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Construção Civil E sco lh er e c o nst r ui r um a h a bi t a çã o n ã o é fá c il . P or i sso , de ix a mo sl h e a l g uns a sp ect o s qu e d ev e t e r e m co nta qua n do to m a es te pa ss o. F a l á m os c om d i ve r sa s e nti da de s e pr of is si on a i s p a r a fic a mo s a sa be r co m o v ai um do s sec to r es m ai s im po rtan te s da ec on om i a p or tu gu e s a .

Defende o presidente da Câmara de Famalicão, Armindo Costa

"É essencial reabilitar os edifícios mais degradados ou devolutos" Sofia Abreu Silva Para Armindo Costa, presidente da Câmara de Famalicão e também responsável pelo pelouro do Urbanismo, o sector da Construção Civil e de Obras Públicas é muito significativo em termos da sua contribuição para a riqueza do município, não só ao nível de empresas construtoras como ao nível das empresas de materiais de construção, dando emprego a muitos famalicenses. "Outro dado positivo é o facto de muitas das empresas estarem em Vila Nova de Famalicão mas trabalharem fora do concelho, algumas delas em grandes obras públicas nacionais", refere. No que respeita à construção civil, Armindo Costa afirma que é natural um arrefecimento do mercado, em consequência da crise económica, porque a quebra da taxa de natalidade também contribuiu para isso. De qualquer modo,

para o autarca, a construção recente de grandes vias rodoviárias e ferroviárias – como a variante nascente, a auto-estrada Famalicão-Póvoa de Var-

zim e a duplicação da Linha do Minho – aumentou a centralidade de Famalicão e a capacidade do município para atrair pessoas que trabalham

noutros concelhos, nomeadamente na Área Metropolitana do Porto. "Hoje, Famalicão já regista cerca de 140 mil habitantes e a população continua a aumentar, ao contrário do que acontece em outros concelhos vizinhos", sublinha o edil. No entender de Armindo Costa, mais importante do que criar novas áreas de construção é consolidar as áreas existentes. Com efeito, a actual Câmara Municipal alargou o perímetro urbano da cidade. "Agora, o caminho a seguir será consolidar a área urbana existente, preservando os espaços verdes e de lazer e criando outros", aponta. "Ainda há dias foi inaugurada a Praça D. Jorge Ortiga que constitui um bom exemplo de intervenção urbanística na cidade por parte de um promotor imobiliário. Depois é preciso reabilitar os imóveis existentes. A reabilitação é essencial para valorizar a cidade. E

a Câmara Municipal tem dado o exemplo. A Casa da Música, o bairro da extinta Fundação Salazar e o Bairro do Poído – juntamente com as obras de modernização das principais ruas e praças da cidade –, são bons exemplos de reabilitação urbana. Esperamos deste modo incentivar os privados a fazer o mesmo", referiu o edil. Desde modo, Armindo Costa alerta para a importância de "reabilitar os edifícios mais degradados ou devolutos". B oa s in f ra - e s t ru tu ra s n a s á r e a s re s i d e n c i a is As zonas residenciais devem dispor, nas proximidades, de infra-estruturas de apoio necessárias a uma vida com qualidade, desde espaços verdes, equipamentos culturais, educativos e de lazer, zonas comerciais, etc. É, pelo menos, este o caminho que a construção civil em Famalicão deve seguir, de acordo com o presidente

da Câmara. "Vamos continuar a apostar num desenvolvimento sustentado", garante. Formado em Arquitectura, Armindo Costa reconhece que alguns erros em construção civil no passado decorreram exactamente pelo facto de os arquitectos não serem chamados ao processo de planeamento urbanístico, ao contrário do que acontece hoje. "Demos passos muito positivos nesse aspecto. O aspecto negativo do presente, que é também um problema do país, tem a ver com o preço das construções, que em muitos casos é exorbitante, tendo em conta o rendimento médio dos portugueses", refere. O edil famalicense acha ainda que, hoje em dia, se tem melhorado muito ao nível da qualidade dos materiais de construção e do enquadramento paisagístico, muito também por influência do Plano Director Municipal.


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2008 é apontado como o ano da retoma do sector

"Portugal está em completo contra-ciclo" Sofia Abreu Silva O sector da Construção é vital para Portugal. Representa cerca de 10,7% do emprego, 5,1% do PIB (Produto Interno Bruto) e 46,5% do investimento total. Segundo Reis Campos, presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), pode dizer-se que há uma distribuição e um peso muito semelhantes em todo o país mas, provavelmente, o seu impacto será ainda mais sentido na economia nortenha e no emprego da região. "Braga é, a par do Porto, o distrito mais representativo da Construção no Norte do país, quer ao nível do número de empresas, dimensão de algumas delas e número de postos de trabalho. E podemos dizer que o concelho de Vila Nova de Famalicão tem sedeadas algumas empresas de dimensão apreciável e tem na Construção um importante pólo dinamizador da sua economia". Segundo Reis Campos, as quebras de actividade justificam-se com a "ausência de investimento". "Portugal está em completo contra-ciclo com a Europa. A Construção vem demons-

Engenheiro Reis Campos

trando quebras sucessivas de actividade desde 2002, as quais em termos acumulados são já superiores a 20%", contabiliza aquele responsável. Reis Campos entende que o nosso país tem uma enorme carência de planeamento de médio e longo prazos e isso é dramático para toda a economia, mas muito em particular para a Construção, que "ora é cha-

mada a fazer obras num ritmo alucinante ora fica sem ter de fazer, com tudo o que de negativo isso representa para o planeamento estratégico das próprias empresas". "Depois, falta um quadro legal claro e adaptado à realidade, faltam incentivos ao investimento, nomeadamente na reabilitação urbana e na internacionalização", salienta.

800 mil casas em degradação A reabilitação de edifícios será o grande mercado em termos de construção nos próximos tempos. Assim, haverá construção nova, mas a reabilitação é obrigatória, sobretudo num país como o nosso, em que há mais de 800 mil casas em avançado estado de degradação, a que se juntam mais de um milhão que necessitam de obras de maior ou menor dimensão. "O estado a que se deixou chegar o património edificado, nomeadamente nos centros históricos das nossas cidades e vilas, é um verdadeiro crime e um atentado à nossa segurança, ao ambiente e ao nosso património histórico, à nossa memória colectiva. A verdade, porém, é que em vez de estar a crescer exponencialmente, o mercado da reabilitação está estagnado ou até em quebra", observa Reis Campos. Para a AICCOPN a criação de sociedades de reabilitação urbana foi uma boa ideia, mas isso não chega, pois é necessário haver investidores interessados e "incentivos suficientemente atractivos para que os investidores acreditem que vale a pena apostar nesse mercado".

Construção Civil melhora em 2008 A AICCOPN acredita que o ano 2008 ficará marcado pela recuperação do sector. Reis Campos, presidente daquela entidade, afirma que é obrigatório que tal aconteça sob pena de caminharmos para uma situação insustentável: "Uma boa parte das empresas não tem condições para aguentar mais quebras de actividade. O país não pode perder milhares de empresas e dezenas ou centenas de milhares de postos de trabalho neste sector, até pelo efeito multiplicador que isso teria em muitas outras actividades". Assim, julga-se necessário o retomar de investimentos. "Alguns dos últimos indicadores da economia portuguesa apontam já no sentido de um crescimento mais forte e sustentado, o que não pode deixar de ter reflexos na construção. Espero, por isso, que os projectos anunciados saiam, finalmente, do papel para o terreno", afirma.

O que é a AICCOPN? A AICCOPN – Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas – é uma associação de classe, de âmbito nacional, com sede no Porto e oito delegações em todas as capitais de distrito situadas a Norte do Mondego, representando cerca de 8 mil empresas do sector. É uma associação empresarial centenária – em Agosto completa 115 anos – que tem por principal missão a promoção e desenvolvimento do sector e a defesa dos interesses comuns dos seus associados.


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Construção civil vista por quatro profissionais

Tendência para arquitectura moderna Sofia Abreu Silva "Os promotores já se habituaram à ideia que o mercado já não é o que era. Há que puxar mais pela cabeça e/ou até pela carteira, antes de partir para o lançamento de novos projectos, já que se impõe cada vez mais a execução de bons produtos", é assim que Luís Granja, com formação nas áreas de engenharia mecânica e civil, e responsável pela empresa Luís Granja – Gabinete de Projectos Lda, vê actualmente o sector da construção civil. No entender deste profissional, onde existe excesso de oferta não vale a pena fazer mais do mesmo. Por isso verifica-se que as novas ofertas têm mais qualidade e que no mercado vai desaparecendo o que de mau existia em termos de materiais e mão-de-obra de execução, até porque a legislação assim o exige. Sara Vasques, arquitecta do gabinete, afirma que hoje é possível fazer-se quase tudo em termos técnicos e construtivos: "se houver orçamento podemos inventar novos materiais, sistemas, métodos, e até novos usos. Se tudo for bem equacionado, pode haver grandes ganhos". Dos princípios básicos que devem presidir à elaboração de um projecto de habitação, destaca-se o local que, segundo o arquitecto Tiago Amorim, é de "extrema relevância pois irá valorizar a qualida-

de de vida, pensando num futuro a curto e longo prazo". Já a engenheira civil, Adriana Pinho, explica que antes de fazer uma casa deve ser escolhida uma boa equipa projectista, um bom construtor e deve ser elaborada uma lista exaustiva das reais necessidades, sem esquecer o dever de não estragar a paisagem. Na hora da compra, lembre-se dos custos de manutenção que qualquer imóvel tem e informe-se também sobre os gastos energéticos da habitação pretendida. T e n d ê n c i a s e ar q u i t e c t u r a e m F am a l i c ã o No mercado específico da habitação, como nos diz Luís Granja, existe uma forte tendência para a arquitectura moderna, onde prepondera o vidro, o granito e a madeira. "Procura-se aplicar na construção uma generalizada tendência contemporânea, porque a oferta dos materiais assim o permite", acrescenta o arquitecto Tiago Amorim. No que diz respeito a Famalicão, Luís Granja refere que o concelho tem apresentado uma melhoria considerável na arquitectura das construções, quer no centro urbano, quer nas restantes freguesias do concelho. "A existência de alguns arquitectos no mercado projectista de Famalicão e a Universidade Lusíada permitiram criar e reforçar as equipas existentes". Na sua visão de arquitecto, Tia-

go Amorim aponta que a arquitectura famalicense demarca-se por décadas distintas, pois no centro da cidade misturam-se estilos e tendências completamente diferentes. "Famalicão tem crescido de uma forma saudável. Trata-se de fazer cidade dentro dos parâmetros permitidos e bem idealizados e sem uma construção desmedida, como se constata noutras cidades, como, por exemplo, Braga". Para Sara Vasques, arquitecta, começam a aparecer exemplos de obras bem elaboradas, reveladoras de sensibilidade urbanística, mas considera que ainda há muito para fazer em Famalicão. Adriana Pinho lembra, por seu turno, que como em outros concelhos temos "uma herança complicada". Em algumas zonas, sobretudo nas freguesias mais rurais, temos uma paisagem descaracterizada. Mas, o mercado vai perceber a necessidade de contratar bons arquitectos que devolvam alguma identidade e tradição à paisagem". Para o futuro, Tiago Amorim sugere que a simplicidade das formas dos edifícios e a procura da mesma simplicidade para a construção será um forte argumento. "O mercado seleccionará os melhores e a qualidade geral dos imóveis novos melhorará ainda mais, quer a nível estético, quer a nível da sustentabilidade energética dos nossos edifícios", acrescenta a engenheira Adriana.


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Cozinhas de sonho

Simples ou até mesmo mais arrojada, a cozinha deverá ser um espaço agradável. Mas escolher a cozinha dos seus sonhos não é fácil. Se, por norma, uma família passa muito tempo numa cozinha é bom que esta seja grande, prática e com muitos espaços para atender às diferentes necessidades dos diferentes membros. Como no resto da habitação, o design da cozinha conta. Cabe a si escolher o modelo que mais gosta e aquele que combina melhor com as outras divisões. Assim, se na altura da construção tiver a possibilidade de escolher o tipo de cozinha, veja a ergonomia dos espaços e dos materiais. Tudo deve servir para simplificar as tarefas do dia-a-dia e não para as complicar. As diferentes marcas de cozinhas mostram diversas soluções para uma melhor organização dos seus utensílios e optimização dos espaços. Hoje, muitas são as pessoas que optam pelas bancadas de trabalho em forma de ilha e esta mostra-se até uma boa resposta para valorizar a decoração. Além disso, o fogão, os acessórios e os electrodomésticos devem estar embutidos para oferecer mais arrumação. Beleza é fundamental, mas não é tudo. É igualmente importante verificar se o escoamento de águas é bom e a ventilação é feita naturalmente e/ou através da instalação de exaustores. O material dos móveis deve ser de qualidade. Aliás, de grande qualidade porque se trata de uma divisão que se utiliza quase todos os dias e sofre, por isso, grande desgaste. Não se esqueça afinal que os materiais estão expostas à água, vapores e gorduras. Portanto, a escolha deve cair nos mais resistentes e, claro, nos de fácil limpeza e manutenção.

Casas de banho Diz quem já escolheu todos os materiais da sua habitação, que a hora de escolha não é fácil. Os artigos sanitários fazem parte da lista de escolhas e opções. Hoje, os catálogos das diferentes marcas mostramnos diferentes estilos com diversas cores e, consequentemente, múltiplas combinações. Parece que a moda está em aliar um estilo moderno ao tradicional. As superfícies devem ser refinadas, práticas e de qualidade. Hoje, a loiça sanitária pode ser suspensa, mas há quem opte por colocar, por exemplo, os lavatórios em cima de armários ou até mesmo embutidos. Nas superfícies, os materiais mais escolhidos são a

pedra, como o mármore, cerâmica e mosaico. Já a madeira é o material mais usado nos armários, molduras e prateleiras. Aqui, os tons mais escuros parecem ganhar as preferências de quem está a construir neste momento. Actualmente, assiste-se também à aplicação do aço inox em torneiras e pequenos armários ou objectos de decoração. O vidro pode ser também uma escolha para esta divisão. Este material é sobretudo usado nos lavatórios suspensos e pode apresentarse de várias cores e na protecção de banho. Podemos dizer que os materiais usados, actualmente, são irreverentes nas cores, formas e combina-

ções. Mas, pode escolher linhas simples e apostar depois em pormenores que podem conferir à sua casa-debanho o ambiente que entender: infantil, étnico, clássico ou moderno. Na hora de ver ou escolher os materiais verifique a qualidade, veja se conhece a marca dos artigos e pergunte sobre a sua origem. Pode ve-

rificar os preços para saber se o construtor optou por materiais bons ou com preços muito baixos. As loiças sanitárias, se forem boas, podem durar mais de duas décadas. Portanto, vale a pena ser criterioso. Nota: Verifique se os materiais são antiderrapantes e de fácil limpeza.

Melhores salários encarecem construção De acordo com os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), os salários dos trabalhadores da construção civil são os principais responsáveis pelo aumento do custo de construção de casas novas no continente, nos últimos anos. Os profissionais da construção civil têm vindo a ganhar poder de compra, já que os seus salários têm aumentado mais do que a inflação. O preço de construir casas novas, contudo, não aumentou tanto, já que a segunda grande despesa – com materiais – está a crescer a um ritmo muito menor. Contas feitas,

construir uma casa nova custava em Abril mais 20% do que no ano 2000 – um valor que corresponde à inflação acumulada desde essa altura, ou seja, ao normal aumento do custo de vida. Nos últimos sete anos, os salários aumentaram 31%, uma subida acompanhada pelo agravamento de “apenas” 9% do custo dos materiais. Assim, o agravamento dos preços limitou-se a acompanhar a subida do custo de vida. O mesmo aconteceu no preço de venda às famílias. Perante o valor de avaliação que a banca faz dos

imóveis sempre que alguém pede um empréstimo para comprar habitação, verifica-se que as casas estão mais caras – mas afinal construí-las também custa mais. Com efeito, o preço das moradias e apartamentos novos tem vindo a aumentar, mas tal não significa que o lucro dos vendedores seja maior. A par da construção, também a manutenção de habitações está a ficar mais cara. Em Abril, o preço aumentou 3% face ao mesmo mês do ano passado e o Norte foi a região mais penalizada.


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