5. Brasil Sustentável e Democrático No caminho aberto pela Rio 92, os anos 1997-2004 ficaram em especial marcados para mim por um ambicioso projeto de trabalho. Algumas associações internacionais membros da organização europeia de Terre des Hommes, sobretudo a da Holanda, creio, que questionam o desenvolvimento na Europa, nos pediram para responder a algumas perguntas. Entre outras: “Se diminuirmos ou pararmos de importar soja do Brasil, quais seriam para vocês as consequências?” Nós pensávamos que seria uma coisa boa em médio prazo, pois com a terra morrendo como resultado da exploração intensiva em prol de um desenvolvimento unicamente voltado para a exportação de matériaprima, as pessoas também estão morrendo. Em seguida, nos dissemos, além de dar nossa contribuição aos europeus, por que não produzir aqui alguma coisa que discuta nosso próprio “desenvolvimento”? Nosso coordenador, Jorge Eduardo, me pediu para explorar essa ideia. Aqueles e aquelas que me leram até este ponto já devem ter se dado conta do quanto valorizo o trabalho coletivo. Para tal tarefa, não poderia ser de outro modo. Por que gente da Universidade? Nossas ONGs em geral não são orientadas para a pesquisa e sabíamos que seria necessário produzir documentos bem fundamentados. No caso da ETTERN (Estado, Trabalho, Território e Natureza), havia Henri Acselrad, que trabalhava nessa instituição e que militara durante a ditadura dos anos 60 numa organização clandestina, ao mesmo tempo em que era flautista profissional da Orquestra Sinfônica Nacional (OSN), tendo também acompanhado cantores de Bossa Nova. Exilado do país, ele e Gilberta, sua esposa, se estabeleceram a Paris, onde ele fez o mestrado em Economia e o doutorado em Planejamento, Economia Pública e Organização do Território, ambos pela Sorbonne. De volta ao Brasil, depois de ter penado em diferentes empregos, entrou em 1990 para o Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase). A esse título, ele foi um dos redatores do relatório de nosso Fórum. A sintonia entre nós foi imediata. Pouco depois, Henri passou no concurso para professor do IPPUR, sem, no entanto, abandonar sua vida militante. Foi muito naturalmente que ele integrou a equipe formada, tornando-se meu mentor, parceiro e amigo constante e fiel.
123