17 de novembro de 2010 • www.operumolhado.com.br • Edição 991 • ANO XXX
R$ 1,00
BAIRROS Bianca
Funcionária da Búzios Papelaria e neta do saudoso João Guelo, representando a beleza das garotas da Rasa
A Oficina do Cachorro-Quente chegou para ficar Pág. 16
Morreu Cláudio Kuck, nosso repórter mais famoso e rabugento. Uma morte mais que anunciada Pág. 13
Deu no Gente Boa
O Barulho do Silêncio Rasa Surge
uma nova fronteira
Por Alessandra Cruz
Marcheni, Mathias e a pequena Carol
Quando pensamos em praticar mais uma mudança de vida, desejamos sair do movimento e barulho intermitente da Av. José Bento Ribeiro Dantas, precisamente no Sítio do Campinho, próximo ao antigo PU de Manguinhos. Onde durante uma década, ali estivera instalado o Atelier Mathias. Sondamos a Rasa, visitamos sítios, conhecemos figuras emblemáticas da antiga história dos escravos e seus descendentes; nos reconhecemos outra vez , parte dos seres terrestres, integrantes da natureza, nossa identidade é despertada por um ambiente pulsante e vivo em plenitude. Compramos a propriedade e nos empenhamos no projeto da Escola Atelier Mathias. Quando em fim nos mudamos, em 1995, tivemos durante os primeiros meses uma dificuldade incrível para conciliar o sono, o motivo? O barulho do silêncio... os grilos, os sapos, o rastejar dos répteis, o cair das folhas, os passos de algum mamífero sobre as forragens secas e o marulhar da praia Rasa, nos ensurdeciam; demoramos certo tempo para assimilar esse novo e maravilhoso mundo em torno de nós. Hoje, temos outros motivos para não conciliar o sono, já não percebemos os hábitos noturnos das criaturas pacíficas na natureza, mas o arfar agonizado da violência “urbana” que invade o entorno, ao longe e bem perto, nossas madrugadas podem ser interrompidas pelos estampi-
dos surdos de tiros ou gritos aterrorizantes. Reflexo do refluxo dessa sociedade movida por desejos incontroláveis e distanciados de forma a que o ser humano não se sente mais parte dos elementos que perfazem o coletivo dos seres naturais. É que sobrenaturalmente, contrariando o curso natural, é o homem que treina pra guerra, é o humano que, conhecendo causa e conseqüência, destorce os motivos de humanidade e subverte-se, condenando-se ao extermínio. Os ditos cidadãos “de bem”, esses são a maioria ( podendo render um outro tema) , sobrevivem sim como reféns dentro das próprias casas. Esse mal do pânico já contaminou a sossegada Rasa e aqui estamos indefesos, desconhecidos e invisíveis tanto quanto aqueles ainda sobreviventes por todo o estado do Rio de Janeiro. Há urgência de indignação, da reação comunitária em defesa e resgate da paz que outrora conhecemos por aqui e ali. Talvez as próximas gerações não terão condições de assimilar o conceitos das palavras sossego e paz quando em consulta a algum velho dicionário, se acaso não reagirmos contra a minoria que transgride e abusa da paciência e da passividade de homens e mulheres, moradores desta terra, os quais não sabem a força que tem. Temos o direito de garantir aos nossos filhos que ouçam novamente o barulho do silêncio, o sussurro da paz e do sossego... Aqui em Rasa, até os confins da Terra.
Só desejamos que a paz e a segurança do dia se estenda pela noite à fora. Isso não é pedir muito, é exigir o direito de desfrutar da necessidade básica para o ser humano, viver e produzir em paz, nada mais. Faça cada um a sua parte, cuide cada um de sua própria vida, deseje cada um somente o necessário, nunca cobice o bem alheio, faça o que é certo e é só isso. Busque e encontre o seu melhor e compartilhe com o outro. É só dizer não à sociedade dos excessos e das desnecessidades . Basta reconhecer que não dormimos em “20 camas numa noite e nem comeremos 20 pratos em um dia”; “necessário, somente o necessário, o extraordinário é demais”. A paz é o resultado da volta à simplicidade sabendo que ser simples nos dias atuais é um verdadeiro luxo! Talvez por isso, os que saqueiam as casas e violentam as vidas alheias busquem o caminho das facilidades, disponíveis no inconsciente popular, posto que disponíveis em todas as modalidades midiáticas, estimulando desejos e fraquezas nos jovens ou nos corruptos roubadores da tranquilidade desta linda e pacata Rasa. Sabendo-se que,crianças não nascem educadas, antes precisam de pais que as eduquem, assim como os homens que praticam as guerras (roubos, furtos, assassinatos, violência...), não passam de crianças mal educadas. (Marcheni Mathias – Psicopedagoga e titular da Escola Atelier Mathias em Rasa)
Quem achava que o Perú Molhado chegando aos trinta estaria brochando, se enganou, pois esta é a melhor fase do peru, sem trocadilho, por favor. Infelizmente acho que já não estou em nova fase. Estamos chegando aos trinta anos e com a credibilidade que o pessoal vem nos dando, pensei que estava na hora de sair com um jornal que fale de tudo e todos e de todos. Dessas pessoas que têm o direito de se expressar com suas próprias palavras. Criamos um espaço para o morador desde a Maria Joaquina até José Gonçalves, não deixando de passar pelos bairros do Centro, Ossos, João Fernandes, Brava, Maguinhos e Geribá... O Perú dos bairros vai trabalhar ativamente contando sempre com os nossos repórteres/leitores. O projeto foi criado, pois sentimos a insatisfação das pessoas nas ruas. Pessoas que reclamam que não tinham espaço para criticar, elogiar ou contar fatos inusitados. A quantidade de ligações que recebemos por dia é impressionante. Por isso nos colocamos a disposição pra atender a todos. Todos os moradores de Búzios podem e devem participar de Perú Bairros.Basta apenas enviar fotos e textos para o email perudebairros@ operumolhado.com.br , assim também faremos com os Classitudo do Perú. Os preços são mais em conta. Aqui na redação dizem que estou louca em baixar os valores dos anúncios, mas podem tirar o cavalinho da chuva que não vai ser tão fácil assim me dobrar.
Conselho editorial Brigitte Bardot, Claudio Kuck, Ivald Granato, Jomar Pereira da Silva, Fino Quintanilha, Renata Deschamps, Otavinho, Umberto e Claudio Modiano, Ernesto Zabotinsky, Trajano Ribeiro, Renato Pacote, Jorge Tedesco, Claudio Cohen, Lau ritz Lachman, Guilherme Araújo, Pedro Paulo Bulcão, Paulo Mariani, Alberto Fantini, Marie Anick e Jacques Mercier, Araguacy da Silva Mello, Luis Edmundo Costa Leite, Marcos Paulo, Elie Shayevitz, Jonas Suassuna, Glória Maria, Ruy Castro, Heloisa Seixas, Márcio Fortes, Luiz Fernando Pedro so, Lula Vieira, Antônio Pedro Figueira de Melo, Adriana Salituro, Eduardo Modiano, Ancelmo Góis, Etevaldo Dias, Joaquim Ferreira e Thomas Sastre. Diretor Marcelo Lartigue Jornalista responsável Hamber R. de Carvalho (reg. prof. 13.501 DRT/RJ)
Fundadores Mario Henriques e Pedro Luis Lartigue Gerência de Vendas Rio: Gestão de Negócios Tel: (21) 2245-8660
Editora de fotografia Marcelo Lartigue
Mecenas Umberto Modiano
Repórter Sandro Peixoto Mônica Casarin Alessandra Cruz Claudio Kuck Denis Kuck Adriana Salituro
Impressão Ediouro
Diagramação Marcela Silva
Diretora de Distribuição Cristina Albuquerque Depto. Jurídico Dr. Ulisses Tito da Costa
Diretora Comercial Alessandra Cruz O Perú Molhado / Editora Miramar CNPJ: 02.886.214/0001-32 Rua Alfredo Silva, 226, casa 4 Cep 28 950-000 – Brava - Armação de Búzios – RJ Celular/redação: (22) 8128-3781 / 9216-3361 / 2623-1422 Comercial: (21) 7874-8081 E-mail: operumolhado@globo.com operumolhado@gmail.com Site: www.operumolhado.com.br
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A cidade partida Por Sandro Peixoto O título acima foi ‘roubado’ do escritor Zuenir Ventura. No livro Cidade Partida, Zuenir mostrou a cisão que existe no Rio de Janeiro entre a sociedade e os bandidos. A nossa cidade partida vai por outro caminho. Tenta mostrar as várias Búzios dentro de uma só Búzios. Essa edição do Perú Molhado Bairros tem a singela pretensão de aproximar os moradores de Búzios. Uns dos outros. Aproximar o gringo rico da Ferradura, ao mais simples trabalhador braçal da Rasa. Mostrar que vivemos numa só cidade, mesmo que muita gente não se sinta a vontade ao caminhar pela Rua das Pedras. Por ser um município pequeno, Búzios tem algumas coisas inexplicáveis. Até hoje, grande parte dos moradores do bairro de Manguinhos se referem ao centro da cidade como ‘Búzios’. Parece que moram em outra cidade. Na cidade de Manguinhos. Quando precisam vir à prefeitura, por exemplo, dizem ‘vamos pra Búzios’. Já quem mora no Centro diz que quem é de Manguinhos está certo. Para esses, Búzios começa no Pau Rolou (depois da entrada da Ferradura) e vai até João Fernandes. Felizmente essa divisão imaginária nunca criou grandes traumas. Os moradores de Cem Braças, Rasa, Maria Joaquina, José Gonçalves e Tucuns já reclamaram da localização do Pórti-
co da cidade. Enxerga nele um marco divisório, uma alusão ao apartheid social.Uma fronteira entre a parte rica e a parte pobre da cidade. Alguns políticos inescrupulosos já usaram o tema no palanque. Bobagem. O pórtico é apenas um ponto de referência turística. Um posto de informações. É certo que Búzios, como toda cidade tem lá suas separações. O comercio turístico e noturno é primazia dos bairros do Centro e dos Ossos. O comércio diurno, as lojas de matérias de construção, Pet shops e borracharias encontraram ambiente em Manguinhos. Os trabalhadores da cidade se espalharam pela Rasa, Cem Braças, Capão, José Gonçalves e São José. Fugindo dos altos alugueis de Búzios, construíram nesses bairros suas casinhas. Rasa e cem Braças são bairros dormitórios. Seus moradores saem pela manhã para trabalhar e só voltam à noite, para o aconchego do lar. Quem é do bairro da Maria Joaquina não se sente nem de Búzios nem de Cabo Frio- apesar de o bairro ter sido dividido ao meio depois da nossa emancipação. O bairro da Maria Joaquina se formou há muito tempo e sua cultura e história é bastante própria. Seus moradores não foram influenciados pelos estrangeiros que transformaram Búzios numa das cidades mais cosmopolitas do Brasil. Sandro subindo pelas paredes
A estrela solitária Cem Braças
Olair está de olho no Mercedes, se ninguém aparecer antes ele leva o carrão
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Repousa numa rua tranquila do bairro de Cem Braças a espera de um novo proprietário, parte do orgulho alemão. De cor verde, com a ferrugem já lhe comendo parte da lataria, sem a tradicional estrela na ponta do capô, mas ainda com bancos de couro impecáveis, um legítimo Mercedes Benz aguarda a chegada do novo dono que lhe dará vida novamente. Segundo Olair, vizinho do proprietário, o carrão custa apenas 15 mil reais. - Mas se o interessado chorar acredito que o dono dê um desconto, alerta Olair. O engraçado é que perto dali, ao lado do Pórtico, dias atrás outro carro estava à venda. Uma velha e bem cuidada Variant branca, legitimamente brasileira. Preço de ocasião: 15 mil reais. Olhem só o orgulho brasileiro sendo representado por um velho
Volkswagen e com o mesmo preço de um carrão alemão. Olhando o velho Mercedes de perto não dá para deixar de imaginar a impressão que aquele automóvel deixava nas pessoas ao passar pelas ruas e avenidas quando ainda reluzia a luz do sol. Principalmente nas mulheres, adoradoras tradicionais de automóveis. Hoje todo mundo tem um Mercedes. Ou o que chama de Mercedes. Mas há 40 anos esse privilégio era de poucos. A pessoa tinha que ter grana e bom gosto. Atualmente os carros são todos parecidos. Principalmente por fora. Porém, ninguém pode negar que quem faz carro de verdade são os europeus. Especialmente os alemães. Por isso causa espécie o Mercedes abandonado em Cem Braças. Uma relíquia daquelas não pode ficar sem dono.
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Leitor, você é
o repórter Crianças em Búzios, quem liga ?? Meu nome é Elisabeth, sou francesa, já morei em Búzios, fui embora em 1995 e hoje estou aqui de volta como turista hospedada na casa de amigas minhas em Manguinhos perto do clube de vela. Assisti sexta feira ao lindo desfile dos 15 anos de emancipação de Búzios
O maior criatório municipal de mosquitos da Dengue fica no bairro do São José e pertence, salvo engano, a prefeitura de Búzios. A enorme piscina de água limpa a parada (a preferida dos mosquitos) da foto ao lado, fica no subsolo da sede do DETRAN, aonde funcionava a até outro dia o posto da Guarda Municipal. O verão está chegando e com ele, provavelmente mais um surto de Dengue. A prefeitura de Búzios está fazendo direitinho a sua parte.
e vi como a prefeitura aumentou o número de escolas em 15 anos. Mas será que a prefeitura se importa com as crianças mesmo ??? Eu duvido que uma administração que deixa estes esgotos nojentos irem para a agua da praia de Manguinhos onde vão crianças para brincar, familias com nenês, esteja realmente preocupada com
Por Elisabeth Brousse
Manguinhos
as pessoas. Na minha terra é crime deixar alguém tomar banho numa praia com este nível de poluição. Desde o início de novembro o esgoto não para de vomitar na praia, isso vai parar quando ? Só depois de alguma criança ficar gravemente adoentada ?? Depois de ver estas fotos ninguém poderá dizer que não sabia...
São José
PC do BB
Cem Braças Alô Dr. Ruy Borba, secretário municipal de Planejamento. Será que o bairro de Cem Braças pertence à Búzios ou não? Nessa cidade não é proibido à construção de três andares? Ou somente nos bairros pobres a lei não vale. Dr. Ruy, o senhor não está justificando seu salário. O dono desse imóvel já tinha colocado a caixa d’água bem acima do normal. Agora está construído um puxadinho debaixo da tal caixa. Se nada for feito, os outros vizinhos vão seguir o mesmo padrão de construção e dentro de pouco tempo Cem Braças estará repleta de pequenos prédios com três andares. Por Pedro Rogério- Manguinhos
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A menor taxa de ocupação do Brasil
P
elo visto, o proprietário deste terreno gosta mesmo de andar dentro da lei. Diferente de muita gente que faz tudo por baixo dos panos, ele pediu licença para construir um muro e uma casinha que servirá de barracão de obras. A placa da obra informa que apenas 1,71% dos mais de 10 mil M² será ocupado. A ser verdade, será a menor taxa de ocupação de Búzios. Menor até que da APA da Azeda, que permite 3% de ocupação. Dizem que em breve no local, surgirá um enorme condomínio. A taxa de ocupação certamente mudará e muito. O muro deste terreno está na mesma linha do Breezes e até agora não vimos nenhum ecologista gritando ou tentado proteger as corujas que viviam no local. Por enquanto, vamos aproveitar e curtir o sonho dos 1,71% de ocupação, pois é um número bem sugestivo.
Tucuns
Marina
Ao que parece o canal da Marina está novamente assoreado. Flagramos dois pescadores com uma rede fazendo cerco na boca do canal como se estivessem caminhando na beira de alguma praia. Deu certo: os dois pescadores levaram para casa mais de 800 quilos de robalo, que como todo mundo sabe, é o peixe preferido dos políticos. Mas o assunto aqui é a canal assoreado e não os peixes.
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Já dá para ver bancos de areia em alguns pontos. Esse canal foi desassoreado há pouco tempo. A draga veio da Serla (Secretaria Estadual de Rio e Lagoas) a pedido do deputado Paulo Melo, mas teve papagaio de pirata querendo adotar os louros. Até uma deputada entrou na história querendo ser mãe do desassoreamento. Incrível o que as pessoas fazem para ganhar uns votinhos a mais.
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Pórtico de Búzios
No lançamento do Loteamento Pórtico de Búzios tudo eram flores. Com as bênçãos da prefeitura de Búzios, gestão Mirinho Braga, os corretores prometeram um paraíso aos clientes. Terrenos planos, próximo ao centro da cidade, com água, luz e transporte coletivo na porta. Coisa de primeiro mundo. Os preços acessíveis atraíram muita gente
boa. Dez anos depois, parte do sonho virou pesadelo. Ruas alagadas, escuras, cheias de mato e entulhos é a realidade que se impõe. Nada de asfalto, calçamento ou coisa parecida. Para piorar a situação, o advogado Arakem Rosa reivindica a área. Com o tempo e o descaso, o Loteamento Pórtico de Búzios foi aos poucos se unindo aos bairros vi-
zinhos e a situação ficou ainda pior. A lama e os buracos, a escuridão e os entulhos se espalham pelas ruas do Capão, Cem Braças e São José formando um problemão para a prefeitura da cidade. Bem feito. Quem mandou liberar loteamento sem as devidas garantias?
Ruas abandonadas no loteamento Pórtico de Búzios. Até a casa do pastor Luciano está no meio do mato. Quem pensava morar no paraíso viu que o inferno está mais perto do que se imagina
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Ruas alagadas e com entulhos em Tucuns... Pórtico de Búzios...
Em Tucuns, as construções irregulares seguem sem nenhum controle
Surge mais uma igreja em Búzios. Essa está sendo construída no Loteamento Pórtico de Búzios e talvez seja a salvação dos moradores locais
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Sombra e água fresca
A professora Adriana Ribeiro, a manicure Jerônica, a dona de casa Neli, o ladrilheiro Orlando e o mestre de obras Jandir se refrescando debaixo de uma frondosa amendoeira na Estrada do Capão, no Dia da Proclamação da República. O povo de Búzios sempre soube curtir a vida e essa cena reflete bem um modo de viver bastante peculiar dos buzianos.
Este pôster não pode ser vendido separadamente
Planeta água
Ossos
Por Sandro Peixoto Ainda nos anos 80, uma das maiores diversões das crianças e dos jovens (e porque não dizer dos adultos) moradores dos Ossos era se refrescar nas águas da Lagoa do bairro. Para quem passa hoje ao lado da Lagoa dos Ossos e vê sua água cor de merda nem imagina que há poucos anos naquela piscina natural nadavam patos e marrecos. Peixes também havia a vontade. E muita gente tomava banho na lagoa - principalmente no final da tarde. A Lagoa dos Ossos, a mais bela e bucólica lagoa de Búzios começou a morrer com a explosão demográfica do bairro de João Fernandes. Sobretudo com a chegada das pousadas e dos condomínios que canalizaram para a lagoa, seus esgotos sem nenhum pudor. De bela piscina natural a Lagoa dos Ossos foi aos poucos se transformando num depósito de lixo e esgoto. O mato cresceu ao redor, por causa do excesso de fósforo (causado pelo lançamento de esgoto) seu espelho d’água foi tomado por gigogas e a vida acabou. Sem oxigênio, acabaram os peixes, marrecos, patos, sapos, rãs e os banhos de fim de tarde. Em compensação, nuvens de mosquitos tomaram conta do lugar. Ainda no seu segundo mandato, o prefeito Mirinho Braga fez uma pequena obra ao redor da Lagoa. Construiu calçada, muro de contenção e um pequeno parquinho para as crianças. Isso apenas impediu as pequenas invasões em seu entorno. Mas o problema maior, o esgoto, não foi resolvido. Um tempo depois, a Prolagos, empresa concessionária de água e esgoto construiu uma estação elevatória ao lado da lagoa. Logo imaginamos sua recuperação. Infelizmente a obra não resolveu totalmente o problema e a Lagoa dos Ossos continuou recebendo a água suja dos imóveis vizinhos. Finalmente a prefeitura resolveu dar vida novamente a Lagoa dos Ossos. Uma dragagem já foi feita, seu espelho d’água voltou a ser o que era e um sistema de filtros foi implantado para evitar a emissão de esgoto in natura em suas águas. Uma cidade como a nossa, que vive de turismo não pode abdicar de uma lagoa tão bonita. Vamos torcer para que dessa vez,a Lagoa dos Ossos volte a ser o que era.
A renovada Lagoa dos Ossos já está atraindo novos investimentos. O Restaurante do Pinguim já mudou de lado e Dr.Caio Seródio, o melhor e único geriatra de Búzios também abriu consultório no local. Até Fernando da Pousada Mediterrâneo está pensando em gastar uma graninha e reformar a pousada, coisa que não faz há anos.
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O prosaico e o inusitado A
melhor maneira de desmistificar um assunto é procurar conhecê-lo mesmo mais de perto. Para algumas pessoas da cidade, principalmente as que moram no Centro ou nos bairros chiques, os bairros da periferia são tão distantes quanto marte ou júpiter. Nunca vão lá e as opiniões que emitem do lugar em geral são fantasiosas ou irreais. Quem mora em Cem Braças, Capão, José Gonçalves ou mesmo na Rasa tem outra visão. Esses locais, guardados seus problemas de infraestrutura, são lugares pacíficos e não diferem em violência de nenhum outro lugar da cidade. Claro que por lá os fatos negativos reverberam mais. A sociedade quase que ‘espera’ que esses bairros sejam violentos. Se conhecessem de perto saberiam que não é bem assim. Nesses bairros a vida corre tranquila. As crianças ainda brincam na rua, os adultos conversam e bebem nos bares e os religiosos seguem para seus templos e igrejas sem nenhum problema. Durante o dia, a vida é tão normal quanto em qualquer lugar do mundo. As lojinhas, como essa ao lado que conserta e vende ventiladores são bastante simpáticas. Já a igreja Maranata de Cem Braças agrada pela beleza do seu jardim e pelo seu tamanho. Em tempos de templos suntuosos, dá gosto ver um lugar tão simples dedicado a fé e a busca do divino. A igreja Maranata de Cem Braças valoriza o que tem que valorizar. Uma lição de humildade de fazer corar certos pastores que acreditam que é pelo tamanho do templo que se chega a Deus. Já o Quiosque da Associação de Tucuns prova que não é necessário um galpão enorme para juntar pensamentos. Que dá para lutar pelos direitos com boa vontade. Um conselho aos navegantes. Vá mais aos bairros da periferia. Além de um povo agradável você se surpreenderá com gostos inusitados.
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Tucuns
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Agenda Cinema O filme Tropa de Elite continua em cartaz no Grand Cine Bardot, mas como custa muito caro o pessoal da periferia talvez não se empolgue muito em ver o filme. Afinal não é todo mundo que tem 18 reais para comprar um ingresso. A saída são os DVD piratas, que não é uma coisa boa. O Perú tem uma idéia. Com tantas igrejas no bairro, bem uma delas poderia virar cinema.
Cine Bardot - MINHAS MÃES E MEU PAI. EUA 2010) 1h 45 min Comédia Dramática 16 anos. De: Lisa Cholodenko. Com: Julianne Moore , Annette Bening , Mia Wasikowska. Dias: Sexta 21:30. Sábado 21:30. Domingo 19:00 TROPA DE ELITE 2. Quinta 21:00 Sexta e Sábado 19:30 Domingo 21:00. (Brasil 2010) Policial 2h 00 min 16 anos. De: José Padilha. Com: Wagner Moura, Seu Jorge, André Ramiro, Rod Carvalho. Valor do Ingresso: R$ 18,00 (inteira) / R$ 9,00 (Meia). Tel: 22 2623-1298. www.viladomar.com/cinebardot
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Cem Braças
Morreu Cláudio
‘Dona’ Maria das Graças e sua banquinha de remédios caseiros. Ela promete curar tudo. Chulé, cêcê, caspa, dor de corno, Cachimblema (a pior doença que pode afetar um homem, resultado de cachaça/chifre/problemas), flamenguismo agudo, e até paumolecência. ‘Dona’ Maria pode ser encontrada todas as noites ao lado do Mercado Guimarães, em Cem Braças
Por Lauro Neto, jornaliso e amigo do Denis Kuck
N O Perú recomenda (mas adverte: pode dar cana) a Feira de Passarinhos todos os sábados em Cem Braças. Por lei, pássaros em gaiolas somente de criadores autorizados ou de outros países. Quem tiver pássaro nativo engaiolado corre sério risco de multa e cadeia. Em todo caso melhor não convidar ninguém do IBAMA.
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ão conheço o Claudio Kuck desde a minha infância. Pelo contrário, devo tê-lo visto duas ou três vezes na vida. Foram o suficiente para que eu chorasse como criança quando soube da notícia de sua morte na manhã desta terça-feira carioca chuvosa. Mas prefiro ficar com as boas lembranças de quando frequentei sua casa em Búzios. Na primeira delas, tomei um esporro dele por eu ter molhado todo o banheiro durante o banho. Ele disse que eu era um inútil e imprestável tal qual o filho dele, o Denis, meu amigo. Talvez tivesse razão. Enquanto ele fazia o famoso fogo da família Kuck para acender a churrasqueira, minha ex-namorada ouvia encantada suas histórias de uma áurea época do jornalismo que não conhecemos. Lembro-me, vagamente, entre um gole e outro de cerveja, de ele falar sobre uma entrevista que fez com o poetinha Vinicius. Ela obviamente se maravilhou. Eu também. Não se fazem mais jornalistas como Claudio Kuck. Depois, ele deve tê-la comido também. Tomara. Na segunda vez, fui com outra mulher. O Denis disse que o pai não entendeu muito bem. Para mostrar que eu não era tão imprestável assim, levei uma camisa do Inter para presenteá-lo. Embrulhei-a num jornal O Globo com uma reportagem minha que ele mentia que gostara de ler. Afinal, para que servem os jornais senão para embrulhar peixes e pães? Ele fez pouco caso do presente, mas acredito que tenha vestido enquanto ouvia algum dos jogos do Colorado transmitido por uma rádio gaúcha captada pela internet. Enquanto eu via o jogo do Vasco na tevê, ele preparava um novo churrasco. Na hora de lavar a louça, as mulheres foram para a cozinha, e
ele disse que eu era muito machista. No fundo, acho que ele gostava de mim e me via um pouco como o filho dele. Tanto é que, quando atolei meu carro no lamaçal das ruas esburacadas de Geribá, motivo de tanta troca de farpas dele com o prefeito e o secretário de obras de Búzios, Claudio foi lá me socorrer com sua picape e ajudar a rebocar meu corsinha. Da última vez que estive em sua casa, ele não estava mais lá. Mas era como se estivesse. Cada vinil que o Denis colocava para tocar na vitrola evocava sua presença, assim como as capas dos LPs decorando as paredes da casa ao lado dos quadros, entre os quais alguns com réplicas de edições históricas d’O Perú Molhado, e os livros da vasta biblioteca que ele conservava. Roubei uns quatro. Mas ajudei o Denis a levar a picape ao Rio para vender. Ao telefone, ele falava com o pai, enquanto Kleiton e Kledir cantavam “Deu pra ti, baixo astral, vou pra Porto Alegre e tchau”. Claudio estava internado em PoA. Em um momento de impressionante lucidez, lembrou ao inútil do filho que tinha que trocar o óleo do carro. Ele jamais saberia. Eu tampouco. Vendemos o carro. Acordei na manhã chuvosa de terça com um e-mail do Denis dizendo que o pai tinha morrido. Liguei o rádio, e tocava “Oração ao tempo”. Eu tentando digerir a notícia, e o viado do Caetano cantando “tempo tempo tempo tempo”... Queria ter ido ao enterro em Porto Alegre. Ainda assim acredito ser possível reunirmo-nos num outro nível de vínculo. Seja ele qual for, o espírito bon vivant de Claudio Kuck continuará com seu brilho definido em Búzios, Brasília, Porto Alegre, Rio, Londres e por onde mais tiver passado. Mesmo nas manhãs chuvosas.
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Cem Braças
Na falta do Google Earth, vamos de Galiotto Earth mesmo - o maior repórter fotográfico dos ares buzianos e cabofrienses. As fotos a seguir mostram muito mais do que queríamos. Expõe o inchaço da cidade, as ocupações sem controle, o fim do verde e o crescimento do cinza. Mas para esse tipo de problema não temos ecologistas de plantão nem político engajado. As casas construídas sem controle mostram porque já temos filas no Hospital na Policlínica, no transporte coletivo, na rede municipal de ensino e em tudo mais. A cidade cresce sem controle e ninguém parece se importar.
Emerências
Arpoador
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Serviço estamparia de camisetas. Falar com samuel. Tel:22 98177317 Cofecção de camisetas. Ana Paula. Tel 22 81883641 Aceito encomendas, jantares, almoços e petiscos pra festa Tel:22 92530799 falar com Baixinha Grace tortas - tortas diet Tel:22 26232901 Mirian fotografa tel 98616306 Professora Particular 26237381 falar com joana Gesso tel 22 99977781 falar com Marcelo Faço frete tel 98417816 Alugo p/ temporada uma casa com 2 suítes, sala, Cozinha, varanda,churrasqueira.... Mobiliada na subida do alto de
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17 de novembro de 2010 – O Perú Molhado Bairros
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Novidade dentro do pão O hot-dog é uma das maiores especiarias americanas. Traduzido literalmente por aqui para cachorro-quente, a verdade é que o prato agrada a todos. De crianças a senhores de idade. A idéia é bastante simples. Um pão de qualidade recheado com uma boa salsicha cozida. Originalmente acompanha apenas mostarda e ketchup. Mas existem diversas variações sob o tema. No Brasil cachorro quente que se preza além da salsicha leva ervilha, milho, queijo ralado, uvas passas, cebola, tomate, pimentão e batata palha. Tem cachorro quente até com linguiça. Apesar de ser um prato simples e saboroso, Búzios nunca teve uma casa de cachorro quente de responsabilidade. Agora tem. O italiano Salvatore abriu em Búzios, na travessa Santana Maia, quase em frente à Maré Mansa a Oficina do HotDog. Finalmente Búzios, que tem uma das melhores gastronomias do Brasil pode se orgulhar de ter também um bom cachorro quente. De linguiça e de salsicha. A casa moderna tem além dos famosos cachorros quentes, um dos melhores açaís de Búzios. Além de baratos, o açaí da Oficina do Hot-Dog tem 90% de pureza, ou seja, é uma delícia. A loja ainda tem bebidas e refrigerantes. Ninguém em ais desculpas para não saborear um bom hot-dog.
As funcionárias da Oficina do Hot-Dog
Açaí com Hot-dog, a melhor pedida desse verão
Michel, gerente da casa como proprietário Salvatore
A fachada da loja
Salvatore e sua amiga Verônica