JOSÉ HUMBERTO DA SILVA JUDITE AMÉLIA LAGO DULTRA Organizadores
RELATÓRIO FINAL PROJETO MÃES DE PRIMEIRA VIAGEM – PROTEÇÃO INTEGRAL À GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
Avante - Educação e Mobilização Social Salvador 2015
FICHA TÉCNICA
MÃES DE PRIMEIRA VIAGEM – PROTEÇÃO INTEGRAL À GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
AVANTE - EDUCAÇÃO E MOBILIZAÇÃO SOCIAL Coordenação Geral – José Humberto da Silva Coordenação de Local – Judite Amélia Lago Dultra Equipe Técnica Fernanda Pondé Glaucia Lara Borja Deise Silva Nery Patrícia Barbosa Sanches Ailton da Anunciação Teixeira Noemi Souza Lima Marques
Instituto Camargo Corrêa João Paulo Munhão Campos Maria Edivania Assis
Construtora Camargo Corrêa Letícia Morais Silveira Consórcio Mobilidade Bahia Reginaldo Cleber Esteves Fernanda Lima Mantelli Cristiane Aguiar Bittencourt Tavares Maria Carolina Amorim Peixoto Tosta
SUMÁRIO
Introdução
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A questão da gravidez na adolescência
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Desenvolvimento do Projeto
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Resultados da pesquisa com atores do SGD e Lideranças
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Resultados da pesquisa com adolescentes sobre a gravidez
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Impactos e sustentabilidade do Projeto
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1. Introdução Com o objetivo de identificar os fatores que contribuem para o elevado índice de gravidez na adolescência nas comunidades localizadas no entorno das obras do metrô de Salvador – Pirajá / Parque São Bartolomeu, Jardim Santo Inácio e Calabetão - bem como de desenvolver ações de mobilização e articulação dos agentes integrantes do Sistema de Garantia de Direitos (SGD), com vistas ao fortalecimento dos serviços da rede de proteção às mães adolescentes, seus parceiros e/ou genitores, foi firmada parceria entre a Avante-Educação e Mobilização Social e o Grupo Camargo Corrêa, o que resultou no Projeto Mães de Primeira Viagem. Este Projeto buscou desenvolver ações voltadas para mães adolescentes de 13 a 18 anos, seus parceiros e/ou genitores, moradores dos bairros acima mencionados. Especificamente objetivou: • Identificar os fatores que contribuem para o elevado índice de gravidez na adolescência na comunidade de Pirajá. • Desenvolver ações de mobilização, articulação e formação dos agentes integrantes do SGD – Sistema de Garantia de Direitos, com vistas ao fortalecimento dos serviços da rede de proteção às mães adolescentes.
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• Criar espaços de escuta e troca de experiências entre mães adolescentes, seus parceiros e/ou genitores para construção de projetos de vida. • Sistematizar a experiência piloto proposta - em forma de publicação virtual e/ou impressa - na perspectiva de refletir os resultados e direcionar novos rumos de atuação na comunidade de Pirajá. Iniciado em setembro de 2014, o Mães de Primeira Viagem teve uma duração de 12 meses - sendo, portanto, concluído em setembro de 2015. Ao longo do processo, foram cumpridas as seguintes etapas de trabalho: Etapa 1- Diagnóstico: levantamento dos fatores que contribuem para o elevado índice de gravidez na adolescência na comunidade de Pirajá, bem como dos serviços públicos disponíveis que integram a rede de proteção. Etapa 2 - Mobilização de mães adolescentes e seus parceiros e/ ou genitores para a formação de grupos de escuta, troca de experiências e construção de projetos de vida, com vistas a fortalecer os vínculos que contribuem para a construção da maternidade, da paternidade e de projetos futuros.
Nessa etapa, o Projeto pretende estimular a cultura da
participação e da corresponsabilidade,oferecendo orientação psicossocial, cuidados com a gravidez e com a primeiríssima infância. Etapa 3 – Mobilização, articulação e formação de agentes públicos que atuam em escolas,nas Unidades de Saúde da Família (USF) e nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS e CREAS), para identificação de ações que possam qualificar o atendimento de demandas e o fomento à proteção integral de adolescentes. Etapa 4 – Elaboração de uma publicação apresentando os resultados dessa experiência. O presente relatório apresenta informações sobre o percurso trilhado e os resultados obtidos com o Projeto Mães de Primeira Viagem. Nele 8
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constam, também, algumas reflexões sobre as estratégias e metodologias utilizadas para o cumprimento dos objetivos propostos e os principais aprendizados deixados por essa rica experiência.
2. A questão da gravidez na adolescência A opção por assumir a questão da gravidez na adolescência como foco do Projeto Mães de Primeira Viagem deve-se ao reconhecimento da importância e complexidade dessa temática na atualidade, bem como à certeza de tratar-se de um fenômeno que deve ser compreendido numa perspectiva ampla e abrangente, visto que diversos fatores contribuem para sua incidência. Estão em jogo aspectos econômicos, sociais, educacionais e culturais, que exigem ações de enfrentamento no âmbito da Saúde, da Educação e da Assistência Social, principalmente. Considerou-se, também, o fato de a gravidez precoce apresentarse como um problema complexo e multifacetado, vivido diferentemente em cada contexto. No caso das comunidades periféricas, com baixos indicadores sociais - especialmente no que se refere à renda, escolaridade e serviços públicos disponíveis - múltiplos fatores de vulnerabilidade contribuem fortemente na configuração de um contexto propício ao agravamento do problema. Assim, quando se observa os dados levantados em diferentes bairros de Salvador sobre a gravidez precoce, constata-se que esse fenômeno se apresenta de forma desigual. Pesquisa recente realizada pelo UNICEF (2015) revela que as adolescentes das comunidades de Pirajá / Parque São Bartolomeu, Jardim Santo Inácio e Calabetão têm cinco vezes mais probabilidade de engravidar que adolescentes residentes em bairros com melhores indicadores sociais na cidade de Salvador. O problema é preocupante porque, especialmente em Salvador, a taxa de gravidez na adolescência, quando comparada à de outras capitais, revela aumento nos últimos anos.A tabela abaixo indica o crescente número no total de nascidos vivos cujas mães tinham 19 anos ou menos. 9
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Número total de nascidos vivos
Número total de nascidos vivos cujas mães tinham 19 anos ou menos
%
2010
36.446
5.333
14,63
2011
37.449
5.771
15,41
2012
37.174
5.652
15,2
2013
36.515
5.485
15,02
Período
Fonte: SESAB Elaboração própria.
Além dos números gerais supracitados, nos bairros onde o Projeto Mães de Primeira Viagem foi realizado, as lideranças e atores do Sistema de Garantia de Direitos e/ou da rede de proteção reconheceram a existência do problema e prontamente validaram o Projeto, apontando a necessidade de um trabalho contínuo e articulado entre as instituições parceiras, na perspectiva do seu enfrentamento.
3. Desenvolvimento do Projeto Pela natureza dos seus objetivos, os primeiros passos do Projeto Mães de Primeira Viagem foram objeto de reunião de alinhamento da Avante com a equipe local da Camargo Corrêa – a qual compartilhou com a coordenação da Avante o desenvolvimento de todo o Projeto, participando de todas as decisões em relação à estratégia e à metodologia de trabalho propostas.
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Reunião de alinhamento com a equipe local de representantes da Camargo Corrêa do Consórcio Mobilidade Bahia – Sede da Avante Educação e Mobilização Social
Como ponto de partida, inicialmente o Projeto se voltou para o planejamento da estratégia de mobilização das comunidades - processo cuidadosamente elaborado, consistindo em um conjunto de ações voltadas para sua divulgação, conhecimento da realidade local e pesquisa da percepção de seus atores sobre o problema da gravidez na adolescência. Assim, a estratégia de chegada às comunidades buscou sensibilizar os diversos atores sociais para o problema da gravidez na adolescência, na perspectiva de obter apoio para a mobilização e desenvolvimento do Projeto. Desse modo, foram privilegiadas as seguintes ações: • Visita às instituições e lideranças. • Realização de entrevistas com representantes de instituições do SGD e com lideranças locais. • Análise e sistematização das informações levantadas. 11
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Após a coleta, os dados levantados foram analisados e discutidos em reuniões realizadas nas comunidades onde o Projeto foi desenvolvido, contando com a presença de diferentes atores sociais - representantes das instituições da rede de proteção, lideranças comunitárias e a equipe local da Camargo Corrêa. Essas reuniões constituíram-se em oportunidades para apresentação do Projeto, dos seus objetivos e das ações previstas, além de uma devolutiva das informações levantadas.
Apresentação do Projeto às comunidades de Jardim Santo Inácio e Calabetão. Escola Municipal Leovícia Andrade - Calabetão
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Reunião devolutiva - Pirajá
Paralelamente, múltiplas ações foram desenvolvidas na perspectiva de otimizar a identificação e mobilização das adolescentes grávidas e seus parceiros, visando à formação de um grupo psicossocial. A comunidade escolhida para iniciar o Projeto foi Pirajá, cujo processo de mobilização envolveu ações em várias frentes: • Convite aberto - mediante spot veiculado em carro de som. • Plantões na Unidade de Urgência e Emergência do bairro - para cadastramento das adolescentes. • Contato com instituições parceiras - para indicação de gestantes com idades entre 13 e 17 anos. • Busca ativa de adolescentes em suas próprias residências - com a ajuda de lideranças e instituições, como a Pastoral da Criança.
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Pela complexidade do fenômeno da gravidez precoce e pelas configurações das relações sociais que circunscrevem as comunidades atendidas, o processo de mobilização demorou mais que o previsto, sendo necessárias múltiplas frentes de trabalho para atingir o resultado esperado. Para cumprir a meta, o fortalecimento do processo de mobilização - das adolescentes e seus parceiros - exigiu diferentes ações para suprir as dificuldades encontradas, especialmente nas comunidades mais afetadas pelas obras do metrô. Diante dessas circunstâncias, novos esforços e estratégias - até então não planejadas - foram incorporadas ao processo de mobilização, somando-se às iniciais. Como exemplo, visitas à Maternidade Tsyla Balbino, ao Hospital Roberto Santos e ao Iperba – Instituto de Perinatologia da Bahia; articulações com a assistente social da Maternidade Climério Oliveira (UFBA); visitas aos Conselhos Tutelares de São Caetano, Valéria e Narandiba; contando-se também com o envolvimento de outras instituições parceiras para a indicação de adolescentes gestantes. Todo esse esforço resultou numa relação de nomes de gestantes que foram convidadas para integrar o primeiro grupo psicossocial. De forma complementar, foi feito um contato individual prévio com essas adolescentes, a fim de lhes explicar todo o Projeto, informar em que consistia o grupo psicossocial e falar sobre o apoio que o Mães de Primeira Viagem lhes daria para possíveis encaminhamentos de demandas relativas a seu estado. Além dessas medidas, o Projeto promoveu visitas domiciliares feitas por uma assistente social em parceria com a Pastoral do Menor - às adolescentes que apresentaram dificuldades de inserção no grupo. Essa iniciativa visou a atender problemas já percebidos durante a mobilização uso e/ou abuso de álcool, violência doméstica, dentre outros - bem como identificar demandas psicossociais não reveladas de imediato. Do mesmo modo, pretendeu realizar as orientações e encaminhamentos devidos, bem como levantar as dificuldades de acesso das adolescentes aos serviços públicos, inclusive levando este produto à reunião da rede. Vale ressaltar
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que a visita domiciliar é um importante instrumento de decodificação da realidade do sujeito que não é apresentada em um primeiro contato pessoal ou telefônico. A visita familiar é, também, um meio de aproximação entre os sujeitos e o projeto social. Além disso, configura-se como um espaço de socialização de informações importantes para o fortalecimento da cidadania, sendo, inclusive, um meio indicado nas normativas das Políticas Públicas de Saúde e Assistência Social. Depois desses esforços, o grupo psicossocial de Pirajá foi iniciado em janeiro/2015, conforme planejado, utilizando a metodologia de Grupos Operativos, cujo aporte teórico tem origem na Psicologia Social.
Grupo Operativo 01 - Pirajá
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• Algumas informações sobre a metodologia dos grupos psicossociais: A técnica dos grupos psicossociais - também chamados de Grupos Operativos - surgiu a partir da construção da teoria da Psicologia Social de Enrique Pichon Rivière, teórico que, para desenvolver uma metodologia, tomou como base o pressuposto de que o homem é produzido pelo seu contexto e entendido como um ser biopsicossocial – corpo / mente / mundo. A técnica do Grupo Operativo deve orientar-se para a participação livre e espontânea de seus integrantes, que assim trarão seus pensamentos e sentimentos, abrindo a possibilidade de uma permanente revisão de conceitos, em função das experiências de cada um, tanto dentro do grupo como fora dele. O Grupo Operativo centra sua dinâmica nas tarefas que as pessoas realizam para atingir os objetivos comuns a que se propõem e que constituem o processo pelo qual estão interligadas. Ao conviverem no grupo, as pessoas vão internalizando formas de pensar e de sentir das outras pessoas que compartilham a mesma tarefa, e também de como essas características afetam a sua própria maneira de ser. No caso do Projeto Mães de Primeira Viagem, a formação dos grupos psicossociais - de adolescentes grávidas e seus parceiros – representou uma oportunidade de desenvolvimento do processo de aprendizagem em grupo, estimulando a construção de uma rede de apoio vivenciada, compartilhando e ampliando conhecimentos das gestantes mediante abordagem de temas importantes para as adolescentes se reconhecerem como pessoas de direitos, de saberes e com escolhas próprias. Os grupos psicossociais, sem dúvida, estimularam as gestantes a procurar ajuda, engendrando a teia social necessária ao acolhimento tanto do bebê quanto da mãe adolescente. Assim, ao longo do processo grupal, as adolescentes tiveram oportunidade de trabalhar conteúdos psicossociais, além de participarem de uma pesquisa, na qual se buscou compreender os fatores determinantes da gravidez na adolescência. A segunda comunidade contemplada pelo Projeto Mães de Primeira Viagem foi a do Parque São Bartolomeu-Pirajá de baixo, onde o
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processo de mobilização das lideranças locais e das gestantes configurouse como uma nova etapa de trabalho, visando à formação do segundo grupo psicossocial. Essa nova etapa consistiu-se na realização de atividades semelhantes àquelas realizadas em Pirajá de cima: contato com os representantes das instituições do SGD; busca ativa e mobilização de adolescentes; sendo também realizados contatos com o Posto de Saúde da Família de Plataforma e com o COF – Centro de Orientação da Família. Mesmo iniciando uma nova etapa de trabalho, o Projeto, simultaneamente, continuou a desenvolver ações em Pirajá de cima, atendendo a uma demanda de muitas lideranças da comunidade que consideraram necessárias ações voltadas para a linha da prevenção da gravidez precoce. Essa demanda resultou no desenvolvimento de ações diretas com adolescentes, esclarecendo os riscos para a saúde da gestante e as consequências para a vida dos adolescentes, tanto do ponto de vista pessoal quanto profissional. Com esse propósito, foram promovidos três encontros com alunos de uma escola pública da comunidade de Pirajá, sob a coordenação da psicóloga do Projeto, na perspectiva de estimular a participação e escuta dos adolescentes, bem como promover troca de experiências entre eles. Para dinamizar os encontros, foram convidadas a participar adolescentes grávidas integrantes do primeiro grupo psicossocial, que, mediante conversa entre seus pares, socializaram suas experiências, dúvidas e demandas. Com esses encontros, o Projeto buscou também divulgar suas ações na escola, obtendo apoio de gestores e professores - parcerias essenciais para a mobilização de novos adolescentes para integração ao Mães de Primeira Viagem. De forma complementar, o Projeto realizou outras ações em Pirajá: visitas institucionais para mapeamento, articulação e encaminhamentos; abordagens a lideranças comunitárias para articulação e mobilização; atendimentos e encaminhamentos sociais das adolescentes; visitas domiciliares; ação interdisciplinar - Serviço Social e Enfermagem; e visita do grupo de adolescentes ao CPN- Centro de Parto Normal Darlete Souza Damasceno - Mansão do Caminho.
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Orientação da Enfermeira
Orientação da enfermeira
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Visita ao Centro de Parto Normal – Mansão do Caminho
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O Projeto também levantou demandas das adolescentes e de seu grupo familiar, prestando apoio em termos de encaminhamentos à rede de proteção, especialmente na área de Saúde - exame pré-natal, além de outros; atendimento de demandas de saúde mental (álcool e drogas); serviço de ginecologia e acompanhamento. Na área da Assistência Social e Trabalho, foram feitos encaminhamentos ao Programa Bolsa Família e indicadas demandas de qualificação profissional e de orientação em questões como conflito geracional, cuidados com o idoso e violência contra a mulher. Na área da Educação, a comunidade enfrenta o problema da inclusão educacional, do acompanhamento e da falta de creche.Também surgiram questões relativas ao déficit habitacional, saneamento básico, estrutura precária das habitações e a necessidade de documentação. Em relação ao Conselho Tutelar foram demandadas ações de prevenção e enfrentamento de violências. O segundo grupo psicossocial do Parque São Bartolomeu-Pirajá de baixo foi iniciado em março/2015, contando com o apoio do CRAS-Lobato que cedeu suas instalações para a realização dos encontros semanais com as gestantes.
Grupo Operativo 02
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Nesses
encontros,
foram
feitas
atividades
de
acolhimento
com relaxamento, de percepção do corpo através da respiração e automassagem, além de um trabalho dirigido de construção de um Projeto de Vida, levando as adolescentes a refletirem sobre: • “Quem eu fui” – recuperando histórias pessoais; as crianças que foram um dia; a importância dos vínculos. • “Quem eu sou” - como me vejo; quais as minhas necessidades e dúvidas. “Quem eu serei” - o que é ser mãe; qual o meu projeto de vida. O grupo de adolescentes também trabalhou suas expectativas em relação ao Projeto, explicitadas a seguir: • Ter um espaço para falar e ouvir. • Ter palestras que falem sobre: ensinar a ser pai e mãe; como cuidar de uma criança; como ser uma boa mãe; como ter paciência; alimentação da grávida; cuidados durante a gravidez; fases da gestação; desenvolvimento do bebê; maiores esclarecimentos sobre o parto natural e humanizado; atividades com brincadeiras. Para a realização dos encontros, múltiplos fatores interferiram na frequência das gestantes, comprometida por questões de ordem objetiva, tais como: falta de água na região; e exames de pré-natal agendados para o mesmo dia do grupo (havia queixa de não ter outras opções de data para o exame). No entanto, embora tudo isso tenha causado oscilação na participação de alguns componentes do grupo, as participantes expressaram satisfação com os resultados dos encontros. O depoimento a seguir confirma isso: “Eu achei bom! Pensei que ia chegar aqui, só assistir uma palestra de como dar banho no bebê, essas coisas, e depois ir embora (...) foi bom!” - Amanda. Além do grupo psicossocial, o Projeto no Parque São Bartolomeu também realizou a reunião devolutiva com atores do Sistema de Garantia
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de Direitos e lideranças da localidade, em julho/2015, contando com a presença de representantes dessas instituições e de alguns conselheiros. A terceira comunidade contemplada pelo Mães de Primeira Viagem foi Jardim Santo Inácio, onde foi adotada a mesma estratégia já realizada no processo de mobilização das outras comunidades anteriores. Foram desenvolvidas ações de diagnóstico junto a lideranças e representantes das instituições envolvidas, além de busca ativa de adolescentes para a formação do grupo psicossocial. O terceiro Grupo Operativo teve duração de três meses – iniciado em maio/ 2015 e concluído em agosto. Mais uma vez as adolescentes validaram o trabalho, percebendo a importância das informações recebidas na preparação para o parto e os cuidados com o bebê. Para isso, novas parcerias foram firmadas, a exemplo do Departamento de Promoção Social da Polícia Militar da Bahia (PMBA), que disponibilizou sua enfermeira para dar apoio ao Grupo 03, ministrando palestras sobre os cuidados com o bebê. Na comunidade de Calabetão, em função de suas peculiaridades, o Projeto Mães de Primeira Viagem optou por utilizar uma estratégia diferenciada, substituindo o trabalho com adolescentes grávidas por oficinas realizadas na Escola Municipal Leovícia Andrade - oportunidade em que adolescentes, de ambos os sexos, puderam discutir a prevenção da gravidez. Além disso, para partilhar a vivência de uma maternidade precoce, adolescentes que participaram do grupo psicossocial em Jardim Santo Inácio foram compartilhar suas experiências com os adolescentes participantes desta quarta etapa do Projeto. Assim, os resultados foram igualmente positivos, oportunizando a troca de informações e o diálogo aberto entre adolescentes de diferentes comunidades..
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Atividade preventiva na Escola Municipal Leovícia Andrade - Calabetão
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4. Resultados da pesquisa com atores do SGD e Lideranças As pessoas entrevistadas expressaram sua opinião sobre as causas da alta incidência de gravidez na adolescência, bem como indicaram medidas para o enfrentamento do problema nas comunidades. A seguir, apresentam-se os principais fatores apontados como aqueles que contribuem para a gravidez precoce: • “Ausência da Base Familiar” - responsabilização da família pela falta de orientação, ausência de diálogos. • Sexo sem precaução. • Dificuldade de acesso dos adolescentes aos Serviços de Saúde. • Mau funcionamento dos Programas de Saúde Reprodutiva nas Unidades de Saúde. • Dificuldade de acesso a Métodos Contraceptivos. • Repetição do fenômeno de mãe para filha. • Muitas festas e pais permissivos. • Falta de informação. Um entrevistado também expressou a opinião de que Programa Bolsa Família “estimula”, de forma geral, as mulheres a gravidarem e, da mesma forma, as adolescentes. Quanto às medidas de enfrentamento do problema, as sugestões foram: • Maior apoio institucional às famílias. • Orientação e suporte dos Postos de Saúde da Família. • Aumento das ações de Educação em Saúde nas escolas. • Controle de Natalidade. • Maior acessibilidade do(a)s adolescentes aos Serviços de Saúde. 24
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• Olhar diferenciado do(a)s profissionais de Saúde e Educação para essa faixa etária. Também foram perguntados aos representantes das instituições entrevistadas quais outros projetos e/ou ações estavam sendo desenvolvidos na comunidade para este público. A maioria das instituições revelou não possuir ações diretas para adolescentes. As que possuem são: • Centro Espírita Cruz da Redenção: Projeto Enxoval. • Voluntárias Sociais da Bahia: Programa Melhoria da Saúde Materna. • Associação Criança e Família: Centro Antonieta – acolhe as gestantes e faz orientação para exames como pré-natal, além de disponibilizar cursos e palestras. • Hospital Geral João Batista Caribé: Pré-Natal de Alto Risco - dentre outros exames e serviços disponibilizados.
5. Resultados da pesquisa com adolescentes sobre a gravidez Em entrevista a 12 adolescentes, a pesquisa procurou saber com quantos anos acontecera sua primeira relação sexual. A idade de maior incidência foi 13 anos - 05 pessoas entrevistadas. Outras respostas – 12,14 e 16 anos - foram dadas por 02 pessoas para cada uma dessas idades; apenas uma pessoa disse ter tido a primeira relação sexual aos 17 anos. 12 anos- 02 13 anos- 05 14 anos- 02 16 anos- 02 17 anos- 01 Também foi perguntada a idade do parceiro, no momento da sua primeira relação sexual. A resposta de maior incidência indicou 18 anos 25
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dada por 04 pessoas. Em seguida, 17 e 19 anos - resposta correspondente a 02 pessoas para cada idade. Também foram declaradas 04 diferentes idades – 23, 26, 30 e 33 anos - 01 para cada respondente, conforme se pode ver a seguir: 17 anos- 02 18 anos- 04 19 anos- 02 23 anos- 01 26 anos- 01 30 anos- 01 33 anos- 01 Avançando na pesquisa, foi investigado o grau de informação dos participantes sobre a gravidez. Curiosamente, 10 pessoas disseram possuir informações, enquanto que apenas duas acusaram falta de informação. Também se procurou saber sobre a fonte dessas informações, e foi apurado que 04 pessoas tiveram informações com a genitora, uma no posto de saúde, e 05 disseram que tinham obtido informações por meio de várias fontes - genitora, parentes, escola, colegas, posto de Saúde e televisão. Apenas duas adolescentes relataram que nunca receberam informações sobre a prevenção da gravidez. Essa resposta foi, portanto, surpreendente porque desfaz a tese de que a falta de informações é o fator determinante da gravidez na adolescência. De forma complementar, a pesquisa procurou saber o que levou a adolescente engravidar. As respostas a seguir retratam as razões apontadas: • “Esposo queria filho”. • “Eu não deveria, mas aconteceu”. • “Não usava medicação”.
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• “Eu estava confiando muito no remédio do dia seguinte, confiei demais. Teve uma hora que não resolveu nada”. • “Falta de cuidado. Achei que não ia engravidar porque tinha 04 anos tendo relações sexuais e não engravidava. Eu não tomava remédio, nunca tomei remédio”. • “Eu não engravidei porque quis. Quando descobri, já estava com 06 meses”. • “Sempre tive vontade de ter um filho e imaginava ter uma família”. • “Foi acidental, não planejado. Parei de tomar o remédio”. • “Eu não queria engravidar. Foi de repente. Ele foi burro e não colocou a camisinha”. • “Foi uma surpresa! Não imaginava engravidar tão rápido! Descobri porque fiquei doente, menstruação atrasou, não foi programado”. • “Eu quis e ele quis”. • “Eu quis”.
A pesquisa procurou saber ainda sobre o apoio recebido do parceiro e/ ou do grupo familiar. Foi dito pela maioria das adolescentes ter tido apoio do parceiro e apenas 02 pessoas responderam que não tiveram esse apoio. Em relação à família quase todas (11) disseram ter contado com o seu apoio e apenas uma disse que a família não a apoiou. Outro ponto que constou na investigação foram os sonhos para o futuro. As respostas indicaram que a gravidez não retirou a possibilidade de sonhar de quase todas as adolescentes ouvidas. Vejam as respostas: • “Trabalhar para poder criar o meu filho e não deixá-lo passar dificuldades e terminar meus estudos”. • “Encaminhar meus estudos, fazer minha faculdade e dar o melhor para minha filha, que eu não tive”.
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• “Construir minha família e morar em uma casa, pois moro em um barraco”. • “Trabalhar e cuidar da família”. • “Ser feliz com meu filho e ter minha própria casa”. • “Dar uma vida melhor para meu filho”. • “Penso em terminar a construção da nossa casa, terminar meus estudos e ter meu emprego”. • “Não tenho assim não! Desisti dos sonhos! O que eu tinha, era antes da gravidez, mas acabou!” Essas respostas também foram surpreendentes porque apenas uma pessoa disse ter abdicado dos seus sonhos por causa da gravidez. Revelam que há uma preocupação por parte das adolescentes em construir um futuro digno com o filho, que inclui mudanças nas suas condições de vida. Esses achados foram surpreendentes porque revelam que a vida não acabou para essas adolescentes com a gravidez, como acontecia no passado. Esses achados, além de desmistificar a visão equivocada em relação ao fenômeno da gravidez precoce, apontam caminhos para novos projetos.
6. Impactos e sustentabilidade do Projeto Pelas ações realizadas nas comunidades, o Projeto Mães de Primeira Viagem criou condições favoráveis a inúmeros desdobramentos e impactos de curto, médio e longo prazo, quer seja para o grupo de mães/pais adolescentes e as crianças envolvidas diretamente, quanto para suas famílias, conquistando resultados positivos tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo. Desse modo, o impacto e a extensão das ações desenvolvidas por este Projeto nas comunidades incluem indicadores que devem ser aferidos para além da sua duração, uma vez
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que as articulações e parcerias firmadas são sementes plantadas que poderão frutificar a qualquer momento. Todo o processo de mobilização desenvolvido nas comunidades contribuiu para criação de uma rede entre as instituições de proteção, cujos encontros promovidos pelo Projeto contaram com a presença de diversos representantes do SGD e lideranças, sendo oportunidades de diálogo e de articulações entre eles, na direção de novas práticas em que o desenvolvimento de ações compartilhadas pode ser o caminho para a otimização de recursos, gerando melhores resultados para a comunidade. Do ponto de vista da sustentabilidade, o Projeto firmou parcerias e contribuiu para troca de informações entre diferentes atores sociais começo de uma ação mais sistêmica em que a cooperação se sobrepõe à cultura do isolamento entre as instituições. Como fruto dessa parceria, o Centro de Referência de Assistência Social – CRAS Lobato assumiu o compromisso de dar continuidade às ações com gestantes, valendo-se da experiência vivida no Mães de Primeira Viagem com a metodologia de Grupos Operativos adaptada às atividades do CRAS. Em termos das metas fixadas, o Projeto concretamente contribuiu realizando/atingindo: a) 74 Visitas Institucionais - governamentais e não governamentais. b) 29 Lideranças comunitárias mapeadas. c) 38 Atendimentos a adolescentes grávidas e parceiros. d) 03 Grupos Operativos. i - Pirajá: 07 adolescentes participantes ii - São Bartolomeu /Pirajá de baixo: 15 adolescentes participantes iii - Santo Inácio: 08 adolescentes participantes e) 08 Visitas Domiciliares.
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f) 50 Adolescentes assistidos em ações preventivas nas escolas. i - Pirajá: 25 adolescentes ii - Calabetão: 25 adolescentes g) 82 participantes presentes às reuniões de apresentação e alinhamento com agentes do SGD. h) 29 Encaminhamentos de gestantes aos serviços e equipamentos públicos do SGD. i) 04 Encaminhamentos ao exame do pré-natal. j) 01 Consulta com Médico Pediatra. k) 01 Encaminhamento ao Centro de Atenção Psicossocial-CAPS AD - demanda de familiar. l) 12 Encaminhamentos para exames diversos: ultrassonografias morfológicas, obstétricas, exames de sangue, dentre outros. m) 07 Gestantes encaminhadas para o Projeto de Assistência à Gestante do Grêmio Espírita Perseverança e Caridade-GEPEC. n) 01 Encaminhamento ao Centro de Prevenção e Reabilitação do Portador de Deficiência – CEPRED - demanda de familiar. o) 01 Encaminhamento para internamento domiciliar SUS demanda de familiar. p) 02 Encaminhamentos para cadastro no Programa Bolsa FamíliaPBF. q) Realização de palestras com nutricionista sobre: Alimentação para gestante e bebê; mitos sobre alimentação. r) Realização de palestra com enfermeira sobre: Fases da gestação -- o que acontece com a mãe e o bebê; parto normal e cesáreo; cuidados com o bebê.
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Vale lembrar ainda que o Projeto Mães de Primeira Viagem, de modo geral, contribuiu para dar visibilidade ao problema da gravidez na adolescência nas comunidades contempladas, abordando o assunto em visitas realizadas a várias Instituições, como: • Departamento de Promoção Social da PMBA - Nutricionista e Enfermeira • Maternidade Tsylla Balbino • Maternidade Albert Sabin • Instituto de Perinatologia da Bahia-IPERBA • Hospital João Batista Caribé • Mansão do Caminho Centro de Parto Normal • Grupo de Fotografia Salvador Imagem e Movimento-SIM • Posto de Saúde do Rio Sena • Grêmio Espírita Perseverança e Caridade GEPEC • Voluntárias Sociais da Bahia-VSBA • Centro de Atenção Psicossocial- CAPS AD • Centro de Prevenção e Reabilitação do Portador de Deficiência - CEPRED • Internação Domiciliar SUS • Unidade de Urgência e Emergência de Pirajá • Centro de Referência de Assistência Social - CRAS São Bartolomeu • Centro de Referência de Assistência Social- CRAS Lobato • Centro de Referência de Assistência Social- CRAS Jardim Santo Inácio • Unidade de Saúde da Família- USF Antônio Lazarotto
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JOSÉ HUMBERTO DA SILVA E JUDITE AMÉLIA LAGO DULTRA (Organizadores)
Do ponto de vista qualitativo, os impactos deste Projeto são imensuráveis, uma vez que oportunizou um trabalho com gestantes que ampliou seu universo de informações sobre a gestação e os cuidados com o bebê, além de oferecer oportunidade de escuta e troca de experiências entre as adolescentes, trabalhando questões subjetivas de autoconceito, autoimagem e relacionamento com o parceiro, estimulando, ainda, a criação de novos projetos de vida. Essa relevante contribuição pôde ser constatada durante o desenvolvimento do primeiro grupo psicossocial em Pirajá, quando houve a oportunidade de receber a visita da coordenadora de enfermagem da Unidade de Urgência e Emergência de Pirajá, Edlene Reis Cardeal. A convidada realizou uma roda de conversa com as adolescentes e seus parceiros, trazendo à tona dúvidas, histórias de vida e orientações sobre os cuidados com a gravidez - entre outros temas - na perspectiva de deixar as adolescentes mais seguras e confiantes como mães de primeira viagem. Essa vivência foi muito validada pelo grupo porque a expositora, lançando mão da sua própria história de vida - e da experiência de uma gravidez precoce -, falou às adolescentes sobre questões acerca das mudanças no corpo, expectativas em relação ao novo momento da vida, o nascimento e os cuidados com a gravidez. A assistente social do Projeto considerou esse momento um dos mais importantes porque as adolescentes encontraram na enfermeira um exemplo positivo de superação no qual podem se espelhar. O momento foi bastante rico porque a expositora deixou as adolescentes à vontade e animadas para perguntar e aprender mais sobre a experiência da maternidade precoce que estavam vivendo. Outro fator importante foi o fato de a enfermeira Edlene Cardeal ser “filha de Pirajá” e se dispor a compartilhar sua história com as mães e pais presentes, especialmente em relação à sua trajetória de superação para se tornar uma profissional, sem deixar de ser uma mãe dedicada. Em seu depoimento, expressou:“Com vontade de crescimento pessoal e profissional, associado ao apoio de minha mãe, eu consegui entrar na universidade e conciliar os estudos com os cuidados com minha filha”. Hoje, com a estabilidade profissional conquistada, Edlene disse se sentir orgulhosa de voltar ao bairro, onde foi criada, para dar assistência profissional. 32
RELATÓRIO FINAL DO PROJETO MÂES DE PRIMEIRA VIAGEM – PROTEÇÃO INTEGRAL À GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA
No bate papo, as adolescentes também colocaram suas dúvidas sobre o momento do parto, a Lei do Acompanhante (Lei n° 11.108/2005), mitos e verdades sobre amamentação.A oportunidade de dirimir as dúvidas sobre amamentação se mostrou algo especial para uma das adolescentes, que acabou expressando sua surpresa e felicidade com o que ouviu. «Eu nunca soube disso. Agora que sei, não farei mais errado. Foi muito bom saber», disse L. de 17 anos. O impacto da mudança do corpo e na relação com o companheiro foi outro tema que, depois de debatido e das dicas dadas pela enfermeira, trouxe conforto para as adolescentes.
Falas como “Eu não me olho no
espelho, pois não gosto do que vejo hoje” demonstram o quanto essa questão é delicada para as adolescentes. A enfermeira também verificou quais exames as adolescentes já tinham feito e mostrou a importância de serem realizados, além de tirar dúvidas sobre o objetivo de cada um deles. Outras questões também foram debatidas, como os primeiros cuidados com o bebê, higiene pessoal, alimentação, dentre outros. A enfermeira convidada distribuiu preservativos e falou sobre contraceptivos, reincidência da gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. Esse evento é um exemplo do tipo de trabalho realizado pelo Projeto Mães de Primeira Viagem e de suas contribuições para as adolescentes nos planos pessoal e coletivo. Este Projeto também deixou um legado positivo a partir de articulações feitas com instituições importantes como a Seção de Valorização à Policial Militar- Centro Maria Felipa, que disponibilizou duas profissionais - enfermeira e nutricionista - para complementarem a capacitação das adolescentes e jovens. Houve também a visita do grupo de adolescentes e jovens ao Centro de Parto Normal Marieta de Souza Pereira na Mansão do Caminho e a articulação com o Grupo de Fotografia Salvador Imagem e Movimento (SIM), que possibilitou uma sessão de fotos com cada uma das gestantes do grupo - contatos que podem ser acionados outras vezes, pela comunidade, quando forem realizados novos projetos. 33
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Sessão de fotos – Grupo 02
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JOSÉ HUMBERTO DA SILVA E JUDITE AMÉLIA LAGO DULTRA (Organizadores)
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