F A G R I C O O P Cooperativa Agrícola e dos Produtores de Leite de Vila Nova de Famalicão
Manuel Loureiro presidente da Fagricoop, Cooperativa Agrícola e dos Produtores de Leite de Famalicão
“Só com a crise é que os políticos se lembraram da agricultura” Manuel Loureiro, presidente da Fagricoop, Cooperativa Agrícola e dos Produtores de Leite de Famalicão, é alguém que conhece bem a agricultura do país e não esquece que durante muitos anos a agricultura foi esquecida por muitos, nomeadamente pelos políticos. Depois da banca e da construção terem sido altamente abalada pela crise, o país começou a virar-se, novamente, para a agricultura. O certo é que falta fazer muito pelo setor primário.
feito esse trabalho e, provavelmente, ter-se-á de fazer esse caminho. Mas, temos a eterna questão do preço do litro de leite, em que os produtores acham que recebem pouco…. Na verdade a questão do preço é do dia-a-dia. A Agros, por exemplo, é a empresa que paga melhor o leite nesta zona do país, com 8 cêntimos acima do que pagam os outros. Porém, creio que tudo estaria melhor se houvesse outros modelos de comercialização de leite e este é o desafio para a Lactogal. Eu penso que o modelo de gestão da Lactogal terá que mudar, quer ao nível do modelo de administração, quer na sua política comercial, apostando mais na criação de novos produtos de valor acrescentado. E com isto fazer chegar aos produtores de leite maiores fatias dos lucros, promovendo a revitalização do setor leiteiro.
Sofia Abreu Silva Manuel Loureiro: Comecemos pelas estatísticas, Portugal perde 3070 produtores de leite por ano, como vê este decréscimo? Com alguma preocupação por um lado, mas por outro lado sem grande preocupação, porque realmente perdemos muitos produtores de leite, mas o número de litros mantém-se, isto quer dizer que as produções dos agricultores que fecharam foram absorvidas por outros e a produção total mantém-se. Em termos de números, até estaremos, este ano, a ter uma das maiores produções de leite dos últimos dez anos, em média com mais 35 mil litros de leite por dia, recolhidos pela Agros, num total de 1.606.000 litros por dia. A minha grande preocupação prende-se com o facto de verificar que se um produtor de leite deixa a sua produção, terá de trabalhar noutra área e, neste caso, temos estabelecido setores na cooperativa para dar apoio logístico na criação de projetos em novas áreas de atividade. No caso concreto da Cooperativa, há menos produtores? Temos perdido agricultores quase todos os anos, uns porque fecham a atividade, por questões financeiras, outros porque não têm quem dê continuidade ao seu trabalho, contudo os números não são relevantes, à exceção de há três anos em que registámos a perda de 10 produtores de leite,
mas a produção não diminuiu. Está a terminar o regime de quotas leiteiras, que existia desde 1985 na Europa comunitária. Agora, os produtores terão de concorrer em mercado livre e totalmente aberto à concorrência. Os produtores estão preparados? Nunca se está preparado para isso. São medidas que terão implicações diretas na vida das pessoas, nomeadamente de quem produz leite. Até à data, os agricultores não procuraram muitas soluções alternativas, acabando por confiar nas instituições que gerem tudo o que diz respeito ao leite para que estas minimizem o problema. Contudo, para compensar a questão das quotas, criou-se um modelo de contrato tripartido, entre a cooperativa, a Agros e o
“Sabemos que o leite é um produto de consumo garantido e que a exportação pode ser também a solução, porque este é um produto que se aguenta bem. Não se tem feito esse trabalho e, provavelmente, ter-se-á de fazer esse caminho.” As minhas maiores preocupações são o facto de haver explorações que querem aumentar e não podem, terão de manter-se assim. Depois, há sempre o risco do preço do leite cair abruptamente. Sabemos que o leite é um produto de consumo garantido e que a exportação pode ser também a soMas, quais as consequências no lução, porque este é um produto que respeita às quotas? que se aguenta bem. Não se tem
produtor, em que é estabelecido a média de produção de leite. Ou seja, a Agros garante que recebe e paga por essa quantidade de produto. Portanto, deixa de haver a questão de se produzir a mais ou a menos, dado que os produtores produzem a quantidade acordada.
Está aí um novo quadro comunitário, de que forma os produtores de leite podem aproveitá-lo? Temos sempre pessoas que apresentam os seus projetos e que conseguem algum financiamento. Pessoalmente, acho bem que se façam projetos, mas, como todos sabem, os fundos comunitários dão-nos uma percentagem e depois é necessário conseguir o restante valor. Ou seja, os fundos comunitários são excelentes quando existem condições para se concretizar um projeto, mas as pessoas devem saber que vão receber 20 a 40% da verbas comunitárias, ficando, na maioria das vezes, a dever ao banco o restante valor do investimento. O que acontece é que muitas vezes não conseguem gerar receitas para amortizar o capital em dívida. Portanto, todos devem ponderar muito bem a decisão, porque, por vezes, mais vale ter a dimensão adequada do que um projeto sobredimensionado em que a rentabilidade não seja suficiente. »»»»»