Os ecos da Eco na Alemanha em tempos de crise
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Thomas Fatheuer*
As avaliações dos resultados da Rio-92 dependem muito das expectativas anteriores. Quem esperava progressos fundamentais para uma nova política global já havia programado a sua decepção. Muitas ONGs do Norte já achavam, antes da conferência, que ela não iria contribuir para um progresso relevante. Em conseqüência, entidades importantes do Norte não participaram da preparação da Rio-92, como, por exemplo, o Greenpeace. Também grupos que trabalharam no processo da Unced e participaram nas conferências de preparação ficaram decepcionados. Os ambientalistas mais or,ganizados e com experiência no trabalho de lobby,como os grupos dos EUA, sofreram uma derrota total: o governo Bush bloqueou todas as propostas mais progressistas e se tomou o grande vilão da conferência. As ONGs dos EUA não conseguiram reverter esse quadro. Também para as ONGs da Europa os resultados da Unced foram frustrantes. A maioria das resoluções da conferência fica atrás das propostas dos próprios governos da Europa. Em vez de pressionar os governos a avançar, esses grupos se encontraram muitas vezes apoiando os seus governos contra os EU A ou posições puramente desenvol vimentistas de países do Sul, como a posição da Malásia. Para dar um exemplo, o governo da Alemanha aprovou em 1989 um relatório com metas concretas para reduzir a emissão de co2. As ONGs alemãs, no entanto, estão cobrando o cumprimento dessas metas que o governo não desenvolve. Na Conferên-
• Sociólogo e Cooperante do Sactes na FASE
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cia do Rio não foi possível incluir metas concretas de redução para os países ricos, no tratado sobre clima. Em conseqüência, o governo alemão pode até usar os resultados do Rio para não cumprir as metas já declaradas. De qualquer modo isso não fortalece a posição das ONGs da Alemanha. Nesse sentido, realmente não há nada a festejar. Contudo a maioria das ONGs da Europa, que participaram na Unced, não negam os aspectos positivos: a grande participação das ONGs na Conferência dos Estados e no Fórum Global, o reconhecimento do papel das ONGs e o intercâmbio produtivo entre ONGs do Norte e do Sul. Especialmente o Fórum Global e o Fórum Internacional das ONGs deram esperança para novos avanços no futuro para um fortalecimento da cooperação internacional das ONGs e uma intervenção com mais peso. Porém, meio ano depois da Unced parece que o que fica é só uma nova comissão (mais uma) na ONU. Na política real parece que as preocupações da Rio-92 sumiram do mapa. São outros os assuntos que movimentam as massas e a políticanomomento. Já no encontro dos países mais ricos do mundo (G-7) em julho em Munique as referências à Rio 92 foram praticamente inexistentes. E os primeiros passos concretos indicam uma direção até mesmo contrária aos resultados .
Uma das reivindicações da Agenda 21 ( documento oficial da Unced) foi um aumento de verbas dos países ricos para a cooperação internacional para O, 7% do PIB . Nada excepcional e muito abaixo das expectativas dos países do Sul. Um dos poucos países do Norte que gastou mais do que isso foi a Suécia, que proclamou sua própria meta de I% do PIB. Mas logo depois da Rio-92 o governo cortou essas verbas em 10%. Assim fizeram também Noruega e Finlândia. Em 1993 os gastos da Finlândia vão cair de 0,77% para 0,4%, a mesma marca onde estava em 1985. Também na Alemanha unificada as verbas caíram de 0,41 % (1991) para 0,34%. "As promessas desapareceram. É como se a Rio-92 nunca tivesse acontecido". Quem afirmou isso não foi um ambientalista radical mas o vice-presidente do Banco Mundial, Carl Tham. Em setembro de 92 ambientalistas e sindicatos na Alemanha quiseram entre outros assuntos- discutir as conseqüências da Rio 92. Os organizadores do "Dia Alemão do Meio Ambiente" esperavam mais de 100 mil pessoas para o encontro em Frankfurt. Vieram apenas 30 mil e quase ninguém participou das discussões sobre aRio-92. O único assun- · to discutido foi a crise do movimento ecológico. Esta crise pode ser entendida
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