Os cursos supunham, desde o início, uma participação efetiva das Comunidades onde se implantavam. A equipe da FASE entrava em contato com a Comunidade Eclesial ou com as organizações de moradores, levava sua proposta, apresentava seus objetivos e juntos definiam os cursos a serem intalados. As comunidades assumiam a consecução do local de implantação, participavam do recrutamento dos alunos e sugeriam nomes de possíveis instrutores (profissionais com prática suficiente para transmiti r aos companheiros) residentes no bairro. Ao lado das aulas "técnicas" a programação previa um encontro semanal para debate sobre a realidade dos trabalhadores. Assim, a partir do que estavam vivenciando, eram discutidos conhecimentos sobre as leis, os direitos e uma visão crítica da soc iedade. Ao mesmo tempo se estimulava sua luta pela organização nas obras e valorização da categoria . Nos cu rsos eram utilizadas técnicas de dinâmi ca de grupo (jornal mural, secretaria, caixinha), técn icas de animação de debates (ataque e defesa , sociodrama, uso de audiovisuais) com a finalidade de est imular a participação e capacitar os participantes para a comunicação mais eficiente com seus companheiros nos grupos e nos canteiros de obra . Em lugar do comportamento de concorrência que o processo produtivo e os cursos profissionalizantes vinculados ao patronato estimu Iam, buscamos trabalhar atitudes de solidariedade e a consciência de identidade de interesse entre os operários. Nos diferentes grupos formados para aprender uma profissão, muitas lideranças do movimento sindical e do movimento popular foram descobertas e se desenvolveram.
Cursos de Legislação Trabalhista Para os trabalhadores migrantes do campo, recém-chegados à cidade, até mesmo conseguir os documentos exigidos no mercado de trabalho é algo difl'cil e penoso. Essa dificuldade real os torna presas fáceis da superexploração no trabalho e in defesos contra os inescrúpulos que caracterizam o patronato da construção civil. A partir da constatação real das fraudes de que eram vítimas, a equipe da FASE montou um Curso de Legislação Trabalhista . Esse projeto complementar aos Cursos Profissionalizantes visava dar aos trabalhadores instrumentos para defesa de alguns de seus direitos e permitir a integração das lideranças despertadas no movimento operário que começava a se reconstruir em Vitória. Os cursos foram desenvolvidos em dezenas de grupos e comunidades, através da demanda e do interesse dos operários.
Neies eram tratadas algumas questões básicas como: Documentação, Jornada de Trabalho, Segurança no Trabalho, Fundo de Garantia por Tempo de Serviço e Justiça do Trabalho. O eixo de todo o curso era a> importância do Sindicato e da Organização dos Trabalhadores. Além de permitir aos participantes se integrarem menos ingenuamente no mercado de trabalho, os Cursos criaram condições para futuras lutas reivindicativas que se desenvolveram nos canteiros de obras.
Os Grupos de Trabalhadores A partir dos Cursos Profissionalizantes e de Legislação Trabalhista , foram surgindo pessoas interessadas em participar de grupos mais estáveis e em pensar uma intervenção ma is efetiva no meio operário . Organizamos então grupos de reflexão . Tendo sempre como referência sua realidade de t rabalho , estudávamos e analisávamos juntos os acontecimentos do País que diziam respeito às lutas dos trabalhadores , buscando caminhos para o fortalecimento do movimento operário em Vitó ria. Tentávamos equilibrar a discussão das questões concretas vividas no dia-a-dia com uma com preensão mais global da realidade social e análises mais amplas do sistema econômico. Julgávamos fundamental que as duas dimensões - o imediato e o geral -estivessem de tal forma articulados que não aparecessem como momentos estanques na cabeça dos trabalhadores. Assim eles aprendiam a referir sempre sua prática ao processo social em seu conjunto.
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