Onda Jovem #21

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www.ondajovem.com.br

PALCO juveniL

ano 7 ano – número 6 – número 21 – dezembro 19 – junho/agosto 2010/fevereiro 2010 2011

O papel das manifestações culturais e artísticas no desenvolvimento dos jovens

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sonar

79%

DAS CIDADES BrASIlEIrAS NÃO TÊM SAlAS DE ESPETÁCUlOS

78% 11,5%

DOS MUNICÍPIOS NÃO MANTÊM

MUSEUS

DAS CIDADES POSSUEM

OrqUEST OrqUESTrA UESTrA

91%

DOS MUNICÍPIOS NÃO TÊM

SAlA SAl SA lA DE CINEMA

Fonte: Suplemento de Cultura da Pesquisa de Informações Básicas Municipais” – IBGE/MinC (2006)


A vIDADES ArTÍSTICAS E CUlTU ATI ATIvIDADES CUlTUrAIS l rAIS lTU

AfETAM vIDA DOS jOvENS PÁG. 8

EDUCADOrES EXPlOrAM

PODEr MOBIlIZADOr DA ArTE E DA CUlTUrA CUlTU l rA lTU PÁG. 16

PrOjETOS ABrEM MUSEU,

3

CONSErvATÓrIOS, OfICINAS E TEATrOS PArA jOvENS

PÁG. 28

CINEASTA PõE

fOrMAÇÃO MAÇÃO EM AUDIOvISUAl PÁG. 32

DIVULGAçÃO

`A DISPOSIÇÃO DE EDUCADO EDUCADOrES


âncoras

“Ficou muito mais fácil conhecer a cultura de outra região e de outras pessoas pela internet.”

Michelly Batista da Silva, 17 anos,

cursa 3º ano do ensino médio no Rio de Janeiro (RJ)

“O som da rabeca, estridente, rasgado, me levou à alma nordestina, fez com que eu me encontrasse.” Fabrício do Nascimento Cardoso, 18 anos,

vestibulando de Natal (RN)

Vantoil de Souza Júnior,

maestro e coorenador do projeto “Música nas Escolas”, em Barra Mansa (RJ) DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO

“O impacto na cidade foi enorme. Antes, a atividade cultural era quase nula. Agora tem temporada de concertos, além da apresentação de balé e ópera.”

“Comecei a gostar de ler, passei a me interessar por todos os assuntos.” Letícia Helena Pinheiro, de 16 anos,

faz o segundo ano do ensino médio em Espírito Santo do Pinhal (SP)

“Os jovens se apropriaram com muita facilidade das novas tecnologias de produção e divulgação do audiovisual.” Laís Bodanzky,

diretora de cinema e teatro


“O respeito é o ponto mais forte da relação entre cultura e educação. A escola pode tratar a cultura como fator de desenvolvimento educacional e não simplesmente como conhecimentos isolados.”

Diogo de Oliveira Lopes, 19 anos,

cursa o 2º ano do ensino médio em Fortaleza (CE)

“O eixo é a valorização da cidadania e a criação de um sentimento de identidade, de ‘eu no mundo’.” José Nogueira de Souza,

professor e coordenador do projeto Nossa Cara, de artes visuais, com alunos da E.E. Canuto do Val, em SP

“Na escola pública em que fiz o ensino médio, o ensino de arte era menos do que o básico, e a prática, muito pouco.” Júnia Santo Souza, 17 anos,

faz curso profissionalizante de artes visuais, em Belo Horizonte (MG)

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Kátia Morais, 15 anos,

estudante e programadora do Cineclube Arte 7, da Fundação Museu do Homem Americano, em São Raimundo Nonato (PI)

MARIZA PIAZAROLLO

“Até então, eu só tinha visto filmes em DVD. Hoje, eu vejo muitos filmes, inclusive os nacionais, que antes eu não gostava.”

“A escola pode ajudar promovendo deslocamentos para que crianças e jovens passem a usufruir, pelo menos em parte, da programação cultural de suas cidades e regiões.” Heloisa Buarque de Holanda,

historiadora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde desenvolve o projeto Universidade das Quebradas


ONDA JOVEM 21 ano 7 número 21 dezembro 2010/ fevereiro 2011

DIVULGAÇÃO

MÁRCIA ZOET

expediente

Um projeto de comunicação apoiado pelo

Direção editorial Josiane Lopes Secretaria editorial Lélia Chacon

08 DIVULGAÇÃO

Projeto editorial e realização Fátima Falcão e Marcelo Nonato Olhar Cidadão – Estratégias para o Desenvolvimento Humano www.olharcidadao.com.br

Projeto gráfico Artur Lescher e Ricardo van Steen (Tempo Design)

texto: Angela Nogueira, Beatriz Azeredo, Cristiane Ballerini, Frances Jones, Roberto Amado, Teixeira Coelho, Vera de Sá foto: Augusto Pessoa, Bruna Mazerin, Giuliano Gomes Roman, Jotta Mendes, Marcia Zoet, Marisa Piazarollo, Valderino Silva ilustração: Henrique Jorge Capa: foto de Ricardo Teles, do projeto Passageiros do Futuro, apoiado pelo Instituto Votorantim

16 Divulgação

Colaboradores

Diagramação D´Lippi Editorial Impressão Ipsis

Onda jovem é um dos 50 Jeitos Brasileiros de Mudar o Mundo – Programa de Voluntários das Nações Unidas no Brasil – 2007

20 COMPANHIA PULSAR/RATÃO DINIZ

Como entrar em contato com Onda Jovem E-mail: ondajovem@olharcidadao.com.br Endereço: R. D. Brígida, 602 São Paulo, CEP 04111 081 Tel. 55 11 5083-2250 e 55 11 5579-4464 www.ondajovem.com.br um portal para quem quer saber de juventude

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8 – NAVEGANTES Estudantes comentam como o envolvimento com as expressões artísticas e culturais afetam seu desenvolvimento escolar e pessoal 16 – EDUCADORES Educadores de São Paulo, Pará e Rio de Janeiro apostam no poder pedagógico da arte e da cultura 20 – BANCO DE PRÁTICAS Projetos baseados na formação artística e cultural se tornam aliados da educação 24 – ÂNGULO 1 Teixeira Coelho comenta equívocos gerados pela confusão de conceitos sobre cultura e arte 28 – ÂNGULO 2 Beatriz Azeredo e Angela Nogueira relatam as primeiras impressões sobre o mapeamento de atividades culturais juvenis no Brasil

Assista ao Quadro Onda Jovem no Jornal Futura que será exibido em dezembro, sempre às sextas-feiras, às 17h, com reprise às 23h30. Sintonize o Canal Futura: Antena parabólica – Polarização Vertical 20 Net – Canal 32 Sky – Canal 8 Em 23 TVs universitárias em todo o Brasil.

32 – O SUJEITO DA FRASE A diretora de cinema e teatro Laís Bodanzky comenta seus trabalhos sobre juventude e seus projetos de formação e difusão do audiovisual 36 – LUNETA Como as inovações tecnológicas estão se refletindo no repertório artístico e cultural dos jovens

SONAR 2

Dados sobre jovens, arte e cultura

ÂNCORAS

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Comentários sobre arte e cultura 40 – CIÊNCIA As expressões artísticas ativam um complexo circuito neurológico que transforma estímulos sensoriais em emoções 44 – CHAT DA REVISTA Quatro alunos do ensino médio debatem o papel da arte e da cultura em suas vidas

CARTAS

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As mensagens dos leitores

NAVEGANDO 50 As fotos dos jovens surdos de Recife

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navegantes

expansões

CULTURAis O contato com as atividades artísticas e culturais tem impacto direto no desenvolvimento dos jovens

Por _­ Roberto Amado

O jovem Robson Ferreira Neto, de 15 anos, morador de uma comunidade de Adolfo Maia, cidade da periferia de João Pessoa, capital da Paraíba, se orgulha do que é. Admite que sua vida escolar era sofrível e seu comportamento, crítico. “Vivia fazendo bagunça e tirando notas baixas”, conta ele. “Mas, agora, tudo mudou. Sou bom aluno, gosto da escola e pretendo progredir muito na vida”, diz ele, confiante na sua nova postura. O agente transformador do comportamento de Robson foi o teatro, levado a ele pelo projeto Arte para a Vida. Não se trata sequer de uma ONG. Doze anos atrás, a médica aposentada Maria Anunciada Salomão resolveu promover a saúde entre a população mais carente, utilizando a arte como instrumento. Adotou duas escolas, entre as quais

a de Robson, e nos momentos disponíveis, como no intervalo ou nas aulas vagas, estimula e coordena a encenação de peças de teatro pelos jovens, abordando temas como violência, drogas e meio ambiente. Os resultados são significativos entre os estudantes, como é o caso de Robson.


Robson Ferreira Neto,

AUGUSTO PESSOA

15 anos, estudante de Jo達o Pessoa: teatro contra notas baixas

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DIVULGAÇÃO

Fabrício do Nascimento Cardoso,

18 anos, vestibulando de Natal: com a rabeca, um encontro com a alma nordestina

Foi algo semelhante o que aconteceu com Fabrício do Nascimento Cardoso, 18 anos, fazendo cursinho para o vestibular. Morador de Filipe Camarão, bairro periférico da cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, em 2005 ele entrou para a oficina de rabeca, um instrumento típico das manifestações culturais de sua região, e desde então não saiu mais — e hoje já dá aulas do instrumento. Mais do que isso, Fabrício encontrou uma identidade que antes parecia distante. “O som da rabeca, estridente, rasgado, me levou à alma nordestina, fez com que eu me encontrasse”, diz ele. A oportunidade para Fabrício surgiu na Conexão Felipe Camarão, organização fundada pela educadora Vera Santana há oito anos e que vem resgatando uma

forte cultura local, como o Boi de Reis, e estimulando a participação de jovens estudantes de uma ampla faixa etária, do ensino fundamental ao médio. Mais do que assistência social, a promoção cultural tem um significado educativo. “A formação educacional não trabalha com a cultura local”, diz Vera Santana. “Com esse contato, os jovens se sentem inseridos na realidade viva deles. A escola precisa promover essa oportunidade aos estudantes de se manifestar livremente, mas, ao contrário disto, está se distanciando desta realidade”, lamenta a professora. Mas nem só de autorreferência se alimentam as iniciativas artísticas e culturais dirigidas aos jovens. Atuando em outra vertente, o Cineclube Arte 7 oferece aos jovens uma oportunidade de conhecer a cultura além das fronteiras da pequena cidade de São Raimundo Nonato, no Piauí, onde nunca houve uma sala de cinema. Criado pela


Fundação Museu do Homem Americano, com instalações simples, mas eficientes para a projeção de filmes convencionais, o cineclube oferece aos jovens não só a oportunidade de conhecer o universo do cinema, mas também de participar da programação de filmes. Um desses jovens é Kátia Valéria Nunes Morais, de 15 anos, estudante do primeiro ano do ensino médio. Há seis meses, ela se voluntariou para assumir a vaga de programadora dos filmes, interessada em ter um contato mais intenso com o cinema. “Até então, eu só tinha visto filmes em DVD”, diz ela. “Hoje, eu vejo muitos filmes, inclusive os nacionais, que antes eu não gostava”. Ela lamenta o fato de a escola não oferecer esse tipo de oportunidade, que foi decisiva em relação aos seus planos futuros. “Fiquei muito mais interessada pela cultura e pelas artes. E quero seguir uma carreira profissional nessa área, provavelmente design”, diz. Formação e informação “O contato com atividades culturais e artísticas é muito importante para o jovem em formação”, diz o educador Ricardo Vasconcellos, diretor do festival de cinema Curta Santos, que ocorre anualmente na cidade e que atua também como técnico cultural em projetos voltados para jovens na baixada

Kátia Valéria Nunes Morais,

15 anos: no cineclube do Museu do Homem Americano, a descoberta do mundo além de São Raimundo Nonato (PI)

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DIVULGAÇÃO

As atividades culturais podem ajudar os jovens no autoconhecimento e na formação de uma visão de mundo com mais espaço para a subjetividade


JOTTA MENDES

BRUNA MAZARIN

Letícia Helena Pinheiro,

de 16 anos, de Espírito Santo do Pinhal (SP): projeto que oferece aulas de violão levou à descoberta da literatura

José Carlos Santos Soares, 17 anos: bom estudante, não constumava ir ao cinema em Teixeira de Freitas (BA)

santista, em São Paulo, como a Oficina Cultural Pagu. “A atividade artística e cultural promove o autoentendimento, oferece uma visão de mundo subjetiva e permite, inclusive, abrir possibilidades profissionais”, diz ele. “A indústria cultural é a que mais cresce no País e gera uma grande quantidade de empregos. Para mim, por exemplo, fez toda a diferença. Participei de uma peça de teatro quando tinha 15 anos e, apesar de ter outra formação, nunca mais me afastei das atividades artísticas e culturais.” Se o poder transformador da arte é grande, na adolescência é também rápido. “Estou há seis meses envolvida no projeto, tempo suficiente para “mudar minha vida’”, diz Letícia Helena Pinheiro, de 16 anos, cursando o segundo ano do ensino médio em Espírito Santo do Pinhal, no interior de São Paulo. O projeto, no caso, é um dos vários desenvolvidos pela Associação Crescer no Campo, que oferece oficinas de música, criatividade e expressão corporal para desenvolver competências e habilidades e descobrir talentos. Letícia tem aulas de violão, cursos de conhecimento geral e, também, de informática. “Antes, eu não queria saber de nada, não pensava em nada, não questionava nada. Agora, não. Comecei a gostar de ler, passei a me interessar por todos os assuntos, principalmente por minha

escolha profissional. Eu achava que escolher uma carreira era fácil, mas agora sei que é preciso conhecer bem as opções, me aprofundar e saber tomar a decisão certa”, diz ela, ainda em dúvida se vai fazer faculdade de psicopedagogia ou fisioterapia. “O que aprendo aqui levo para dentro de casa, para minha família”. As mudanças de percepção e comportamento dos adolescentes não surpreendem Ricardo Vasconcellos. “Ao participar de


A escola às vezes parece divorciada da sua função de estimular a produção e o consumo de bens artísticos e culturais

de vida”, completa Vasconcellos. “A escola é o lugar mais indicado para promover esse tipo de proposta entre os jovens”, afirma Vasconcellos. É claro que há impedimentos econômicos no consumo de certos bens culturais. Livros e ingressos de cinema e espetáculos podem ser caros. E o papel da família na formação do hábito também é importantíssima. Mas a escola deve ter aí um papel determinante, estimulando e procurando viabilizar a vivência cultural dos estudantes. Sem nenhum desses elementos, a vida cultural de um jovem pode ficar bastante comprometida. O estudante José Carlos Santos Soares, de 17 anos, está despertando para as lacunas de sua formação. Cursando o primeiro ano do ensino médio, José Carlos é um bom aluno de uma escola pública da cidade Teixeira de Freitas, na Bahia, e já venceu um concurso de redação promovido por uma entidade paulista, o que o trouxe a uma inesperada visita a São Paulo. Apesar de trabalhar durante a tarde e estudar pela manhã, José Carlos reconhece que tem tempo livre, tanto à noite como nos finais de semana, mas nunca havia ido ao cinema, até recentemente, embora não falte esta opção em sua cidade. “Ouvi dizer que os filmes são em inglês e é preciso ler as legendas. Achei difícil fazer isso”, explica ele sem muita convicção — até porque não Giuliano Gomes Roman

uma atividade artística e cultural, o jovem está se preparando para transformar-se a si mesmo e também à realidade em que vive”, diz o educador. “Essa experiência permite ao estudante o entendimento do coletivo, como trabalhar em grupo, adquirir consciência pessoal e coletiva. Pertencer a um grupo artístico, por exemplo, permite a ele não só exercer uma atividade lúdica, como também desenvolver a autoestima, que é muito importante nesse momento

Mariana Fante Manfrim,

de 16 anos, de Curitiba: paixão pelos desenhos de mangá levou ao aprendizado da língua e ao Japão

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tem nenhuma dificuldade com a leitura e é um bom leitor dos clássicos indicados no currículo escolar. “Eu gostaria de fazer alguma coisa fora da escola, como aprender a tocar violão. Acho bacana. Mas nunca tentei”, diz, sem encontrar uma justificativa convincente. “Nas minhas horas livres, fico em casa assistindo televisão. Minha vida se resume a escola, trabalho e casa”. Uma promoção na escola ou uma proposta de trabalho escolar pode ser o empurrãozinho que falta para que jovens experimentem diferentes formas de manifestações culturais. “É importante que os alunos tenham liberdade de escolha e autonomia no ambiente que frequentam. Isto também pode ser um gerador de autoestima. E o aluno também tem de ir atrás das oportunidades que lhe são oferecidas”, diz o educador Ricardo Vasconcellos. Foi o que fez Mariana Fante Manfrim, de 16 anos, que cursa o terceiro ano do ensino médio de uma escola pública de Curitiba, Paraná. Apaixonada pelos mangás, histórias em quadrinhos típicas da cultura japonesa, ela encontrou dentro da própria escola a oportunidade de aprender japonês e se desenvolveu bem no idioma. Graças a isso, acabou sendo selecionada pela Fundação Japão para uma viagem de intercâmbio àquele país, onde passou 15 dias participando de workshops, visitas a escolas e passeios turísticos. “Conhecer o Japão foi como realizar um sonho”, diz ela. “É muito importante para a nossa formação ter esse tipo de oportunidade. A gente descobre as coisas que gosta e pode pensar no futuro”.

Apesar das limitações econômicas de parte dos estudantes, esse não é o único fator que inibe a vivência de atividades culturais ou artísticas por parte dos jovens. Ainda que elas possam ser caras, há também opções acessíveis às populações de baixa renda, principalmente nas grandes cidades. Mas, mesmo quando há oportunidades, os jovens nem sempre as aproveitam, em especial pela falta de hábito. Uma pesquisa realizada neste semestre em 82 cidades paulistas, com patrocínio da CPFL Energia, mostrou um quadro de desânimo: 40% dos entrevistados não costumam ir ao cinema, 60% não vão ao teatro e 61% não frequentam museus. Nada muito diferente do que outras pesquisas já haviam indicado antes. A novidade, desta vez, foi a admissão da motivação (ou falta dela) para o baixo consumo cultural: dos que não vão ao cinema, 8% apontam os preços dos ingressos como impeditivo, mas 29% afirmam apenas não ter interesse. Dos ausentes do teatro, 32% confirmam que simplesmente não têm vontade. Para especialistas, esse quadro tem vários matizes, mas a educação é a questão central. Sem a formação do hábito, que requer repetição e constância, não há como produzir consumidores culturais, por mais importância que a população confira ao tema.

Mais difusão O desconhecimento das opções mais baratas também poderia ser um motivo para a baixa frequência a atividades culturais. Para amenizar esta realidade, o pojeto Catraca Livre (www.catracalivre. com.br) concentra informações de uma ampla gama de atividades culturais gratuitas, ou que custem até no máximo 12 reais. O site foi criado há dois anos, a partir de uma proposta de conteúdo social da faculdade Uniesp feita ao jornalista Giberto Dimenstein. Previsto para operar com atividades apenas no centro de São Paulo, teve, no entanto, crescimento vertiginoso – e hoje inclui as principais cidades do País, do interior e do litoral de São Paulo. “Em dois anos, anunciamos mais de 13 mil atividades culturais gratuitas”, diz Fernanda Perez, coordenadora, responsável pelo conteúdo e uma das idealizadoras do site. O surpreendente, no entanto, é que, segundo pesquisa interna, quem mais acessa o site

FALTA DE


NEM TUDO É QUESTÃO DE PREÇO. A FORMAÇÃO DE CONSUMIDORES CULTURAIS REQUER TAMBÉM CONSTÂNCIA E REPETIÇÃO

15 Para ela, a criação desse hábito entre os jovens deveria ser um papel da família e principalmente da escola: “Não dá para separar educação e cultura. Mas essa parece ser a visão do nosso sistema educacional. E as famílias, os pais, acham que levar os filhos a um museu, por exemplo, é obrigação da escola”. Ainda assim, o site é um sucesso: a média diária é de 8 mil visitantes, número que chega a 15 mil em vésperas de feriado ou fins de semana. As atividades mais procuradas são os shows de música e as peças teatrais. Também têm sido muito procurados os

hábiTo

livros, que podem ser baixados diretamente do site – opção que foi adicionada recentemente e tem surpreendido pela procura. Mas o empreendimento não desiste de seu objetivo inicial, o público jovem e com poucos recursos financeiros, e vem promovendo campanhas também em outros tipos de veículo, como as TVs de ônibus e metrô – além de produzir programações impressas.

ISTOCKPHOTOS

são mulheres que fazem pósgraduação. “A idéia original era oferecer oportunidades culturais a jovens estudantes da classe C, que normalmente não têm acesso a essas atividades devido às limitações econômicas”, diz Fernanda. “Mas isso ainda não está acontecendo como gostaríamos. A gente sabia que seria uma missão difícil. Consumir cultura é também uma questão cultural”.


márcia zoet

educadores

artes do ofício


PROJETOS PEDAGÓGICOS DE EDUCADORES DE SÃO PAULO, RIO DE JANEIRO E PARÁ ATESTAM O PODER TRANSFORMADOR DA ARTE E DA CULTURA Por _ Vera de Sá

“Se o Estado tiver de optar entre oferecer cesta básica ou cultura, deve desistir da cesta básica.” Essa opção preferencial pela cultura soou mais como uma provocação quando foi enunciada anos atrás por um diretor teatral crítico das políticas públicas. Mas hoje, a julgar pelos resultados dos projetos inovadores descritos a seguir, privilegiar a cultura pode ser encarado como uma ideia mais que razoável. Experiências no ensino fundamental e médio com enfoque na arte e cultura têm atestado surpreendente poder de transformação. Seja em uma escola de bairro, ou envolva uma cidade inteira, mais que a teoria, a força destas iniciativas está na capacidade de mobilizar a comunidade em que os projetos estão inseridos. E, como medida para o futuro, os novos parceiros que conseguirem atrair para seus objetivos.

PROFessOR Zeca nOg:

arte gera sentimento de pertencimento em escola vandalizada em São Paulo

A trilha da cidade Em 2003, o maestro Vantoil de Souza Júnior começou a avaliar na prática sua tese: a de que a música poderia representar um grande diferencial na educação, capaz de ser um instrumento poderoso no desenvolvimento dos alunos e de cumprir uma função social. Um dos principais responsáveis pela implantação do “Projeto Música nas Escolas” em Barra Mansa, estado do Rio, nos anos seguintes, o maestro viu sua tese original ser embasada por números superlativos. Hoje, o projeto não só atende 22 mil crianças e jovens, como inclui sete corpos musicais estáveis e é responsável por uma nova história da cultura local. “O impacto na cidade foi enorme. Antes, a atividade cultural era quase nula. Agora tem temporada oficial de concertos, além da apresentação de, ao menos, um balé e uma ópera por ano. O acesso à boa música formou público e a platéia cresce dia a dia”, diz Souza Júnior. A música faz parte da atividade das creches e do currículo de 72 escolas públicas de Barra Mansa e se estende até o Centro Universitário, que já oferece curso superior na área. A melhora nos índices de desempenho escolar como um todo foi sensível, o que é atribuído ao desenvolvimento da percepção, do ritmo, do controle motor e da concentração exigidos pela nova disciplina. Outro saldo do projeto, que tem uma parcela de 84% realizada na periferia, é ocupar o tempo ocioso dos alunos e mantêlos afastados de atividades de risco, violência e drogas. “A melhora no aspecto social foi enorme, e o resultado

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Maestro Vantoil:

divulgação

música nas escolas repercute em toda a cidade de Barra Mansa (RJ)

também muito positivo no rendimento dos alunos na sala de aula, com diminuição do índice de reprovação”, diz Souza Júnior. Ele afirma que, nos primeiros anos de implantação, a redução da delinquência juvenil pôde ser medida pela variação do número de menores infratores internados, de 30 para 3. Além de a música integrar a grade curricular, a prática instrumental é oferecida como disciplina optativa. Caso o aluno queira participar de um dos grupos musicais oferecidos pelo município, recebe um instrumento em comodato. O projeto gerou sete corpos estáveis: a Orquestra Sinfônica Municipal, a Orquestra Infantojuvenil, a Banda Sinfônica, a Banda Sinfônica Infantojuvenil, a Orquestra de Metais, o grupo de percussão Drum Latas e um coral. As apresentações, cuja meta é chegar a noventa por ano e acontecer cada vez mais longe de casa, já atraem público de cidades vizinhas, como Volta Redonda, Rezende e Angra dos Reis. O continente é o limite: um dos objetivos de longo prazo é inserir Barra Mansa no circuito musical da América Latina. O preparo é promissor. A Orquestra Sinfônica Municipal, com 105 membros, recebe muitos solistas

convidados, já mereceu workshops da estrela internacional Zubin Mehta e de integrantes da Filarmônica de Israel, da Orquestra de Câmara da República Tcheca e de Isaac Karabtchevsky, que, à frente da OSM num concerto recente, atraiu público de sete mil pessoas ao Parque da Cidade. É neste local que se concentra a nova ambição do projeto: a construção de um teatro. O projeto Música nas Escolas custa 5 milhões de reais por ano, dos quais 1,5 milhão é captado junto à iniciativa privada, via Lei Rouanet, participação que Souza Júnior espera ver aumentar nos próximos anos. Ele, que além de Coordenador Técnico do projeto também é Controlador Geral do Município, graduado em Música e em Direito Público, espera fechar estas contas num patamar que garanta a manutenção financeira independente. Respaldo ele tem: em 2008, a Câmara atribuiu ao projeto o status de Patrimônio Cultural do Município. Agora, é lei. Terra de alguém O ponto de partida é simples: ninguém depreda o que é seu. Essa é a premissa fundamental na equação do problema de vandalismo na Escola Estadual Canuto do Val, na capital paulista. José Nogueira de Souza, mais conhecido como professor Zeca Nog, devolveu a identidade dos alunos com o espaço em que estudam por meio do projeto “Nossa Cara”. E reverteu um processo histórico: “Ao longo dos anos, aconteceu uma desvalorização da escola pública, foi criado um descompromisso dos alunos e pais por causa da visão de que nessa escola tudo se pode fazer, porque é uma terra de ninguém”, diz. O professor constatou a relação dessa atitude de desrespeito por meio de outro problema crônico da rede de ensino: as

horas ociosas dos alunos em razão da falta de professores, circunstância em que a depredação era mais acentuada. O projeto, basicamente, direcionou a ocupação desse tempo vago dos alunos na revitalização do espaço da escola. Implantado em março deste ano, o “Nossa Cara” mobilizou todas as turmas do ensino fundamental e médio em oficinas de grafites, mosaicos, máscaras de lambe para aplicação nas paredes, restauração de móveis. A adesão não foi só dos alunos, mas também da diretoria e de boa parte do corpo docente. Em novembro, começou a ser executado um plano anual. Os alunos vão continuar interferindo na estrutura física da escola e restaurar jardins, área de lazer, customizar armários das salas de aula, criar uma sala de leitura ao ar livre, trabalhar com reciclagem, construir bancos com garrafas pet, tecidos, etc. Também deve ser aprofundada a atividade de interação social e integração cultural, de especial importância numa escola em que 20% dos alunos são de origem boliviana, reflexo de uma significativa leva de imigrantes que se estabeleceu no bairro paulistano onde fica a escola, a Barra Funda. Como a alfaiataria é uma das atividades principais destes


arquivo pessoal

imigrantes, o projeto vai se estender a oficinas nesta área e já conta com uma máquina de costura e contribuições de ateliês de tecido da região. Com formação em Filosofia e em Arteterapia, Zeca já detecta efeitos das atividades: “Os alunos estão mais tranquilos, diminuiu o número de atos predatórios e de agressões entre eles, e há um sentimento maior de pertença do espaço físico, surgido da noção semeada de que a escola é deles.” O professor faz a coordenação do projeto, mas são os alunos que o monitoram, porque a ideia é que eles assumam a responsabilidade como agentes da própria história: “O eixo é a valorização da cidadania e a criação de um sentimento de identidade, de ‘eu no mundo’.” Algumas atividades pontuais da escola foram desenvolvidas em parceria com o Escola Aprendiz e com o Projeto Nossa Barra. O Rotary é um novo parceiro e outras instituições e empresas privadas devem ser contatadas pela Associação de Pais e Mestres. Com os recursos, a ideia é estender o projeto além das horas vagas dos alunos e criar “sábados culturais”, enriquecidos com música, capoeira etc., além de aumentar a participação e presença de pais na escola.

Rio de histórias Quando Jaqueline Cristina Souza da Silva chegou para assumir seu posto de professora de Arte no Colégio São Francisco Xavier, em Abaetetuba, no Pará, região de rica cultura popular, encontrou os alunos se preparando para a festa de Halloween, o tradicional dia das bruxas comemorado nos Estados Unidos. Discordou dessa importação. E, em parceria com o professor Paulo Anete, exumou personagens de mitos e lendas amazônicos, como a feiticeira Matinta Perera, e montou com os alunos um cortejo com estrutura carnavalesca que atravessou a cidade em 2007, com o tema “A Noite de Lua Cheia”. A referência é feita à reunião das antigas gerações na beira do rio, nas noites de lua cheia, para contar e ouvir histórias de assombrações. Assim, foi inaugurado o “Auto da Barca Amazônica”, que em 2010 recebeu o prêmio Arte na Escola Cidadã, do Instituto Arte na Escola, como melhor projeto voltado ao ensino médio. Abaetetuba é cortada por um rio. Dele vêm lendas, histórias, cultura, tráfico, pirataria, drogas. Jaqueline explorou o positivo para enfrentar o negativo. A cultura regional voltou no desfile de 2008 com “Lendas da Cobra Grande”. Há praticamente uma história de cobra grande em cada cidade da área, como foi constatado pela pesquisa histórica feita para o trabalho. Os colonizadores se apropriaram das lendas já existentes e incrementaram o enredo, localizando a cabeça da cobra sob a igreja matriz. Se ela se mexer, afunda toda a cidade. No ano seguinte, o tema foi “Cordões de Pássaro”, resgatando uma manifestação cultural que estava em extinção porque, sem registro, ia se perdendo com a

Professora Jaqueline Souza: a cultura amazônica em autos festivos nas ruas de Abaetetuba (PA)

morte dos habitantes mais velhos. A pesquisa constatou que, com encenações de dança burlesca, este tipo de apresentação contava a história do pássaro encantado que protege a floresta amazônica e que tem como guardiã uma moça, mas é caçado pelos que querem destruir a floresta. Nesta edição, 2009, o cortejo, que começou com 200 participantes, já tinha perto de dois mil jovens de 14 a 23 anos e mobilizava toda Abaetetuba. Com comissões e alas, parando em vários pontos, o auto usa técnicas de teatro-dança para contar suas histórias. Em 2010, foi feita uma edição especial retrospectiva do projeto, para um documentário realizado para o Arte na Escola que pode ser visto no blog www.autodabarcamazonica. blogspot.com. “Um dos objetivos era trazer e aumentar o tempo do aluno na escola, manter os problemas a distância. Eles serão os futuros multiplicadores do projeto que, quem sabe, no futuro, vá gerar renda”, diz Jaqueline. O desempenho escolar já melhorou e a ideia é avançar com a abertura à participação de outras escolas, buscando parcerias pela inscrição do projeto em editais de leis de incentivo fiscal.

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Por _ Lélia Chacon

Produzidas por meios diversos, as manifestações culturais oferecem a compreensão dos valores e hábitos da sociedade. Sua interface com a educação, por isso, é óbvia. São áreas irmãs, uma alimenta a outra. Quatro projetos com estudantes, nas áreas de música, da fotografia, das artes representadas no teatro e no museu, ilustram esta relação, indicando que os benefícios para os alunos não se limitam à aquisição de um repertório cultural. No contexto educativo, a arte é um veículo poderoso de inclusão: fortalece vínculos com a família, a escola e entre os colegas. Aumenta a participação de todos na comunidade.

Um exemplo é o projeto Música para Todos, do qual se beneficiam estudantes da rede pública de Teresina (PI). O fundador da iniciativa é o ex-comerciante de instrumentos musicais Luís Sá, que imaginava “ficar rico” com uma grande escola de música. Mas a demanda era outra: “Eu via muitos jovens carentes querendo uma escola gratuita. Um dia, um grupo se aproximou perguntando se era ali que se fazia matrícula. ‘É, pode entrar’, eu disse, decidindo mudar meu rumo e fazer algo por essa juventude”. No Rio de Janeiro, o Passageiro do Futuro capacita jovens nas técnicas das artes cênicas. “Realizamos encontros regulares com as famílias e percebemos como as atividades as mobilizam. O principal é que os jovens se sentem estimulados, capazes, o que aumenta o interesse deles pela escola”, diz Juliana Teixeira, idealizadora do projeto. Em Minas Gerais, destacam-se as ações do Instituto Inhotim, que abriga um dos mais importantes acervos de arte contemporânea do mundo, em meio a outro acervo, botânico. Lá se desenvolvem o projeto Descentralizando o Acesso, para professores; a Escola Integrada, que recebe estudantes para explorações diversas no Instituto, e o Laboratório Inhotim, onde adolescentes têm formação em arte, durante um ano. Na Escola do Olhar, projeto da organização paulistana ImageMagica, o laboratório envolve alunos com a fotografia, para que se apropriem desta linguagem visual como instrumento de comunicação e transformação social. “Buscamos o desenvolvimento artístico, cultural e educacional dos jovens”, diz Carolina Silva, coordenadora do programa.

Ricardo telles

Quatro projetos mostram como a arte desperta os estudantes para a cultura e dá mais qualidade à educação

divulgação

Vias de acesso

divulgação

divulgação

banco de práticas


São Paulo, SP

Projeto Escola do Olhar

Minas Gerais, Brumadinho

Arte e Educação no Instituto Inhotim

“Perceber o mundo em que se vive é o primeiro passo para modificá-lo”. A frase marca os comunicados da ImageMagica, criada em 1995, em São Paulo, pelo fotógrafo documentarista André François, finalista do prêmio Empreendedor Social 2006. A organização, que promove a educação, a cultura e a saúde, entendidas como pilares do desenvolvimento pessoal e social, é hoje um Ponto de Cultura, parceira do Ministério da Cultura. Em 1998, começou o programa Escola do Olhar, já aplicado em mais >>

Três programas dão conta das relações que o Instituto Inhotim pretendia, desde sua criação, ver estabelecidas com as escolas. O carro-chefe, explica a coordenadora das ações, Janaína Mello, é o projeto Descentralizando o Acesso, voltado à formação do professor. São dois dias de programa. No primeiro, o professor vai ao museu e checa as possibilidades que a arte ali reunida proporciona à prática pedagógica na escola. O educador do museu acompanha a visita, esclarece questões e dá referências para as necessidades do professor – por exemplo, >>

21 Rio de Janeiro, RJ

Projeto Passageiro do Futuro

Teresina, PI

Música para Todos

Iniciado em 2001, o projeto oferece capacitação técnica em artes cênicas a estudantes de 16 a 20 anos da rede pública e facilita seu acesso ao mercado de trabalho. A formação inclui oficinas, ensaio e montagem teatral e circulação do espetáculo, criado pelos formandos. A turnê mais recente é a da peça “Forrobodó”, um clássico de Chiquinha Gonzaga. Nas oficinas (cenário, figurino, maquiagem, iluminação, som, interpretação, preparação vocal e corporal), associam-se conteúdos artísticos e disciplinas da escola. Os jovens trabalham >>

Realizado pelo Instituto Cultural Santa Rita, o projeto está presente em escolas de 16 bairros de Teresina, envolvendo cerca de 1.800 crianças e, em sua sede, 1.200 adolescentes, jovens e adultos em cursos livres de bateria, percussão, flauta, contrabaixo, teclado, violão popular e erudito. “Damos ênfase à teoria musical, para que o aluno seja capaz de ler partituras. Assim, ele pode tocar música em qualquer lugar”, explica Luís Sá, fundador do projeto. As aulas nos bairros permitem aos participantes >>


>> de 30 escolas públicas, no interior e na capital paulista. A ação visa implantar laboratórios, ou núcleos fotográficos, em escolas, ou comunidades. Os alunos, da 7ª série em diante, aprendem, em oficinas de três meses de duração, a técnica da foto na lata e também a digital. Para praticar, fazem o mapeamento

>> ensinar matemática à luz das obras expostas. No segundo dia, o educador do Instituto vai à escola, completando o processo para o projeto do professor. As experiências que resultam do programa, reunidas em publicação do Instituto, são oferecidas para outros professores. Os alunos destes mestres chegam ao museu, no projeto

>> coletivamente, debatendo e elegendo as melhores propostas para cada parte do espetáculo. Também visitam espaços culturais da cidade, têm aulas de reforço em português e matemática, acesso a biblioteca e a palestras. Durante a formação, eles mobilizam a rede família-escola-comunidade, apresentando esquetes nos bairros.

>> ficarem mais próximos dos pais e da comunidade. “É comum encontrarmos famílias ‘musicalizadas’ pelos filhos. Além disso, os jovens não precisam se deslocar, o que é dispendioso para os pais, e a atividade se integra à escola”, diz Luís. Os melhores alunos das escolas na flauta doce passam a aprender violino e viola. Depois, na sede


Passageiro do Futuro. “Além do acesso ao conhecimento e ao fazer artístico, o projeto os faz se sentirem capazes, estimulados para os estudos e o mercado de trabalho”. De 15% a 20% dos alunos seguem na área profissional, absorvidos em monitoria no próprio projeto e por empresas parceiras, nas áreas de moda, teatro, TV, cenário, música.

do projeto, podem avançar no aprendizado e, no futuro, renovar os quadros das orquestras e bandas sinfônicas e construir uma carreira musical. “É a nossa batalha e tem sido bem-feita. A maioria de nossos alunos apresenta melhoria na concentração, no aprendizado escolar, na expressividade e comunicação com outros alunos, com

suas famílias e pessoas da comunidade. Estamos colecionando depoimentos de mudança e transformação por meio da música”, diz Luís Sá. Para ele, “quem aprende música tem mais noção de cidadania, fica mais suscetível ao dever, pois sabe que tem de tocar no compasso certo, que tem um conjunto por trás do sucesso.”

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De dois em dois meses, aos domingos, há encontros com as famílias. Uma assistente social monitora o rendimento no programa e na escola. “Ela solicita, na escola, os boletins do ano anterior e acompanha as mudanças. Em geral, há melhora muito grande em português, história e geografia”, conta Juliana Teixeira, comandante do

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retorno, de acordo com suas pesquisas. No terceiro projeto, Laboratório Inhotim, estudantes de escolas urbanas e rurais do município de Brumadinho têm formação em arte contemporânea durante um ano. Os alunos criam projetos artísticos a partir de ícones de suas regiões, como, por exemplo, uma igreja ou uma cachoeira.

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Escola Integrada, mais preparados para aproveitar e explorar o ambiente. Neste segundo programa , em parceria com a prefeitura de Belo Horizonte, o Instituto recebe 80 estudantes por semana, de ensino fundamental e médio. Eles passam um dia inteiro no museu, conhecendo o acervo e fazendo atividades que podem resultar em

de investigar o bairro envolve. No fim, há uma exposição fotográfica, inteiramente organizada e divulgada pelos alunos. Fora da escola, a ImageMagica organiza cursos profissionalizantes gratuitos, dirigidos a jovens de 15 a 19 anos. Aí, a fotografia vira ferramenta de estímulo ao empreendedorismo.

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do bairro. A percepção do local – da família, da rua, do bairro, da cidade – aumenta a consciência do mundo em que vivem. No processo, os conteúdos escolares e os das artes visuais entram em sintonia não só nas áreas de exatas, como física e química, mas nas de leitura, escrita, história e geografia, que a atividade

Projeto Escola do Olhar ORGANIZAÇÃO ImageMagica ATUAÇÃO São Paulo, capital e interior PROPOSTA O projeto visa à implementação de Núcleos Fotográficos em escolas públicas, possibilitando o desenvolvimento artístico, cultural e educacional dos jovens. ATENDIMENTO De 1998 a 2010, mais de 1.700 jovens participaram do projeto. Nas oficinas, as turmas são de 30 a 40 alunos. APOIO O projeto é designado Ponto de Cultura, em parceria com o Ministério da Cultura. A empresa York S/A patrocinou as oficinas realizadas em 2010. CONTATO Alameda dos Uapés, 577, Planalto Paulista, São Paulo, SP; www.imagemagica.org; Núcleo Educacional, tel.:11/2577-9902.

Arte e Educação no Instituto Inhotim ORGANIZAÇÃO Instituto Inhotim ATUAÇÃO Minas Gerais PROPOSTA Potencializar a fruição e a compreensão do acervo artístico e o acesso a ele, além de contribuir para a formação de novos públicos e atores culturais. ATENDIMENTO 44 escolas, 7.381 alunos e 678 professores e oficineiros, no projeto Escola Integrada; 60 alunos, no Laboratório Inhotim; 1.200 professores, em 2010, no projeto Descentralizando o Acesso. APOIO Prefeitura de Belo Horizonte; Secretaria Municipal de Educação de Brumadinho; Vivo Lab; Instituto Votorantim. CONTATO www.inhotim.org.br; tel.: 31/3227-0001

Projeto Passageiro do Futuro ORGANIZAÇÃO Nova Bossa Produções Culturais PROJETO GRAEL ATUAÇÃO Rio de Janeiro, RJ ÁREA DE ATUAÇÃO DE JANEIROtécnica (RJ) em artes PROPOSTA OferecerRIOcapacitação RESUMO PROPOSTAda Projeto que pretende, cênicas aDA estudantes rede pública, promovendo peloacesso ensino ao do mercado iatismo, formar o jovem tanto depara seu de trabalho; contribuir técnica quanto cidadã.escolar Há formação para a aforma melhoria do desempenho e fortalecer o mercado náutico e aulas complementares de rede família-escola-comunidade. geografia e marcenaria, além apoio em psicológico. ATENDIMENTO Desde 2001, 800dejovens oficinas DE JOVENS ATENDIDOS 350 por Em semestre eNÚMERO 40 mil espectadores nas montagens. 2010, PRINCIPAIS APOIADORES CriançadeEsperança, foram beneficiados 60 jovens 12 escolas Instituto Oi supermercado Wal-Mart, públicas, emFuturo, 21 comunidades. Companhia de GásMunicipal CEG. APOIO Secretarias e Estadual de Educação CONTATO do Rio de www.projetograel.com.br, Janeiro, prefeitura do Rio de Janeiro e tel.: cerca(21) de 2711-9875 20 empresas parceiras. CONTATO www.novabossa.com.br; tel.: 21/2287-4316 e 99851733

Música para Todos ORGANIZAÇÃO Instituto Cultural Santa Rita ATUAÇÃO Piauí, Teresina e cidades circunvizinhas PROPOSTA Universalizar o acesso ao ensino gratuito da música e seus benefícios a pessoas de todas as idades. ATENDIMENTO 25 mil crianças, adolescentes, jovens e adultos de 1999 a 2010. APOIO Instituto Oi Futuro, Instituto Votorantim, Petrobras, Fundação Estadual de Cultura, Arquidiocese de Teresina, Ministério da Cultura, empresas locais. Parceria com a Yamaha Musical do Brasil forma instrutores de iniciação musical em 25 municípios do Piauí e em São João dos Patos (MA). CONTATO Avenida Pedro Almeida, nº 145, bairro São Cristovão, CEP 64052-280; tel.: 86/3233-9506; site: www.musicaparatodos.org.br

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Ângulo 1

cultura e pensamento

quatro

provocações Todo aquele que trabalha com a cultura na perspectiva da política cultural deve rever, ao final da primeira década do século 21, várias das antigas concepções sobre o tema e daí extrair algumas lições sobre o que fazer. A primeira é que o conceito antropológico de cultura não serve para a política cultural. A ideia de que tudo é cultura – o idioma, os cantos, as danças, os costumes, a arte, a comida, a indumentária, o direito—é inoperante em política cultural. O século 20 viu surgir uma ideia generosa segundo a qual se deveria entender por cultura não apenas as manifestações especiais da criatividade humana (teatro, artes visuais, dança, literatura, música erudita) mas tudo, inclusive o que viesse “de baixo”, da cultura dita inferior, como os folguedos, a

culinária, os costumes religiosos, práticas de saúde etc. Esse entendimento ampliado de cultura, derivando, na melhor das hipóteses, de uma ideia democratizante e, na pior, de uma visão populista, gerou ampla rede de distorções. A ditadura brasileira que terminou em 1985 insistia em afirmar que “esporte é cultura”. No passado, talvez. Hoje está claro que o esporte é, no máximo, forma rasa de lazer. No caso do futebol, é pior: agora, neste País e em vários, ele é, antes, um modo da afirmação boçal da identidade e da multiforme e crua agressividade humana, como se vê nos estádios e à sua volta onde torcedores se humilham e se matam em descontrolada barbárie. E se formas da barbárie são antropologicamente cultura (como o apedrejamento até a morte de mulheres “infiéis” em países que reivindicam o islamismo), elas certamente não são cultura nem para a política cultural, nem para uma concepção digna de cultura. São o oposto da cultura. Cultura é o que amplia a esfera de presença do ser, sugeriu Montesquieu, não o que o confirma em sua pequenez. A segunda é que a cultura não é uma soma de positividades. A cultura, em si e por si, não é o bem. A cultura contém um componente de negatividade. Não é que ela contenha uma parte de inércia ou neutralidade ética que explicaria por que não evitou que oficiais nazistas saíssem de concertos de música erudita direto para os campos de concentração onde exerceriam, sem mais, suas “tarefas” de extermínio. Que a cultura está carregada de negatividade é algo que ficou evidente quando, após os atentados terroristas contra as Torres Gêmeas de Nova York, o compositor Stockhausen

A IDÉIA DE CULTURA NO SÉCULO 21 ÀS VEZES MISTURA CONCEITOS E GERA EQUÍVOCOS QUE MERECEM REFLEXÃO Por _ Teixeira Coelho

declarou que aquilo fora “uma das mais belas obras de arte da história” e que ele gostaria que seus músicos fossem como aqueles terroristas, dedicados ao que faziam mais que a qualquer outra coisa na vida, mais que à própria vida. O que ele fez com sua declaração, talvez inepta, foi lembrar-nos do tenebrismo da arte, se não da cultura, pelo que pagou alto preço: sua filha o repudiou e seus concertos foram cancelados. No


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elisângela leite

Integrante da Circolo de Criação, de Búzios (RJ), em apresentação na Mostra Brasil 2010


Ângulo 1

CULTURA É O QUE AMPLIA A ESFERA DE PRESENÇA DO SER, NÃO O QUE O CONFIRMA EM SUA PEQUENEZ

entanto, o que ele estava querendo dizer é uma verdade à qual a humanidade bem-comportada do século 20 pós-II Guerra Mundial se desacostumou: que a arte, se não a cultura, é perigosa. Mas não há o que fazer: é assim. E é por isso que ela vale. Uma das teorias mais engenhosas sobre a razão do aparecimento da palavra propõe que ela surgiu para elogiar, louvar, cultuar – no limite, bajular. Há muita razão nessa teoria (e a língua e a cultura portuguesas abundam em exemplos, como no já arcaico “ilustríssimo senhor” e no ainda atual e risível “magnífico reitor”). Outros instrumentos humanos, como as artes visuais, seguiram pelo mesmo caminho durante um bom tempo. A partir do início do século 20, para as artes, não foi mais assim. Quando o artista Piero Manzoni, em 1961, apresentou uma pequena lata contendo (supostamente) sua própria merda e a

rotulou de “Merda de artista”, vendendo-a literalmente a preço de ouro, muita coisa ficou evidente em relação à arte e à cultura. Ou deveria ter ficado. A arte — se não a cultura — é perigosa e impertinente. E isso não deve ser tomado contra ela. A cultura contém negatividade, e essa é uma ideia com a qual é necessário conviver. Forma mais amena de dizê-lo é que cultura é conflito e que, como observou Edward Saïd, estimulante no fato cultural é que ele seja capaz de sustentar-se sobre seus lados ou fundamentos opostos sem ter de apagar um deles em favor do outro. O conflito é inerente à cultura. E conflito significa choque de diferentes ou opostos, chamem-se eles de “positivo”e “negativo” ou com outros nomes quaisquer. Uma terceira lição que hoje fica clara é que cultura é aquilo que muda, que se transforma, se altera, não aquilo que permanece igual a si mesmo. Durante algum tempo, prevaleceu a idéia de que a cultura é uma estrutura dura, que persiste idêntica a si mesma. Era útil ao Estado que assim fosse, uma vez que lhe interessava afirmar sua identidade e a de seus “cidadãos” como algo previsível e que, portanto, se pudesse controlar. “Sua identidade é esta, assim diz a receita, não se afaste dela.” Muitas tragédias aconteceram em virtude da crença numa cultura perene e numa identidade fixa, sobretudo naqueles momentos em que era preciso, como uma obsessão, encontrar “a própria cultura” ou as “raízes culturais” que supostamente vinham como tais de um passado longínquo e se estendiam de modo indefinido para o futuro, como tais. Uma cultura não se encontra: se inventa (e se tiver raízes, elas serão móveis). E assim como ela se inventa, se desfaz e se refaz. A cultura muda, cultura é aquilo que muda, não aquilo que permanece. Mesmo a natura muda, até mesmo levada ou forçada pela cultura. Por que não mudaria a cultura? E na cultura, a forma que mais muda é a da arte. A ponto de ser possível mencionar aqui uma quarta e (provisoriamente, na extensão possível deste texto) derradeira lição: a de que, para os efeitos de política cultural, mas não apenas deles, arte não é

cultura: arte é o oposto da cultura, o diferente da cultura. Para dizê-lo com Godard, a cultura é a regra, e a arte, a exceção. Quase é possível dizer que tudo aquilo que a cultura promove, a arte desfaz. Daquilo que a cultura persegue, a arte foge. Trato mais longamente disso em meu A cultura e seu contrário (Ed. Iluminuras). Bastaria dizer, por ora, que se a cultura acolhe, a arte (em especial a moderna e a contemporânea) repele; se a cultura aproxima, a arte distancia; se a cultura apazigua, a arte inflama; se a cultura é consenso, a arte é dissenso. A primeira consequência dessa proposição é que, a rigor, é um contrassenso propor uma política cultural para as artes. A arte merece e pede uma política artística. No entanto, o que normalmente se vê é, nas políticas culturais, a aplicação de regras da cultura às artes. Por exemplo, procura-se valorar hoje, para efeitos de concessão de apoio econômico do Estado, a cultura e a arte que “promovam a integração social”. Mas a arte não foi feita para integrar socialmente. A cultura sim, muitas vezes. A arte não. A arte pode não desintegrar, mas a arte, a boa arte, a melhor arte, não foi feita para integrar ninguém a nada, nem ao social, nem ao cultural ou a qualquer outra instância. A cultura tem certas regras, a arte tem outras. Vivem-se hoje, de fato, e depois de 2001 ainda mais que no século anterior, os tempos do politicamente correto. O que é politicamente correto é, ao mesmo tempo, culturalmente


marisa piazarollo

correto. Mas o que é culturalmente correto (coisa que não raro já em si não tem sentido) não é artisticamente correto. Como resultado, a censura ao incorreto, por vezes disfarçada sob as vestes do interesse social, procura reinstalar-se. A recente tentativa do Conselho Nacional de Educação do Brasil de censurar o livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato, por suposto racismo, é um exemplo da aberração a que se chega na tentativa de colocarem-se a cultura e a arte a serviço da ideologia. É verdade que a cultura sempre se prestou, inclusive no moderno século 20, às manipulações ideológicas, coisa que a boa arte do mesmo período sempre recusou. Mas os esforços nessa direção seriam risíveis, se não fossem deploráveis. Logo se procurará proibir também a exibição de filmes como Doze homens e uma sentença, de Sidney Lumet, 1957. Nesse filme extraordinário, inclusive do ponto de vista social ou político, doze homens (não há mulher entre eles – nem negro ou asiático: não era um filme que se preocupasse com preencher as quotas étnicas ou de gênero, como é hoje comum) estão trancados numa sala de tribunal americano, no esforço de chegar a um veredito, num certo caso. Estão numa sala pequena e fumam o tempo todo, a fumaça que invade o aposento parece vazar da tela e alcançar o espectador de hoje, que sufoca. Como hoje é proibido fumar em lugares públicos fechados (pelo menos no mundo civilizado), alguém diria que o filme não pode mais ser exibido porque induziria o público a fazer o mesmo. Ou que esse filme não deverá mais ser exibido porque não inclui mulheres e negros entre os personagens, sendo portanto um filme que promove a discriminação... E com essa sentença o que se buscaria na verdade seria corrigir o passado, uma arte (se não fosse um insulto usar essa palavra nesse sentido) praticada à perfeição pelos regimes

Junia Santo Souza, 17 anos, faz um curso profissionalizante de artes visuais, em Belo Horizonte, MG

“A importância da arte, para mim, é fazer parar para pensar. Fazemos tantas coisas, rotinas tão repetitivas, que nem nos apercebemos do que está no entorno. A arte, além de uma forma de expressão, é essa parada para reflexão. Ela

comunistas que apagavam, de antigas fotografias oficiais, aqueles que haviam caído em “desgraça política” e deveriam desaparecer da vista, da memória, como já haviam desaparecido no exato momento em que a história estava sendo “corrigida”. Uma parte da política cultural e do pensamento sobre a cultura hoje, inclusive no Brasil, mostra uma assustadora tendência para pôr em prática aquilo que Michel Foucault observou: o fato de que vivemos numa era de massas, que se procura superpor ao indivíduo sob o disfarce da palavra “coletivo, em que vigiar o outro – e, portanto, punir o outro1— virou regra. Mesmo em sociedades ditas democráticas. Como esta. A cultura, e com ela a sociedade, já interiorizou a idéia de vigiar e punir, que parece agora “natural”, “evidente”, “necessária” e “justa”. À direita como à esquerda do espectro político. A arte ainda não o fez. É preciso zelar para que não o faça. Estas são algumas lições do século 21 a que se deve ficar atento quando se projeta e se implementa qualquer programa de política cultural – em todas as instâncias, com todas as dimensões, para todo tipo de destinatário: 1) examinar com cautela a tese relativista de que tudo é cultura (e que tudo é bom em cultura); 2) não esquecer e não ocultar que a cultura não é necessariamente um depósito de positividades; 3) que cultura (e tudo que a compõe, como a identidade) é aquilo que muda, não aquilo que persiste (embora a

possibilita que você se distancie das coisas para observá-las melhor. Aí você consegue se aproximar mais dos problemas e encontrar as soluções. Acho que está havendo um crescimento do envolvimento dos jovens com a cultura. Eles estão se interessando mais pelas artes, porque é um jeito de se mostrarem, de tentarem definir uma identidade, de saírem do padrão para encontrar uma expressão própria. Por isso é bom quando a escola envolve os jovens com a cultura e a arte. Na escola pública em que fiz o ensino médio, o ensino de arte era menos do que o básico, e a prática, muito pouco. Fui conhecer os movimentos culturais e artísticos no curso profissionalizante de que participo atualmente. Pretendo trabalhar com ilustração e quadrinhos. Com essa arte, quero deixar o meu recado.”

cultura persista mais que a arte); 4) que na verdade a arte é uma exceção à cultura – e que a liberdade, a oporse a todas as formas do politicamente correto e dos hábitos de “bem pensar” em cultura e na arte, continua a ser o centro de uma Cultura forte e uma política cultural digna. 1 Michel Foucault, Vigiar e punir. Petrópolis, Vozes, 1977.

José Teixeira Coelho Netto é coordenador-curador do Museu de Arte de São Paulo - MASP. Professor titular aposentado da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, foi coordenador do Observatório de Políticas Culturais da USP e curador do Museu de Arte Contemporânea (MAC). É autor de vários livros, entre eles “O Que É Ação Cultural” (Editora Brasiliense), “Dicionário Crítico de Política Cultural (Editora Iluminuras) e “Cultura e Seu Contrário” (Editora Iluminuras)

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Ă‚ngulo 2

projeto juvenis

o mapa da

EXPRESSĂƒO Por _ Beatriz Azeredo e Angela Nogueira


UM LEVANTAMENTO DAS ATIVIDADES ARTÍSTICAS E CULTURAIS DESENVOLVIDAS COM JOVENS NO BRASIL REVELA GRANDE VIGOR E MUITOS DESAFIOS

Manos do HIP HOP,

MILA PeTRILO

de Uberlândia (MG), durante apresentação na Mostra Brasil 2010

O Brasil já se tornou uma referência internacional no campo das ações envolvendo arte e cultura e juventudes em processos de transformação social. Há um número expressivo de grupos e organizações que vêm mostrando, com as suas práticas, o enorme potencial da arte e da cultura de atrair os jovens e estimular processos educativos, abrindo caminhos para seu crescimento pessoal e sua inserção social e econômica. Além disso, registram-se novas formas de geração de renda para muitas destas organizações e as comunidades envolvidas. Este fenômeno não é privilégio dos grandes centros urbanos, onde, naturalmente, se concentram grande parte destas iniciativas. Elas florescem pelo País afora, em todas as regiões, tanto em cidades de grande e médio portes como em pequenos municípios, incluindo a área rural. Estas experiências ganham “cores” e “formas” diferentes de acordo com a história de cada comunidade, mobilizando os jovens, resgatando valores, saberes e tradições, e fortalecendo a cultura local. E contribuem de formas diversas para a ampliação do acesso dos jovens às manifestações artísticas e culturais, e a espaços de formação e capacitação. Diante deste fenômeno, pode-se ousar dizer que estas experiências representam um dos componentes mais inovadores no terreno das políticas públicas no Brasil e das ações da sociedade civil organizada. De fato, as diversas estratégias, arranjos institucionais e metodologias em curso apontam caminhos vigorosos de envolvimento da juventude, tanto pela sua força mobilizadora, pelos processos formadores a elas associados, como também pelo seu potencial econômico. Motivado por toda essa riqueza e potencial, o CEPP – Centro de Estudos de Políticas Públicas criou, em 2005, o Programa Juventude Transformando com Arte, com o objetivo de contribuir para identificar, fortalecer e divulgar grupos e instituições que trabalhem com arte e cultura, envolvendo jovens, com foco na transformação social. Para isto, há duas ações principais: a Mostra Brasil Juventude Transformando com Arte e o Mapeamento de Experiências Sociais com Arte e Cultura. A Mostra Brasil abre espaço para a divulgação da produção artística de qualidade destes grupos, com a oferta de condições técnicas profissionais de excelência em um teatro de grande porte no Rio de Janeiro. Na terceira edição, em agosto de 2010, a Mostra reuniu, em três noites de espetáculos, 430 participantes vindos

de grupos das diferentes regiões do País. A programação incluiu ainda oficinas, visitas culturais e seminário, apostando na importância do intercâmbio, do contato com outras realidades e outras linguagens artísticas, para os jovens participantes. O público presente, cerca de 1600 pessoas, comprovou a importância e a possibilidade de reunir pessoas de diferentes classes sociais em torno de espetáculos de grande qualidade artística, mostrando a força da nossa cultura e a energia da juventude. Já o mapeamento busca dar visibilidade a estas experiências de outra forma. Trata-se de construir um mapa das iniciativas sociais com arte e cultura envolvendo jovens no Brasil. A pesquisa, que integra na equipe jovens dos estados pesquisados, teve início na região Nordeste e se estende agora à região Sudeste, com o registro, até o momento, das experiências dos estados do Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo. Os resultados fazem parte do Banco de Experiências Sociais com Arte e Cultura, uma referência sobre o trabalho desses grupos para todos os que atuam na área de juventude, arte e cultura e transformação social. O banco de dados está disponível para consulta no site do Programa Juventude Transformando com Arte (www.juventudearte.org.br) e permite a busca, por meio de filtros, em cada estado. Há um conjunto expressivo de informações que possibilita um conhecimento amplo e sistematizado sobre este universo e, principalmente, permite discutir uma agenda para o fortalecimento destas ações, ampliando as condições de democratização do acesso dos jovens à cultura em geral e, em especial, aos meios de produção artística e cultural.

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Ângulo 2

Potenciais e fragilidades Os resultados da pesquisa mostram, em primeiro lugar, a potência deste universo: além da dimensão – são mais de 1200 experiências registradas –, observa-se um grande dinamismo, com a criação de novos grupos e, ao mesmo tempo, um forte traço de maturidade, pelo elevado grau de formalização destas organizações e o maior tempo de existência de muitas delas. Pelo menos 30% destes grupos tiveram início nos últimos 5 anos, e cerca de 40% existem há mais de 10 anos. Esta potência se expressa também no número de pessoas envolvidas e, ainda, nos resultados alcançados. São cerca de 980 mil pessoas diretamente inseridas nas atividades artísticas, em especial jovens de até 18 anos e moradores de comunidades de baixa renda. Em relação aos resultados, os coordenadores destes grupos e organizações apontam impactos fundamentalmente no campo da educação (desenvolvimento pessoal e social, melhoria no aprendizado escolar) e também no desenvolvimento comunitário (promoção e fortalecimento da identidade), na formação artística e capacitação, e na inserção econômica, tanto no mercado de trabalho em geral como no artístico e no próprio grupo. Observa-se, ainda, uma significativa capacidade de gerar receitas com as atividades artísticas, envolvendo mais de um terço dos mapeados, sendo que, na região Nordeste, este indicador alcança 40% dos grupos. Para uma parcela considerável dos que geram renda com as atividades artísticas, as receitas chegam a patamares bastante significativos na composição do seu orçamento, representando no mínimo 30% do total de recursos.

MAPEAMENTO DOS GRUPOS JUVENIS ENVOLVIDOS COM ARTES E CULTURA APONTA CONSTÂNCIA E CRESCENTE GERAÇÃO DE RENDA, MAS FALTA DE RECURSOS AINDA É PRINCIPAL DIFICULDADE Os dados também revelam uma expressiva riqueza e diversidade das linguagens artísticas utilizadas e da produção artístico-cultural desses grupos. Apesar de muitos adotarem uma linguagem principal como referência do seu trabalho, os grupos se utilizam de outras expressões no processo educacional e de formação artística. A música e a dança se destacam, seguidas de teatro, artes visuais, audiovisual, literatura e artesanato, esta última com maior presença na região Nordeste e no Espírito Santo. Metade dos mapeados já esteve envolvida na montagem de espetáculos e já desenvolveu coreografia própria. Registram-se, ainda, no que se refere a produtos artísticos, a montagem de peças teatrais, tanto de outros autores como com textos próprios, exposições, filmes, vídeos e curtas-metragens. Ao lado de toda esta potência e dinamismo, fragilidades. Chama a atenção o fato de que, apesar de já estarem na estrada há algum tempo, a maioria das iniciativas sobrevive com muito pouco recurso, tem pouco acesso a fontes de incentivos fiscais e é comum a interrupção das atividades, principalmente por falta de recursos financeiros. Pouco mais de um terço dos grupos contou com até R$ 10 mil por ano (ou no máximo R$ 830/mês), sendo que, na região Nordeste e no estado do Espírito Santo, esta é a situação de metade dos grupos mapeados. Esta contradição entre maturidade, expressa no tempo de existência e no grau de formalização, e fragilidade financeira indica uma enorme capacidade de resistência dos grupos e organizações, que se utilizam de diversas estratégias, dentre elas o forte envolvimento de voluntários em suas equipes. Com relação ao perfil de financiamento destas iniciativas, observa-se em geral uma forte presença dos governos, em especial as prefeituras, que são importantes parceiros financeiros para uma parte expressiva dos grupos. Em todas as regiões mapeadas, no mesmo patamar de importância, estão as contribuições de pessoas físicas, como comerciantes e pessoas da comunidade. Nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, registra-se um maior investimento por parte de entidades privadas (empresas, fundações e institutos), sendo este grupo o que se destaca como principal parceiro financeiro no Rio de Janeiro. A pesquisa evidenciou, ainda, o enorme isolamento da maioria destes grupos, que estão restritos aos limites geográficos de sua própria comunidade e das comunidades vizinhas, tanto para apresentar seus resultados artísticos quanto para conhecer e interagir com grupos similares.


Os novos caminhos que se abrem Como aproveitar toda esta potência que os resultados da pesquisa nos mostram? Esta questão está diretamente relacionada às possibilidades de sustentabilidade destas iniciativas. E o cenário que se apresenta expressa a urgência em se formularem políticas públicas e se articularem os investimentos privados, na direção do fortalecimento dos grupos, para garantir de fato a democratização do acesso dos jovens à cultura em geral e a oportunidades de produção artística. Este universo mapeado representa uma enorme oportunidade para as políticas públicas. Muitas destas experiências já desenvolvem atividades em parcerias com instituições públicas e a grande maioria aponta que está contribuindo, de alguma forma, com as políticas públicas. Isto se dá em geral na parceria para formulação e implementação de programas nas áreas de cultura, educação e juventude. Ao definir políticas voltadas a garantir a democratização do acesso à cultura para os jovens, os governos podem e devem aproveitar esta rede em potencial que já existe. Há muita experiência acumulada, metodologias desenvolvidas e um grande número de profissionais envolvidos. E, sobretudo, há uma forte disposição para a colaboração.

ARQUIVO PESSOAL

Apenas metade dos grupos mapeados tem oportunidades de sair do seu próprio município e, no máximo, um terço deles se apresenta em outros estados. Fica claro, portanto, o grande potencial para construção de agendas de intercâmbio, evidenciando-se a demanda por acesso a espetáculos fora das regiões de origem e a disposição em trocar experiências por meio, em especial, de oficinas. Por fim, foram mapeadas as principais necessidades dessas instituições, que estão relacionadas à infraestrutura e a aspectos organizacionais: mais da metade aponta a demanda por custeio das atividades e por equipamentos e materiais; em seguida, vem a importância de melhorar o espaço físico e a qualificação da equipe.

Natália Oliveira Moreira, 19 anos,

é estudante de História da Arte na Unifesp e aluna da SP Escola de Teatro, onde participa do programa de aprendizes, no curso de atuação “Eu acredito no potencial da arte para abrir caminhos para os jovens. Dentro da escola, as várias formas de arte podem fazer o aprendizado das disciplinas mais atraente, dar a elas um

Mais do que isto, é preciso aportar recursos que garantam processos educativos de qualidade. E também é necessário investir na qualidade do produto artístico, estratégia fundamental para que estes grupos fortaleçam a própria linguagem, ganhem visibilidade no seu trabalho e atraiam a atenção do grande público. Tudo isto requer investimentos na consolidação e difusão de metodologias, na capacitação dos profissionais, na promoção de intercâmbio com grupos mais maduros e experientes e com artistas profissionais. É importante que os jovens integrantes destes grupos possam transitar além do seu eixo de atuação e entrar em contato com outras culturas e experimentar outras linguagens. Outro campo de investimento necessário está relacionado à oferta de espaços e infraestrutura, para que a produção artística destes jovens possa surgir, se aprimorar e ser difundida. É fundamental a oferta de equipamentos públicos que promovam a integração social e cultural da juventude e que estimulem a produção artística de jovens. Espaços onde a juventude se veja como protagonista e para onde possam trazer os sinais das identidades contemporâneas e da realidade que vivem e desejam transformar. Por último, não dá para falar em juventude, arte e cultura sem falar em educação. Como pensar a formação de cidadãos livres, autônomos e criativos com a situação educacional dos jovens? Basta citar um dado: apenas pouco mais da metade (55%) dos jovens brasileiros de 15 a 17 anos tem ensino fundamental completo. Sem entrar neste

contexto cultural mais amplo. Mas, na prática, isso depende de como a arte é apresentada ao jovem, de como ele é inserido nesse universo. Nunca tive nada disso nas escolas públicas que frequentei. Fiz o ensino fundamental numa escola pública regular e o ensino médio numa escola técnica, também pública. Na primeira, não havia abertura alguma para arte, o menor interesse em explorar isso, nenhum incentivo. O máximo era um desenho no papel. No ensino médio, também não tinha muito incentivo, mas encontrei pelo menos mais opções: fiz um curso profissionalizante de museologia. Eu faço teatro desde os 15 anos. Quero ser atriz e agora resolvi me profissionalizar. No curso, estou me aperfeiçoando e construindo parcerias para o futuro. Na universidade, procuro fundamento, substância, para minha atuação profissional.”

tema tão complexo, vale lembrar que a escola é um espaço privilegiado para se estabelecerem processos multidisciplinares e integradores. O que se observa, no entanto, é a existência de uma baixa articulação das redes públicas de ensino com as políticas públicas de cultura. É preciso avançar na articulação entre a política educacional e a política cultural, para contribuir com o desafio de garantir o acesso e a permanência dos jovens na escola, oferecendo uma educação de qualidade em toda a sua trajetória escolar e abrindo caminhos para o seu futuro. Beatriz Azeredo é doutora em Economia, professora do Instituto de Economia da UFRJ, diretora do CEPP – Centro de Estudos de Políticas Públicas e do Instituto Desiderata Angela Nogueira é engenheira de produção e mestre em Administração, pesquisadora do CEPP e coordenadora do Mapeamento de Experiências Sociais com Arte e Cultura e da Mostra Brasil (www.juventudearte.org.br)

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o sujeito da frase

“A ARTE DIZ AO JOVEM QUEM ELE É” Muitas idéias na cabeça, uma câmera numa mão e um projetor na outra – essa poderia ser uma síntese da trajetória da diretora de cinema e teatro Laís Bodanzky. No início dos anos 1990, ao mesmo tempo em que iniciavam sua produção de filmes de curtametragem, ela e o parceiro, o diretor e roteirista Luiz Bolognesi, criaram também o Cine Mambembe, projeto que consistia em levar no próprio carro um projetor para os mais variados pontos da cidade de São Paulo e exibir filmes para platéias sem acesso às salas de cinema. Dos curtas, como “Cartão Vermelho”, Laís passou ao longas, começando pelo premiado “Bicho de Sete Cabeças”, de 2001, incluindo “Chega de Saudade”, de 2008, e, neste ano, “As Melhores Coisas do Mundo”, sobre as atribulações de Mano, adolescente de classe média que estrela uma série de livros escrita por Gilberto Dimenstein e Heloisa Prieto. O filme, roteirizado por Bolognesi, mostra Mano enfrentando a separação dos pais e os terremotos emocionais típicos da adolescência, como a descoberta da sexualidade e as ruidosas relações com o grupo, hoje amplificadas pelas novas tecnologias a volumes que podem ser devastadores. Enquanto Laís consolidava sua carreira, incluindo a direção de peças teatrais, o Cine Mambembe também cresceu, multiplicando-se em três projetos: o Oficinas Tela Brasil, que oferece cursos de formação para que jovens façam seus próprios filmes; o Cine Tela Brasil, com duas salas de exibição itinerantes, na forma de tendas, que já acolheu mais de 600 mil espectadores; e o Portal Tela Brasil, que oferece, pela internet, formação e informação sobre o universo audiovisual brasileiro. O esforço para manter os projetos de acesso e difusão do audiovisual derivam da convicção de Laís de que cultura e educação não se separam. “O importante é criar repertório, e é na infância e na adolescência que temos tempo pra isso”, diz. “Adultos e educadores devem oferecer esse repertório e a percepção de que o mundo das artes não é só entretenimento, mas provoca a reflexão e a compreensão de quem sou eu.” Em entrevista a Onda Jovem, a diretora avisa aos educadores que queiram trabalhar com audiovisual como conteúdo pedagógico que o Portal Tela Brasil (www.telabr.com. br) terá, a partir do próximo ano, um canal específico para professores. A seguir, os principais trechos da entrevista:

A DIRETORA DE CINEMA E TEATRO LAÍS BODANZKY, COM OBRAS SOBRE ADOLESCÊNCIA E PROJETOS DE FORMAÇÃO E DIFUSÃO DO AUDIOVISUAL, NÃO SEPARA CULTURA DE EDUCAÇÃO

Por _Josiane Lopes


Laís Bodansky, diretora do filme “As Melhores Coisas do Mundo”, sobre adolescentes, dirige também projetos para a formação de jovens e a difusão do audiovisual no Brasil

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ONDA JOVEM: O que a levou a filmar “As Melhores Coisas do Mundo”? Este foi um projeto muito especial, que surgiu de um convite. Quando penso sobre por que me convidaram, acho que talvez seja porque eu tivesse dirigido o filme “Bicho de Sete Cabeças”, que trata do universo da loucura, mas também da relação entre pais e filhos, com um personagem que é um adolescente. Também havia dirigido a peça “Essa Nossa Juventude”. Já havia essa relação com o tema. O convite era para criar uma nova história, a partir da série de livros “Mano”, de Gilberto Dimenstein e Heloísa Prieto. Então, fui a campo, pesquisar, fazer entrevistas com estudantes, para poder ter o diálogo mais verdadeiro, mais sincero possível com estes adolescentes. E o que você descobriu sobre estes jovens? Eles são muito diferentes das gerações anteriores? Descobri que adolescentes são adolescentes em qualquer lugar e que as questões não são tão diferentes da minha própria adolescência. As questões da adolescência são atemporais. Alguns aspectos dos personagens podem ser mais característicos dos jovens de classe média dos grandes centros. Quais seriam os traços que provavelmente são comuns a todos os jovens? Fiz a pesquisa em escolas particulares porque precisava ser fiel ao personagem dos livros, o Mano, que estuda em escola particular, tem pais muito intelectuais. Procuramos escolher escolas com propostas diferentes, umas mais liberais, outras com outros perfis, embora todas particulares. E fizemos a pré-estréia para um público de 800 adolescentes de escolas públicas do Rio de Janeiro, cheios de dúvidas: será que eles vão dizer “isso não tem nada a ver comigo”? Foi um sucesso! Eles adoraram. Porque as questões são as mesmas: quem eu sou; a descoberta da identidade e da vida, que coloca situações das quais você não tem como escapar; o medo de não ser aceito pelo grupo, medo que acaba fazendo com que o grupo

“Uma das expressões da cultura são as artes. Elas “vestem” o que somos. Como o adolescente precisa saber quem ele é, a arte se torna muito importante”

Para Laís Bodanzky, as novas tecnologias fazem diferença na forma e na intensidade com que os adolescentes vivenciam as questões, mas não na sua essência: “As questões da adolescência são atemporais”.

também exclua. São todas questões típicas dessa fase do amadurecimento. Afinal, o fato de terem crescido com as novas tecnologias de informação torna a juventude contemporânea muito diferente das anteriores? Existe mesmo uma barreira entre as gerações mais velhas e estes jovens? As tecnologias fazem diferença, sim, não seria correto dizer que não. Acho que as questões não mudam, mas, sim, a forma e a intensidade. As tecnologias trouxeram coisas inusitadas e interessantes, e outras nem tanto. Por exemplo, o bullying. Ele sempre existiu, não existia o nome, mas na minha infância já havia. Mas hoje, por causa das novas formas de comunicação, ele extrapola a sala de aula, a escola, o bairro, a cidade. Essa invasão é avassaladora e acontece como um pesadelo que só os jovens de hoje sabem como é. Para o adolescente, isto tem outro peso, porque é um momento de muita insegurança, e quando sua individualidade é exposta, ele fica muito fragilizado. Nós, adultos, não temos como dimensionar isso, porque a intensidade, pra nós, era diferente. Mas tem outro lado, legal, que é a possibilidade de encontrar seus pares, que é o que os adolescentes mais querem. Isso acontece na internet. Num momento em que ele pensa “eu sou diferente de todo mundo”, ele tem como encontrar seu grupo, e isso pode parecer um colo.

O filme se passa quase o tempo todo dentro da escola. Qual é hoje o papel da escola na vida dos jovens? O filme se passa na escola porque a pesquisa mostrou que os adolescentes passam a maior parte do seu tempo nela. Eu não tinha percebido isso. É claro que o grupo familiar conta, mas a escola é muito importante. E acho que a escola também ainda está patinando neste aspecto, não está preparada para questões que são muito sérias. Acho que estamos todos pensando sobre isso. Há uma angústia entre os educadores, que percebem isso, mas ainda não houve tempo para amadurecer todas estas mudanças. O Mano, protagonista do filme, é um adolescente que está aprendendo a tocar violão. Como você vê a relação da juventude com as artes? Qual a importância da arte nesta etapa da vida? Uma das expressões da cultura são as artes. Elas “vestem” o que somos,


rantes e que viaja cada vez mais para escolas. O portal levou tudo isso para a internet.

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Como você vê o panorama atual quanto ao acesso aos produtos e aos meios de produção artísticos e culturais no Brasil? Eu entendo que a pirataria existe, embora eu não concorde com ela, porque existe desejo. Veja o “Tropa de Elite 2”, que conseguiu evitar a pirataria e levar milhões aos cinemas porque “Tropa de Elite 1” plantou o desejo. Então, existe desejo. Mas é claro que o ingresso ainda é caro e em muitas partes do Brasil não há salas, e aí se vive o consumo informal.

como o abstrato que se materializa, num corte de cabelo, numa música, numa arquitetura. Como o adolescente precisa saber quem ele é, a arte se torna muito importante. Outro dia, um garoto me mostrou a lista de músicas prediletas dele e disse que, olhando a lista de seis meses atrás, ele viu como havia mudado. Isso o ajuda a se ver. A arte diz ao jovem quem ele é. E quanto ao consumo e produção de arte e cultura pelos jovens? Há características próprias dos jovens contemporâneos? Os jovens se apropriaram com muita facilidade das novas tecnologias de produção e divulgação. Talvez as gerações anteriores produzissem muito também, mas agora há canais de divulgação, como o YouTube, onde aparece muita gente boa. Eles utilizam muito bem esses canais, sem grandes pretensões de atingir o mercado, o que é legal porque traz muito frescor.

O tema do acesso e da produção sempre estiveram presentes em sua trajetória, por meio de vários projetos. Por quê? Eu não separo cultura de educação. O importante é criar repertório, e é na infância e na adolescência que temos tempo pra isso e também não temos a rigidez de pensamento que o andar da vida vai acarretando. Adultos e educadores devem oferecer esse repertório e a percepção de que o mundo das artes não é só entretenimento, mas provoca reflexão e a compreensão de quem sou eu. E essa formação não pode ficar restrita ao mundo da escola. Tem de ir ao cinema, ter a experiência na sala escura, com outras pessoas. É papel dos educadores mergulhar os jovens no ambiente das artes, como elas são na vida real. Como foi a criação do Cine Mambembe? E do Oficina Brasil, do Tela Brasil e do Portal Brasil? Com o amadurecimento dos projetos, agora está mais claro que o importante é a formação. O Cine Mambembe começou com a ação mais romântica, levando o projetor, Luís e eu. Mas o retorno do contato com as pessoas era tão rico, com visões tão surpreendentes, tão elaboradas, que o que faltava era mesmo formalizar. E aí passamos para as oficinas e para o Cine Tela Brasil, que tem duas salas itine-

Qual tem sido a contribuição das políticas públicas nesta área? Existe uma consciência das necessidades, há projetos e até já há uma linha de crédito, mas ainda falta acontecer. O Brasil tem um potencial enorme de economia criativa, mas ainda não atingiu sua plenitude. E qual deve ser a contribuição das escolas? Olha, a França integrou o cinema ao currículo. Os estudantes têm caderno de química, de geografia e de cinema. E eles vão às salas de cinema, num acordo com as redes exibidoras. Depois, isto é discutido na escola, não só para aprender mais geografia, de forma interdisciplinar, que é legal também, mas eles vão além disso. Faz-se um grande debate, sem que o professor interfira, como se fosse uma grande terapia. Tudo isso é para formar um cidadão crítico e que saiba se expressar. Vejo às vezes que as pessoas têm muita dificuldade para se expressar. E isso os franceses sabem fazer: se expressar de forma crítica. E os educadores brasileiros? Faço um convite a todos que desejem trabalhar com audiovisual, para que visitem o Portal Tela Brasil (www.telabr.com.br), que a partir do próximo ano terá um canal específico para professores.

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luneta

REPERTÓRIO EM

TRANSIÇÃO Por _ Cristiane Ballerini Fotos _ Márcia Zoet


márcia zoet

Em meio a centenas de jovens, eles se destacam. Um deles, por ter visto (e adorado) um filme iraniano. Outro, por ler Clarice Lispector. Mais um, por citar uma peça de teatro. Nas pesquisas da educadora Rosa Maria Fischer, que há oito anos se dedica a estudar as relações entre mídia, cultura e juventude, poucos são aqueles que declaram ir além do blockbuster do momento. A ponto de a pesquisadora guardar seus rostos na memória. Nos últimos anos, a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul esteve à frente de vários estudos. Em um deles, entrevistou 370 jovens, entre alunos de ensino médio, das escolas públicas e privadas de Porto Alegre (RS), além de universitários dos primeiros anos de pedagogia e psicolo-

AS NOVAS TECNOLOGIAS DE PRODUÇÃO E DIFUSÃO DA ARTE E DA CULTURA ESTÃO COLOCANDO EM XEQUE O DOMÍNIO DA INDÚSTRIA CULTURAL DE MASSA NA FORMAÇÃO DOS JOVENS

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gia. Um grupo com idade entre 15 e 24 anos. “Os resultados mostram que os jovens têm uma série de vivências com produtos culturais, como os veiculados pela TV e pelo cinema. Mas, normalmente, são produtos da grande mídia. Entre as referências mais citadas, por exemplo, estão o filme ‘American Pie’ e a série ‘Hanna Montana’. Isso indica que os apelos da indústria cultural de massa ainda surtem efeitos”, relata Rosa Fischer. Segundo a especialista, um dos entraves para a expansão da vivência artística e do repertório cultural dos jovens é a falta de oportunidade de contato com outras linguagens e conteúdos, em especial na escola. No ensino médio, quando as atenções normalmente se voltam para o ves-


tibular e o futuro profissional, a arte e a cultura quase sempre são vistas de forma utilitária. “A concepção de arte na escola está muito ligada a um valor instrumental. Arte e cultura são usadas para ensinar conteúdos, como trazer contexto a um período histórico. Mas onde está o espaço para a fruição? Onde está o espaço para o aluno experimentar ‘fazer arte’?”, questiona Rosa. A pergunta da pesquisadora, por enquanto, não encontra um coro de respostas consensuais. E mudar o paradigma que faz do conhecimento da arte e da cultura apenas acessório pedagógico não é missão das mais simples. No entanto algumas iniciativas ainda isoladas podem inspirar o sistema educacional e contribuir para torná-lo mais sensível a questões como esta. Como o projeto “Aluno Artista”, realizado pela Comissão de Ação Cultural da Reitoria da Unicamp -Universidade Estadual de Campinas. Interessada em apoiar as atividades artísticas dos alunos, a universidade lançou o projeto no início deste ano, através de um edital. Inicialmente, a comissão avaliadora iria escolher seis propostas, mas a qualidade dos 200 trabalhos inscritos surpreendeu e dez grupos foram escolhidos para receber apoio financeiro e acadêmico. O resultado é apresentado nos espaços do campus, que passa a oferecer shows musicais, peças de teatro e exposições durante vários meses. “Temos a perspectiva de colocar em circulação pelo campus uma pro-

gramação rica – o que em uma cidade como Campinas, com poucos espaços culturais, é fundamental. Além disso, o projeto representa oportunidades de aperfeiçoamento e até de início de profissionalização para alunos que já atuam em alguma atividade artística”, diz o professor Eduardo Guimarães, coordenador da Comissão de Ação Cultural da reitoria. O projeto capitaneado pela Unicamp talvez seja de difícil aplicação no ensino médio, mas, para o professor Eduardo, suas premissas podem inspirar os gestores do ensino público: “Se a escola ousasse mais, a cultura deixaria de ser algo somente para aqueles que podem comprar”. Hegemonia cultural ameaçada Embora as pesquisas apontem certa submissão dos jovens à indústria cultural de massa, esse domínio começa a dar sinais de esgotamento e pode estar com os dias contados, especialmente em algumas áreas. A música é o exemplo mais evidente dessa mudança. Com a internet, a possibilidade de baixar músicas pelo computador e também de lançar bandas e novas sonoridades por intermédio da rede mundial se tornou uma realidade. A indústria fonográfica já não controla

o que os jovens ouvem. Ao contrário, é a indústria que, agora, corre atrás das tendências ditadas por eles. “Estamos experimentando um período de transição. Hoje, o jovem está muito mais ‘empoderado’ para escolher e buscar o que lhe interessa, fazer suas próprias descobertas e trocas pelo meio digital”, diz Paula Porta, historiadora e consultora da Unesco para a política de preservação do patrimônio cultural no Brasil. Paula, que foi assessora especial do ex-ministro Gilberto Gil no Ministério da Cultura, acompanhou de perto a expansão dos Pontos de Cultura nas comunidades de todo o Brasil. O programa tem, entre suas metas, incentivar o compartilhamento de conteúdo por meios digitais. Os jovens são os principais participantes. Mais do que o acesso à diversidade de conteúdos, tecnologia também significa acesso aos meios de produção. Com mais recursos ao alcance das mãos, muitos jovens, mesmo em comunidades desfavorecidas, começam a experimentar várias formas de expressão artística – audiovisual, música, artes plásticas. “É uma revolução incrível”, diz Paula Porta. Um outro aspecto revelado pelo avanço do uso do computador, mais precisamente das redes sociais, é o apego dos jovens às “narrativas”. O exercício narrativo está presente nas postagens diárias, nas conversas pelo MSN, Orkut, nos blogs. E, segundo a pesquisadora Rosa Maria Fischer, isto demonstra a im-


portância das narrativas para este público. “Essa seria uma grande janela para a escola oferecer mais contato com narrativas ficcionais em todas as linguagens – teatro, cinema, TV. Mas isso acontece pouco”, lamenta. A educadora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul aposta na formação dos professores como um dos caminhos para mudar essa realidade. Afinal, o próprio professor é carente de referências culturais que ampliem horizontes: “Apenas criar uma programação cultural compulsória na escola não dará aos educadores a chance de trabalhar mais profundamente um repertório que faça sentido e toque os jovens”. Novos espaços e saberes A ideia de que “lugar” de cultura é somente no museu já não faz parte do senso comum há algum tempo. Há saraus de poesia em botecos, espetáculos de dança nas comunidades, exposições de fotos no metrô. Essa valorização de novos espaços culturais é um dos atalhos que pode favorecer o repertório cultural dos jovens. “A escola, no entanto, nem sempre se abre aos espaços públicos de socialização e cultura”, diz o educador Tião Soares, diretor da área de cultura e relações institucionais da Fundação Tide Setúbal. À frente de atividades culturais que envolvem a comunidade e as escolas públicas da região de São Miguel Paulista há cinco anos, como um festival de literatura e exibições de filmes, Tião acredita no poder transformador da experiência cultural: “Há muitas pessoas na comunidade onde atuamos que sabem dançar, mas nunca foram a um espetáculo de dança. Depois de ter essa chance, se tornam pessoas diferentes, vislumbram outro mundo possível onde elas têm direito de acesso à arte e, mais, podem também ser valorizadas por sua cultura”. Para tornar este ideal uma realidade, o educador defende uma escola menos burocrática, com mais disposição para ouvir, em vez de somente passar conteúdos. Foi justamente a possibilidade de

A TECNOLOGIA AMPLIA O COMPARTILHAMENTO DE CONTEÚDOS E O ACESSO AOS MEIOS DE PRODUÇÃO. OS JOVENS TÊM, ENTÃO, MAIS PODER DE ESCOLHA E DE EXPRESSÃO

estabelecer trocas entre o saber acadêmico e outros saberes que levou a historiadora Heloisa Buarque de Holanda, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a desenvolver o projeto Universidade das Quebradas. Há dezessete anos, Heloisa realiza pesquisas de campo nas comunidades do Rio e está familiarizada com a riqueza cultural das periferias: “São lugares cheios de intelectuais, artistas, gente que tem muito a dizer. Mesmo depois de tantos anos de trabalho nesse universo, me surpreendi com a capacidade de reflexão e a qualidade artística das pessoas que fui encontrando.” O que faltava a boa parte dos produtores culturais e artistas citados pela historiadora era a oportunidade da educação formal. Assim, com o objetivo de atender a esse público que não teve acesso ao ensino superior e, mesmo assim, realiza trabalhos importantes na área cultural, foi criada a Universidade das Quebradas. Seus alunos – atores, rappers, produtores culturais, cineastas – têm aulas regulares com os professores da UFRJ sobre conteúdos importantes para a formação na área, desde estudos sobre a Antiguidade até os movimentos artísticos contemporâneos. O projeto começou há dois anos com uma turma experimental de 25 alunos e já está na segunda edição. No próximo ano, serão selecionados 40 alunos no Rio, e está sendo elaborada uma versão virtual do programa, com aulas a distância. “Estamos interessados

em atuar para que a universidade quebre as barreiras que a separam dos contextos onde está inserida e seja possível produzir conhecimento novo a partir do entrelaçamento dos repertórios diferentes. Para todos os profissionais da universidade, é um aprendizado”, diz Heloisa. Com relação ao repertório cultural dos jovens, a historiadora observa que as escolas públicas deveriam também dar aos alunos a oportunidade de se tornarem usuários dos equipamentos culturais da cidade. Muitos dos alunos que hoje estão na Universidade das Quebradas e frequentaram a escola pública nunca foram, por exemplo, aos museus gratuitos. “A população da periferia tem, em geral, a ideia internalizada de que esses lugares são para a elite. Então, a escola pode ajudar promovendo deslocamentos territoriais para que, desde cedo, crianças e jovens passem a usufruir, pelo menos em parte, da programação cultural de suas cidades e regiões”.

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ciĂŞncia


os ciRcUiTos DA

ARTE

Por _ Frances Jones Ilustração _ Henrique Jorge

A pele arrepia, o coração bate mais rápido e um suor em geral imperceptível emana do corpo. Essas são algumas das reações físicas involuntárias quando nos emocionamos ao ouvir determinado concerto ou assistir a uma peça de teatro. Apesar de os cientistas ainda terem muito a revelar sobre as bases neurais especificamente envolvidas no processo criativo e na apreciação de uma obra de arte, a emoção que sentimos ao desfrutar de uma experiência artística já foi bem registrada pela ciência. “Podemos medir isso de formas bem simples, por exemplo, a partir de equipamentos que registram o aumento de condutância da pele, a aceleração imperceptível dos batimentos cardíacos, pela mensuração de determinadas substâncias, como neuro-hormônios, na saliva, além, é claro, do relato individual, subjetivo”, diz a neurocientista Maira Fróes, professora adjunta do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cientistas do Instituto de Fisiologia Musical e Medicina da Música da Escola Superior de Música e Teatro de Hannover, por exemplo, pesquisaram quais trechos de peças musicais provocavam arrepios em seus apreciadores e de que forma. Entre elas, a sinfonia número 9, de Beethoven, e o Bolero, de Maurice Ravel. O Sistema Nervoso Autônomo (SNA), que controla as funções básicas do corpo, como batimentos cardíacos, temperatura corporal e pressão arterial, é sensível às emoções. Assim, sem que tenhamos consciência nem controle sobre isso, nosso coração dispara, ou começamos a suar ao ouvir determinados trechos das músicas. Os pesquisadores alemães liderados por Eckart Altenmüller partiram do pressuposto de que os estremecimentos (arrepios) fazem parte de uma sinalização biológica primitiva, intrínseca à evolução de certos primatas. Quando mãe e filho perdem contato visual, o simples grito da mãe faz os pelos dos bebês

eriçarem, mantendo aquecida a pele do bebê. Da mesma forma, determinadas músicas ativariam o centro de recompensa do cérebro humano, proporcionando uma sensação de bem-estar. Sabe-se que a música ainda provoca a liberação do neurotransmissor endorfina, substância química produzida pelo próprio cérebro que causa sensação de relaxamento, prazer e bem-estar.

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POR meiO de PROcessOs neuROlÓgicOs muitO cOmPleXOs, a PROduÇÃO e a FRuiÇÃO aRtística cRiam uma esPécie de atalHO na PeRcePÇÃO Humana, caPaZ de tRansFORmaR estímulOs FísicOs em emOÇÕes


a aPReciaÇÃO da aRte se RelaciOna também cOm memÓRias, indiViduais e da esPécie. a mÚsica, POR eXemPlO, POde eRiÇaR nOssOs PelOs, cOmO a VOZ da mÃe FaZ cOm O FilHOte, PaRa que ele se sinta aquecidO

Diferenças subjetivas Não é apenas o estímulo sonoro da música que nos emociona, mas todas as formas de arte, e muitos neurocientistas têm se interessado pelos mecanismos neurológicos subjacentes à arte. Entre eles, está Semir Zeki, chefe do Laboratório de Neurobiologia da University College London, para quem a arte e suas diferenças na criação e na apreciação são uma expressão de uma das características mais importantes do cérebro humano: a variabilidade. Ele cunhou o termo “neuroestética” e acredita que o artista é ‘um neurocientista que, usando instrumentos diferentes, explora o potencial e as habilidades do cérebro.

“A variabilidade confere enormes vantagens: enriquece nossa cultura de forma imensurável e é um fator chave na evolução das sociedades humanas”, escreve Zeki no artigo “Artistic Creativity and the Brain” (criatividade artística e o cérebro), publicado na revista Science, em 2001. Zeki busca localizar as regiões do cérebro associadas à beleza usando técnicas de imageamento por ressonância magnética (fMRI) e propõe que a ambiguidade seja uma característica distintiva das grandes obras de arte. Apesar de ele ser uma referência na área, suas posições estão longe de serem consensuais. Já o neurologista indiano V.S. Ramachandran, da Universidade da Califórnia em San Diego, defende que “toda arte é uma caricatura”, no sentido de que toda forma de arte apresenta uma distorção em alguma dimensão: na cor, como no caso dos pintores impressionistas, ou na forma, no caso das esculturas hindus. “O propósito da arte é aumentar, transcender, ou até mesmo distorcer a realidade”, diz ele no artigo “The Science of Art: a neurological theory of aesthetic experience”, publicado em 1999 no Journal of Consciousness Studies. “Quer consideremos imagens, quer obras musicais, são os recursos de contraste e destaque, as possibilidades de combinação e agrupamento, de seleção de módulos ou sistemas, ou de identificação de ordens metafóricas que vêm se revelando fortes enunciadores do êxtase neurocognitivo-emocional atrelado à experiência artística”, acrescenta a professora Maira Fróes, que também é integrante da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento e está à frente de um grupo de pesquisa multidisciplinar que atua na interface arte/ciência intitulado “Anatomia das Paixões”.


Vias da percepção Há hoje identificados dois tipos de processamento das sensações a partir dos órgãos dos sentidos. O primeiro é o chamado “de baixo para cima”, pois acontece no sentido dos órgãos (olhos, ouvidos, pele, etc.) para os centros de processamento neurais primários, no cérebro, criando as sensações primárias. Em seguida, num controle dito “de cima para baixo”, “os estímulos percebidos e já identificados primariamente como sensações, no cérebro, sofrem modificações recursivas graças à atividade deflagrada em diferentes áreas e circuitos distribuídos pelo encéfalo como um todo, o que lhes confere camadas de significação complexas, contextualizadoras, isto é, que nos permitem associações com eventos e dados do acervo de memória individual, identificação de padrões e julgamentos”, afirma Maira. Nesse segundo tipo de processamento, “de cima para baixo”, diz ela, conferimos valores emocionaisafetivos, bons ou ruins. O mecanismo modula nossa atenção e o modo como projetamos para o mundo externo o que é percebido e elaborado conscientemente sobre o estímulo físico original. “Esses dois sistemas de processamento perceptual em humanos, confirmados pela ciência, nos mostram que a percepção é um processo ativo, subjetivo, seletivo-atencional, pois envolve um ‘julgamento’ cerebral também ativo sobre si próprio, modulando a vivência subjetiva da realidade física de forma bastante sofisticada”, resume Maira. Isso explica em parte porque cada um de nós vive de forma tão diferente as experiências relacionadas a uma obra de arte: depende do quanto uma determinada obra é capaz de evocar significado em cada um. “Nossa mente, dada a subjetivação a que

estamos presos em nossa transdução da realidade física para a única realidade a que temos acesso direto, a subjetiva, é uma grande criadora de metáforas”, afirma Maira. “O simbolismo presente na arte, a meu ver, nada mais seria do que a transdução do simbolismo mental e subjetivo do indivíduo artista para o mundo dos fatos objetivos.” “Na medida em que a expressão de arte trabalha em níveis de significação, e não de objetos propriamente ditos, seu impacto é justamente por prover, como nenhuma outra categoria elementar do mundo físico, objetivo, um poderoso atalho entre a percepção objetiva, técnica, e os sistemas neurocognitivos complexos, que atuam nos processamentos de cima para baixo e que fazem a significação em todos os aspectos subjetivos da experiência do homem com a obra de arte”, acrescenta a professora. Força transformadora? Para o pesquisador André Tavares, professor de História da Arte da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a arte é uma espécie de ficção humana, “uma seleção que extrai do mundo partes às quais esse personagem que é o artista deseja conferir um sentido ou um significado afetivo”. “Acredito que os nossos receptores para os objetos de arte sejam, para além dos sentidos, um conjunto de memórias afetivas que vão sendo formadas ao longo da vida”, diz ele. “E o interesse pela arte amplifica nossa capacidade de sentir e de nomear os estados de espírito.” Além de ser um ato de comunicação, capaz de registrar momentos e preservar memórias, a arte traz prazer para quem a produz e a recebe, afirma o pesquisador. “Não apenas como o reconhecimento de formas belas, mas o prazer em identificar o processo de seleção,

a lógica, qualquer que seja ela, de que se vale o artista, ou o artesão na composição de seu objeto, ou na realização da obra artística em largo espectro”, diz. E a arte seria capaz de transformar a espécie humana? O acúmulo de experiências artísticas poderia, em tese, criar uma humanidade privilegiada e mais refinada em termos de capacidade intelectual e afetiva, afirma Tavares. “Mas esta é apenas uma das utopias a que a arte sempre esteve associada. Resta saber se essa transformação atingiria a todos de modo similar, ou se criaria grupos de indivíduos mais ou menos suscetíveis a essas manifestações”, diz ele. No Brasil, por exemplo, “há fomento e uma excelente produção artística, mas a circulação da produção de arte e o acesso a esses objetos ainda são limitados a determinados setores da sociedade”. Para a neurocientista Maira Fróes, em termos biológicos, é a evolução – e não a arte – que transforma a espécie. Atualmente, entram nesse jogo ainda as pressões positivas da ciência sobre a saúde e as profundas modificações ambientais que trazem consequências à saúde. À arte, estaria reservado o papel de inspiradora para a consciência e para a ciência. E aí, sim, ela teria o poder de transformar e conceber um “novo homem”.

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chat de revista

QUATRO JOVENS DEBATEM SEU ENVOLVIMENTO COM AS DIFERENTES EXPRESSõES ARTíSTICAS

ARTE nA

VALDERINO SILVA

ARQUIVO PESSOAL

cabeça micHellY batista da silVa,

ROmáRiO XaVieR tORRes,

17 anos, cursa o 3º ano do ensino médio no Rio de Janeiro

16 anos, faz o 2º ano do ciclo médio em arraias (tO)


Diz um verso de Manoel Bandeira que “a arte é uma fada que transmuta e transfigura” o destino. Para muitos jovens brasileiros, a frase do poeta cai como profecia. As artes, que a internet tornou mais acessíveis, têm sido para as novas gerações um dos principais instrumentos de aproximação com a educação e a cultura. Quatro jovens, estudantes de ensino médio e envolvidos com artes diversas, trocam aqui impressões sobre o tema. Diogo de

Oliveira Lopes, 19 anos, cursa o 2º ano. Ele participa há sete anos do projeto Aprender com Arte, da Fundação Raimundo Fagner, em Fortaleza (CE). “Tudo que aprendi na Fundação é a base do meu desenvolvimento, pessoal e social”, diz. Para o quilombola Romário Xavier Torres, 16 anos, também no 2º ano do ciclo médio de uma escola agrícola, a capoeira é a arte que “dá sentido” e deixa seu coração “repleto de alegria”. Com Mestre Fumaça, na Associação Cultural Chapada dos Negros, no município de Arraias (TO), Romário aprende desde 2007 a tocar instrumentos, cantar e jogar capoeira. Adriana da Silva Gomes, 20 anos, que concluiu o segundo grau em 2009, faz a vida no mosaico. Desde os 15 anos aprende e sobrevive dessa arte no ateliê da ceramista e arquiteta Sandra Paro, no bairro do Pina, zona Sul do Recife (PE). A artista faz um trabalho de formação com os jovens da comunidade. “Hoje sei que tenho um ta-

lento que alegra as pessoas. Estamos levando essa cultura para o exterior. Um painel de mosaico feito por nós será exibido na Espanha este ano”, conta Adriana. Na cidade do Rio de Janeiro, a estudante Michelly Batista da Silva, 17 anos, cursa o último ano de um ensino médio especial, parte do Núcleo Avançado em Educação (Nave), um projeto do Governo do Estado do Rio e do Instituto Oi Futuro e que compreende uma escola pública de alta tecnologia e um centro de pesquisa e inovações voltado ao ensino. Michelly está se especializando nas artes multimídias, aprendendo técnicas de cinema, design, animação e a desenvolver sites. “Pretendo seguir carreira na área de produção cultural”, diz. Acompanhe a seguir os principais trechos da conversa entre os jovens.

ARQUIVO PESSOAL

DIVULGAçÃO / FUNDAçÃO RAIMUNDO FAGNER

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adRiana da silVa gOmes,

diOgO de OliVeiRa lOPes,

20 anos, que concluiu o segundo grau em 2009, é ceramista em Recife

19 anos, cursa o 2º ano do ensino médio em Fortaleza


MiCHElly

“a internet hoje é a fonte para o jovem se integrar ao mundo das aventuras culturais” ROmáRiO

ROMáRiO

O que é cultura para você? Diogo: Cultura são os costumes que identificam um povo por meio de suas próprias expressões, como a dança, as músicas, as comidas etc. Adriana: Para mim, é a forma como levamos a vida e os conhecimentos que isso envolve. Quando conhecemos pessoas com outras formas de viver, isso pode influenciar nossa cultura e transformar nossa vida. Romário: É o que faz parte da nossa história. Michelly: São as crenças, hábitos e estilos de vida. A nossa cultura é o conjunto do que adquirimos na sociedade na qual vivemos. E, assim, cada povo tem a sua, constituindo as diversas culturas existentes no mundo. Qual é, para você, a principal forma de transmissão da cultura, ou qual você mais valoriza? Por quê? Romário: A música, porque ela reflete mais o coração das pessoas. Adriana: A leitura, porque nos traz muitos conhecimentos e aprendemos a ver a vida de outras maneiras. Diogo: Toda arte tem seu valor. Eu respeito e admiro a música por já fazer parte de minha história. Michelly: A principal fonte de transmissão de cultura são as pessoas, porque é por meio de seus hábitos, crenças e costumes que se forma a cultura de cada re-

gião. Além disso, o conhecimento se adquire quando conversamos com outras pessoas, pois elas transmitem umas para as outras um pouco de sua cultura. Temos muito que aprender com cada ser humano, por cada um ter sua própria cultura, sua própria raça e sua própria história. Você acredita que a internet e a maior facilidade de acesso à produção de bens artísticos e culturais estão mudando as formas dos jovens de fazer e consumir cultura? Michelly: Sem dúvida, muda sim. Atualmente, ficou muito mais fácil conhecer a cultura de outra região e de outras pessoas pela internet. Se vamos ao YouTube, encontramos amostras de todas as culturas de toda parte do mundo. Com as redes sociais, a transição entre uma cultura e outra é muito mais rápida, sem contar que é muito divertido conhecer a cultura de outras pessoas. Romário: Sim, a internet hoje é a fonte para o jovem se integrar ao mundo das aventuras culturais. Diogo: A internet popularizou a cultura, fazendo com que todos, a qualquer momento, possam consumir e produzir material cultural. Adriana: Sim, porque temos acesso a muita informação. Podemos ouvir música, ver filmes, aprender sobre a arte do mosaico e até pegar receitas para experimentar pratos de outras culturas, coisa que eu adoro fazer.


A escola oferece bom acesso à cultura e às artes para os jovens? Qual a sua experiência? Romário: Sim, quando preciso de apoio da escola para desenvolver minhas artes, tudo corre bem. Adriana: Minha experiência não foi muito positiva na escola. Os professores não levavam a sério as artes, não estimulavam os alunos nem ofereciam conhecimento sobre as manifestações artísticas, para que os alunos pudessem se identificar com algum segmento. A escola deveria oferecer cursos diversificados de arte. Diogo: Aqui na minha comunidade, há alguns projetos que já desenvolvem a educação por meio da música ou da dança, que estimulam o corpo e a mente. Michelly: Acho que sim. Na minha escola, já teve grupo de dança, com coreografias de músicas diversas. Temos também aulas de teatro e podemos expressar tudo que sentimos sobre o que acontece no mundo e mostrar o estilo de vida de cada um. Acho que todos os alunos deveriam dar sugestões de como deixar a escola com a “cara” mais jovem e de como transformá-la em um ambiente agradável para a diversidade cultural que temos. Para você, há relação entre cultura e educação? Qual? Diogo: Há uma relação muito forte. O respeito é o ponto mais forte da relação entre cultura e educação. A escola pode tratar a cultura como fator de desenvolvimento educacional e

ADRiANA

não simplesmente como conhecimentos isolados. Mas a escola está muito preocupada em formar o aluno para este mundo capitalista. Deveria investir mais na cultura regional para nos tornar pessoas mais sociáveis, sem preconceitos. Romário: Sim, para ter educação é preciso ter acesso à cultura. Adriana: Sim, quando a pessoa adquire cultura, ou seja, hábitos e conhecimentos, ela se transforma em um ser humano melhor, porque passa a compreender de uma forma mais ampla as relações humanas. Michelly: Sem dúvida, a educação é uma das formas que se tem de adquirirmos conhecimentos de diversas culturas, uma está ligada à outra. Toda cultura tem uma educação diferente e toda educação tem uma cultura diferente, e uma colabora com a outra. Você acha que as artes ajudam você a se conhecer melhor, a entender mais do mundo em que vive, a ter um crescimento pessoal? Adriana: Sim, o mosaico transformou a minha vida, ampliou meus horizontes. Por causa da arte conheci pessoas novas e outras visões de mundo, o que me ajudou a perceber que eu não tenho barreiras para o meu crescimento. Diogo: Com certeza! Nada melhor do que “abrir a cabeça” para a arte!

DiOgO

“a escola deveria oferecer cursos diversificados de arte” adRiana

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Como mestranda em Politicas Públicas, Gestão do Conhecimento e Desenvolvimento Regional pela Universidade do Estado da Bahia, gostaria de receber gratuitamente as edições da revista Onda Jovem que, acredito, irão contribuir para o desenvolvimento de projetos em meu cotidiano de trabalho, junto aos jovens na cidade de Salvador. Emiliana Salvador, BA

Xef - Æ e d\if (0 Æ ale_f&X^fjkf )'('

Sou estudante de Psicologia e estou desenvolvendo, junto à Universidade Bandeirantes de São Paulo, um projeto de inserção de jovens infratores no mercado de trabalho. Para apresentar o projeto, estou levantando dados para montagem de indicadores e achei, em endereço na internet, dados de Onda Jovem e gostaria de obter o material completo. Diego Barboza São Paulo, SP

APRENDER A TRABALHAR 8db edgiVh YZ ZcigVYV Faço parte da equipe técnica do Programa Jovens to: como posso ter acesso à revista hZ\jgVh! d bjcYd Yd igVWVa]d Urbanos, uma iniciativa da Fundação Itaú Social impressa? com a Coordenação Técnica do Cenpec – Centro de [dciZ YZ VegZcY^oVYd José Jair Ribeiro (Zeca) Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária e execução de ONGs parceiras localizadas nos bairros onde os jovens residem. Gostaria muito de receber exemplares desta última edição (Aprender a Trabalhar) para distribuir para nossas ONGs executoras. Maria Brant Programa Jovens Urbanos - CENPEC São Paulo, SP Agradeço a gentil doação destes últimos meses. Tenho encaminhado o exemplar da revista Onda Jovem para a Faculdade de Educação da USP, que já incorporou tão importante revista em seu acervo. Fernando Universidade de São Paulo, SP

www.ondajovem.com.br

PARA EDUCADORES APRENDER A TRABALHAR Xef - Æ e d\if (0 Æ ale_f&X^fjkf )'('

Cartas

PARA ESTUDANTES

8db edgiVh YZ ZcigVYV hZ\jgVh! d bjcYd Yd igVWVa]d [dciZ YZ VegZcY^oVYd

Faça contato Envie cartas ou e-mails para esta seção com nome completo, endereço e telefone. Onda Jovem se reserva o direito de resumir os textos. Endereço: Rua Dona Brígida, 602, CEP 04111-081, São Paulo, SP. E-mail:

ondajovem@olharcidadao.com.br.

Trabalho com adolescentes em medida socioeducativa em meio aberto e tive contato com a revista Onda Jovem. Gostaríamos de usá-la como subsídio para nossas atividades e, para isso, peço informações sobre o recebimento dela pela Instituição. Maria Fernanda J. Rocha Projeto Digitrampo São Carlos, SP Sou professor em Porto Alegre. Trabalho com adolescentes e jovens em grupos alternativos dentro de escolas e centro sociais. Gosto muito da reflexão realizada pela revista Onda Jovem e dos temas que se propõe a discutir. Acesso-a via internet e pergun-

PJM - Pastoral Juvenil Marista Porto Alegre, RS Faço parte do CEPIB – Centro de Empoderamento e Proteção à Infância Brasileira, que busca a realização de ações na área de enfrentamento das diversas formas de violências, sendo um de seus focos a participação juvenil. Buscamos algumas instituições e experiências de referência no processo em que desejamos atuar e a Onda Jovem tem mostrado ter um grande potencial, a partir de todo seu dinamismo, atualidade, diversidade, pluralismo, qualidade, além de tantos outros adjetivos que fazem de vocês referência na participação juvenil. Daniel Pereira Coordenação e Assistência a Projetos do CEPIB Natal, RN


Estamos trabalhando com um grupo de crianças e jovens em uma ONG, na cidade de Natal. Gostaríamos de saber se vocês possuem material sobre mobilização juvenil, pois vimos no site atividades e ações voltadas para a “cultura de paz” e achamos bastante interessante! Luana Cabral Natal, rN A revista Onda Jovem é de distribuição gratuita? Como faço para recebê-la? Tenho interesse, pois acho a revista ótima para leitura para mim e para meus filhos. Carlos Alberto muzille piraju, Sp Atuo como auxiliar na Biblioteca Machado de Assis, do IEE Cristóvão de Mendoza, que está completando 80 anos neste 2010 e está passando por um processo de revitalização, com renovação do acervo e concomitante informatização. Por isso, gostaríamos de receber esta revista como doação. Como a escola oferece curso Normal, esta revista terá duplicado uso e interesse. prof. Laise mb Ortigara Caxias do Sul, rS

Gostaria de receber regularmente a revista Onda Jovem. Sou diretora no Colégio Estadual Professor Joaquim Francisco Santiago em Niquelândia. Oferecemos o Ensino Fundamental, de 3º ao 9º ano, e Ensino Médio (EJA). Essa revista será de grande valia em nossos trabalhos educativos. Simone pires Gomes Diretora do Colégio estadual Joaquim Frâncico Santiago Somos da Associação Fábrica Cultural, ONG sediada na Ribeira - Salvador. Atualmente atendemos 250 Jovens de 16 a 24 anos com cursos de Design Gráfico, Produção Cultural, Criações em Costura e Estamparia, através da inclusão socioprodutiva. O projeto chamase Na Trilha da Cidadania e desenvolve três eixos temáticos, que são: Cidadania, Sustentabilidade e Protagonismo Juvenil. Estamos montando a nossa biblioteca, através de doações de instituições e pessoas físicas e gostaríamos de saber se existe possibilidade de receber a revista Onda Jovem, para complementar nosso Centro de Estudo. bruna Cordeiro Salvador, bA

PArA AGENTES PÚBlICOS Sou comissária de menores e trabalho no Tribunal de Justiça do Estado de Rondônia, no Juizado da Infância e Juventude da Comarca de Cerejeiras, estado de Rondônia. Trabalho com projetos nas escolas, com os alunos e com os pais. Conheci a revista na Promotoria de Justiça da cidade e gostei muito. Além de interessante, ela é inteligente e mostra o que as pessoas estão fazendo para melhorar a educação no Brasil. Desejo receber esta revista para ajudar nos meus trabalhos de orientação junto aos adolescentes. Telma beluzzo da mota Chefe de Serviço de Comissariado ii Cerejeiras, rO Xef - Æ e d\if (0 Æ ale_f&X^fjkf )'('

Sou diretor e um dos fundadores do Instituto Navega São Paulo, OSCIP, que tem como missão resgatar a identidade do rio Tietê, proporcionando navegações orientadas no trecho urbano do rio para alunos de escolas públicas e privadas. Gostaria de receber o boletim eletrônico e a revista impressa. eduardo roberto da Silva São paulo, Sp

O Governo do Estado de Pernambuco, através da Secretaria Especial de Juventude e Emprego (SEJE), lançou o Projeto Casa das Juventudes, em 52 municípios do estado. Gostaríamos de saber se podemos contar com o apoio de vocês nos fornecendo exemplares desse conceituado informativo, para que possamos deixá-lo nestes espaços para consulta/ leitura dos jovens que participarão das atividades desenvolvidas nestas Casas. Guilherme Alves de Albuquerque melo Secretaria especial de Juventude e emprego recife, pe

APREN TRABA

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TWITTEr! Quer se manter antenado com tudo o que diz respeito à juventude no Brasil? Então, siga-nos! Onda Jovem está ampliando suas formas de contato nas redes sociais. Esperamos você no http://twitter.com/onda_jovem Fale conosco também pelo e-mail ondajovem@olharcidadao.com.br Ou pelos blogs: http://fotolog.terra.com.br/ondajovempitaco e http://fotolog.terra.com.br/colegas


Navegando

com todos os

sentidos Nada como a fotografia para dar visibilidade ao seu objeto – e ao seu sujeito, quando as imagens resultam do refinamento do olhar e de sua melhor perspectiva. É este o caso das fotos que ilustram esta seção e de seus autores, todos integrantes do Fotolibras, projeto de fotografia participativa com jovens surdos de Recife. Desde 2007, os cursos oferecidos pela organização vêm formando novos fotógrafos, que se tornam também multiplicadores e coautores do Guia Fotolibras, sobre como planejar e realizar projetos de fotografia participativa, cujo objetivo é tornar as pessoas capazes de documentar e divulgar suas próprias histórias e impressões do mundo. As atividades do curso incluem saídas e ensaios fotográficos sobre temas predefinidos, como espaço em que circulam, ou a Libras, a Língua Brasileira de Sinais. Foram destes ensaios que os participantes desta edição selecionaram suas fotos prediletas. O conjunto do acervo do projeto pode ser visto no site www.fotolibras.org.

Ainda há lavadeiras e moças que molham os cabelos nas águas do rio, mostra Karoline Anne de Lima Machado, 27 anos

O sol explode sobre a bucólica represa, na imagem de Aymee Lucy Silva, 20 anos

A mensagem está nas mãos, segundo Priscila Cristina da Silva, 19 anos


O azul do céu vaza a geometria das ruínas, na foto de Luciano Valadares e Silva, 21 anos As sombras dos sinais de Libras iluminam uma língua, na foto produzida pelo coletivo de alunos do projeto Fotolibras

Alguém que fotografa dois homens numa canoa é fotografado por João Helder Pereira Pontes, 24 anos

Basta mover os dedos e juntar as mãos, registra Tatiana Martins, 20 anos

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