Edição 56, março / 1993

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' A procura de uma política industrial

Entrevista com Fábio Erber*

Proposta: Após uma década sem Enquanto organização não-govercrescimento econômico, o Brasil enfrennamental que lida com os movimentos ta efeitos comparáveis aos de uma guerra: sociais, a FASE está ligada a diversas desemprego, meninos de rua, fome e áreas de trabalhadores que sofrem os doenças. O modelo neoliberal não dá impactos diretos da condução da politica conta dessa problemática social. É esse industrial, como por exemplo as questões modelo que pretende servir de guia para ligadas ao complexo microeletrônico de a condução da política econômica? consumo e a desverticalização através do Fábio: Nessa etapa de desenvolviMercosul. Essas questões nos põe em mento cabe à sociedade organizar o mercontato com o drama da reconversão industrial e as questões social e ambiental. Na procura de alternativas para o meio ambiente e o desenvolvimento precisamos buscar mais qualificação discursiva e entender sobre a necessidade de uma política industrial; o papel do Estado numa estratégia de desenvolvimento e todas as questões ligadas ao quadro de reestruturação e globalização. Nesse sentido procuramos o economista Fábio Erber - diretor da área industrial do Banco Nacional de Desenvolvimento Social/ BNDES para falar !!l 'C sobre as atuais condições e a futura orien- tação da política industrial no Brasil. Proposta: O Brasil teria condições VJ de desenvolver uma estratégia própria de desenvolvimento onde elementos como a ~ ética do desenvolvimento e a preservação ambiental pudessem jogar um papel chave? cado, e não ao mercado organizar a soFábio: Obviamente que sim. Não ciedade. Na verdade, o neoliberalismo conheço ninguém que irá dizer não. É um já passou pelo seu auge e começa a reflupouco esse tipo de história "você é contra ir. A eleição do Clinton é uma clara a miséria?" Claro, não conheço ninguém demonstração disso. Os impasses no que seja a favor da miséria. GA TI são outra demonstração. A Comunidade Econômica Européia reconhece a necessidade de uma política industrial. Ou seja, a participação do Estado na •Diretor da área industrial do Banco Nacional de definição do rumo do desenvolvimento Desenvolvimento Econômico e Social.

industrial e tecnológico. As próprias agências internacionais como o Banco Mundial estão mudando a ênfase do seu discurso, no sentido da necessidade de reconversão industrial, de reestruturação industrial. Proposta: Por que então o neoliberalismo está tão em evidência? Fábio: A onda neoliberal está associada, de um lado, à evolução do sistema financeiro que se tomou cada vez mais globalizado e, também, a um novo paradigma industrial que combina globalização com flexibilidade. Por outro lado associa-se também com uma mudança dos principais atores internacionais em função do processo de renovação tecnológica . Num cenário de grande incerteza, a que serve o neoliberalismo? Ele serve para limpar o campo e permitir um reposicionamento desses grandes atores internacionais, sejam financeiros ou industriais. O neoliberalismo estava fadado a ter uma vida relativamente curta porque o Estado é um dos grandes atores da

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gestação desse novo paradigma inQustrial. Na causalidade dessa onda estavam implícitas as suas próprias limitações. É como se tivesse um rochedo por dentro dessa onda, um rochedo factual. Proposta: Como tem se dado essa intervenção do Estado? Fábio: Em todos os países avançados o Estado é um ator fundamental na gestação dos novos paradigmas industriproposta n11 56 mar90 1993


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