A conquista da terra, segunda estação: produzir sem devastar
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Gutemberg Armando Diniz Guerra*
O documento encaminhado por sindicalistas do sul e sudeste do Pará à Secretaria de Meio Ambiente da Presidência da República (ver artigo anterior) é não apenas uma demonstração de organização do movimento sindical do sul do Pará, mas sugere medidas concretas de melhor utilização da terra, reivindica a maior presença do Estado e questiona a sua ausência neste momento fundamental da questão agrária. Pode-se, neste documento, ver claramente a falta de alternativas à queima. É notório, entretanto, o limite de 5 hectares como um determinante para um tipo de manejo que, embora não impeça, freia a devastação extensiva. Temos visto que, entre agricultores que pretendem permanecer na área, o cultivo de fruteiras na capoeira que se forma após a colheita da roça vem se intensificando. Ter uma cultura permanente deixa de ser apenas uma idéia. Há esforços, ainda que dispersos, para se materializar. E são esforços apenas dos trabalhadores_rurais. Os órgãos públicos enlaçam-se na falta de recursos (monetários, humanos, didáticos ... ), na falta de capacitação técnica para atender à pequena produção, na falta de instrumental teórico e prático que balize as orientações, que são reflexos da concepção do que devem ser as instituições do país. O apelo dos agricultores, através do movimento sindical, vai desde a denúncia até a ida de quarenta pessoas, em
• Engenheiro agrônomo da Fundaçio Agrária do Tocantins·Araguaia (Fata)
proposta tfl48 março 1991
comissão, a Brasília. Os ouvidos moucos do Estado, entretanto, parecem exigir uma forma mais expressiva do que as usadas até agora para esta questão. A conquista da terra pelos agricultores do sul do Pará tem se dado, num primeiro momento, pela capacidade de enfrentarem a burocracia e a violência dos grileiros. Permanecer nela exige um outro nível de organização capaz de transformar a remuneração do seu trabalho em algo digno, de incorporar ao campo conquistas sociais as mais elementares como educação, saúde e transporte; de promover a absorção de tecnologia adequada às condições ecológicas da região e à disponibili- !I dade de recursos da pequena produção; de 5 viabilizar crédito compa- ~ tível com a atividade deste segmento. Para isto pressionam o poder público, ao mesmo tempo em que desenvolvem com as próprias forças alternativas de enfrentamenta imediato destes problemas.
A inadequação e a degradação do meio ambiente são a evidência mais cruel disto. Mas o homem é capaz de fazer curvas mais acentuadas do que se possa imaginar. A capacidade de reorientação da utilização dos recursoS"aA natureza e a relação mais ajustada à sua preservação são possíveis e vêm sendo gestadas por aqueles que mais diretarnente com ela se relacionam. Os trabalhadores rurais do sul do Pará, mistos de castanheiros, caçadores,"juquireiros" (aqueles que trabalham na roçagem de vegetação secundária, denominada de "juquira", na região), peões, garimpeiros, ao buscar os lotes para agricultura, começam a ter preocupações e práticas de uso da terra que lhes rendam um maior tempo de vida últil. A primeira etapa consistiu na luta para ficar na terra, o que implicava fazer roça, construir uma moradia, estar
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Tentativas de ·manejo aHernativo Manejar os recursos naturais adequadamente exige uma capacidade que não se estabelece com facilidade.
Construção de casa com palha de babaçu e ubim
presente no lote, garanti-lo por um certo grau de reconhecimento social. Agora se • faz necessário produzir de uma forma em que a terra não se desgaste, não se esgote e permita ao agricultor longev.;idade na sua permanência. Por isto começam a fazer conta do valor ~ produção de uma castanheira em pé e compará-la com o
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