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Entrevista - António Dias Martins

“A comunidade empreendedora é provavelmente a que mais facilmente reage e se adapta a estes novos contextos”

António Dias Martins é licenciado em Gestão de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa de Lisboa, tem uma Pós-Graduação em Corporate Finance pelo CEMAF/ISCTE (Centro de Investigação de Mercados e Activos Financeiros do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa) e um Master in Business Administration (MBA) pela Universidade Nova de Lisboa. Foi consultor da Andersen Consulting (actual Accenture), Administrador Executivo da Parinama ( family office português), Director do Banco Espírito Santos (actual Novo Banco) e actualmente é o Executive Director na Startup Portugal. Tem mais de 20 anos de experiência profissional em gestão de ativos financeiros, análise de investimentos, fusões e aquisições, private equity, indústria automóvel, desenvolvimento imobiliário, turismo, banca e consultoria. Fique com a entrevista que António Dias Martins deu à On Startups Magazine.

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A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS STARTUPS É VISTA COMO UMA DAS MELHORES VIAS PARA SE GANHAR ESCALA. QUE APOIOS ACREDITA POSSAM SER PRIMORDIAIS PARA AS ESTRATÉGIAS DE INTERNACIONALIZAÇÃO?

Por um lado, é fundamental o trabalho com as congéneres da Startup Portugal noutros países, assim como ligação às embaixadas, câmaras de comércio e redes internacionais de aceleradoras, no sentido de promover o intercâmbio de negócios, como o que fizemos, por exemplo, com os Tech Rocketship Awards. Por outro lado, a criação de programas de internacionalização, como o nosso Business Abroad, que ajuda startups portuguesas a conhecer e interagir com outras economias. Só este ano organizamos a ida de quatro delegações portuguesas, acompanhando mais de 70 startups em conferências de tecnologia e inovação na Alemanha, em Espanha, em França e no Canadá, mercado muito relevante como oportunidade para a entrada na América do Norte.

QUE VANTAGENS VÊ NA INICIATIVA DO DIT - GOVERNO BRITÂNICO, NESTE CONCURSO QUE VISA TRAZER STARTUPS CANDIDATAS A SCALE UPS VINDAS DA UE, PARA UM ACTUAL REINO UNIDO PÓS BREXIT?

O Reino Unido é uma referência para nós na capacidade que tem de implementar políticas públicas ativas direcionadas ao crescimento do ecossistema empreendedor. Acreditamos que é uma medida muito necessária no contexto atual, no sentido de aproximar os dois ecossistemas. O Brexit trouxe novos desafios à internacionalização e as startups, como novas empresas, necessitam de um suporte adicional neste campo. Por outro lado, a participação no Tech Rocketship Awards, mesmo para as empresas que não acabam nos primeiros lugares, é sempre uma aprendizagem e uma oportunidade de exposição e visibilidade para as mesmas junto de decisores internacionais relevantes no mercado do Reino Unido.

COMO O ECOSSISTEMA PORTUGUÊS PODE TORNAR-SE INFLUÊNCIA OU REFERÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO DE POLÍTICAS EUROPEIAS DE INCENTIVO AO EMPREENDEDORISMO?

Acreditamos que já somos uma referência: o estabelecimento da Web Summit em Lisboa, a criação da ESNA no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da União Europeia em 2021, e o próprio crescimento do ecossistema, que viu o investimento em startups duplicado, de 2020 para 2021, são evidências disso. Mas ainda há mais a fazer: queremos continuar a ser um exemplo e uma referência na Europa, na forma como atraímos talento e inovação, através de propostas de políticas públicas, mas também com a dinamização de programas e ferramentas que as ajudem as startups a fazer desenvolvimento de negócio e a escalar.

DE QUE FORMA VÊ AS ATUAIS INTERFERÊNCIAS DO PANORAMA ECONÓMICO E GEOPOLÍTICO (NUMA ESCALA INTERNACIONAL DE FORA PARA DENTRO) E QUE REAÇÕES ESPERA NO UNIVERSO DAS STARTUPS?

A comunidade empreendedora é provavelmente a que mais facilmente reage e se adapta a estes novos contextos. Isso foi visível durante a pandemia, com o Tech4Covid, um movimento que juntou a comunidade empreendedora na criação de soluções que ajudaram muitos negócios a sobreviver, e agora mais recentemente com a criação de respostas às emergências criadas pela guerra na Ucrânia. Creio que não existem ilusões sobre o ritmo acelerado das mudanças do mundo que nos rodeia. Acredito que os ecossistemas empreendedores serão um motor para ajudar as economias nestas adaptações, é por isso que é tão importante apoiá-los.

COMO A STARTUP PORTUGAL ESTÁ ENVOLVIDA NO ACOMPANHAMENTO DE POLÍTICAS PÚBLICAS DE INCENTIVO AO SECTOR?

A proposta de políticas públicas é uma função prioritária da Startup Portugal. Estamos neste momento a preparar propostas que comunicaremos muito em breve. É um trabalho constante que desenvolvemos em articulação com várias áreas do Governo e que tem, desde o final do ano 2021 contado com a liderança do nosso Conselho Estratégico recém-criado que conta com a participação de cerca de 20 personalidades representantes dos vários agentes do ecossistema como unicórnios, startups, incubadoras, investidores, tech corporates e consultoras.

PODE NOMEAR ALGUM SECTOR OU PROJECTO PROMISSOR QUE VISLUMBRE TER DESTAQUE A CURTO E MÉDIO PRAZO FORA DO PAÍS?

Sim, há vários setores críticos que estão na mira de investidores e agentes públicos: soluções que respondam às alterações climáticas, soluções de inteligência artificial, e também inovação dentro do universo da web, blockchain e crypto. Como exemplo, podemos ver a Exclusible, API3, Go Parity ou Chemi Tech.

JÁ QUE ESTAMOS À CONVERSA NO ÂMBITO DE UM CONCURSO, ACHA QUE SERIA MUITO AMBICIOSO, PORTUGAL SER CONSIDERADO NUM FUTURO BREVE COMO A “MAIOR NAÇÃO EMPREENDEDORA DO SUL DA EUROPA”? O QUE TEMOS QUE FAZER PARA ALCANÇAR ESTE PATAMAR?

Já o somos em termos relativos - Portugal originou já mais de o dobro de unicórnios por milhão de habitantes do que Espanha, Itália, França ou Alemanha. Temos muito bom talento em Portugal - português e internacional - e portanto acreditamos que esse caminho será natural, se criarmos as políticas públicas que incentivem a que estes mantenham as suas sedes em Portugal. Queremos que startups em fase de crescimento, como a Barkyn, Defined.ai, YData ou sheerME, vejam Portugal como um espaço atrativo e que não necessitem de ‘fugir’ do nosso país para escalarem.

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