A CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-POLÍTICA ECONÓMICA DO LOCAL
área em que atuamos situada na Primeira Légua Patrimonial desta cidade, perto do centro e, no entanto, com características típicas de "zona periférica". Até uns 20 anos atrás, tratava-se de um desses alagados totalmente inabitáveis, como tantos outros espalhados pelo Norte do País. O desenvolvimento social perverso que observamos nas últimas décadas, jogou os mais variados setores da população brasileira para a periferia. Para a periferia do sistema político, para a periferia do sistema econômico concentrador de capital , para a periferia das políticas sociais elitistas, e para a periferia das yrandes cidades. Estas sofreram um enchimento enorme. Realizaram-se sem nenhuma atenção do poder público, apenas, isto sim, seguindo à risca, a lei do mercado imobiliário e a lógica desumana da supervalorização da terra. o·~resultado são cidades com uma urbanização desigual e inaceitável, tal qual a sociedade em que vivemos. Lavradores expulsos das suas terras pela implantação crescente de grandes empresas e fazendas agropecuárias na Região Norte nos últimos anos; populações inteiras migradas de cidades que se tornaram "zonas de segurança nacional" para que projetas irracionais e megalomaníacos fossem criados; a perda do poder aquisitivo dos trabalhadores da cidade; o alto índice de subemprego e desemprego; enfim, todas essas distorções sociais que vimos agravar a m'veis insu-
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portáveis a vida dos trabalhadores da cidade e do campo em nosso país, jogaram para a periferia, para os alagados, vastos setores populacionais. Neste• caso particular, esta baixada que já foi conhecida por "bairro selvagem", pouco a pouco, com o próprio esforço de seus moradores - operários da construção civil, autônomos de "múltipla profissão", empregados domésticos, empregados de pequenas fábricas existentes nas redondezas e, em menor escala, funcioná rios públicos, pequenos comerciantes e tantos outros - foi sendo limp~, aterrada e recebendo um tratamento que a transformou em bairro. As casas, as pequenas pontes, as vias de acessos, uma escola comunitária foram sendo construídas sem nenhum subsídio público. . Naturalmente que esse descaso do poder público, que se interessa apenas em investir nos espaços valorizados das regiões urbanas, resulta, apesar de todos os esforços dos trabalhadores que aco·rreram e acorrem a essas áreas, em bairros com péssimas condições de habitação. A infra-estrutura é precaríssima, com graves problemas de saneamento, de ausência de assistência médica e educacional, sem falar na violência policial que é muito comum nestes locais. Durante esses anos todos lutando para superar essas carências básicas, o povo local foi cr-iando laços de solidariedade, organizando-se, transitoriamente ou. não, realizando mutirões que, gradativamente, foram transformando uma terra inóspita em terra de valor. Côntudo, as 3.000 famílias que vêm ocu-
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