Educação popular como prática de enfrentamento ao racismo Rachel Barros40 Como a questão racial adensa a educação popular? Eis a pergunta central que permeia esse texto, que traz o relato do trabalho da Fase-Rio com jovens mulheres negras durante os anos de 2016 e 2017. Sistematizar os aprendizados resultantes desse processo formativo é também uma oportunidade de identificar os impactos do debate racial nas práticas educativas populares, nos seus executores e, dialeticamente, no tipo de relação construída com os sujeitos. Num processo dinâmico de afetos, este texto busca evidenciar que a educação é popular porque é constituída pela realidade dos grupos e sujeitos envolvidos na ação. O artigo está dividido em três partes. Primeiro, faço um breve histórico do trabalho de educação popular desenvolvido pela Fase, e mostro como essa metodologia tem relação direta com o contexto vigente e com a missão da instituição. Em seguida, apresento a forma como esses princípios de atuação estiveram presentes no projeto com as jovens mulheres negras, finalizando com a abordagem dos aprendizados dessa experiência.
Realidade, territórios e engajamento como bases da educação popular Desde o seu surgimento em 1961, a Fase esteve ligada às ações de apoio aos grupos comunitários. O trabalho iniciado na Amazônia por religiosos e leigos voltava-se para a distribuição de livros, roupas e medicamentos para as comunidades mais pobres. Nesse período, a Fase estreita relações com entidades como a Legião Brasileira de Assistência (LBA), Associação de Crédito e Assis-
40 Rachel Barros é doutora em sociologia pelo IESP/UERJ e educadora popular na FASE Rio.
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