TÊXTIL Vestuário e
João Costa, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal
“O têxtil e o vestuário portugueses são conhecidos pela excelência” O têxtil e o vestuário com a etiqueta “made in Portugal” ganhou valor e são hoje altamente reconhe cid o e m m uitos pontos do mundo. Neste Especial, falámos com João Costa, presidente da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal (ATP ), que realça a q ualidade, criatividade e inovação dos produtos nacionais. O setor registou, pela primeira vez, desde o início da década de 90, uma criação de mais de 4 mil postos de trabalho. O futuro parece promissor e o objetivo é ultrapassar os 5 mil milhões em exportações até 2020.
diferente de uma simples subcontratação, chegando mesmo a ultrapassar o conceito de private label, pois trata-se de desenvolver e apresentar soluções, numa colaboração ativa, criativa e de confiança entre fornecedores e clientes. É certo que continuamos mais desenvolvidos e focados no negócio entre empresas (business to business), mas longe da dependência do sourcing de há décadas, e que hoje caracteriza a oferta do Oriente, do Norte de África e do Leste Europeu. As empresas que insistiram neste último modelo, porque não quiseram ou não puderam mudar, pagaram essa inércia com a sua inviabilidade económica e o seu desaparecimento.
Sofi fia a Abreu Silva OPINIÃO PÚBLICA: A indústria portuguesa de tê xtil e vestuário registou um aum ento d e 8% nas vendas ao exterior em 2014, naquele que foi o melhor dos últimos 11 anos. Que comentário lhe merecem estes números? João Costa: O sector Têxtil e Vestuário exportou 4.622 milhões de euros em 2014, mais 340 milhões de euros relativamente ao ano anterior. Trata-se de um bom resultado, que evidencia uma forte recuperação do setor com um crescimento desde 2009 de cerca de 30%, que representa mais de 1.000 milhões de euros nas exportações, após uma década difícil, plena de grandes desafios e obstáculos, em que as diversas crises são o melhor exemplo: a abertura dos mercados à escala global e a entrada da China e da Índia na Organização Mundial do Comércio (OMC), em 2005; a crise económica e financeira internacional iniciada em 2007/2008, com o colapso do consumo nos principais mercados de destino das nossas exportações; e, depois, a crise creditícia portuguesa, que eclodiu em 2011, e culminou com a necessidade de resgate da “Troika”, com todas as consequências conhecidas no consumo e investimento nacionais. É também a demonstração da capacidade deste setor em reagir às adversidades, em adaptar-se, reestruturar-se e reinventar-se para sobreviver, revitalizar-se e voltar a crescer. É importante observar que este bom resultado
Esse já não pode ser o nosso campeonato, que foi irreversivelmente conquistado pelos países do Extremo-Oriente, como a China, Índia, Indonésia, Paquistão, Vietname, Bangladesh, Filipinas e outros. A única saída positiva para as empresas da fileira têxtil portuguesa foi apostar na qualidade, na criatividade, na diferenciação de produtos, seja esta feita pela inovação tecnológica ou pela moda, tudo acompanhado por grande intensidade e disponibilidade de serviço. O nosso mercado é prioritariamente e predominantemente o de proximidade geográfica e cultural, o de nichos e de gamas de maior valor acrescenO sector reinventou-se e está no tado. caminho certo? O sector foi obrigado a reinventar- Hoje atuamos de forma diferente… se e o caminho que seguiu foi o O têxtil e o vestuário portugueses necessário e inevitável para poder são atualmente conhecidos pela sobreviver. Não é mais possível excelência produtiva, e também competir à escala global numa ló- pelo domínio e engenharia do progica simples de venda de capaci- duto, o que significa ter a capacidades produtivas, de produtos bá- dade de criar e desenvolver novos sicos e de grandes séries, com produtos, novos materiais e novas base na concorrência pelo preço. funcionalidades, e que é algo bem
atingido em 2014, mas já em preparação em 2013, é igualmente devido ao esforço empreendido na execução dos programas de internacionalização que a ATP e a sua participada, Associação Seletiva Moda (ASM), têm vindo a realizar nos últimos anos, envolvendo só em 2014 cerca de 200 empresas, com mais de mil participações em 65 feiras internacionais, em 35 países, em todas as especialidades da fileira: têxtil, vestuário e moda, têxtil-lar e têxteis técnicos, com um investimento de 9 milhões de euros, repartido entre as empresas e as associações, e com o apoio do COMPETE.
O “made in Portugal” é hoje mais valorizado? Os têxteis portugueses permanecem predominantemente nos mercados mais desenvolvidos, mais exigentes e mais estáveis, que são os europeus. Cerca de 80% das vendas do sector ao exterior são dirigidas ao mercado da União Europeia, com destaque para Espanha, França, Reino Unido, Alemanha, Itália, Países Baixos, Bélgica, Suécia, Dinamarca, Noruega e Áustria. Os Estados Unidos da América ocupam a quinta posição nos clientes, por países, com 226 milhões de euros de compras, mas têm um grande potencial de expansão no futuro, atendendo à atual cotação do euro/dólar e à perspetiva de acordo de comércio livre entre a União Europeia e os EUA. Finalmente, há que mencionar o crescimento das vendas para países de outras geografias e para mercados emergentes, que os programas de internacionalização da ATP/ASM têm promovido, com crescimentos exponenciais em países como o Japão, Austrália, China, Colômbia, Angola, Brasil, entre outros. Atualmente, a etiqueta “made in Portugal” acrescenta valor, ao contrário do passado, pelo que são hoje os clientes que a exigem, pois a excelência do têxtil e vestuário portugueses é reconhecida globalmente, distinguindo-se valorizadamente dos produtos, menos qualificados, de outras ori-
gens, não apenas numa lógica de qualidade produtiva, industrial, inovadora e criativa, mas, igualmente, por nesses países não se respeitarem, em muitos casos, os parâmetros mínimos exigíveis ao nível da proteção social e ambiental, sendo hoje as questões da sustentabilidade relevantes para os consumidores e, neste domínio, Portugal é um país que a assegura esses critérios com a máxima segurança. Está aí um novo quadro comunitário. De que forma pode ser aproveitado pelo setor têxtil? O novo Quadro Comunitário de Apoio – “Portugal 2020” - está prestes a entrar em funcionamento, embora mais tarde do que foi anunciado e do que eram as nossas expectativas e os legítimos anseios das empresas. O “Portugal 2020” é fundamental para alavancar novos investimentos. Se as empresas não fizerem investimentos, seja no seu parque tecnológico, modernizando-o, seja em domínios que aumentem a sua terciarização, e as qualifiquem e refinem, para que lhes impulsionem a subida na cadeia de valor, correm o risco de comprometer a sua dinâmica competitiva e até a sua sobrevivência futura. A ATP apresentou em Setembro do ano passado o seu Plano Estratégico para o “Cluster” Têxtil até 2020, tornando-o convergente com a filosofia do novo Quadro Comunitário de Apoio, uma vez que entende a importância crítica dos recursos financeiros que este disponibiliza para a necessária mudança que importa implementar no sector, de modo a que a sua dinâmica de crescimento não esmoreça, e, antes pelo contrário, possa ser potenciada, recuperando os melhores indicadores de sempre, como as exportações, e apostando em que o seu valor ultrapasse novamente os 5 mil milhões de euros até 2020. Hoje o têxtil já está a criar postos de trabalho, mas não haverá falta mão-de-obra qualificado no sector? O ano de 2014 registou pela primeira vez, desde o início da dé »»»»»»»»»»