os alunos aprendem gera conflitos que ainda não foram solucionados pelo sistema educacional. Tudo isto faz com que o segundo segmento do ensino fundamental seja uma fase peculiar na vida escolar. No entanto, esta etapa, que está entre o ciclo de alfabetização e o ensino médio, não recebe a merecida atenção: há nela poucos investimentos públicos e privados e raramente ela é foco de pesquisas acadêmicas. Os dados ajudam a entender como são grandes as mudanças de um segmento para o outro no ensino fundamental. O IDEB 2009 – Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, divulgado pelo Ministério da Educação – MEC no início de julho deste ano, apontou que nas séries iniciais do ensino fundamental a nota passou de 4,2 em 2007 para 4,6 em 2009, em uma escala até 10. Já nos anos finais (6º ao 9º ano), a média nacional cresceu de 3,8 para 4,0, sendo que 21% do total de municípios (1.146 cidades) tiveram queda de 2007 para 2009. No ensino médio, esse crescimento foi ainda menor, de 3,5 para 3,6. O índice, calculado desde 2005 em todas as escolas públicas do Brasil, a partir dos dados sobre aprovação escolar obtidos no Censo Escolar e de médias de desempenho nas avaliações do INEP – Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, mostra que a melhora de aprendizado nas séries iniciais não tem o mesmo ritmo nas séries finais, nem no ensino médio. O que ocorre é uma desaceleração no processo de aprendizagem, ao longo da educação básica, colocando em risco o cumprimento da Emenda Constitucional 59, de 2009, que torna o ensino obrigatório dos 4 aos 17 anos até 2016. Segundo dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica – SAEB 2007, no Brasil, apenas 28% e 24% dos alunos aprenderam o que era necessário, respectivamente, em português e matemática no 5º ano. Ao chegar ao final do ensino fundamental, no 9º ano, essa aprendizagem cai para 20% em português e 14% em matemática. Ou seja, os alunos entram no 6º ano com baixa aprendizagem dos conteúdos e terminam o segundo segmento sabendo ainda menos o que deveriam ter aprendido ao longo destes anos, comprometendo sua chegada no ensino médio. Os problemas de aprendizagem que começam ainda no primeiro segmento geram demandas especialmente na alfabetização, o que tem estimulado a concentração de investimentos públicos e privados nos anos

iniciais do ensino fundamental. Ao mesmo tempo, o MEC afirma que, ao aumentar as matrículas na faixa de 0 a 6 anos (80% de 4 e 5 anos e 98,5% de 6 anos), os resultados nos anos iniciais têm aparecido, mas no segundo segmento os gestores não têm percebido os reflexos. Etapa crítica O ensino médio é outra etapa de ensino que vem ganhando mais atenção pelos baixos indicadores e pelas discussões em torno do currículo e da demanda dos jovens por uma formação que os coloque no mercado de trabalho. Mas como chegam os alunos no ensino médio e por que muitos desistem antes? A baixa aprendizagem ilustrada anteriormente pode ser um motivo importante, pois prejudica o acompanhamento de novos conteúdos. Uma pesquisa recém-divulgada pelo INEP mostra que apenas 55% dos jovens de 15 a 17 anos têm o ensino fundamental completo no Brasil. Esses jovens são em sua maioria dos centros urbanos e 71% nunca trabalharam. Tais informações vão ao encontro dos resultados de uma pesquisa realizada pela Fundação Getúlio Vargas em 2008, que identificou a falta de interesse como o principal motivo da evasão escolar dos alunos de 15 a 17 anos, contrariando o senso comum de que a maioria trabalha, ou abandona os estudos para trabalhar.

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ALVO DE POUCos ESTUDOS, O SEGUNDO CICLO DO ENSINO FUNDAMENTAL É CRÍTICO PARA A TRAJETÓRIA juvenil, DETERMINANDO muitas QUESTÕES QUE ENVOLVEM O ENSINO MÉDIO, INCLUINDO A FORMAÇÃO PROFISSIONAL Para que o adolescente siga sua trajetória escolar até concluir o ensino médio, os dados de desempenho e fluxo colocados aqui apontam gargalos específicos e medidas importantes a serem tomadas concomitantemente: melhorar o fluxo e a aprendizagem no segundo segmento do ensino fundamental, para que o aluno chegue com os conhecimentos necessários ao ensino médio; e conseguir tornar o ensino atrativo, fazendo com que o aluno deseje es-

tudar e complete os estudos. A escolarização no ciclo médio nada vai avançar, caso a alta retenção de alunos no fundamental não seja resolvida. Neste sentido, tornar visíveis indicadores e estudos é indispensável para iluminar possíveis soluções para a escola de hoje. Para trazer um olhar qualitativo aos dados, é preciso entender o que está acontecendo com base na percepção dos principais envolvidos no processo educacional, alunos e professores. Possíveis soluções para essas questões tão complexas só serão abraçadas pela escola se forem desenhadas junto com ela. E isto significa incluir os profissionais da educação e os alunos no processo de identificação dos problemas, na reflexão sobre a prática e na elaboração de ações específicas para cada escola, assim como de propostas de mudanças estruturais para a rede pública de ensino como um todo. Transformações significativas que possam ocorrer nos diversos níveis de ensino, refletindo na trajetória escolar e na realização profissional dos jovens, de fato serão representativas e atenderão às demandas atuais da juventude quando houver a participação de toda a comunidade escolar neste processo.

Uma iniciativa no Rio de Janeiro Os indicadores educacionais são preocupantes em todo o Brasil e, no município do Rio de Janeiro, isso não é diferente. A rede municipal carioca é bem estruturada, se comparada a muitas outras do Brasil, e é considerada a maior da América Latina, com 1.063 escolas, sendo 405 escolas de segundo segmento, onde estudam 256 mil alunos atualmente. Dados de 2009 da Secretaria Municipal de Educação mostram que a defasagem no 6º ano chega a 22%; isso significa que cerca de 19 mil alunos têm dois anos, ou mais, de atraso em relação à idade ideal para este ano, 11 anos. Os indicadores apontam também alta evasão, em especial no 6º ano – o número de matrículas cai de 84 mil para 58 mil no 7º ano, com quedas que continuam a cada ano, até o término do ensino fundamental. Segundo dados do SAEB 2007, na cidade do Rio de Janeiro, apenas 29% e 23% dos alunos aprenderam o que era necessário, respectivamente, em português e matemática no 5º ano. Com o intuito de chamar a atenção para esta etapa esquecida, gerar o debate dentro da própria escola e contribuir com o enfrentamento dos problemas do segundo segmento do ciclo fundamental, alunos da rede municipal do Rio de Janeiro pesquisam a opinião de outros alunos e professores de 40 escolas, amostra representativa da rede. É o Megafone na Escola, projeto idealizado e coordenado pelo Instituto Desiderata e realizado em parceria com a Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Ao todo são 122 alunos de 8º e 9º anos que entrevistam cerca de 2.400 alunos de 6º e 7º anos e 360 professores. Os diretores das escolas também participam e respondem a um questionário autoaplicável que foi distribuído a todas as escolas de segundo segmento da rede. Os alunos entrevistadores foram indicados pela própria escola e participaram de oficinas para ajudar na elaboração do questionário, ter noções básicas de pesquisa, compreensão sobre as perguntas e aprender a aplicar o questionário.


ARQUIVO PESSOAL

O projeto vem mostrando seu jeito de trabalhar desde o início, envolvendo diversas organizações na sua formulação e execução. A metodologia participativa foi elaborada em conjunto com o IPM – Instituto Paulo Montenegro, que também tabula as informações; o CEDAPS – Centro de Promoção da Saúde é a organização que capacita os adolescentes entrevistadores e faz o monitoramento do trabalho de campo; bolsistas e pesquisadores da PUC-Rio fazem o acompanhamento das oficinas e colhem as percepções dos alunos sobre o processo de pesquisar e sobre a escola, além de mediar os adolescentes na Internet, para realizarem um diário de campo digital. Os resultados do Megafone na Escola vão além dos indicadores obtidos com base na opinião de alunos, professores e diretores, quando permitem que a escola seja ouvida a partir da própria escola, com envolvimento, em especial, dos alunos. Os espaços de diálogo e troca são escassos nas redes de ensino e, quando existem, não incluem de forma representativa os aprendentes do processo. Esse tipo de pesquisa traz um novo olhar sobre a prática escolar, estimulando a reflexão e a elaboração de ações de acordo com a demanda da própria escola, revertendo o caminho das soluções prontas “de fora para dentro”, que costumam bater na porta da escola. Esta metodologia mostrou ser uma ferramenta simples e potente de reflexão e ação dentro da escola, além de provocar resultados diretos nos alunos entrevistadores. Seguindo um pensamento de Bernard Charlot (“Da Relação com o Saber – Elementos para uma Teoria”, Ed. Artmed), “direcionar-se para o saber” pressupõe um movimento de mobilização e não, simplesmente, de motivação, ou seja, é na relação com o mundo, com os outros e consigo mesmo que o desejo de aprender aparece. E isso vale para todos da escola que participaram do projeto. Existe uma aposta do Instituto Desiderata em um caminho diferenciado de trabalhar com a escola, no qual uma organização da sociedade civil

Amanda Cristina de Paiva Monteiro, 17 anos,

cursa o 3º ano do ensino médio na Escola Estadual Mario Marques de Oliveira, na zona leste da cidade de São Paulo “Estudando sempre em escolas públicas, a preocupação na minha casa sempre foi procurar onde o ensino era melhor. Por isso, mudei de colégio várias vezes. No ensino fundamental, foram três, principalmente por causa da matemática, em geral fraca nessa fase na maioria das escolas públicas. Quando a gente chega na 7º série, já deveria ter mais preparação para o ensino médio e para o vestibular. Para muitos alunos, isso representa pressão. Meu problema era outro, era garantir que eu ia aprender o que precisava e ter propõe uma nova forma de parceria com o gestor público e com a escola em que todos os atores envolvidos participam da formulação de um projeto conjunto para a educação pública. Esta pesquisa é apenas a primeira etapa de um processo de longo prazo de criação, reflexão e encaminhamento de soluções. A expectativa é que o Megafone na Escola possa transbordar das 40 escolas da amostra e ter efeito multiplicador em todas as outras escolas de segundo segmento que não participaram do projeto. Pesquisas como esta podem trazer um olhar qualitativo para os dados quantitativos já existentes, além de levantar novas informações, proporcionar a reflexão e o diálogo entre alunos, professores e gestores de diferentes escolas, assim como fornecer elementos que deem subsídios às políticas públicas voltadas para o segundo segmento do ensino fundamental. Dar qualidade a esta etapa tão peculiar da vida dos adolescentes é essencial na construção de sua autonomia, iluminando suas escolhas e tornando o ensino médio um destino importante para a realização profissional de cada aluno, seja qual for o caminho que ele escolher.

professores mais preparados para isso nesse período. Comecei o ensino médio num colégio muito fraco. O espaço era mal cuidado, os professores não demonstravam interesse, não interagiam muito com os alunos, não ensinavam coisas mais práticas para a gente usar no futuro. Mudei para uma escola melhor: os professores interessados, a direção acompanhando tudo de perto, preocupada em preparar os alunos para o Enem, informar sobre oportunidades de trabalho, elaboração de currículo. E foi no mural da escola que vi o estágio para o Acessa São Paulo, programa de inclusão digital do governo do Estado. É uma monitoria de 4 horas, na escola, e ganho R$ 390,00. Recebi treinamento em informática, mas a oportunidade está sendo ótima para aprender a lidar com o público. Tem sido uma complementação ao ensino, que é mais focado na preparação para entrar na faculdade, o que acho certo porque a gente precisa de ensino superior para ter um bom emprego. Gostaria de estudar medicina, me dou bem nas matérias exatas. Jornalismo também, aconselham meus professores, dizendo que tenho facilidade para me expressar e escrever. Ainda não sei, decidi apenas que vou fazer um curso superior ”.

Joana Milliet, jornalista pósgraduada em Mídia–Educação pela PUC-Rio, é analista de projetos da Área de Educação do Instituto Desiderata Roberta Costa Marques, mestre em Economia pela USP, é gerente da Área de Educação do Instituto Desiderata

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ensino mÉdio

ESTUDANTES APRENDIZES


O Brasil vive uma fase de crescimento econômico sem precedentes em sua história, destacando-se como ilha de otimismo e pujança num cenário internacional de crise econômica e incertezas para a próxima década. Previsões recentes apontam um crescimento para 2010 da ordem de 7,2% em relação a 2009. Mas diversos estudos e análises têm apontado que uma taxa de crescimento dessa proporção seria insustentável sem uma infraestrutura adequada, tanto no que se refere a rodovias, aeroportos, capacidade energética, quanto, e principalmente, à mão de obra qualificada. Um levantamento da Consultoria Internacional Manpower verifica, em um universo de 1.000 empresas nacionais pesquisadas, que 64% afirmam encontrar dificuldades para preencher vagas pela falta de mão de obra preparada. O Brasil possui, no entanto, um valioso instrumento para suprir tal carência. É a Lei da Aprendizagem Profissional. A Lei do Aprendiz (Lei 10.097/00), aprovada no ano de 2000, alterou os artigos 428 a 433 da Consolidação das Leis do Trabalho, trazendo profundas modificações na Aprendizagem Profissional. As principais estão relacionadas à ampliação da

quota de aprendizes – de 5% para 15% de jovens entre 14 e 24 anos incompletos, no total de funcionários de empresas de qualquer natureza – e à possibilidade de a formação do jovem se dar por escolas técnicas ou instituições sem fins lucrativos, quando não houver atendimento da demanda pelos Serviços Nacionais de Aprendizagem Profissional, tais como SENAI, SENAC, SESCOOP e SENAT. Educação obrigatória Característica fundamental do contrato de aprendizagem é a concomitância da formação profissional e da educacional (ensino médio). Atividades teóricas e práticas relacionadas à ocupação laboral são desenvolvidas em paralelo à educação regular básica. Ou seja, o grande diferencial da Lei do Aprendiz está em garantir uma quota de empregos nas empresas para os jovens de 14 a 24 anos cuja empregabilidade está diretamente vinculada à formação educacional. Melhor dizendo, a Lei do Aprendiz estabelece uma quota de empregabilidade formal – com registro em carteira e todos os benefícios de um empregado regular – aos jovens que enfrentam dificuldades de encontrar um trabalho decente exatamente pela falta de experiência profissional anterior. Por si só, isso já afasta o jovem da informalidade, garantindo condições mínimas para o exercício laboral.

Por _ Raí de Oliveira e Victor Barau

A LEGISLAÇÃO DA APRENDIZAGEM PROFISSIONAL CONCILIA educação E PRÁTICA PROFISSIONAL REMUNERADA, MAS MODALIDADE AINDA TEM POUCA CONTRATAÇÃO

Além de propiciar uma experiência inicial muito importante, que com certeza faz diferença na busca de um emprego futuro, o maior benefício da Lei da Aprendizagem é a exigência de que o jovem tenha uma formação educacional-profissional concomitante ao trabalho. A Organização Internacional do Trabalho – OIT, no estudo “Trabalho Decente e Juventude no Brasil”, de 2009, destaca esse caráter singular da lei no fato de que, para poder ser contratado por uma empresa, e para que uma empresa possa cumprir com sua quota de aprendizes, o jovem aprendiz deve ter o ensino médio completo, ou no mínimo estar cursando-o enquanto perdurar o contrato de trabalho. Aliada à formação escolar básica, a Lei da Aprendizagem também garante a formação de uma mão de obra qualificada. Além da educação formal, exige a formação técnica profissional para o segmento econômico em que o jovem atuará. Mas a realidade é dura e não atende ao que seria o ideal. Há um consenso em torno da afirmação de que, quanto mais precoce for o ingresso do jovem no mercado de trabalho, menores serão suas oportunidades de inserção laboral e maiores os prejuízos à sua formação educacional. Num país onde quase 80% dos jovens brasileiros fazem parte de famílias que vivem com até 2 salários mínimos de renda mensal – segundo dados publicados pela OIT no citado estudo –, o pragmatismo do cotidiano familiar traz a prioridade de obtenção de renda em detrimento da educação do jovem. Aliar a formação educacional regular com a profissional e ao mesmo tempo com uma oportunidade de trabalho formal é, por isso, medida que não só garantirá uma fonte de renda minimamente adequada ao jovem, como também poderá implicar uma maior taxa de escolaridade, refletindo na diminuição da evasão escolar, em especial no ensino médio: de um universo de 34 milhões de jovens com idade entre 15 e 18 anos, apenas 48% se encontram matriculados no ensino médio registra a PNAD 2008. E 18% desse total estão fora da escola.

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Diante desse cenário, uma política inclusiva que exija que o jovem esteja cursando, ou já tenha concluído, o ensino contribuirá para o desenvolvimento social sustentável do Brasil, ao priorizar a educação. A mesma preocupação se reflete na ampliação da quota de aprendizes a ser preenchida pelas empresas. Ela se baseou em estudo e projeções que apontam a necessidade de renovação da mão de obra qualificada para as próximas décadas, levando-se em consideração tanto a taxa de saída de trabalhadores do mercado de trabalho (por aposentadoria, morte, entre outros), quanto o crescimento econômico brasileiro. Parcerias pela causa A despeito das potencialidades e qualidades da Lei da Aprendizagem, ela ainda não tem o alcance necessário. Segundo levantamento da Atletas pela Cidadania, de 2007, havia menos de 70.000 aprendizes contratados, quando o potencial à época era de contratação de mais de 1 milhão de aprendizes. Após uma primeira análise conjuntural, verificou-se que havia

falta de informações e monitoramento de dados, e de mobilização e comunicação entre todos os atores envolvidos na aprendizagem: governo federal, empresas, entidades formadoras. Concorriam para essas falhas o fato de a Lei 10.097 ter sido promulgada em 2000, mas sua regulamentação ter ocorrido somente em 2005, com a edição do Decreto 5.598/05. E a regulamentação para a criação de cursos de aprendizagem por escolas técnicas e instituições sem fins lucrativos deu-se apenas em 2007, com a edição da Portaria MTE 615. Foi nesse contexto que a Atletas pela Cidadania fez sua opção de atuar em prol da causa da Aprendizagem Profissional, tendo como principal estratégia a mobilização da sociedade, do governo e das empresas, a partir do monitoramento e análise de dados, estabelecimento de metas de contratação e campanha de comunicação. Um resultado desse trabalho foi a metodologia para o acompanhamento mensal de aprendizes contratados, desenvolvida em parceria com o Ministério do Trabalho e Emprego. Apura-se o saldo de contratações/demissões de aprendizes mês a mês, com base nas informações da CAGED, para assim, com os dados anuais informados na RAIS, chegar-se ao total de aprendizes com contrato. As informações são publicadas no Placar do Aprendiz (www.placardoaprendiz.org.br), iniciativa tomada inicialmente pela Atletas pela Cidadania, Instituto Ethos e GIFE – Grupo de Instituições, Fundações e Empresas, que teve em seguida a adesão de outras

O PAÍS TEM POTENCIAL PARA ABSORVER CERCA DE 1 MILHÃO DE ESTUDANTES APRENDIZES, MAS CONTRATAÇÕES NÃO PASSAVAM DE 166 MIL NO INÍCIO DO ANO entidades. A realização da I Conferência Nacional da Aprendizagem Profissional em novembro de 2008 – momento em que o governo federal assumiu, por sugestão da Atletas pela Cidadania e parceiros, uma meta política de 800 mil aprendizes contratados até o final de 2010 –, a criação do Fórum Nacional da Aprendizagem Profissional e sua descentralização em fóruns estaduais, e a elaboração de projeto de lei federal que autoriza a União, estados e municípios a contratarem aprendizes na administração pública, direta e/ou indireta, foram outras iniciativas mobilizadoras. Já se sabe que a meta de 800 mil aprendizes até o final de 2010 dificilmente será alcançada. Segundo o Placar do Aprendiz, em fevereiro de 2010 o total de aprendizes contratados foi de 166.034 aprendizes. Isso levando-se em consideração os dados da RAIS 2008 e se ao menos o percentual mínimo de 5% previsto na Lei 10.097/00 fosse cumprido. Observa-se, no entanto, um aumento significativo no total de aprendizes contratados entre o final de 2007 (início do monitoramento) e a presente data. Dados preliminares apontam


Problema nacional Buscar soluções para os entraves na aplicação da Lei da Aprendizagem Profissional está no horizonte de todos os atores envolvidos na causa. Um primeiro aspecto é a necessidade de expandir essa Lei por todo o território nacional, para que os jovens possam ser contratados nessa modalidade, independentemente da região em que vivam. O Placar do Aprendiz mostra que a média de cumprimento do potencial de aprendizes contratados é de 16%. Em números absolutos, São Paulo exibe o maior número de contratações – 52.100 aprendizes –, muito embora cumpra somente 15,94% de seu potencial. Por sua vez, o maior aumento percentual no número de aprendizes contratados no período pesquisado é do Acre, com 251% de aumento efetivo e um percentual de cumprimento da cota de 20,23%. Enquanto isso, o Rio de Janeiro teve o pior crescimento de aprendizes contratados, com 6,85% de crescimento desde 2007 e um percentual de cumprimento da quota da ordem de 13,51%. Maranhão (5,64%) e Pernambuco (5,74%) têm o pior desempenho no cumprimento da quota potencial, enquanto Espírito Santo e Amapá apresentam os maiores percentuais de cumprimento da quota – 38,77% e 29,06%, respectivamente. A expansão da oferta de cursos de aprendizagem profissional por todo o território nacional é outro imperativo. São necessários mecanismos que superem o desafio da distância e dos custos de formação do jovem aprendiz. Dados do Ministério do Trabalho indicam que, além dos cursos dos Serviços Nacionais de Aprendizagem – com representação física em menos de 20% das cidades brasileiras –, há menos de

Arquivo pessoal

183 mil aprendizes contratados até maio de 2010, correspondendo a um crescimento de 60% em relação ao início da série analisada (RAIS 2007). E, pela análise das informações, verifica-se tendência de crescimento, não na velocidade desejada, mas ela está aí.

Fabio Couto Lirio, 21 anos,

participa do Programa Aprendiz Avape, que prepara jovens de 16 a 21 anos, com e sem deficiência, para o mercado de trabalho. “Sou aprendiz em uma empresa de engenharia, em São Paulo. São dois anos de contrato, com registro em carteira. Consegui essa colocação em maio deste ano por intermédio do Programa Aprendiz Avape (Associação para a Valorização de Pessoas com Deficiência). Não me considero exatamente deficiente,

1.000 escolas técnicas e entidades cadastradas e autorizadas a desenvolver cursos de aprendizagem em nosso território. Num segundo momento, também é importante que se tomem medidas de fiscalização efetiva junto às empresas, entre elas a recomposição dos quadros de fiscais do trabalho em todo o território nacional e a utilização de tecnologia que facilite a fiscalização. Mais mobilização Uma terceira linha de ação é o aprofundamento da mobilização da sociedade, por meio dos fóruns estaduais e nacional da aprendizagem profissional. Instrumentos de democracia direta, embora não deliberativos, os fóruns facilitam a interação entre governo e sociedade civil, propiciando a discussão do tema, a análise da conjuntura e a identificação de dificuldades e necessidades de cada segmento que atua em prol da Aprendizagem Profissional. Eles propiciam, ainda, a construção coletiva de ações que darão maior efetividade à Lei da Aprendizagem. Por fim, e não menos importante, o encaminhamento e a aprovação do projeto de lei que autoriza a contratação de aprendizes pela União, estados e municípios somarão esforços para o aumento do total de jovens aprendizes. A medida, em análise na Casa Civil, trará segurança

mas tenho certas limitações por sofrer de epilepsia. Agora, com esse trabalho, posso planejar minha volta à faculdade. Depois de concluir o ensino médio, eu trabalhei em uma oficina de carros no meu bairro, em São Miguel, e depois numa empresa que oferecia serviço terceirizado de limpeza e portaria. Consegui entrar na Universidade Cruzeiro do Sul, em São Paulo, no início de 2009. Estava no primeiro ano de Administração, mas aí ficou difícil pagar as mensalidades. Sou auxiliar administrativo na empresa e consegui essa colocação sem experiência anterior, que é a vantagem do contrato de aprendizagem. A maioria das empresas exige trabalho anterior na área que você vai ocupar e aí você não consegue entrar e não forma a experiência. Estou desenvolvendo esse currículo atualmente, no momento aprendendo a mexer com planilhas de fornecedores. Depois volto aos estudos. Aí terei o ensino superior e a experiência de trabalho na área.”

jurídica aos entes federativos na criação de programas de aprendizagem relacionados ao serviço público, com ênfase em jovens em situação de maior vulnerabilidade social. O potencial de contratações entre os entes federativos é de 400 mil aprendizes, segundo dados do Fórum Nacional de Aprendizagem Profissional. Se buscamos um país cada vez mais justo e desenvolvido, se queremos garantir um crescimento sustentável para o Brasil, é imprescindível o desenvolvimento da educação e da formação profissional. A Lei da Aprendizagem tem um potencial ainda pouco explorado, que certamente contribuirá para o crescimento brasileiro na próxima década. Raí de Oliveira é ex-jogador de futebol e integra a ONG Atletas pela Cidadania. Victor Barau é advogado e consultor da ONG Atletas pela Cidadania.

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o sujeito da frase

Economista-chefe do Centro de Políticas Sociais vinculado à Fundação Getúlio Vargas/RJ, o economista Marcelo Néri tem pesquisado as relações entre os jovens, a educação e o mercado de trabalho


“ESCOLARIZAÇÃO É,

ALÉM DE

IMPORTANTE,

VALIOSA:

O economista carioca Marcelo Néri ganhou fama, nos estudos na área de educação, por formatar dados que decifram os caminhos seguidos pelos brasileiros nesta área tão importante da vida. Chefe do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas do Rio de Janeiro, pela segunda vez ele realiza um estudo sobre juventude, educação e mercado profissional, com exclusividade para o Instituto Votorantim. A pesquisa “A Educação Profissional e Você no Mercado de Trabalho” ratificou um princípio valioso, a ser seguido por rigorosamente todos os brasileiros e que já havia sido indicado no levantamento anterior, de 2008, “Você no Mercado de Trabalho”: quanto mais educação, melhor. E é o que muitos brasileiros estão fazendo, por intermédio da educação profissional. O mercado aquecido pelo crescimento econômico tem recompensado estes estudantes com mais empregos e melhores salários. Mas há um alerta: a demanda aquecida não pode servir de desculpa para os jovens deixarem a escola. O que os estudos mostram é que, desde o analfabeto, até o profissional com pós-graduação, a ciranda do salário e da valorização profissional gira a favor de quem aposta na educação. O ganho de renda se materializa de forma direta, num resultado contundente. Jogo jogado: quanto mais estudar, mais valorizado o profissional será. A seguir, os principais trechos da entrevista de Néri a Onda Jovem.

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Por _Aydano André Motta

SIGNIFICA

DINHEIRO” O ECONOMISTA MARCELO NÉRI QUANTIFICA O CRESCENTE RETORNO DO MERCADO À EDUCAÇÃO


Onda Jovem: Qual é o principal conselho que se pode dar a um jovem, a partir dos resultados da pesquisa? Marcelo Néri: São, na verdade, três conselhos: estudar, estudar e estudar. Hoje em dia, mais do que antes, a educação ganha importância crescente. Percebe-se que será assim, cada vez mais. Antes, era um “extra” em relação aos demais ingredientes do mercado de trabalho; hoje, quem não estuda fica inevitavelmente para trás. Verifica-se um aumento muito grande na evolução profissional, na relação com anos de estudo, em todos os níveis. Mesmo entre os níveis mais elevados? Sim. O salário e a empregabilidade estão associados à hierarquia educacional. Veja o caso da profissão mais difícil de passar no vestibular historicamente: medicina. Existem todos os sinais de escassez de médicos no mercado de trabalho. Logo, a situação é mais atraente para esses profissionais. E nos degraus mais baixos da pirâmide educacional? O cenário se repete até chegar ao analfabeto, que ganha menos do que quem tem apenas um ano de estudo. Olhando como economista, encontramos uma hierarquia clara. O tecnólogo ganha mais do que o técnico, que por sua vez tem renda superior aos trabalhadores egressos dos cursos de qualificação profissional. Não tem qualquer mistério. O mercado remunera muito claramente quem investe no estudo.

Há números que comprovam o avanço? Sim, vários. O primeiro ano de pós-graduação dá um ganho de 42% no salário, em geral, segundo dados da PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, do IBGE) de 2007. A comparação de doutorado ou mestrado com a graduação em medicina, ou engenharia, confirma o número. Na mesma pesquisa, o ensino médio técnico representa um ganho de renda de 14% em relação aos estudantes do ensino médio tradicional. No caso da educação profissional, o prêmio pelo estudo faz o salário subir de R$ 700 para R$ 1.600. A empregabilidade também sobe de 68% para 78% nesses casos. O que o mercado tem a oferecer aos que seguem o caminho da educação profissional? Veja, a educação profissional é tratada historicamente no Brasil como uma opção de segunda classe. Só que estudo também é questão de vocação, e por aqui se aceita de maneira pior o fato de que as pessoas têm diferentes interesses. Não dá para negar que a opção pelo ensino universitário traz ganhos nítidos. Do mesmo jeito, inexiste razão para evitar a constatação de que o ensino profissional funciona para muita gente. Eu mesmo imaginava que não haveria retorno significativo nesse tipo de aprendizado, mas fui surpreendido. O dado mais importante aponta uma variação de 1,5% a 12% entre os alunos que apostam na qualificação profissional. Em março de 2010, 22,1% haviam concluído cursos profissionalizantes, num crescimento de 75,6% em relação aos números de 2004. Isso, num cenário em que 44,5% dos cursos exigiam pelo menos o ensino médio completo. Quando olhamos a Pesquisa Mensal de Emprego, encontramos outro resultado surpreendente, que demonstra o salto da educação profissional. A proporção, na idade ativa, de quem concluiu o curso e está no mercado subiu de 12,6% em 2004, para 22% em 2007. É uma revolução, que demonstra que nem estudantes nem instituições de ensino estão paradas. Ou seja: cresceu a quantidade de pessoas com nível profissionalizante completo, sem que a qualidade tenha diminuído. O ganho educacional é visível.

“Um dado preocupante: o mercado está atraindo o jovem, que não está conciliando a educação formal com o trabalho”


O mercado brasileiro tem características muito particulares, especialmente em relação à chegada dos profissionais. Aqui, a indicação é muito valorizada, por vezes mais do que o currículo ou o histórico escolar. O quadro da “porta de entrada” sofreu alguma alteração, com as mudanças no cenário educacional? Ainda está muito presente no Brasil a idéia do “quem indica”, mas, na outra ponta, a educação dá um super-retorno, por vezes impressionante, maior do que em outros países. É claro que continuamos sendo um país de grande desigualdade, e a mazela se expressa também entre os que têm educação e os que não têm. Quanto mais alto o nível do curso em qualquer parâmetro – profissional, universitário, na educação fundamental ou secundária –, mais bem-sucedido será o profissional em termos financeiros. A escolarização é, além de importante, valiosa. Significa, numa palavra, dinheiro. A desigualdade se transforma num argumento a favor da educação? Sim, mas com ressalvas. No Brasil, hoje, uma pessoa que completa o curso universitário tem salário maior do que quem só fez o ensino médio. Mas a diferença vem caindo – sinal de que a desigualdade também está em declínio. A diferença na renda diminuiu de 10 vezes para 8 vezes. Ao contrário, o prêmio para quem tem pós-graduação aumentou em geral. Quais são os setores da economia campeões no emprego para quem tem curso profissionalizante? Em primeiro lugar, o automobilístico, com 45,7%. É uma área mais estruturada, na qual o crescimento da economia tem permitido superar recordes. Costumo dizer que um símbolo do setor automobilístico é o presidente Lula, que começou a vida num curso do SENAI. Em segundo, vem a área de finanças, com 38%, seguida de perto por petróleo e gás (37%). Os últimos são o agronegócio (7%) e a construção civil (17,8%), setores com alto grau de informalidade.

“a análise do mercado de trabalho deve ser feita para aumentar a possibilidade de escolhas, não para limitá-las”

O que a pesquisa mostrou em relação aos tipos de curso, como presencial e a distância, diurno e noturno? Aqui, há também algumas surpresas. O pessoal que fez curso noturno tem salário um pouco maior, em média, do que as turmas que estudaram durante o dia – R$ 950 a R$ 650. Não existe diferença relevante entre o curso presencial e o a distância, nem na qualificação profissional, nem no ensino médio. O empate demonstra uma vitória do curso a distância, diretamente ligada ao desenvolvimento tecnológico. Onde estão os maiores problemas? Um dado preocupante: caiu de 7,5 milhões para 6,9 milhões o número de jovens de 18 a 24 anos que estão em instituições de ensino formal. É sinal de que o mercado está atraindo o jovem, que não está conciliando a educação formal com o trabalho. O apagão de mão de obra está se retroalimentando. Pode ser que a educação profissional esteja cobrindo essa lacuna, mas precisamos de gente com formação. Os jovens acabam saindo da escola, descuidando do próprio futuro. Existe a necessidade de políticas públicas que permitam ao jovem ficar mais na escola. Os brasileiros têm de estudar e olhar para a frente, cuidando da taxa de impaciência que faz o futuro parecer distante para os jovens.

Em sua opinião, onde está o erro? A gente aborda a educação de maneira equivocada. É vendida ao adolescente jovem uma história “poliana”, de que escola é legal, colorida. Está errado. O conselho deveria ser: a escola é dura, mas vale a pena. O jovem se desestimula por não saber isso. Descobre muito tarde como deve encarar a fase educacional. Além disso, o ensino médio tenta juntar muita coisa e o jovem acaba fazendo muitas delas mal. Surge o pensamento “para que estou estudando isso?” O jovem não vê praticidade naquilo. Tanto que a evasão escolar é muito maior justamente nesta fase. Os dados de 2007 apontam que 18% dos alunos de 15 a 17 anos abandonaram a escola, enquanto na faixa de 7 a 14 anos, o ensino fundamental, o número foi de apenas 2%. Qual é a solução? É muito importante ouvir os principais interessados, aceitar que o mundo está se movendo. Muitas pesquisas detectam dados objetivos, como a escassez de médicos, que exatamente por isso são os profissionais que ganham mais e têm mais empregabilidade, mas também são submetidos a uma jornada de trabalho mais longa. Ou seja: é importante considerar a vocação do jovem, mas também buscar respostas na letra fria dos números. A análise do mercado de trabalho deve ser feita para aumentar a possibilidade de escolhas, não para limitá-las. E, claro, informação é fundamental. Quanto mais, melhor. A velha ideia brasileira da importância do diploma se mantém? Sim. Chamamos, aliás, de efeito diploma, algo virtuoso até mesmo na imagem do estudante/profissional. Alguém que termina o que se propôs a fazer dá sinal de que leva a termo as coisas do ensino. A escola sinaliza dados e comportamentos da vida profissional. O aluno que termina o curso vai ser trabalhador como foi na escola, alguém que sabe resolver problemas – seja de matemática, seja da vida profissional.

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luneta

A NOVA REALIDADE ECONÔMICA AFETOU AS FORMAS TRADICIONAIS DE SE INGRESSAR NO MERCADO E CONSTRUIR UMA TRAJETÓRIA PROFISSIONAL

PORTAS DIFERENTES Por _ Roberto Amado


Era apenas mais um jovem que vivia como lavrador no interior de São Paulo e que nunca completou o ensino médio. Em 1963, tornou-se presidente do Bradesco, o maior banco do Brasil, no qual começou a trabalhar como office-boy aos 22 anos de idade. A história, real, é do conhecido banqueiro Amador Aguiar, que morreu em 1991. Longe de ser uma história comum, ela ilustra uma realidade que aparentemente já não existe mais: a possibilidade de ingressar numa grande empresa sem ter uma educação formal consistente e, nela, construir uma carreira frutífera e bem sucedida, até sua mais alta hierarquia. Nas duas últimas décadas, as transformações do mercado de trabalho, em especial no que diz respeito às oportunidades oferecidas aos jovens, vem se transformando radicalmente. “O perfil de entrada no mercado de trabalho exige mais escolaridade e, sobretudo, atitude diante de um mundo do trabalho muito mais complexo e desafiador”, diz Marcelo Nonato, coordenador do portal Busca Jovem, projeto liderado atualmente por quatro investidores sociais privados associados ao GIFE – Grupo de Institutos, Fundação e Empresas. Criado em 2008, o portal nasceu do desejo de esses investidores –Fundação Itaú Social, Instituto Hedging Griffo, Instituto Unibanco e Instituto Votorantim – contribuírem na qualificação do processo de inserção de jovens, após concluírem sua formação profissional em projetos sociais apoiados. O Busca Jovem procura fazer a conexão entre as instituições formadoras de jovens interessados em conseguir um primeiro emprego e as empresas que oferecem essa oportunidade. “Ao contrário do que se imaginava no início do projeto, existem sim muitas vagas abertas para jovens, mas com condições bem definidas. Elas exigem dos candidatos escolaridade e requisitos como criatividade, responsabilidade e iniciativa”, diz ele. Quase a totalidade das empresas que buscam o portal para contratar jovens profissionais pedem idade mínima de 18 anos e ensino médio completo.

ISTOcK

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“A porta está entreaberta para acolher jovens que apresentem bom desempenho escolar e tenham perfil comportamental adequado. Eles são observados atentamente, desde o momento em que entram na fila para se candidatar à vaga”, diz Nonato. Isso inclui aspectos como postura, comunicação escrita e falada, habilidades de relacionamento, disciplina, persistência... E do lado dos jovens? Existe interesse em atender a essa expectativa do mercado para alcançar uma oportunidade de trabalho? Tudo parece indicar que há um desencontro entre a realidade do mundo profissional, a formação oferecida aos jovens e a informação que chega até eles para acessarem as vagas disponíveis.

Em geral, o interesse destes jovens não é exatamente começar uma carreira. Ainda que estejam buscando trabalho por necessidade, sabem que esse primeiro emprego é normalmente uma ocupação temporária e nem sempre determina os caminhos profissionais que venham a escolher no futuro. “O primeiro emprego é uma experiência, ou uma experimentação, quase nunca uma opção profissional”, diz Nonato. Mas isso não quer dizer que não devam se preparar para isso. Por outro lado, uma parte significativa da juventude brasileira apresenta grandes dificuldades de conseguir uma inserção de boa qualidade no mercado de trabalho. Seja pela falta de preparo, seja pelas oportunidades precárias que lhes são oferecidas. Ao entrar precocemente no mercado, em condições marcadas pela precariedade, o trabalho juvenil acaba resultando na construção de trajetórias pouco promissoras. Um dos alertas sobre isso está no estudo Trabalho Decente e Juventude no Brasil, elaborado em 2006 pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), agência das Nações Unidas, em parceria com o Conselho Nacional de Juventude. O conceito de trabalho decente pode ser sujeito a interpretações diversas. A OIT “propõe uma reflexão não apenas sobre as suas oportunidades de obter uma ocupação de qualidade como também sobre as suas possibilidades de transição no mercado de trabalho,

FORMAÇÃO ESCOLAR E ATITUDES ADEQUADAS AO CONVÍVIO PROFISSIONAL SE TORNARAM IMPRESCINDÍVEIS AO JOVEM QUE BUSCA INGRESSO NO MERCADO

ou seja, de construção de percursos diferentes para trajetórias ocupacionais futuras”. Mas, para o próprio jovem, o emprego decente é aquele que dá segurança e consistência. Ou, em outras palavras, registro em carteira. “É o trabalho formal, com proteção social e remuneração adequada. O que fugir disso, é trabalho não decente”, explica José Eduardo Andrade, secretário-executivo do Conselho Nacional de Juventude. Essa, no entanto, não é a mais comum das práticas em nosso mercado — principalmente entre jovens. Segundo a OIT, a incidência do emprego sem carteira de trabalho assinada, excetuando o trabalho doméstico, é maior para os jovens do sexo masculino (35,7% de sua ocupação total) do que para as jovens do sexo feminino (25,2% de sua ocupação total). Por meio da análise de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2006 e atualizados em 2008, o mesmo relatório da OIT constatou que o índice de desemprego entre brasileiros de 15 a 24 anos é de 17,8% em relação aos 22,2 milhões de jovens economicamente ativos, ou seja, ocupados ou que procuram por uma oportunidade profissional. Quase um terço dos profissionais dessa faixa etária não têm carteira de trabalho assinada (31,4%) e o estudo da OIT explica que essa incidência, duas vezes superior à registrada entre os adultos (14,1%), se deve ao fato de a maior parte estar empregada em micro e pequenas empresas, onde a parcela de informalidade é maior. Os dados podem estar mudando nos


últimos anos, mas qualquer que seja o contexto econômico, para quem procura o primeiro emprego, essa situação é inadequada, ainda que seja apenas uma experiência. “É muito importante descobrir a vocação num ambiente formal, com garantias de direitos”, diz Nonato. Porta de entrada e rotatividade Quando se observam as oportunidades de trabalho que o mercado oferece aos postulantes de um primeiro emprego, um dos setores mais dinâmicos é o de telemarketing. De fato, pela grande demanda do mercado e, também, por não exigir experiência, o setor vem se tornando, muitas vezes, a porta de entrada daqueles que querem começar a trabalhar. “Não só telemarketing, mas atendimento em geral, normalmente ligado ao setor de serviços e ao varejo, como em lojas e supermercados”, diz Nonato. Ainda que muitas empresas deste ramo ofereçam cursos de capacitação

e condições aceitáveis de trabalho, com registro em carteira e benefícios, há uma grande rotatividade de empregados dessa categoria. Para superar esse desafio, o Instituto Nextel desenvolveu uma proposta própria de formação na área, oferecendo um programa de educação complementar para jovens em situação de risco social que já tenham se formado no ensino médio, ou estejam em escolas públicas. Depois de frequentar aulas de português, matemática, inglês, informática, técnica de atendimento a clientes e de vendas, o aluno conclui o curso com uma vivência prática dentro da Nextel durante duas semanas ,junto a atendentes de call center e de loja. Desta forma, o Instituto investe na preparação de jovens para a que considera ser a área que mais demanda e que oferece mais oportunidade para quem procura um primeiro emprego: a comercial – mais especificamente, atendimento ao cliente e venda de produtos por mídias interativas. Embora exista a expectativa de que a melhora do desempenho econômico do País possa contribuir positivamente para este quadro, os dados pré-crise mostravam que nos últimos anos a taxa de desemprego entre jovens de 15 a 24 anos aumentou de modo significativo. Se em 1992 era de 11,9%, em 2006 a taxa alcançava a marca dos 18%. Mas esses números devem ser interpretados também por outro ângulo. Quando ocorre maior desemprego nas faixas etárias mais baixas, de 15 a 19 anos, é possível também concluir que há menos jovens destas idades que necessitam trabalhar e que, portanto, há um aumento da escolaridade e redução do trabalho infanto-juvenil. São consequências positivas determinadas pelo crescimento econômico. Mercado e educação Mas o fato é que a nova geração que hoje disputa vagas no mercado de trabalho é aquela que se ressente dos tempos difíceis da economia brasileira, quando deveriam estar em processo de formação. Segundo o estudo da OIT, “a juventude brasileira foi afetada pelas transformações econômicas e sociais das décadas de 1980 e 1990, pelo baixo ritmo de crescimento econômico e pelo processo de desestruturação do mercado de trabalho que caracterizou o período”. A recuperação econômica parece beneficiar muito mais aqueles que já estão inseridos no mercado de trabalho e que já possuem condições profissionais de preencher as vagas que se abrem devido ao aquecimento econômico. Isso porque não basta apenas crescimento econômico para a redução do desemprego juvenil — esta é uma condição necessária mas não suficiente. É preciso ter, além disso, “políticas específicas voltadas para melhorar o padrão de inserção dos jovens no mundo do trabalho”, diz o estudo da OIT. Em outras palavras, o assunto volta a ser educação. É preciso uma forte base educacional no ensino médio, para depois ir em busca de atualização constante, “em função da velocidade das transformações tecnológicas,

que tendem a tornar o conhecimento adquirido obsoleto no curto prazo”, diz o estudo da OIT, que aponta números: a probabilidade de um jovem trabalhador com 12 anos ou mais de escolaridade conseguir uma ocupação no segmento formal é cerca de 4,2 vezes superior à daqueles com até 4 anos de escolaridade. A necessidade do mercado de trabalho acaba se transformando num impulsionador decisivo para aumentar a taxa de escolaridade entre os jovens. E a situação tem melhorado. Segundo o estudo da OIT, em 2006, apenas 24% dos adultos tinham entre 9 e 11 anos de estudo, enquanto entre os jovens essa porcentagem era de 44%. Independentemente dos números, a qualidade do ensino também é essencial para atender à demanda das empresas. Esse é um dos motivos do sucesso do Programa Educar, que oferece, desde 1996, cursos profissionalizantes a jovens. Durante seis meses, esses jovens se capacitam como operadores ou mecânicos de empilhadeiras e adquirem também noções de gestão empresarial. O programa tem resultados consistentes: no último ano, 87% dos jovens que completaram o curso tiveram colocação profissional. “As empresas conhecem nosso trabalho e sabem que os alunos saem daqui com qualidade para atender às necessidades do mercado”, diz Edvaldo Magalhães, coordenador da organização. O que chama a atenção, no entanto, é que as empresas muito frequentemente contratam os jovens, mas não para exercer a especialização adquirida nos cursos do programa. “Fomos uma das primeiras escolas com este tipo de curso e trabalhamos com a qualidade da formação dos jovens”, explica Edvaldo. O que acontece, na verdade, é que o programa acaba complementando a educação formal em todos os aspectos, e não apenas dando uma especialização ao jovem. Preencher as lacunas da educação formal é um desafio para os postulantes ao primeiro emprego e também para as empresas que os contratam. Desafios bem diferentes da época em que floresceu a carreira de Amador Aguiar.

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ciência

ATIVIDADE

MULTIFUNCIONAL PARA ALÉM DO RETORNO FINANCEIRO, O TRABALHO TEM IMPACTOS INTERNOS E SOCIAIS NA FORMAÇÃO JUVENIL


Por _ Frances Jones Ilustração _ Danielle Jaimes

O trabalho é a ação pela qual o homem transforma o mundo e, nas sociedades atuais, consiste em um dos grandes marcos da autonomia do jovem em direção à vida adulta. Mas qual o impacto dessa atividade sobre as pessoas de forma geral – e em especial sobre os jovens? No Brasil, há ainda uma especificidade, já que uma parcela significativa da juventude torna-se trabalhadora muito antes da conclusão da educação formal. Em 2008, 3,5 milhões de adolescentes brasileiros, de 13 até 17 anos, trabalhavam, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD). Mas, ao contrário do que se costuma imaginar, o trabalho – para os jovens adultos, mesmo para os que trabalham e estudam ao mesmo tempo, ou os que pararam de frequentar a escola para trabalhar – não significa apenas uma necessidade econômica. “Em vários estudos, os jovens indicam o quanto o trabalho é importante para eles, mas não só pela necessidade; um outro aspecto, por exemplo, é a questão da independência dele com relação à família”, diz a socióloga Maria Carla Corrochano, assessora da organização não governamental Ação Educativa. “A juventude brasileira trabalha porque precisa, mas trabalhar também é um desejo.” Além da renda, diz ela, o trabalho é fonte de sociabilidade, é o espaço de se encontrar pessoas, é onde o jovem pode aprender e encontrar a realização. Os que têm um emprego ganham um novo status, uma posição diferente no interior da família e, com isso, constroem uma nova identidade social. A questão é: que tipo de trabalho se encontra hoje? As pesquisas mostram que os rapazes e moças mais pobres deparam-se com situações de trabalho mais precárias, em geral na informalidade e com uma jornada diária mais extensa. Em relação aos adultos, os jovens ganham menos e são mais afetados pelo desemprego – mesmo com o desemprego em queda nos últimos tempos. Organização do mundo interno Assim, é preciso diferenciar o impacto de um trabalho decente e o de um extenuante, com condições indignas para o trabalhador, ou que coloque em perigo o seu funcionamento físico. Para Mirlene Maria Matias Siqueira, professora titular da Faculdade de Psicologia e Fonoaudiologia da Universidade Metodista de São Paulo, o trabalho é uma forma de estruturar a imagem do indivíduo na sociedade. “A inserção no mundo do trabalho ajuda o jovem a se estruturar e a se organizar internamente, elaborando o seu papel no contexto social”, afirma. Porém, ela faz a distinção entre um trabalho que oferece condições positivas para o desenvolvimento do jovem e o que apresenta condições negativas.

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PARA O JOVEM, O TRABALHO NÃO É APENAS UMA NECESSIDADE ECONÔMICA, MAS UMA AÇÃO QUE O TRANSFORMA PERANTE SI MESMO E O MUNDO

“Um local de trabalho onde há muita pressão, competição, onde o jovem não é reconhecido como indivíduo e onde ele é menosprezado pode desencadear sentimentos negativos – como raiva, frustração, vergonha e tristeza – e dificultar o desenvolvimento dele como adulto saudável”, diz a professora. Por outro lado, o que se dá em um ambiente social propício, com orientação, incentivo e condições que ajudem o jovem, é muito benéfico. “A vida sem trabalho é como se fosse um barco solto, à mercê das correntes. O trabalho coloca limites, coloca metas, e o jovem se estrutura melhor”, afirma Mirlene. Além disso, a execução de uma tarefa é uma forma de se fixar melhor o que foi aprendido nos livros ou nas salas de aula. Isso porque, explica a neurociência, mais áreas do cérebro são usadas ao se executar algo na prática do que ao se ler, por exemplo. “É mais difícil lembrar de fatos, como a capital da Austrália, do que de nadar ou andar de bicicleta”, exemplifica o neurocientista Renato Sabbatini, professor colaborador da

Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), citando dois tipos de memória: a relacionada aos fatos e a ligada a hábitos e movimentos. “Aquilo que você ouve, vê e faz é aprendido de forma mais duradoura do que aquilo que você apenas ouve e vê”, afirma ele. Diferentes áreas do cérebro são requisitadas para cada tipo de ação. Ao ouvir alguma coisa, acionamos o córtex temporal. Quando se ouve e vê, entra em campo também o córtex occipital. Já a prática de uma atividade envolve o córtex frontal (motor) e a área da linguagem. Coordenando tudo isso está o chamado cérebro executivo, o córtex pré-frontal. O cérebro do jovem tem ainda a particularidade de apresentar uma maior plasticidade, facilitando a aprendizagem de coisas novas. Construção da identidade Um emprego na vida de um jovem pode ter repercussões tanto internas como externas, na sua aparência, por exemplo, que acabam afetando a formação de sua identidade. Cortar o cabelo, tirar o piercing e mudar o modo de se vestir são demandas frequentes aos funcionários de várias organizações. Há empresas em que o código de vestimenta (dress code) interfere até mesmo no tipo de óculos usado pelo funcionário, ou no tamanho do relógio. “Esse conjunto de exigências às vezes é muito descolado do mundo do jovem e interfere nos sinais de construção de sua identidade”, afirma a socióloga Maria Carla. “Isso é pouco problematizado.” Para o antropólogo José Carlos Gomes da Silva, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Campus Guarulhos, os piercings, tatuagens, modos de vestir e de falar são símbolos identitários, traços muito importantes para a construção das diferentes identidades juvenis, e não são retirados sem que haja uma tensão ou certo confronto. “Para o jovem, o ingresso no mundo do trabalho é um momento conflitivo; os elementos identitários são em geral negociados, podendo ser retirados momentaneamente e recolocados


posteriormente”, afirma. Ou seja: se o rapaz tem tatuagem, usará uma roupa que a cubra, ou a garota pode tirar o piercing do nariz, mas colocá-lo de volta no fim de semana. Por outro lado, em geral, o universo do trabalho não costuma “exportar” seus símbolos e elementos para os grupos de jovens. Poucas vezes isso aconteceu na história: “Com o movimento dos skinheads, na Inglaterra dos anos 1960 e 1970, o grupo incorporava elementos do mundo do trabalho, como macacões, coturnos, botas, cabelos cortados bem curtos”, diz o antropólogo. Desemprego Se por um lado o trabalho precoce, que impede a formação escolar básica do jovem, pode prejudicar a trajetória profissional dele no futuro, é a ausência de trabalho que preocupa após os 18 anos, ou mesmo durante o curso do ensino médio. “A falta de emprego gera uma superfrustração, pois o trabalho muitas vezes ajuda a bancar os estudos”, diz Carrochano.

Danielle Jaimes, autora das ilustrações desta reportagem, retorna às páginas da revista Onda Jovem, agora como profissional, cinco anos depois de colaborar com a seção Navegando (página 50). Na edição número 2, de 2005, também sobre o tema trabalho, a estudante de Recife criou uma história em quadrinhos para contar do esforço dos jovens artistas visuais para se firmar no ramo. Ela conseguiu. Atualmente, é ilustradora na área da educação, com vários trabalhos em HQ dirigidos a professores. “É comum os jovens gostarem de quadrinhos, mas também é comum que pais e professores façam certa discriminação no uso destes quadrinhos. Já fiz sete álbuns para melhorar esta relação, permitindo que os estudantes possam levar os quadrinhos para a sala e unir o útil ao agradável”, conta a artista. E-mail para contato: daniellejaimes@yahoo.com.br

Hoje fundamental para a constituição do ser humano, o trabalho nem sempre teve esse papel. “O trabalho não era separado do resto da vida”, explica a socióloga. Historicamente, com a constituição das sociedades capitalistas, a tendência foi o afastamento do jovem do trabalho e a sua inserção no mundo escolar. Na Europa, durante muito tempo o jovem se preparava primeiro, para depois ingressar no trabalho, e durante décadas houve uma passagem quase automática da escola para o trabalho. Com a crise dos empregos da década de 1970, o fantasma do desemprego começou a rondar mesmo os países desenvolvidos. Hoje, em meio a uma crise econômica mundial, é uma difícil realidade, em especial na Europa e nos Estados Unidos. Mesmo com a profunda transformação pela qual passa o atual mundo do trabalho, com cada vez mais pessoas exercendo suas atividades em casa, ou como autônomos, a importância do trabalho na vida de cada um é enorme. “Pode não ser o mesmo tipo de emprego, mas ele ainda é muito importante”, diz Carrochano. Numa realidade que exige cada vez mais do trabalhador, a qualificação para o trabalho é o grande desafio dos jovens brasileiros, opina a professora Mirlene. E, para tanto, não é necessária somente uma educação de qualidade: o jovem também necessita do trabalho.

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arquivo pessoal

Arquivo pessoal

chat de revista

Amanda Sampaio Sales Falcรฃo,

Bruno Kruger,

16 anos, de Teresina, cursa o 3ยบ ano

17 anos, de Porto Alegre, cursa o 3ยบ ano

Horas de

escolhas


no vestibular deste ano: “Gostaria muito de ser médica, mas ainda tenho dúvidas”, diz. A outra é a paulistana Stefanie Rodrigues Feitosa, 16 anos, aluna do 2º ano na E.E. Engenheiro Pedro Viriato Parigot de Souza. Ela pretende fazer um curso técnico de nutrição e dietética. Vê a opção como uma possibilidade de começar a trabalhar logo: “É para sentir se é isso mesmo que eu quero e depois fazer a faculdade”, explica. Os garotos – o gaúcho Bruno Kruger, de Porto Alegre, e o catarinense Dérick Pacheco Caitano, da cidade de Palhoça, têm uma experiência em comum: ambos estão iniciando caminhos profissionais na Junior Achievement, organização sem fins lucrativos que atua em escolas públicas e privadas de todo o Brasil promovendo atividades de preparação para o trabalho, como o projeto Empresário Sombra, do qual Dérick, 16 anos, do 2º ano do ensino médio

no Colégio Catarinense, participou. “Passei o dia ao lado de um executivo, acompanhando sua jornada de trabalho”, conta. A experiência lhe rendeu a oportunidade de um estágio na ONG, onde está há 4 meses. Percurso semelhante fez Bruno, 17 anos, estudante de 3º ano no Colégio Santa Família. No colégio, ele participou do programa Miniempresa, que despertou seu gosto pela administração. Hoje dá os primeiros passos na carreira, trabalhando na sede nacional da Junior Achievement, em Porto Alegre. A seguir, os principais trechos do batepapo entre os jovens.

ARQUIVO PESSOAL

Bruno tadeu

O aluno do ensino médio está às portas de escolhas para o futuro. Que profissão quer seguir? Que tipo de trabalho o atrai? Qual sua vocação? As respostas têm de equilibrar os desejos pessoais e os limites impostos pela realidade de cada um. Duas garotas e dois rapazes, estudantes do ciclo médio, contam aqui como estão vivendo esse momento e que portas têm encontrado para auxiliá-los em suas definições. Uma das meninas, de Teresina (PI), é Amanda Sampaio Sales Falcão, 16 anos, que cursa o 3º ano no CEMTI João Henrique de Almeida Souza. Ela está concentrando esforços

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Dérick Pacheco Caitano,

Stefanie Rodrigues Feitosa,

16 anos, de Palhoça (SC), faz o 2 º ano

16 anos, de São Paulo, é aluna do 2º ano

QUATRO ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO CONVERSAM SOBRE OS DILEMAS DA ENTRADA NO MERCADO DE TRABALHO


ONDA JOVEM: Profissão e trabalho são questões do seu presente ou assuntos distantes? Amanda: Todos os dias penso sobre meu futuro profissional. No momento, esse é meu maior dilema, por estar concluindo o ensino médio. Gostaria muito de fazer medicina, mas tenho dúvidas. Bate uma preocupação, afinal não tenho experiência no mercado de trabalho, muito menos nessa área. Até aqui sempre me dediquei somente aos estudos. Dérick: Penso muito em minha carreira profissional e em tudo que pretendo obter com isso. Quero ser jornalista, que não exige diploma, mas acho necessária uma formação superior. Eu já estou vivendo experiências: sou redator e editor de um jornal na igreja que frequento. Com uma equipe de adolescentes, levamos informações ao povo. Também faço um estágio na Junior Achievement há 4 meses, organização que conheci no colégio. Ajudo os coordenadores de projetos e a gerência operacional. Stefanie: Profissão e trabalho são questões do presente. Eu gosto muito de química e quero fazer um curso técnico de nutrição e dietética para ver se é essa a área em que quero trabalhar e seguir com os estudos. Um curso técnico pode facilitar a escolha da faculdade. Além disso, caso eu não consiga uma vaga em universidade pública, essa experiência me permitiria trabalhar para pagar os estudos. Bruno: Com certeza são assuntos do presente. Eu sempre tive incentivo em casa. Aos 12, 13 anos, eu ajudava meu pai, que é dono Stefanie de restaurante, nas horas extras da escola. Depois, participei da formação e administração de um empreendimento estudantil, por meio de um projeto da Junior Achievement na minha escola. Nosso projeto era sabonetes artesanais. Gostei e decidi continuar próximo da organização, num núcleo que reúne jovens que participaram de seus programas, o Nexa. No final de 2009, surgiu uma oportunidade para ingressar na sede nacional da JA, em Porto Alegre. Comecei fazendo tabulação de pesquisas e, hoje, atuo no suporte dos projetos, na atualização de redes sociais e sou voluntário do Programa Miniempresa. ONDA JOVEM: Vê diferença em ter uma profissão ou um trabalho? Amanda: Sim. Para ter uma profissão é preciso se profissionalizar, ou seja, se especializar em uma determinada área escolhida. Já o trabalho é abrangente, a pessoa pode trabalhar em diversos setores, sem ter uma especialização. Bruno: Trabalho é uma forma de se sustentar, mas nem sempre é o que queremos seguir para o resto de nossas vidas. A profissão é aquela que nos desperta maior interesse e para a qual temos uma vocação, um talento. Dérick Dérick: Ter uma profissão é gostar daquilo que se faz. Ter um trabalho é simplesmente lutar pelo dinheiro de cada dia e fazer aquilo porque tem de ser feito. Stefanie: O que interessa é que ter um trabalho ou uma profissão gera mais responsabilidades, mas também independência financeira.

“O que tem me ajudado mais é pesquisar sobre as profissões na Internet” Stefanie

ONDA JOVEM: O que acha mais importante: descobrir uma vocação, ou desenvolver habilidades para o trabalho? Amanda: Descobrir uma vocação, pois a partir desse momento você pode desenvolver habilidades (ou melhorar) e trabalhar com algo que faça bem-feito e goste de fazer. Stefanie: A habilidade mais importante para o trabalho, tendose ou não uma vocação, é saber dialogar com as pessoas. Mas descobrir a vocação é importante para saber o que estudar na faculdade, se aperfeiçoar e ter um ótimo emprego. Dérick: Antes de descobrir uma vocação, é necessário desenvolver habilidades como trabalhar em equipe. Bruno: Tanto descobrir uma vocação quanto desenvolver habilidades são importantes, e experiências no mercado de trabalho estimulam as duas coisas, dão suporte para construir uma carreira. ONDA JOVEM: Para entrar no mercado, vale qualquer tipo de trabalho? Amanda: Não. Isso vai depender do nível de conhecimento que se tem. Para quem não tem estudos, vale. Para quem almeja crescer profissionalmente, deve procurar se aprimorar. Stefanie: Não, trabalhar na área em que se pretende estudar é melhor. Dérick: O ideal é poder esperar pela oportunidade que mais lhe convém, pois assim o trabalho será feito com mais qualidade. Bruno: Se você precisa se sustentar ou sustentar sua família, vale qualquer tipo de trabalho. Eu tive a sorte de poder escolher. Gosto da área administrativa e tento me focar nela. ONDA JOVEM: Acha necessário ter uma formação específica? Stefanie: Para ter um bom emprego, sim. O mercado de trabalho exige um ensino superior. Dérick: Concordo, as empresas exigem formação. Amanda: Acho fundamental ter conhecimento e, assim, adquirir experiência na área escolhida. Bruno: O principal é ter o interesse e o esforço para ingressar no mercado de trabalho.


ONDA JOVEM: Ter um perfil empreendedor ajuda? Você se considera um jovem empreendedor? Por quê? Bruno: Para entrar no mercado de trabalho é preciso ter muita coragem, assumir desafios e procurar experiências. Nessa direção, sou empreendedor. Amanda: Teoricamente, sim, pois me considero resiliente, que é a capacidade que uma pessoa tem de lidar com problemas, superar obstáculos, ou resistir a pressões de situações adversas. Essa característica é fundamental para ser um bom profissional. Falta saber se, na prática, conseguirei aplicar esses predicados. Stefanie: Tenho coragem, assumo meus desafios, quero batalhar e adquirir experiências, mas não me considero por isso uma empreendedora. Dérick: Aprendi, no trabalho, ao conhecer novos hábitos e enfrentar mudanças, que empreender é descobrir algo que eu não sabia que possuía. ONDA JOVEM: Que experiências você tem observado entre amigos e colegas que já estão trabalhando? Amanda: Os que estão trabalhando na área que estudam estão desempenhando bem, conseguindo evoluir. Stefanie: O mais comum é estar trabalhando para pagar a faculdade. Dérick: A dificuldade de conciliar trabalho e estudo é comum. Noto desânimo em amigos nessa situação, diante de uma dificuldade escolar. Bruno: Eu tenho observado a questão da organização e da dedicação. É essencial organizar sua vida, saber onde tudo começa e termina. E a dedicação é importante para que os projetos deem certo. ONDA JOVEM: Como a escola, os professores, ou o ensino que recebe têm ajudado nas suas escolhas? Alguma atividade o inspirou? Stefanie: O que tem me ajudado mais é pesquisar e ler sobre as profissões na Internet. Mas na escola um trabalho sobre as propriedades dos alimentos me inspirou. Amanda: Não tenho tido suporte na minha escola, ela não dispõe de trabalhos direcionados à escolha de uma profissão. Dérick: Minha escola dá apoio, oferecendo informações sobre carreiras, profissões, cursos em universidades. E a experiência de estágio melhorou minha comunicação com as pessoas. Bruno: Foi a escola que possibilitou minha participação no programa Miniempresa, que ajudou muito na escolha da carreira que quero seguir.

ONDA JOVEM: O que é ou foi difícil na sua escolha profissional? Bruno: A maior dificuldade foi conhecer as profissões para ver qual se encaixava no meu perfil. Hoje quero seguir a área de administração, e penso em me formar também em Bruno educação física para, quem sabe, abrir minha própria academia. Dérick: Eu imaginava que a principal dificuldade era encaixar uma opção no meu gosto. Mas, trabalhando, percebi que é possível aprender a gostar de outras profissões, que é melhor testar antes de julgar. Stefanie: Para mim, foi a dúvida entre duas profissões. Tive de pesquisar mais para ver o que realmente queria. ONDA JOVEM: Na tomada dessa decisão, você se deixa influenciar por familiares e amigos? Como reage a críticas da família? Bruno: Eu me deixo influenciar pelas características e oportunidades do mercado de trabalho. Sempre encaro as críticas da minha família de forma construtiva, pois são para o meu bem. Amanda: A família com certeza influencia. Mesmo indiretamente, tem sempre uma pressão dela, que espera muito de nós, e isso acaba nos deixando mais nervosos e indecisos. Mas prefiro tomar a decisão por mim mesma. Stefanie: Minha mãe me ajudou a escolher, mas as decisões foram minhas. Quero fazer o que gosto, não o que meus familiares desejam, mas não tive problema com isso. Amanda

“A dificuldade de conciliar trabalho e estudo é comum” Dérick

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Cartas PARA O TRABALHO COM JOVENS Venho recebendo e apreciando muito as edições de Onda Jovem. No momento, desenvolvo um trabalho acerca de projetos de vida com um grupo de adolescentes. Se possível, gostaria de receber as edições anteriores. Káthia Regina de Godoy Programa Atitude Londrina (PR)

Sou coordenadora regional do projeto Com Domínio Digital no Ceará. Fiquei encantada com a qualidade do trabalho de Onda Jovem e com a seriedade com que são abordados os temas. Atuamos em cinco municípios da região centro-sul do Ceará, com uma equipe de 15 educador(es/as) e 480 jovens. Gostaríamos de receber sempre Onda Jovem, se possível um exemplar para cada núcleo, para trabalhar os conteúdos em sala de aula. Maria Claudia Paes Feitosa Jucá Projeto Com Domínio Digital (CE) Sou psicóloga e trabalho com adolescentes e jovens infratores cumprindo medidas socioeducativas em meio aberto. Gostaria de receber Onda Jovem para auxiliar nossas atividades. Nossa equipe tem 14 profissionais, entre eles terapeutas ocupacionais, assistente social, educador físico, educador de informática e de artes. Orientamos os jovens na organização de sua vida, no que se refere à educação, à profissionalização, aos relacionamentos pessoais. Jacqueline Pereira Barbosa Araraquara (SP) A FASAM prepara jovens para o mercado de trabalho. Temos cinco educadores e 40 alunos, entre jovens aprendizes e aprendizes sociais. Atendemos também crianças, jovens e adultos portadores de deficiência. Nossa meta para 2010 é o atendimento de cerca de 300 pessoas. Gostaríamos de receber exemplares da revista Onda Jovem. Isabel Kimie Prospero FASAM - Familiares e Amigos da Saúde Mental Itu (SP)

Faça contato Envie cartas ou e-mails para esta seção com nome completo, endereço e telefone. Onda Jovem se reserva o direito de resumir os textos. Endereço: Rua Dona Brígida, 602, CEP 04111-081, São Paulo, SP. E-mail:

ondajovem@olharcidadao.com.br.

ESCOLAS DE CAMPO GRANDE Sou técnica pedagógica da SEMED- Secretaria Municipal de Educação de Campo Grande-MS. Faço parte de uma equipe que acompanha duas escolas municipais de tempo integral, nas quais a tecnolo-

gia está inserida na metodologia. Temos para oito turmas da escola, dos 1º e 2º anos, um notebook para cada aluno. A proposta é que, a cada ano, até o 5º ano, todos os alunos tenham um computador. Temos um software pensado para a escola. A proposta é maravilhosa, e deixo o convite para nos fazerem uma visita. Recebi a edição de Onda Jovem sobre leitura; é muito boa. Parabéns pela alta qualidade do material. Já vou usar os conteúdos nas minhas formações com os professores e espero continuar recebendo a revista. Célia Silva Lima Campo Grande (MS) Como professora de ensino médio na rede estadual, conheço e utilizo Onda Jovem em debates nas minhas aulas e também para conhecer a realidade do jovem. Gostaria de receber exemplares da revista para colocar à disposição de meus alunos e para minha leitura. Maria José do Amaral Campo Grande (MS) Parabéns pela revista, conteúdo de alta qualidade. Sou coordenadora do currículo de arte da rede pública municipal e gostaria de receber a revista Onda Jovem. Ana Lúcia Campo Grande (MS)

CONTATO LATINO-AMERICANO Sou bibliotecária em uma escola técnica pública média do Uruguai, onde trabalhamos com adolescentes e jovens. Recebemos os dois últimos exemplares de Onda Jovem. A revista é muito boa como ferramenta no trabalho com as juventudes, contribuindo para a construção de uma escola inclusiva. Parabéns por tudo e pela publicação. Saúde e paz a todos da equipe. Lic. Teresa Ramos, Biblioteca Escuela Técnica Arroyo Seco Montevideo, Uruguai


ACERVOS DE BIBLIOTECAS

pedagógica, uma forma criativa de estudar e abordar todas as edições que foram produzidas por vocês. Decidimos criar um projeto para debater os conteúdos com os alunos. Será “Foco na Onda Jovem” ou “Estudando a Onda Jovem”. Thiago de Oliveira Teixeira Iguatu (CE)

A Associação Brasileira de Tecnologia Educacional incorporou à sua biblioteca as edições de Onda Jovem e está informando aos associados e membros da nossa comunidade sobre os exemplares que agora integram nosso conjunto de obras que retratam a produção científica. Aurora Eugenia de Souza Carvalho, Diretora Executiva Rio de Janeiro (RJ)

PORTAL ONDA JOVEM Conheci o site Onda Jovem e fiquei muito interessada, por estar trabalhando com meus alunos, em uma escola municipal de Santa Catarina, o tema projeto de vida. Onda Jovem coloca jovens falando para jovens, e isso é importantíssimo para que meus alunos vejam que existem outros jovens que também têm projetos de vida. Juliana Carolina de Oliveira por e-mail Sou grata ao portal Onda Jovem, iniciativa que privilegia a nossa querida juventude – presente e futuro. Que esse possa ser um espaço de arte, lazer, criatividade e cultura humanizadora em prol do Brasil que queremos construir: justo, solidário e fraterno.O nosso abraço de apreço, consideração e respeito. Irmã Márcia Maria CONIC (MG) Como associado da Associação Cultural Cecília, gostaria de receber Onda Jovem para incluir a publicação em nosso acervo. A revista é de grande importância para nosso projeto, que inclui oficinas culturais gratuitas para a comunidade. Temos uma sala de convivência, biblioteca, acervo musical e revisteca que estão sendo organizados, além de um cineclube aberto à comunidade, às terças-feiras, 19h, com o patrocínio do projeto Mais Cultura Cine, do Ministério da Cultura. Diego Figueiredo Rojas Associação Cultural Cecília São Paulo (SP)

Recebi o boletim Onda Jovem, que possibilita à nossa instituição, a ONG Ser Alzira de Alleluia, acompanhar a produção de vocês. Gostaríamos de receber a revista impressa. Andreia Gomes Vidigal, RJ

COMUNICAÇÃO JUVENIL Venho agradecer pelo envio de oito edições da nossa querida revista Onda Jovem. Fiquei feliz com a edição Família, na qual encontrei fatos vividos por muitos jovens, inclusive eu, na sociedade atual. Tomei a liberdade de apresentar todas as edições à secretaria da Escola Estadual de Educação Profissional Amélia Figueiredo de Lavor, onde estudo. Adoraram o trabalho feito por vocês. Estamos discutindo, eu, o auxiliar pedagógico e a coordenadora

Primeiramente, parabéns pelos conteúdos. Gostaria de pedir o apoio de vocês para divulgar as Conferências Livres do Esporte (www.conferencialivre.org.br). A participação dos jovens é imprescindível para a elaboração de uma meta que projete o Brasil entre os 10 mais em termos esportivos. Joyce Mackay e Rafael Minoro por e-mail

ONDA JOVEM AGORA NO TWITTER! Quer se manter antenado com tudo o que diz respeito à juventude no Brasil? Então, siga-nos! Onda Jovem está ampliando suas formas de contato nas redes sociais. Esperamos você no http://twitter.com/onda_jovem Fale conosco também pelo e-mail ondajovem@olharcidadao.com.br Ou pelos Blogs: http://fotolog.terra.com.br/ondajovempitaco e http://fotolog.terra.com.br/colegas

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Navegando

Os caminhos do mundo “Ao ingressar no mercado de trabalho, o jovem se sente um pouco ‘perdido’ diante dos diversos caminhos que poderá seguir. Ele ainda é um misto de juventude e vida adulta.” É assim que Fabrícia Batista, 26 anos, explica sua inspiração para a ilustração desta edição. O desenho esteve sempre presente na vida desta mineira de Belo Horizonte, tanto que, em 2007, se graduou em Desenho Industrial, habilitando-se em Programação Visual (Design Gráfico). Mas a ilustração só se desenvolveu na faculdade. “Comecei a ilustrar no ambiente acadêmico mesmo. Na Escola de Design, disciplinas como Desenho de Observação, Criatividade, Anatomia e Criação de Personagens despertaram meu interesse. E assim comecei um estudo paralelo ao design, de maneira autodidata. Desenvolvi um estilo de ilustração utilizando principalmente sombras, texturas e detalhes”, conta. Depois de formada, ela resolveu aprofundar os conhecimentos em criação e desenho – em 2009 começou o curso de Artes Plásticas na Escola Guignard. Uma amostra do trabalho de Fabrícia pode ser vista no site www.fabriciabatista.com.br.


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