Ecos e significados da presença e intervenção das mulheres na Eco-92
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Sonia Correa*
"No século XVII, entre 12 de novembro de 1651 e 17 de abril de 1695 viveu no México uma mulher extraordinária: Sor Juana Ines de la Cruz ... Cedo descobre que seu sexo era um obstáculo "no natural sinó social para su afán de saber". Para freqüentar a universidade, disfarça-se de homem. Escreve que o entendimento não tem sexo, nem a inteligência é privilégio dos homens, como "la tontéria" não é exclusiva das mulheres (Maria José Rosado Nunes, in "De Mulheres e de Deuses", Estudos feministas, Ciec/Eco!UFRJ, Rio de JaDeiro, out. 1992)
últimos quarenta anos, foi marcada pelo economicismo dos índices de produto nacional bruto, do balanço de pagamentos, da renda per capita. Em distintas versões o "desenvolvimentismo" foi sinônimo de crescimento econômico. Nos anos 70, após trinta anos de crescimento contínuo- que havia produzido transformações cruciais na inserção
Nascentes de um novo tempo
Durante o Fórum Global, mulheres do mundo inteiro se fizeram ouvir nos debates sobre meio ambiente e desenvolvimento. Estas vozes nos permitem retomar os fios com os quais têm sido construídos, descontruídos e reconstruídos o olhar e os discursos das mulheres sobre a cultura. O debate sobre desenvolvimento começa nos anos 40, refletindo a polarização da guerra fria. Sua evolução, nos
• Diretora do SOS Corpo e Coordenadora da Iniciativa de Investimento da Dawn (rede Mudar) para a área de população e direitos reprodutivos.
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Mulherea de todo o mundo ae reuniram no Fórum Global.
social das mulheres - um novo ciclo de crise se instaura no campo capitalista. No mundo socialista, este é o tempo das dissidências e, também, dos primeiros sintomas de estagnação. No Brasil, como em outros países do sul, estão instaladas ditaduras militares. Entretanto, nos vários continentes permanecem ecoando idéias formuladas, ou atualizadas nos anos 60 : os primeiros sinais da consciência ecológica; o debate centro-periferia e a resistência ao neocolonialismo; e a crítica radical ao Estado e à ciência. "Libe-
ração sexual" e " crise da família" também estão na agenda dos debates. Nos quatro quadrantes do mundo a "ordem natural" subjacente às relações de gênero se fazia, uma vez mais, objeto de interrogação intelectual e política. Em 1972, acontece em Estocolmo a primeira Conferência Mundial sobre Meio Ambiente. Três anos mais tarde (1975) a ONU institui o Ano Internacional da Mulher e realiza na Cidade do México a Conferência para a Integração das Mulheres aos Processos de Desenvolvimento. A partir de então, gênero e meio ambiente, como conteúdos dos novos tempos, seriam paulatinamente integrados ao debate sobre desenvolvimento. As conferências de 1972 e 1975 sinalizam também um traço peculiar das condições políticas contemporâneas: os processos de institucionalização. Não deixa de ser surpreendente que temas e questões apenas aflorados ao final da década de 60, poucos anos mais tarde já se haviam transformado em objeto de interesse dos Estados e dos aparatos internacionais. Tal processo, porém, não deve ser lido apenas n.o que diz respeito às estratégias de cooptação e esvaziamento, nele implícitos. A institucionalização também deve ser compreendida enquanto dinâmica de tensão, contradição, filtragem e difusão, que necessariamente articula as sociedades ao campo institucional. A trajetória do debate sobre mulher e desenvolvimento é, neste sentido, exemplar. proposta nll56 março 1993