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Crónica
EMPREENDEDORISMO, EMPODERAMENTO E LIDERANÇA NO FEMININO
Os desafios actuais das mulheres no panorama económico global
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Em 2015, a Forbes, teceu elogios às startups portuguesas a fazer uma comparação com o espírito empreendedor, inerente ao ADN português, remetendo aos descobrimentos, que são das nossas maiores marcas históricas nesta civilização. Segundo o artigo publicado pela revista, a nação famosa pelas “viagens marítimas”, voltará às descobertas. E desta vez, através do empreendedorismo.
De 2015 para cá, sete anos volvidos, e depois de muitos mares navegados, pudemos assistir a uma verdadeira onda de empreendedorismo que, terra adentro e mar afora, elevou-nos a patamares onde figuram os países mais empreendedores do mundo. À boleia desta onda, muito se tem debatido, estudado e pesquisado sobre a cada vez mais desejada igualdade de género, ou a equivalência social entre os vários géneros. O empreendedorismo feminino assim ganhou força e despertou uma nova geração de mulheres empreendedoras. A jornada de uma mulher empreendedora é árdua, também como a dos homens. Empreender significa correr riscos e para uma mulher significa enfrentar uma série de obstáculos, principalmente quando está mais do que demonstrado, que ainda falta muito para equilibrar esta balança de desigualdades. Empreender, pode ser entendido não só como criar o próprio negócio / emprego, como também galgar as posições nos altos quadros das empresas. Nós empreendemos para nos tornarmos empoderadas e após este patamar, sermos líderes.
A pergunta que se faz é: “Porque é tão importante e tanto se fala no empreendedorismo feminino?”. A resposta tida e sabida é porque no caminho da equidade entre homens e mulheres, empreender no feminino traz, além da necessária diversidade, uma quebra de paradigmas e uma oxigenação no mundo dos negócios, contribuindo de forma fundamental para a geração de um ecossistema empreendedor. Tudo isto propicia o surgimento de novas empresas, novas ideias, novas formas de fazer negócio.
Aliadas a estas ideias, as softskills ou competências comportamentais, são extremamente valorizadas no mercado actual e notoriamente bem desenvolvidas pelas mulheres, sabemos disso.
Desde o início desta década, a nossa geração de mulheres empreendedoras enfrenta adversidades não controláveis, primeiro uma pandemia e a seguir um conflito bélico no leste europeu, que está a provocar mudanças e incertezas no panorama económico internacional, mudanças estas que trazem a crise económica, alimentar e o aumento da taxa de desemprego. Falamos dentro de um contexto europeu, mas de repercussão mundial, que vai requerer acções de ritmo rápido, nas inovações económicas e na reestruturação dos mercados, sobretudo de novas formas de pensar o trabalho e os negócios.
Em 2014, no dia 19 de novembro ficou estabelecido o “Dia do Empreendedorismo Feminino”, pela Organização das Nações Unidas (ONU). A ideia é atrair a atenção mundial para o impacto económico e social do movimento.
A liderança e participação política das mulheres, o empoderamento económico, entre outros assuntos, são áreas prioritárias para as iniciativas coordenadas pela ONU Mulheres, afim de fortalecer o protagonismo no feminino, que assim testemunhamos, está a ganhar cada vez mais força. Ainda de acordo com o Global Entrepreneurship Monitor – “A taxa TEA de Portugal tem demonstrado consistentemente valores próximos da média das economias orientadas para a inovação, sendo que, desde 2010, essa consistência já era particularmente robusta”.
Leia-se que TEA corresponde a Total Entrepreneurial Activity e converte em números, o panorama empreendedor actual. Também os fundos europeus tem contribuído através dos seus instrumentos de incentivo, para que esses processos, que envolvem investimentos relevantes, possam ser escalados e permitam obter resultados mais rápidos e mais consistentes. Portugal entra neste ecossistema com o nosso tecido empreendedor já sobejamente conhecido pela sua inovação e mais importante ainda, com o crescimento notório do empreendedorismo no feminino.
Mas onde estamos situadas neste ecossistema? Muitos mais barómetros e estudos apontam para este crescimento. Segundo a última edição do Índice Mastercard de Mulheres Empreendedoras (MIWE), «Portugal está no 22.º lugar do ranking global e na 6.ª posição no ranking dos países com maior percentagem de mulheres empresárias», à frente de países como a Espanha, a Itália ou a Irlanda. Os indicadores de projecções económicas a curto prazo, de momento não podem ser claros, por estarmos ainda na expectativa do desenrolar de uma retoma económica, que ainda sofre muitos sobressaltos. A Mastercard refere ainda as suas metas para até 2025, cujo objectivo é ligar 25 milhões de mulheres empreendedoras à economia digital num projecto dirigido à jovens entre os 8 e os 16 anos de idade, para as incentivar a seguirem carreiras nas áreas STEM (Science, Technology, Engineering and Mathematics), através do programa Girls4Tech, que realizou-se este ano em Portugal e já pela segunda vez.
Ainda dentro do panorama da tecnologia e da inovação, a Woman In Tech (que em Portugal é liderada por Cláudia Mendes Silva e Romana Ibrahim) é um movimento global que tem como missão, capacitar 5 milhões de mulheres e meninas até 2030. A Woman in Tech é uma organização internacional sem fins lucrativos, com a missão de diminuir a diferença de género e ajudar as mulheres a adoptar a tecnologia, promovendo o empoderamento de meninas e mulheres em todo o mundo. Estes programas e iniciativas de incentivo, tem como premissa, a forte resiliência e adaptabilidade das mulheres à frente das startups ou das empresas que lideram.
Estas skills são factores-chave, que podem ser uma força motriz importante na transformação e inovação do mundo dos negócios. Segundo Jane Prokop, líder de segmento global para pequenas empresas da Mastercard, “A recuperação económica global depende da retoma de um crescimento mais sustentável e inclusivo, que capacite as mulheres empreendedoras e que apoie as suas empresas”. Esta observação vai de encontro à necessidade de abordar as possibilidades que existem, para a internacionalização dos projetos empreendedores e caracterizar os diferentes meios de financiamento disponíveis no mercado.
Há muitos olhos voltados para Portugal neste momento, atraímos investimentos e grandes eventos de inovação e empreendedorismo, a exemplo do Web Summit ou mesmo à exemplo do G-100 (Global Networking Meeting), realizado em Cascais no passado mês de Maio e que foi trazido à Portugal pelas mãos de Linda Pereira da CPL Events. O G-100 é um grupo de 100 mulheres líderes globais, empresárias, líderes políticas, prémios Nobel entre outras mulheres que servem de inspiração ao empreendedorismo e ao empoderamento feminino no nosso país. A liderança, o empreendedorismo e o debate sobre as políticas de igualdade de género, assim como a posição das mulheres na malha que compõe o mundo dos negócios, foram temas de extrema importância discutidos neste encontro global, que volta a repetir-se no nosso país em 2023.
Temos ainda um longo caminho a percorrer, em busca do sucesso absoluto das empreendedoras portuguesas. Não estamos mais no século XV, nem na época das grandes navegações e descobertas, temos sim, outros enormes desafios, muitas milhas a navegar, mas desta vez num mundo mais tecnológico e competitivo, com ferramentas que nós mulheres sabemos usar muito bem. O contexto não chega a ser nenhum poema épico de Virgílio, mas sabemos que ser mulher e ser empreendedora é ser audaz. E como afirmava o poeta na sua obra “Eneida”: «Fortis fortuna adiuvat» ou a sorte favorece os(as) audazes... E nós mulheres, somos audazes, todos os dias.