Parque da Devesa Promessas cumpridas, desafios futuros Artur Sá da Costa Em 2002, ao assumir a presidência da Câmara Municipal, Armindo Costa definiu a criação do Parque da Cidade como um objetivo estruturante do seu consulado: “na cidade do futuro com que sonhamos vamos também dar passos concretos no projeto de criação do Parque da Cidade, na Quinta da Devesa, em Antas.” Era uma rutura face à tibieza das opções municipais até então assumidas. Nos últimos planos de atividades da gestão de Agostinho Fernandes nunca o Parque da Cidade foi mencionado como um objetivo. O que não significa que a Quinta da Devesa não tenha entrado nas preocupações daquele edil. Tudo encravou no processo tortuoso de aquisição dos terrenos. Em 1993, a Câmara Municipal teve a oportunidade de comprar toda a Quinta da Devesa por 4 milhões de euros, a pagar em quatro prestações, mas terá faltado coragem política para decidir sobre esse investimento. A proposta foi tida como razoável e colheu o apoio do então líder do PSD (OPINIÃO PÚBLICA, 16/6/1993). Acabou por ser a gestão do presidente Armindo Costa a cumprir o sonho de fazer o Parque da Cidade. Em 10 anos – entre 2002 e 2012 – foram negociados os terrenos, foi feito o projeto, resolvida a questão do financiamento e realizada a obra. Se os Paços do Concelho foram a “obra do século XX”, como chegou a escrever o jornalista Rebelo Mesquita, o Parque da Devesa fica para a história como o “monumento” do terceiro milénio. Pela grandiosidade que legitimamente reivindica; pelo que é e concretiza; pelas ruturas e inovações que faz; pelo que simboliza, aos quais acrescem os hori-
zontes que se rasgam e os desafios que a todos são lançados. É um parque muito maior do que todos aqueles que existem na cidade. Depois, explora e potencializa com atenção e sensibilidade as condições ecológicas, naturais e patrimoniais existentes, rompendo com as práticas erradas do passado. Eis um exemplo, o Parque da Devesa não esconde o rio Pelhe que o atravessa, neutralizando os erros praticados nos parques de Sinçães e da Juventude; pelo contrário, acolhe-o, regenera-o e deixa-o espraiarse. Dá-lhe vida. Ao rio, mas também à área verde e florestal, ampliandolhes as capacidades e funções, pela incorporação no espaço de vários equipamentos culturais, ambientais e de lazer. É o que acontece quando o visitante é surpreendido, nos trilhos que percorre, por espécies ar-
bóreas autóctones, por um marco miliário da via romana Cale-Bracara, ou por uma réplica, em tamanho real, do balneário castrejo, onde pode viajar na máquina do tempo. Esta dimensão que busca o não conhecido, através da experimentação, aguça a curiosidade pelo saber e pela aprendizagem em liberdade. Em todo o caso, a sua força e magia emergem do poder simbólico que concentra, bem como das potencialidades que projeta no futuro. E nos desafios que lança aos famalicenses. Desta geração e das futuras. O Parque da Devesa é o início daquilo que somos. É a nossa utopia. É a utopia que nos alimenta e desassossega, impelindo-nos a dar presente ao futuro: construir uma cidade, cúmplice com a sua história e amiga do património cultural e do
ambiente, abraçada por um corredor verde a envolvê-la, consolidando o eixo norte/sul, vindo do Palácio da Justiça até à Devesa, depois de libertarmos o Parque de Sinçães dos seus fantasmas e constrangimentos, para seguir o leito regenerado do rio Pelhe até Ribainho; com ele convergirá o eixo este/sul, partindo do Parque do Vinhal, para se expandir pelos parques 1º de Maio e da Juventude, libertando da lei da morte o ribeiro que desce de Brufe e se esconde do olhar e do usufruto dos munícipes. Porém, este é apenas o primeiro elo da estrutura ecológica de sustentação da cidade verde, que os urbanistas há várias décadas desenharam, e está inscrita na carta dos direitos da cidadania contemporânea. Uma cidade saudável necessita de um outro anel verde, que a
alimente e a proteja. O Parque da Devesa, e em particular a sua área florestal, é uma parte desse todo. Este é o tempo de exigirmos um corredor/anel arbóreo e paisagístico, mais largo e amplo, que se estenda em volta de toda a cidade: protegendo e preservando os montes que se estendem de Cruz (S. Tiago), expandem-se pela mata de Pindela, prolongam-se por Brufe, Vinhal, Reguladora, Facho / Santa Catarina e penetram no castro de S. Miguel-oAnjo. A defesa e valorização deste anel verde são essenciais para a qualidade do ar que respiramos, como na manutenção do equilíbrio ecológico do território e da beleza da cidade que habitamos e que queremos legar aos nossos vindouros. Afinal, o parque é o início daquilo que queremos ser! pub