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União dos Estudantes de Ensino Superior de Santarém – UES

mentos para nossas reuniões semanais, às quartas-feiras, na sala 320 do campus Amazônia. Ressaltamos, por fim, as dificuldades em se transcrever a linguagem oral para a linguagem escrita. Durante as transcrições, tomamos como princípio à fidelidade ao conteúdo dos áudios gravados com a permissão dos (as) entrevistados (as).

União dos Estudantes de Ensino Superior de Santarém – UES Entrevistado: Charlisson Corrêa do Carmo

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A União dos Estudantes de Ensino Superior de Santarém surgiu no ano de 1998 como resultado de um processo de organização dos estudantes universitários santarenos em defesa dos seus direitos e interesses. Desde lá, a entidade vem trilhando um caminho de luta em defesa não somente da categoria estudantil, mas da sociedade de modo geral, articulando atividades com vários setores sociais da cidade.

FIGURA 01 Entrevista representante da UES

Fonte: Acervo GDAC.

FIGURA 02

Entrevista representante da UES

Fonte: Acervo GDAC.

Em entrevista realizada pelo GDAC no dia 09 de agosto de 2017, o diretor da entidade Charlisson Corrêa do Carmo resgatou um pouco da história da UES nesses 20 anos de atuação na cidade

de Santarém-PA. Charlisson ratificou o papel político dessa entidade que tem a mobilidade urbana como uma pauta central na luta pelo direito à cidade desde o seu surgimento.

[A UES] surgiu dessa necessidade de representar os estudantes de ensino superior e lutar pelo direito da classe à meia entrada, a meia passagem naquela época, que agora depois de 2013 se tornou. Passe estudantil. Acho que a maior vitória da UES em Santarém é que a gente conseguiu 1/3 da passagem (CARMO, 2017).

A UES é formada por uma diretoria política composta por estudantes de ensino superior de instituições públicas e privadas de Santarém, embora os estudantes da rede privada tenham pouco contato com o movimento estudantil, segundo o entrevistado. A diretoria política da UES é eleita a cada dois anos no congresso universitário promovido pela entidade. Os estudantes de ensino superior da cidade se filiam na UES por meio da obtenção da carteirinha estudantil que garante o acesso a vários direitos. As ações da entidade são direcionadas tanto para questões locais quanto nacionais. Em 2017, essas ações se concretizaram na luta contra o aumento da tarifa do transporte coletivo municipal bem como na defesa das universidades públicas contra os ataques do governo Temer. Nas palavras de Charlisson, “[A UES] gente se fortalece com a luta do dia a dia contra esses ataques (2017) ”. Quanto à articulação da UES com outros movimentos sociais da cidade, Charlisson fez o seguinte resgate, destacando o papel do Fórum Sindical de Santarém que, em abril de 2017, foi responsável por uma das maiores manifestações realizadas na cidade durante a greve geral nacional contra a Reforma da Previdência do Governo Temer.

[A UES] sempre intervém junto com movimentos sociais. A gente sempre está fazendo atos juntos, assim, nas questões das hidrelétricas, a gente sem-

pre está participando juntos às entidades. Hoje a gente participa também de um fórum, Fórum Sindical de Santarém que reúnem as entidades que se formou agora nessa questão nacional contra os direitos, contra os ataques aos direitos da população, formou um fórum sindical. A gente participa junto com coordenadores de associação, SINTEPP, Sindicatos dos Urbanitários. A gente reúne e tem feitos atos sempre em conjunto, ultimamente (CARMO, 2017).

Quanto à relação com os partidos políticos, Charlisson destaca que na diretoria da UES existem estudantes filiados à partidos políticos e outros que não são e que a atuação política da entidade reflete as ideologias dos diretores que participam.

A UES é uma entidade política, mas não necessariamente é um partido político. Ela tem uma diretoria e essa diretoria tem diretores filiados à partidos políticos e tem diretores que não são. Então, as ideologias e as bandeiras de lutas dizem respeito, principalmente, ao que os integrantes das diretorias participam. Por exemplo, a gente tem a pauta nacional FORA TEMER, agora no momento que é uma bandeira de luta não só dos partidos políticos, mas que são partidos políticos, como o PSOL, do qual sou filiado ao PSOL também, mas tem várias pessoas afiliadas, é uma luta também dos partidos, como da população em geral. Hoje o governo tem 6% de aprovação só, então isso não quer dizer que está ligado a um só partido. Então a população em geral está inconformada. É uma pauta que a gente abarca também com a população (CARMO, 2017).

Quanto à atuação da UES nas redes sociais, Charlisson informou que a UES possui um blog e uma página no Facebook.

Destacou que, no Facebook2, a entidade possui uma divulgação muito ampla, sendo que suas postagens rapidamente “viralizam”. Na época, a entidade não possuía conta no WhatsApp sendo essa rede social utilizada individualmente pelos membros da diretoria. Charlisson relatou ainda episódio em que a página do Facebook foi hackeada.

A gente tinha bem mais pessoas no Facebook antes, mas a gente foi hackeado. Tiraram o Facebook do ar, então a gente perdeu todos os amigos, acho que tá com um ano e meio atrás, tivemos que começar do zero de novo, mas a gente já está bem. Era um Facebook mesmo (perfil) e não página (CARMO, 2017).

Embora as redes sociais sejam importante veículo de informação da entidade, na avaliação de Charlisson, a entidade ainda tem como desafio estabelecer um contato mais direto com os estudantes, principalmente aqueles que estudam na rede privada de ensino. Essa é considerada pelo entrevistado com a maior dificuldade da UES.

A maior dificuldade é de fazer o contato com o estudante, contato físico, então essa é uma dificuldade importante. A gente atua muito mais pelo Facebook, pelas redes sociais, internet. A grande dificuldade nossa é de tá na universidade particular, acho que tem mais dificuldade que na pública, na UFOPA. Os diretores que compõem a UES estão nas universidades, na UFOPA, principalmente. (...) A grande dificuldade tá aí, porque a diretoria é composta por estudantes que não são remunerados, a gente

2 Página da UES no Facebook. Disponível em: https://pt-br.facebook.com/UesSantarem/ Acesso em abr./2019.

tem uma diretoria que não é remunerada. O estudante também é uma pessoa comum, ele tem trabalho para apresentar, tem seminário, tem filho, tem casa, tem tudo. Então, não dá para se dedicar totalmente se tá tendo uma agenda de trabalho: “Olha, a gente vai ter uma agenda de trabalho com tal universidade, não”. Acaba que a gente tem as obrigações que a gente consegue abranger pouco essa questão física de tá na universidade. A gente acaba abrangendo muito mais a questão da internet. Acho que não é só uma dificuldade da UES, não, mas dificuldade geral dos movimentos sociais (CARMO, 2017).

Quanto à relação da UES com o Poder Público Municipal, Charlisson destacou que essa é uma relação conflituosa, principalmente quando a pauta é transporte público. Diante disso, a UES não recebe nenhum apoio financeiro dos governos municipal nem do estadual e federal. Quem financia a UES são os próprios estudantes por meio das carteirinhas. Questionado se a UES participa de algum espaço institucional, Charlisson relatou sobre a experiência da entidade no Conselho Municipal de Transporte. Além do Conselho de Transporte, a UES participa de conselhos na UFOPA, nas vagas destinadas para entidades externas. A gente sempre tá no embate nos Conselhos. Tem o Conselho de Transporte, a gente até meio que abandonou agora o Conselho de Transporte que a gente fazia parte, principalmente, depois desse último reajuste de passagem. Acabou sendo um Conselho tarifário, que só reúne para outorgar aumento de passagem, e o governo tem a maioria, as lutas sociais nunca tem voto para vencer (...) O Conselho Municipal é bem limitado porque a gente só faz a parte política mesmo do embate de lá, lutar contra ao aumento, quando tem alguma proposta de reajuste a gente vai tentar barrar, a gente não tem condições suficientes (CARMO, 2017).

Sobre a relação entre a UES e a imprensa, Charlisson disse que às vezes há espaço na impressa local, mas nem sempre a abordagem dos meios de comunicação local favorece as demandas dos estudantes. Dentre os canais de comunicação do município, a Rádio Rural é citada como aquela que abre espaço para os movimentos sociais. Na época da entrevista, Charlisson destacou a luta contra a reforma da previdência como uma das principais ações da entidade. Ponderou, no entanto, que embora exista boa receptividade da população em relação a pauta previdenciária, verificada quando a UES faz panfletagens, por exemplo, ainda é muito difícil que os trabalhadores saiam às ruas lutar contra as reformas. A jornada de trabalho é apontada pelo entrevistado como uma das principais causas que dificulta o envolvimento das trabalhadoras e trabalhadores nessas lutas. Quanto à participação da UES no processo de revisão do Plano Diretor, Charlisson informou que a entidade participou das reuniões prévias ao processo voltadas para a capacitação sobre política urbana, em especial, a oficina realizada na UFOPA em julho de 2017. Pondera, no entanto, que a participação dos diretores da UES foi comprometida diante da organização do congresso bienal da entidade. O entrevistado não soube informar se a UES acompanhou a elaboração do plano diretor realizada em 2006. Avaliou, ainda, que o Plano Diretor vigente na época da entrevista precisava ser revisado de maneira cuidadosa, sendo muito importante a participação popular nesse processo. Por fim, destacou que é um desafio para os movimentos sociais garantir essa participação.

Acho que precisa ser feito com muito cuidado essa revisão, principalmente por causa do grande crescimento urbano de Santarém, a demanda de portos, tudo isso. Então, precisa ser revisado porque já tá um pouco ultrapassado nessas questões. A população com certeza já cresceu muito a partir daquele tempo, já tem

várias debilidades, principalmente na questão de mobilidade, saneamento, infraestrutura urbana. A importância [da participação popular] é muito grande porque o plano diretor é que dita as políticas, da maneira que o poder público vai, deve, intervir em saúde, educação e meio ambiente. Daí a importância muito grande de tá construindo o plano diretor (...) O desafio é a participação popular, garantir meios que atraiam as pessoas para construir o plano - a responsabilidade do movimento social é chamar, garantir que a população venha para discussão, garantir reuniões nos bairros, assembleias (CARMO, 2017).

Charlisson definiu cidadania enquanto ter acesso aos direitos considerados por ele como fundamentais, por exemplo, saúde, educação, transporte, segurança sendo imprescindível direitos devem ser garantidos com qualidade. Além disso, destacou que ser cidadão é também participar na luta e nas discussões sobre esses direitos. Quanto ao direito à cidade, o entrevistado apresentou a seguinte definição, destacando a pauta da mobilidade urbana como basilar na luta por esse direito.

Tem vários pilares dentro do direito a cidade, no nosso caso, para mim, em que eu tô mais ligado, para mim passa ao direito da mobilidade urbana. Esse direito da mobilidade urbana dos diversos grupos sociais garante que se tenha direito aos principais bens, como por exemplo, saúde, educação, lazer, esporte, então a mobilidade urbana te propicia isso. Hoje esses principais direitos, saúde e educação, estão principalmente no centro urbano da cidade, então a população que tá mais afastada acaba não tendo esse direito à cidade, por questão da mobilidade. Hoje, por

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