Bordados é o tema do Especial OP deste semana. À mão ou de forma industrial, os bordados nunca passam de moda e ganham novas utilizações e potencialidades. E até as grandes marcas apostam nesta arte para enriquecer as peças de vestuário.
Indústria cada vez mais perfeita e diversificada
Bordados: sempre em voga Sofia Abreu Silva Do vestuário aos têxteis-lar, os bordados aparecem de forma constante para conferir ao produto qualquer coisa de diferente. Já olhou para os seus jeans ou para as suas toalhas de casa de banho? E os seus lençóis, as suas cortinas e aquele pullover bordados? Para quem não sabe, os bordados estão entre as artes mais notáveis e objecto de muito apreço. Actualmente, esta arte continua a ser trabalhada manualmente pelos artesões, mas foi elevada à indústria têxtil e até à do calçado. Estas indústrias apostaram nos bordados para dar e conferir valor acrescentado aos seus produtos. No fundo, dar-lhe aquele toque de diferença e unicidade e até torná-lo mais um pouco mais valorizado no mercado. Os bordados são cuidadosamente costurados e exigem trabalho e minuciosidade para ficaram com um aspecto macio e agradável. Não se pode correr o risco de desarranjar a peça, mas deve-se torná-la interessante aos olhos do cliente. Assim, por mais pequeno que um bordado seja, ele é, indubitavelmente, sinónimo de qualidade. Gr a n d e s m ar c a s go s t a m d e b or d a d os E são muitas as marcas de prestígio que apostam nos bor-
dados para os seus logótipos. A título de exemplo, a Springfield, Levi’s, Lacoste, Ralph Lauren, Sacoor, Adidas, Rebook e Tommy Hilfiger. E é claro que muitas destas contemplam, além de vestuário, calçado e até malas. Na mais recente semana da
Moda de Milão, uma das mais badaladas do mundo, houve cor, estampados e, claro, bordados para a próxima estação Primavera/Verão. Por exemplo, a Gucci apostou em tecidos leves com requinte e também em roupas com bordados. Se os grandes nomes da
moda desejam ter um bordado numa peça, fazem-no a pensar na personalização, uma vez que, por norma, investem muito nesse aspecto, ou não fossem eles quem dita as regras do bem vestir. De resto, actualmente, a tecnologia está cada vez mais
perfeita e apropriada para se conseguir resultados diferentes e interessantes no vestuário. Do 3D, ao ponto, passando pelas fitas aos variadíssimos tipos de pedras, pérolas, vidros e metais, pelos vistos vale tudo para que uma boa peça saia enaltecida.
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especial
Como se faz um bordado?
O bordado tradicional
É muito comum nas Feiras de Artesanato encontrarmos colchas, toalhas, enxoval para o bebé, entre outras peças bordadas à mão, que, por norma,
custam ainda alguns euros, dado o tempo e trabalho que exigem para ficarem prontos. Tal como no passado, a agulha e as linhas são os materiais
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usados para bordar. Ao que e sabe, ou pelo menos se especula, os povos de civilizações antigas e sociedades primitivas utilizavam o bordado para adornar as suas roupas e os artigos das suas casas. E muitas vezes no passado, os bordados eram feitos com materiais nobres, como o ouro e seda. Muitos dos pontos que vemos e usamos hoje em dia são também reconhecidos em bordados de todo o mundo. Por exemplo, o ponto-cruz é um dos mais antigos e acredita-se que tenha tido origem na Grécia Antiga. Quem bordava, durante muitos séculos, copiava os desenhos de vários artistas directamente para os tecidos. E foi no início do século XVII que surgiram livros que mostravam desenhos com motivos de pássaros, flores, animais e árvores. O bordado, no fim do século XVIII, era, assim, considerado como uma actividade de grande valor para as mulheres e a publicação das revistas femininas forneceram novas fontes de inspiração. Hoje, o bordado feito à mão continua a ser muito apreciado. Por exemplo, bem perto de nós, temos os bordados regionais de Guimarães que usam, sobretudo, as cores branco, azul ou vermelho. Segue-se Viana do Castelo, Lixa/Felgueiras e claro o famoso bordado da Madeira (na foto).
Por norma, as empresas de bordados bordam as peças cortadas, antes de confeccionadas. Também é possível bordar peças já confeccionadas, mas é claro que os cuidados, aqui, são redobrados porque corre-se o risco de danificar a peça. Quanto aos desenhos a bordar, estes são, por norma, sugestões ou ideias do cliente. No entanto, este pode ser um trabalho conjunto com o gabinete de desenho da própria empresa que também poderá sugerir a melhor forma, o melhor formato e até o melhor material para obter o resultado pretendido. Para qualquer bordado em máquinas industriais, é sempre necessário um programa que faça as máquinas trabalhar cumprindo o que está aí definido. Hoje, com o software e hardware específicos e muito desenvolvidos, é possível executar todo o tipo de trabalhos, desde o mais complexo ao mais simples, com um elevado nível de precisão, sem imperfeições e sobre qualquer tipo de material. Com as máquinas industriais, o produto final apresenta mais qualidade, além da maior produtividade e rentabilidade do equipamento, fazendo esquecer o trabalho manual que era feito antigamente.
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especial
Paulo Vaz, director-geral da ATP, esclarece
Bordados portugueses dependem mais dos criadores internacionais
Paulo Vaz, director-geral da Associação Têxtil e Vestuário de Portugal
Sofia Abreu Silva "Não há nenhuma peça de alta-costura que não tenha a incorporação de bordados", começa por dizer Paulo Vaz, director-geral da Associação Têxtil e do Vestuário de Portugal (ATP), que lembra que o bordado industrial apareceu com mais vigor no fim dos anos 80 e veio dar um "novo fôlego" à indústria têxtil, nomeadamente ao vestuário. "O bordado veio enriquecer uma peça, diferenciá-la e dar um motivo ao consumidor para a comprar e até pagar um pouco mais por ela", clarifica. Para a ATP, a força dos bordados depende muito daquilo que os criadores nacionais e, sobretudo, internacionais ditam nas suas colecções das diferentes estações: "São eles que estimulam e orientam a nossa indústria têxtil. Ter ou não um bordado numa peça é uma questão de moda". E Paulo Vaz não tem dúvidas de que hoje dependemos muito mais dos criadores internacionais do que dos nacionais, uma vez que as nossas empresas têm cada vez mais abertura ao mercado externo. "Se vendemos mais para o exterior temos de alinhar com aquilo que nos pedem", resume. O director-geral da Associação chama a atenção para o aspecto da co-contratação, no sentido em que as marcas internacionais quando vêm a Portugal procurar fornecedores trazem a ideia do que querem para as suas colecções, mas também trabalham com os departamentos de design das empresas portuguesas para definir aspectos em conjunto. Isso revela que a aposta das empresas nacionais em quadros superio-
res e especializados é essencial. T ec nol og i a a v a nça d a Se é verdade que a indústria dos bordados depende dos fluxos e re-fluxos próprios da moda, não é menos verdade de que depende também da tecnologia, que está cada vez mais perfeita e mais acessível e permite, com efeito, fazer coisas que "há alguns anos eram impensáveis". Aliás, muitas empresas, dada a potencialidade e importância dos bordados, acabaram ou acabam por incorporar a secção de bordados na sua verticalização. Não querendo fazer futurologia, aquele responsável acredita que o bordado, como outras formas de enobrecimento do produto têxtil, vai continuar a ter o seu papel. "Acredito que a tecnologia é algo que nunca se esgota e a própria moda também não. Todos os elementos que têm vindo a valorizar o produto têxtil e a diferenciá-lo vão continuar a ter uma grande evolução graças à investigação", declara. De resto, numa análise ao sector da indústria têxtil e do vestuário, o futuro passa pela especialização. "Hoje não temos capacidade para fazermos produtos indiferenciados. As empresas estão a apostar mais na moda, nas novidades e na especialização", defende o responsável. Em relação a números, o directorgeral da ATP vinca que nos primeiros sete meses deste ano o sector já vendeu para o exterior mais 4,1% do que no ano passado. "Há um sinal claro de que as empresas estão a reagir bem e nessa fileira há, com certeza, empresas de bordados", frisa.