Muito além da Risperidona O Movimento Psicanálise, Autismo e Saúde Pública (MPASP), com seus profissionais e instituições associados em todo o território nacional, vem se manifestar a respeito da nota do Ministério da Saúde publicada no dia 12 de setembro sobre a incorporação de “primeiro medicamento para sintoma do autismo”. Em primeiro lugar, a manchete (que se replicou em diversos artigos sobre essa nota oficial) induz a erro, pois parece se tratar de um novo medicamento (o primeiro) e específico para autismo. A Risperidona é uma medicação utilizada já há algum tempo pela psiquiatria para problemas como agitação, irritabilidade e agressividade graves que não respondem bem a outros medicamentos. É usada para pacientes portadores de transtornos mentais como psicoses, esquizofrenias e transtornos depressivos graves, entre outros, e não especificamente para pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo. O Ministério da Saúde elaborou o documento “Linha de Cuidado para Atenção Integral à Saúde das Pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo e suas Famílias na Rede de Atenção Psicossocial do SUS” que estabelece, para os casos de suspeita de autismo, um diagnóstico interdisciplinar e um projeto terapêutico singular. Em alguns casos, o uso de medicação pode ser benéfico, como ação complementar a outros tratamentos e, neste sentido, o MPASP apoia que as famílias tenham acesso à medicação no SUS quando esta é necessária. Porém, é preciso extrema cautela ao divulgar medicamentos com a promessa de melhorar a qualidade de vida desses pacientes, uma vez que pode incentivar pais, professores e até mesmo médicos a buscarem um suposto alívio rápido dos sintomas desagradáveis (como agitação psicomotora e agressividade) sem considerar que a medicação, quando utilizada, deve fazer parte de um tratamento abrangente conduzido por uma equipe interdisciplinar. Essa situação é ainda mais preocupante ao se considerar o autismo, que se manifesta na primeira infância, quando tal medicamento não é ainda indicado. Ainda, ao longo da infância, seu uso precisa ser rigorosamente avaliado já que a Risperidona, mesmo sendo uma medicação moderna e que pode responder bem em alguns casos, interfere no metabolismo de glicose, podendo ocasionar diabetes e obesidade; interfere na motricidade e pode ter efeitos de impregnação neuroléptica; pode interferir nas vias respiratórias, causar incontinência urinária, hiperprolactinemia, sialorréia, constipação, vertigem, acatisia e outros efeitos colaterais ainda não devidamente testados e comprovados em crianças. Portanto, o uso de Risperidona deve ser criterioso e bem consciente, disponibilizado somente dentro de um plano terapêutico que envolva o paciente, a família, a escola e os