Jovens negras na luta pelo direito à cidade Monica Oliveira38 Considerando que Raça, Gênero e Classe estruturam as desigualdades no Brasil, não é surpresa constatar que a segregação nas cidades também se baseia nesses fatores e se explicita em situações de dominação branca e masculina nos espaços públicos. As necessidades e demandas das mulheres são muitas vezes desprezadas, a circulação acontece de maneira restrita e assim, a apropriação da cidade e a vivência do espaço público pelas mulheres são fortemente limitadas. Os problemas de infraestrutura, pobreza e violência que tanto afetam a qualidade de vida das pessoas de maneira geral atingem de forma mais aguda as mulheres, especialmente as mulheres negras. O caráter excludente e segregado de nossas cidades já é amplamente conhecido e questionado tanto nos meios acadêmicos, quanto pelos movimentos sociais e demais sujeitos políticos que atuam no campo da “questão urbana” ou do direito à cidade. A marginalização e estigmatização dos territórios negros marcam a “evolução” da esmagadora maioria das cidades brasileiras. Historicamente, a população negra durante longo tempo ocupou as áreas centrais das cidades, pois os grandes sobrados eram contíguos às zonas centrais. Isso contribuía para que fosse intensa a circulação de escravos domésticos, que buscavam água nos chafarizes, transportavam roupas para lavar, levavam dejetos para despejar nos rios, levavam e traziam cestas para os mercados. Estavam sempre transportando objetos de um lado para o outro da cidade. Nas ruas centrais, esses escravos domésticos se misturavam aos escravos de ganho, que eram alugados pelos seus senhores por hora ou por dia. Ser escravo de ganho era um dos caminhos mais efetivos para a conquista da liberdade, pois esses tinham uma chance de juntar algum dinheiro para compra de suas alforrias.
38 Monica Oliveira é assessora parlamentar da Mandata Coletiva das Juntas do PSOL em Pernambuco e ex-educadora na FASE Pernambuco.
53