Manuel Loureiro presidente da Fagricoop, Cooperativa Agrícola e dos Produtores de Leite de Famalicão
“O projeto de fusão da Fagricoop com a Frutivinhos está praticamente pronto” Sem querer deixar nada por esclarecer, em entrevista ao Jornal OPINIÃO PÚBLICA, o presidente da Fagricoop, Manuel Loureiro, fala no processo de fusão da cooperativa de leite com a Frutivinhos. Ambas enfrentam adversidades financeiras e o futuro passa por um projeto em comum em novas instalações construídas de raiz, num terreno cedido pela Câmara Municipal. Além disso, o presidente da cooperativa aborda ainda a questão da produção de leite, que enfrenta dias difíceis, avançando que o futuro poderá passar pela aposta em novas áreas de cultivo. Sofia Abreu Silva No ano passado afirmou que este seria um ano de dificuldades. Essas previsões concretizaram-se? Para grande tristeza foi o que já prevíamos. O preço do leite desceu e com o fim das quotas tudo ficou resumido a contratos com cada produtor, em que cada um teve de diminuir à produção, devido ao excesso de leite. Como produziram menos, os nossos cooperadores tiveram de fazer contenção e compraram menos produtos à cooperativa. Essas perdas de 250 mil euros brutos por mês colocaram-nos problemas de tesouraria e agora estamos a realizar uma reestruturação, nomeadamente ao nível de recursos humanos. Teremos, obrigatoriamente, de estar mais focados nas vendas e aumentar o nosso volume de negócios, assim como teremos de depender, cada vez menos, do leite e virarmo-nos para outras áreas. De que novas áreas estamos a falar? Estamos a pensar nomeadamente em ervas aromáticas, mirtilos, kiwis e também na agricultura biológica, em que estamos a dar passos nesse sentido. Este será o caminho do futuro, mas os resultados virão com negócios e faturação que nos permitam sobreviver. O futuro passa por produtos biológicos e produtos gourmet, porque há cada vez mais pes-
soas interessadas nesses produtos de alta qualidade. Quem são as pessoas que estão a apostar no cultivo deste tipo de produtos? Felizmente, temos alguns agricultores jovens, não tantos quanto desejávamos, mas com uma mentalidade muito aberta e muito recetivos a este tipo de atividades e que podem correr o risco de apostar nestas áreas, desde que haja a garantia de escoamento do produto ao consumidor final. E a Fagricoop pode ajudar no escoamento do produto? Pode e tem a obrigação. Neste momento, o que estamos a fazer em relação, por exemplo, ao leite biológico é tentar, através da Lactogal, escoá-lo, porque para podermos avançar temos de ter a garantia de escoamento. Ainda no que respeita ao leite, a União Europeia já disse que pretende avançar, na questão da rotulagem, com denominação de origem do leite. Como veem esta medida? Nós sempre defendemos a denominação de origem e é isso que se pretende, faltando politicamente passar essa medida para o terreno. Não basta colocar a denominação apenas em leite fresco ou UHT, mas sim abranger todos os produtos que são produzidos com leite. Não podemos ter uma empresa a comprar 20 ou 30 toneladas de queijo no estrangeiro e depois a laminá-lo em Portugal e, só por isso, já passa a ter denominação PT. Nós queremos que o produto que está na banca do supermercado indique onde é que o leite, que o compõe, foi produzido. Se um queijo é feito com leite da Polónia isso deve estar claro para o consumidor, que fará a sua decisão. Acredita que os portugueses preferem leite português? Acredito piamente, pelo menos numa percentagem acima dos 90%. Em igualdade de circunstâncias e, às vezes, até mais caro um bocadi-
nho, o consumidor prefere o que é português. E compra bem, porque o leite da zona Norte é do melhor leite do mundo em termos de qualidade, com níveis de microrganismos reduzidíssimos, teores de antibióticos a zero… é incomparável a outro país. Todos na Europa se queixam da desregulação, desde que foi anunciado o fim das quotas leiteiras, e pedem que regresse o sistema público de controlo da produção. Acha que é possível reverter esta situação? Eu confesso que já não acredito em nada no que diz respeito ao leite, mas apoio inteiramente o regresso das quotas, que são o regulador de produção. Era importante que a nível europeu houvesse uma regulação com uma ligação entre o que é o consumo interno e as exportações para se produzir o que realmente é consumido. No que diz respeito às quotas, há um grande problema, pois quando foram fixadas houve agricultores que se hipotecaram junto de bancos para produzir mais e, de um momento para o outro, as quotas desapareceram, mas os créditos ainda estão a ser pagos até hoje. Portanto, a existir, novamente, as quotas tinha de ser algo mais definitivo, que podem baixar ou aumentar conforme o consumo, mas não podemos estar a brincar com a vida dos agricultores. Relativamente à fusão da Fagricoop com a Frutivinhos, como está o processo? Neste momento já temos a aprovação da assembleia para dar início ao processo. Teremos de ver o projeto prévio de fusão, que já está em andamento e temos de chegar a um acordo com a Frutivinhos relativamente ao modelo a adotar: fusão, incorporação ou anexação. Depois, passaremos para a parte do projeto, em que vamos concorrer a fundos comunitários, no qual entrará também a Câmara de Famalicão e o banco Caixa Agrícola, para tentarmos avançar com o projeto. »»»»»continua