Evita, a bonequinha loira made in Argentina
“... está bem claro que é um melodrama, tudo na vida dos miseráveis é melodrama. Um melodrama ordinário, barato e ridículo para os homens medíocres e egoístas. Porque os pobres não inventam a dor. Eles sabem tirar partido da pobreza e se acomodar...” – Eva Perón.
o t n e m e l p u S o Perú
Ônibus da companhia inglesa queimados por nacionalistas - 5/07/1943
d l a i c e p Es
Pelo Comendador Thomas Sastre Copydeskado por Claudio Kuck
A
té os primeiros anos da década de 40, o país se limitava a observar como uma classe dirigente corrupta que tinha as marionetes do poder nas mãos, engordava as vacas e seus bolsos. Para os latifundiários a guerra européia, ou o trânsito dos negócios pelo Atlântico, resultava em sério problema. 17 de Outubro de 1945 e tudo está por se fazer, as oligarquias cultivam seus redutos políticos com representantes fantoches, mas no entanto a Argentina com sua modernidade e ambiente cosmopolita rodeado de parques, palácios afrancesados criaram uma ilusão ótica de reinado latino-americano. Os oligarcas, os novos ricos e a classe média tinham uma leve suspeita da existência de outros tipos de argentinos. Operários de língua afiada e incendiária com pinta de bandoleiros, vagabundos,
cafetões, desempregados, mão-de-obra explorada em fazendas por burgueses de moderada prosperidade. E nesse círculo vicioso se reunirão os fatores que darão uma capotada na história argentina. Seus protagonistas ignoram o que seus olhos verão: assistirão de camarote a fusão mística do proletariado. Quem são os protagonistas? As massas ou seus líderes? O 17 de Outubro de 1945 sela o pacto que os identificará por décadas. As massas para os ouvidos da alta sociedade soavam como se tratasse de outro tipo de espécie. “Viva o macho de Eva Duarte” grita a multidão que inunda a capital. O aludido macho é o coronel Juan Domingo Perón, secretário do Trabalho, ministro da Guerra e vice-presidente da República. Eva Duarte está no centro de um campo de forças, falar do seu comportamento re-
25 de julho de 2008 – O Perú Molhado
sultará supérfluo quando se trata do 17 de Outubro, decididamente ela não está em condições de atuar com a coerência que lhe atribuíram seus detratores. A oposição anti-peronista a verá agitando operários em bairros pobres e favelas, carregando-os à Praça de Mayo ao resgate do seu macho. Mas Eva naquele dia em que ainda não era Evita, circula pelas ruas medindo a efervescência popular. Operários tiram seus paletós, sapatos, meias por causa do calor, molham e refrescam seus pés inflamados pela longa caminhada, na fonte da Praça de Mayo Descamisados que vociferam carregando trapos e bandeiras, repicando tambores, um começo de uma revolução suja e estrepitosa, homens alcoolizados urinando nos prédios públicos, hordas de arruaceiros nada merecedores de um sorriso ou uma ironia. Uma deprimente lembrança
Evita é uma mãe para mim disse o Comendador